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Livro das Donas e Donzelas - Unama

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www.nead.unama.br<br />

olham para a vida através <strong>das</strong> lentes dos microscópios, deverão sentir em si próprios o<br />

rugido da natureza ofendida a clamar contra essa impiedosa verdade da ciência.<br />

A vida sem beijos! a vida sem beijos é como um jardim sem flores, um<br />

pomar sem frutos, ou (que escorregue ainda mais esta velha comparação) um<br />

deserto sem oásis. Não valeria a pena prolongar a existência à custa de tamanho<br />

sacrifício. Por assim entender é que a humanidade faz e fará sempre ouvidos surdos<br />

à teoria da supressão do beijo. Para ela, ele não é tal o veículo da peçonha, a<br />

ameaça constante dos fantasmas terríficos de doenças asquerosas e tristes, coisa<br />

desvirtuada e maléfica, mas sim, e por todos os séculos dos séculos, o que dele<br />

disse um poeta meu amigo:<br />

"... O selo da amizade<br />

E do amor! Ele só nos dá felicidade.<br />

Dois corações que o tédio ou o cansaço importune,<br />

Só um beijo de amor os levanta e reúne.<br />

O beijo é vida, o beijo é luz, o beijo é glória!<br />

Observai bem: vereis que o beijo é toda a história<br />

Da humanidade. Foi o beijo primitivo<br />

Que na terra o primeiro homem tornou cativo<br />

Da primeira mulher; depois, ardente ou brando,<br />

Veio o beijo de amor as raças perpetuando,<br />

Unindo gerações a gerações, e unindo<br />

O passado ao futuro insondável e infindo.<br />

O beijo é a transfusão <strong>das</strong> almas; ele encerra<br />

Tudo que possa haver de divino na terra."<br />

Não é só o beijo perpetuador <strong>das</strong> raças que derrama na alma o clarão<br />

mirífico da felicidade. Quando uma mãe beija um filho, como que sente o seu<br />

coração maior que o mundo e mais vitorioso que todos os hinos do universo! Saberá<br />

alguém de coisa mais doce nem mais pura, que o beijo da amizade?<br />

Infelizmente, nem todos os beijos são:<br />

"Tudo que possa haver de divino na terra!"<br />

Como diz o poeta.<br />

É que Filinto de Almeida desconhece o horror dos beijos convencionais, que<br />

só os lábios femininos trocam entre si.<br />

Para esses o rigor <strong>das</strong> leis científicas deveria ser bem aceito... Que se<br />

beijem duas amigas que se estimam, sim! Que por um enlevo de simpatia, uma<br />

mulher beije a outra em um primeiro dia de encontro, como um pacto de futura<br />

amizade, sim! Mas, que, sem espontaneidade de afeto ou sem velha estima, só por<br />

cortesia e obediência ao hábito, duas criaturas indiferentes, e que às vezes até se<br />

desestimam, troquem beijinhos cada vez que se encontram... Por Deus, nem é<br />

decente nem agradável!<br />

Por mais que a gente queira esquivar-se, não pode, sem incorrer em falta<br />

grave, furtar-se ao impulso com que certas damas atraem as outras para o<br />

cumprimento da praxe. Que desastres, às vezes, nesse movimento! Abas de chapéus<br />

que se chocam, véus que se arrepanham, corpos que se contrafazem, e no fim: um<br />

chapéu torto, uma face babada, e no íntimo uns ressaibos de mel avinagrado.<br />

A graça esquisita dessa insistência está muitas vezes em que a senhora que<br />

imprime à outra o puxão para o beijo, dá-lhe logo a face a beijar, face em que não<br />

raro desabotoam espinhas e quase sempre o cold cream se alastra.<br />

E não há resistência capaz de livrar uma criatura de tais assaltos; quer<br />

queira quer não queira, ela há de beijar e há de ser beijada em plena rua, em plena<br />

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