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Artigo<br />

COMPARAÇÃO POR MEIO DE BIOENSAIO DE DUAS<br />

FORMULAÇÕES DE UM PRODUTO COMERCIAL<br />

REPELENTE DE INSETOS À BASE DE DEET<br />

BIOASSAY COMPARISON OF TWO FORMULATIONS<br />

OF A COMMERCIAL PRODUCT DEET-BASED INSECT<br />

REPELLENT<br />

RESUMO<br />

O ingrediente ativo DEET ([N-N]-diethyl-m-toluamide) está disponível em produtos comerciais<br />

variando sua concentração de 5% a 100%, o que determina sua eficiência e efeito<br />

residual em repelir mosquitos. No mercado brasileiro o produto OFF! Loção Hidratante com<br />

7,1% de DEET declarado no rótulo foi substituído por nova fórmula sem concentração declarada.<br />

Por meio de bioensaio previamente padronizado em caixas com fêmeas do mosquito<br />

Aedes aegypti comparou-se a capacidade de repelência dessas duas formulações, nos<br />

dedos das mãos dos pesquisadores, para os períodos: logo após, duas e quatro horas após<br />

a aplicação dos produtos. Não houve diferença significativa entre as fórmulas para as duas<br />

primeiras avaliações, mas a nova fórmula foi menos eficiente na última avaliação, levando à<br />

conclusão de que contem menos ingrediente ativo.<br />

Palavras-chave: Dietiltoluamida.Repelência. Aedes aegypti.<br />

ABSTRACT<br />

The active ingredient DEET ([NN]-diethyl-m-toluamide) is available in commercial products<br />

ranging from 5% to 100%, thus determining its’ efficiency and residual effect in repelling<br />

mosquitoes. In the Brazilian market, OFF! LoçãoHidratante with 7.1% DEET, according to<br />

the label, was replaced by a new formula with no declared concentration. Using standardized<br />

bioassays with caged females of Aedesaegyptiwe compared the repellency of both formulations<br />

on our fingers, for the periods: just after, two and four hours after application of the<br />

products. There was no significant difference between the formulae for the first two evaluations,<br />

but the new formula was less efficient at the last evaluation, leading to the conclusion<br />

that it contain less active ingredient.<br />

Keywords: Diethyltoluamide. Repellency. Aedes aegypti.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Não resta dúvida de que a melhor maneira de se ficar protegido<br />

das picadas de mosquitos e das doenças que transmitem<br />

é evitando ambientes onde eles ocorrem ou vestindo<br />

roupas protetoras ou ainda usando repelentes de insetos (1).<br />

Mas quando se deseja exatamente frequentar esses ambientes,<br />

que em geral são tropicais e quentes, essa última alternativa<br />

passa a ser a única possível para se evitar insetos hematófagos,<br />

como os mosquitos e borrachudos.<br />

2<br />

Carlos Fernando S. Andrade*,<br />

Maria José Irisarri Gutierrez e<br />

Renato Franciosi Luchetti<br />

UNICAMP, Departamento de<br />

Biologia Animal<br />

*Correspondência:<br />

E-mail: cfeandra@unicamp.br<br />

Os repelentes de insetos disponíveis comercialmente<br />

podem ser divididos em duas categorias, de acordo com o<br />

ingrediente ativo (i.a.) que possuem: substâncias químicas<br />

sintéticas ou óleos essenciais e outras substâncias derivadas<br />

de plantas.<br />

DEET ([N-N]-diethyl-m-toluamide) é o princípio ativo sintético<br />

mais conhecido como repelente de mosquitos, já sendo<br />

usado por mais de 50 anos no mundo todo e com uma esti-


mativa anual de 200 milhões de pessoas usando DEET para<br />

se proteger de picadas e doenças (2). Segundo a Agência<br />

Americana de Proteção Ambiental (EPA), existem hoje cerca<br />

de 140 produtos à base de DEET, com concentrações desse<br />

ingrediente ativo variando entre 5 a 100%, registrados por<br />

pelo menos 40 empresas do ramo (3,4). São,semdúvida,repel<br />

enteseficientes e populares.<br />

Apesar de conhecido há muito tempo, um estudo recente<br />

indicou que existe ainda um bom debate sobre a maneira<br />

como o DEET funciona repelindo insetos hematófagos (5).<br />

As hipóteses anteriores sugeriam que não é o DEET, é ele<br />

próprio, percebido pelos insetos, mas que funciona porque<br />

mascara ou confunde o sistema olfativo dos mosquitos e<br />

sua percepção aos odores que normalmente usa para nos<br />

encontrar, seja o CO 2 , o ácido lático ou mesmo o 1-octen-3-<br />

-ol. O trabalho recente publicado por SYED e LEAL (5) é mais<br />

categórico. Eles indicam que DEET funciona como repelente<br />

mesmo na ausência do ácido lático, demonstram que os<br />

mosquitos conseguem perceber o odor do DEET e que essa<br />

é a causa direta da repelência.<br />

Nos Estados Unidos da América os produtos comerciais<br />

OFF! ® (marca registrada da empresa SC Johnson), podem ser<br />

encontrados no mercado em várias apresentações, indicando<br />

em seus rótulos concentrações do ingrediente ativo DEET<br />

variando desde baixas, entre 5 e 15%, para o “OFF! ® Family<br />

CareInsectRepellent” (spray, aerossol e lenços), até concentrações<br />

bem altas ou o ingrediente ativo praticamente puro,<br />

como o “OFF! Deep Woods ® ” (Sportsmen Insect Repellent<br />

I, spray), quepossui 98,11% de DEET (7). A mesma empresa<br />

tem no Brasil mais de 50% do mercado de repelentes de<br />

mosquito, comercializando seus produtos “OFF! Repelente<br />

Aerossol Máxima Duração” (com 14,24% i.a.) e o “Repelente<br />

OFF! Kids” (7,12% i.a.), ambos com a quantidade de DEET<br />

relaciona no rótulo. A empresa também comercializa os produtos<br />

“OFF! Repelente Spray Refrescante”, “OFF! Repelente<br />

Loção Hidratante” e “ OFF! Family”, mas esses não apresentam<br />

a concentração de DEET no rótulo.<br />

No Brasil, os repelentes de insetos são regulamentados<br />

como cosméticos e, de acordo com a Câmara Técnica de<br />

Cosméticos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AN-<br />

VISA), os rótulos dos produtos devem conter apenas o tempo<br />

necessário para sua reaplicação com base em testes de<br />

eficácia, obedecendo sempre, quando for o caso, o número<br />

máximo de aplicações. Com relação à concentração de<br />

i.a., os rótulos devem apenas conter diferentes instruções de<br />

acordo com duas faixas de concentrações: até 10% de i.a. e<br />

entre 11% e 30%, mas a concentração exata não precisa ser<br />

declarada.<br />

Desde 1997 temos avaliado repelentes de mosquitos em<br />

nossos laboratórios na Unicamp, padronizando bioensaios<br />

com fêmeas de Aedes aegypti (mosquito da dengue) e Ae.<br />

albopictus (mosquito tigre asiático), comparando preparados<br />

pré-comerciais com o repelente “OFF! Loção Hidratante”,<br />

usado como controle positivo padrão, por ter comprovado<br />

sucesso comercial. Esse produto, que apresentava em seu<br />

rótulo posterior a indicação de possuir “N-N-Dietiltoluamida<br />

7,1%”, foi substituído pelo produto “OFF! Repelente de Insetos,<br />

Novo!, Loção Hidratante com Aloe Vera”, que apresenta<br />

no rótulo posterior o mesmo ingrediente ativo, com outro<br />

nome (DiethylToluamide) e não menciona a sua concentração<br />

na fórmula. Mas, de acordo com o Serviço de Atendimento<br />

ao Consumidor (SAC) da empresa (0800-7076789), esse novo<br />

repelente OFF! possui entre 6% e 9% de DEET. No presente<br />

estudo nós avaliamos a eficácia em repelir mosquitos da antiga<br />

formulação comparada com a nova.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Os testes foram conduzidos em condições controladas<br />

de laboratório de 25 ± 2 o C de temperatura e 75 ±<br />

5% de umidade relativa, usando-se fêmeas do mosquito<br />

Ae. aegypti de uma colônia mantida desde 1993 (linhagem<br />

Rockefeller, CDC, Atlanta, EUA). Os repelentes foram<br />

avaliados em dedos humanos segundo metodologia que<br />

desenvolvemos anteriormente (9). As mãos dos pesquisadores,<br />

protegidas por luvas de látex, exceto por pedaços<br />

das luvas cortados na região mediana de três dedos, são<br />

oferecidas aos mosquitos em caixas de criação com as<br />

dimensões 90x70x65cm. A área dos dedos exposta foi de<br />

16cm 2 de pele. Dois dedos receberam o tratamento com<br />

20µ de cada formulação, volume previamente estabelecido<br />

como sendo suficiente para saturar aquela área de<br />

pele, e o terceiro dedo permaneceu não tratado. Foram<br />

feitas seis réplicas, sendo duas para a mão de cada um<br />

dos pesquisadores, em dias diferentes.<br />

Foi contado o número de tentativas de picada (quando<br />

os mosquitos pousam e iniciam a inserção do aparelho<br />

bucal) em cada dedo, para um período de 15 minutos. Não<br />

se permitiu que os mosquitos ingerissem sangue, sendo<br />

impelidos a voar assim que iniciassem a picada, pelo toque<br />

suave de uma pena de ave presa à ponta de um bastão.<br />

As avaliações foram feitas em três momentos após a<br />

aplicação (AA) dos produtos. A primeira avaliação foi feita<br />

poucos minutos após aplicados, logo que os produtos foram<br />

absorvidos pela pele, e foi denominada Justamente<br />

Após a Aplicação (JAA). A segunda e a terceira avaliações<br />

foram feitas respectivamente duas e quarto horas após a<br />

aplicação (2hAA e 4hAA), de forma a se verificar o efeito<br />

residual dos tratamentos repelentes. Calculou-se um Índice<br />

percentual de Proteção (IP) às picadas como sendo<br />

IP=((DñP-DP)/DñP)x100, onde DñP é o número de picadas<br />

em dedos não protegidos e DP é o número de picadas em<br />

dedos protegidos (10). A análise estatística foi feita pelo<br />

teste t-Student (p=0,05).<br />

Os produtos avaliados foram “OFF! Repelente de Insetos<br />

Loção Hidratante” Lote 4173001 e “OFF! Repelente de<br />

Insetos Novo! Loção Hidratante” Lote 7089001. O registro<br />

da avaliação foi lavrado em Livro Repel-1, páginas 152 a<br />

155 (Série 45/2007).<br />

3


Artigo<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

De acordo com a ANVISA (8), as entidades International<br />

Union ofPureandAppliedChemistry (IUPAC) e a Chemical Abstract<br />

Service (CAS), adotam as designações genéricas para<br />

o DEET respectivamente como N,N-dietil-meta-toluamida e<br />

N,N-dietil-3-metilbenzamida (sic). De fato, a nomenclatura<br />

IUPAC para o DEET é [N-N]-diethyl-m-toluamide, e ambos<br />

os rótulos (Tabela 1), tanto para o produto que saiu de linha<br />

como para o OFF! Novo! estão, portanto, usando sinonímias.<br />

A Tabela 1 mostra os resultados para a comparação entre<br />

os repelentes OFF! que saiu de linha e o produto novo.<br />

Considerando-se todas as réplicas, a média de tentativas<br />

de picadas nos dedos não protegidos por repelentes foi alta<br />

(160,4 picadas /15 min; DP = 20,8), indicando uma forte pressão<br />

de ataque. Para os dedos protegidos pelos repelentes, o<br />

teste estatístico mostrou que não houve diferença significativa<br />

entre as avaliações JAA (t = 1; gl = 6; P = 0,1779) e 2hAA (t<br />

= -1,6917; gl = 6; P = 0,0708), e que a proteção permitida por<br />

ambas as formulações foi praticamente completa, alcançando<br />

valores acima de 96%. Para a avaliação 4hAA entretanto,<br />

houve diferença estatisticamente significativa (t = -3.0437; gl<br />

= 6; P = 0,0113) entre as duas formulações, com o produto<br />

OFF! antigo mostrando-se mais eficiente do que o OFF! novo.<br />

Tabela 1. Índice de proteção percentual médio (Desvio Padrão) às<br />

picadas de Aedes aegypti para os períodos Justamente Após (JAA), 2<br />

horas (2hAA), e 4 horas (4hAA) após a aplicação de duas fórmulas de<br />

um repelente à base de DEET.<br />

4<br />

Produto<br />

(Ingrediente Ativo)*<br />

OFF! Repelente de Insetos<br />

(N-N-Dietiltoluamida 7.1%)<br />

OFF! Repelente de Insetos<br />

Novo!<br />

(Diethyl Toluamide)<br />

Período após a Aplicação<br />

JAA 2hAA 4hAA<br />

100 (0,0)a 99,2 (1,02)a 96,8 (1,53)a<br />

99,8 (0,37)a 96,6 (3,43)a 86,9 (9,01)b<br />

*De acordo com o rótulo<br />

Para cada coluna, medias seguidas pela mesma letra não diferem<br />

significativamente pelo teste de t de Student.<br />

Ao estabelecerem também em gaiolas uma curva dose-<br />

-resposta de mosquitos Ae. aegypti ao DEET, para uma série<br />

de diluições, Buescheret al. (11) registraram uma curva exponencial<br />

negativa, significando que cada incremento na concentração<br />

permitia um incremento progressivamente menor<br />

na proteção às picadas. Assim, para um aumento ou diminuição<br />

em concentrações baixas, podem-se esperar variações<br />

maiores do que quando se aumenta ou se diminui concentrações<br />

já altas. E de acordo com Fradin (12), os repelentes<br />

com altas concentrações de DEET são de fato melhores por<br />

oferecerem proteções por períodos de tempo maiores, sendo<br />

que modelos matemáticos mostram que a eficiência e persistência<br />

em repelir são relacionadas ao logaritmo das doses.<br />

CONCLUSÕES<br />

Pode-se concluir então que, embora a informação do fabricante<br />

pelo serviço de atendimento ao consumidor não tenha<br />

sido específica, e foi de que a nova fórmula possui entre<br />

6% e 9% i.a., de fato o produto deve possuir concentração<br />

inferior ao produto que saiu de linha (7,1%).<br />

R E f E R ê N C I A S<br />

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