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caracterização do polímero do óleo de girassol ... - Revista Analytica

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Artigo<br />

CARACTERIZAÇÃO DO POLÍMERO DO ÓLEO DE<br />

GIRASSOL OBTIDO POR AQUECIMENTO<br />

Neste trabalho foi obti<strong>do</strong> <strong>polímero</strong> <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> por aquecimento, sem qualquer<br />

tratamento adicional. O procedimento consistiu em aquecer o <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> refina<strong>do</strong> a<br />

uma temperatura entre 180 – 200°C, 8h/dia durante sete dias. O resulta<strong>do</strong> final consistiu<br />

em um <strong>polímero</strong> <strong>de</strong> aparência elástica e <strong>de</strong> baixa cristalinida<strong>de</strong> como mostrou a análise por<br />

XRD. A FTIR e a RMN <strong>de</strong> H 1 e <strong>de</strong> C 13 , mostraram as diversas alterações que sofreu o <strong>óleo</strong><br />

in natura até ser transforma<strong>do</strong> em <strong>polímero</strong>. Pela técnica <strong>de</strong> RMN <strong>de</strong> H 1 foi possível calcular<br />

o peso molecular médio <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> forma<strong>do</strong>, assim como o índice <strong>de</strong> saponificação e o<br />

índice <strong>de</strong> io<strong>do</strong>.<br />

Palavras-chave: <strong>polímero</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong>, <strong>polímero</strong>, <strong>polímero</strong> <strong>de</strong> <strong>óleo</strong> vegetal<br />

In this work was obtained a polymer from the sunflower seed oil by heating, without anyone<br />

else treatment. The procedure consisted of heating the sunflower seed oil refined at<br />

temperature between 180 – 200°C, 8h/day, by seven days. The final result consisted of a<br />

polymer with elastic apparent and low crystallinity, showed by XRD analysis. The FTIR and<br />

the NMR 1 H and 13 C analysis, had shown the diverse alterations that in suffered to the oil<br />

in natura until being transformed into polymer. For the RMN of 1 H technic it was possible<br />

to calculate the average molecular weight of formed polymer, as well as the saponification<br />

in<strong>de</strong>x and the iodine value.<br />

Keywords: sunflower polymer, polymer, vegetable oil polymer<br />

Introdução<br />

Resumo<br />

Summary<br />

A preocupação com o meio ambiente está levan<strong>do</strong> os<br />

pesquisa<strong>do</strong>res a <strong>de</strong>scobrirem novos produtos que tenham o<br />

menor impacto ambiental possível. Dentro <strong>de</strong>sse contexto, a<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> materiais que sirvam <strong>de</strong> base para compostos<br />

poliméricos menos agressivos ao meio ambiente, assumem<br />

gran<strong>de</strong> importância. Polímeros <strong>de</strong> <strong>óleo</strong> vegetal po<strong>de</strong>m ser<br />

uma solução para essa questão, pois sua base molecular confere<br />

aos compostos poliméricos uma fonte renovável e <strong>de</strong><br />

baixo custo (1-3).<br />

Des<strong>de</strong> que foram <strong>de</strong>scobertos, os <strong>polímero</strong>s são aplica<strong>do</strong>s<br />

em vários setores hoje em dia, como na construção<br />

civil, indústria automotiva, produção <strong>de</strong> eletro-eletrônicos<br />

e embalagens (18). Como o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>polímero</strong>s cresce<br />

rapidamente a cada ano, comparativamente superan<strong>do</strong> até a<br />

taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> PIB (5), a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se obter<br />

<strong>polímero</strong>s cada vez mais <strong>de</strong>gradáveis e bio<strong>de</strong>gradáveis é crítica<br />

para que se reduza o impacto ambiental por estes produtos,<br />

a níveis mais baixos (19). Plásticos bio<strong>de</strong>gradáveis são<br />

Seme Youssef Reda* e<br />

Paulo I. Borba Carneiro<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />

Ponta Grossa<br />

*Autor para correspondência:<br />

Pós graduação em Ciência e<br />

Tecnologia <strong>de</strong> Alimentos<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />

Ponta Grossa (UEPG)<br />

Av. Monteiro Lobato, 3003<br />

– apto. 12R1<br />

CEP: 84016-210.<br />

Ponta Grossa. PR<br />

Fone: (42) 8808-3215<br />

E-mail: sreda@bol.com.br<br />

aqueles que po<strong>de</strong>m ser consumi<strong>do</strong>s por fungos e bactérias<br />

quan<strong>do</strong> expostos ao meio ambiente, tornan<strong>do</strong> as moléculas<br />

maiores em moléculas cada vez menores até se reduzirem a<br />

CO 2 , H 2 O e outras moléculas inorgânicas simples (15), não<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> exce<strong>de</strong>r 5% <strong>de</strong> material não-bio<strong>de</strong>gradável no final<br />

(4). Assim, <strong>polímero</strong>s que tenham como base moléculas <strong>de</strong><br />

triacilglicerol, promovem uma excelente plataforma <strong>de</strong> valiosos<br />

materiais poliméricos <strong>de</strong> baixo custo e <strong>de</strong> fonte renovável<br />

e com potencial para a bio<strong>de</strong>grabilida<strong>de</strong> (10,12). O <strong>óleo</strong> <strong>de</strong><br />

tungue, por exemplo, que tem seus triacilgliceróis compostos<br />

principalmente <strong>de</strong> áci<strong>do</strong> α-elaeosteárico (cis-9, trans-11,<br />

trans-13-octa<strong>de</strong>catrienóico), produz materiais poliméricos<br />

por meio <strong>de</strong> polimerização térmica, on<strong>de</strong> os triacilgliceróis<br />

que compõem o <strong>óleo</strong> resultam em <strong>polímero</strong>s com boa estabilida<strong>de</strong><br />

térmica (10,11). Também os <strong>polímero</strong>s <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s<br />

da soja po<strong>de</strong>m ser muito úteis na substituição <strong>do</strong>s materiais<br />

poliméricos <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> petr<strong>óleo</strong>. Em geral, <strong>óleo</strong>s vegetais<br />

com alta insaturação, resultam em plásticos com altas pro-<br />

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prieda<strong>de</strong>s mecânicas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser utiliza<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>,<br />

sem gran<strong>de</strong>s investimentos no processo <strong>de</strong> manufatura <strong>de</strong>sses<br />

materiais, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> esses <strong>polímero</strong>s competir por igual<br />

com os <strong>polímero</strong>s conheci<strong>do</strong>s comercialmente (11).<br />

Esse trabalho visou caracterizar o <strong>polímero</strong> obti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> gera<strong>do</strong> por aquecimento.<br />

Amostra<br />

Materiais e Méto<strong>do</strong>s<br />

Foi utiliza<strong>do</strong> <strong>óleo</strong> vegetal <strong>de</strong> <strong>girassol</strong>, refina<strong>do</strong>, cedi<strong>do</strong><br />

pela empresa Cargill, com alto teor <strong>de</strong> pureza, sem qualquer<br />

preparação adicional da amostra. Duzentos mililitros da<br />

amostra foram acondiciona<strong>do</strong>s em frasco <strong>de</strong> vidro refratário<br />

(PIREX ® ), com 15 cm <strong>de</strong> diâmetro, aqueci<strong>do</strong>s em anel <strong>de</strong> cerâmica<br />

refratária, com resistência exposta, numa temperatura<br />

<strong>de</strong> aquecimento que variou entre 180 e 200°C, controla<strong>do</strong><br />

por termômetro. O tempo <strong>de</strong> aquecimento foi <strong>de</strong> oito horas<br />

diárias, por sete dias, em atmosfera <strong>de</strong> ar ambiente, com um<br />

intervalo <strong>de</strong> resfriamento nunca inferior a 10 horas, entre um<br />

aquecimento e outro. Nenhum composto adicional foi coloca<strong>do</strong><br />

no <strong>óleo</strong> durante o experimento. To<strong>do</strong> o procedimento<br />

foi repeti<strong>do</strong> e confirma<strong>do</strong>.<br />

Análise por ressonância magnética nuclear<br />

<strong>de</strong> hidrogênio-1 e carbono-13<br />

Amostra <strong>do</strong> <strong>óleo</strong>: aproximadamente 10 a 20mg <strong>do</strong> <strong>óleo</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>girassol</strong> foram dissolvi<strong>do</strong>s em 0,7ml <strong>de</strong> CDCl 3 e seus espectros<br />

<strong>de</strong> RMN foi registra<strong>do</strong> em espectrômetro Varian,<br />

mo<strong>de</strong>lo Mercyry-300 MHz, operan<strong>do</strong> no mo<strong>do</strong> FT à temperatura<br />

ambiente.<br />

RMN <strong>de</strong> H 1 : para os núcleos <strong>de</strong> hidrogênio foram utiliza<strong>do</strong>s<br />

os seguintes parâmetros <strong>de</strong> aquisição: pulso: 45º, tempo<br />

<strong>de</strong> relaxação: 1,359s; tempo <strong>de</strong> aquisição: 3,64s; largura <strong>de</strong><br />

varredura: 4.120Hz, largura <strong>de</strong> linha 0,3Hz. Foram acumuladas<br />

16 repetições para cada <strong>de</strong>caimento induzi<strong>do</strong> livre (FID).<br />

RMN <strong>de</strong> C 13 : os núcleos <strong>de</strong> carbono-13 foram observa<strong>do</strong>s<br />

a 75,45MHz com <strong>de</strong>sacoplamento <strong>de</strong> hidrogênio em 300MHz,<br />

utilizan<strong>do</strong>-se os seguintes parâmetros <strong>de</strong> aquisição: pulso: 30º,<br />

tempo <strong>de</strong> relaxação: 1,0s; tempo <strong>de</strong> aquisição: 0,868s; largu-<br />

Áci<strong>do</strong> graxo Nomenclatura 1ª. <strong>de</strong>terminação 2ª. <strong>de</strong>terminação Legislação% (g/100g)<br />

C< 14 - - - < 0,4<br />

C 14:0 mirístico - - < 0,5<br />

C 16:0 palmítico 6,80 6,67 3,0 -10,0<br />

C 16:1 palmitoléico - - < 1,0<br />

C 18:0 esteárico 2,96 3,21 1,0 - 10,0<br />

C 18:1 oléico 24,43 24,61 14,0 - 35,0<br />

C 18:2 linoléico 63,71 63,36 55,0 - 75,0<br />

C 18:3 linolênico 0,49 0,48 < 0,3<br />

C 20:0 araquídico < 1,5<br />

C 20:1 eicosenóico < 0,5<br />

C 22:0 behênico < 1,0<br />

C 22:1 erúcico < 0,5<br />

C 24:0 lignocérico < 0,5<br />

C 24:1 tetracosenóico < 0,5<br />

Outro Entre 16:1 e 18:0 1,61 1,67<br />

Tabela 1. Perfil <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s graxos i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s como ésteres metílicos <strong>do</strong>s triacilgliceróis <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> Girassol (Hellianthus annuus)<br />

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Artigo<br />

Figura 1. Fotografia <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong><br />

ra <strong>de</strong> varredura: 18.868,0Hz, largura <strong>de</strong> linha 1,0Hz. Foram<br />

acumuladas 512 repetições para cada <strong>de</strong>caimento induzi<strong>do</strong><br />

livre (FID).<br />

Análise espectroscópica por infravermelho<br />

Aproximadamente 5µl <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> foram prensa<strong>do</strong>s<br />

em pastilha <strong>de</strong> KBr (100mg) e seu espectro <strong>de</strong> infravermelho<br />

foi <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> em espectrofotômetro Shimadzu,<br />

mo<strong>de</strong>lo 8400, operan<strong>do</strong> no mo<strong>do</strong> FT.<br />

Análise por difração <strong>de</strong> raios-X (XRD)<br />

O <strong>polímero</strong> resultante <strong>do</strong> aquecimento <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong><br />

foi analisa<strong>do</strong> em Difratômetro <strong>de</strong> Raios-X Shimadzu, mo<strong>de</strong>lo<br />

XRD – 6000, para análise da cristalinida<strong>de</strong>.<br />

Cromatografia gasosa<br />

a) Preparação <strong>de</strong> ésteres metílicos: a preparação <strong>de</strong> ésteres<br />

metílicos foi realizada seguin<strong>do</strong> o Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> HARTMAN<br />

e LAGO (1973).<br />

b) Análise cromatográfica: A análise cromatográfica foi<br />

realizada seguin<strong>do</strong> o Méto<strong>do</strong> oficial AOCS (1990), utilizan<strong>do</strong><br />

um Cromatógrafo gasoso CG-Master com coluna capilar<br />

(CG-745; 30m; 0,53mm <strong>de</strong> espessura; filme <strong>de</strong> 1μm <strong>de</strong><br />

polietilenoglicol, com <strong>de</strong>tector <strong>de</strong> ionização <strong>de</strong> chama; as<br />

temperaturas utilizadas no injetor e no <strong>de</strong>tector foram respectivamente<br />

220 e 250°C). A programação <strong>de</strong> temperatura<br />

da coluna foi iniciada em 100°C, aquecida a 5°C. min-1 até<br />

220°C e permaneceu em isoterma a 220°C por 25 minutos.<br />

A solução <strong>de</strong> referência continha padrões <strong>de</strong> quinze ésteres<br />

metílicos.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Composição <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong><br />

Na Tabela 1 po<strong>de</strong>-se observar a composição em áci<strong>do</strong>s<br />

graxos <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o que preconiza<br />

a literatura (2,6). Toman<strong>do</strong>-se como base a composição<br />

<strong>do</strong>s áci<strong>do</strong>s graxos insatura<strong>do</strong>s oléico e linoléico, observa-se<br />

que o <strong>óleo</strong> estuda<strong>do</strong> possui alto grau <strong>de</strong> insaturação.<br />

Característica aparente <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> forma<strong>do</strong><br />

A Figura 1 mostra o composto final forma<strong>do</strong>, após o processo<br />

<strong>de</strong> aquecimento a que foi submeti<strong>do</strong> o <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong>.<br />

É possível notar a aparência elástica <strong>do</strong> <strong>polímero</strong>.<br />

GIRASSOL<br />

Sinais Tempo em horas<br />

0 56<br />

k + j 10,51 5,23<br />

i + h 4,24 4,67<br />

g 4,09 1,32<br />

f 6,35 7,26<br />

e 11,02 6,41<br />

d 6,03 9,20<br />

c 49,74 56,53<br />

b 0,01 0<br />

a 8,01 9,38<br />

a + b 8,02 9,38<br />

∑ = 100,0 100,0<br />

Tabela 2. Perfil <strong>de</strong> hidrogênios <strong>do</strong>s triacilgliceróis, obti<strong>do</strong> da<br />

curva <strong>de</strong> integração <strong>do</strong> espectro <strong>de</strong> RMN <strong>de</strong> H 1 <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>girassol</strong> in natura e polimeriza<strong>do</strong><br />

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Artigo<br />

Análise espectroscópica por RMN <strong>de</strong> H 1 e C 13<br />

Sen<strong>do</strong> o <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> altamente insatura<strong>do</strong>, sua<br />

constituição o torna altamente polimerizável (11) O índice<br />

<strong>de</strong> io<strong>do</strong> confirma a alta insaturação, uma vez que<br />

para o <strong>óleo</strong> in natura o índice <strong>de</strong> io<strong>do</strong> é 139,75 (17). Analisan<strong>do</strong><br />

o peso molecular médio <strong>do</strong> composto forma<strong>do</strong>,<br />

observa-se que houve uma redução <strong>do</strong> seu PM com a<br />

progressão <strong>do</strong> aquecimento. Passou <strong>de</strong> 836,7g (17) para<br />

743,23g (Esquema I, pg 10). Isso po<strong>de</strong> ser o resulta<strong>do</strong><br />

da contínua formação <strong>de</strong> monômeros cíclicos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

presença <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s graxos poliinsatura<strong>do</strong>s que sofrem<br />

ciclização por meio da reação <strong>de</strong> Diels–Al<strong>de</strong>r (9) e da<br />

formação e quebra <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias poliméricas, que vão se<br />

forman<strong>do</strong> com o tempo <strong>de</strong> aquecimento, com perda sucessiva<br />

<strong>de</strong> massa, resultan<strong>do</strong> na diminuição <strong>do</strong> PM médio<br />

(17). De outro la<strong>do</strong>, aparentemente através da reação<br />

Diels-Al<strong>de</strong>r há a formação <strong>de</strong> pontes intermoleculares,<br />

pela reação com as ligações π da ca<strong>de</strong>ia carbônica, o que<br />

resulta em produtos oleosos viscosos (10). A termopolimerização<br />

ocorre em função das múltiplas ligações<br />

duplas existentes na molécula <strong>de</strong> triacilglicerol que compõe<br />

o <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong>, resultan<strong>do</strong> em <strong>polímero</strong>s com<br />

característica tridimensional <strong>de</strong> uma malha com ligações<br />

cruzadas (13). Pelo espectro <strong>de</strong> RMN <strong>de</strong> H 1 <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>girassol</strong> in natura (Figura 2), po<strong>de</strong>-se verificar a existência<br />

<strong>do</strong>s prótons alílicos externos em δ 2,10 ppm (Figura 2,<br />

sinal em e) e <strong>do</strong>s prótons alílicos internos em δ 2,80 ppm<br />

(Figura 2, sinal em g), característicos das ligações duplas<br />

<strong>do</strong> áci<strong>do</strong> linoléico que constitui o <strong>óleo</strong>.<br />

Na Tabela 2, analisan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> perfil <strong>de</strong> hidrogênios <strong>do</strong><br />

espectro integra<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> in natura e polimeriza<strong>do</strong> (56h<br />

<strong>de</strong> aquecimento), observa-se uma clara diminuição <strong>do</strong>s<br />

sinais, principalmente em relação aos prótons olefínicos,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à quebra das ligações duplas. Na Tabela 3 é possível<br />

ver uma sensível diminuição <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> carbonos<br />

olefínicos (δ 132-127 ppm) com o aumento progressivo<br />

da termo-polimerização; o mesmo efeito po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong><br />

em δ 22-23 ppm. A diminuição <strong>do</strong>s sinais em δ ~ 27<br />

ppm, a região <strong>do</strong>s carbonos alílicos externos às ligações<br />

duplas da ca<strong>de</strong>ia carbônica, indica uma redução no teor <strong>do</strong><br />

áci<strong>do</strong> linoléico, on<strong>de</strong> o aumento da saturação <strong>do</strong>s <strong>óleo</strong>s<br />

po<strong>de</strong> ser visto em δ ~34 ppm, região <strong>do</strong>s carbonos alifáticos<br />

satura<strong>do</strong>s.<br />

Cálculo <strong>do</strong> peso molecular médio, <strong>do</strong> índice<br />

<strong>de</strong> io<strong>do</strong> e <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> saponificação<br />

Pelo perfil <strong>de</strong> hidrogênios obti<strong>do</strong> <strong>do</strong> espectro integra<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> RMN H 1 (Tabela 2) é possível calcular o peso molecular<br />

médio (PM) <strong>do</strong> composto final forma<strong>do</strong> e o índice<br />

<strong>de</strong> io<strong>do</strong> (I.I), conforme as Equações I, II (8) e o índice <strong>de</strong><br />

saponificação (IS) conforme a equação III (16), uma vez<br />

que pelos méto<strong>do</strong>s analíticos tradicionais não seria possível<br />

esses cálculos para o tempo final <strong>de</strong> aquecimento.<br />

Tempo em horas<br />

0 56<br />

173,405 173,481<br />

172,993 173,054<br />

130,390 130,436<br />

130,176 130,222<br />

130,146 129,917<br />

129,886 128,284<br />

129,860 128,100<br />

128,253<br />

128,085<br />

69,074 69,089<br />

62,261 62,296<br />

34,363 34,393<br />

34,195 34,225<br />

32,104 32,134<br />

31,722 32,104<br />

31,722<br />

29,951 29,967<br />

29,890 29,906<br />

29,799 29,860<br />

29,722 29,829<br />

29,677 29,722<br />

29,539 29,690<br />

29,509 29,554<br />

29,463 29,524<br />

29,371 29,478<br />

29,310 29,387<br />

29,264 29,326<br />

29,234 29,310<br />

29,280<br />

27,420<br />

27,387 27,402<br />

25,815 25,830<br />

25,052 25,067<br />

25,021 25,036<br />

22,869 22,884<br />

22,762 22,777<br />

14,290 14,321<br />

14,260 14,275<br />

Tabela 3. Deslocamentos químicos <strong>de</strong> RMN 13 <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>girassol</strong> in natura e polimeriza<strong>do</strong><br />

48 <strong>Revista</strong> <strong>Analytica</strong>•Outubro/Novembro 2006•Nº25<br />

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Equação I: cálculo <strong>do</strong> peso molecular médio<br />

(I)<br />

on<strong>de</strong>:<br />

T= número total <strong>de</strong> prótons;<br />

V= número <strong>de</strong> prótons olefínicos.<br />

Portanto, o peso molecular médio calcula<strong>do</strong> por RMN <strong>de</strong><br />

H1 <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> é 735,27g.<br />

Equação II: cálculo <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> io<strong>do</strong> por RMN H1 (II)<br />

on<strong>de</strong>:<br />

I = índice <strong>de</strong> io<strong>do</strong>;<br />

V = número <strong>de</strong> prótons vinílicos (olefínicos);<br />

PM = peso molecular médio <strong>do</strong> composto.<br />

Logo, o índice <strong>de</strong> io<strong>do</strong> (I.I) para o <strong>polímero</strong> <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>girassol</strong> é 60,05. Aqui se verifica uma perda consi<strong>de</strong>rável das<br />

insaturações <strong>do</strong> <strong>óleo</strong>, compara<strong>do</strong> com o I.I inicial <strong>de</strong> 139,75<br />

(17) indican<strong>do</strong> que as ligações duplas foram quebradas pelo<br />

processo térmico a que foi submeti<strong>do</strong> o <strong>óleo</strong>.<br />

Equação III: cálculo <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> saponificação (IS)<br />

IS = -0,2358 PM + 398,42 [r = 0,9998; r2 = 0,9997; n = 5] (III)<br />

on<strong>de</strong>:<br />

PM = peso molecular médio <strong>do</strong> composto.<br />

Assim, o índice <strong>de</strong> saponificação <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> polimeriza<strong>do</strong> é<br />

igual a 225,04. Calculan<strong>do</strong>-se o IS <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> in natura<br />

com base no seu PM, tem-se 201,12. Nota-se um aumento<br />

<strong>do</strong> IS <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a perda <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua massa, o que reforça a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> ter sofri<strong>do</strong> uma mudança em<br />

sua constituição, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> parte <strong>de</strong> sua estrutura para dar<br />

origem ao <strong>polímero</strong>.<br />

Figura 2. Espectro <strong>de</strong> RMN H 1 <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> in natura. Os sinais <strong>do</strong>s<br />

prótons H 1 da metila <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> linolênico em 0,98 ppm [sinal em b], aqui<br />

praticamente inexistem<br />

Análise espectroscópica por FTIR<br />

Na Figura 3 observa-se, com a progressão <strong>do</strong> aquecimento,<br />

uma gran<strong>de</strong> alteração na banda <strong>de</strong> 1300-1100 cm -1 , região<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação <strong>do</strong>s grupos C-O-C e C-OH, assim como na<br />

faixa <strong>de</strong> ~1450 cm -1 , região <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação <strong>do</strong>s grupos C-H.<br />

É possível que esta alteração esteja relacionada com o aumento<br />

progressivo <strong>do</strong> grau polimerização <strong>do</strong> <strong>óleo</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />

aumento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> ligações cruzadas (10,14) e diminuição<br />

sistemática das ligações duplas (~3010 cm -1 ). Também se<br />

observa uma banda clara em 1700 cm -1 referente ao grupo<br />

carbonil e também entre 3000 e 3500 cm -1 , on<strong>de</strong> tem-se uma<br />

banda larga referente aos grupos hidroxil e peroxil, igualmente<br />

<strong>de</strong>correntes das ligações cruzadas formadas no perío<strong>do</strong><br />

final <strong>de</strong> aquecimento. Isto está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o encontra<strong>do</strong><br />

por LI e LAROCK (2003) para o composto polimérico obti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> tungue.<br />

Análise por difração <strong>de</strong> raios-X (XRD)<br />

A Figura 4 mostra o espectro <strong>de</strong> difração <strong>de</strong> raios-x<br />

(XRD) <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong>, obti<strong>do</strong> com 56 horas<br />

<strong>de</strong> aquecimento, o qual se apresenta 85,4% amorfo e 14,6 %<br />

Figura 3. Espectro <strong>de</strong> infravermelho <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> em diferentes<br />

tempos <strong>de</strong> aquecimento<br />

preto = 0 h / vermelho = 8 h / ver<strong>de</strong>-claro = 16 h / azul = 24 h / rosa = 32 h<br />

amarelo = 40 h / ver<strong>de</strong>-oliva = 48 h / alaranja<strong>do</strong> = 56 h<br />

Figura 4. Espectro por difração <strong>de</strong> raios-x <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> <strong>do</strong> <strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong><br />

<strong>Revista</strong> <strong>Analytica</strong>•Outubro/Novembro 2006•Nº25 49<br />

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Artigo<br />

cristalino. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu uso, a alta cristalinida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

materiais poliméricos limita as suas proprieda<strong>de</strong>s mecânicas<br />

(1). Nesse aspecto, o <strong>polímero</strong> forma<strong>do</strong> possui característica<br />

favorável por apresentar baixo grau <strong>de</strong> cristalinida<strong>de</strong> (20). De<br />

outro la<strong>do</strong>, <strong>polímero</strong>s altamente cristalinos têm alto mo<strong>de</strong>lo<br />

elástico e isso os torna altamente resistentes ao cisalhamento<br />

mecânico (3).<br />

Conclusóes<br />

1) A análise cromatográfica revelou o alto teor <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s<br />

graxos insatura<strong>do</strong>s, o que o predispõe a termo-polimerização.<br />

2) A espectroscopia por FTIR mostrou alteração na banda <strong>de</strong><br />

1100-1300 cm -1 e <strong>de</strong> 3000-3500 cm -1 , on<strong>de</strong> é possível que estas<br />

alterações estejam relacionadas com o aumento progressivo <strong>do</strong><br />

grau polimerização <strong>do</strong> <strong>óleo</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao aumento <strong>do</strong> número <strong>de</strong><br />

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ligações cruzadas e diminuição sistemática das ligações duplas.<br />

3) Por meio da RMN <strong>de</strong> H 1 foi possível calcular o peso<br />

molecular médio, o índice <strong>de</strong> io<strong>do</strong> e o índice <strong>de</strong> saponificação.<br />

O PM médio <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> menor <strong>do</strong> que o PM <strong>do</strong> <strong>óleo</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>girassol</strong> in natura <strong>de</strong>monstrou que houve perda <strong>de</strong> massa<br />

molecular, fato comprova<strong>do</strong> pelo aumento <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> saponificação.<br />

Isso provavelmente está relaciona<strong>do</strong> às reações<br />

<strong>de</strong> ciclização e <strong>de</strong> polimerização que sofreu o <strong>óleo</strong> durante<br />

o processo <strong>de</strong> aquecimento, on<strong>de</strong> as ligações duplas provavelmente<br />

serviram <strong>de</strong> sítio <strong>de</strong> reação para tais reações. A<br />

diminuição sensível <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> io<strong>do</strong> no final <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />

aquecimento corrobora para esse raciocínio.<br />

4) A XRD mostrou baixa cristalinida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>polímero</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>óleo</strong> <strong>de</strong> <strong>girassol</strong> e <strong>de</strong> constituição elástica, sen<strong>do</strong> importante<br />

aprofundar o estu<strong>do</strong> sobre o potencial para a sua bio<strong>de</strong>gradabilida<strong>de</strong>.<br />

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50 <strong>Revista</strong> <strong>Analytica</strong>•Outubro/Novembro 2006•Nº25<br />

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