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palcos #3 - Federação Portuguesa de Teatro

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NESTE NÚMERO:<br />

PAULO PRATA RAMOS<br />

O ARQUITECTO... DA LUZ<br />

<strong>palcos</strong><br />

Revista<br />

CONTACTO TRIUNFA<br />

EM PÓVOA DE LANHOSO<br />

«GRADIM À JANELA DA AUSÊNCIA»<br />

PRÉMIO RUY DE CARVALHO 2012<br />

IX FÓRUM PERMANENTE<br />

A FESTA SUBIU A GUIMARÃES<br />

# 03 março ‘12


editorial<br />

A 3 ª edição da Revista Palcos está aí para falar do <strong>Teatro</strong> e dos assuntos que a ele dizem<br />

respeito.<br />

Março, mês do <strong>Teatro</strong> por excelência, é escolhido por muitas companhias <strong>de</strong> teatro para<br />

levarem a cabo os seus festivais e mostras <strong>de</strong> teatro. É também em Março que o <strong>Teatro</strong><br />

comemora o seu Dia Mundial.<br />

Os <strong>de</strong>staques <strong>de</strong>ste número vão para o(s) vencedor(es) do Concurso Nacional <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>,<br />

para o IX Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> – I Fórum Europeu <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> que Guimarães,<br />

Capital Europeia da Cultura, acolheu no passado mês <strong>de</strong> Janeiro. Vamos, também,<br />

conhecer um pouco melhor Paulo Prata Ramos, Director Técnico da Culturgest e<br />

formador <strong>de</strong> Iluminação, com presença habitual nos Fóruns da <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong> e ficamos também a conhecer um pouco melhor Setúbal e o Grupo <strong>de</strong> Animação e<br />

<strong>Teatro</strong> “Espelho Mágico”, nosso associado, que será o anfitrião do próximo Fórum<br />

Permanente, em Outubro.<br />

O principal <strong>de</strong>staque, vai, no entanto, para a petição que a Direcção da FPTA lançou em<br />

Janeiro último, em Guimarães, para a institucionalização do dia 21 <strong>de</strong> Março, como Dia<br />

Nacional do <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Amadores. Está a <strong>de</strong>correr um período <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> assinaturas,<br />

em livros adquiridos para o efeito, que foram distribuídos a cerca <strong>de</strong> trinta associados e<br />

que se prevê terminar no próximo mês <strong>de</strong> Setembro. A Direcção da <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> preten<strong>de</strong><br />

e prevê recolher cerca <strong>de</strong> 25 mil assinaturas a favor <strong>de</strong>sta causa que a todos nos orgulha.<br />

Após esta recolha irão ser <strong>de</strong>senvolvidos, junto da Assembleia da República, os<br />

procedimentos necessários à prossecução <strong>de</strong>ste objectivo. Contamos com o apoio <strong>de</strong><br />

todos os que amam o <strong>Teatro</strong>.<br />

No período que mediou entre o anterior número da Palcos e este tiveram lugar alguns<br />

acontecimentos que merecem <strong>de</strong>staque, uns pela negativa, como por exemplo o<br />

falecimento <strong>de</strong> Luiz Francisco Rebello, figura maior do nosso teatro e que foi alvo <strong>de</strong> uma<br />

homenagem no Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la (em Janeiro <strong>de</strong> 2011) e que nos<br />

<strong>de</strong>ixou em Dezembro do ano passado; outros, pela positiva, como por exemplo a<br />

assinatura <strong>de</strong> um protocolo <strong>de</strong> cooperação entre a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> e a<br />

Escenamateur, Confe<strong>de</strong>ração Espanhola <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Amadores que reconhece ambos<br />

os organismos como representantes únicos e exclusivos do teatro <strong>de</strong> amadores<br />

respectivamente em cada um dos países. De referir também que a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong><br />

<strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> está também associada à Coligação <strong>Portuguesa</strong> para a Diversida<strong>de</strong><br />

Cultural, tendo assento nos seus órgãos sociais. Em 31 <strong>de</strong> Janeiro a Coligação, através do<br />

seu Presi<strong>de</strong>nte, Fernando Vendrell, entregou uma carta aberta a Durão Barroso (em<br />

Bruxelas) em que se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a diversida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> cada país da União Europeia,<br />

nomeadamente através da <strong>de</strong>fesa da um sistema <strong>de</strong> tributação das políticas culturais<br />

adoptado à realida<strong>de</strong> da era digital, a simplificação da avaliação aos apoios estatais para<br />

a cultura e a extensão <strong>de</strong>sses mesmos apoios a novos formatos digitais.<br />

A <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> está, pois, envolvida ao mais alto nível na <strong>de</strong>fesa e <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

teatro e da cultura em geral, actuando tanto a nível interno como a nível externo na<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>stes interesses.<br />

Fernando Rodrigues<br />

Director<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

01<br />

março ‘12


01<br />

03<br />

08<br />

11<br />

14<br />

15<br />

18<br />

21<br />

editorial<br />

conversas <strong>de</strong> bastidores<br />

paulo prata ramos<br />

estreia<br />

ix fórum permanente <strong>de</strong><br />

teatro<br />

programa <strong>de</strong> sala<br />

g.a.t. espelho mágico<br />

setúbal<br />

na ribalta<br />

concurso nacional <strong>de</strong><br />

teatro 2012<br />

boca <strong>de</strong> cena<br />

petição para o dia nacional<br />

do teatro <strong>de</strong> amadores<br />

reportório<br />

a evolução teatral<br />

sem palco<br />

a pedra e eu<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Proprieda<strong>de</strong><br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong><br />

Praça José Afonso, 15 E<br />

C. C. Colina do Sol, Loja 55<br />

2700-495 Amadora<br />

geral@fpteatro.pt<br />

www.fpteatro.pt<br />

Director<br />

Fernando Rodrigues<br />

Conselho Editorial<br />

Rafael Vergamota, Luis<br />

Men<strong>de</strong>s, Eugénia Oliveira e<br />

José Teles<br />

Chefe <strong>de</strong> Redacção<br />

Rute Lourenço<br />

Colaboradores permanentes<br />

Manuel Ramos Costa, Sandra<br />

Barradas e Bruno Gomes<br />

Grafismo e Paginação<br />

Gabinete <strong>de</strong> Comunicação /<br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong><br />

Colaboraram neste número<br />

Céu Campos<br />

Periodicida<strong>de</strong> Semestral<br />

Os textos propostos para edição<br />

d e verã o re m e t i d o s p a ra<br />

revista.<strong>palcos</strong>@fpteatro.pt ,<br />

sendo objecto <strong>de</strong> avaliação<br />

prévia, por parte do Conselho<br />

Editorial.<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

02<br />

março ‘12


conversas <strong>de</strong> bastidores<br />

PAULO PRATA RAMOS<br />

O ARQUITECTO... DA LUZ<br />

Manuel Ramos Costa<br />

Dramaturgo e Encenador<br />

Atentem nas respostas que dá a esta<br />

entrevista e nas fotos que a ilustram e<br />

encontrarão algumas das evidências ou<br />

resplan<strong>de</strong>cências da sua personalida<strong>de</strong>: Uma<br />

pessoa tranquila, contemplativa, generosa,<br />

apaixonada e segura da sua fortuna – o<br />

trabalho e a família.<br />

Tenho-me cruzado com ele nos últimos fóruns<br />

da <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> e, mesmo<br />

sem termos trocado gran<strong>de</strong>s prosas, pu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sfrutar do seu trabalho e do modo como o<br />

exerce junto daqueles que fazem a sua<br />

aprendizagem na arte da luz.<br />

Neste campo, o seu contentamento é o êxito,<br />

não só o seu mas também o dos outros, já que<br />

a sua generosida<strong>de</strong> exce<strong>de</strong> qualquer<br />

sentimento egocentrista. O respeito que exige<br />

para si é o mesmo que <strong>de</strong>dica aos outros on<strong>de</strong> quer que esteja e com quem seja. O seu<br />

leve sorriso e o seu olhar profundo revelam um homem íntegro, apaixonado, criativo,<br />

educador e <strong>de</strong>terminado a fazer o melhor para o bem comum, principalmente, do<br />

universo em que se move e <strong>de</strong>staca.<br />

Falo-vos <strong>de</strong> Paulo Prata Ramos, cuja mestria na arte da luz e magnanimida<strong>de</strong> pessoal<br />

gostaria <strong>de</strong> enaltecer nesta pequena aventura <strong>de</strong> perguntas e respostas. Nada,<br />

porém, do que eu pu<strong>de</strong>sse dizer seria suficiente para honrar a chama e a exegese das<br />

suas próprias palavras. Está tudo muito bem <strong>de</strong>senhado. E límpido.<br />

PAULO PRATA RAMOS, nasceu em Angola em 1970, viveu em Moçambique e, no pós 25 <strong>de</strong><br />

Abril, os seus pais acharam sensato mudarem-se para o Brasil, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> regressaram a Portugal<br />

na década <strong>de</strong> 80. Nunca viveu muitos anos no mesmo sítio, o que sem dúvida marcou a sua<br />

infância, adolescência e juventu<strong>de</strong>, razão pela qual sempre se sentiu <strong>de</strong>senraizado. Soube<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno que queria ser arquiteto, apesar <strong>de</strong> os testes psicotécnicos indicarem que<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

03<br />

março ‘12


<strong>de</strong>veria ser engenheiro. No entanto «Hoje, acho que tenho costelas <strong>de</strong> ambos, o que acaba por<br />

ser positivo para o meu trabalho: diretor técnico da Culturgest.»<br />

Sobre a sua juventu<strong>de</strong>, diz: «Tive uma juventu<strong>de</strong> bastante animada (que é um adjetivo<br />

politicamente correto) e só passei a ser uma pessoa mo<strong>de</strong>radamente ajuizada quando comecei<br />

a namorar a minha atual mulher.»<br />

Têm dois filhos maravilhosos, que «são o nosso maior projeto.»<br />

E siga a entrevista.<br />

MRC: Paulo, tu que mexes com luz, o que te diz o sol?<br />

PPR: O sol é fantástico, está sempre a mudar, está sempre diferente. Po<strong>de</strong> ser quente,<br />

num fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, ou frio numa manhã enevoada. Tem personalida<strong>de</strong> própria. É<br />

impossível <strong>de</strong> caracterizar. No entanto, simultaneamente, transmite uma forte noção <strong>de</strong><br />

constância, marcando o nosso tempo.<br />

MRC: E a lua?<br />

PPR: A lua é misteriosa e feminina. A magia da sua luz revela-se não tanto pelo que<br />

ilumina, <strong>de</strong> forma ténue, mas pela sua presença luminosa, que se recorta atrás das<br />

nuvens, atrás das árvores. O céu <strong>de</strong> luar é um ciclorama magnificamente iluminado.<br />

MRC: Lisboa?<br />

PPR: Nasci em Angola numa al<strong>de</strong>ia junto à fronteira com o Congo, que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir<br />

durante a guerra. Digamos que sou órfão <strong>de</strong> terra natal. Lisboa é a cida<strong>de</strong> que escolhi<br />

para ser a minha terra natal adotiva. Não é perfeita mas é on<strong>de</strong> me sinto em casa.<br />

MRC: Évora?<br />

PPR: Évora é uma daquelas recordações que me aquecerá o coração quando for mais<br />

velho. Trabalhei lá algumas vezes, quer em projeto e quer em espetáculo, mas o que me<br />

marcou foi a experiência como docente no curso <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora.<br />

Adoro dar aulas. Acho que ser professor é a profissão mais nobre <strong>de</strong> todas. Dá-se muito<br />

e recebe-se muito em troca. Achei os alunos fantásticos, cheios <strong>de</strong> dinamismo e i<strong>de</strong>ias.<br />

MRC: E o teatro?<br />

PPR: O teatro, ou mais genericamente o mundo do espetáculo e o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> luzes ,<br />

é a<br />

minha amante <strong>de</strong> longa data. É a minha segunda paixão, uma paixão inebriante, que me<br />

<strong>de</strong>sencaminha. Por isso tenho que me manter afastado. Hoje mantenho um amor<br />

platónico: sou diretor técnico.<br />

MRC: Fala-nos do projeto Espaço, Tempo e Utopia.<br />

PPR: Espaço Tempo e Utopia é um projeto conjunto que iniciei há <strong>de</strong>z anos com a minha<br />

mulher, <strong>de</strong> formar um ateliê especializado em salas <strong>de</strong> espetáculos. Baseou-se na i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> que a prática e a teoria <strong>de</strong>vem andar <strong>de</strong> mãos dadas, pelo que para fazer bons<br />

projetos <strong>de</strong> teatros tínhamos que, em simultâneo, trabalhar em espetáculos. Estivemos<br />

envolvidos como projetistas ou consultores em diversos projetos <strong>de</strong> que muito me<br />

orgulho, como o <strong>Teatro</strong> Circo <strong>de</strong> Braga, o <strong>Teatro</strong> da Cerca <strong>de</strong> São Bernardo, o São Luiz,<br />

a Sala Estúdio do Dona Maria e o Fórum Luísa Todi, atualmente em obra.<br />

Paralelamente, fizemos <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> luz, direção técnica, produção e cenografia. Com<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

04<br />

março ‘12


a escolha do nome pretendíamos transmitir a nossa filosofia. Espaço, tempo, utopia,<br />

são conceitos ligados à arquitetura e aos espetáculos. Atualmente, <strong>de</strong>dicamo-nos<br />

apenas ao projeto e já não trabalhamos exclusivamente em salas <strong>de</strong> espetáculos. Foi<br />

uma <strong>de</strong>cisão do mercado em que nos <strong>de</strong>ixámos ir.<br />

MRC: Tendo enveredado pela arquitetura, como é que surges no mundo do espetáculo<br />

como técnico <strong>de</strong> luz?<br />

PPR: Pelas mãos do meu sogro, Orlando Worm. O<br />

Orlando queria que toda a família se unisse à volta<br />

do mundo do espetáculo e foi <strong>de</strong>le em certa medida<br />

que partiu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> especialização em projetos <strong>de</strong><br />

teatros e <strong>de</strong> trabalhar em espetáculos para saber<br />

projetar. Comecei a trabalhar com ele em 1993<br />

como técnico <strong>de</strong> luz enquanto estava a tirar o curso<br />

<strong>de</strong> arquitetura. Em 1998 fui seu assistente na<br />

direção técnica do <strong>Teatro</strong> Camões. Em 2002 ganhei<br />

autonomia e fui fazer a direção técnica do São Luiz.<br />

O Orlando Worm foi um gran<strong>de</strong> mestre. Eu e muitos<br />

outros apren<strong>de</strong>mos imenso com ele. Foi um legado.<br />

MRC: A expressão «fazer <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> luz», o que é que traduz?<br />

PPR: O <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> luz não é palpável. Há uma componente objetiva e técnica <strong>de</strong><br />

escolha <strong>de</strong> projetores, do seu posicionamento, da sua afinação. Depois há uma<br />

componente subjetiva da escolha das cores, das intensida<strong>de</strong>s, das variações no tempo,<br />

da interação com os artistas e com o cenário. A luz é a parte <strong>de</strong> um todo: texto,<br />

encenação, cenário, figurinos, caracterização, personagens. Fazer um <strong>de</strong>senho <strong>de</strong><br />

luzes é como tocar num grupo <strong>de</strong> Jazz. Para haver harmonia tem que haver qualida<strong>de</strong><br />

individual e coletiva, o que exige empatia, trabalho conjunto e respeito pela liberda<strong>de</strong><br />

individual. Quando isto acontece o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> luz surge <strong>de</strong> forma natural.<br />

MRC: Quando fazes um <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> luz, quais são as tuas maiores preocupações?<br />

PPR: Saber interpretar o todo. Fazer com que se sinta que a luz está presente mas sem<br />

se sobrepor a nada. Conseguir sublinhar o discurso dramatúrgico.<br />

MRC: Nos últimos anos, muitas companhias têm privilegiado «a luz» em <strong>de</strong>trimento da<br />

cenografia. O que te apraz dizer sobre isto?<br />

PPR: Que não <strong>de</strong>via acontecer. É inegável que o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> luz po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar um<br />

importante papel cenográfico mas curiosamente a importância <strong>de</strong>sse papel diminui<br />

quando não existe qualquer cenografia. Para se sentir a luz tem que haver objetos<br />

iluminados. A existência da cenografia enriquece a luz e cria novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

trabalho. Mais uma vez, o espetáculo é um todo. Deve haver cenografia e <strong>de</strong>ve haver<br />

<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> luz. Na maior parte das vezes a utilização da luz como elemento<br />

cenográfico em <strong>de</strong>trimento da cenografia não parte da vonta<strong>de</strong> própria do encenador<br />

mas pren<strong>de</strong>-se sobretudo com questões económicas.<br />

MRC: O que pensas do teatro feito nas associações?<br />

PPR: Tem virtu<strong>de</strong>s que o teatro profissional normalmente não tem, <strong>de</strong> trabalho com as<br />

comunida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> relação com o local, <strong>de</strong> formação. Vejo certo paralelismo com o<br />

trabalho das autarquias locais, que é <strong>de</strong> pequena escala, <strong>de</strong> contacto direto mas que<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

05<br />

março ‘12


coletivamente é <strong>de</strong> importância nacional.<br />

MRC: Pelo que te é dado conhecer, achas que os grupos <strong>de</strong> teatro têm sabido explorar<br />

as potencialida<strong>de</strong>s dos equipamentos <strong>de</strong> luz <strong>de</strong> que dispõem? O que mais seria preciso,<br />

então?<br />

PPR: Ainda há muito por fazer. Nem todas as companhias veem a luz como uma arte<br />

mas apenas como uma técnica. Fazer um <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> luzes não tem nada a ver com<br />

garantir que há luz que chegue para ver o espetáculo. Não tem a ver com a qualida<strong>de</strong> ou<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> equipamentos mas sim com a forma como se usa. É preciso intercâmbio,<br />

formação e sobretudo experimentação.<br />

MRC: Achas que o nosso país, no campo das artes, está bem servido <strong>de</strong> técnicos <strong>de</strong><br />

luz? Ou reina por aí ainda muita ignorância?<br />

PPR: Por vezes falta conhecimento teórico que potencie o conhecimento prático. A<br />

formação não po<strong>de</strong> ser baseada apenas na experiência.<br />

MRC: Profissionalmente, és uma pessoa muito exigente contigo mesmo?<br />

PPR: Sou muito exigente, o que não é necessariamente bom. Por vezes perco tempo<br />

com pormenores. É preciso alguma objetivida<strong>de</strong> para dosear a exigência e eu nem<br />

sempre tenho essa objetivida<strong>de</strong>.<br />

MRC: Que espetáculos iluminaste? E qual foi aquele que mais gozo <strong>de</strong> te iluminar?<br />

PPR: Iluminei coisas muito diferentes: teatro, espetáculos para televisão, musicais,<br />

dança. São abordagens muito diferentes. O que me <strong>de</strong>u mais gozo foi um dos primeiros,<br />

Divina Comédia, <strong>de</strong> Jean Paul Bucchieri, que estreou no CCB em 2000. Era um<br />

espetáculo em que a luz tinha enorme importância dramatúrgica, era mais uma<br />

personagem em palco. Aprendi imenso.<br />

MRC: O que te apraz dizer sobre os fóruns realizados pela <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong>?<br />

PPR: Que cumprem na perfeição aquilo que anteriormente referi como sendo<br />

necessário: intercâmbio, formação e experimentação.<br />

MRC: Todos somos atraídos por projetos que, pela sua gran<strong>de</strong>za ou pela sua<br />

envergadura, vamos adiando. Quais são os teus?<br />

PPR: Fazer o doutoramento. Tudo passa à frente. Já <strong>de</strong>via ter aceite a realida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>sistido mas acho sempre que no mês seguinte conseguirei ter tempo.<br />

MRC: Que conselho darias aos jovens que pensam estudar e fazer carreira no teatro? A<br />

profissão <strong>de</strong> «<strong>de</strong>senhador <strong>de</strong> luz» seria uma boa saída?<br />

PPR: A motivação para estudar e fazer carreira em teatro não po<strong>de</strong> ser orientada pelo<br />

pensamento <strong>de</strong> se é ou não uma boa saída, mas sim se se sentem compelidos para tal.<br />

Por um lado em Portugal dificilmente a arte é uma boa saída, por outro lado porque<br />

sendo o trabalho em teatro arte, <strong>de</strong>ve haver vocação. Para se ser <strong>de</strong>senhador <strong>de</strong> luz<br />

não é diferente disto.<br />

MRC: Além da arquitetura e do teatro, que outras artes te dão alegria <strong>de</strong> viver?<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

06<br />

março ‘12


PPR: Gosto <strong>de</strong> tirar fotografias. O digital veio permitir máquinas pequenas que são<br />

cómodas para levar para todo o lado e po<strong>de</strong>mos estar sempre a tirar fotos, porque é<br />

muitíssimo mais barato que a película.<br />

MRC: Fora da tua profissão, quais são os elos mais importantes que te pren<strong>de</strong>m à vida?<br />

PPR: Estar com a família, <strong>de</strong> preferência na natureza. Adoro caminhadas, piqueniques<br />

e acampar. Quando nos privamos dos nossos confortos diários dos livros, e-mail,<br />

televisão, telemóvel, po<strong>de</strong>mos nos concentrar <strong>de</strong>vidamente naquilo que levamos<br />

connosco: a família.<br />

MRC: Olhando-te, hoje, ao espelho, o que vês?<br />

PPR: Sinto que ainda tenho muito para fazer e que tenho cada vez menos tempo. Até<br />

aos trinta e poucos achamos que temos tempo <strong>de</strong> realizar todos os nossos projetos. A<br />

partir dos quarenta ganhamos a consciência que já passámos meta<strong>de</strong> da nossa vida e<br />

que o tempo urge. Sinto pressa ao olhar-me ao espelho.<br />

MRC: Diz-me três coisas <strong>de</strong> que gostas muito.<br />

PPR: A família, o trabalho e estudar. Sou muito feliz. Tenho essas três coisas.<br />

MRC: E três <strong>de</strong> que não gostas mesmo nada.<br />

PPR: O mundo como é hoje, em que há uma absoluta inversão <strong>de</strong> valores, em que a<br />

economia conduz os estados e as escolhas políticas, em que há governos europeus<br />

não legitimados pelo voto, em que instituições não sufragadas como as agências <strong>de</strong><br />

rating condicionam o nosso futuro. É o fim da <strong>de</strong>mocracia. É apenas uma coisa que não<br />

gosto mas que vale por três! (Ou mais.)<br />

MRC: Como cidadão, achas que para Portugal, há atualmente luz ao fundo to túnel?<br />

PPR: O que quero ser. Ainda não sei respon<strong>de</strong>r.<br />

Em consciência e na verda<strong>de</strong>, um bom mestre diria o mesmo. Não me surpreen<strong>de</strong>.<br />

Todavia, uma só coisa me preocupa saber: é que pessoas assim como o Paulo<br />

Prata Ramos se contem pelos <strong>de</strong>dos num universo <strong>de</strong> milhões. Exagero? Penso que<br />

não.<br />

Faça-se luz!<br />

PPR: Acho que não. O túnel é muito longo e<br />

tortuoso. Não se vê nada. Mas nenhum túnel é<br />

infinito e havemos <strong>de</strong> chegar ao outro lado, é<br />

tudo uma questão <strong>de</strong> tempo. Entretanto temos<br />

que ir caminhando às escuras e sem per<strong>de</strong>r a<br />

e s p e r a n ç a . S e m e s p e r a n ç a n u n c a<br />

chegaremos a lado nenhum.<br />

MRC: Que pergunta gostarias que nunca te<br />

fizessem?<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

07<br />

março ‘12


estreia<br />

IX FÓRUM PERMANENTE DE TEATRO<br />

FÓRUM EUROPEU DE TEATRO<br />

Guimarães 2012<br />

José Teles<br />

Director do Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong><br />

Com o coração aberto, a “Cida<strong>de</strong> Berço”, Guimarães, recebeu a 8ª Edição do Forum nos dias,<br />

13, 14 e 15 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2012, uma semana antes da abertura oficial <strong>de</strong> Guimarães Capital<br />

Europeia da Cultura, o 9º Forum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> o 1º Forum Europeu <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>.<br />

O ambiente da cida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> festa, o ambiente no CAR<br />

– Circulo <strong>de</strong> Arte e Recreio é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> azafama,<br />

com toda a programação que se avizinha, e com<br />

todo o trabalho que antecipadamente sabe que tão<br />

gran<strong>de</strong> evento na cida<strong>de</strong> lhe vai dar.<br />

Sexta-feira, e ao Auditório Nobre <strong>de</strong> Azurém –<br />

Campus da Universida<strong>de</strong> do Minho, começam a<br />

chegar os primeiros participantes, o palco está<br />

preparado para a apresentação <strong>de</strong> “O assassinato<br />

<strong>de</strong> Agra – Estória <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l” pelo <strong>Teatro</strong> Ensaio Raul<br />

Brandão do CAR, os anfitriões. A noite teria ficado<br />

por aqui, mas na se<strong>de</strong> do CAR, ainda estava previsto<br />

um brin<strong>de</strong> ao Fórum e ao TEATRO.<br />

Sábado , logo pela manhã cedinho, o frio minhoto<br />

fazia-se sentir, mas não impediu que as 31<br />

associações <strong>de</strong> teatro comparecessem do Pinhal<br />

Novo, vem a Acção Teatral Artimanha; <strong>de</strong> Esporões -<br />

Braga a ACIJE - Associação do Coro Infanto-Juvenil;<br />

a Agaiarte <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia; <strong>de</strong> Torre <strong>de</strong><br />

Moncorvo a Alma <strong>de</strong> Ferro - Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>; <strong>de</strong><br />

Alvarim – Ton<strong>de</strong>la a ARCA / TEIA – <strong>Teatro</strong> Experimental Intervenção <strong>de</strong> Alvarim; <strong>de</strong> Ermesin<strong>de</strong> a<br />

Associação Académica e Cultural; <strong>de</strong> Montemor o Velho – a Casa do Povo da Abrunheira - Curral<br />

da Mula, <strong>de</strong> Alverca do Ribatejo o CEGADA - Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>; <strong>de</strong> Santa Comba Dão o Cénico <strong>de</strong> S.<br />

Joaninho, do Entroncamento vem a Companhia <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Poucaterra, <strong>de</strong> Ovar a Contacto –<br />

Companhia <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Àgua Corrente; o Faz <strong>de</strong> Gota vem <strong>de</strong> Lisboa; <strong>de</strong> Avis o Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> "A<br />

Fantasia"; e o Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Palha <strong>de</strong> Abrantes vem <strong>de</strong> Abrantes, <strong>de</strong> Esmoriz – Ovar vem o<br />

Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Renascer; o GETAS - Centro Cultural vem do Sardoal; <strong>de</strong> Setubal vem Grupo <strong>de</strong><br />

Animação e <strong>Teatro</strong> Espelho Mágico; <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s o Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Amador <strong>de</strong> Cristelo; <strong>de</strong> Fafe<br />

vem Grupo Nun`Alvares - <strong>Teatro</strong> Vitrine; <strong>de</strong> Avintes – Gaia o Mérito Dramático Avintense; o<br />

Opsis em Metamorphose vem <strong>de</strong> Cabeção – Mora; da Figueira da Foz o Pateo das Galinhas<br />

<strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Bico; <strong>de</strong> Paço <strong>de</strong> Arcos – Oeiras o <strong>Teatro</strong> Nova Morada; o <strong>Teatro</strong> Passagem <strong>de</strong> Nível<br />

vem da Amadora; o Tin.Bra vem <strong>de</strong> Braga; e <strong>de</strong> Vizeu o Viteotonius; para recebê-los estava o<br />

<strong>Teatro</strong> Enasaio Raul Brandão do Circulo <strong>de</strong> Arte e Recreio <strong>de</strong> Guimarães. Respon<strong>de</strong>ram, tambem<br />

ao apelo <strong>de</strong> participação no Fórum as associações <strong>de</strong> Guimarães não Filiadas na <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> -<br />

Citânia Associação Juvenil; Osmusiké - Ass. Musical e Artistica C. F. Francisco Holanda; Récita -<br />

Grupo Cultural, Música Popular e <strong>Teatro</strong> e o TPC - <strong>Teatro</strong> Popular <strong>de</strong> Carapeços.<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

08<br />

março ‘12


Então, já no quentinho do Auditório<br />

inica-se a Cerimónia Oficial <strong>de</strong><br />

Abertura do IX Fórum, intervêm e<br />

dão as boas vindas, o Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

Direcção do CAR, o Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> Guimarães, o<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Direcção do<br />

Escenamateur – Associação <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Espanha e o Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

Direcção da <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>.<br />

Chega então a altura <strong>de</strong> apresentar o Encenador/Actor Hel<strong>de</strong>r Costa para que seja feita a<br />

homenagem a Gil Vicente, o autor cujo teatro é tema <strong>de</strong>ste Forum.<br />

De seguida está na hora do trabalho, das formações, e todos partem para as salas pré<br />

<strong>de</strong>stinadas da Universida<strong>de</strong> do Minho para onze horas <strong>de</strong> Formação nas diversas áreas.<br />

No painel <strong>de</strong> Dirigentes, estuda-se candidaturas a apoios europeus, a Sandra Barradas,<br />

suplente da actual direcção da <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> dirige este painel. Enquanto, Rafael Vergamota,<br />

Luis Men<strong>de</strong>s e Fernando Rodrigues, respectivamente, Presi<strong>de</strong>nte, Vice-Presi<strong>de</strong>nte e<br />

Tesoureiro da Direcção, em encontro bilateral, articulam com os parceiros da Escenamateur,<br />

protocolos <strong>de</strong> intercambios ibéricos.<br />

Já à noite, e após o jantar, <strong>de</strong> novo no Auditório o Dr. Paulo Freitas do Municipio <strong>de</strong> Póvoa <strong>de</strong><br />

Lanhoso apresenta a Grelha <strong>de</strong> espectáculos do Concurso Nacional <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> – Póvoa <strong>de</strong><br />

Lanhoso 2012.<br />

Fruto <strong>de</strong> encontro bilateral, o Protocolo Referente a “Reconhecimento Oficial <strong>de</strong> Organismos<br />

entre Portugal e Espanha", é assinado representando o Escenamateur, José Ramón López<br />

Menén<strong>de</strong>z e a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>, Rafael Amaral Vergamota.<br />

Segue-se o espectáculo <strong>de</strong> intercambio com Escenamateur, pelo Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> la<br />

Asociación Cultural “La Linterna Mágica” <strong>de</strong> Caceres que nos apresenta um texto <strong>de</strong> Asunción<br />

Mieres “El Ultimo Recuerdo”.<br />

Os notivagos, aproveitaram ainda a noite para conhecer o que a cida<strong>de</strong> podia oferecer, no<br />

entanto pela manhã <strong>de</strong> Domingo, já o<br />

trabalho se iniciava.<br />

Como é hábito do Forum, o Almoço foi<br />

social, e todos os participantes, foram<br />

convidados.<br />

Após o almoço, a cerimónia <strong>de</strong><br />

encerramento e nas palavras <strong>de</strong> todos o<br />

sentido do <strong>de</strong>ver cumprido.<br />

Falta só a apresentação dos trabalhos<br />

realizados nos diversos paineis, então sobe<br />

ao palco uma colagem <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> Gil<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

09<br />

março ‘12


Vicente apresentada pelos formandos dos diversos paineis dirigidos por:<br />

Nuno Meireles, Fernando Soares, Jorge Fraga; Susana Teixeira, Carlos Alves, Silvia Brito e<br />

Pompeu José, formadores dos Paineis <strong>de</strong> Actores; Paulo Prata Ramos, Iluminação <strong>de</strong> Cena;<br />

João Fonseca Barros, Cenografia; Manuel Ramos Costa, Dramaturgia; Rita Torrão, A<strong>de</strong>reços;<br />

Pedro Esteves, Desenho <strong>de</strong> Som; Aurora Gaia, Caracterização.<br />

Contagiados pelo ambiente festivo da cida<strong>de</strong> berço, chama-se ao palco, o Grupo <strong>de</strong><br />

Animação e <strong>Teatro</strong> Espelho Mágico, que assume ser o anfitrião da próxima edição.<br />

Encontra-mo-nos em Setúbal nos dias 5, 6 e 7 <strong>de</strong> Outubro 2012 para o X Fórum Permanente<br />

<strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>.<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

10<br />

março ‘12


programa <strong>de</strong> sala<br />

GRUPO DE ANIMAÇÃO E TEATRO<br />

Céu Campos<br />

Directora do GATEM<br />

ESPELHO MÁGICO<br />

«Formar público e aproximar esse público dos artistas e da nossa vida<br />

cultural é o sentido maior da proposta cultural do ESPELHO MÁGICO. Um<br />

jovem que frequenta regularmente espectáculos teatrais, po<strong>de</strong>rá não<br />

vir a ser um artista <strong>de</strong> teatro, mas com toda a certeza, será um<br />

espectador atento <strong>de</strong>ssa arte, ou pelo menos, não lhe será indiferente<br />

qualquer manifestação artística do género. Para além disso, o teatro é<br />

uma importante ferramenta no crescimento cultural e na formação da<br />

criança como indivíduo.<br />

No ESPELHO MÁGICO acreditamos num teatro povoado pela música,<br />

pela cor, pelo movimento e pela fantasia. Um teatro on<strong>de</strong> habitam sonhos, <strong>de</strong>safios e<br />

realizações. Um teatro simples e profundo on<strong>de</strong> reine a Poesia. Um teatro que procura o<br />

equilíbrio do lúdico, do mágico e do real. Fazemos essencialmente teatro musicado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

primeira produção. O grupo <strong>de</strong>senvolveu ao longo dos anos, uma linguagem própria com<br />

imensas preocupações estéticas ao nível da cenografia e figurinos em conjugação perfeita com<br />

a imagem do espectáculo e ao mesmo tempo pedagógica, o que confere aos trabalhos uma<br />

característica própria e inédita.<br />

Demos os primeiros passos com a estreia da opereta “Cin<strong>de</strong>rela” em 1996, seguiram-se os<br />

musicais “O Feiticeiro <strong>de</strong> Oz”(1997),”Pinóquio” (1998),”A Bela e o Monstro”(1999),”Era uma<br />

vez... Uma menina”(2000),”Os Aristogatos ou a Pousada da Amiza<strong>de</strong>”(2001),”Meu Querido<br />

Príncipe”(2002),”As aventuras <strong>de</strong> Rom Rom e Fofoca”(2003), “Era uma vez...na<br />

floresta”(2004),”O Mundo Mágico <strong>de</strong> Oz “ (2005), “O quarto dos brinquedos”(2006),”O<br />

segredo <strong>de</strong> Rafael” (2007), “Um sonho <strong>de</strong> Natal”(2008),“O Beco dos Viralatas” (2009),”Magia<br />

das cores” (2009),“A Feiticeira <strong>de</strong> OZ”(2010)Peça vencedora do Concurso nacional <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> da<br />

Fundação Inatel e “Pinóquio, (2010).”Em Abril,cravos mil” (2011).A estrear brevemente: “O<br />

feitiço da lua” e “Presente especial”(2012).<br />

Para terminar, cito Stanislavski:<br />

"O teatro para crianças <strong>de</strong>ve ser feito como o <strong>de</strong> adultos, só que melhor."<br />

É por aí que tentamos seguir…<br />

Viva o teatro!"<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

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março ‘12


SETÚBAL<br />

Concelho multifacetado, voltado para o futuro, com características muito próprias, Setúbal<br />

cativa pela diversida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong>.<br />

Serra, rio, mar e praias <strong>de</strong> eleição ro<strong>de</strong>iam-se <strong>de</strong> um património rico, cultura e gastronomia<br />

ímpares, oferecendo um menu inigualável a quem nos visita.<br />

Elevado à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> em 1860 e capital <strong>de</strong> distrito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1926, Setúbal é um centro<br />

cosmopolita situado apenas a cerca <strong>de</strong> 40 quilómetros <strong>de</strong> Lisboa, capital <strong>de</strong> Portugal.<br />

Envolvida pelo azul do rio Sado e o ver<strong>de</strong> da cordilheira da Arrábida, Setúbal é rica no seu<br />

património histórico, com casas que transpiram cultura e tradições, igrejas seculares, museus e<br />

edifícios que transportam os visitantes para épocas remotas.<br />

Seja surpreendido por uma das baías<br />

mais bonitas no mundo, a baía <strong>de</strong><br />

Setúbal. On<strong>de</strong> praias <strong>de</strong> areia branca<br />

contrastam com as cores do oceano<br />

Atlântico, da Serra da Arrábida e do<br />

céu azul.<br />

Sinta o cheiro <strong>de</strong> lavanda, alecrim e<br />

murta, e dê um mergulho nas águas<br />

calmas e transparentes das praias da<br />

Arrábida.<br />

Desfrute <strong>de</strong> passeios no rio para ver<br />

os golfinhos e visite o estuário do<br />

Sado, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s bandos <strong>de</strong> flamingos têm o seu habitat.<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

12<br />

março ‘12


Setúbal oferece, também, uma panóplia <strong>de</strong> sabores e é tradicionalmente reconhecida como a<br />

região on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>gusta o melhor peixe grelhado. As sardinhas assadas, a par da cal<strong>de</strong>irada <strong>de</strong><br />

peixe confecionada à moda <strong>de</strong> Setúbal, fazem as <strong>de</strong>lícias dos locais e dos visitantes. O choco<br />

frito, bem como o arroz <strong>de</strong> tamboril e os<br />

ensopados com enguias ou outros peixes<br />

surpreen<strong>de</strong>m também qualquer comensal.<br />

A acompanhar as refeições nada melhor que<br />

um bom vinho da região do Sado e como<br />

aperitivo o não menos famoso Moscatel <strong>de</strong><br />

Setúbal.<br />

A doçaria não po<strong>de</strong> ser esquecida. É imperativo<br />

provar as tortas <strong>de</strong> Azeitão, os “S” (biscoitos) e<br />

os doces <strong>de</strong> laranja.<br />

Referência <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque para o famoso queijo <strong>de</strong> Azeitão, que se apresenta como uma boa<br />

escolha quer para iniciar quer para terminar a sua refeição.<br />

Bem-vindo a um mundo distante. Bem-vindo a Setúbal.<br />

ANIVERSÁRIOS NO<br />

ÚLTIMO TRIMESTRE<br />

Janeiro<br />

20 - G. <strong>de</strong> Estudo e Divulgação das Artes Musical e Teatral "Jograis e Trovadores" (19 anos)<br />

29- Tin.Bra Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Infantil <strong>de</strong> Braga (5 anos)<br />

30- Theatron Associação Cultural (14 anos)<br />

Fevereiro<br />

18 - Casa do Pessoal do Hospital <strong>de</strong> S. Teotónio (14 anos)<br />

21 - Associação Recreativa e Cultural <strong>de</strong> Pombal <strong>de</strong> Ansiães (5 anos)<br />

25 - Associação Desportiva Cultural e Recreativa <strong>de</strong> Pereira (25 anos)<br />

Março<br />

5 - T.I.L. <strong>Teatro</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Loures (36 anos)<br />

20 - Associação Sorriso do Atlântico (5 anos)<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

13<br />

março ‘12


na ribalta<br />

CONCURSO NACIONAL DE TEATRO<br />

PÓVOA DE LANHOSO 2012<br />

O Concurso Nacional <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> (CONTE) na<br />

Póvoa <strong>de</strong> Lanhoso é, com toda a certeza, um<br />

marco na dinâmica associativa do teatro <strong>de</strong><br />

amadores.<br />

Eugénia Oliveira<br />

Directora do Concurso Nacional <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong><br />

“A arte po<strong>de</strong> conduzir os homens às ilusões<br />

e aos milagres, mas po<strong>de</strong> também<br />

restituir-lhes o mundo para<br />

que o transformem e tornem melhor.”<br />

Raul Brandão<br />

Nesta VIII edição do CONTE 2012 que<br />

<strong>de</strong>correu <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Fevereiro a 3 <strong>de</strong> Março no<br />

Theatro Club da Póvoa <strong>de</strong> Lanhoso estiveram<br />

presentes as 9 produções que passaram na<br />

pré-selecção das 14 associadas FPTA a<br />

concurso: <strong>Teatro</strong> Casca <strong>de</strong> Nós com “O dia<br />

em que me Queres – viagem pelo país da<br />

poesia”; Associação Sorriso do Atlântico com<br />

“Salvo-conduto”; <strong>Teatro</strong> Ensaio Raul Brandão com "O Assassinato <strong>de</strong> Agra, Estória <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l”;<br />

<strong>Teatro</strong> Nova Morada com “A hora zero”; Agaiarte – Associação Gaia Arte Estúdio com "O Dia<br />

Seguinte”; Grupo <strong>de</strong> Animação e <strong>Teatro</strong> “Espelho Mágico” com “Pinóquio”; Contacto –<br />

Companhia <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Água Corrente com "Gradim à Janela da Ausência”; GETAS Centro Cultural<br />

com “A casa das Alba” e Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Vitrine com “Bolingbrook”.<br />

Na noite <strong>de</strong> encerramento tivemos em cena Blá Blá Blá – <strong>Teatro</strong> Jovem <strong>de</strong> Campo Maior com<br />

“Terror e Miséria”, a produção vencedora do prémio Ruy <strong>de</strong> Carvalho <strong>de</strong> 2011. E porque o<br />

CONTE se assume como uma real referência nacional do teatro <strong>de</strong> amadores, com particular<br />

enfoque na avaliação qualitativa das prestações e dos trabalhos apresentados, todos<br />

aguardaram em enorme expectativa o anúncio dos vencedores.<br />

É bom que se entenda que o teatro, tal como as outras artes, é um espaço <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e<br />

criativida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>. O papel do teatro é<br />

esse mesmo: proporcionar um sonho <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> entre indivíduos distintos. Por isso, o<br />

Prémio Prestigio Personalida<strong>de</strong> 2012 foi este ano <strong>de</strong>dicado à Fundação INATEL, pelo trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvido em prol da arte teatral e dos grupos <strong>de</strong> amadores.<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

14<br />

março ‘12


E… foi com enorme a alegria que a Contacto – Companhia <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Água Corrente recebeu o<br />

Prémio Ruy <strong>de</strong> Carvalho para Melhor Espectáculo após já terem arrecadado os prémios para<br />

Melhor Interpretação Masculina: Nuno Sobreira e Melhor Encenação: Manel Ramos Costa.<br />

As outras categorias foram distribuídas por:<br />

Prémio Orlando Worm para Melhor Desenho <strong>de</strong> Luz: António Moreira – Agaiarte – Associação<br />

Gaia Arte Estúdio<br />

Melhor Cenografia e Melhor Guarda-roupa: Céu Campos – Grupo <strong>de</strong> Animação e <strong>Teatro</strong><br />

“Espelho Mágico”<br />

Melhor Interpretação Feminina: Maria Jesus Rocha – Associação Sorriso do Atlântico<br />

Receberam, ainda, menções honrosas para Melhor Interpretação Feminina: Tânia Falcão –<br />

GETAS Centro Cultural e Melhor Interpretação Masculina: João Ricardo Aguiar – Associação<br />

Sorriso do Atlântico,<br />

O teatro é uma realida<strong>de</strong><br />

transformada pelo Homem,<br />

uma realida<strong>de</strong> que o ser<br />

humano reflecte através da sua<br />

acção comunicativa, feita <strong>de</strong><br />

palavras, <strong>de</strong> gestos, <strong>de</strong><br />

respirações, <strong>de</strong> olhares, <strong>de</strong><br />

nervos e <strong>de</strong> emoções. Foi com<br />

e s t e s a b e r q u e o j ú r i<br />

constituído por: Carla Oliveira,<br />

Representante do Município<br />

da Póvoa <strong>de</strong> Lanhoso; Elisabete<br />

Pinto do Centro Dramático <strong>de</strong><br />

Viana, Representante da<br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> e Maria Torcato, Representante da Fundação INATEL assistiu<br />

às nove produções a concurso e teve a ingrata tarefa <strong>de</strong> julgar e atribuir os ambicionados<br />

prémios. Fácil ou difícil (os jurados o saberão). Por esta <strong>de</strong>dicação, o nosso agra<strong>de</strong>cimento.<br />

Bem haja a todos aqueles que acreditam no trabalho dos amadores <strong>de</strong> teatro, pois só assim vai<br />

sendo possível, levar por diante esta maravilhosa tarefa artística e sociocultural, chamada<br />

TEATRO. Bem haja aos técnicos do Theatro Club e todos que <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra<br />

colaboraram para a realização <strong>de</strong>ste evento<br />

Um forte aplauso e até para o ano.<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

15<br />

março ‘12


oca <strong>de</strong> cena<br />

PETIÇÃO PARA O DIA NACIONAL<br />

DO TEATRO DE AMADORES<br />

Encontra-se já em circulação, o texto da Petição a dirigir à Assembleia da República, para a oficialização do 21 <strong>de</strong> Março<br />

como Dia Nacional do <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Amadores, bem como os respectivos livros <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> assinaturas distribuídos na<br />

Assembleia Geral, realizada em Guimarães, no passado dia 15 <strong>de</strong> Janeiro, durante o IX Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>.<br />

Serão necessárias pelo menos quatro mil assinaturas para a petição ser discutida em plenário na Assembleia da República.<br />

Para além da recolha do maior número possível <strong>de</strong> assinaturas, a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> espera também realizar audições com os<br />

respectivos <strong>de</strong>putados dos partidos com assento na Assembleia da Republica, tendo iniciado no passado dia 29 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

do ano corrente, com uma audiência concedida pela <strong>de</strong>putada Inês <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros do Partido Socialista.<br />

A subscrição da petição requer apenas a assinatura e n.º <strong>de</strong> Bilhete <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>/Cartão <strong>de</strong> Cidadão dos signatários. O<br />

texto da petição encontra-se transcrito neste artigo.<br />

Sendo a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> uma associação sem fins lucrativos, <strong>de</strong> acordo com os<br />

seus estatutos, fundada com o objectivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e valorizar o teatro, especialmente o das<br />

suas associadas através <strong>de</strong> criação e organização <strong>de</strong> espaços e meios para formação, informação<br />

e análise; promoção <strong>de</strong> intercâmbios e <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> experiências; promoção e divulgação <strong>de</strong><br />

produtos culturais, circulação <strong>de</strong> espectáculos e captação <strong>de</strong> novos públicos; contribuição para<br />

a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticas culturais e <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> parcerias; representação do<br />

movimento teatral, <strong>de</strong>signadamente o das suas associadas; edição e divulgação <strong>de</strong> revistas<br />

culturais <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> reflexão; actuando em estrita colaboração com outras associações<br />

nacionais ou estrangeiras que partilhem os mesmos objectivos.<br />

E consi<strong>de</strong>rando:<br />

- O papel <strong>de</strong>sta <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> na dinamização da activida<strong>de</strong> associativa, através das<br />

activida<strong>de</strong>s atrás referidas, bem como no preenchimento <strong>de</strong> lacunas há muito sentidas no<br />

tecido associativo, nomeadamente ao nível da formação a<strong>de</strong>quada dos recursos humanos, as<br />

quais tem tentado colmatar através do investimento permanente que faz na formação dos<br />

próprios associados;<br />

- O contributo para o <strong>de</strong>sígnio nacional <strong>de</strong> combate á <strong>de</strong>sertificação e à promoção do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do território nacional através da <strong>de</strong>mocratização e disponibilização da cultura<br />

a grupos e a populações que <strong>de</strong>la têm sido privadas, <strong>de</strong>sígnio este alcançado não só através das<br />

acções culturais propriamente ditas, mas também através da dinamização das economias<br />

locais, <strong>de</strong> modo periódico ou permanente, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da maior ou menor intensida<strong>de</strong> da<br />

activida<strong>de</strong> da <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> no referido território. São exemplos disso a activida<strong>de</strong> hoteleira, a<br />

gastronomia, a restauração, as artes gráficas, as pequenas artes e ofícios tradicionais, entre<br />

muitos outros;<br />

- O valioso serviço prestado por esta <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> a nível nacional, engran<strong>de</strong>cido pelas<br />

suas associadas nas respectivas comunida<strong>de</strong>s, em termos <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> formação,<br />

cultura, recreação, lazer, ocupação saudável dos tempos livres, integração intergeracional e<br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género, constituindo autenticas escolas <strong>de</strong> cidadania e participação;<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

16<br />

março ‘12


- A relativa tradição, já consolidada, <strong>de</strong> cooperação entre esta <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> e diversos<br />

municípios portugueses ao nível da promoção <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> divulgação e intercambio teatral<br />

e <strong>de</strong> estimulo a novas produções e novos talentos, resultando numa rentabilização e economia<br />

<strong>de</strong> custos;<br />

- A comunhão <strong>de</strong> objectivos <strong>de</strong>sta <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> com a linha <strong>de</strong> actuação dos municípios<br />

portugueses, nomeadamente ao nível da educação e formação <strong>de</strong> crianças e jovens enquanto<br />

competências específicas dos municípios e o valor que a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> e as suas associadas po<strong>de</strong>m<br />

acrescentar no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s educativas, lúdicas e recreativas, rentabilizando<br />

o investimento em infra-estruturas sociais e culturais realizadas nas últimas décadas um pouco<br />

por todo o país;<br />

- O reconhecimento já manifestado por figuras incontornáveis do teatro profissional<br />

português que com a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> colaboram na dinamização das activida<strong>de</strong>s já referidas,<br />

credibilizando e incentivando os esforços da <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> e suas associadas para promoção,<br />

revitalização e dinamização do teatro amador;<br />

- Que se torna fundamental, pelas razões expostas, conce<strong>de</strong>r maior visibilida<strong>de</strong> ao<br />

movimento teatral em Portugal, bem como conferir o <strong>de</strong>vido reconhecimento do trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvido através da colaboração voluntária e não remunerada, regular e responsável dos<br />

elementos das várias estruturas associativas espalhadas pelos vários pontos do País, em<br />

paralelo com os diversos aspectos da conciliação da sua vida familiar e profissional e com os<br />

constrangimentos inerentes aos contextos on<strong>de</strong> actuam, cada vez mais caracterizados pela<br />

ausência <strong>de</strong> recursos financeiros, materiais, entre outros;<br />

- Consi<strong>de</strong>rando o carácter libertador do teatro e o seu contributo para a humanização<br />

das socieda<strong>de</strong>s e reconhecendo o esforço empírico, logo após o 25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1974, por parte <strong>de</strong><br />

um conjunto <strong>de</strong> associações, para a instituição do dia 21 <strong>de</strong> Março como o dia do <strong>Teatro</strong> Amador,<br />

como meio <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong>sse carácter libertador e humanista;<br />

- Consi<strong>de</strong>rando, por fim, a urgência do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma consciência colectiva do<br />

valor do teatro amador, reconhecendo, num dia nacional todos os dias da vida do teatro, os<br />

signatários <strong>de</strong>sta Petição Pública solicitam à Assembleia da República <strong>Portuguesa</strong> que consi<strong>de</strong>re<br />

efectivamente o dia 21 <strong>de</strong> Março, o dia Nacional do <strong>Teatro</strong> Amador e que nesta data seja<br />

incentivadas iniciativas universais promotoras e dignificadoras do teatro amador.<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

17<br />

março ‘12


eportório<br />

A EVOLUÇÃO TEATRAL<br />

Rafael Vergamota<br />

Encenador<br />

Companhia <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Poucaterra<br />

A partir do século XVIII, acontecimentos como as Revoluções Francesa e Industrial, mudaram a<br />

estrutura <strong>de</strong> muitas peças, popularizando-as através <strong>de</strong> formas como o melodrama. Nessa<br />

época, em todo o mundo, surgiram inovações estruturais, como o elevador hidráulico, a<br />

iluminação a gás e eléctrica (1881). Os cenários e os figurinos começaram a ser melhor<br />

elaborados, visando transmitir maior realismo, e as sessões teatrais passaram a comportar<br />

somente uma peça. Diante <strong>de</strong> tal evolução e complexida<strong>de</strong> estrutural, foi inevitável o<br />

surgimento da figura do director.<br />

SÉCULO XX<br />

O teatro do século XX caracteriza-se pelo ecletismo e quebra <strong>de</strong> tradições, tanto no "<strong>de</strong>sign"<br />

cénico e na direcção teatral, quanto na infra-estrutura e nos estilos <strong>de</strong> interpretação. Po<strong>de</strong>mos<br />

dizer, sob esse prisma, que o dramaturgo alemão Bertolt Brecht foi o maior inovador do<br />

chamado teatro mo<strong>de</strong>rno. Hoje, o teatro contemporâneo abriga, sem preconceitos, tanto as<br />

tradições realistas como as não realistas, como também, o uso das novas tecnologias, tecnologia<br />

robótica, cicloramas, multimédia, etc.<br />

NOVAS TENDÊNCIAS<br />

Constantin Stanislavski<br />

Por muitos anos <strong>de</strong> sua vida motivou os actores a<br />

po<strong>de</strong>rem organizar o seu papel através das emoções, <strong>de</strong><br />

maneira emotiva. O velho Stanislavski <strong>de</strong>scobriu<br />

verda<strong>de</strong>s fundamentais e uma <strong>de</strong>las, essencial para o seu<br />

trabalho, é a <strong>de</strong> que a emoção é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

vonta<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos tomar muitos exemplos da vida<br />

quotidiana. Não quero estar irritado com <strong>de</strong>terminada<br />

situação mas estou. Quero amar uma pessoa mas não<br />

posso amá-la, me apaixono por uma pessoa contra a<br />

minha vonta<strong>de</strong>, procuro a alegria e não acho, estou triste,<br />

não quero estar triste, mas estou. O que quer dizer tudo<br />

isso? Que as emoções são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da nossa vonta<strong>de</strong>. Agora, po<strong>de</strong>mos achar toda a força,<br />

toda a riqueza <strong>de</strong> emoções <strong>de</strong> um momento, também durante um ensaio, mas no dia seguinte<br />

isto não se apresenta porque as emoções são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da vonta<strong>de</strong>. Esta é uma coisa<br />

realmente fundamental. Ao contrário, o que é que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da nossa vonta<strong>de</strong>? São as pequenas<br />

acções, pequenas nos elementos <strong>de</strong> comportamento, mas realmente as pequenas coisas - eu<br />

penso no canto dos olhos, a mão tem um certo ritmo, vejo minha mão com meus olhos, do lado<br />

dos meus olhos quando falo minha mão faz um certo ritmo, procuro concentrar-me e não olhar<br />

para o gran<strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> leques (referência às pessoas se abanando no auditório) e num<br />

certo ponto olho para certos rostos, isto é uma acção. Quando disse olho, i<strong>de</strong>ntifico uma pessoa,<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

18<br />

março ‘12


não para vocês, mas para mim mesmo, porque eu a estou observando e me perguntando on<strong>de</strong><br />

já a encontrei. Vejam a posição da cabeça e da mão mudou, porque fazemos sempre uma<br />

projecção da imagem no espaço; primeiro esta pessoa aqui, on<strong>de</strong> a encontrei, em qualquer<br />

lugar a encontrei, qualquer parte do espaço e agora capto o olhar <strong>de</strong> um outro que está<br />

interessado e enten<strong>de</strong> que tudo isso são acções, são as pequenas acções que Stanislavski<br />

chamou <strong>de</strong> físicas. Para evitar a confusão com sentimento, <strong>de</strong>ve ser formuláveis nas categorias<br />

físicas, para ser operativo. é nesse sentido que Stanislavski falou <strong>de</strong> acções físicas. Se po<strong>de</strong> dizer<br />

física justamente por indicar objectivida<strong>de</strong>, quer dizer, que não é sugestivo, mas que se po<strong>de</strong><br />

captar do exterior.<br />

O que é preciso compreen<strong>de</strong>r logo, é o que não são acções físicas. As activida<strong>de</strong>s não são acções<br />

físicas. As activida<strong>de</strong>s no sentido <strong>de</strong> limpar o chão, lavar os pratos, fumar cachimbo, não são<br />

acções físicas, são activida<strong>de</strong>s. Pessoas que pensam trabalhar sobre o método das acções físicas<br />

fazem sempre esta confusão. Muito frequentemente o director que diz trabalhar segundo as<br />

acções físicas manda lavar pratos e o chão. Mas a activida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> se transformar em acção<br />

física. Por exemplo, se vocês me colocarem uma pergunta muito embaraçosa, que é quase<br />

sempre a regra, eu tenho que ganhar tempo. Começo então a preparar meu cachimbo <strong>de</strong><br />

maneira muito "sólida". Neste momento vira acção física, porque isto me serve neste momento.<br />

Estou realmente muito ocupado em preparar o cachimbo, acen<strong>de</strong>r o fogo, assim DEPOIS posso<br />

respon<strong>de</strong>r à pergunta.<br />

Outra confusão relativa às acções físicas, a <strong>de</strong> que as acções físicas são gestos. Os actores<br />

normalmente fazem muitos gestos pensando que este é o mistério. Existem gestos profissionais<br />

- como os do padre. Sempre assim, muito sacramentais. Isto são gestos, não acções. São pessoas<br />

nas situações <strong>de</strong> vida. Pois sobretudo nas situações <strong>de</strong> tensão, que exigem resposta imediata, ou<br />

ao contrário em situações positivas, <strong>de</strong> amor, por exemplo, também aqui se exige uma resposta<br />

imediata, não se fazem gestos nessas situações, mesmo que pareçam ser gestos. O actor que<br />

representa Romeu <strong>de</strong> maneira banal fará um gesto amoroso, mas o verda<strong>de</strong>iro Romeu vai<br />

procurar outra coisa; <strong>de</strong> fora po<strong>de</strong> dar a impressão <strong>de</strong> ser a mesma coisa, mas é completamente<br />

diferente. Através da pesquisa <strong>de</strong>ssa coisa quente, existe como que uma ponte, um canal entre<br />

dois seres, que não é mais físico. Neste momento Julieta é amante ou talvez uma mãe. Também<br />

isto, <strong>de</strong> fora, dá a impressão <strong>de</strong> ser qualquer coisa <strong>de</strong> igual, parecida, mas a verda<strong>de</strong>ira reacção é<br />

acção. O gesto do actor Romeu é artificial, é uma banalida<strong>de</strong>, um clichê ou simplesmente uma<br />

convenção, se representa a cara <strong>de</strong> amor assim. Vejam a mesma coisa com o cachimbo, que por<br />

si só é banal, transformando-a a partir do interior, através da intenção - nesta ponte viva, e a<br />

acção física não é mais um gesto.<br />

O que é gesto se olharmos do exterior? Como reconhecer facilmente o gesto? O gesto é uma<br />

acção periférica do corpo, não nasce no interior do corpo, mas na periferia. Por exemplo,<br />

quando os camponeses cumprimentam as visitas, se são ainda ligados à vida tradicional, o<br />

movimento da mão começa <strong>de</strong>ntro do corpo (Grotowski mostra), e os da cida<strong>de</strong> assim (mostra).<br />

Este é o gesto. Acção é alguma coisa mais, porque nasce no interior do corpo. Quase sempre o<br />

gesto encontra-se na periferia, nas "caras", nesta parte das mãos, nos pés, pois os gestos muito<br />

frequentemente não se originam na coluna vertebral. As acções, ao contrário, estão radicadas<br />

na coluna vertebral e habitam o corpo. O gesto <strong>de</strong> amor do actor sairá daqui, mas a acção,<br />

mesmo se exteriormente parecer igual será diversa, começa ou <strong>de</strong> qualquer parte do corpo<br />

on<strong>de</strong> existe um plexo ou da coluna vertebral, aqui estará na periferia só o final da acção. É<br />

preciso compreen<strong>de</strong>r que há uma gran<strong>de</strong> diferença entre Sintomas e Signos/Símbolos. Existem<br />

pequenos impulsos do corpo que são Sintomas. Não são realmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da vonta<strong>de</strong>,<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

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pelo menos não são conscientes - por exemplo, quando alguém enrubesce, é um Sintoma, mas<br />

quando faz um Símbolo <strong>de</strong> estar nervoso, este é um Símbolo (bate com o cachimbo na mesa).<br />

Todo o <strong>Teatro</strong> Oriental é baseado sobre os Símbolos trabalhados. Muito frequentemente na<br />

interpretação do actor estamos entre duas margens. Por exemplo, as pernas se movem quando<br />

estamos impacientes. Tudo isso está entre os Sintomas e Símbolos. Se isto é <strong>de</strong>rivado e utilizado<br />

para um certo fim se transforma em uma acção.<br />

Outra coisa é fazer a relação entre movimento e acção. O movimento, como na coreografia, não<br />

é acção física, mas cada acção física po<strong>de</strong> ser colocada em uma forma, em um ritmo, seria dizer<br />

que cada acção física, mesmo a mais simples, po<strong>de</strong> vir a ser uma estrutura, uma partícula <strong>de</strong><br />

interpretação perfeitamente estruturada, organizada, ritmada. Do exterior, nos dois casos,<br />

estamos diante <strong>de</strong> uma coreografia. Mas no primeiro caso coreografia é somente movimento, e<br />

no segundo é o exterior <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> acções intencionais. Quer dizer que no segundo caso a<br />

coreografia é parida no fim, como a estruturação <strong>de</strong> reacções na vida.<br />

Revista<br />

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sem palco<br />

A PEDRA E EU<br />

Anabela Teixeira<br />

<strong>Teatro</strong> Vitrine - Grupo Nun'Alvares<br />

Texto produzido no âmbito do painel <strong>de</strong> escrita criativa, orientado por Manuel Ramos<br />

Costa, no IV Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Amadores, em Santa Maria da Feira,<br />

Setembro 2009.<br />

Cenário: Banco <strong>de</strong> rua, 3 <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> escadas em pedra, uma árvore, can<strong>de</strong>eiro <strong>de</strong><br />

rua, calçada à portuguesa.<br />

Época: Actualida<strong>de</strong><br />

Personagens:<br />

FRANCISCO: Homem <strong>de</strong> 45 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, bem vestido, classe social alta, gestor <strong>de</strong><br />

uma empresa multinacional, divorciado e com 2 filhos.<br />

PEDRA: Quadrado pequeno, <strong>de</strong> cor branca (com actor no seu interior) on<strong>de</strong> se<br />

consegue ver a expressão facial.<br />

CENA 1<br />

FRANCISCO: (entra em cena nervoso, a soprar, fumando um cigarro) Logo <strong>de</strong> manhã a<br />

ligar, que chatice, qualquer dia isto vai mudar, vou mandá-lo dar uma volta, eu não<br />

preciso disto, porra sempre a telefonar, sempre com emails, já não basta ouvir a voz <strong>de</strong>le,<br />

tenho <strong>de</strong> o ver em vi<strong>de</strong>oconferência. Chato <strong>de</strong> um raio. Que vida a minha, perco a mulher<br />

por causa <strong>de</strong>le, mal vejo os meus filhos por causa <strong>de</strong>le, tempo livre é para esquecer,<br />

estou farto <strong>de</strong>sta vida. Ai (gritando com notória dor), raio <strong>de</strong> pedra… ainda apareces tu<br />

para me dares mais problemas. Estes gajos nem uma rua em condições sabem fazer, que<br />

país da treta.<br />

PEDRA: Ei tu é que vieste para cima <strong>de</strong> mim, oh bronco, não tenho culpa dos teus<br />

problemas.<br />

FRANCISCO: (Apaga o cigarro que vinha a fumar, acen<strong>de</strong>ndo imediatamente outro) Eu<br />

Revista<br />

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<strong>de</strong>vo estar mesmo maluco, agora já oiço as pedras a falar.<br />

PEDRA: Tu não estás maluco, sou mesmo eu que estou a falar contigo. Andas tão<br />

preocupado com a tua vida que nem consegues ver a vida dos que te ro<strong>de</strong>iam.<br />

FRANCISCO: Eu logo vi que não <strong>de</strong>via dar ouvidos ao psiquiatra, nunca <strong>de</strong>via ter<br />

começado a tomar a Veleriana, o Xanax, e os calmantes todos, isto não adianta nada só<br />

me põe mais maluco.<br />

PEDRA: Os comprimidos não são a solução para a tua vida. A solução está em ti e não<br />

nos químicos, se tu não procurares as respostas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ti, vais continuar a culpar os<br />

outros pelos teus próprios erros.<br />

FRANCISCO: Ai a culpa dos meus problemas é minha? Então a culpa da minha mulher ter<br />

fugido com o contabilista lá da empresa <strong>de</strong>la é minha? Não fui eu que me meti na cama<br />

<strong>de</strong>le, não fui eu que an<strong>de</strong>i com mentirinhas, não fui eu que larguei o lar e a troquei por<br />

uma miúda mais nova.<br />

PEDRA: Será que não lhe <strong>de</strong>ste motivos para ela fazer isso? Quando foi a última vez que a<br />

levaste a jantar fora? Quando foi a ultima vez que a abraçaste e lhe disseste - amo-te, ou -<br />

sem ti nada disto faz sentido? És linda? Quando foi a última vez que ficaste acordado<br />

mais umas horas durante a noite só para ouvires o que ela sentia em relação aos<br />

problemas da vossa família?<br />

FRANCISCO: Está bem está. Ela afastou-se <strong>de</strong> mim <strong>de</strong> um momento para o outro, <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> ligar, sempre que eu chegava a casa já estava a dormir, sempre que queria fazer amor<br />

com ela estava com dores <strong>de</strong> cabeça, só me ligava com conversas da treta. Ela não via que<br />

eu estava a trabalhar para a nossa vida, para a nossa casa, para um dia sermos felizes.<br />

PEDRA: Um dia? Qual dia?<br />

FRANCISCO: Sei lá, um dia…<br />

PEDRA: Não vês que a magia que vocês tinham se per<strong>de</strong>u. Em tempos via-os aos dois<br />

neste banco a sonhar com o vosso casamento, com os vossos filhos que um dia iriam<br />

nascer, com os vossos passeios nas noites quentes <strong>de</strong> Verão, os jantares à luz das velas na<br />

vossa casa, as vossas noites. Aos poucos vi-os a passar aqui <strong>de</strong> longe a longe, já cada um<br />

no seu carro, na correria das vossas vidas, enfim <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> os ver juntos. Todos os vossos<br />

sonhos ficaram perdidos nesta rua.<br />

FRANCISCO: (pensativo) Olha ainda bem que falaste nos meus filhos, sabes o que é que<br />

eles querem? É dinheiro e mais dinheiro, dinheiro para as férias, dinheiro para o cinema,<br />

dinheiro para a roupa, dinheiro para os jogos, dinheiro, dinheiro, dinheiro, só assim são<br />

felizes, e ele não cai do céu alguém tem <strong>de</strong> trabalhar…<br />

PEDRA: Será que o que eles querem é mesmo isso? Quando foi a última vez que quiseste<br />

saber quais as suas dúvidas? O que os atormenta? As suas paixões? Os seus sonhos?<br />

FRANCISCO: Tu sabes lá o que dizes, eu quero saber da vida <strong>de</strong>les, por isso lhes pago a<br />

Universida<strong>de</strong> todos os meses, e a casa, e os luxos todos, para eles virem a ser alguém um<br />

dia.<br />

Revista<br />

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PEDRA: Então eles agora não são ninguém?<br />

FRANCISCO: São… mas o que eu quero dizer é que venham a ter um bom emprego, que<br />

sejam respeitados, que tenham uma boa vida.<br />

PEDRA: Como o teu bom emprego? O que te adiantou o teu prestigio? És feliz?<br />

FRANCISCO: (Pensativo, tira uma garrafa <strong>de</strong> whisky do bolso do seu casaco e bebe um<br />

bom golo) Estou sozinho, não tenho amigos, não tenho a minha mulher, sabes ainda<br />

gosto da Paula, mas isto passa, os meus filhos mal os vejo, também querem lá saber <strong>de</strong><br />

mim, um bêbado viciado no trabalho. Só consigo estar na empresa, ou num bar, a apagar<br />

as minhas recordações. Sabes eu quero é esquecer tudo, quero recomeçar, ou talvez<br />

não, nem sei o que quero.<br />

PEDRA: A socieda<strong>de</strong> fez-te ser um homem amargo, vives a pensar no futuro e<br />

esqueceste-te do presente, a vida é o presente não é o passado, nem o futuro, tens <strong>de</strong><br />

viver o já, o agora, é este o momento.<br />

FRANCISCO: Julgas que já não pensei nisso muitas vezes? Mas não consigo.<br />

PEDRA: Repara, olha para mim… Eu só consigo viver pelas alegrias, pelas tristezas dos<br />

outros, pelos que amam aqui ao pé <strong>de</strong> mim, eu nunca po<strong>de</strong>rei sentir uma lágrima no<br />

meu rosto, eu nunca saberei o que é o beijo <strong>de</strong> alguém que se ama verda<strong>de</strong>iramente,<br />

não sei o que é o coração a bater cá <strong>de</strong>ntro, o olhar terno e as carícias <strong>de</strong> alguém que nos<br />

ama. Não sei, nem nunca saberei o que é sentir um filho nos braços pela primeira vez.<br />

Nunca irei abraçar, sentir o cheiro, a pele <strong>de</strong> alguém que adore. Eu não po<strong>de</strong>rei mudar a<br />

minha vida porque sou uma pedra, mas tu po<strong>de</strong>s, tens alma, tens coração, tens um corpo<br />

que te po<strong>de</strong> levar até ao infinito, basta quereres.<br />

FRANCISCO: És uma pedra, mas vês mais do que eu, vives mais do que eu.<br />

PEDRA: Estás enganado eu vivo a vida dos outros, tu po<strong>de</strong>s viver e mudar a tua.<br />

FRANCISCO: Sim tens razão, e sabes uma coisa, vou tirar umas boas férias, vou mandar<br />

este meu chefe estúpido dar uma volta, a vida não é isto, vou pegar no dinheiro para ser<br />

feliz e não para me rechear a conta bancária. Vou procurar o meu eu. Chega, chega,<br />

chega.. <strong>de</strong> comprimidos, chega <strong>de</strong> álcool, chega <strong>de</strong> solidão, chega <strong>de</strong> viver por viver.<br />

Acabou a vida do senhor doutor, agora vou viver a vida do Francisco o ser humano. Chega<br />

<strong>de</strong> planos <strong>de</strong> investimento, <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong>, chega <strong>de</strong> almoçar e jantar sozinho, vou<br />

lutar <strong>de</strong> outra forma.<br />

FIM<br />

Revista<br />

# <strong>palcos</strong> 03<br />

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