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20º aniversário da reelevação a vila - Gazeta Das Caldas

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Por: Por: Sérgio Sérgio Neto<br />

Neto<br />

À <strong>da</strong>ta do primeiro censo <strong>da</strong> população realizado durante a vigência <strong>da</strong> República, em<br />

1911, a freguesia de Alfeizerão contava 722 fogos e 2.811 habitantes de residência<br />

habitual; enquanto, em 1920, possuía 803 fogos e 3.246 habitantes. A percentagem de<br />

alfabetizados ron<strong>da</strong>va 15% em 1911 e 18% em 1920, sendo ligeiramente superior no<br />

sexo masculino. Eram 34 as povoações que compunham a freguesia, a qual dispunha<br />

de um punhado de comerciantes, um médico, um farmacêutico, dois professores (um<br />

para ca<strong>da</strong> sexo, leccionando em edifícios arren<strong>da</strong>dos para o efeito), duas agências de<br />

seguros e, a partir de 1925, uma mercearia. Uma mão cheia de agricultores, recorrendo<br />

a assalariados, assegurava uma significativa produção de cereais, de leguminosas e de<br />

vinho. Por exemplo, em 1916, à escala concelhia, Alfeizerão liderava a produção de arroz,<br />

de feijão, de batata de sequeiro e de mosto.<br />

Anualmente, como nos dias de hoje, entre 14 e 16 de Janeiro, tinha lugar a Feira/Festa<br />

de Santo Amaro, a qual, “além <strong>da</strong>s cerimonias de igreja”, contava com “os atractivos do<br />

arraial”: ven<strong>da</strong> de gado, “grande numero de feirantes d’outras especiali<strong>da</strong>des”, “ven<strong>da</strong> de<br />

fogaça, procissão”, sem esquecer “fogueiras, illuminações e fogos d’artificio”. Em 1914,<br />

era inaugurado o Grémio Beneficente e Recreativo, local onde subiram à cena algumas<br />

comédias famosas na época e se realizaram “actos de varie<strong>da</strong>des”, que incluíam<br />

“canções do Minho, coros, monologos e cançonetas”. Por vezes, Vitorino Fróis (1862-<br />

1934), afamado toureiro e filho <strong>da</strong> terra, organizava vaca<strong>da</strong>s e outros entretenimentos de<br />

inspiração tauromáquica.<br />

Todos estes <strong>da</strong>dos trazem à luz do dia uma reali<strong>da</strong>de não muito diferente de tantas<br />

outras locali<strong>da</strong>des dos inícios do século XX. Um espaço predominantemente rural, cuja<br />

população, mais ou menos indiferente ao tipo de regime, estava habitua<strong>da</strong> a votar nas<br />

listas dos partidos favoráveis à monarquia. De resto, antes de 1910, no âmbito do<br />

concelho, apenas os eleitores de Alcobaça <strong>da</strong>vam vantagem ao Partido Republicano, o<br />

qual se lamentava de “o caciquismo impenitente e corruptor” lançar “mão de to<strong>da</strong>s as<br />

Pub.<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

Alfeizerão Alfeizerão e e a a Primeira Primeira República<br />

República<br />

O O Partido Partido Evolucionista, Evolucionista, liderado liderado por por António António António José José de de Almei<strong>da</strong><br />

Almei<strong>da</strong><br />

(na (na foto), foto), <strong>da</strong>va <strong>da</strong>va razão razão ao ao abaixo-assinado abaixo-assinado que que que pedia pedia a a integra- integra- integra- integra-<br />

ção ção de de Alfeizerão Alfeizerão no no concelho concelho <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>da</strong> Rainha<br />

Rainha<br />

suas velhas bal<strong>da</strong>s [...] engo<strong>da</strong>ndo o eleitor inconsciente com vinho, pão e carne e<br />

usando <strong>da</strong> força dos caceteiros”. Mas, uma vez implanta<strong>da</strong> a República, as polémicas<br />

não desceram de tom. Logo em 1911, no rescaldo <strong>da</strong>s eleições para o parlamento, o<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

5<br />

12 | Agosto | 2011<br />

jornal Semana Alcobacense noticiava que os 108 votos “para a lista <strong>da</strong> opposição”,<br />

escrutinados na assembleia de S. Martinho do Porto, provinham de Alfeizerão, “onde<br />

houve promessas varias a engo<strong>da</strong>r o eleitorado, exactamente como nos tempos <strong>da</strong><br />

corrupção monarchica”.<br />

No entanto, o episódio mais significativo, que chegou, inclusive, à Câmara dos<br />

Deputados, deveu-se a um abaixo-assinado, que as fontes <strong>da</strong> época diziam subscrito por<br />

mais de dois terços dos habitantes, manifestando o desejo de Alfeizerão “desintegrar-se do<br />

concelho de Alcobaça e passar para o <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha, cuja sede fica muito mais<br />

proxima <strong>da</strong>quela povoação”. Corria o ano de 1914. Vários jornais participaram num<br />

aceso debate: a Semana Alcobacense e a Leiria Ilustra<strong>da</strong>, próximas do Partido Democrático,<br />

liderado por Afonso Costa, atacavam os signatários <strong>da</strong> petição; enquanto A República,<br />

principal órgão do Partido Evolucionista, liderado por António José de Almei<strong>da</strong>, <strong>da</strong>va razão ao<br />

abaixo-assinado. Na génese do contencioso esteve o veto camarário ao aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> casa em que funcionava a escola, a qual pertencia ao vereador por Alfeizerão, afecto ao<br />

Partido Evolucionista. Por outro lado, a freguesia considerava que as verbas anuais atribuí<strong>da</strong>s<br />

pela câmara, geri<strong>da</strong> pelo Partido Democrático, eram insuficientes. O discurso foi endurecendo<br />

ao longo de Março e Abril, com ambos os lados a evocarem argumentos históricogeográficos<br />

e de natureza política, a favor ou contra a desanexação.<br />

Certamente que o quadro não estaria completo sem uma referência à Primeira<br />

Guerra Mundial. Sabendo-se que vários naturais engrossaram as fileiras do Corpo Expedicionário<br />

Português (CEP), que rumou à Flandres, de igual modo se sabe <strong>da</strong>s carências<br />

que afectaram a freguesia, o concelho e quase to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de nacional. Em breve, a<br />

especulação do preço dos cereais e o racionamento faziam-se sentir, com dois comerciantes<br />

alfeizerenses, logo em 1916, a requerem milho à câmara, para fazer face à<br />

carestia generaliza<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> jovem, a Primeira República caminhava a passos largos<br />

para o declínio.<br />

*Professor *Professor e e investigador<br />

investigador

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