14.04.2013 Views

20º aniversário da reelevação a vila - Gazeta Das Caldas

20º aniversário da reelevação a vila - Gazeta Das Caldas

20º aniversário da reelevação a vila - Gazeta Das Caldas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

la la pela pela família família Delgado<br />

Delgado<br />

Localiza<strong>da</strong> Localiza<strong>da</strong> num num local local de de de passagem, passagem, a a pastelaria pastelaria tem tem como como clientes clientes muitas muitas pessoas pessoas de de fora,<br />

fora,<br />

algumas algumas <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s quais quais veraneantes veraneantes de de de São São São Martinho<br />

Martinho<br />

Quando Jorge Delgado agarrou<br />

no negócio, o pai ain<strong>da</strong> se<br />

manteve a trabalhar no estabelecimento.<br />

“Eu “Eu sempre sempre fui fui pa- papa- deiro, deiro, o o meu meu pai pai é é que que era<br />

era<br />

o o pasteleiro pasteleiro e e fazia fazia fazia tudo tudo<br />

tudo<br />

sozinho” sozinho”, sozinho” <strong>da</strong> pastelaria corrente<br />

às lampreias, passando pelos<br />

bolos de <strong>aniversário</strong>.<br />

Mas as coisas não correram<br />

muito bem entre pai e filho e Manuel<br />

deixou de trabalhar no estabelecimento<br />

cerca de cinco meses<br />

depois. “Foi “Foi muito muito com- comcom- plicado” plicado”, plicado” diz o filho. “Nunca “Nunca<br />

“Nunca<br />

tinhatinha acabado acabado bolo bolo nene-<br />

nhum, nhum, no no sábado sábado seguinte<br />

seguinte<br />

tive tive tive logo logo quatro quatro bolos bolos de<br />

de<br />

<strong>aniversário</strong><strong>aniversário</strong> para para fazer, fazer, chochoreirei<br />

tanto. tanto. Comecei Comecei na na sexsex-<br />

ta-feira ta-feira à à tarde, tarde, acabei acabei à<br />

à<br />

hora hora de de entregar entregar os os os bolos,<br />

bolos,<br />

nem nem escrever escrever ‘parabéns’ ‘parabéns’<br />

‘parabéns’<br />

sabia” sabia”, sabia” recor<strong>da</strong> Jorge.<br />

Ora… para grandes males, grandes<br />

remédios. No início <strong>da</strong> semana<br />

seguinte já Jorge Delgado estava<br />

em contacto com um primo,<br />

professor no Centro de Formação<br />

Profissional para o Sector<br />

Alimentar, na Pontinha. Pouco<br />

tempo depois estava a estu<strong>da</strong>r,<br />

em horário pós-laboral. “Tirei<br />

“Tirei<br />

decoração, decoração, que que era era o o meu<br />

meu<br />

principal objectivo. Depois<br />

tireitireitirei massa massa folha<strong>da</strong>, folha<strong>da</strong>, folha<strong>da</strong>, semisemi-<br />

frios, frios, frios, doçaria doçaria doçaria conventual,<br />

conventual,<br />

pastilhagem, pastilhagem, andei andei andei uma uma<br />

uma<br />

parga parga parga de de de anos anos a a caminho<br />

caminho<br />

de de lá. lá. Foi Foi a a minha minha sorte” sorte”, sorte”<br />

lembra.<br />

À necessi<strong>da</strong>de de aprender a<br />

fazer bolos e doces, juntou-se a<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

“Não “Não sou sou pasteleiro, pasteleiro, sou sou é é muito muito curioso”<br />

curioso”<br />

responsabili<strong>da</strong>de nas questões<br />

administrativas <strong>da</strong> empresa. “Nun- “Nun- “Nun- “Nun-<br />

ca ca tinha tinha mexido mexido num num papel,<br />

papel,<br />

depois depois tive tive que que fazer fazer tudo,<br />

tudo,<br />

pagarpagarpagar aos aos empregados, empregados, papa-<br />

gar gar segurança segurança social, social, tudo” tudo”. tudo”<br />

Os primeiros tempos de Jorge à<br />

frente do negócio foram ain<strong>da</strong> marcados<br />

por várias obras no estabelecimento.<br />

Casado desde os 22 anos, Jorge<br />

tinha a esposa a trabalhar com<br />

ele, depois de esta ter sido dispensa<strong>da</strong><br />

de uma fábrica de cerâmicas<br />

onde trabalhou durante três<br />

anos. Paula chegou a estar num<br />

posto de ven<strong>da</strong> que a “Cinderela<br />

de Alfeizerão” tinha em Vale Maceira<br />

e an<strong>da</strong>r na rua, na distribuição<br />

de pão. Mas é ao balcão que Paula<br />

gosta de estar. “Eu “Eu “Eu nem nem me<br />

me<br />

imaginoimagino a a fazer fazer outro outro trabatraba-<br />

lho” lho”, lho” afiança. “Às “Às vezes vezes vezes tenho<br />

tenho<br />

que que passar passar algum algum tempo tempo tempo no<br />

no<br />

escritório escritório mas mas aquilo aquilo para<br />

para<br />

mim mim é é uma uma morte, morte, morte, não não não vejo<br />

vejo<br />

ninguém” ninguém”. ninguém”<br />

Além <strong>da</strong> distribuição de pão e<br />

do posto em Vale Maceira, o estabelecimento<br />

teve ain<strong>da</strong> um posto<br />

no mercado <strong>da</strong> <strong>vila</strong>. E durante algum<br />

tempo a “Cinderela de Alfeizerão”<br />

fez reven<strong>da</strong> de bolos para<br />

outros estabelecimentos. Hoje,<br />

mantém-se apenas a distribuição<br />

e a pastelaria que, garantem os<br />

proprietários, granjeou fama não<br />

só em Alfeizerão, mas também nas<br />

terras vizinhas e foi conquistando<br />

ao longo dos anos muitos clientes<br />

habituais.<br />

“Eu “Eu “Eu segui segui a a a linha linha do do do meu<br />

meu<br />

pai.pai. Há Há Há sítios sítios onde onde se se se enen-<br />

chem chem os os bolos bolos de de manteiga<br />

manteiga<br />

fresca, fresca, aqui aqui não. não. A A linha linha do<br />

do<br />

meu meu pai pai é é muito muito tradicional,<br />

tradicional,<br />

coisinhas coisinhas leves, leves, e e os os bolos<br />

bolos<br />

não não são são muito muito carregados.<br />

carregados.<br />

A A base base é é é o o doce doce de de ovos, ovos, a<br />

a<br />

não não ser ser que que o o cliente cliente peça<br />

peça<br />

outraoutra coisa, coisa, coisa, e e sempre sempre poupou-<br />

quinho” quinho”, quinho” explica Paulo, que se foi<br />

habituando a fazer um pouco de<br />

tudo. “E “E é é uma uma uma cópia cópia cópia do do pai” pai”, pai”<br />

garante a mãe.<br />

Ultrapassados os problemas<br />

dos primeiros meses, a relação<br />

entre Jorge e Manuel normalizou e<br />

o pai voltava à pastelaria para <strong>da</strong>r<br />

uma mão ao filho nas épocas mais<br />

festivas, em que as pessoas procuram<br />

mais bolos, como o Natal e<br />

a Páscoa. Há uns anos, Manuel<br />

teve um acidente nas vésperas de<br />

Natal, “e “e eu eu tive tive que que me me de- dedesenrascarsenrascar sozinho. sozinho. Nunca Nunca titi-<br />

nha nha feito feito uma uma lampreia, lampreia, tive<br />

tive<br />

que que me me fazer fazer à à vi<strong>da</strong>” vi<strong>da</strong>”, vi<strong>da</strong>” explica<br />

Jorge. “Eu “Eu costumo costumo dizer dizer que<br />

que<br />

não não sou sou pasteleiro, pasteleiro, sou sou é<br />

é<br />

muito muito muito curioso. curioso. curioso. Ponho-me Ponho-me Ponho-me a a<br />

a<br />

inventar, inventar, a a pensar pensar no no no que que o<br />

o<br />

meu meu pai pai fazia” fazia”, fazia” acrescenta.<br />

Não obstante, a quali<strong>da</strong>de é<br />

algo que não dispensa, tal como<br />

acontece com o pormenor com<br />

que os bolos saem <strong>da</strong> sua cozinha.<br />

“Eu “Eu “Eu demoro demoro muito muito mais<br />

mais<br />

a a acabar acabar um um bolo, bolo, mas mas é<br />

é<br />

tudotudo feito feito à à mão, mão, como como emem-<br />

blemas blemas e e bonecos” bonecos” bonecos”. bonecos” bonecos” A única<br />

excepção é quando o bolo leva<br />

uma fotografia.<br />

Já Paula diz que a única coisa<br />

que faz na cozinha são as trouxas<br />

de ovos. “Não “Não se se pode pode apren- apren- apren-<br />

der der muito muito muito lá lá dentro, dentro, senão senão ele<br />

ele<br />

passa passa passa a a pasta” pasta”, pasta” diz.<br />

Mas Jorge era capaz de deixar<br />

de fazer doces? “Era, “Era, “Era, vou vou ser<br />

ser<br />

muito muito sincero. sincero. Eu Eu faço faço isto,<br />

isto,<br />

mas mas não não gosto” gosto”. gosto” E ao contrário<br />

do que possa parecer, a confissão<br />

não traz nenhum arrependimento<br />

por ter agarrado no negócio iniciado<br />

pelo pai. “Os “Os primeiros primeiros primeiros anos<br />

anos<br />

foram foram foram muito muito difíceis, difíceis, mas<br />

mas<br />

tudo tudo o o que que eu eu tenho tenho é é fruto<br />

fruto<br />

do do meu meu trabalho trabalho trabalho aqui” aqui” aqui”, aqui” afirma.<br />

Mas há outra razão para Jorge<br />

não se arrepender. O pai faleceu<br />

em 2007 e Jorge esteve sempre<br />

do lado dele. “Sinto-me “Sinto-me feliz<br />

feliz<br />

porque porque usufrui usufrui o o o máximo máximo do<br />

do<br />

meu meu pai” pai” pai”. pai” pai” E o mesmo diz do irmão<br />

mais novo, que faleceu aos 32 anos,<br />

e que “já “já bem bem doente doente continua- continua- continuacontinuava va va a a aju<strong>da</strong>r” aju<strong>da</strong>r” no negócio. “Se “Se ti- titi- vesse vesse ido ido embora embora embora não não podia<br />

podia<br />

dizer dizer o o mesmo” mesmo”, mesmo” aponta Jorge.<br />

Se o passado é olhado sem mágoas,<br />

o futuro é ain<strong>da</strong> muito incerto.<br />

Jorge e Paula têm dois filhos –<br />

Inês de 16 anos e Francisco de 12<br />

– e ambos aju<strong>da</strong>m os pais nos<br />

negócios. “A “A minha minha filha filha filha aju- ajuaju<strong>da</strong>-me<strong>da</strong>-me<strong>da</strong>-me muito. muito. muito. Eu Eu fui fui de de fériféri-<br />

as as e e ela ela fez-me fez-me fez-me aí aí aí uma uma mão mão<br />

mão<br />

cheia cheia cheia de de bolos bolos bolos sozinha”, sozinha”<br />

sozinha” diz o<br />

pai. Mas os planos de futuro <strong>da</strong><br />

rapariga parecem passar muito<br />

ao lado <strong>da</strong> pastelaria. Com o filho<br />

a história é outra. . “O “O “O meu meu meu filho filho<br />

filho<br />

nãonão gosta gosta na<strong>da</strong> na<strong>da</strong> na<strong>da</strong> disto. disto. disto. VemVem-<br />

me me aju<strong>da</strong>r aju<strong>da</strong>r e e quando quando vou vou a<br />

a<br />

olhar olhar já já já cá cá cá não não está” está”. está” E a avó<br />

acrescenta: “foge “foge <strong>da</strong>qui <strong>da</strong>qui <strong>da</strong>qui como como<br />

como<br />

o o diabo diabo <strong>da</strong> <strong>da</strong> cruz” cruz”. cruz”<br />

“Não “Não vou vou pressionar pressionar para<br />

para<br />

eles eles continuarem continuarem aqui” aqui”, aqui” garante<br />

o pai, mas admite que gostava<br />

que os filhos lhe seguissem as pisa<strong>da</strong>s,<br />

“principalmente “principalmente porque<br />

porque<br />

sese eles eles ficarem ficarem aqui aqui eu eu tetenhonho<br />

capaci<strong>da</strong>de capaci<strong>da</strong>de de de os os ajuaju-<br />

<strong>da</strong>r” <strong>da</strong>r”. <strong>da</strong>r”<br />

Com oito funcionários e um volume<br />

de negócios de 150 mil euros<br />

anuais, a “Cinderela de Alfeizerão”<br />

é, tal como era a “Cinderela”<br />

em Nampula, um ponto de encontro,<br />

sobretudo para os amigos dos<br />

proprietários. “Temos “Temos um um um gru- grugru- po po de de amigos amigos que que todos todos os<br />

os<br />

diasdias vem vem aqui aqui tomar tomar o o pepe-<br />

queno-almoço queno-almoço connosco connosco às<br />

às<br />

8h00” 8h00” 8h00”, 8h00” 8h00” diz Jorge, que orienta o<br />

seu trabalho para que, a essa hora,<br />

se possa sentar em amena cavaqueira<br />

com os companheiros, “já<br />

“já<br />

lá lá vão vão mais mais de de dez dez dez anos” anos”. anos”<br />

Em plena estra<strong>da</strong> que liga a A8<br />

a S. Martinho do Porto, o estabelecimento<br />

atrai ain<strong>da</strong> muita gente de<br />

passagem. Clientes que param ali<br />

Cronologia<br />

Cronologia<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

7<br />

12 | Agosto | 2011<br />

O O estabelecimento estabelecimento <strong>da</strong> <strong>da</strong> “Cinderela “Cinderela de de Alfeizerão” Alfeizerão” é é uma uma réplica réplica do do estabelecimento estabelecimento que que Manuel Manuel e<br />

e<br />

Maria Maria Beatriz Beatriz tiveram tiveram em em Nampula<br />

Nampula<br />

todos os anos, “que “que se se man- manman- têm têm desde desde que que que a a casa<br />

casa<br />

abriu” abriu”, abriu” garante Maria Beatriz,<br />

que assistiram ao crescimento<br />

dos filhos dos actuais proprietários.<br />

E entre as iguarias que os fazem<br />

parar há algumas especiali<strong>da</strong>des<br />

de uma casa onde tudo é<br />

fabrico próprio, à excepção <strong>da</strong>s<br />

tranças. A “Cinderela de Alfeizerão”<br />

é a única <strong>da</strong> terra a fazer<br />

pastéis de cerveja, muito semelhantes<br />

aos pastéis de Lamego,<br />

mas sem amêndoa. “Também<br />

“Também<br />

somossomossomos os os únicos únicos a a fazerfazer-<br />

mos mos mos bolos bolos secos secos aqui aqui e e sou<br />

sou<br />

eu eu que que faço faço tudo” tudo”, tudo” afirma Jorge<br />

Delgado. Tentações para provar<br />

num estabelecimento que<br />

apenas está fechado ao domingo<br />

à tarde e nos dias de Páscoa,<br />

Natal e Ano Novo.<br />

Joana Joana Fialho<br />

Fialho<br />

jfialho@gazetacal<strong>da</strong>s.com<br />

1942 1942 – – Nascem Manuel Maria Delgado e Maria Beatriz Muchenga Delgado<br />

1953 1953 – – Manuel vai trabalhar como pasteleiro para a Pastelaria Machado<br />

1959 1959 – – Maria Beatriz vai servir ao balcão na Pastelaria Machado<br />

1960 1960 – – Manuel Delgado vai cumprir o serviço militar para Moçambique e<br />

acaba por ficar<br />

1966 1966 – – Manuel e Beatriz casam por procuração e ela vai juntar-se ao marido<br />

em Nampula, onde têm cinco filhos e abrem a pastelaria “Cinderela”<br />

1970 1970 – – Nasce Jorge Manuel Delgado<br />

1972 1972 – – Nasce Paula Cristina de Sousa Delgado<br />

1974 1974 1974 – – – Dá-se a Revolução do 25 de Abril e a família regressa a Portugal<br />

1986 1986 – – Manuel Delgado compra a Pa<strong>da</strong>rias Reuni<strong>da</strong>s de Alfeizerão<br />

1994 1994 – – É construído o actual estabelecimento, uma réplica <strong>da</strong> pastelaria que<br />

os proprietários tinham em Moçambique<br />

1999 1999 – – Jorge Manuel compra o negócio iniciado pelo pai, que desde então<br />

gere com a esposa, Paula Delgado<br />

2007 2007 – Morre o fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong>s Cinderelas de Nampula e de Alfeizerão, Manuel<br />

Maria Delgado

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!