PLATONISMO CRISTÃO? QUE PLATONISMO? - PUC-Rio
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Miguel Spinelli<br />
ou explicado por ele. Por esse ponto de vista, o divino são as idéias.<br />
Enquanto tal, ele está intimamente relacionado às eîdos, e, portanto, a tudo<br />
aquilo que pode ser "visto" ou inteligido pelo pensamento. Ocorre que, das<br />
coisas, o pensamento se apropria das formas, isto é, de definições<br />
simbólicas racionalmente construídas. Por isso, o divino, em última<br />
instância, é o verdadeiro. É por ele que nasce o discurso, pelo qual se<br />
realiza a fusão do pensamento com a palavra, de tal modo que, como diz o<br />
próprio Platão, "pensamento e discurso" resultam na "mesma coisa", ou<br />
então, como antes dissera Parmênides, "pensar e ser é o mesmo" 18 .<br />
Platão está de acordo com Parmênides em que só há um caminho de<br />
verdade: aquele que funde o pensamento e a nomeação, ou que une a<br />
razão e o discurso (possível). Esse ponto de vista, porém, assimilado por<br />
Platão e por Parmênides, em nada difere do que vem subentendido no<br />
logos de Heráclito. Heráclito atribuíra a esse termo (de uso comum na<br />
literatura de Homero e de Hesíodo), um duplo significado: o da palavra ou<br />
discurso e o do pensamento ou razão. Essa dupla conotação, ele a<br />
concebeu pelo fato de constatar, por um lado, que o pensamento, sem o<br />
auxílio da palavra (ou do símbolo, em geral), não funciona (não opera); por<br />
outro, que o discurso, sem interiorizar em si mesmo o pensamento, é<br />
destituído de significado (não é portador de mensagem). Um, portanto, não<br />
se exerce sem o outro, de tal modo que é por essa identidade que a<br />
significação ou a mensagem se manifesta. Quer dizer, o discurso só tem<br />
sentido se for portador de pensamento, e as palavras só designam ou dizem<br />
alguma coisa se forem racionalmente proferidas. Deve haver, pois, uma<br />
íntima convergência entre pensamento, significado e discurso. Sobre isso,<br />
18 PLATÃO. Sofista. 263 e; DK 28 B 3.<br />
166 Boletim do CPA, Campinas, nº 15, jan./jun. 2003