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14- a representação da mulher em abismo, de pompília ... - Unioeste

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II S<strong>em</strong>inário Nacional <strong>em</strong> Estudos <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong>: 06 a 08 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2010<br />

Diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, Ensino e Linguag<strong>em</strong> UNIOESTE - Cascavel / PR<br />

Ain<strong>da</strong> assim, são visíveis as marcas <strong>de</strong> sua formação patriarcal. Ao jogar, beber<br />

e fumar, ela sabia que estava indo contra as regras formais, no entanto, não sendo mais<br />

casa<strong>da</strong>, não havia a qu<strong>em</strong> prejudicar, era somente sua imag<strong>em</strong> que estava sob avaliação<br />

social. Julgava, portanto, preserva<strong>da</strong> sua formação moral, sua honesti<strong>da</strong><strong>de</strong>. Trata-se,<br />

nesse sentido, <strong>de</strong> um comportamento que, mais uma vez, r<strong>em</strong>ete à i<strong>de</strong>ologia patriarcal:<br />

o que menos importa é sua individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, os seus interesses, o seu <strong>de</strong>sejo, já que,<br />

certamente, o comportamento transviado não condiz com seus anseios, mas como<br />

parece consistir <strong>em</strong> uma espécie <strong>de</strong> autopunição, própria <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> não se aceita como<br />

“separa<strong>da</strong>”, fracassa<strong>da</strong>, per<strong>de</strong>dora é necessário que tenha que passar por um período <strong>de</strong><br />

conflito. A falta <strong>da</strong> presença masculina, no caso do pai, do marido e do filho, b<strong>em</strong> como<br />

dos irmãos, que preferiram distanciar-se face ao ocorrido, r<strong>em</strong>ete à idéia <strong>de</strong> fracasso,<br />

relacionado aos papéis tradicionais f<strong>em</strong>ininos.<br />

V<strong>em</strong> corroborar isso, o fato <strong>de</strong> a personag<strong>em</strong> só conseguir restabelecer o<br />

equilíbrio <strong>em</strong>ocional após o episódio <strong>em</strong> que, durante um <strong>de</strong> seus passeios noturnos,<br />

salva um jov<strong>em</strong> do suicídio. Trata-se <strong>de</strong> certo tipo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção que justifica sua<br />

existência, talvez, uma maneira alternativa <strong>de</strong> “<strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong>”, “parir”, “ser mãe”. Do<br />

mesmo modo, a nova relação amorosa que se estabelece com Celso, a figura masculina<br />

que, ao final <strong>de</strong> sua trajetória, lhe aparece como uma versão <strong>de</strong> “príncipe encantado”,<br />

consiste na peça que faltava para o equilíbrio final. No entanto, o resgate do passado por<br />

meio do ressurgimento do amigo do marido, acaba por <strong>de</strong>struir o novo relacionamento,<br />

acarretando para ela um <strong>de</strong>sequilíbrio irreversível, que impulsiona a narrativa para um<br />

<strong>de</strong>sfecho negativo para Letícia.<br />

5 - Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

Mesmo publicado alguns anos após o período consi<strong>de</strong>rado o marco do auge do<br />

pensamento f<strong>em</strong>inista, o romance Abismo (1985) mantêm <strong>de</strong> forma visível a supr<strong>em</strong>acia<br />

dos valores patriarcais. Letícia é o reflexo <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> machista on<strong>de</strong> o casamento<br />

era visto como uma instituição essencial para o sujeito f<strong>em</strong>inino, mesmo que o<br />

matrimônio causasse sofrimento à <strong>mulher</strong>. Devia-se, portanto, preservar algumas<br />

convenções e comprometer a imag<strong>em</strong> <strong>da</strong> <strong>mulher</strong> perante o círculo <strong>de</strong> relações familiares<br />

e sociais não eram aceitas.<br />

ISSN 2178-8200

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