Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus
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Leituras: Salmo 46 e Mat<strong>eu</strong>s 6<br />
“<strong>Aquietai</strong>-<strong>vos</strong> e <strong>sabei</strong><br />
<strong>que</strong> <strong>eu</strong> <strong>sou</strong> D<strong>eu</strong>s” é<br />
talvez a ordem divina<br />
mais difícil de ser<br />
atendida.<br />
A dificuldade está no fato<br />
de <strong>que</strong> é D<strong>eu</strong>s <strong>que</strong>m fala,<br />
mas é o homem <strong>que</strong>m<br />
tem <strong>que</strong> se aquietar,<br />
deixando o motor de suas<br />
ansiedades parar,<br />
permitindo-se levar no<br />
„automático da confiança”.<br />
Ansiedade é algo tão terrível em razão do poder <strong>que</strong> tem de tornar o<br />
presente inaproveitável, escravizando o indivíduo, pela insegurança,<br />
à virtualidade angustiada do <strong>que</strong> não existe ainda, posto <strong>que</strong> a<br />
ansiedade se faz serva do futuro; ou seja: ela escraviza o ser ao <strong>que</strong><br />
não é, e o impede de viver o dia <strong>que</strong> é Hoje.<br />
A ansiedade é barulhenta, aflita, ruidosa, e, s<strong>eu</strong>s ruídos são como o<br />
barulho <strong>que</strong> se ouve a noite quando se anda sob fios de alta tensão:<br />
invisíveis, porém reais e destruti<strong>vos</strong>.<br />
O ruído e a energia da ansiedade faz a alma se sentir eletrificada pelo<br />
sentir de uma força hostil e negativa, a qual, pela sua própria<br />
natureza, se alimenta de preocupações... escravizando a alma ao<br />
fantasma <strong>que</strong> o medo conceb<strong>eu</strong> como futuro.<br />
O corpo todo sofre quando você está ansioso. Os braços,<br />
especialmente, parecem ficar lotados de um carga como <strong>que</strong> elétrica,<br />
e <strong>que</strong> vaza pelos membros, angustiada por fazer “um terra” <strong>que</strong> a<br />
descarregue...; embora, em se estando ansioso, nada absolutamente<br />
faça esse “terra” pelo qual se possa descarregar tal energia. Ao<br />
contrário, toda a tentativa de se „fazer terra‟ apenas aumenta a<br />
ansiedade, posto <strong>que</strong> a ansiedade se alimenta da imprevisibilidade da<br />
terra... portanto, do tempo e do espaço.
A mente ansiosa trabalha correndo atrás do pior, angustiada por não<br />
saber o <strong>que</strong> reserva o amanhã. Assim, quanto mais energia alguém<br />
dedica à ansiedade, mais insaciável ela se torna, e mais fraca a<br />
pessoa se sentirá em relação o poder do <strong>que</strong> ainda não é...<br />
Chega o ponto em <strong>que</strong> drenada, impotente, angustiada, gelada de<br />
medo, a pessoa passa a crer <strong>que</strong> todo o mal <strong>que</strong> ela teme a<br />
alcançará... e, assim, imagina <strong>que</strong> todas as não-soluções lhe<br />
acometerão...<br />
A ansiedade é a fé no pior; título de crédito antecipado no cãos; é<br />
filha da desconfiança; é tão certa quanto a culpa de cada um; é tão<br />
implacável quanto o vaticínio de inimigos; é tão covarde quanto o<br />
diabo.<br />
Ansiedade também é gerada por cobiça e frustração de se ter<br />
colocado em um patamar mais elevado do <strong>que</strong> a realidade permite.<br />
A auto divinização não se conceber em um patamar menor do <strong>que</strong><br />
esse. Quando os embates e as agruras solapam a cobiça e o orgulho,<br />
a ansiedade se instala, restando uma atitude mental adoecida,<br />
configurada como pessimismo crônico.<br />
Por essa razão, assim como a fé é a certeza das boas coisas... a<br />
ansiedade gerada por todas essas coisas, é a expectativa<br />
amedrontada de tudo o <strong>que</strong> é ruim. A mentalidade passa a ser<br />
orientada por uma trilha do cãos.<br />
Daí, não raramente, a ansiedade chamar à existência justamente as<br />
coisas <strong>que</strong> pela ansiedade se teme... e das quais se foge... ou se luta<br />
buscando fazer prevenção.<br />
Na ansiedade não há fé sadia, pois, onde há fé sadia, aí não há<br />
ansiedade!<br />
Na melhor das hipóteses a ansiedade gera uma fé doentia, ner<strong>vos</strong>a e<br />
<strong>que</strong> existe em estado de desespero.<br />
É por essa razão <strong>que</strong> <strong>eu</strong> disse no início <strong>que</strong> “aquietar-se” e esperar na<br />
intervenção de D<strong>eu</strong>s é uma das coisas mais difíceis <strong>que</strong> se pode<br />
pretender realizar. Alias se houver ansiedade jamais se terá tal<br />
descanso; posto <strong>que</strong> o estado de descanso vem da confiança e da<br />
entrega.<br />
O <strong>que</strong> é mais difícil nisso tudo é <strong>que</strong> o “aquietar-se” é algo <strong>que</strong> D<strong>eu</strong>s<br />
ordena, mas é o homem <strong>que</strong>m tem <strong>que</strong> decidir.
“<strong>Aquietai</strong>-<strong>vos</strong>” evoca uma decisão pessoal; uma resolução; uma<br />
consciência <strong>que</strong> abre mão do instinto aflito de autodefesa; é uma<br />
vontade de paz; um entregar confiante da impotência pessoal, crendo<br />
<strong>que</strong> em tal paradoxo nasce o poder <strong>que</strong> realiza o impossível.<br />
Aquietar-se em D<strong>eu</strong>s é o agir pelo não agir!<br />
Provavelmente a maioria das pessoas só pensam nesse mandamento<br />
divino quando tudo está “preto”, e já não se tem saída. A contradição<br />
é <strong>que</strong> essa é a pior hora para se começar no caminho da quietude.<br />
Todavia, antes na calamidade do <strong>que</strong> nunca...<br />
No entanto, o <strong>que</strong> se deve almejar é entrar num estado permanente<br />
de descanso e confiança, intentando fazer até mesmo com <strong>que</strong> a<br />
própria respiração e cadência do fluxo sanguíneo se ponham também<br />
sob as bênçãos de tal ordem de vida dada por D<strong>eu</strong>s.<br />
Ou seja: é melhor se treinar na quietude todos os dias, fazendo<br />
exercício cotidianos de descanso da alma, chamando o „potro‟<br />
angustiado <strong>que</strong> há dentro de cada um de nós para acalmar-se junto<br />
às águas de descanso e nos pastos verdejantes da quietude interior.<br />
Ora, se assim se faz em tempo de paz..., muito mais fácil fica não<br />
abandonar o compromisso com a confiança <strong>que</strong> gera quietude no dia<br />
da guerra; posto <strong>que</strong> se aprende na vida a começar das pe<strong>que</strong>ninas<br />
coisas.<br />
O fato é <strong>que</strong> é preciso <strong>que</strong> se „aquiete‟ antes..., a fim de <strong>que</strong> de possa<br />
„saber” <strong>que</strong>m é D<strong>eu</strong>s „depois‟.<br />
D<strong>eu</strong>s se deixa conhecer como D<strong>eu</strong>s na quietude confiante e no<br />
silêncio entregue e pacificado <strong>que</strong> vem da fé.<br />
A <strong>que</strong>stão é <strong>que</strong> temos horror de confiar, crer, entregar, abandonar,<br />
descansar, deixar a vida correr no fluxo...; e, sem temor, não temer<br />
perder nada...; posto <strong>que</strong> tudo aquilo <strong>que</strong> é entregue a D<strong>eu</strong>s jamais<br />
se perde... mesmo <strong>que</strong> não esteja em nossas mãos.<br />
Em meio a tudo isso..., nesse „aquietai-<strong>vos</strong>”..., há também com<br />
convite ao silêncio interior.<br />
D<strong>eu</strong>s fala no silêncio!<br />
Silêncio em D<strong>eu</strong>s é quando os processos mentais se acalmam, a alma<br />
se deita aconchegada, os espírito de levanta voluntário, o coração se<br />
aninha humilde, os ouvidos interiores se abrem, e, nossas vozes<br />
vocais ou não-vocais emudecem...; sim..., é depois de tudo isso <strong>que</strong>
podemos ficar abertos para ouvir D<strong>eu</strong>s no silêncio...<br />
E Ele fala. Fala dentro de nós. Fala sem palavras e sem linguagem.<br />
Fala através de sentimentos... às vezes de angustias <strong>que</strong> emulam a<br />
consciência... às vezes através de brisas, ventos, folhas <strong>que</strong> se<br />
esvaem, pássaros <strong>que</strong> cantam, estações <strong>que</strong> mudam, luares sombrios<br />
ou iluminados; bem como através de gestos, acontecimentos,<br />
inspirações, alegrias puras, gratidão, esperança, sonhos...; e,<br />
sobretudo, mediante o silêncio da Palavra, <strong>que</strong> fala sem gritar, e <strong>que</strong><br />
admoesta em consolação.<br />
Experimente a santa irresponsabilidade de descansar em D<strong>eu</strong>s, de<br />
dizer „tô nem aí... está nas mãos de D<strong>eu</strong>s...‟; ou, ainda, experimente<br />
fazer da quietude o s<strong>eu</strong> te<strong>sou</strong>ro, o s<strong>eu</strong> modo de vida, o s<strong>eu</strong> sentir<br />
mais normal, e sua ambição mais preciosa.<br />
Ah! Grande alegria e contentamento há na confiança <strong>que</strong> sossega e<br />
se aquieta!<br />
Quem assim faz... em fé... esse conhecerá a D<strong>eu</strong>s. Sim, esse „saberá‟<br />
em profundidade acerca do poder <strong>que</strong> emana em favor da alma <strong>que</strong><br />
se aninha na amizade de D<strong>eu</strong>s.<br />
Bem-aventurados os <strong>que</strong> se aquietam, pois eles saberão e<br />
conhecerão <strong>que</strong>m é D<strong>eu</strong>s!<br />
Pense nisso!<br />
Caio Fábio