dia & noite: o melhor da programação cultural da ... - Roteiro Brasília
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que lhe enviassem to<strong>da</strong>s as garrafas vazias.<br />
Ele viria a repetir esse pedido to<strong>da</strong> vez que<br />
bebia no Cru, e o restaurante admite ter<br />
despachado várias caixas de garrafas vazias<br />
para a casa dele em Los Angeles. Mas como<br />
eram vinhos bebidos e pagos por ele,<br />
o Cru atendeu o pedido durante algum<br />
tempo, até tomar a decisão, manti<strong>da</strong> até<br />
hoje, de simplesmente destruir garrafas<br />
consumi<strong>da</strong>s.<br />
Num leilão de 2006, em Nova York,<br />
Rudy vendeu 35 milhões de dólares em vinhos.<br />
Dois anos depois, preten<strong>dia</strong> vender<br />
268 garrafas de Borgonhas produzidos<br />
por casas conceitua<strong>da</strong>s como Armand<br />
Rousseau, George Roumier e Laurent<br />
Ponsot, mas este último resolveu ir ao leilão<br />
em pessoa, porque desconfiou <strong>da</strong> autentici<strong>da</strong>de<br />
de algumas garrafas de sua maison<br />
anuncia<strong>da</strong>s para ven<strong>da</strong> naquele <strong>dia</strong>.<br />
O que mais despertou suspeita em<br />
Ponsot foi a presença de alguns grand<br />
crus (a designação de mais alta quali<strong>da</strong>de)<br />
levados por Rudy, com safras de anos em<br />
que a casa não os tinha produzido. Uma<br />
garrafa de 1929 era de um vinho só fabricado<br />
ali depois de 1934. Outras 38 garrafas<br />
eram do grand cru Clos Saint-Denis<br />
de 1945 a 1971, mas Ponsot só começou<br />
a produzi-los em 1980.<br />
A suspeita foi suficiente para que<br />
aqueles produtos fossem retirados do leilão,<br />
que seguiu em frente com outros vinhos,<br />
mas até então Rudy era apenas visto<br />
como vítima de terceiros, talvez uma rede<br />
internacional de golpistas mais profissionais.<br />
Laurent Ponsot decidiu investigar o<br />
assunto a fundo e, aos poucos, chegou à<br />
conclusão de que a origem <strong>da</strong> pilantragem<br />
era o próprio Rudy. Apesar de tornar pública<br />
sua acusação, Ponsot não obteve providências,<br />
e Rudy continuou em ação.<br />
Finalmente, a polícia federal americana,<br />
FBI, entrou no circuito e enviou um<br />
agente à França para falar com Ponsot.<br />
Convencidos <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de de Rudy<br />
no golpe, os americanos o prenderam<br />
em Arca<strong>dia</strong>, subúrbio de Los Angeles.<br />
Uma busca em sua casa revelou equipamento<br />
para realizar o engodo, desde garrafas<br />
vazias de vinhos raros ver<strong>da</strong>deiros<br />
até máquinas para criar rótulos falsos.<br />
Ele importava por atacado <strong>da</strong> França<br />
grandes quanti<strong>da</strong>des de Borgonhas dos<br />
anos-chave, repassados na ocasião pelos<br />
chateaux a negociantes locais autorizados<br />
a vender misturas do produto, sem as<br />
marcas de prestígio. Essa prática foi interrompi<strong>da</strong><br />
em 1970, mas os negociantes<br />
menores ain<strong>da</strong> têm estoques antigos. Rudy<br />
então os comprava, enchia com esse<br />
vinho as garrafas vazias que ele mesmo<br />
recolhia de restaurantes após consumir<br />
os produtos originais. Ou colava etiquetas<br />
falsas em garrafas mais novas.<br />
A semelhança de pala<strong>da</strong>r do produto<br />
genérico que ele comprava por atacado<br />
com o vinho raro <strong>da</strong> mesma safra enganava<br />
muitos especialistas em rituais de degustação,<br />
para nem falar dos inocentes<br />
úteis que levavam suas fortunas aos leilões<br />
para comprar artigos de prestígio, que outros<br />
garantiam ser legítimos e caros.<br />
Os indícios apontam o caso de Rudy<br />
como um dos maiores golpes no mercado<br />
de vinhos, com a ven<strong>da</strong> de milhões de<br />
dólares de produtos falsificados, enrolando<br />
alguns dos maiores colecionadores<br />
do mundo. Muitos deles ain<strong>da</strong> buscam<br />
descarregar a mercadoria falsa em regiões<br />
menos atentas a escân<strong>da</strong>los, como a Ásia.<br />
Pode se tornar o caso mais grave de falsificação<br />
de vinhos na história, com estigma<br />
de corrupção agora impregnado no mercado<br />
de vinhos antigos e raros.<br />
Não vai parar aí, alerta Ponsot, o<br />
principal responsável por desven<strong>da</strong>r a<br />
fraude de Rudy, mas convencido de que<br />
O falsificador Rudy Kurniawan – ou Zhen Wang Huang – e o vinho adulterado que acabou por levá-lo à prisão<br />
Fotos: divulgação<br />
O produtor francês Laurent Ponsot garante que 80%<br />
dos Borgonhas vendidos em leilões são falsificados.<br />
outras de tipo parecido se desenrolam<br />
no comércio de Borgonhas, abalando a<br />
reputação de produtores sérios como ele.<br />
Há poucas semanas foram presos quatro<br />
executivos de uma <strong>da</strong>s maiores empresas<br />
produtoras <strong>da</strong> região, a Labouré-Roi,<br />
sob suspeita de usar etiquetas falsas em<br />
milhares de garrafas de vinho. A Labouré-<br />
Roi vende 10 milhões de uni<strong>da</strong>des por<br />
ano, e a maior parte é exporta<strong>da</strong>. O golpe<br />
se <strong>da</strong>va quando algum comprador fazia<br />
encomen<strong>da</strong> numerosa de garrafas de um<br />
ano particularmente valorizado, mas em<br />
falta no estoque do grupo. Simplesmente<br />
pegavam garrafas de um ano próximo,<br />
mas sem o mesmo valor, e trocavam as<br />
etiquetas.<br />
Diferente do caso Rudy, não envolviam<br />
vinhos antigos, raros e muito caros,<br />
pois li<strong>da</strong>vam com safras mais recentes, porém<br />
lucravam no volume, devido às grandes<br />
quanti<strong>da</strong>des encomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s. E também<br />
ao contrário do caso Rudy nos Estados<br />
Unidos, esta fraude ocorria na própria<br />
região produtora, com sérias consequências<br />
para a reputação <strong>da</strong> Borgonha.<br />
Tanto que a organização que representa<br />
quatro mil produtores <strong>da</strong> região juntou-<br />
-se ao processo judicial contra a Labouré-<br />
-Roi, preocupa<strong>da</strong> com o abalo à imagem<br />
do vinho <strong>da</strong> Borgonha, exportado para<br />
mais de 150 países. “Qualquer suspeita<br />
de prática desonesta que possa abalar a reputação<br />
de nossos vinhos não pode ser tolera<strong>da</strong>”,<br />
declarou o vice-presidente Michel<br />
Bal<strong>da</strong>ssini ao jornal local Le Bien Public.<br />
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