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O Museu da Emigração e os ''Brasileiros'

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446 MIGUEL MONTEIRO<br />

Para se entender a dimensão relativa desta importância, apresentam<strong>os</strong> como referência a<br />

“jorna” ou jeira” salário diário de um trabalhador rural no valor de $160 réis, sendo necessári<strong>os</strong><br />

cerca de 208 dias de trabalho para financiar a viagem para o Brasil.<br />

Assim, se hoje o mesmo trabalho diário corresponder, no mesmo contexto, a cerca de 40<br />

Eur<strong>os</strong>, o custo <strong>da</strong> viagem ron<strong>da</strong>ria <strong>os</strong> 8320 eur<strong>os</strong>.<br />

Face às despesas <strong>da</strong> viagem, estam<strong>os</strong> perante um impedimento <strong>da</strong> emigração generaliza<strong>da</strong>, o<br />

que explica a emigração clandestina e a selectivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> emigração a<strong>os</strong> que tinham capital disponível<br />

ou a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de recorrer ao crédito.<br />

Ao mesmo tempo, o capital social de que estes proprietári<strong>os</strong> rurais dispunham em Portugal,<br />

constituía-se como bastante para legitimar o cumprimento de obrigações implicitamente<br />

estabeleci<strong>da</strong>s e inscreviam-se em valores própri<strong>os</strong> de origem: serie<strong>da</strong>de, honra e palavra e <strong>da</strong>vam<br />

sentido à forma como eram acolhid<strong>os</strong> e bem recebid<strong>os</strong> no Brasil.<br />

Estes valores eram inscrit<strong>os</strong> em referências de legitimação social e familiar, tais como, o<br />

compadrio e o apadrinhamento, reforçad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> laç<strong>os</strong> de parentesco, ain<strong>da</strong> que afastado, explicando-<br />

-se, deste modo, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> casament<strong>os</strong> entre “prim<strong>os</strong>”.<br />

Segundo o relato autobiográfico de Leite Lage, a viagem do Porto para o Rio de Janeiro, em<br />

1827, demorou cerca de 59 dias, incluindo <strong>os</strong> percalç<strong>os</strong> decorrentes d<strong>os</strong> ataques d<strong>os</strong> corsári<strong>os</strong>.<br />

Quase tod<strong>os</strong>, à chega<strong>da</strong> ao Rio de Janeiro ou a outr<strong>os</strong> port<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, eram acolhid<strong>os</strong> por<br />

um parente ou vizinho instalado no Brasil, que promovia a sua integração nas activi<strong>da</strong>des comerciais<br />

de destino, principalmente como caixeir<strong>os</strong>, para quem levavam uma “carta de recomen<strong>da</strong>ção”,<br />

como n<strong>os</strong> relata a referi<strong>da</strong> autobiografia.<br />

1.3. Vivências no Rio<br />

Chegado ao Brasil, Albino, com catorze an<strong>os</strong> incomplet<strong>os</strong>, como a grande maioria d<strong>os</strong><br />

emigrantes <strong>da</strong> época, vai trabalhar como caixeiro na casa comercial de António Mendes Oliveira<br />

Castro, também natural de Fafe, que se dedicava ao ram<strong>os</strong> de ferragens, drogarias e materiais de<br />

construção civil e para quem levava carta de recomen<strong>da</strong>ção, vindo a ser o seu braço direito e seu<br />

futuro genro.<br />

Em 1858, Albino Oliveira com 25 an<strong>os</strong> de i<strong>da</strong>de, casa com Luiza Mendes de Oliveira<br />

Castro, filha do patrão, António Mendes de Oliveira Castro, que se encontrava já gravemente<br />

doente, com “doença de época”, vindo a falecer, em 1859, com 48 an<strong>os</strong> de i<strong>da</strong>de.<br />

António Mendes de Oliveira Castro, nasceu em Fafe em 1811 e emigrou muito jovem para<br />

a ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro. Aí casou com a brasileira Castorina Angélica de Jesus Alves Pereira,<br />

descendente de outro português ido de Rio Maior, sendo este um d<strong>os</strong> quinze mil <strong>da</strong> comitiva de<br />

D. João VI, que chegou à nova capital do Reino em 1808.<br />

A família Mendes de Oliveira e Castro era uma <strong>da</strong>s mais prestigia<strong>da</strong>s do Rio, especialmente<br />

pelo figura de Castorina Pereira, mas também pela vi<strong>da</strong> empresarial e social do seu filho J<strong>os</strong>é<br />

Mendes de Oliveira Castro 1.º Barão de Oliveira Castro, e do seu neto, 2.º Barão de Oliveira<br />

Castro.<br />

Os Mendes de Oliveira Castro, Joaquim e Luís, seus cunhad<strong>os</strong>, residentes do Rio, constituiriam<br />

também figuras de referência financeira do Rio Janeiro, <strong>da</strong>do que man<strong>da</strong>m desta ci<strong>da</strong>de

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