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Otávio Erbereli Júnior - IV Conferência Internacional de História ...

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Introdução<br />

<strong>História</strong> Econômica no Brasil (1951-1972): uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento<br />

<strong>Otávio</strong> <strong>Erbereli</strong> <strong>Júnior</strong> 1<br />

Nosso intento aqui não é produzir ou explicitar uma nova forma <strong>de</strong> se fazer <strong>História</strong><br />

Econômica, até mesmo porque nosso trabalho não é <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica, mas sim é um<br />

trabalho sobre <strong>História</strong> Econômica, a partir das preocupações da <strong>História</strong> da <strong>História</strong>, ou mais<br />

comumente da <strong>História</strong> da Historiografia e da Teoria da <strong>História</strong>. Nesta introdução,<br />

percorreremos alguns diagnósticos acerca da produção e situação da <strong>História</strong> Econômica ao<br />

longo do tempo. Além <strong>de</strong>sta introdução, no tópico seguinte explicitamos um pouco <strong>de</strong> nossas<br />

inspirações teóricas. Em um terceiro tópico, a<strong>de</strong>ntramos a análise <strong>de</strong> nossas fontes. Ao final<br />

do artigo, empreen<strong>de</strong>mos algumas reflexões acerca <strong>de</strong> nosso percurso <strong>de</strong> pesquisa<br />

empreendido até aqui, bem como algumas propostas <strong>de</strong> contato para a <strong>História</strong> Econômica.<br />

Alguns historiadores apontam que a partir dos anos 80 do século passado, a <strong>História</strong><br />

Econômica cai em <strong>de</strong>suso e passa a ocupar um lugar marginal na Historiografia, seja <strong>de</strong>vido à<br />

crise dos gran<strong>de</strong>s paradigmas interpretativos, em especial ao projeto <strong>de</strong> <strong>História</strong>-Síntese ou<br />

Total dos Annales ou do Marxismo, seja pela suposta hegemonia dos estudos em <strong>História</strong><br />

Cultural. A partir <strong>de</strong>ste momento, as seguintes questões: Ainda faz sentido estudar <strong>História</strong><br />

Econômica?/Para que serve a <strong>História</strong> Econômica?/A <strong>História</strong> Econômica têm sido <strong>de</strong>ixada<br />

<strong>de</strong> lado? parecem constituírem-se em uma constante. Mas o fato é que já na década <strong>de</strong> 20 do<br />

século passado, quando ainda não ocupava lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na Historiografia mundial, a<br />

<strong>História</strong> Econômica já era objeto <strong>de</strong> reflexões e <strong>de</strong> balanços historiográficos, como no artigo<br />

publicado no The Quartely Journal of Economics em fevereiro <strong>de</strong> 1920 com o título <strong>de</strong> The<br />

Present Condition of Economic History. Tal artigo é proveniente <strong>de</strong> uma apresentação feita<br />

por N. S. B. Gras no encontro anual da Associação Americana <strong>de</strong> <strong>História</strong> em 29/12/1919.<br />

Avançando no tempo, quase um século <strong>de</strong>pois, a questão <strong>de</strong> a <strong>História</strong> Econômica estar sendo<br />

marginalizada pelos historiadores e economistas, ou se ainda faz sentido empreen<strong>de</strong>r estudos<br />

em <strong>História</strong> Econômica, reaparece no artigo Is Economic History a Neglected Field of Study?<br />

<strong>de</strong> Robert Whaples publicado em Abril <strong>de</strong> 2010 na Historically Speaking.<br />

1 Economista (Unesp), especialista em <strong>História</strong> Econômica (UEM) e mestrando em <strong>História</strong> e Socieda<strong>de</strong> (Unesp<br />

– Assis). Contato: oerberelijr@gmail.com


And yet many economic historians have the sense that their discipline is a<br />

neglected field, a field on the margins, caught in a no man´s land between<br />

two disciplines: ignored and un<strong>de</strong>rappreciated by economists and<br />

misun<strong>de</strong>rstood, feared, and perhaps even <strong>de</strong>spised by historians<br />

(WHAPLES, 2010, p. 17).<br />

Whaples atribui este quadro ao fato <strong>de</strong> que os historiadores econômicos estão mais<br />

presentes em <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> Economia do que em <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> <strong>História</strong>. Esta<br />

constatação é corroborada pelos dados da Economic History Association (EHA), a maior<br />

instituição que congrega a categoria dos historiadores econômicos nos EUA: 57,8% <strong>de</strong> seus<br />

membros estão em <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> Economia e apenas 16,4% em <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>. Da mesma forma, 72,6% dos presentes ao último encontro da associação eram<br />

economistas e apenas 11% eram historiadores. Whaples atribui este quadro ao fato <strong>de</strong> que:<br />

“Today´s economic historians are primarily trained in economics by economists and are<br />

imbued with the outlook and habits of that profession” (WHAPLES, 2010, p. 17).<br />

Esta é exatamente a pedra <strong>de</strong> toque da questão: os historiadores econômicos acabam<br />

por se comportarem como economistas e não mais como historiadores. Isto po<strong>de</strong> ser<br />

verificado pelo fato <strong>de</strong> que a <strong>História</strong> Econômica contemporânea tem sido elaborada a partir<br />

do uso <strong>de</strong> avançados métodos quantitativos; e quem não for treinado nestas ferramentas, nem<br />

mesmo consegue acompanhar a produção na área. Isto po<strong>de</strong> causar gran<strong>de</strong> influência na<br />

maneira como os historiadores escrevem <strong>História</strong> Econômica. Outro fator apontado pelo autor<br />

é a hegemonia atual da <strong>História</strong> Cultural 2 e a importância dada à Cliometria nos estudos <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> Econômica.<br />

Joel Mokyr em resposta à análise feita por Robert Whaples parece ser mais otimista.<br />

Em artigo intitulado On the suposed Decline and Fall of Economic History, publicado no<br />

mesmo periódico, faz apologia aos cliometristas, apontando que a <strong>História</strong> feita por eles<br />

possui caráter mais científico, pelo fato <strong>de</strong> se utilizarem <strong>de</strong> métodos quantitativos bastante<br />

avançados. “These scholars may not always have time and patience to spend many years in<br />

dusty archives, but they often control research budgets that allow them to hire research<br />

assistants who can” (MOKYR, 2010, p. 24). Sua posição em relação à pesquisa em arquivo<br />

parece ser bastante preconceituosa: é tida como perda <strong>de</strong> tempo e uma ativida<strong>de</strong> que requer<br />

muitos anos e muita paciência para gerar frutos significativos; sendo que um grupo <strong>de</strong><br />

trabalho po<strong>de</strong>ria fazê-lo em tempo muito menor através do uso da estatística. Esta sim,<br />

2 Em texto escrito no ano <strong>de</strong> 2008, José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda procura romper este dilema – <strong>de</strong> se a <strong>História</strong><br />

Econômica tem ou não perdido espaço – com uma proposta <strong>de</strong> releitura da própria <strong>História</strong> Econômica frente ao<br />

que ele <strong>de</strong>nomina nova “nevuelle historie” [sic]. Ver: ARRUDA, José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. <strong>História</strong> Econômica e<br />

<strong>História</strong> Cultural: uma trajetória historiográfica. Revista Brasileira <strong>de</strong> Gestão e Desenvolvimento Regional.<br />

Taubaté, v. 4, n. 3, pp. 6-26, 2008.


consi<strong>de</strong>rada uma “ciência”. Também afirma que todos os trabalhos da Nova <strong>História</strong><br />

Econômica têm sido bem recebidos e que o uso <strong>de</strong> métodos quantitativos tem tomado vários<br />

campos da ciência, até mesmo a cultura e a religião. “Even culture and religion are not safe<br />

anymore: economists have recently reexamined the empirical foundations of the Weber thesis<br />

using new data subjected to rigorous econometric techniques” (MOKYR, 2010, p. 24).<br />

Contudo, ao contrário <strong>de</strong> Robert Whaples, Mokyr não fundamenta sua argumentação em<br />

exemplos palpáveis e verificáveis empiricamente. Ao menos em uma questão os dois colegas<br />

concordam: “The relationship with history <strong>de</strong>partments is still quite difficult” (MOKYR,<br />

2010, p. 24).<br />

Não fizemos menção a artigos produzidos fora do Brasil para ilustrar uma falsa<br />

hipótese: <strong>de</strong> que apenas no exterior existe a preocupação com os rumos da <strong>História</strong><br />

Econômica, ou mesmo com sua possível extinção. A <strong>História</strong> Econômica no Brasil possui<br />

suas peculiarida<strong>de</strong>s e seria um tanto quanto perigoso afirmarmos, grosseiramente, que<br />

po<strong>de</strong>ríamos nos abstrair <strong>de</strong> sua análise e tomarmos a produção estrangeira como<br />

<strong>de</strong>terminadora do que é feito no país. Aqui também existe a preocupação com a questão<br />

colocada no início <strong>de</strong>sta introdução. Exemplo disso foi a conferência <strong>de</strong> abertura do Primeiro<br />

Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica, ocorrido em 1993 em São Paulo, proferida por<br />

Frédéric Mauro 3 . Nesta palestra, além <strong>de</strong> comentar acerca da <strong>de</strong>finição do campo <strong>de</strong> pesquisa<br />

da <strong>História</strong> Econômica e dissertar acerca <strong>de</strong> seu surgimento, Mauro aponta alguns fatores que,<br />

segundo ele, colocaram a <strong>História</strong> Econômica em forte crise a partir dos anos 70 e 80 do<br />

século passado. Vejamos alguns dos pontos <strong>de</strong>stacados:<br />

1) Les histories, dans les années 70, abandonnant l´historie économique,[sic]<br />

s´intéressent à l´historie politique et à l´historie anthropologique, culturelle,<br />

et mentale; 2) Les économistes français,[sic] imitant lês étrangers<br />

s´intéressent désormais beaucoup plus à l´historie [sic] (MAURO, 1999, p.<br />

136).<br />

Interessante notar que duas das causas apontadas por Mauro para a crise da <strong>História</strong><br />

Econômica ao longo dos anos 70 e 80, se relacionam ao maior interesse dado a <strong>História</strong><br />

Política, Antropológica, Cultural e do Mental – assim como apontaram Robert Whaples<br />

(2010) e José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda (2008). Contudo, ao contrário do que <strong>de</strong>marca<br />

Whaples em relação ao maior <strong>de</strong>sinteresse dos economistas pela <strong>História</strong>, Mauro aponta para<br />

a tendência do maior interesse <strong>de</strong>stes profissionais pela <strong>História</strong>, o que acaba por gerar certo<br />

equilíbrio, posto que o <strong>de</strong>sinteresse dos historiadores frente à <strong>História</strong> Econômica é<br />

compensado pelo maior interesse dos economistas pela <strong>História</strong>. E no encerramento <strong>de</strong> sua<br />

3 A palestra teve por título: La situation <strong>de</strong> l´historie économique à la fin du xxème siècle.


palestra Mauro lança a seguinte questão: “Quels sont lês problèms qui subsistent dans Le<br />

développement <strong>de</strong> l´historie économique?”. O autor aponta como primeiro problema a questão<br />

da utilida<strong>de</strong> da <strong>História</strong> Econômica, do ponto <strong>de</strong> vista tanto das ciências no geral quanto da<br />

prática econômica em particular. Em segundo lugar, a questão da história quantitativa. E, por<br />

último, a formação dos historiadores econômicos.<br />

Ainda na década dos anos 90 do século passado, contudo, em sua segunda meta<strong>de</strong>,<br />

temos o balanço historiográfico feito por João Fragoso e Manolo Florentino (1997). Através<br />

<strong>de</strong> gráficos, os autores explicitam a queda vertiginosa na produção <strong>de</strong> dissertações e teses <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> Econômica a partir dos anos 80, tomando por referência os programas <strong>de</strong> pós-<br />

graduação em <strong>História</strong> da UFRJ e da UFF e o programa <strong>de</strong> pós-graduação em <strong>História</strong><br />

Econômica da USP. Um dos fatores apontados pelos autores para esta queda é o crescimento<br />

da produção em <strong>História</strong> Econômica feita por economistas, gerando uma marginalização <strong>de</strong>ste<br />

campo <strong>de</strong> trabalho, principalmente, pelo uso <strong>de</strong> avançados métodos quantitativos. Outro fator<br />

explicativo para tal fenômeno seria a contestação dos paradigmas dos Annales e do marxismo.<br />

Os autores apontam também o <strong>de</strong>sinteresse por temáticas mais “comezinhas” ligadas à vida<br />

cotidiana e um maior interesse por temas mais “curiosos” e “fantásticos”, como a sexualida<strong>de</strong>,<br />

a mística, por exemplo. Frente a estas questões, os autores fazem a perturbadora pergunta e<br />

logo arrematam, em tom otimista, vis a vis a queda vertiginosa da produção em <strong>História</strong><br />

Econômica:<br />

(...) po<strong>de</strong>-se afirmar (levianamente, até) que a história econômica não mais<br />

respon<strong>de</strong>ria aos anseios <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> em franca pulverização. Será?<br />

Cremos que não. Em primeiro lugar porque, é óbvio, os homens continuam<br />

trabalhando, produzindo e consumindo, atitu<strong>de</strong>s que, no plano da cultura, se<br />

expressam <strong>de</strong> formas específicas. Em segundo lugar, nos parece que o longo<br />

percurso trilhado até aqui serviu para sedimentar a história econômica<br />

enquanto um legítimo campo do saber humano (FRAGOSO e<br />

FLORENTINO, 1997, pp. 38-39).<br />

Sendo assim, para os autores a <strong>História</strong> Econômica já se consolidou, por sua longa<br />

trajetória, como campo do conhecimento humano acumulado.<br />

Um dos autores do artigo supracitado, João Fragoso, faz novo balanço, em 2002,<br />

acerca da produção em <strong>História</strong> Econômica nos últimos anos. Em tópico – A história<br />

econômica nos últimos anos: um rápido balanço – do novo artigo, Fragoso menciona que está<br />

mais otimista quanto à produção <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica no Brasil, do que havia estado em<br />

artigo anterior produzido em parceria com seu colega Manolo Florentino – vis a vis o fato <strong>de</strong><br />

que, a nosso ver, o balanço realizado em 1997 já parecia otimista. A fonte <strong>de</strong> tal otimismo,<br />

para Fragoso é a revisão produzida em âmbito internacional em relação ao Antigo Regime,


que influenciou a forma pela qual compreen<strong>de</strong>mos as socieda<strong>de</strong>s coloniais. “Des<strong>de</strong> há certo<br />

tempo, parece-me, ficou claro para a historiografia nacional que a América portuguesa não se<br />

resumia a uma gran<strong>de</strong> plantation, cujo <strong>de</strong>stino era satisfazer um capitalismo nascente na<br />

Europa” (FRAGOSO, 2002, p. 29). Com isso, mutatis mutandi, a <strong>História</strong> Econômica no<br />

Brasil, sobretudo nos anos 90, toma novo fôlego, com as temáticas que buscam dar maior<br />

ênfase à importância do mercado interno durante o período colonial.<br />

Po<strong>de</strong>mos constatar que os questionamentos quanto à pertinência da <strong>História</strong><br />

Econômica para a Historiografia se acentuam a partir dos anos 70 do século passado, e que<br />

vários historiadores e economistas tentaram se posicionar em relação a estas indagações a<br />

partir <strong>de</strong> balanços historiográficos da produção em <strong>História</strong> Econômica ou através <strong>de</strong><br />

propostas que preten<strong>de</strong>m dar outros tratamentos à <strong>História</strong> Econômica 4 . O que se nota é que a<br />

renovação no campo se <strong>de</strong>u através da incorporação da teoria econômica aos estudos <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> Econômica, como o fez a Nova <strong>História</strong> Econômica norte-americana, ou seja: uma<br />

condição sine qua non para que um estudo <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica fosse consi<strong>de</strong>rado<br />

relevante, seria se este apresentasse seus resultados a partir <strong>de</strong> alguma teoria econômica. Fica<br />

claro que pouco se fez pelos caminhos da Historiografia e da Teoria da <strong>História</strong>.<br />

A partir das reflexões engendradas pela Teoria da <strong>História</strong> e pela <strong>História</strong> da<br />

Historiografia, preten<strong>de</strong>mos trazer uma nova contribuição ao tratamento da <strong>História</strong><br />

Econômica, não através da Ciência/Teoria Econômica, mas sim a partir <strong>de</strong> reflexões caras ao<br />

oficio <strong>de</strong> historiador. Para tanto, <strong>de</strong>bruçaremo-nos sob um período <strong>de</strong> incontestável pujança e<br />

afirmação dos estudos em <strong>História</strong> Econômica, ou seja, a partir dos anos 30 do século<br />

passado, até o final dos anos 70 do mesmo século.<br />

Um pouco <strong>de</strong> <strong>História</strong> da Historiografia<br />

4 Prova da atualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>bate é o texto produzido por José Flávio Motta em 2009, intitulado: Agonia ou<br />

Robustez? Reflexões acerca da Historiografia Econômica Brasileira. Neste artigo, Motta não tem dúvida quanto<br />

ao caráter pujante da produção em <strong>História</strong> Econômica no Brasil, proporcionando elementos que <strong>de</strong>monstram<br />

sua fertilida<strong>de</strong> (robustez). Ver MOTTA, José Flávio. Agonia ou Robustez? Reflexões acerca da Historiografia<br />

Econômica Brasileira. Revista <strong>de</strong> Economia da PUC-SP. São Paulo, n. 1, pp. 117-138, 2009. Outro texto que<br />

dialoga com o <strong>de</strong> Fragoso e Florentino (1997) e <strong>de</strong> Motta (2009), corroborando as constatações <strong>de</strong>ste último, é o<br />

artigo: FALEIROS, Rogério Naques. <strong>História</strong> Econômica, <strong>História</strong> em Construção. Dimensões. Vitória, vol. 24,<br />

pp. 252-271, 2010.


A <strong>História</strong> da <strong>História</strong>, ou mais comumente, a <strong>História</strong> da Historiografia, enquanto<br />

campo, é fruto dos <strong>de</strong>bates <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados ao longo dos anos 60 e 70 do século XX, em torno<br />

do ofício <strong>de</strong> historiador e <strong>de</strong> sua escrita da <strong>História</strong>, principalmente com os trabalhos <strong>de</strong><br />

Hay<strong>de</strong>n White – sua Meta-<strong>História</strong> publicado em 1973 – e Michel De Certeau, com seu A<br />

Escrita da <strong>História</strong> <strong>de</strong> 1975. Dentre as inúmeras contribuições <strong>de</strong> Michel De Certeau à<br />

Historiografia, a que mais nos interessa é, sem dúvida, sua noção <strong>de</strong> operação historiográfica,<br />

compreendida<br />

(...) como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma<br />

profissão, etc.), procedimentos <strong>de</strong> análise (uma disciplina) e a construção <strong>de</strong><br />

um texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da “realida<strong>de</strong>” da qual<br />

trata, e que essa realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser apropriada “enquanto ativida<strong>de</strong> humana”,<br />

“enquanto prática”. Nesta perspectiva, (...) a operação histórica se refere à<br />

combinação <strong>de</strong> um lugar social, <strong>de</strong> práticas “científicas” e <strong>de</strong> uma escrita<br />

(CERTEAU, 1982, p. 66).<br />

O autor brasileiro que empreen<strong>de</strong>rá uma revisão historiográfica do século XIX<br />

brasileiro inspirado nas propostas <strong>de</strong> Michel De Certeau será Manoel Luiz Salgado<br />

Guimarães. Já em 1988 este implementa sua nova proposta e perspectiva <strong>de</strong> análise da<br />

<strong>História</strong> da Historiografia brasileira. Em seu artigo intitulado Nação e Civilização nos<br />

trópicos, Guimarães analisa a escrita da <strong>História</strong> operacionalizada pelo Instituto Histórico e<br />

Geográfico Brasileiro (IHGB), como marco <strong>de</strong> uma proposta que tenta sistematizar um<br />

projeto para a escrita da <strong>História</strong> do Brasil. Em outro artigo, agora no ano <strong>de</strong> 2002, Guimarães<br />

<strong>de</strong>ixa bem claro os objetivos <strong>de</strong>sta nova proposta, ao criticar a visão <strong>de</strong> <strong>História</strong> que a vê<br />

enquanto produto natural <strong>de</strong> sua tentativa <strong>de</strong> alçar um status científico e propor que ela <strong>de</strong>va<br />

ser historicizada, ou seja, a <strong>História</strong>, enquanto disciplina, também possui seu percurso<br />

histórico no tempo.<br />

Entronizada em um panteon, a <strong>História</strong> disciplinar refaz sua trajetória<br />

apresentando este percurso como um <strong>de</strong>senvolvimento natural do<br />

conhecimento em busca <strong>de</strong> cientificização, apagando os traços que<br />

inscrevem este procedimento no mundo histórico, tornando-se a própria<br />

memória da disciplina. Se a prática historiográfica requer uma interrogação<br />

dos procedimentos <strong>de</strong> construção da memória, por que não submetermos a<br />

própria disciplina a esta investigação, como forma <strong>de</strong> compreendê-la como<br />

uma produção temporal das socieda<strong>de</strong>s humanas? (GUIMARÃES, 2002, pp.<br />

184-185).<br />

Continuando sua reflexão historiográfica, Manoel Guimarães já em 2005, a partir das<br />

produções <strong>de</strong> José Honório Rodrigues, Carlos Guilherme Mota, José Roberto do Amaral Lapa<br />

e Nilo Odália, busca traçar um histórico da <strong>História</strong> da Historiografia brasileira enquanto<br />

campo. Seu intento o leva a concluir que,


fundou-se uma forma peculiar <strong>de</strong> pensar a historiografia como parte das<br />

tarefas <strong>de</strong> pesquisa do historiador, segundo as quais os textos produzidos são<br />

interrogados a partir <strong>de</strong> propósitos externos aos próprios textos,<br />

secundarizando-os <strong>de</strong>sta maneira como matéria primordial <strong>de</strong> análise para o<br />

historiador (GUIMARÃES, 2005, p. 43).<br />

Esta conclusão <strong>de</strong> Manoel Luiz Salgado Guimarães é bastante representativa <strong>de</strong> sua<br />

proposta <strong>de</strong> análise historiográfica: <strong>de</strong>volver ao texto seu papel central e restabelecê-lo como<br />

material primordial <strong>de</strong> análise do historiador. Esta sua proposta está vinculada às principais<br />

preocupações <strong>de</strong> Michel De Certeau, no sentido <strong>de</strong> que Manoel Guimarães busca pensar a<br />

cultura historiográfica do século XIX brasileiro, não como fruto unívoco da busca por<br />

cientificização da disciplina histórica, mas sim como fruto <strong>de</strong> disputas por um <strong>de</strong>terminado<br />

passado, aquele que melhor po<strong>de</strong>ria servir para a construção <strong>de</strong> uma <strong>História</strong> Nacional. O<br />

lócus privilegiado pelo autor é o IHGB que po<strong>de</strong>ria ser compreendido enquanto lugar social<br />

da escrita da <strong>História</strong> brasileira no século XIX. Para ele, “(...) trata-se <strong>de</strong> assumir a escrita<br />

como uma operação, que aciona procedimentos e proce<strong>de</strong> escolhas, pondo em disputa visões e<br />

significações para o passado” (GUIMARÃES, 2003, p. 13).<br />

Outros autores também se preocuparam com o estabelecimento <strong>de</strong> uma cultura<br />

historiográfica brasileira 5 . Dentre eles, queremos <strong>de</strong>stacar os trabalhos <strong>de</strong> Temístocles Cezar,<br />

orientados, principalmente, pelas proposituras <strong>de</strong> François Hartog – que também nos serve <strong>de</strong><br />

inspiração, conforme ficará explicitado mais adiante. Para ele, os historiadores da<br />

historiografia<br />

(...) privilegiam, geralmente, uma démarche [sic] mais <strong>de</strong>scritiva dos autores<br />

e <strong>de</strong> suas obras, na qual os aspectos i<strong>de</strong>ológicos ou econômicos são o centro<br />

da análise. Raramente os estudos sobre a historiografia partem <strong>de</strong> um<br />

problema historiográfico [sic] ou epistemológico [sic], ou seja, <strong>de</strong> uma<br />

questão que historie os procedimentos <strong>de</strong> como e porque a história é feita e<br />

escrita (CEZAR, 2004, pp. 44-45).<br />

É exatamente o que empreen<strong>de</strong>remos abaixo: não iremos analisar as teses <strong>de</strong> <strong>História</strong><br />

Econômica escolhidas por nós a partir <strong>de</strong> preocupações em relação aos contextos políticos,<br />

econômicos e sociais em que foram gestadas, mas sim, partiremos do próprio texto e nele nos<br />

assentaremos, com preocupações eminentemente historiográficas, compreen<strong>de</strong>ndo que cada<br />

texto possui também sua própria história e trajetória no tempo.<br />

5 DIEHL, Astor. A cultura historiográfica brasileira: do IHGB aos anos 1930. Passo Fundo: Ediupf, 1998;<br />

REIS, José Carlos. As i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s do Brasil: <strong>de</strong> Varnhagen a FHC. 3ª ed. RJ: FGV, 2000; MALERBA, Jurandir.<br />

Em busca <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> Historiografia-Elementos para uma discussão. Varia <strong>História</strong>. Belo Horizonte, n. 2,<br />

pp. 27-47, 2001; MARTINS, Estevão <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>. Historiografia Contemporânea-Um ensaio <strong>de</strong> tipologia<br />

comparativa. Varia <strong>História</strong>. Belo Horizonte, n. 2, pp.13-26, 2001; MALERBA, Jurandir (Org.) A história<br />

escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006.


Pensando três teses universitárias <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica<br />

Quanto ao surgimento da <strong>História</strong> Econômica no Brasil, existem controvérsias. Para<br />

José Honório Rodrigues (1969), a <strong>História</strong> Econômica no Brasil surge somente no século XX,<br />

com as obras <strong>de</strong> Amaro Cavalcanti, José Pandiá Calógeras, Leopoldo Bulhões, Antonio<br />

Carlos Ribeiro <strong>de</strong> Andrada, Roberto Simonsen, Alfredo Ellis Jr., Afonso Arinos <strong>de</strong> Mello<br />

Franco, F. T. <strong>de</strong> Sousa Reis, J. F. Normano, Afonso Taunay, Josias Leão, Marcos Carneiro <strong>de</strong><br />

Mendonça, José Jobim, Caio Prado Jr., Pires do Rio e Alice Canabrava, posto que<br />

anteriormente somente po<strong>de</strong>ríamos encontrar obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição da realida<strong>de</strong> econômica da<br />

época, sem nenhum esboço <strong>de</strong> análise. No entanto, para Francisco Iglésias, a obra <strong>de</strong> Diogo<br />

Pereira Ribeiro <strong>de</strong> Vasconcelos intitulada Minas e os Quintos do Ouro (1770?), que José<br />

Honório Rodriguez classifica como <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição da realida<strong>de</strong> econômica, é consi<strong>de</strong>rada “obra<br />

<strong>de</strong> história econômica, não simples <strong>de</strong>scrição da atualida<strong>de</strong>, apesar do tom quase <strong>de</strong> crônica<br />

ou relatório” (IGLÉSIAS, 1959, p. 76). O adjetivo quase cabe bem aqui, posto que se a obra<br />

não possuísse um “toque” <strong>de</strong> análise, seria sem dúvida, meramente <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição da realida<strong>de</strong><br />

econômica. Assim como a obra <strong>de</strong> José João Teixeira Coelho intitulada Instrução para o<br />

Governo da Capitania <strong>de</strong> Minas Gerais (1780) que “(...) contém informações e críticas sobre<br />

a economia mineira (...)” (IGLÉSIAS, 1959, p. 77).<br />

Em seu balanço <strong>de</strong> 1970 – que seria publicado em livro no idioma espanhol em 1972 –<br />

da Historiografia Econômica brasileira, Iglésias dá maior ênfase à contribuição <strong>de</strong> José João<br />

Teixeira e <strong>de</strong>staca seu pioneirismo para a compreensão <strong>de</strong> Minas do século XVIII e da<br />

administração portuguesa no Brasil, dizendo que<br />

el trabajo es esencial para la historia econômica por lo que informa y<br />

<strong>de</strong>scribe, por sus críticas y números que presenta sobre producción e<br />

impuestos, todo, todo lo cual sería <strong>de</strong>spués abundantemente repetido por<br />

otros autores, y que solo recientes investigaciones empiezan a cuestionar y<br />

hasta a invalidar (IGLÉSIAS, 1972, p. 91).<br />

É necessário, <strong>de</strong> fato, uma boa “garimpada” para encontrar algo que se possa<br />

consi<strong>de</strong>rar propriamente <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica no Brasil ainda no século XIX 6 . A<strong>de</strong>mais,<br />

somente na década <strong>de</strong> 30 do século XX, o econômico foi abordado pela historiografia<br />

brasileira como fator <strong>de</strong>terminante para explicar as principais questões históricas do país,<br />

6 A dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrar obras <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica no/do Brasil no século XIX e até mesmo ainda na<br />

primeira meta<strong>de</strong> do século XX, po<strong>de</strong> ser comprovada através da consulta ao Manual Bibliográfico <strong>de</strong> Estudos<br />

Brasileiros (1949), on<strong>de</strong> a <strong>História</strong> Econômica aparece em Assuntos especiais juntamente com a Estatística,<br />

sendo que aparecem mais fontes que obras <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica.


através das gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> síntese – que tentam captar a dinâmica da economia brasileira<br />

como um todo – <strong>de</strong> Roberto Simonsen, Caio Prado <strong>Júnior</strong> e Celso Furtado.<br />

A <strong>História</strong> Econômica no Brasil somente ganhará mais força a partir <strong>de</strong> sua<br />

institucionalização, através da criação da primeira ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica do Brasil<br />

em 1933 (tendo como seu primeiro regente Roberto Simonsen) com a fundação da Escola <strong>de</strong><br />

Sociologia e Política <strong>de</strong> São Paulo. E, principalmente, com a criação das Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Filosofia a partir <strong>de</strong> 1934, sendo a primeira <strong>de</strong>las a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, com o curso <strong>de</strong> <strong>História</strong> e Geografia, que nasceram integrados.<br />

Tendo tais fatos em mente, é que <strong>de</strong>cidimos dividir a <strong>História</strong> Econômica em dois principais<br />

períodos: a <strong>História</strong> Econômica que chamaremos <strong>de</strong> pré-acadêmica, pelo fato <strong>de</strong> ter sido<br />

elaborada antes da criação das faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Filosofia; e a <strong>História</strong> Econômica dita<br />

acadêmica, ou seja, aquela produzida sob os auspícios da universida<strong>de</strong> e da profissionalização<br />

do oficio <strong>de</strong> historiador.<br />

Dentro <strong>de</strong> nosso recorte temporal (1951-1972) proce<strong>de</strong>mos à escolha <strong>de</strong> três teses<br />

acadêmicas <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica a fim <strong>de</strong> pensarmos como se dá uma escrita da <strong>História</strong><br />

Econômica no Brasil para este período, tomando por inspiração as proposições <strong>de</strong> Michel De<br />

Certeau e François Hartog, principalmente sua noção <strong>de</strong> regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>, engendrada<br />

pelo autor a fim <strong>de</strong> pensar as várias <strong>de</strong>terminações do tempo histórico 7 .<br />

Eu entendo por regimes <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> os diferentes modos <strong>de</strong> articulação<br />

das categorias do passado, do presente e do futuro. Conforme a ênfase seja<br />

colocada sobre o passado, o futuro ou o presente, a or<strong>de</strong>m do tempo, com<br />

efeito, não é a mesma. O regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> não é uma realida<strong>de</strong><br />

acabada, mas um instrumento heurístico (HARTOG, 2006, p. 16).<br />

O regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>, como instrumento heurístico, busca dotar <strong>de</strong> sentido a<br />

experiência do homem no tempo. Neste diapasão, Hartog insere a escrita da <strong>História</strong> nesta<br />

experiência temporal. Desta forma, o regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> nos auxiliar a pensar qual<br />

a cultura historiográfica do período (1951-1972); quais as relações que estes historiadores<br />

estabelecem com o tempo em suas teses; <strong>de</strong> que maneira concebem o passado brasileiro e<br />

quais são os projetos <strong>de</strong> Brasil presentes em suas teses. A<strong>de</strong>mais, apesar das três teses estarem<br />

inseridas no que Hartog chama <strong>de</strong> regime mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> 8 , as relações temporais<br />

7 O principal trabalho on<strong>de</strong> François Hartog <strong>de</strong>senvolve esta noção <strong>de</strong> regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> é: HARTOG,<br />

François. Régimes d´historicité, Présentisme et Expériences du temps. Paris: Seuil, 2003.<br />

8 Do ponto <strong>de</strong> vista da Escrita da <strong>História</strong>, o regime antigo <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> estava pautado pela <strong>História</strong> como<br />

mestra da vida (Historia Magistra vitae), ou seja, o passado é que dotava o presente <strong>de</strong> sentido, bem como servia<br />

como um guia seguro para o futuro. Quanto ao regime mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>, ele passa a predominar a partir<br />

do final do século XVIII, on<strong>de</strong> o que predomina é o ponto <strong>de</strong> vista a partir do futuro. A análise <strong>de</strong> Hartog não se<br />

<strong>de</strong>tém apenas sob estes dois regimes <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>. Hartog vai além e i<strong>de</strong>ntifica no <strong>de</strong> 1989, simbolicamente,<br />

o surgimento <strong>de</strong> um novo regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>. Mas o que marca seu fim? “O fim <strong>de</strong>ste regime mo<strong>de</strong>rno


em cada uma <strong>de</strong>las, ou seja, as articulações entre presente, passado e futuro, po<strong>de</strong>m ser<br />

diferentes.<br />

Na escolha das teses privilegiamos produções em <strong>História</strong> Econômica engendradas<br />

sob os auspícios da Universida<strong>de</strong> e da profissionalização do ofício <strong>de</strong> historiador no Brasil,<br />

cujas temáticas privilegiassem o passado brasileiro e que foram produzidas no Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo.<br />

A primeira tese que utilizamos como fonte é a tese escrita por Alice Piffer Canabrava<br />

para a cátedra <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica Geral e Formação Econômica do Brasil, da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA) da USP: O Desenvolvimento da Cultura<br />

do Algodão na Província <strong>de</strong> São Paulo (1861-1875), <strong>de</strong>fendida em 1951. Po<strong>de</strong>ríamos ter<br />

escolhido as outras duas teses <strong>de</strong> Alice Canabrava: O Comércio Português no Rio da Prata<br />

(1580-1640), escrita como tese <strong>de</strong> doutorado (1942) e A Indústria <strong>de</strong> Açúcar nas Ilhas<br />

Inglesas e Francesas do Mar das Antilhas (1697-1755), tese escrita para a obtenção do título<br />

<strong>de</strong> livre docente em 1946. Contudo, estas não tratam, diretamente, da realida<strong>de</strong> econômica<br />

brasileira.<br />

A segunda é a tese <strong>de</strong> doutoramento <strong>de</strong> José Roberto do Amaral Lapa, <strong>de</strong>fendida em<br />

1966 na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Marília: A Bahia e a Carreira da Índia.<br />

E a terceira é a tese <strong>de</strong> doutoramento <strong>de</strong> José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda, intitulada O Brasil<br />

no Comércio Colonial, <strong>de</strong>fendida em 1972 na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Letras e Ciências<br />

Humanas (FFLCH) da USP.<br />

A primeira menção que encontramos aos trabalhos <strong>de</strong> Alice Piffer Canabrava está no<br />

pequeno artigo <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, publicado em 1948 no jornal Folha da Manhã,<br />

em que o autor trazia um pequeno balanço da historiografia econômica brasileira. Se nos<br />

atentarmos para o fato <strong>de</strong> que a tese <strong>de</strong> doutorado <strong>de</strong> Alice Canabrava foi <strong>de</strong>fendida em 1942,<br />

po<strong>de</strong>mos ter alguma pista acerca da rápida repercussão <strong>de</strong>ste estudo, posto que já em 1948,<br />

quando Sérgio Buarque faz esta reflexão, não pô<strong>de</strong> prescindir <strong>de</strong> apontar o trabalho <strong>de</strong> Alice<br />

Canabrava como fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento da historiografia econômica brasileira.<br />

Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda ressalta também a importância que os estudos monográficos<br />

po<strong>de</strong>m ter, para além das questões abordadas pelas gran<strong>de</strong>s sínteses:<br />

Se os mo<strong>de</strong>rnos estudos <strong>de</strong> história econômica, tais como, entre nós, vem<br />

praticando especialmente Alice P. Canabrava, po<strong>de</strong>m ser responsabilizados<br />

significaria que não é mais possível escrever história do ponto <strong>de</strong> vista do futuro e que o passado mesmo, não<br />

apenas o futuro, se tornaria imprevisível ou mesmo opaco.” (HARTOG, François. Tempo, <strong>História</strong> e a Escrita da<br />

<strong>História</strong>: a or<strong>de</strong>m do tempo. Revista <strong>de</strong> <strong>História</strong>. São Paulo, v. 148, n. 1, 2003, p. 11). Qual seria então este<br />

“novo” regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>? Hartog <strong>de</strong>nomina-o <strong>de</strong> presentismo. Neste novo regime <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> a<br />

categoria que predomina é a do presente, on<strong>de</strong> surge uma nova maneira <strong>de</strong> se escrever a <strong>História</strong>.


até certo ponto pela renúncia às vastas sínteses em proveito <strong>de</strong> trabalhos<br />

monográficos, ninguém negará que ten<strong>de</strong>m a oferecer, por outro lado,<br />

algumas vantagens claras. Entre elas a <strong>de</strong> contribuírem para <strong>de</strong>sfazer as<br />

ilusões raciais, políticas ou nacionais que por tanto tempo vem perseguindo<br />

certos espíritos (HOLANDA, 1948).<br />

Esta é a primeira vez no Brasil que o nome <strong>de</strong> Alice Piffer Canabrava é citado como<br />

fundamental em balanços historiográficos gerais e, especificamente, <strong>de</strong> historiografia<br />

econômica. Sua produção historiográfica é bastante ampla; mas nos <strong>de</strong>teremos aqui apenas<br />

em sua produção <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica.<br />

Francisco Iglésias, corroborando a visão <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, e mesmo<br />

reconhecendo a importância das gran<strong>de</strong>s sínteses interpretativas para a consolidação da<br />

<strong>História</strong> Econômica no Brasil, faz um importante apontamento:<br />

As tentativas <strong>de</strong> síntese po<strong>de</strong>m ser corretas e fecundas, como as <strong>de</strong> CAIO<br />

PRADO JUNIOR [sic] e CELSO FURTADO [sic]. No estado atual <strong>de</strong><br />

conhecimentos, porém, não se po<strong>de</strong> conseguir mais que êsses [sic] autores.<br />

Continuar na trilha por êles [sic] seguida é repetir (...) (IGLÉSIAS, 1959, p.<br />

87).<br />

O caminho proposto por Francisco Iglésias é o <strong>de</strong> se construir novas sínteses a partir<br />

<strong>de</strong> estudos regionais e setoriais, e cita como importante exemplo <strong>de</strong>ste intento as teses <strong>de</strong><br />

Alice Piffer Canabrava.<br />

Nos estudos sobre a produção em <strong>História</strong> Econômica <strong>de</strong> Alice Piffer Canabrava que<br />

tivemos acesso, a ênfase recai sobre seu pioneirismo na produção <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica no<br />

Brasil, sua formação, seu método empregado e suas fontes consultadas. Exemplo disso<br />

encontramos nos Anais do I Seminário <strong>de</strong> Estudos Brasileiros, especificamente na seção<br />

acerca da área <strong>de</strong> <strong>História</strong>. Na exposição <strong>de</strong> Alice Canabrava, em seu roteiro sucinto do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da historiografia brasileira, encontramos referência à produção em <strong>História</strong><br />

Econômica, tanto em relação às obras <strong>de</strong> síntese quanto aos estudos monográficos. Contudo,<br />

Canabrava não faz referência a seus próprios estudos. Neste sentido, é interpelada por<br />

Francisco Iglésias, que aponta o fato <strong>de</strong> que a historiografia econômica foi muito bem<br />

mapeada pela autora, sendo que ela mesma <strong>de</strong>veria ter sido mencionada, posto que é um dos<br />

expoentes da área. A<strong>de</strong>mais, Francisco Iglésias chama atenção para o fato <strong>de</strong> que “(...) a<br />

história econômica não po<strong>de</strong> restringir-se ao café: tem que levar em conta outros produtos,<br />

notadamente os esforços <strong>de</strong> diversificação, que levam à indústria” (IGLÉSIAS, 1971, p. 30).<br />

Notamos pelo excerto acima que, segundo Francisco Iglésias, tínhamos a<br />

predominância do café como temática privilegiada pela historiografia econômica. Contudo,<br />

nenhum estudo faz menção ao fato <strong>de</strong> que a tese <strong>de</strong> Alice Canabrava <strong>de</strong> 1951 promove


exatamente esta inovação temática, no sentido <strong>de</strong> pensar acerca da importância <strong>de</strong> outros<br />

produtos para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico brasileiro e relacioná-los à industrialização. É<br />

exatamente isso o que encontramos, enquanto preocupação, já no prefácio <strong>de</strong> sua tese sobre o<br />

algodão na província <strong>de</strong> São Paulo, quando menciona a <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong>sta cultura já em 1875:<br />

“(...) subsistia ainda, em nível suficiente para fornecer matéria prima às fábricas <strong>de</strong> tecidos<br />

que haviam sido fundadas recentemente (...)” (CANABRAVA, 2011, p. 71).<br />

Quanto à formação acadêmica <strong>de</strong> Alice Canabrava, os textos <strong>de</strong> Flávio Azevedo<br />

Marques <strong>de</strong> Saes (1998) e <strong>de</strong> Zélia Maria Cardoso <strong>de</strong> Mello; Nelson Hi<strong>de</strong>iki Nozoe e Flávio<br />

Azevedo Marques <strong>de</strong> Saes (1985), que por sinal foram orientandos <strong>de</strong> Alice Canabrava na<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia da USP, trazem duas apreciações relativas às duas primeiras teses <strong>de</strong><br />

nossa historiadora: a primeira é <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Fernand Brau<strong>de</strong>l.<br />

No tocante a estas regiões <strong>de</strong>serdadas, no começo <strong>de</strong> sua ru<strong>de</strong> vida<br />

‘colonial’, uma jovem historiadora brasileira, Alice Piffer Canabrava,<br />

formada e orientada, posso assegurar, pela leitura e conhecimento <strong>de</strong> nossos<br />

ANNALES [sic], acaba <strong>de</strong> escrever um livro, seu primeiro livro. Com<br />

satisfação, posso dizer que se trata <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />

(BRAUDEL, Fernando apud MELLO; NOZOÉ e SAES, 1985, p. 176).<br />

A outra é <strong>de</strong> autoria do historiador português Vitorino Magalhães Godinho: “Objeto <strong>de</strong><br />

larga envergadura, ao qual Alice Piffer Canabrava consagrou o estudo talvez o mais notável<br />

da jovem literatura histórica brasileira <strong>de</strong> hoje (...). É verda<strong>de</strong>iramente história no sentido que<br />

a enten<strong>de</strong>mos nos Annales: total, humana” (GODINHO, Vitorino Magalhães apud SAES,<br />

1998, p. 12). Interessante que estas duas apreciações foram publicadas no mesmo ano em que<br />

o artigo supramencionado <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, ou seja, 1948. A<strong>de</strong>mais, as duas<br />

apreciações foram publicadas na revista dos Annales e fazem menção à importância que a<br />

orientação da escola ou movimento dos Annales teve na escrita da <strong>História</strong> Econômica <strong>de</strong><br />

Alice Piffer Canabrava.<br />

Neste sentido, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar que a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia da<br />

USP, em seus primeiros anos, teve a presença <strong>de</strong> professores originários do meio acadêmico<br />

francês e que, posteriormente, seriam figuras centrais no movimento renovador dos Annales.<br />

Desta forma, alguns autores, como Maria Alice Rosa Ribeiro, em artigo <strong>de</strong>dicado às primeiras<br />

pesquisadoras em <strong>História</strong> Econômica no Brasil, apontam a importância <strong>de</strong>sta presença no<br />

modus operandi das teses <strong>de</strong> Alice Canabrava. “Sem dúvida, a matriz teórica e metodológica,<br />

a forma <strong>de</strong> fazer história e a influência das preocupações com os aspectos econômicos vieram<br />

dos Annales” (RIBEIRO, 1999, p. 15).


O artigo supracitado <strong>de</strong> Mello; Nozoe e Saes é uma rápida démarche para analisar, em<br />

um só golpe, as três teses <strong>de</strong> Alice Canabrava. Neste intento, os autores <strong>de</strong>stacam o<br />

tratamento dado às fontes por nossa historiadora: “As três pesquisas têm por base amplo<br />

levantamento <strong>de</strong> fontes primárias. Não apenas as “fontes oficiais” [sic], privilegiadas pela<br />

história positivista, mas todo tipo <strong>de</strong> fonte primária que possa fornecer informações<br />

relevantes” (MELLO; NOZOÉ e SAES, 1985, p. 177). Outro aspecto ressaltado pelos autores,<br />

e que também marca um diferencial das teses <strong>de</strong> Alice Canabrava em relação às obras<br />

produzidas nos anos 30 e 40 do século passado, é a importância concedida à Geografia na<br />

análise histórica: “(...) elemento marcante no plano metodológico é a consi<strong>de</strong>ração minuciosa<br />

dos fatores geográficos pertinentes a cada situação histórica estudada” (MELLO; NOZOÉ e<br />

SAES, 1985, p. 177).<br />

A influência da Geografia nas teses <strong>de</strong> Alice Piffer Canabrava, talvez possa ser<br />

compreendida pelo fato <strong>de</strong> que os cursos <strong>de</strong> <strong>História</strong> e Geografia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,<br />

Ciências e Letras da USP nasceram integrados quando <strong>de</strong> sua fundação em 1934, e que<br />

somente em 1955 é que seriam separados. “O vínculo estreito entre a <strong>História</strong> e a Geografia<br />

aponta para uma outra influência dos Annales, que consi<strong>de</strong>rava impossível pensar a <strong>História</strong><br />

separada da Geografia” (RIBEIRO, 1999, p. 14). Esta forte influência da Geografia,<br />

principalmente com Pierre Monbeig, especialista em Geografia Humana e Econômica, é<br />

confirmada pela própria Alice Canabrava em <strong>de</strong>poimento: “Monbeig e Brau<strong>de</strong>l conquistaram<br />

os estudantes intelectualmente. Quando terminei os três anos <strong>de</strong> curso não tinha idéia [sic] do<br />

que queria fazer – ser geógrafa ou historiadora” (CANABRAVA apud RIBEIRO, 1999, p.<br />

15). Contudo, nenhum <strong>de</strong>stes autores explicita como Alice Piffer Canabrava se apropriou da<br />

Geografia na composição <strong>de</strong> suas teses.<br />

Outro dado relevante apontado por Maria Alice Rosa Ribeiro diz respeito ao fato <strong>de</strong><br />

que Alice Piffer Canabrava foi a primeira mulher a ocupar a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica e<br />

Formação Econômica do Brasil da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia da USP e constituiu-se como “(...)<br />

elo entre a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, on<strong>de</strong> se formou, e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia, on<strong>de</strong> exerceu<br />

sua influência sobre uma nova geração <strong>de</strong> historiadores econômicos, por meio do ensino e da<br />

pesquisa” (RIBEIRO, 1999, p. 17). Este fato po<strong>de</strong> ser interessante, no sentido <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

quais as interferências que este lugar, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia da USP, proporcionou na<br />

escrita da <strong>História</strong> Econômica <strong>de</strong> Alice Canabrava, diferentemente <strong>de</strong> seus trabalhos quando<br />

vinculada à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia.<br />

Prosseguindo no tempo com as apreciações da obra <strong>de</strong> Alice Canabrava, Francisco<br />

Iglésias, em seu último balanço historiográfico, publicado postumamente, ao mencionar a


produção histórica sob os auspícios da universida<strong>de</strong> e da profissionalização do ofício <strong>de</strong><br />

historiador, afirma que “o primeiro nome a ser citado, a nosso ver, é o <strong>de</strong> Alice P. Canabrava,<br />

da primeira turma da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia da USP (...). Dedicou-se à história econômica,<br />

fonte <strong>de</strong> seus mais notáveis trabalhos (...)” (IGLÉSIAS, 2000, p. 231). Assim como em seu<br />

primeiro balanço historiográfico aponta o pioneirismo <strong>de</strong> Alice Canabrava em relação às<br />

gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> síntese da realida<strong>de</strong> econômica brasileira à época, também em seu último<br />

balanço, coloca em primeiro lugar a produção em <strong>História</strong> Econômica <strong>de</strong>sta historiadora,<br />

<strong>de</strong>ntre os mais representativos do período da historiografia brasileira surgida <strong>de</strong>ntro do âmbito<br />

acadêmico.<br />

Portanto, a Historiografia construiu este consenso quanto à obra e à vida <strong>de</strong> Alice<br />

Piffer Canabrava. Consenso este, vale ressaltar, construído em boa medida por intelectuais<br />

que foram seus orientandos. Contudo, no ano passado, Alice Piffer Canabrava completaria<br />

cem anos <strong>de</strong> vida. Por ocasião <strong>de</strong>sta data, a Anpuh, em seu encontro nacional ocorrido em<br />

Julho <strong>de</strong> 2011 na FFLCH da USP, reeditou, juntamente com a Editora da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo (Edusp), sua tese O Desenvolvimento da Cultura do Algodão na Província <strong>de</strong> São<br />

Paulo (1861-1875) 9 . O livro traz instigante apreciação <strong>de</strong> José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda.<br />

Jobson Arruda neste texto intitulado Alice Canabrava: <strong>História</strong> e Mito, ataca vários<br />

pontos <strong>de</strong>sta Historiografia. Em primeiro lugar, quanto à supracitada luta <strong>de</strong> Alice Canabrava<br />

contra o machismo imperante nos primórdios da vida acadêmica brasileira, em especial na<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras da USP, fato este que teria culminado em sua<br />

reprovação no concurso para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>História</strong> da Civilização Americana, obtendo o título<br />

<strong>de</strong> livre-docente com sua tese A Indústria <strong>de</strong> Açúcar nas Ilhas Inglesas e Francesas do Mar<br />

das Antilhas (1697-1755) em 1946. Jobson Arruda rebate o argumento, afirmando que Alice<br />

Canabrava atingiu os mais elevados postos acadêmicos e administrativos na recém-criada<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas e Administrativas da USP (1946) e que o supracitado<br />

episódio teria caráter extremamente pontual. Seria, <strong>de</strong> fato, forçar o argumento afirmar que<br />

Alice Canabrava teria sido um bastião da luta feminina por postos acadêmicos na USP, posto<br />

que os intelectuais que conviveram com ela na condição <strong>de</strong> assistentes – entrevistados por<br />

Jobson Arruda, como Fernando Novais, Fernando Henrique Cardoso, Flávio Saes etc –<br />

apontam que Alice Canabrava compreendia a carreira <strong>de</strong> historiador como um verda<strong>de</strong>iro<br />

sacerdócio, no sentido <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>veria dispor <strong>de</strong> tempo integral para a prática do ofício.<br />

9 A primeira edição <strong>de</strong>sta tese data <strong>de</strong> 1951 e foi publicada em São Paulo pela Indústria Gráfica Siqueira.


Em segundo lugar, a influência dos Annales em sua obra, através da presença dos<br />

assim conhecidos mestres franceses nos anos iniciais da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia da USP, para<br />

Jobson Arruda têm sido superestimado. A presença <strong>de</strong> Fernando Brau<strong>de</strong>l, por exemplo, esteve<br />

ligada à ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>História</strong> da Civilização e sua preocupação primordial era com o ensino e<br />

não em transmitir métodos <strong>de</strong> pesquisa, até mesmo porque sua tese sobre o Mediterrâneo<br />

ainda não havia sido escrita. A<strong>de</strong>mais, no período em que Alice Canabrava foi aluna do curso<br />

<strong>de</strong> graduação em <strong>História</strong> e Geografia, entre os anos <strong>de</strong> 1935 e 1937, a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>História</strong> da<br />

Civilização Brasileira estava a cargo <strong>de</strong> Afonso De Escragnolle Taunay. Neste curso, Taunay<br />

se utilizava do texto clássico <strong>de</strong> Langlois e Seignobos que<br />

(...) continuava a lastrear a formação <strong>de</strong> professores e pesquisadores da<br />

jovem Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia. Fundamentava a obra e as aulas <strong>de</strong> Affonso<br />

Taunay, seu professor <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Brasil, afeiçoado a uma visão mais<br />

tradicional <strong>de</strong> história, utilizava este texto clássico da Escola Metódica que<br />

traduzia os passos típicos da metodologia: pesquisa documental, análise e<br />

síntese histórica, etapas plenamente realizadas nos três trabalhos acadêmicos<br />

<strong>de</strong> maior relevância realizados por Alice (...) (ARRUDA, 2011, p. 46).<br />

Po<strong>de</strong>mos notar a presença <strong>de</strong>ste método através das fontes utilizadas por Alice<br />

Canabrava. Ao contrário do que afirmam Mello, Nozoe e Saes, Alice Canabrava em sua tese<br />

sobre o algodão utilizou-se, como ela mesma afirma no prefácio, <strong>de</strong> fontes oficiais: “A<br />

documentação básica <strong>de</strong>ste trabalho proce<strong>de</strong> da correspondência dos Conselhos Municipais<br />

com o Presi<strong>de</strong>nte da Província e das notícias publicadas pelos jornais na época estudada”<br />

(CANABRAVA, 2011, p. 72). Porém, não fica claro o que Mello; Nozoe e Saes e também<br />

Jobson Arruda, compreen<strong>de</strong>m por fontes oficiais. Em nosso entendimento, os jornais não<br />

parecem ser fontes oficiais 10 .<br />

No que tange ao uso da Geografia, nenhum dos autores supracitados, exceto Jobson<br />

Arruda, expõe como Alice Canabrava efetivamente fez uso da Geografia em suas teses.<br />

Apenas mencionam o fato <strong>de</strong> que ela o fez e que isso foi influência dos Annales. Contudo,<br />

quando a tese O Mediterrâneo <strong>de</strong> Fernand Brau<strong>de</strong>l foi publicada em 1949, a tese <strong>de</strong> Alice<br />

10 Para Alice Canabrava, neste trabalho, os jornais servem como complemento às fontes governamentais: “(...) é<br />

principalmente o jornal, com sua linguagem viva e colorida, que melhor nos da [sic] a conhecer o clima<br />

psicológico da Província, nos anos do rush [sic] do algodão, os entusiasmos e as <strong>de</strong>cepções dos plantadores e<br />

comerciantes do produto, as apreciações cheias <strong>de</strong> sabor do homem da rua, representado tantas vezes na figura<br />

anônima, mas profundamente sugestiva, do correspon<strong>de</strong>nte da cida<strong>de</strong>. A riqueza do documentário do jornal nos<br />

permitiu suprir, muitas vezes, certas lacunas das fontes <strong>de</strong> procedência municipal.” (CANABRAVA, Alice<br />

Piffer, op. cit, p. 72). Fica claro que para Canabrava o jornal consegue acessar aspectos importantes da vida<br />

cotidiana e até o clima psicológico do momento, que jamais po<strong>de</strong>riam ser captados pelas fontes oficiais. Não<br />

po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o que representava naquele período, cada um dos jornais utilizados por Canabrava,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo que “(...) o conteúdo em si não po<strong>de</strong> ser dissociado do lugar ocupado pela publicação (...)”<br />

(LUCA, Tania Regina <strong>de</strong>. <strong>História</strong> dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes<br />

Históricas. São Paulo: Contexto, 2008, p. 139).


Canabrava sobre o algodão já se encontrava em estágio avançado <strong>de</strong> elaboração. A<strong>de</strong>mais, na<br />

perspectiva brau<strong>de</strong>liana o fator geográfico assumia papel <strong>de</strong> personagem histórico central.<br />

Segundo Jobson Arruda, nesta tese <strong>de</strong> Alice Canabrava, “A Geografia surge aí mais como<br />

pano <strong>de</strong> fundo, conjunto <strong>de</strong> elementos a favorecer ou constranger as ativida<strong>de</strong>s econômicas,<br />

mas nunca como interação complexa homem/natureza” (ARRUDA, 2011, p. 53).<br />

Jobson Arruda aponta ainda outros fatores que não permitem a qualificação direta<br />

<strong>de</strong>sta tese <strong>de</strong> Alice Canabrava com as proposituras da escola dos Annales: o não uso da<br />

<strong>História</strong> quantitativa segundo as orientações <strong>de</strong> Ernest Labrousse, que não aparece em seus<br />

trabalhos, tão caro ao grupo dos Annales, e também a estrutura temporal <strong>de</strong> sua tese,<br />

extremamente linear, on<strong>de</strong> “(...) os tempos não se superpõem, não dialogam entre si”<br />

(ARRUDA, 2011, p. 54), aparecendo em uma sucessão <strong>de</strong> causas e conseqüências.<br />

Por fim, Jobson Arruda aponta que talvez as duas primeiras teses <strong>de</strong> Alice Canabrava<br />

pu<strong>de</strong>ssem ser tomadas como representativas da proposta dos Annales naquele momento. A<br />

boa recepção da tese <strong>de</strong> Canabrava sobre o comércio no estuário do Rio da Prata exposta<br />

acima, <strong>de</strong>ve ser pon<strong>de</strong>rada, pois na mesma apreciação, Brau<strong>de</strong>l sugere que o problema<br />

abordado por Canabrava <strong>de</strong>veria ser inserido em uma lógica <strong>de</strong> história total, na “ampla<br />

história da América, do mundo e do Atlântico”. Neste sentido, conclui Jobson Arruda: “A tese<br />

<strong>de</strong> cátedra é um low-key, um trabalho menor, que não faz jus aos dois primeiros estudos, nem<br />

à autora (...)” (ARRUDA, 2011, p. 56).<br />

Quanto à tese <strong>de</strong> José Roberto do Amaral Lapa, esta possui duas peculiarida<strong>de</strong>s<br />

quando comparada às duas outras teses, que po<strong>de</strong>m nos indicar algo sobre os procedimentos e<br />

práticas que propiciaram sua escrita: foi a primeira tese <strong>de</strong> <strong>História</strong> escrita no interior do<br />

Estado <strong>de</strong> São Paulo, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Marília, ou seja, fora da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras da USP, sob a orientação <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong><br />

Holanda. A<strong>de</strong>mais, Amaral Lapa não se formou na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia da USP, mas sim<br />

no curso <strong>de</strong> <strong>História</strong> e Geografia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia da Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong><br />

Campinas em 1952. Compreen<strong>de</strong>mos que este lugar, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia <strong>de</strong> Marília,<br />

proporcionou à Amaral Lapa práticas científicas e uma escrita da <strong>História</strong> Econômica<br />

diferenciada das teses produzidas na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia da USP.<br />

O texto <strong>de</strong> Lucia Maria Paschoal Guimarães (2011), que nos oferece um panorama da<br />

<strong>História</strong> da Historiografia no Brasil a partir da produção <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, José<br />

Honório Rodrigues e Francisco Iglésias, traz um interessante apontamento que po<strong>de</strong> nos servir<br />

<strong>de</strong> subsídio para pensarmos a importância <strong>de</strong>ste lugar, ou seja, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia <strong>de</strong><br />

Marília, na escrita da <strong>História</strong> Econômica <strong>de</strong> José Roberto do Amaral Lapa. A<strong>de</strong>mais, seu


texto traz outra proposta interessante: pensar a extensão da influência do IHGB na escrita da<br />

<strong>História</strong> do Brasil para além do ano <strong>de</strong> 1931.<br />

Quando Lucia Guimarães trata <strong>de</strong> seu último autor analisado, Francisco Iglésias, faz aí<br />

uma contribuição para a cronologia da <strong>História</strong> da Historiografia brasileira. Francisco Iglésias<br />

propõe uma divisão cronológica para a Historiografia brasileira. Em um <strong>de</strong>stes períodos,<br />

Iglésias estabelece como marco, os anos <strong>de</strong> 1838 e <strong>de</strong> 1931. Quanto ao primeiro marco, Lucia<br />

Guimarães não vê problemas, posto que este é o ano da criação do Instituto Histórico e<br />

Geográfico Brasileiro (IHGB), que será <strong>de</strong> suma importância para a escrita da <strong>História</strong> do<br />

Brasil no século XIX e décadas iniciais do século XX. Contudo, quanto ao ano <strong>de</strong> 1931, Lucia<br />

Guimarães tece algumas consi<strong>de</strong>rações. Para ela, a influência do IHGB vai para além da<br />

reforma <strong>de</strong> ensino supracitada <strong>de</strong> Francisco Campos. Isso se evi<strong>de</strong>ncia pelo fato <strong>de</strong> que<br />

durante o <strong>IV</strong> Congresso <strong>de</strong> <strong>História</strong> Nacional do IHGB, ocorrido em 1949, temos a presença<br />

<strong>de</strong> vários trabalhos provenientes da Universida<strong>de</strong>, que buscam neste evento certa legitimação,<br />

como os trabalhos, por exemplo, <strong>de</strong> Alice Canabrava e Olga Pantaleão 11 . O que Lucia<br />

Guimarães propõe é que este marco seja alongado até o ano <strong>de</strong> 1961, posto que até esta data o<br />

IHGB ainda continua sendo, segundo ela, o legitimador da produção historiográfica brasileira.<br />

Mas por que 1961? Para esta autora, é quando a produção acadêmica realmente se<br />

torna predominante e temos um evento extremamente marcante para a comunida<strong>de</strong> dos<br />

historiadores: o I Simpósio <strong>de</strong> Professores <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Ensino Superior, que se realizou<br />

entre 15 e 20 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1961 na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Marília.<br />

Este evento passou a ser conhecido como Congresso <strong>de</strong> Marília e nele <strong>de</strong>u-se a fundação da<br />

Associação dos Professores Universitários <strong>de</strong> <strong>História</strong> (Apuh), atual Associação Nacional <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> (Anpuh). Durante o evento, discutiu-se acerca <strong>de</strong> vários aspectos caros à comunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> historiadores. Algumas recomendações foram dadas para que as Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Filosofia<br />

adotassem outro regime <strong>de</strong> pós-graduação, distintos dos cursos <strong>de</strong> especialização existentes. O<br />

que mais nos interessa aqui é <strong>de</strong>marcar que no ano <strong>de</strong> 1971 houve a estruturação <strong>de</strong> nosso<br />

atual sistema <strong>de</strong> pós-graduação, e que várias das recomendações feitas <strong>de</strong>z anos atrás, se<br />

concretizaram.<br />

A produção <strong>de</strong> José Roberto do Amaral Lapa, assim como a <strong>de</strong> Alice Piffer<br />

Canabrava, é extremamente ampla, mas nos <strong>de</strong>teremos aqui em sua produção <strong>de</strong> <strong>História</strong><br />

Econômica. Destarte este fato, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar que a principal referência<br />

11 GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. <strong>IV</strong> Congresso <strong>de</strong> <strong>História</strong> Nacional: tendências e perspectivas da<br />

história do Brasil colonial (Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1949). Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong>. São Paulo, v. 24, n. 48, pp.<br />

145-170, 2004.


encontrada em relação aos trabalhos <strong>de</strong> Amaral Lapa, é sua produção voltada à <strong>História</strong> da<br />

Historiografia brasileira. Sua primeira produção neste sentido foi o livro publicado em 1976,<br />

fruto <strong>de</strong> seu curso <strong>de</strong> Historiografia brasileira ministrado para a primeira turma do programa<br />

<strong>de</strong> pós-graduação em <strong>História</strong> da UNICAMP, sob o título <strong>de</strong> A <strong>História</strong> em Questão.<br />

Historiografia brasileira contemporânea 12 , on<strong>de</strong> trata da produção historiográfica<br />

universitária. Seu segundo trabalho na área é <strong>História</strong> e Historiografia. Brasil pós-64 13 ,<br />

publicado em 1985. Trata da produção historiográfica pós 1964 e procura diagnosticar os<br />

efeitos da instauração do regime militar sobre a produção historiográfica brasileira.<br />

A tese supracitada inaugura seus estudos em <strong>História</strong> Econômica e também uma nova<br />

temática <strong>de</strong>ntro dos estudos da área. Até meados dos anos 60 do século passado,<br />

observávamos o predomínio da temática relacionada às relações metrópole-colônia,<br />

inaugurada principalmente com os trabalhos <strong>de</strong> Caio Prado Junior. Segundo José Jobson <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong> Arruda,<br />

El <strong>de</strong>sarollo <strong>de</strong> esta temática agudizó el interes por las relaciones<br />

comerciales <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>l império português, la cuantificación <strong>de</strong>l lucro <strong>de</strong>l<br />

monopólio, la diversidad <strong>de</strong> la economia colonial al final <strong>de</strong>l siglo XVIII, la<br />

relación entre el aflujo <strong>de</strong> oro y la balanza comercial entre Portugal e<br />

Inglaterra, la itensificación <strong>de</strong>l comercio inter-colonial, especialmente <strong>de</strong> la<br />

Carrera <strong>de</strong> las Indias (ARRUDA, 1998, p. 374).<br />

Dentre as obras que abordam estas temáticas, Jobson Arruda faz referência a algumas<br />

em especial: O Brasil no Comércio Colonial (tese <strong>de</strong> doutoramento <strong>de</strong> 1972, publicada na<br />

forma <strong>de</strong> livro em 1980) <strong>de</strong> sua própria autoria; O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-<br />

Português <strong>de</strong> Virgilio Noya Pinto (1979); Colonização e Monopólio no Nor<strong>de</strong>ste Brasileiro<br />

<strong>de</strong> José Ribeiro <strong>Júnior</strong>; publicada em 1976; A Bahia e a Carreira da Índia <strong>de</strong> José Roberto do<br />

Amaral Lapa (publicada em 1968 na forma <strong>de</strong> livro, fruto <strong>de</strong> sua tese <strong>de</strong> doutoramento<br />

<strong>de</strong>fendida em 1966) e A Época Pombalina <strong>de</strong> Francisco Calazans Falcon (publicada em<br />

1982).<br />

A tese <strong>de</strong> Amaral Lapa inaugura este período da produção em <strong>História</strong> Econômica<br />

preocupada não somente com as relações entre a metrópole e a colônia, mas também com as<br />

relações inter coloniais.<br />

Quando da publicação <strong>de</strong> sua tese em livro em 1968 na coleção brasiliana coor<strong>de</strong>nada<br />

por Américo Jacobina Lacombe, encontramos várias apreciações. Na apresentação do livro, o<br />

próprio Américo Jacobina Lacombe, <strong>de</strong>staca alguns aspectos da obra. Dentre eles, o fato <strong>de</strong><br />

12<br />

LAPA, José Roberto do Amaral. A <strong>História</strong> em questão. Historiografia brasileira contemporânea. Petrópolis:<br />

Vozes, 1976.<br />

13<br />

LAPA, José Roberto do Amaral. <strong>História</strong> e Historiografia. Brasil pós-64. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1985.


que o trabalho <strong>de</strong> Amaral Lapa baseou-se no levantamento <strong>de</strong> uma ampla gama <strong>de</strong> fontes<br />

primárias. Por isso, segundo Américo Lacombe, a obra <strong>de</strong> Amaral Lapa acaba com “(...) a era<br />

das improvisações e das compilações <strong>de</strong>scoor<strong>de</strong>nadas” 14 .<br />

Ainda com respeito à temática inovadora e ao método utilizado, Maria Alice Rosa<br />

Ribeiro, em artigo publicado em homenagem à Amaral Lapa – ou como era conhecido entre<br />

seus alunos, prof. Lapa – por conta <strong>de</strong> sua morte no ano 2000, afirma<br />

Para elaborar sua tese, fez pesquisas no Arquivo Nacional do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

e no Arquivo Público Estadual da Bahia. Nela procurou i<strong>de</strong>ntificar as<br />

relações entre o porto da Bahia e o comércio <strong>de</strong> Portugal com o Oriente,<br />

através da gran<strong>de</strong> rota marítima estabelecida pelos portugueses nos oceanos<br />

Atlântico e Índico, ligando Lisboa a Goa. Estas pesquisas tiveram<br />

prosseguimento em Portugal e na Espanha (RIBEIRO, 2000, p. 161).<br />

Po<strong>de</strong>mos notar pela análise <strong>de</strong> Maria Alice Rosa Ribeiro, que a tese <strong>de</strong> Amaral Lapa<br />

não se contentou em buscar as relações entre o porto da Bahia e o porto <strong>de</strong> Lisboa, ou as<br />

relações econômicas do porto da Bahia com o porto <strong>de</strong> Portugal, mas sim, sua análise toma<br />

um caráter ultramarino ao relacionar o porto da Bahia com o comércio <strong>de</strong> Portugal no Oriente.<br />

A<strong>de</strong>mais, suas pesquisas se fundamentaram em importante coleta e análise <strong>de</strong> fontes primárias<br />

provenientes dos arquivos <strong>de</strong> Lisboa, Arquivo Histórico Ultramarino e Arquivo Nacional da<br />

Torre do Tombo.<br />

Outra apreciação que não po<strong>de</strong>ria estar ausente, posto que o estudo <strong>de</strong> Amaral Lapa<br />

está inserido predominantemente na área <strong>de</strong> <strong>História</strong> Econômica, é a <strong>de</strong> Francisco Iglésias,<br />

também quando da publicação do livro <strong>de</strong> Amaral Lapa.<br />

(...) a tese me agradou plenamente. O tema é importante, revelando no autor<br />

luci<strong>de</strong>z e compreensão histórica já na escolha do assunto. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento é muito bom. Trabalho fundado em pesquisa ampla e bem<br />

conduzida, é atestado <strong>de</strong> amadurecida vivência <strong>de</strong> problemas históricos. A<br />

obra é padrão historiográfico, impondo-se pelo tema, pelo método, pela<br />

pesquisa, pela inteligência crítica 15 .<br />

A obra também teve acolhida em âmbito internacional, por importante historiador<br />

ligado à história quantitativa. Em apreciação contida na segunda orelha do livro, Pierre<br />

Chaunu classifica o trabalho <strong>de</strong> Amaral Lapa como “(...) belo e substancioso estudo<br />

consagrado a um capítulo da gran<strong>de</strong> história atlântica.”<br />

Por fim, a tese <strong>de</strong> doutoramento <strong>de</strong> José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda, intitulada O<br />

Brasil no Comércio Colonial, <strong>de</strong>fendida em 1972 na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Letras e Ciências<br />

Humanas da USP. Interessante pontuar que no ano <strong>de</strong> 1971 tivemos a implantação <strong>de</strong> nosso<br />

14 Citação extraída da primeira orelha do livro.<br />

15 Citação extraída da segunda orelha do livro.


atual sistema <strong>de</strong> pós-graduação, e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras da USP já<br />

possuía novo nome: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Talvez estes eventos<br />

tenham influenciado na escrita da <strong>História</strong> Econômica <strong>de</strong> Jobson Arruda.<br />

Em geral, o que encontramos acerca <strong>de</strong>sta tese caminha no sentido <strong>de</strong> utilizá-la<br />

enquanto referência bibliográfica em estudos relacionados à economia colonial. Um <strong>de</strong>les, por<br />

exemplo, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Luiz Paulo Ferreira Nogueról, publicado em 2005 nos Ensaios FEE <strong>de</strong><br />

Porto Alegre, ressalta que o trabalho <strong>de</strong> Jobson Arruda questionou as interpretações acerca da<br />

economia colonial até então vigentes antes <strong>de</strong> sua tese doutoral. Estes estudos anteriores<br />

relacionavam a bonança da economia colonial ao crescimento das receitas <strong>de</strong> exportação<br />

provenientes <strong>de</strong> algum produto dominante e sua <strong>de</strong>rrocada seria relacionada à queda das<br />

receitas com as exportações <strong>de</strong>ste mesmo produto. Jobson Arruda<br />

(...) indicou, por meio dos dados da balança comercial portuguesa entre a<br />

década <strong>de</strong> 80 do século XVIII e 1807, a diversificação das exportações<br />

brasileiras para Portugal e seu aumento em volumes e valores, <strong>de</strong>slocando a<br />

recuperação econômica pós-mineração para o final do século XVIII<br />

(NOGUERÓL, 2005, p. 11).<br />

Nogueról aponta aqui para o fato <strong>de</strong> que estudos anteriores não conseguiram captar a<br />

diversificação da pauta exportadora brasileira. Po<strong>de</strong>mos inferir também que uma das fontes<br />

utilizadas por Jobson Arruda em sua tese foi a balança comercial portuguesa do período.<br />

A<strong>de</strong>mais, trabalhos que tratem do período 1796-1808, recorte temporal da tese <strong>de</strong> Jobson<br />

Arruda, não po<strong>de</strong>m prescindir <strong>de</strong> citar os dados por ele obtidos; caso do artigo recente <strong>de</strong> Vera<br />

Lucia Amaral Verlini, publicado em 2009 no periódico Anais do Museu Paulista 16 .<br />

Outros trabalhos apontam ainda para o fato <strong>de</strong> que José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda,<br />

parte das teses <strong>de</strong> Caio Prado Junior e Fernando Novais, aprofundando-as e problematizando-<br />

as. É o que encontramos em tese <strong>de</strong> Maximiliano M. Menz acerca da formação do Rio Gran<strong>de</strong><br />

durante a Crise do Antigo Sistema Colonial, <strong>de</strong>fendida em 2006 no programa <strong>de</strong> pós-<br />

graduação em <strong>História</strong> Econômica da USP. “O mo<strong>de</strong>lo foi frutífero e diversos autores<br />

escreveram trabalhos que problematizaram e aprofundaram as teses <strong>de</strong> Caio Prado e Fernando<br />

Novais. Destaquem-se aqui o livro <strong>de</strong> Jobson Arruda, sobre o Brasil e o comércio colonial<br />

(...)” (MENZ, 2006, p. 7).<br />

Mas, para além da continuação da tradição inaugurada por Caio Prado e Fernando<br />

Novais, alguns autores ressaltam a importância do método utilizado por Jobson Arruda para a<br />

confecção <strong>de</strong> sua tese. Stuart Schwartz, por exemplo, em artigo publicado no ano <strong>de</strong> 2009<br />

16 FERLINI, Vera Lucia Amaral. Uma capitania dos novos tempos: economia, socieda<strong>de</strong> e política na São Paulo<br />

restaurada (1765-1822). Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 17, n. 2, pp. 237-250, 2009.


acerca da produção historiográfica das duas últimas décadas, afirma que a tese <strong>de</strong> Fernando<br />

Novais<br />

(...) foi corroborada, <strong>de</strong> maneira mais formal e quantitativa, por uma série <strong>de</strong><br />

estudos realizados por José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda e por outros<br />

pesquisadores que adotaram o paradigma preconizado por Novais e o<br />

reforçaram com uma base <strong>de</strong> dados sólida ou por uma análise econômica<br />

mais formal (SCHWARTZ, 2009, p. 210).<br />

Aqui Schwartz <strong>de</strong>staca a importância dos métodos quantitativos para a escrita da tese<br />

<strong>de</strong> Jobson Arruda.<br />

Contudo, talvez, Jobson Arruda não pu<strong>de</strong>sse ter dado este tratamento quantitativo à<br />

suas fontes se as mesmas não tivessem sido as balanças <strong>de</strong> comércio <strong>de</strong> Portugal e seus<br />

domínios, produzidas ininterruptamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1796. Interessante notar que estas fontes<br />

geraram em Jobson Arruda certo “dilema” metodológico, exposto logo na introdução <strong>de</strong> sua<br />

tese, que, aliás, procura <strong>de</strong>monstrar explicitamente quais foram suas escolhas, entre <strong>História</strong><br />

quantitativa e <strong>História</strong> serial.<br />

Obviamente, tal tipo <strong>de</strong> documentação <strong>de</strong> certa forma po<strong>de</strong>ria ter<br />

condicionado o método a ser adotado. Tinha que ser um método quantitativo.<br />

O problema era saber qual. A moda <strong>de</strong> Labrousse? Na linha <strong>de</strong> Hamilton?<br />

Como o faria Jean Marczewski? Ou como o faria Pierre Chaunu? Eis o<br />

primeiro problema: <strong>de</strong>finir-se, em termos <strong>de</strong> história “quantitativa” [sic] ou<br />

história “serial” [sic] (ARRUDA, 1972, p. I).<br />

José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda também menciona o fato <strong>de</strong> que a análise exigiu a<br />

aplicação <strong>de</strong> técnicas estatísticas, especificamente o método dos mínimos quadrados, e<br />

também o uso <strong>de</strong> computadores para dar maior precisão aos cálculos. Aliás, o próprio<br />

subtítulo <strong>de</strong> sua tese po<strong>de</strong> nos fornecer alguma pista sobre suas escolhas metodológicas e seus<br />

intentos: “contribuição ao estudo quantitativo da economia colonial.”<br />

Algumas reflexões finais<br />

Ao longo do artigo procuramos <strong>de</strong>monstrar quão enriquecedora po<strong>de</strong> ser uma<br />

abordagem sobre a <strong>História</strong> Econômica que parta das principais contribuições da Teoria da<br />

<strong>História</strong> ou da <strong>História</strong> da Historiografia. Outras análises também seriam possíveis, como por<br />

exemplo, tentar estabelecer a existência <strong>de</strong> alguma teoria econômica nas três teses, mas<br />

fizemos questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar nossa escolha epistemológica.<br />

Não queremos aqui renegar o diálogo da <strong>História</strong> Econômica com a Ciência<br />

Econômica. Queremos apenas mostrar que outros diálogos também são possíveis e po<strong>de</strong>m


trazer a <strong>História</strong> Econômica para mais perto dos historiadores. Acreditamos que é possível<br />

fazer-se uma <strong>História</strong> Econômica consistente e que consiga dialogar com outros aspectos do<br />

conhecimento, que não apenas o econômico. A<strong>de</strong>mais, o uso <strong>de</strong> certos instrumentais<br />

analíticos, como os avançados métodos econométricos utilizados pela Nova <strong>História</strong><br />

Econômica estaduni<strong>de</strong>nse, apenas faz afastar ainda mais os praticantes <strong>de</strong>sta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> seus colegas historiadores. Será realmente que para se inferir a importância das<br />

ferrovias para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico dos EUA, é mesmo necessário alçar vôos <strong>de</strong><br />

tamanha abstração com mo<strong>de</strong>lagens apenas compreensíveis pelos mais especializados?<br />

A Ciência Econômica também tem sua parcela <strong>de</strong> “culpa” neste estado <strong>de</strong> coisas, pois<br />

cada vez mais tem se afastado <strong>de</strong> seu caráter <strong>de</strong> disciplina Humana e se entregado às<br />

veleida<strong>de</strong>s das gran<strong>de</strong>s abstrações econométricas. Talvez este tipo <strong>de</strong> <strong>História</strong>, sim, possa ser<br />

qualificado <strong>de</strong> ficção, apesar <strong>de</strong> seus a<strong>de</strong>ptos consi<strong>de</strong>rarem esta afirmação extremamente<br />

herética, pois ainda parecem estar presos à busca da <strong>História</strong> por cientificida<strong>de</strong> e encontraram<br />

nos números e nas abstrações matemáticas seu gran<strong>de</strong> acalanto. Po<strong>de</strong>mos cair em um tipo <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>, como nos alerta Carlo Ginzburg, “<strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> carne e sangue.”<br />

A renovação da <strong>História</strong> Econômica não está em se isolar em um círculo <strong>de</strong><br />

especialistas, mas sim em buscar contribuições em outras pradarias. O brilhante estudo <strong>de</strong><br />

Giovanni Lévi intitulado A Herança Imaterial, tem muito a dizer aos historiadores econômicos.<br />

Lévi, ao analisar os preços em Santena no século XVII, constatou que os mesmos não eram<br />

<strong>de</strong>terminados pelos movimentos <strong>de</strong> oferta e <strong>de</strong>manda, mas sim pelas relações sociais entre<br />

compradores e ven<strong>de</strong>dores fora do mercado, ou seja, um mesmo produto po<strong>de</strong>ria ter um preço<br />

para um parente, um outro para um vizinho etc. Os historiadores tem muito à apren<strong>de</strong>r com a<br />

micro-história italiana 17 . Por que então temer os avanços da <strong>História</strong> Cultural se esta po<strong>de</strong><br />

contribuir para a renovação da <strong>História</strong> Econômica, trazendo novos elementos para a análise?!<br />

Mesmo ainda em etapa preliminar, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>rivar algumas conclusões <strong>de</strong> nossa<br />

pesquisa: em relação à tese <strong>de</strong> cátedra <strong>de</strong> Alice Canabrava, a Historiografia tem<br />

superestimado seu papel como possível militante do feminismo na USP e também quanto à<br />

influência dos Annales. A tese <strong>de</strong> José Roberto do Amaral Lapa faz-se pioneira em dois<br />

sentidos: quanto à temática e pelo fato <strong>de</strong> que foi a primeira tese <strong>de</strong> doutorado em <strong>História</strong><br />

<strong>de</strong>fendida na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Marília, orientada por Sérgio<br />

Buarque <strong>de</strong> Holanda. Quanto a José Jobson <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Arruda, o fato <strong>de</strong> que a <strong>História</strong><br />

17 LÉVI, Giovvani. A Herança Imaterial. Trajetória <strong>de</strong> um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.


quantitativa estava em seu auge quando da escrita <strong>de</strong> sua tese, po<strong>de</strong> nos apontar algo <strong>de</strong> sua<br />

inserção metodológica e institucional.<br />

O mais importante aqui é que para além <strong>de</strong> se empreen<strong>de</strong>r balanços acerca do estado<br />

das artes da <strong>História</strong> Econômica no Brasil, ou procurar novas formas <strong>de</strong> fazer <strong>História</strong><br />

Econômica, estudos sobre a <strong>História</strong> Econômica brasileira a partir <strong>de</strong> noções como operação<br />

historiográfica e regimes <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m trazer importantes reflexões ao campo,<br />

principalmente no que tange aos procedimentos <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong>sta <strong>História</strong> Econômica e da<br />

temporalida<strong>de</strong> presente em cada texto, elementos tão caros ao ofício <strong>de</strong> historiador.<br />

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