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Fábio Francisco de Almeida Castilho - USP

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Resumo:<br />

ECONOMIA SUL-MINEIRA: ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES<br />

REGIONAIS NO INÍCIO DO SÉCULO XX.<br />

<strong>Fábio</strong> <strong>Francisco</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong> <strong>Castilho</strong><br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho – UNESP/Franca<br />

Bolsista Fapesp<br />

fabiofacastilho@hotmail.com<br />

No presente artigo buscamos assinalar algumas características da economia sul-<br />

mineira, região que se <strong>de</strong>stacou como produtora cafeeira na passagem para o XX. Ao<br />

abordamos o Sul <strong>de</strong> Minas no final do século XIX nos <strong>de</strong>paramos com uma <strong>de</strong>mografia<br />

dinâmica e em transformação, marcada pela gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

cativa. Ao voltarmos nossos olhos para esta última característica nos questionamos o<br />

que proporcionou tal condição <strong>de</strong>mográfica, ou melhor, qual o elemento <strong>de</strong> produção<br />

que atraia e fixava esta abundante massa trabalhadora? A resposta <strong>de</strong>sta questão está<br />

alicerçada na tradicional produção <strong>de</strong> alimentos e criação <strong>de</strong> animais que existiu na<br />

região e era responsável pelo abastecimento do mercado intra e interprovincial <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

meados do século XVIII e exigia uma volumosa mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

No entanto, mudanças significativas ocorreram no país ao longo da segunda<br />

meta<strong>de</strong> do século XIX, principalmente <strong>de</strong>vido à expansão cafeeira que se espalhava<br />

pelo su<strong>de</strong>ste, chegando ao Sul <strong>de</strong> Minas na virada do século e provocando profundas<br />

modificações na economia regional. O Sul <strong>de</strong> Minas incrementou sua produção cafeeira<br />

<strong>de</strong>corrente da expansão da rubiácea no Oeste <strong>de</strong> São Paulo e investiu no melhoramento<br />

<strong>de</strong> seu transporte ferroviário. Assim, a cafeicultura foi <strong>de</strong>cisiva na dinamização da vida<br />

econômica da região e acelerou mudanças que vinham se operando no território mineiro<br />

nas últimas décadas do século.<br />

O Sul <strong>de</strong> Minas era uma área <strong>de</strong> fronteira, rica em terras férteis e baratas e<br />

passou a ser procurado como terreno a<strong>de</strong>quado para abrirem fazendas <strong>de</strong> café em seu<br />

território. Nosso intuito é <strong>de</strong>svelar a chegada e propagação do café pelo Sul <strong>de</strong> Minas.<br />

Na data baliza <strong>de</strong> nossa pesquisa, 1870, a produção <strong>de</strong> café ainda não era a principal da<br />

região, mas ao longo do período em evidência, 1870 a 1930, o café ganhou forças e o<br />

Sul <strong>de</strong> Minas se tornou uma das principais regiões produtoras do estado.<br />

Palavras-chave: Sul <strong>de</strong> Minas; Café; Economia.<br />

1


Introdução<br />

No Brasil da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX um vasto cenário <strong>de</strong> mudanças se<br />

apresentava, o país precisava a<strong>de</strong>quar-se a uma série <strong>de</strong> “i<strong>de</strong>ias novas” que já haviam<br />

assolado a Europa e os Estados Unidos e espalhava-se agora para o restante do oci<strong>de</strong>nte.<br />

Trata-se da expansão do liberalismo e do capitalismo que traziam consigo aspectos<br />

mo<strong>de</strong>rnizantes para o país, como: a abolição da escravidão, o republicanismo, a<br />

urbanização, a expansão cafeeira, a ampliação <strong>de</strong> linhas férreas, etc. Uma série <strong>de</strong><br />

alterações sociais, culturais, econômicas e políticas que se alastravam por todo território<br />

nacional. 1<br />

Conforme Ângela Alonso consi<strong>de</strong>ra, a partir <strong>de</strong> 1870, o Brasil aparecia em meio<br />

aos impasses e dilemas <strong>de</strong> uma crise <strong>de</strong> transição: “da economia escravista ao trabalho<br />

livre, <strong>de</strong> um regime político aristocrático a outro mais <strong>de</strong>mocrático, <strong>de</strong> uma monarquia<br />

católica a um estado laico e representativo”. 2 Todos esses elementos convergiam em<br />

uma aceleração do ritmo natural das mudanças na economia, na estrutura social e no<br />

sistema <strong>de</strong> representação política.<br />

No âmbito econômico, <strong>de</strong> acordo com Boris Fausto, nos últimos <strong>de</strong>cênios do<br />

século XIX importantes modificações nas bases da economia brasileira estavam em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Destaca-se a expansão da lavoura cafeeira na região do Centro-Sul,<br />

caracterizando um período <strong>de</strong> intensa ativida<strong>de</strong> mercantil/financeira que permitiu um<br />

surto <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> urbano-industrial. De fato, iniciava-se uma nova fase expansiva<br />

do ciclo <strong>de</strong> acumulação no país ativada pelo Estado e diretamente ligado ao<br />

financiamento externo, com consequente penetração do controle estrangeiro da<br />

economia, especialmente do capitalismo inglês, propiciando, por um lado, o avanço das<br />

instalações <strong>de</strong> infra-estrutura da economia agroexportadora, pela expansão da re<strong>de</strong><br />

ferroviária e melhoria dos portos e, por outro lado, permitindo a instalação <strong>de</strong> fábricas<br />

<strong>de</strong> produtos consumidos internamente (alimentação e tecelagem) e certa expansão nos<br />

setores urbanos <strong>de</strong> serviços. 3<br />

Como consequência, a socieda<strong>de</strong> brasileira da época dinamizou-se gran<strong>de</strong>mente.<br />

No plano estrutural, os processos que mais refletiram esta dinamização foram o<br />

crescimento das cida<strong>de</strong>s e as migrações. Tomando-se o período <strong>de</strong> 1872 a 1920, a<br />

1<br />

HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira: Do Império à República. v. 7.<br />

t. 2. 8ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand. 2006<br />

2<br />

ALONSO, Ângela. Idéias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e<br />

Terra; 2002.<br />

3<br />

FAUSTO, Boris. (dir.). História Geral da Civilização Brasileira: Estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e economia<br />

(1889-1930). V.8. t.3. 8ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand. 2006.<br />

2


evolução do grau <strong>de</strong> urbanização do Brasil transformava-se profundamente, conforme<br />

tabela 1.<br />

Censo População<br />

total<br />

Tabela 1: Grau <strong>de</strong> urbanização do Brasil (1872-1920)<br />

Cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 50<br />

mil habitantes<br />

ou mais<br />

Cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 100<br />

mil habitantes<br />

ou mais<br />

Cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 500<br />

mil habitantes<br />

ou mais<br />

População urbana ou<br />

mais<br />

N População N População N População 50 100 500<br />

mil mil mil<br />

1872 9.930.478 4 582.749 3 520.752 - - 5,9 5,6 -<br />

1890 14.333.915 6 976.038 3 808.619 - - 6,8 5,6 -<br />

1900 17.438.434 8 1.644.149 4 1.370.182 - - 9,4 7,9 -<br />

1920 30.635.605 15 3.287.448 6 2.674.836 1 1.157.873 10,7 8,7 3,8<br />

Fonte: LOPES, Juarez Brandão. Desenvolvimento e mudança social. São Paulo: Ed. Nacional. 1972.<br />

Apud FAUSTO, Boris. op.cit. p.23.<br />

Por esta senda, Maria Isaura Pereira Queiroz <strong>de</strong>staca que a partir da segunda<br />

meta<strong>de</strong> do século XIX e durante todo o período da República Velha, teve lugar no Sul<br />

do país, principalmente nas regiões enriquecidas pelo café, um importante surto <strong>de</strong><br />

urbanização juntamente com um crescimento <strong>de</strong>mográfico rápido, processos que<br />

proce<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> muito no Brasil à industrialização. 4<br />

De acordo com Alonso, a acumulação interna mais os vultosos empréstimos<br />

ingleses financiaram a urbanização e atraíram a população para as maiores cida<strong>de</strong>s. A<br />

população do país, estimada em sete milhões em 1850, tinha crescido, somando cerca <strong>de</strong><br />

nove milhões em 1872, e estava dividida equitativamente entre norte e sul, sinalizando o<br />

crescimento <strong>de</strong> áreas como São Paulo, que ganhavam contingente, seja pelo tráfico<br />

interprovincial, seja pela imigração. Por razões contrárias, a crise dos engenhos <strong>de</strong><br />

açúcar acentuara a urbanização ao norte.<br />

A mo<strong>de</strong>rnização da infra-estrutura trouxe, ainda, consequências políticas<br />

inadvertidas. As estradas <strong>de</strong> ferro e o telégrafo implicaram uma verda<strong>de</strong>ira revolução na<br />

lógica da ativida<strong>de</strong> econômica, do <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> pessoas e da divulgação <strong>de</strong><br />

informações. Alteraram as relações econômicas e políticas das províncias entre si e com<br />

o centro. A queda do preço das passagens e a diminuição do tempo <strong>de</strong> viagem<br />

<strong>de</strong>mocratizaram relativamente a mobilida<strong>de</strong> física do Império. Novos processos técnicos<br />

4 QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. O coronelismo numa interpretação sociológica. In.: FAUSTO, Boris.<br />

(dir.). História Geral da Civilização Brasileira: Estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e economia (1889-1930). V.8. t.3. 8ª<br />

edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand. 2006.<br />

3


permitiram a disseminação <strong>de</strong> tipografias e da imprensa, nivelando o acesso a temáticas<br />

políticas e culturais, nacionais e estrangeiras, a todos os grupos sociais alfabetizados. 5<br />

Assim, os diversos processos i<strong>de</strong>ntificados como mo<strong>de</strong>rnizantes não ficaram<br />

restritos aos gran<strong>de</strong>s centros, mas espalharam-se por todos os rincões do país, embora<br />

apresentasse variações específicas <strong>de</strong> caso a caso. Ultimamente este mote tem sido<br />

visitado com maior frequência, <strong>de</strong>stacando-se os estudos sobre a província paulista.<br />

Enquanto as pesquisas realizadas sobre a mo<strong>de</strong>rnização do interior mineiro<br />

privilegiaram apenas a região da Zona da Mata. 6<br />

Nosso recorte espacial, o “Sul <strong>de</strong> Minas”, a princípio, po<strong>de</strong> parecer pouco<br />

objetivo <strong>de</strong>vido às inúmeras alterações geográficas administrativas que Minas Gerais<br />

sofreu ao longo do século XIX. A historiografia aponta para o constante<br />

“<strong>de</strong>smembramento, reagrupamento, supressão e reinstalação <strong>de</strong> distritos, vilas e<br />

comarcas”, 7 ocorridos <strong>de</strong>vido à extrema maleabilida<strong>de</strong> da política administrativa<br />

mineira. Em linhas gerais, nos referimos ao quinhão mineiro <strong>de</strong>marcado pelo rio<br />

Gran<strong>de</strong> e que se confronta com os estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo através da<br />

Serra da Mantiqueira. Geograficamente correspon<strong>de</strong> a uma vasta área entrecortada por<br />

vários caminhos que garantiram o acesso e possibilitaram a interconexão comercial das<br />

principais áreas do Centro-Sul. 8 Apenas para melhor visualização do espaço do qual<br />

tratamos ver Mapas 1.<br />

5 Alonso, A. Op.cit.<br />

6 A Bibliografia sobre a província paulista é um pouco mais extensa, <strong>de</strong>stacando-se os trabalhos <strong>de</strong><br />

COSTA, Emília Viotti da. “Urbanização no Brasil no século XIX”. Da monarquia à República:<br />

momentos <strong>de</strong>cisivos. São Paulo: Editora Unesp, 1999. DEVESCOVI, Regina. Urbanização e<br />

acumulação. Um estudo sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Carlos. São Carlos: Ufscar, 1987. DOIN, José Evaldo. et<br />

ali. A Belle Époque caipira: problematizações e oportunida<strong>de</strong>s interpretativas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e<br />

urbanização no Mundo do Café (1852- 1930) – a proposta do CEMUMC. In.: Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

História. São Paulo, vol. 27, nº 563, pp. 91-122. 2007. LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma cida<strong>de</strong> na<br />

transição. Santos: 1870-1913. São Paulo: Hucitec, 1995. PAZIANI, Rodrigo. Construindo a ‘Petit<br />

Paris’: Joaquim Macedo Bittencourt e a Belle Époque em Ribeirão Preto (1911-1920). Franca: tese <strong>de</strong><br />

doutorado – Unesp, 2004. PEREIRA, Robson Mendonça. O municipalismo em Washington Luís em<br />

sua atuação em Batatais (1893-1900): aspectos da mo<strong>de</strong>rnização urbana no interior paulista na<br />

República Velha. Franca: dissertação <strong>de</strong> mestrado – Unesp, 1999. VARGAS, Claudia Regina. As várias<br />

faces da cida<strong>de</strong>: Bento <strong>de</strong> Abreu e a mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> Araraquara (1908-1916). Franca: dissertação <strong>de</strong><br />

mestrado – Unesp, 2000. Para Minas Gerais as pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas até o momento abordam apenas<br />

o caso da Zona da Mata. Cf. LANNA, Ana Lúcia Duarte. A Transformação do Trabalho: a passagem<br />

para o trabalho livre na Zona da Mata Mineira. Campinas: Editora da Unicamp. 1988. PIRES, An<strong>de</strong>rson.<br />

Café, Finanças e Bancos: Uma Análise do Sistema Financeiro da Zona da Mata <strong>de</strong> Minas Gerais:<br />

1889/1930. Tese <strong>de</strong> Doutorado. São Paulo. <strong>USP</strong>. 2004.<br />

7 GRAÇA FILHO, Afonso <strong>de</strong> Alencastro. A Princesa do Oeste e o Mito da Decadência <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais. São João <strong>de</strong>l Rei (1831-1888). São Paulo: Annablume. 2002.<br />

8 ANDRADE, Marcos Ferreira. Elites regionais e a formação do Estado Imperial Brasileiro: Minas<br />

Gerais – Campanha da Princesa (1799-1850). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Arquivo Nacional. 2005.<br />

4


Em uma análise preliminar das fontes, percebemos referências contínuas a<br />

setores da elite política como provenientes do “Sul <strong>de</strong> Minas”, o que comprova que esta<br />

divisão interna fazia parte da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cotidiana nas relações intra-elitistas. Como<br />

nosso objeto <strong>de</strong> análise contempla prioritariamente tais relações, esta <strong>de</strong>limitação<br />

interna ao estado <strong>de</strong> Minas foi o recorte espacial adotado. 9 Dois pontos corroboram<br />

com nossa <strong>de</strong>cisão: primeiramente a divisão eleitoral <strong>de</strong> Minas Gerais, que por todo o<br />

século XIX teve seu território dividido em distritos que escolhiam seus representantes<br />

localmente. A região que apontamos como Sul <strong>de</strong> Minas esteve sempre compreendida<br />

<strong>de</strong>ntro da mesma divisão distrital e seus habitantes se i<strong>de</strong>ntificavam e eram<br />

i<strong>de</strong>ntificados como sul-mineiros, escolhendo entre si seus representantes na região. 10<br />

Em segundo lugar, a circulação <strong>de</strong> inúmeros periódicos que carregavam já em seus<br />

títulos a <strong>de</strong>signação do local a qual pertenciam, a exemplo <strong>de</strong> O Monitor Sul-Mineiro, A<br />

Gazeta Sul-Mineira, O Minas do Sul, O Cruzeiro do Sul e muitos outros. Estas folhas<br />

<strong>de</strong>fendiam em seus editoriais o <strong>de</strong>senvolvimento da região e discutiam temas regionais,<br />

enquanto as questões nacionais sempre eram tratadas <strong>de</strong> acordo com o prisma regional,<br />

ou “sul-mineiro”.<br />

Mapa 1: Mapa geográfico do Sul <strong>de</strong> Minas<br />

Fonte: imagens.google.com.br/upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/tumb/3/MinasGerais-Mesoregiao.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, o Sul <strong>de</strong> Minas não estava alheio às transformações que se<br />

observavam no país e também apresentava números <strong>de</strong> crescimento populacional e<br />

9<br />

VISCARDI, C. M. R. História, região e po<strong>de</strong>r: a busca <strong>de</strong> interfaces metodológicas. Lócus: revista <strong>de</strong><br />

História, 1997, v 3, n 1.<br />

10<br />

ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes <strong>de</strong>. Vila <strong>de</strong> Campanha da Princesa: urbanida<strong>de</strong> e civilida<strong>de</strong> em<br />

Minas Gerais no século XIX (1798-1840). Tese <strong>de</strong> doutorado. Campinas: Unicamp. 2008.<br />

5


urbano, expansão das linhas férreas, instalação <strong>de</strong> diversos Núcleos Coloniais <strong>de</strong><br />

imigrantes e recebia as primeiras plantações <strong>de</strong> café. A historiografia percebe esta<br />

passagem <strong>de</strong>ntro do amplo quadro da constituição do capitalismo no Brasil, ressaltando<br />

as transformações socioeconômicas e a transição <strong>de</strong> relações sociais do tipo “senhorial-<br />

escravista” para relações do tipo “burguês-capitalista”. 11<br />

Durante este período o Sul <strong>de</strong> Minas passava por transformações em sua<br />

estrutura <strong>de</strong>mográfica, econômica e social. E, aos poucos, se inseria a nova or<strong>de</strong>m<br />

capitalista. Embora não exista um trabalho que <strong>de</strong>scortine a questão, com a apresentação<br />

<strong>de</strong> números exatos da <strong>de</strong>mografia sul-mineira, trabalhos seminais, como o <strong>de</strong> Douglas<br />

Libby, David Fleisher e Ana Lúcia Duarte Lanna, 12 indicam que a migração <strong>de</strong> libertos<br />

da zona rural para a urbana, as melhorias nas condições <strong>de</strong> saneamento e a<br />

intensificação da imigração impulsionada pelo Estado, estimularam o crescimento<br />

populacional regional.<br />

Neste momento o Sul <strong>de</strong> Minas incrementava sua produção cafeeira <strong>de</strong>corrente<br />

da expansão da rubiácea no Oeste <strong>de</strong> São Paulo e investiu no melhoramento <strong>de</strong> seu<br />

transporte ferroviário. 13 Assim, a cafeicultura foi <strong>de</strong>cisiva na dinamização da vida<br />

econômica da região e acelerou mudanças que vinham se operando no território mineiro<br />

há muito tempo. A invasão cafeeira <strong>de</strong>slocou a vida econômica da província em direção<br />

ao Sul do estado, segundo Maria Efigênia Lage <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>, “o Sul e a Mata mineira,<br />

combinando-se com o estado do Rio, e a seguir, com São Paulo e Espírito Santo, iriam<br />

integrar um extenso bolsão agrícola, fundamentado na lavoura cafeeira”. 14<br />

O Sul <strong>de</strong> Minas era uma área <strong>de</strong> fronteira, rica em terras férteis e baratas e<br />

passou a ser procurado como terreno a<strong>de</strong>quado para abrirem fazendas <strong>de</strong> café em seu<br />

território. Segundo Oliveira e Grinberg, “terras férteis em abundância e quase a custo<br />

zero, mão-<strong>de</strong>-obra ociosa, expansão das linhas ferroviárias e, principalmente, um longo<br />

11 CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio <strong>de</strong> Janeiro da<br />

Belle Époque. Campinas: Editora da UNICAMP, 2001.<br />

12 Ver: LIBBY, Douglas Cole. Transformação e Trabalho em uma economia escravista: Minas<br />

Gerais no século XIX. Editora Brasiliense.1988. FLEISHER, David D. A cúpula mineira na República<br />

Velha: Origens sócio-econômicas e recrutamento <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes e vice-presi<strong>de</strong>ntes do Estado e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>putados fe<strong>de</strong>rais. In.: V Seminário <strong>de</strong> Estudos Mineiros: A República Velha em Minas. Belo<br />

Horizonte:UFMG/PROED: 1982. LANNA, Ana Lúcia Duarte. A Transformação do Trabalho: a<br />

passagem para o trabalho livre na Zona da Mata Mineira. Campinas: Editora da Unicamp. 1988.<br />

13 As principais linhas férreas que cortaram o Sul <strong>de</strong> Minas no período em evidência foram: Estrada <strong>de</strong><br />

Ferro Minas e Rio, Estrada <strong>de</strong> Ferro Sapucaí, Companhia Mogiana <strong>de</strong> Estrada <strong>de</strong> Ferro e a Estrada <strong>de</strong><br />

Ferro Muzambinho. Ver: LIMA, Vasco <strong>de</strong> Castro. A Estrada <strong>de</strong> Ferro Sul <strong>de</strong> Minas. 1884-1932. São<br />

Paulo: Copas. 1934. PIMENTA, Dermeval José, ELEUTÉRIO, Arysbure Batista e CARAMURU, Hugo.<br />

As Ferrovias em Minas Gerais. Belo Horizonte: SESC/MG, 2003.<br />

14 RESENDE, M. E. Lage <strong>de</strong>. Formação da estrutura <strong>de</strong> dominação em Minas Gerais: o novo PRM –<br />

1889-1906. Belo Horizonte: UFMG/PROED. 1982.<br />

6


período <strong>de</strong> preços atraentes do café explicam a rápida expansão cafeicultora no Sul <strong>de</strong><br />

Minas”. 15<br />

De acordo com Queiroz, sendo a terra muito abundante, só se tornou fonte <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r para quem possuía capitais para explorá-la ou para quem conseguia reunir gente<br />

que, em troca <strong>de</strong> uma parcela <strong>de</strong> terra, se obrigasse a servir e a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o proprietário.<br />

Por isso, as ricas regiões <strong>de</strong> monocultura <strong>de</strong> exportação – tipo <strong>de</strong> agricultura que exigia<br />

muito capital para se organizar e produzir – constituíram no país, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época<br />

colonial, as se<strong>de</strong>s efetivas do po<strong>de</strong>r político. As regiões que se voltaram para o pastoreio<br />

rudimentar, ou as regiões em que só eram encontrados sitiantes trabalhando a terra com<br />

o braço familiar, foram quase sempre regiões pobres e por isso sem maior expressão no<br />

quadro político nacional, muito embora a extensão da proprieda<strong>de</strong> fosse também ali, via<br />

<strong>de</strong> regra, <strong>de</strong>smesurada. 16 Mas, no Sul <strong>de</strong> Minas encontramos a existência concomitante<br />

dos dois mo<strong>de</strong>los, isto é, gran<strong>de</strong>s proprietários com extensas porções <strong>de</strong> terra e capital<br />

para investimento, como também existiam sitiantes e arrendatários com quantida<strong>de</strong>s<br />

menores <strong>de</strong> terra. Na passagem do século XIX para o XX todos esses produtores<br />

mostravam-se entusiasmados com a expansão cafeeira e estavam dispostos a investir na<br />

produção da rubiácea. Nosso questionamento é sobre a organização <strong>de</strong>ssas<br />

proprieda<strong>de</strong>s, sua produção e relação com o mercado nacional.<br />

Embora o Sul <strong>de</strong> Minas tenha sido uma das regiões mais dinâmicas da<br />

província/estado, até então poucos trabalhos foram produzidos a fim <strong>de</strong> esclarecer<br />

como os processos históricos <strong>de</strong>batidos pela historiografia nacional se apresentaram na<br />

região. Recentemente alguns trabalhos têm contribuído para suprir estas lacunas, como<br />

o <strong>de</strong> Marcos Andra<strong>de</strong>, Elites regionais e a formação do Estado brasileiro: Minas<br />

Gerais – Campanha da Princesa (1799-1850), obra em que o autor <strong>de</strong>svenda o<br />

povoamento e mapeia a produção sul-mineira voltada para o abastecimento interno,<br />

além <strong>de</strong> apontar as estratégias da elite local para controlar a população escrava na<br />

primeira meta<strong>de</strong> do século XIX. Em A saga dos cafeicultores no Sul <strong>de</strong> Minas, 17 <strong>de</strong><br />

José Oliveira e Lúcia Grinberg, temos informações sobre a origem e expansão cafeeira<br />

na região e a formação das primeiras famílias voltadas para a produção da rubiácea.<br />

15<br />

OLIVEIRA, José Geraldo Rodrigues <strong>de</strong> & GRINBERG, Lúcia. A saga dos cafeicultores no Sul <strong>de</strong><br />

Minas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Casa da Palavra, 2007.<br />

16<br />

QUEIROZ, M. I. op.cit. Cf. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo:<br />

Ed. Nacional, 2005.<br />

17<br />

OLIVEIRA, J. G. R. & GRINBERG, L. op.cit. Sobre a dicotomia entre a produção voltada para a<br />

exportação e para o mercado interno Cf. FURTADO, C. op.cit.FRAGOSO, J.L. Sistemas agrários em<br />

Paraíba do Sul – 1890-1920. Dissertação <strong>de</strong> mestrado, UFRJ, Niterói. 1983. LENHARO, A. op.cit.<br />

7


No esteio <strong>de</strong>stes dois trabalhos novos pesquisadores <strong>de</strong>senvolveram outros<br />

temas, sempre enfatizando a dinâmica e importância do estudo do Sul <strong>de</strong> Minas, como<br />

eu mesmo, que em minha dissertação <strong>de</strong> mestrado questionei as propostas para a<br />

transição da mão-<strong>de</strong>-obra na região aventadas pelos periódicos locais, com <strong>de</strong>staque<br />

para o alvitre imigrantista como solução mo<strong>de</strong>rnizante e tributária do paradigma<br />

paulista 18 e no doutorado discuti o republicanismo e as estratégias da oligarquia local<br />

para perpetuar-se no po<strong>de</strong>r do Estado. 19 Patrícia Vargas Lopes Araújo, 20 em sua tese <strong>de</strong><br />

doutoramento <strong>de</strong>fendida na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas, historiciou a fundação da Vila<br />

<strong>de</strong> Campanha da Princesa, em acurada pesquisa a autora estudou o or<strong>de</strong>namento urbano<br />

da vila <strong>de</strong>stacando a preocupação das autorida<strong>de</strong>s estaduais com relação à urbanida<strong>de</strong> e<br />

à civilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua população tendo como pano <strong>de</strong> fundo as mudanças políticas, sociais<br />

e econômicas ocorridas no Brasil na segunda meta<strong>de</strong> do século XVIII. Antônio<br />

Theodoro Grilo, 21 em sua tese <strong>de</strong> doutoramento Tocaia do Fórum, <strong>de</strong>fendida na Unesp-<br />

Franca, retomou a discussão da violência nos primeiros tempos da Primeira República,<br />

discutindo e teorizando a continuida<strong>de</strong> do jaguncismo, das oligarquias, do coronelismo<br />

e do mandonismo na região.<br />

Esses e outros trabalhos 22 buscam elucidar temas obscuros da historiografia sul-<br />

mineira, que, evi<strong>de</strong>ntemente, dialogam com os temas discutidos no âmbito nacional.<br />

Contudo, ainda não foi realizado nenhum trabalho historiográfico sobre a expansão<br />

cafeeira e o <strong>de</strong>senvolvimento urbano <strong>de</strong>ntro do quadro <strong>de</strong> transição para o capitalismo.<br />

As novas pesquisas <strong>de</strong>vem tentar <strong>de</strong>svelar a chegada e propagação do café pelo<br />

Sul <strong>de</strong> Minas, assim como o funcionamento da cafeicultura na região, como o tamanho<br />

18 CASTILHO, <strong>Fábio</strong> F. A. Entre a locomotiva e o fiel da balança: a transição da mão-<strong>de</strong>-obra no Sul<br />

<strong>de</strong> Minas. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, Juiz <strong>de</strong> Fora: UFJF. 2009.<br />

19 CASTILHO, <strong>Fábio</strong> F. A. Republicanismo em Minas Gerais: as oligarquias sul-mineira em finais do<br />

Império e Primeira República. Tese <strong>de</strong> doutorado, Franca: UNESP. 2012.<br />

20 ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes <strong>de</strong>. Vila <strong>de</strong> Campanha da Princesa: urbanida<strong>de</strong> e civilida<strong>de</strong> em<br />

Minas Gerais no século XIX (1798-1840). Tese <strong>de</strong> doutorado. Campinas: Unicamp. 2008.<br />

21 GRILO, A. T. Tocaia no Fórum: violência e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Tese <strong>de</strong> doutorado. Franca: UNESP. 2009.<br />

22 Recentemente outros pesquisadores se <strong>de</strong>bruçaram sobre a história regional do Sul <strong>de</strong> Minas. Cf.<br />

LAGE, A. C. P. A instalação do Colégio Nossa Senhora do Sion em Campanha: uma necessida<strong>de</strong><br />

política, econômica e social da região sul-mineira no início do século XX.Campinas: Unicamp, 2007.<br />

CUSTÓDIO SOBRINHO, Juliano. Negócios internos: estrutura produtiva, hierarquização social e<br />

posse <strong>de</strong> cativos em freguesia sul-mineira (1780-1850).Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, Juiz <strong>de</strong> Fora: UFJF.<br />

2008. DELFINO, L. L. Entre “Muros” e “Mosaicos”: trajetórias familiares <strong>de</strong> cativos e libertos <strong>de</strong><br />

pequenas e médias posses (Pouso Alegre, MG, 1845-1869). Dissertação <strong>de</strong> Mestrado, Juiz <strong>de</strong> Fora:<br />

UFJF. 2010. CASTRO, Pérola Maria Goldfe<strong>de</strong>r. “Imprensa, história e separatismo: o movimento<br />

separatista <strong>de</strong> 1892 através das páginas do monitor sul-mineiro”. Revista Eletrônica Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong><br />

História, v. VI, ano 3, n.2. 2008.<br />

8


das proprieda<strong>de</strong>s, a quantida<strong>de</strong> exata da produção anual, qual a proporção da mão-<strong>de</strong>-<br />

obra utilizada, ou ainda, se existiam plantações <strong>de</strong> alimento <strong>de</strong>ntro das fazendas <strong>de</strong> café.<br />

A economia sul-mineira na virada do século<br />

Ao abordamos a região do Sul <strong>de</strong> Minas no final do século XIX nos <strong>de</strong>paramos<br />

com uma <strong>de</strong>mografia dinâmica e em transformação, marcada pela gran<strong>de</strong> concentração<br />

<strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra cativa. 23 Ao voltarmos nossos olhos para esta última característica da<br />

região nos questionamos o que proporcionou tal condição <strong>de</strong>mográfica, ou melhor, qual<br />

o elemento <strong>de</strong> produção que atraia e fixava esta abundante massa trabalhadora? A<br />

resposta <strong>de</strong>sta questão está alicerçada na tradicional produção <strong>de</strong> alimentos e criação <strong>de</strong><br />

animais da região que abastecia o mercado intra e interprovincial <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do<br />

século XVIII e exigia uma volumosa mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

Os números encontrados pela bibliografia especializada indicam a importância<br />

da mão-<strong>de</strong>-obra escrava nas fazendas do Sul <strong>de</strong> Minas, cifras que se aproximavam dos<br />

índices das áreas agro-exportadoras. 24 Diante <strong>de</strong>sta constatação, Marcos Andra<strong>de</strong><br />

procurou caracterizar as fazendas sul-mineiras e buscou <strong>de</strong>svendar as ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas mais comuns na região que <strong>de</strong>mandavam uma mão-<strong>de</strong>-obra tão volumosa.<br />

Com este escopo o autor mapeou a economia local através da análise <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong><br />

inventários, a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a ativida<strong>de</strong> produtiva da região na primeira meta<strong>de</strong> do<br />

século XIX.<br />

Segundo Andra<strong>de</strong>, as famílias fazen<strong>de</strong>iras e proprietárias <strong>de</strong> escravos fizeram<br />

fortuna no Sul <strong>de</strong> Minas tendo como principais ativida<strong>de</strong>s econômicas o agro pastoreio<br />

e a comercialização <strong>de</strong> gêneros voltados para o abastecimento interno – gado, porcos,<br />

carneiros e produtos como queijo, toucinho e a produção <strong>de</strong> fumo. Para trabalhar nestes<br />

empreendimentos a mão-<strong>de</strong>-obra escrava foi largamente utilizada. Nas palavras do<br />

autor, “o cenário que se vislumbra é caracterizado por gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s e,<br />

logicamente, por gran<strong>de</strong>s escravarias”. Em sua pesquisa Andra<strong>de</strong> pô<strong>de</strong> constatar que:<br />

23 O Sul <strong>de</strong> Minas contava com uma população escrava <strong>de</strong> 61.270 pessoas em 1886, representando 21,4%<br />

<strong>de</strong> sua população total. Anteriormente, em 1873, eram 81. 511, representando 21,3% da população total.<br />

Cf. COSTA, Maria Lúcia Prado. Fontes para a História Social do Sul <strong>de</strong> Minas: Os trabalhos <strong>de</strong><br />

Paraguaçu e Machado (1850-1900). Fundação 18 <strong>de</strong> março. 2002. p. 33.<br />

24 Cf. LENHARO, Alcir. As tropas da mo<strong>de</strong>ração: o abastecimento da Corte na formação política do<br />

Brasil, 1808-1842. São Paulo: Símbolo, 1979. ANDRADE, Marcos Ferreira. Elites regionais e a<br />

formação do Estado Imperial Brasileiro: Minas Gerais – Campanha da Princesa (1799-1850). Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Arquivo Nacional. 2005.<br />

GRAÇA FILHO, op.cit.<br />

9


A economia sul-mineira esteve assentada em um leque diversificado <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s, com especial atenção para as agropastoris e a comercialização em<br />

praças regionais e interprovinciais. Um gran<strong>de</strong> proprietário escravista po<strong>de</strong>ria<br />

ser dono <strong>de</strong> engenho, pecuarista, produtor <strong>de</strong> alimentos, dono <strong>de</strong> lavra e<br />

comercializar parte <strong>de</strong> sua produção nas vilas e nos distritos mais próximos e,<br />

em especial, na Corte. A origem da riqueza estava relacionada ao consórcio <strong>de</strong><br />

várias ativida<strong>de</strong>s e, quase sempre, um gran<strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iro também era<br />

negociante. 25<br />

Este era o quadro econômico que se apresentava na primeira meta<strong>de</strong> dos<br />

oitocentos, no entanto, mudanças significativas ocorreram no país ao longo da segunda<br />

meta<strong>de</strong> do século, principalmente <strong>de</strong>vido à expansão cafeeira que chegou a região por<br />

volta <strong>de</strong> 1870, provocando profundas modificações na economia sul-mineira.<br />

Segundo Cláudia Viscardi, em finais do século XIX, com o café passando a ser<br />

produzido no Sul e Mata mineiros, com uma percentagem mínima <strong>de</strong> aproximadamente<br />

30% e 70% respectivamente, a <strong>de</strong>dicação ao mercado interno, que englobava a<br />

produção <strong>de</strong> alimentos para a sustentação da cafeicultura e para subsistência, diminuiu.<br />

De acordo com a autora, “esta economia tinha peso insignificante para a receita do<br />

estado no final do século XIX e início do XX, principalmente se comparada à receita<br />

fiscal oriunda do café”. Viscardi também assinala a importância da rubiácea para Minas<br />

Gerais:<br />

O café tinha uma importância fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais. Ele era responsável pela quase totalida<strong>de</strong> da receita fiscal do<br />

estado. Os exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>le provenientes foram responsáveis pela<br />

diversificação econômica <strong>de</strong> sua região <strong>de</strong> origem, que veio a ser a mais<br />

industrializada <strong>de</strong> Minas no período. Os estudos que comprovam a existência<br />

<strong>de</strong> uma forte economia cafeicultora no estado com base na gran<strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> terras e na relativa monetização da economia se contrapõem a<br />

todos os outros até então realizados em torno da economia mineira. 26<br />

De acordo com Viscardi, mesmo sendo o estado <strong>de</strong> Minas composto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

diversida<strong>de</strong> econômica interna, sua base <strong>de</strong> sustentação econômica era o café (Cf.<br />

Tabela 2). E este era produzido em larga escala em latifúndios escravistas em mol<strong>de</strong>s<br />

semelhantes, porém em menor escala, aos paulistas.<br />

25 ANDRADE, M. op.cit. p. 42.<br />

26 VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. Elites políticas em Minas Gerais na primeira república. In.:<br />

Estudos Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, vol. 8, n. 15, 1995. p. 62.<br />

10


Tabela 2: Percentual do Valor da Produção do Café no Conjunto das<br />

Exportações Mineiras (1899-1924)<br />

Períodos Valor exportado Valor do Café Percentual do café<br />

(contos)<br />

(contos)<br />

sobre o total<br />

1889/1893 99.982,450 71.628,535 71,64<br />

1894/1898 186.687,546 128.164,206 68,65<br />

1899/1903 156.343,563 93.228,506 59,63<br />

1904/1908 136.043,725 64.619,539 47,49<br />

1909/1913 191.802,771 84.682,079 44,15<br />

1914/1918 282.952,735 84.909,415 30,00<br />

1919/1923 550.796,920 241.233,057 43,79<br />

1924/1926 939.768,502 505.095,723 53,74<br />

Médias 318.047,277 159.195,133 52,39<br />

FONTE: PIRES, 2004; 80.<br />

A história da cafeicultura no Sul <strong>de</strong> Minas é uma história recente se comparada<br />

aos <strong>de</strong>mais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>stinados a agroexportação <strong>de</strong> café que conhecemos no país. Ao<br />

longo da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX a cafeicultura começou a <strong>de</strong>ixar o Vale Paraíba<br />

e se expandir pelas regiões paulistas do Oeste Velho (Campinas) e poucos anos <strong>de</strong>pois<br />

invadiria o Oeste Novo (Ribeirão Preto) com gran<strong>de</strong>s plantações. Havia largas<br />

extensões <strong>de</strong> terras férteis e <strong>de</strong> boa topografia. Na província <strong>de</strong> São Paulo a mão-<strong>de</strong>-<br />

obra escrava vinha sendo substituída pela corrente imigratória européia, composta<br />

principalmente <strong>de</strong> italianos, <strong>de</strong>vido a Lei do Ventre Livre e os constantes movimentos<br />

abolicionistas. A rápida expansão da re<strong>de</strong> ferroviária facilitava enormemente o<br />

escoamento das produções. 27<br />

A expansão dos cafezais não parou nas divisas <strong>de</strong> São Paulo. As plantações<br />

avançaram pelos municípios do Sul <strong>de</strong> Minas, embora em escala menor se comparada às<br />

novas regiões paulistas. Conforme Oliveira e Grinberg, a região Sul sempre foi muito<br />

ligada ao estado <strong>de</strong> São Paulo, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a meta<strong>de</strong> do Século XIX “levava sua<br />

produção em carros <strong>de</strong> boi até as estações ferroviárias no interior paulista, rumo ao<br />

Porto <strong>de</strong> Santos”. 28 A produção <strong>de</strong> café nestas localida<strong>de</strong>s se ampliou com a chegada<br />

dos trilhos da Companhia Mogiana <strong>de</strong> Estadas <strong>de</strong> Ferro, em 1890.<br />

A cafeicultura no Sul <strong>de</strong> Minas se expandiu pelos municípios <strong>de</strong> Aiuruoca, Jacuí<br />

e Baependi, no Vale do Rio Sapucaí. 29 Na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, o café<br />

ganharia espaço mais para o norte e o oeste, alcançando Lavras, Nepomuceno, Perdões,<br />

27<br />

SEMEGHINI, Ulysses C. Do café à indústria: Uma cida<strong>de</strong> e seu tempo. Campinas: Editora da<br />

Unicamp. 1991.<br />

28<br />

OLIVEIRA & GRIMBERG, op.cit. p. 18.<br />

29<br />

FILLETO, Ferdinando e ALENCAR, Edgar. “Introdução e expansão do café na região Sul <strong>de</strong> Minas”.<br />

Revista <strong>de</strong> administração da UFLA, v.3.n.I, jan.-jun. 2001.<br />

11


Bom Sucesso e Campo Belo. Ao Leste, as fazendas <strong>de</strong> café avançariam pelas<br />

localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Monte Santo <strong>de</strong> Minas, São João da Fortaleza (hoje Arceburgo), Santa<br />

Bárbara das Canoas (Guaranésia) e Cabo Ver<strong>de</strong>. Todas estabelecidas como extensão da<br />

expansão do Oeste paulista. 30<br />

A rubiácea segue sua expansão pelo Sul <strong>de</strong> Minas na Freguesia <strong>de</strong> Dores <strong>de</strong><br />

Guaxupé, em 1875, quando alguns fazen<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>ssa freguesia firmaram contratos com<br />

prestadores <strong>de</strong> serviço para o plantio <strong>de</strong> lavouras <strong>de</strong> café. Embora já existissem<br />

cafeeiros em algumas proprieda<strong>de</strong>s da região, <strong>de</strong>stinados ao consumo <strong>de</strong> famílias,<br />

lavouras maiores e com interesse econômico foram plantadas somente a partir daquele<br />

ano. Pois foi neste momento, que pela primeira vez, os produtores locais fecharam<br />

contratos <strong>de</strong>talhados sobre o sistema em que as lavouras <strong>de</strong>veriam ser formadas, assim<br />

como as obrigações, os direitos e os valores <strong>de</strong> pagamento ajustados com os<br />

trabalhadores. 31<br />

Inicialmente os fazen<strong>de</strong>iros do Sul <strong>de</strong> Minas possuíam ativida<strong>de</strong>s econômicas<br />

diversificadas: investiam na lavoura do café, mas continuavam criando gado – um<br />

negócio rendoso e com mercado menos instável, no final do século XIX. Além disso,<br />

em todas as fazendas, os trabalhadores, empregados a partir do sistema <strong>de</strong> colonato,<br />

cultivavam suas roças <strong>de</strong> alimentos e criavam porcos <strong>de</strong>stinados ao consumo<br />

doméstico. 32<br />

No texto A Saga dos cafeicultores no Sul <strong>de</strong> Minas encontramos diversos<br />

<strong>de</strong>poimentos que confirmam a assertiva acima e corroboram com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que no<br />

interior das fazendas voltadas para a produção <strong>de</strong> café para exportação também existiam<br />

espaços para a produção <strong>de</strong> alimentos para a subsistência, em especial dos colonos:<br />

30 OLIVEIRA & GRIMBERG. Op.cit.<br />

31 OLIVEIRA & GRIMBERG, op.cit.<br />

32 OLIVEIRA & GRIMBERG, op.cit.<br />

33 OLIVEIRA & GRIMBERG. Op.cit. pp 80-82.<br />

Lá na Santa Maria (fazenda da família) viviam muitos italianos. Lembro que<br />

havia um que cuidava da horta <strong>de</strong> verduras, um italiano <strong>de</strong>sses caprichosos.<br />

Tinha tudo quanto era espécie <strong>de</strong> verdura, fruta – o pomar era excelente.<br />

Naquela época – estou falando <strong>de</strong> 1930 para trás (...) -, os pagamentos eram<br />

feitos anualmente. Os colonos tinham sua roça <strong>de</strong> milho, feijão, arroz, seus<br />

porcos, suas vacas, os cavalos e a agricultura <strong>de</strong> subsistência. O toucinho,<br />

normalmente, eram eles que produziam. 33<br />

12


O Sul <strong>de</strong> Minas era uma área rica em terras férteis e baratas e passou a ser<br />

procurado como terreno a<strong>de</strong>quado para abrirem fazendas <strong>de</strong> café em seu território.<br />

Segundo Oliveira e Grinberg:<br />

Em alguns casos, eram famílias <strong>de</strong> agricultores apenas em busca <strong>de</strong> terras<br />

novas. Em outros, eram familiares <strong>de</strong> proprietários <strong>de</strong> casas comissárias ou <strong>de</strong><br />

casas bancárias. Como as terras eram baratas, alguns imigrantes italianos que<br />

trabalhavam originalmente como colonos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> guardarem algum capital<br />

e recorrerem ainda a parentes, conseguiram se tornar proprietários. Outros<br />

fazen<strong>de</strong>iros começaram como tropeiros ou carroceiros, transportando sacas <strong>de</strong><br />

café em lombo <strong>de</strong> burros. Posteriormente, investiram em terras,<br />

transformaram-se em produtores, mas alguns não <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> comercializar,<br />

justamente para financiar a sua própria ativida<strong>de</strong> agrícola. Da mesma forma,<br />

funcionários <strong>de</strong> casas comissárias, encarregados <strong>de</strong> comprar o café diretamente<br />

dos fazen<strong>de</strong>iros, poupavam e investiam em terras, e se tornavam produtores. 34<br />

Diferentemente da produção paulista, que se manteve em escala ascen<strong>de</strong>nte, e<br />

da produção fluminense, em escala <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, a produção mineira vivenciou as<br />

diversas crises do café, mantendo a estabilida<strong>de</strong> percentual no conjunto da exportação<br />

cafeicultora brasileira.<br />

As regiões clássicas do café<br />

Para <strong>de</strong>terminarmos a extensão e os limites da produção cafeeira do Sul <strong>de</strong><br />

Minas se fez necessário enten<strong>de</strong>r a produção da Zona da Mata, maior produtora da<br />

rubiácea na província e com uma vasta bibliografia produzida acerca do tema. Assim<br />

<strong>de</strong>svelamos qual região era responsável por qual quinhão da produção total do café em<br />

Minas Gerais, ver tabela 3:<br />

Tabela 3: Participação da produção cafeeira da zona da mata na produção<br />

do estado <strong>de</strong> Minas Gerais (períodos selecionados)<br />

PERÍODO MINAS GERAIS ZONA DA MATA %<br />

1847/48 745.381 743.707 99,77<br />

1850/51 900.264 898.184 99,76<br />

1886 5.776.866 4.316.067 74,71<br />

1888 5.047.600 4.433.800 87,83<br />

1903/04 9.404.136 5.993.425 63,73<br />

1926 12.793.977 9.105.543 71,17<br />

PIRES, 2004.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento da produção da Mata po<strong>de</strong> ser resumido da seguinte forma:<br />

34 OLIVEIRA & GRIMBERG. Op.cit. p. 20.<br />

13


Em meados <strong>de</strong> XIX, a Mata era responsável por 99% da produção mineira <strong>de</strong><br />

café. Principal região cafeicultora do estado até 1920, com uma produção <strong>de</strong><br />

81.000 arrobas em 1829/1830, essa região terá um crescimento <strong>de</strong> produção<br />

para aproximadamente 2,5 milhões <strong>de</strong> arrobas em 1870/1871. Em 1890, 75%<br />

da receita <strong>de</strong> todo o estado advinha <strong>de</strong> suas taxas pela produção cafeeira. Entre<br />

1870 e 1930, o café vai participar em cerca <strong>de</strong> 60% do total do valor das<br />

exportações <strong>de</strong> Minas Gerais. Essa região e o Sul, maiores produtores <strong>de</strong> café<br />

da província <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final do século XIX, serão responsáveis por 86% do total<br />

da produção <strong>de</strong> Minas. A região matense sofreu uma queda em relação ao sul<br />

da província no final do século passado, quando da expansão da lavoura <strong>de</strong>sse<br />

produto para essa região, embora a Mata continuasse tendo a maior produção<br />

até o início <strong>de</strong>sse século, com cerca <strong>de</strong> 60% do total do estado 35<br />

Na tabela 3 existe um lapso entre 1851 e 1886 e neste período a Zona da Mata<br />

mineira <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r por 99,76% da produção do estado caindo para 74,71%.<br />

Esta queda implica na emergência <strong>de</strong> uma nova região produtora <strong>de</strong> café, O Sul <strong>de</strong><br />

Minas. An<strong>de</strong>rson Pires faz referência ao surgimento da produção sul-mineira e a sua<br />

relevância comparada à produção da Zona da Mata, que somadas nos dão a produção<br />

total mineira:<br />

Nos anos 70, a produção mineira era a segunda do país. Suas exportações<br />

representavam 27% das nacionais. Até aquela data, a quase totalida<strong>de</strong> do café<br />

exportado era produzido na zona da Mata. A partir do final da década <strong>de</strong> 80 o<br />

café passou a ser cultivado com maior intensida<strong>de</strong> no Sul <strong>de</strong> Minas (...); com<br />

isto, aumentou o peso do produto sul mineiro no cômputo total das<br />

exportações. Até o final do Império, a maior parte do café exportado vinha da<br />

zona da Mata. De uma participação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 20% das exportações no início<br />

da década <strong>de</strong> 90, o café sul mineiro passou a 30% do valor total exportado<br />

nos primeiros anos do século XX, mantendo-se nesta posição até 1930. A<br />

zona da Mata continuou como a região produtora principal. 36 (grifo nosso).<br />

Todos os autores consultados são unânimes em afirmar que a Zona da Mata foi<br />

responsável por toda produção mineira por um longo período. Estes autores também<br />

comungam com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a partir <strong>de</strong> 1880, Mata e Sul se tornam as maiores<br />

produtoras <strong>de</strong> café do estado, para não dizer únicas em toda Minas Gerais. E que<br />

somente a partir <strong>de</strong> 1893, quando o Sul <strong>de</strong> Minas se torna responsável pela produção <strong>de</strong><br />

um oitavo do café exportado do estado, é que começa a ameaçar a posição <strong>de</strong> produtora<br />

hegemônica da Zona da Mata. 37 Também salientamos que existiram distinções entre os<br />

interesses da Zona da Mata e do Sul quanto à expansão cafeeira, pois o próprio<br />

35 ALMICO, Rita <strong>de</strong> Cássia da Silva. Fortunas em movimento: um estudo obre as transformações na<br />

riqueza pessoal em Juiz <strong>de</strong> Fora (1870-1914). Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. Campinas. Unicamp, 2001.<br />

36 PIRES, An<strong>de</strong>rson. Café, Finanças e Bancos: Uma Análise do Sistema Financeiro da Zona da Mata <strong>de</strong><br />

Minas Gerais: 1889/1930. Tese <strong>de</strong> Doutorado. São Paulo. <strong>USP</strong>. 2004.<br />

37 BLASENHEIN, Peter. Uma história regional: a Zona da Mata Mineira. In.: MONTEIRO, Norma <strong>de</strong><br />

Góes. V Seminário <strong>de</strong> Estudos Mineiros: A República Velha em Minas. Belo<br />

Horizonte:UFMG/PROED: 1982.<br />

14


surgimento do café na região sulista não era resultado da expansão do café da Zona da<br />

Mata, ao contrário, o fluxo <strong>de</strong> comércio das duas regiões era diferente: O Sul vinculava-<br />

se ao porto <strong>de</strong> Santos e a Mata ao porto do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Este dado é importante<br />

porque refuta a tese <strong>de</strong> que as duas regiões, por produzirem o mesmo produto, eram<br />

aliadas nas disputas políticas internas do estado, mas ao contrário, por vezes estiveram<br />

em lados opostos disputando a hegemonia estadual.<br />

A produção cafeeira traria consigo transformações profundas no interior do país.<br />

Conforme a análise <strong>de</strong> Ana Lúcia Duarte Lanna, a partir <strong>de</strong> 1870, <strong>de</strong>stacam-se<br />

mudanças qualitativas na ativida<strong>de</strong> cafeeira. Como o incremento na construção <strong>de</strong><br />

ferrovias, que visava reduzir os altos custos com transportes. A partir daí, as cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvem-se, caracterizando o fenômeno da urbanização. 38<br />

Evaldo Doin atribui à produção cafeeira o fenômeno <strong>de</strong> crescimento das cida<strong>de</strong>s<br />

médias brasileiras, em especial aquelas localizadas no interior <strong>de</strong> São Paulo e Minas. 39<br />

O fenômeno da urbanização, “responsável por transfigurar vilarejos em concentrações<br />

consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong> gentes e casas”, vinha se acentuando no país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do Império.<br />

Este processo ocorreu concomitantemente à abolição efetiva do tráfico <strong>de</strong> escravos e<br />

graças a fatores vários, entre eles a libertação <strong>de</strong> capitais comprometidos com o<br />

comércio <strong>de</strong> cativos e a hegemonia alcançada pela produção cafeeira, iniciava-se o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das cida<strong>de</strong>s situadas no “Brasil caipira”.<br />

Vilazinhas e lugarejos localizados na porção interiorana do país eram tomados<br />

por uma avalanche <strong>de</strong> transformações. O que poucos anos antes eram apenas<br />

parcos aglomerados <strong>de</strong> casebres, anônimos, insignificantes, entregues à<br />

modorra sonolenta da rotina, num repente acordavam, tomados <strong>de</strong> pressa<br />

ingente para entrar no bon<strong>de</strong> da história e atingir a benesses do progresso,<br />

acordados que foram pelo aroma forte e instigante <strong>de</strong> uma bebida dadivosa<br />

como o café e atingidos pelo imaginário alimentado em torno do mo<strong>de</strong>rno. 40<br />

Conforme o autor, o café trazia consigo a eletricida<strong>de</strong>, o automóvel e o telefone,<br />

os tecidos finos, o calçamento das ruas e a construção <strong>de</strong> teatros e outras “novida<strong>de</strong>s”. A<br />

38 LANNA, A.L.D. op.cit.<br />

39 DOIN, J.E. op.cit. Na literatura sobre a industrialização e urbanização <strong>de</strong> São Paulo foi formulado<br />

o conceito do gran<strong>de</strong> capital cafeeiro, aquele formado na origem pelos gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros que<br />

diversificavam seus investimentos em ferrovias, bancos e empresas <strong>de</strong> serviços públicos. Aqui neste<br />

trabalho esten<strong>de</strong>mos o conceito acreditando que diferentes elites regionais, oriundas <strong>de</strong> diferentes<br />

negócios, seguiram os mesmos percursos <strong>de</strong> investimentos dos fazen<strong>de</strong>iros paulistas. Para informações<br />

sobre o gran<strong>de</strong> capital cafeeiro em São Paulo: SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origem da indústria<br />

no Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 1976. SAES, Flávio Azevedo Marques <strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong> empresa <strong>de</strong><br />

serviços públicos na economia cafeeira. São Paulo: Hucitec, 1986. KUGELMAS, Eduardo. A difícil<br />

hegemonia. São Paulo: tese <strong>de</strong> doutorado – <strong>USP</strong>, 1986.<br />

40 DOIN, J. E. Op.cit<br />

15


economia do su<strong>de</strong>ste brasileiro, marcada pela expansão cafeeira, acompanhada por uma<br />

i<strong>de</strong>ologia progressista <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo francês que <strong>de</strong>terminaria os caminhos do progresso e<br />

civilização.<br />

Segundo Alexandre Macchione Saes, aproveitando a abundância <strong>de</strong> recursos<br />

internos e a entrada <strong>de</strong> empresas e capitais externos, as cida<strong>de</strong>s na segunda meta<strong>de</strong> do<br />

século XIX procuravam vias para fomentar a mo<strong>de</strong>rnização. A tentativa <strong>de</strong> introduzir as<br />

novida<strong>de</strong>s dos padrões <strong>de</strong> consumo e das melhorias da infra-estrutura urbana existentes<br />

na Europa tinha maior êxito conforme a riqueza das elites locais. O mundo agrário, que<br />

perduraria décadas como o mais populoso no Brasil, per<strong>de</strong>ria parte <strong>de</strong> sua população<br />

com a rápida expansão da formação <strong>de</strong> municípios na transição para o século XX.<br />

Conforme dados do autor o número <strong>de</strong> municípios recenseados no Brasil entre 1872 e<br />

1920 saltaram <strong>de</strong> 642 para 1.304. 41 Ressaltamos que a região do Sul <strong>de</strong> Minas não<br />

esteve alheia a esse processo. De 1870 a 1930 seu número <strong>de</strong> municípios saltou <strong>de</strong> 21<br />

para 67, apresentando um crescimento aproximado <strong>de</strong> 320%.<br />

Por isso é possível afirmar que a transição para o século XX foi o momento em<br />

que a urbanização tornou-se um projeto político da elite brasileira. 42 A partir <strong>de</strong> 1898 se<br />

iniciou um projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do país, prepon<strong>de</strong>rante nas duas primeiras décadas<br />

do século XX, quando o cenário econômico austero auxiliaria os administradores<br />

municipais na realização dos projetos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização das cida<strong>de</strong>s. As cida<strong>de</strong>s<br />

possuíam maiores recursos financeiros e autonomia para recorrer aos empréstimos<br />

estrangeiros, como fez o Prefeito Pereira Passos para o Distrito Fe<strong>de</strong>ral em 1906 ou<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Estado Júlio Bueno Brandão para Minas Gerais em 1910.<br />

Caso emblemático foram os melhoramento realizados nas estâncias balneárias<br />

do Sul <strong>de</strong> Minas. No alvorecer do século XX gran<strong>de</strong> importância era conferida às águas<br />

minerais e seu po<strong>de</strong>r medicinal esteve presente no discurso dos Presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Estado,<br />

que enfatizaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar investimentos nas cida<strong>de</strong>s que possuíam<br />

águas em exploração e transformá-las em suntuosas estâncias balneárias, capazes <strong>de</strong><br />

receber veranistas e aten<strong>de</strong>r todas as imposições <strong>de</strong> conforto e higiene à época. Para<br />

empreen<strong>de</strong>r tal planejamento estas cida<strong>de</strong>s do Sul <strong>de</strong> Minas receberam consi<strong>de</strong>rável<br />

investimento do governo do estado para seu melhoramento e embelezamento. 43<br />

41 SAES, Alexandre Marcchione. O mo<strong>de</strong>rno mundo urbano e a formação do capitalismo no Brasil. In.:<br />

XXVI Simpósio Nacional <strong>de</strong> História: Anpuh 50 anos. São Paulo: <strong>USP</strong>. 2011.<br />

42 SAES, A.M. op.cit<br />

43 Cf. CASTILHO, <strong>Fábio</strong> <strong>Francisco</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong>. Américo Werneck: o Haussman <strong>de</strong> Águas Virtuosas. In.:<br />

XXVI Simpósio Nacional <strong>de</strong> História: Anpuh 50 anos. São Paulo: <strong>USP</strong>. 2011.<br />

16


Conclusão<br />

No período aqui em evidência o estado <strong>de</strong> Minas Gerais, embora configurasse<br />

uma unida<strong>de</strong> político-administrativa com contornos geográficos <strong>de</strong>limitados, era na<br />

verda<strong>de</strong> uma soma pouco integrada <strong>de</strong> diversas regiões com características sociais e<br />

econômicas significativamente diferenciadas entre si, não existia nenhuma força<br />

“unificadora” com potência suficiente para integrar economicamente o território<br />

mineiro num conjunto que lhe conferisse i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> completa. 44 O resultado <strong>de</strong>ssa<br />

situação, o mosaico mineiro, assinalado por Wirth, guarda duas características<br />

principais: primeiramente o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada região se constituiu numa “linha<br />

diferente <strong>de</strong> tempo, dando ao estado uma longa história <strong>de</strong> crescimentos <strong>de</strong>sarticulados<br />

e <strong>de</strong>scontínuos”, e, em segundo lugar, aquelas regiões que fariam parte daquele “todo”,<br />

se articularam muito mais com as outras unida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais com as quais possuíam<br />

vizinhança do que com a unida<strong>de</strong> política e administrativa que integravam (o Sul e o<br />

Triângulo com São Paulo, o Norte com a Bahia, a Mata com o Rio <strong>de</strong> Janeiro). 45<br />

Com base nesse complexo quadro José Murilo <strong>de</strong> Carvalho apontou a existência<br />

<strong>de</strong> muitas “vozes” em Minas. “O Triangulo tem sua própria voz, o Centro, o Sul, o<br />

Norte, a Mata também têm a sua”. Estas vozes conferiam ao estado uma polifonia, ou<br />

uma cacofonia regional. O autor consi<strong>de</strong>ra que ao longo da história diferentes tipos <strong>de</strong><br />

economia e socieda<strong>de</strong> se formaram, conferindo dinamicida<strong>de</strong> à economia do estado e<br />

marcando a sua socieda<strong>de</strong> em diferentes momentos e com variado grau <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>. 46<br />

Num contexto histórico como este qualquer generalização conclusiva,<br />

principalmente no âmbito da análise da história econômica, não <strong>de</strong>ve ser realizada e o<br />

recorte regional, mais que uma mera opção metodológica, se coloca quase como uma<br />

imposição, fundamental para que se alcance uma aproximação entre o universo <strong>de</strong><br />

análise e a realida<strong>de</strong> histórica que se preten<strong>de</strong> investigar.<br />

A realida<strong>de</strong> histórica <strong>de</strong> Minas Gerais é bem mais complexa que algumas<br />

generalizações parecem consi<strong>de</strong>rar e, supomos apenas as análises regionais po<strong>de</strong>m dar<br />

conta <strong>de</strong>sta complexida<strong>de</strong>.<br />

A região aqui em evidência, o Sul <strong>de</strong> Minas, se coloca particularmente nesta<br />

situação. Se <strong>de</strong>fine por um conjunto <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong>terminados pela forma como se dá<br />

44<br />

PIRES, A. op.cit.<br />

45<br />

WIRTH, J. D. O fiel da balança: Minas Gerais na fe<strong>de</strong>ração brasileira, 1889-1930. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz<br />

e Terra, 1982.<br />

46<br />

CARVALHO, José Murilo <strong>de</strong>. Ouro, terra e ferro: vozes <strong>de</strong> Minas. In.:GOMES, Ângela <strong>de</strong> Castro<br />

(org.). Minas e os fundamentos do Brasil mo<strong>de</strong>rno. Belo Horizonte: Editora da UFMG. 2005.<br />

17


sua inserção no contexto histórico-social do qual faz parte e, <strong>de</strong> uma maneira geral,<br />

indica a presença <strong>de</strong> constantes rupturas e <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s históricas que, ao se<br />

estabelecerem e predominarem em seu espaço próprio, fundamentam a sua<br />

homogeneida<strong>de</strong> interna e, portanto, fornecem as bases <strong>de</strong> sua diferenciação como objeto<br />

<strong>de</strong> estudo.<br />

Frente à unida<strong>de</strong> político-administrativa da qual fazia parte (a província e futuro<br />

estado <strong>de</strong> Minas Gerais) é o próprio <strong>de</strong>senvolvimento e expansão <strong>de</strong> uma economia<br />

agrária voltada para produção <strong>de</strong> alimentos que marcou a diferenciação da região do Sul<br />

<strong>de</strong> Minas. No correr do século XIX, sob o impacto do <strong>de</strong>clínio da economia aurífera, as<br />

principais regiões da província passam por um processo <strong>de</strong> reestruturação sócio-<br />

econômica, fundamentada numa significativa realocação dos fatores <strong>de</strong> produção, que<br />

acaba por resultar em uma economia agrária <strong>de</strong> alimentos, com maiores ou menores<br />

vínculos com vários focos <strong>de</strong> mercado interno existentes e cujo dinamismo econômico,<br />

mesmo que significativo, está longe daquele que caracterizou o século XVIII mineiro. 47<br />

Ao longo <strong>de</strong>sse texto buscamos fazer apontamentos sobre o complexo quadro <strong>de</strong><br />

transformações que se passavam no país, privilegiando os aspectos <strong>de</strong>ssas mudanças<br />

num rincão específico do interior <strong>de</strong> Minas Gerais. Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa ainda em<br />

andamento e nossos primeiros resultados apontam para um <strong>de</strong>senvolvimento dinâmico<br />

catalisado pelo processo <strong>de</strong> expansão da cafeicultura, mas o estudo do interior do país<br />

ainda precisa respon<strong>de</strong>r muitas perguntas: como os rincões do Brasil adaptaram-se aos<br />

diversos processos <strong>de</strong> transformação política, econômica, social e cultural que se<br />

alastravam pelo país? Como adaptaram-se aos processos <strong>de</strong> urbanização, abolição,<br />

expansão <strong>de</strong> estradas <strong>de</strong> ferro, <strong>de</strong>senvolvimento da cafeicultura e <strong>de</strong>mais avanços?<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformações assinalamos o papel da produção cafeeira <strong>de</strong><br />

finais do XIX e início do XX no Sul <strong>de</strong> Minas, que catalisou a expansão das estradas <strong>de</strong><br />

ferro e o processo <strong>de</strong> urbanização a região.<br />

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