A MISSA DE FRENTE PARA DEUS - Obras Raras do Catolicismo
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Igreja. O Concílio de Trento se expressou assim: “O sacrifício que se oferece sobre o altar é o<br />
mesmo que foi ofereci<strong>do</strong> sobre o Calvário: é o mesmo sacer<strong>do</strong>te e a mesma vítima”.<br />
É assim e não de outra maneira que se deve interpretar a imagen <strong>do</strong> divino Crucifica<strong>do</strong> à<br />
entrada <strong>do</strong> lugar sagra<strong>do</strong> onde serão celebra<strong>do</strong>s os santos mistérios <strong>do</strong> altar.<br />
E esta Cruz de sofrimento, figura da Oblação, deveria nos encaminhar para a Cruz gloriosa,<br />
“sinal luminoso da vitória”, como a proclama um tropário da liturgia bizantina de 14 de setembro.<br />
Entre as duas se encontra o altar como um relevo que, “através da eucaristia da Cruz” segun<strong>do</strong> a<br />
expressão <strong>do</strong> Pe. Bouyer 92 , nos transporta rumo à plenitude da obra da Salvação. A morte na Cruz<br />
não é um final, mas uma etapa rumo à Ressurreição gloriosa, penhor de nosso próprio destino, sobre<br />
o qual nosso Cre<strong>do</strong> nos diz que não se cumprirá verdaderamente se não na ocasião <strong>do</strong> advento <strong>do</strong><br />
Reino que não terá fim.<br />
Se eu tivesse a honra (e a capacidade) de ser o mestre de obras de uma igreja a ser<br />
construída, seguramente escolheria a Cruz gloriosa como ornato <strong>do</strong> presbitério oriental <strong>do</strong> edifício,<br />
para além <strong>do</strong> altar. E seguiria fiel à implantação <strong>do</strong> “tref” com a efígie <strong>do</strong> divino Crucifica<strong>do</strong>, para<br />
aquém <strong>do</strong> santuário. O duplo simbolismo da Cruz não encontra assim sua mais bela expressão?<br />
E não duvidaria sobre a localização <strong>do</strong> batistério. Seu lugar, seu único lugar está na entrada<br />
ocidental <strong>do</strong> edifício, ali onde, como escreve também o Pe. Bouyer, “se efetua a passagem <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> das trevas para o mun<strong>do</strong> da luz” 93 . E continua: “O acesso à igreja pelo nártex, e mais<br />
precisamente, através <strong>do</strong> mar ou <strong>do</strong> Jordão simbólico <strong>do</strong> batistério, termina de indicar esse<br />
dinamismo inerente à celebração cristã: implica a passagem deste mun<strong>do</strong> a outro mun<strong>do</strong>, ou<br />
melhor, a passagem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>... ao século futuro”.<br />
Assim se indica de uma maneira ainda melhor o valor simbólico da orientação, com essa<br />
marcha <strong>do</strong> Ocidente de onde viemos rumo ao Oriente aonde nos chama a Esperança. E é de novo <strong>do</strong><br />
Pe. Bouyer de quem tomo a conclusão deste artigo: “A orientação simbólica da igreja (comunidade<br />
em oração e templo que a abriga) expressa o infindamento terrestre 94 de toda eucaristia,<br />
des<strong>do</strong>brada rumo ao advento da parusia. Ao mesmo tempo to<strong>do</strong> o cosmo se reconstitue, centra<strong>do</strong><br />
sobre o Senhorio de Cristo ressuscita<strong>do</strong> que arrasta to<strong>do</strong> o universo, humano e angélico, material e<br />
espiritual, para o Pai”.<br />
Eu deveria dizer tu<strong>do</strong> isto, em resposta àqueles que, para justificar seu desconhecimento de<br />
uma tradição tão rica e tão universal, não hesitaram em pretender que nunca foi levada em<br />
consideração na Igreja latina. Nós os temos convenci<strong>do</strong>? Que interessa? O que importava para nós<br />
era reunir e propôr certo número de argumentos em favor desta tradição, não somente para captá-la<br />
no passa<strong>do</strong>, mas para mostrar que conserva to<strong>do</strong> seu valor de atualidade.<br />
Nos falta tirar desses argumentos o que se aplica diretamente ao altar. Pois ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> altar<br />
é que se circunscreve o debate. Sem dúvida, pelo que antecede, já estamos decidi<strong>do</strong>s sobre o<br />
significa<strong>do</strong> da “Missa de frente para Deus”. Devemos avançar mais além e dizer por que estamos<br />
resolutamente contra a “Missa de frente para o povo”.<br />
92 Le rite et l'homme, Ed. du Cerf, 1962, p. 235.<br />
93 Le rite et l'homme, p. 253.<br />
94 NT. No original inacabamiento.<br />
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