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A MISSA DE FRENTE PARA DEUS - Obras Raras do Catolicismo

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aurea 11 , ao dar as costas a esta claridade matinal que entra pela abside e pouco a pouco enche a<br />

nave sagrada? Temos fica<strong>do</strong> insensíveis aos símbolos? Para nós, crentes, a criação deixou de ser o<br />

espelho <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r? Temos fica<strong>do</strong> incapazes de contemplar, por estarmos enfastia<strong>do</strong>s ou por sermos<br />

demasia<strong>do</strong> sábios, na luz criada a luz de Deus, a luz dAquele que disse: “Ego sum lux mundi” (Jo<br />

9,12), essa luz “suave e deleitável” (Ecl 11,7), que “se levanta na escuridão” (Is 58,10) “para<br />

iluminar as nações” (Lc 2,32) e “o povo <strong>do</strong>s justos” 12 (Sl 112,4)? Cada semana, nas Laudes,<br />

podemos fazer nosso este versículo <strong>do</strong> Sl 35: et in lumine tuo videbimus lumen 13 , e cantar, como o<br />

ofício a isso nos convida em qualquer dia da semana, os magníficos versículos <strong>do</strong> Cântico de<br />

Zacarias nos quais se compara o Messias a um sol nascente suscita<strong>do</strong> pelo Pai para iluminar a<br />

quantos jazem entre as trevas e na sombra da morte estão senta<strong>do</strong>s (Lc 1,78-79).<br />

Alguém poderá dizer que somos exageradamente sensíveis ao símbolo solar; que também as<br />

pedras estavam voltadas para o nascente na época <strong>do</strong>s megálitos 14 ; que todas as religiões pagãs, das<br />

mais primitivas às mais evoluídas, glorificaram os mitos naturalistas e que, ainda que tivessem<br />

deixa<strong>do</strong> de deificá-los, guardavam-nos como símbolos. Virgílio (Eneida, VII) e Ovídio (Fastos, IV)<br />

recomendavam a oração voltada para o leste. Em Roma, como em Atenas, como no antigo Egito, os<br />

templos estavam orienta<strong>do</strong>s de tal maneira e segun<strong>do</strong> um eixo de precisão tal que o sol nascente<br />

iluminasse o rosto <strong>do</strong> deus ou da deusa no dia em que se festejava essa divindade.<br />

De fato, o cristianismo não aboliu a sacralidade antiga. Desmitificou-a. Libertou-a.<br />

Transfigurou-a. Convi<strong>do</strong>u o homem religioso, atento aos símbolos, não a renunciar aos símbolos,<br />

mas a dar-lhes um novo senti<strong>do</strong>, um senti<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a Revelação. O Sol invictus se<br />

converteu no Sol Salutis 15 . O Sol Rei se tornou o Rei <strong>do</strong> Sol, porque, escreve Santo Agostinho, por<br />

Ele foi cria<strong>do</strong> o sol (non est Dominus Sol factus, sed per quem Sol factus est 16 . (In Ioanem P.L.<br />

35,1652)). E o Oriente cósmico se iluminou com as radiantes promessas da Salvação.<br />

O Sol Salutis é também o Sol Iustitiae 17 , de que fala Malaquias (3,20), sinal de poder e de<br />

vitória (cf. Is 41,2), que os Padres gregos e latinos identificam com Cristo.<br />

SIGNVM CRVCIS 18<br />

Porém, eis aqui que o Oriente é ilumina<strong>do</strong> por um astro mais ardente que o sol. “Senhor,<br />

formastes no céu um sinal glorioso entre os demais, que cintila com uma claridade infinita”, assim<br />

se expressa um tropário bizantino nas Matinas de 14 de setembro, enquanto o Ocidente latino<br />

exclama: O Crux, splendidior cunctis astris! 19<br />

Para este sinal que <strong>do</strong> Oriente nos chamava às bem-aventuranças eternas devia se dirigir o<br />

último olhar <strong>do</strong>s mártires. Esta Cruz, a qual exaltaram Justino, Irineu, Efrém, Paulino de Nola e<br />

João Crisóstomo, não era o madeiro vergonhoso <strong>do</strong> Gólgota, mas o testemunho deslumbrante da<br />

glória de Cristo com a qual se iluminará o último amanhecer <strong>do</strong> cosmo. Esta Cruz salvífica<br />

aparecerá no céu, nos diz Santo Efrém, “como o cetro de Cristo, o grande Rei... superan<strong>do</strong> o brilho<br />

<strong>do</strong> sol e preceden<strong>do</strong> a vinda <strong>do</strong> senhor 20 de todas as coisas”. “Sinal triunfal!” exclama São João<br />

Crisóstomo, “mais resplandecente que o astro <strong>do</strong>s dias”!<br />

Nas origens <strong>do</strong> cristianismo se associa a oração voltada ao Oriente com o culto da Cruz. E o<br />

culto da Cruz é antes de tu<strong>do</strong> uma homenagem rendida à glória divina.<br />

Porém é também a afirmação de uma esperança. Se o Oriente evoca o Paraíso perdi<strong>do</strong>, é<br />

mais ainda o lugar <strong>do</strong> Paraíso reencontra<strong>do</strong>. Ali está a morada <strong>do</strong> grande Senhor, marca<strong>do</strong> pela<br />

Cruz, sinal de reprovação para os malditos, mas sinal de reunião para os justos. Quanto, no interior<br />

11<br />

NT. Eis que surge a luz <strong>do</strong>urada...<br />

12<br />

NT. Ou para os retos.<br />

13<br />

NT. E na vossa luz veremos a luz.<br />

14<br />

NT. Pedras monumentais <strong>do</strong>s tempos pré-históricos.<br />

15<br />

NT. Sol da salvação.<br />

16<br />

NT. Não é o Senhor que foi feito pelo Sol, mas por quem o Sol foi feito.<br />

17<br />

NT. Sol da justiça.<br />

18<br />

NT. [O] Sinal da Cruz<br />

19<br />

NT. Ó cruz, mais brilhante que to<strong>do</strong>s os astros...<br />

20<br />

NT. No original dueño.<br />

6

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