15.04.2013 Views

inclusão e avaliação no cotidiano da escola: um estudo de caso

inclusão e avaliação no cotidiano da escola: um estudo de caso

inclusão e avaliação no cotidiano da escola: um estudo de caso

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO<br />

CENTRO DE EDUCAÇÃO<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO<br />

MARTA ALVES DA CRUZ SOUZA<br />

INCLUSÃO E AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA:<br />

UM ESTUDO DE CASO<br />

VITÓRIA – ES<br />

2007


MARTA ALVES DA CRUZ SOUZA<br />

INCLUSÃO E AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA:<br />

UM ESTUDO DE CASO<br />

Dissertação apresenta<strong>da</strong> ao Programa <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação em Educação <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, como<br />

requisito para obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre em<br />

Educação, com ênfase em Educação<br />

Especial: Abor<strong>da</strong>gens e Tendências.<br />

Orientadora: Profª Drª Sonia Lopes Victor.<br />

VITÓRIA – ES<br />

2007


Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação-na-publicação (CIP)<br />

(Biblioteca Central <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, ES, Brasil)<br />

Souza, Marta Alves <strong>da</strong> Cruz, 1972-<br />

S729i Inclusão e <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> : <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> /<br />

Marta Alves <strong>da</strong> Cruz Souza. – 2007.<br />

177 f. : il.<br />

Orientadora: Sonia Lopes Victor.<br />

Dissertação (mestrado) – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo,<br />

Centro <strong>de</strong> Educação.<br />

1. Avaliação. 2. Inclusão social. 3. Ambiente <strong>escola</strong>r. I. Victor, Sonia<br />

Lopes. II. Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo. Centro <strong>de</strong> Educação.<br />

III. Título.<br />

CDU: 37


MARTA ALVES DA CRUZ SOUZA<br />

INCLUSÃO E AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA:<br />

UM ESTUDO DE CASO<br />

Dissertação apresenta<strong>da</strong> ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Educação <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, como requisito para obtenção do grau <strong>de</strong><br />

Mestre em Educação, com ênfase em Educação Especial: Abor<strong>da</strong>gens e<br />

Tendências.<br />

COMISSÃO EXAMINADORA<br />

Profª Doutora Sonia Lopes Victor<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo<br />

Orientadora<br />

Profª Doutora Denise Meyrelles <strong>de</strong> Jesus<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo<br />

Profª Doutora Janete Magalhães Carvalho<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo<br />

Aprova<strong>da</strong> em 30 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2007.<br />

Profª Doutora Kátia Regina More<strong>no</strong> Caiado<br />

Pontifícia Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Campinas


Dedico este trabalho a todos aqueles que<br />

lutam pelos seus sonhos, tornando-os<br />

possíveis.


Agra<strong>de</strong>cer... como tenho que agra<strong>de</strong>cer...<br />

AGRADECIMENTO<br />

Primeiramente, a Deus e, em segundo lugar a to<strong>da</strong>s as outras pessoas que, sem<br />

grau <strong>de</strong> hierarquia e/ou merecimento, me aju<strong>da</strong>ram. Pai, eu te agra<strong>de</strong>ço, pois sem<br />

Tua intervenção com certeza não tinha trilhado nenh<strong>um</strong> caminho. Obriga<strong>da</strong> por me<br />

inspirar, me sustentar. A Ti, a minha <strong>de</strong>voção, pois sei que posso to<strong>da</strong>s as coisas<br />

naquele que me fortalece.<br />

À minha família: na qual nasci e a que escolhi. À minha mãe, pelo exemplo <strong>de</strong> garra<br />

e vitória, e aos meus irmãos, pelo apoio e torci<strong>da</strong>. Ao meu marido, Cláudio, e aos<br />

meus filhos, Clauber e Antonio Cláudio, obriga<strong>da</strong> por me incentivar, me apoiar e por<br />

aceitar minhas ausências. Obriga<strong>da</strong>, eu amo muito vocês. Agra<strong>de</strong>ço também a<br />

minha sogra, ao meu sogro e cunhados(as) por ficarem na retaguar<strong>da</strong>, torcendo e<br />

apoiando.<br />

À minha orientadora, Sonia Lopes Victor, pela sua c<strong>um</strong>plici<strong>da</strong><strong>de</strong>, paciência e<br />

compreensão. Obriga<strong>da</strong>, aprendi muito com você.<br />

Aos <strong>de</strong>mais professores <strong>da</strong> banca: Denise Meyrelles <strong>de</strong> Jesus, Janete Magalhães<br />

Carvalho e Kátia Regina More<strong>no</strong> Caiado obriga<strong>da</strong> pelo aceite em construir e<br />

<strong>de</strong>sconstruir minha caminha<strong>da</strong> na busca <strong>da</strong> construção do conhecimento sobre o<br />

cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.


À Turma 18, que compartilhou comigo <strong>de</strong> momentos ímpares na <strong>no</strong>ssa caminha<strong>da</strong>.<br />

Alguns se tornaram amigos para sempre. Em especial: Dani e Jacy, companheiras<br />

<strong>de</strong> carona, <strong>de</strong> discussão e muro <strong>de</strong> lamentações.<br />

À <strong>escola</strong> que me acolheu e aceitou minha “intromissão” <strong>no</strong> seu cotidia<strong>no</strong>. Obriga<strong>da</strong> a<br />

todos e a to<strong>da</strong>s e, em especial, as duas professoras que me receberam <strong>no</strong> seu<br />

espaço <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula.<br />

À professora Alina <strong>da</strong> Silva Bonella que aceitou o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> fazer a correção do<br />

meu português em tempo recor<strong>de</strong>. Os meus sinceros agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

Obriga<strong>da</strong> também à Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Guarapari (ES), que<br />

possibilitou que eu me ausentasse para po<strong>de</strong>r estu<strong>da</strong>r e refletir, <strong>um</strong> pouco distante,<br />

mais implica<strong>da</strong> nas <strong>no</strong>ssas ações volta<strong>da</strong>s para <strong>um</strong>a política <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong><br />

educacional.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todos e a to<strong>da</strong>s que vibraram comigo a ca<strong>da</strong> etapa venci<strong>da</strong> <strong>no</strong> processo<br />

<strong>de</strong> seleção do mestrado e aguar<strong>da</strong>ram ansiosos(as) por este momento final. Sintam-<br />

se todos e to<strong>da</strong>s abraçados(as).


A imagem que <strong>no</strong>s ocorre quando pensamos nesse tema<br />

é a <strong>de</strong> <strong>um</strong> rio abun<strong>da</strong>nte, que corre farto <strong>de</strong> afluentes,<br />

ora turvo, ora límpido, com as famosas pororocas,<br />

sempre a <strong>de</strong>sembocar em <strong>no</strong>ssas trajetórias <strong>de</strong><br />

professoras; o que <strong>no</strong>s leva muitas vezes a pensar:<br />

‘Tudo acaba <strong>de</strong>saguando na <strong>avaliação</strong>, não tem<br />

jeito’(FERRAZ; MACEDO, 2003).


RESUMO<br />

A <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> aprendizagem serve como elemento retroalimentador <strong>da</strong> prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica, principalmente quando o cenário educacional é atravessado pelo<br />

movimento <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>. A proposta <strong>da</strong> pesquisa é compreen<strong>de</strong>r as práticas<br />

avaliativas cotidianas na <strong>escola</strong>, tendo como referência as práticas pe<strong>da</strong>gógicas dos<br />

professores e a reflexão sobre a <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais. Este trabalho é <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> do tipo<br />

et<strong>no</strong>gráfico, realizado na Escola Bansalu, que é <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> infantil e<br />

fun<strong>da</strong>mental do município <strong>de</strong> Guarapari. Utiliza, como instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>dos, a entrevista semi-estrutura<strong>da</strong>, a observação participante e a análise<br />

doc<strong>um</strong>ental. Dentro <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, as observações aconteceram na sala <strong>da</strong><br />

3ª e 4ª séries, on<strong>de</strong> havia matrícula <strong>de</strong> <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> surdo e <strong>de</strong> dois com <strong>de</strong>ficiência<br />

mental. O <strong>estudo</strong> retrata que as práticas avaliativas tanto dos alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional como <strong>da</strong>queles que não apresentam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong><br />

processo privilegiavam o produto final do processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem, em vez<br />

<strong>de</strong> enfatizar o processo <strong>de</strong> construção do conhecimento. Pontua que é preciso <strong>um</strong>a<br />

mu<strong>da</strong>nça na concepção <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> e <strong>um</strong>a reflexão sobre as práticas avaliativas<br />

presentes <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Discute também a instituição <strong>de</strong> espaços-tempos<br />

para que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r possa refletir e reavaliar suas concepções e práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas propicinado <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> n<strong>um</strong>a perspectiva inclusiva.<br />

Palavras-chave: Práticas avaliativas. Inclusão. Cotidia<strong>no</strong>.


ABSTRACT<br />

The evaluation of the learning process works as a motivating element of the<br />

pe<strong>da</strong>gogical practice, mainly when the educational scenery is crossed by the<br />

inclusion movement. The research aims at un<strong>de</strong>rstanding the evaluative every <strong>da</strong>y<br />

practices at the school, having as reference the teachers’ pe<strong>da</strong>gogical practices and<br />

the reflection on the evaluation in the process of inclusion of the stu<strong>de</strong>nts with the<br />

special educational needs. The work is an eth<strong>no</strong>graphic study case, in the Bansalu<br />

School, which is a children and fun<strong>da</strong>mental school of the Guarapari district. It uses<br />

as <strong>da</strong>ta collection instr<strong>um</strong>ent the semi-structured interview, the participating<br />

observation and the doc<strong>um</strong>ental analysis. Insi<strong>de</strong> the teaching unit, the observations<br />

took place in the third and forth gra<strong>de</strong> which there was a <strong>de</strong>af stu<strong>de</strong>nt and two with<br />

mental <strong>de</strong>ficiency registered. The study shows that the evaluative practices for the<br />

stu<strong>de</strong>nts with educational needs and also for those who do <strong>no</strong>t have any difficulty in<br />

the process, favor the final product of the teaching-learning process, instead of<br />

highlighting the k<strong>no</strong>wledge building process. It points the necessity to change the<br />

evaluation conception and to reflect on the evaluative practices present in the school<br />

every <strong>da</strong>y life. It also discusses the space-time institution so that the school<br />

community can reflect and reevaluate its conceptions and pe<strong>da</strong>gogical practices<br />

providing a quality education in an inclusive perspective.<br />

Keywords: Evaluative practices. Inclusion. Every<strong>da</strong>y life.


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 01 - Evolução <strong>de</strong> matrículas inclusivas na educação especial ................. 48<br />

Figura 02 - Evolução <strong>de</strong> municípios com matrículas na educação especial ........ 49<br />

Figura 03 - Evolução <strong>da</strong> política <strong>de</strong> atendimento na educação especial.............. 49<br />

Figura 04 - Evolução <strong>de</strong> estabelecimentos inclusivos com educação especial ... 50<br />

Figura 05 - Evolução <strong>da</strong> política <strong>de</strong> atendimento na educação especial <strong>da</strong><br />

Região Su<strong>de</strong>ste .................................................................................... 51<br />

Figura 06 - Distribuição <strong>de</strong> matrículas na educação especial em 2005 .............. 51<br />

Figura 07 - Evolução <strong>de</strong> funções docentes na educação especial ...................... 52


LISTA DE SIGLAS<br />

ANPED - Associação Nacional dos Pesquisadores em Educação<br />

APAE - Associação <strong>de</strong> Pais e Amigos dos Excepcionais<br />

CEB - Conselho <strong>de</strong> Educação Básica<br />

CNE - Câmara Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

ECA - Estatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente<br />

EJA - Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos<br />

EMEIEF - Escola Municipal <strong>de</strong> Educação Infantil e Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental<br />

ENEM - Exame Nacional <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> Médio<br />

GT - Grupo <strong>de</strong> Trabalho<br />

INEP - Instituto Nacional <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas Educacionais<br />

LIBRAS - Língua Brasileira <strong>de</strong> Sinais<br />

MEC - Ministério <strong>da</strong> Educação<br />

PPGE - Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Educação<br />

QI - Quociente <strong>de</strong> Inteligência<br />

SAEB - Sistema Nacional <strong>de</strong> Avaliação <strong>da</strong> Educação Básica<br />

SEMED - Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Guarapari<br />

UFES - Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo


SUMÁRIO<br />

1 PALAVRAS INTRODUTÓRIAS.......................................................................... 14<br />

1.1 O ESTUDO....................................................................................................... 16<br />

2 ANÁLISE DO COTIDIANO: UMA PERSPECTIVA LEFEBVRERIANA ............. 19<br />

2.1 O COTIDIANO E A COTIDIANIDADE.............................................................. 19<br />

2.1.1 As marcas <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> na <strong>escola</strong> .......................................................... 22<br />

2.3 O COTIDIANO COMO POSSIBILIDADE DE MUDANÇA ................................ 29<br />

3 INCLUSÃO: ANÁLISE DESSE MOVIMENTO NO COTIDIANO DAS<br />

ESCOLAS.............................................................................................................. 34<br />

3.1 A COTIDIANIDADE DA INCLUSÃO MARCADA PELAS POLÍTICAS<br />

EDUCACIONAIS.................................................................................................... 34<br />

3.2 INCLUSÃO E EXCLUSÃO ............................................................................... 42<br />

3.2.1 Inclusão e diferença.................................................................................... 44<br />

3.3 A INCLUSÃO NO COTIDIANO DAS ESCOLAS .............................................. 48<br />

4 AVALIAÇÃO E INCLUSÃO: CONSTRUINDO CAMINHOS POSSIVEIS........... 59<br />

4.1 AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO PARA MEDIR O CONHECIMENTO .... 60<br />

4.2 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL ....................................................... 65<br />

4.3 PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA ........................... 75<br />

5 COTIDIANO, INCLUSÃO E AVALIAÇÃO: INTRODUZINDO A PESQUISA ..... 82<br />

5.1 A PESQUISA.................................................................................................... 82<br />

5.2. COLETA DE DADOS ...................................................................................... 84<br />

5.2.1 Procedimentos <strong>da</strong> pesquisa....................................................................... 86<br />

5.3 O CONTEXTO DA PESQUISA ........................................................................ 90<br />

5.3.1 A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Guarapari ................................................................................ 90<br />

5.3.2 A <strong>escola</strong>........................................................................................................ 93<br />

5.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA ........................................................................ 94


6 A EDUCAÇÃO ESPECIAL DE GUARAPARI NO MOVIMENTO DE<br />

INCLUSÃO: POLÍTICAS QUE RESSOAM NAS ESCOLAS................................. ..99<br />

6.1 SERVIÇOS DE APOIO..................................................................................... 103<br />

6.2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADE<br />

EDUCACIONAL ESPECIAL ....................................................................................105<br />

6.3 OS REBATES DESSA POLÍTICA DENTRO DA ESCOLA BANSALU............. 107<br />

7 INCLUSÃO E AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA: REFLEXÕES<br />

SOBRE AS PRÁTICAS AVALIATIVAS NUMA PERSPECTIVA INCLUSIVA ...... 109<br />

7.1 A INCLUSÃO NA ESCOLA BANSALU ............................................................ 110<br />

7.1.1 Incluir quem e on<strong>de</strong>? .................................................................................. 110<br />

7.1.2 O estar na <strong>escola</strong> regular e a afirmação <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>..................... 116<br />

7.1.3 A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apoios para implementar <strong>um</strong> trabalho voltado para a<br />

<strong>inclusão</strong> ................................................................................................................ 119<br />

7.1.3.1 O apoio para o alu<strong>no</strong> surdo........................................................................ 125<br />

7.2 AS PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO NA ESCOLA BANSALU ................................130<br />

7.2.1 O uso do relatório como <strong>um</strong>a prática avaliativa dos alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial .................................................................... 139<br />

7.2.2 A relação <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> como retroalimentadora <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica 146<br />

7.3 O COTIDIANO DA ESCOLA APONTANDO POSSIBILIDADES...................... 152<br />

8 INCLUSÃO E AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA: CONSIDERAÇÕES<br />

FINAIS .................................................................................................................. 158<br />

9 REFERÊNCIAS................................................................................................... 165<br />

APÊNDICES ............................................................................................................174


1 PALAVRAS INTRODUTÓRIAS<br />

No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2003, fomos convi<strong>da</strong><strong>da</strong> a fazer parte <strong>da</strong> coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Educação<br />

Especial <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Guarapari – ES e, entre as tarefas que <strong>no</strong>s eram<br />

<strong>de</strong>lega<strong>da</strong>s, estava a implantação e implementação <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>no</strong><br />

contexto <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s municipais.<br />

Enquanto ocupávamos esse espaço, dividido com outras colegas <strong>de</strong> trabalho,<br />

pu<strong>de</strong>mos presenciar dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em conceber a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sujeitos <strong>da</strong><br />

educação especial que estavam matriculados nas <strong>escola</strong>s. Entre as várias situações<br />

corriqueiras, <strong>um</strong>a questão <strong>no</strong>s chamava a atenção ─ a <strong>avaliação</strong> dos alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais.<br />

Uma questão que se <strong>de</strong>stacava, nesse ponto, era a <strong>avaliação</strong> como momento final,<br />

na qual a <strong>escola</strong> questionava se aquela criança <strong>de</strong>veria ou não ser aprova<strong>da</strong>. Para<br />

<strong>de</strong>cidir tal dilema, a <strong>escola</strong> convocava <strong>um</strong>a reunião com a equipe <strong>da</strong> Secretaria<br />

Municipal <strong>de</strong> Educação (SEMED), os pe<strong>da</strong>gogos <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, o professor <strong>da</strong> sala <strong>de</strong><br />

recurso e o professor <strong>da</strong> sala regular. Juntos, pon<strong>de</strong>rávamos sobre os prós e os<br />

contras <strong>da</strong> aprovação ou reprovação <strong>da</strong>quela criança.<br />

O que mais <strong>no</strong>s inquietava era pensar: por que a <strong>avaliação</strong> <strong>de</strong>ssas crianças era tão<br />

difícil para as <strong>escola</strong>s? Por que para <strong>de</strong>finir se o <strong>de</strong>sempenho <strong>escola</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> criança era satisfatório ou não, <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> <strong>um</strong>a congregação que<br />

<strong>de</strong>sse o aval para avançar ou manter esses alu<strong>no</strong>s na mesma série? Parece-<strong>no</strong>s<br />

14


que havia alguns pontos a serem investigados sobre como a <strong>avaliação</strong> tem sido<br />

usa<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s. Nesse sentido, <strong>no</strong>ssa proposta <strong>de</strong> trabalho, quando<br />

entramos para o mestrado, foi tentar compreen<strong>de</strong>r como a <strong>avaliação</strong> tem se<br />

presentificado <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s, n<strong>um</strong> momento em que as políticas<br />

educacionais têm apontado <strong>um</strong>a educação inclusiva.<br />

A idéia <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r o cotidia<strong>no</strong> se respal<strong>da</strong> na possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> olhar microssocial<br />

que contribui para enten<strong>de</strong>r como a política <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> tem sido concebi<strong>da</strong> nas<br />

instituições <strong>escola</strong>res e que tipo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> tem sido proposta. Concor<strong>da</strong>mos com<br />

Penin (1989, p. 13), quando ela aponta que “[...] é <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> análise do cotidia<strong>no</strong><br />

que po<strong>de</strong>mos melhor enten<strong>de</strong>r as ações dos sujeitos que movimentam a <strong>escola</strong> e<br />

com isso alcançar a natureza dos processos constitutivos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r,<br />

tendo em vista a sua transformação”.<br />

Sabemos que refletir sobre e falar <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>, n<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> educação<br />

inclusiva, é <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> muito complexa, porque tal discussão faz parte do <strong>estudo</strong><br />

<strong>da</strong>s dimensões pe<strong>da</strong>gógicas que irão compreen<strong>de</strong>r e implementar as condições<br />

possíveis e necessárias para as chama<strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s inclusivas.<br />

Nesse sentido, o <strong>no</strong>sso objeto <strong>de</strong> <strong>estudo</strong>, que é a <strong>avaliação</strong> na perspectiva <strong>da</strong><br />

educação inclusiva, não está fragmentado ou d<strong>escola</strong>do <strong>de</strong>sse propósito, mas<br />

permeando ou perpassando todo o projeto <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> para/<strong>da</strong> <strong>escola</strong> regular, o que<br />

<strong>no</strong>s faz querer compreen<strong>de</strong>r as práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> cotidianas na <strong>escola</strong>,<br />

tendo como referência as práticas pe<strong>da</strong>gógicas dos professores e a reflexão<br />

15


sobre a <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais.<br />

1.1 O ESTUDO<br />

Neste <strong>estudo</strong>, acreditamos que a <strong>avaliação</strong> possa ser vista como retroalimentadora<br />

<strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas dos professores e professoras, po<strong>de</strong>ndo servir como<br />

dispositivo para a implementação <strong>de</strong> ações pe<strong>da</strong>gógicas que favoreçam a<br />

aprendizagem <strong>de</strong> todos, inclusive <strong>da</strong>queles alu<strong>no</strong>s com alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />

Nesse contexto, <strong>no</strong>sso olhar, neste <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong>, se pauta em dois pontos. O<br />

primeiro remete-se a perceber como a <strong>inclusão</strong> é vivencia<strong>da</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

<strong>escola</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> Guarapari (ES). Essa análise permitirá<br />

compreen<strong>de</strong>r como a <strong>inclusão</strong> é vivi<strong>da</strong> nesse cotidia<strong>no</strong>, observando se ela é<br />

representa<strong>da</strong>, apropriando-<strong>no</strong>s dos termos <strong>de</strong> Lefebvre, como obra 1 ou como<br />

produto.<br />

O segundo ponto é compreen<strong>de</strong>r como a <strong>avaliação</strong> é concebi<strong>da</strong> 2 e vivi<strong>da</strong> <strong>no</strong><br />

cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. É perceber qual a concepção <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>, observando como<br />

ela se presentifica nesse cotidia<strong>no</strong> e que ações são toma<strong>da</strong>s a partir do ato<br />

avaliativo.<br />

1 Lefebvre (1991) usa os termos obras e produtos para distinguir as ações <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>. Para ele, as obras são<br />

úncias e os produtos são cópias, repetições <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> programado.<br />

2 Lefebvre (apud PENIN, 1986) usa o termo concebido para <strong>de</strong>signar o contexto teórico <strong>de</strong> <strong>um</strong>a época, entretanto<br />

ele faz <strong>um</strong>a relação dialética entre o vivido e o concebido, colocando que o concebido tem origem <strong>no</strong> vivido.<br />

16


É <strong>no</strong>sso interesse perceber como são as práticas avaliativas <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r,<br />

consi<strong>de</strong>rando-as não só <strong>no</strong> concebido, ou seja, a partir <strong>da</strong>s concepções dos<br />

professores sobre o que é <strong>avaliação</strong>, mas também <strong>no</strong> vivido, como elas são<br />

representa<strong>da</strong>s <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, principalmente <strong>no</strong> que tange à <strong>avaliação</strong> <strong>de</strong><br />

alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais.<br />

Nesse sentido, o primeiro capítulo abor<strong>da</strong> o cotidia<strong>no</strong>, percebendo-o a partir do<br />

referencial <strong>de</strong> Lefebvre, que o aponta como <strong>um</strong> lugar <strong>de</strong> imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>no</strong> qual as<br />

coisas não se repetem, porque há <strong>um</strong> processo dialético na sua gênese. Entretanto<br />

o autor afirma que esse cotidia<strong>no</strong> po<strong>de</strong> ser marcado pela cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>, porque<br />

prima pela fragmentação, pela hierarquia e pela homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essas<br />

características estão presentifica<strong>da</strong>s <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> que o torna <strong>um</strong> espaço<br />

voltado para práticas homogêneas.<br />

No segundo capítulo, discutimos sobre o movimento <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, como <strong>um</strong> fato<br />

mundial, instituído por políticas neoliberais que redun<strong>da</strong>m em reformas educacionais<br />

que programam o cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r. No entanto, apesar do aspecto neoliberal, é <strong>um</strong><br />

princípio <strong>de</strong> respeito à diferença, <strong>de</strong> respeito à alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> e que, conseqüentemente,<br />

rompe com o paradigma <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nesse sentido, a <strong>escola</strong> precisa ir além <strong>da</strong><br />

programação e constituir <strong>um</strong>a prática inclusiva <strong>de</strong>ntro do cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r.<br />

O terceiro capítulo aponta a <strong>avaliação</strong> como <strong>um</strong> dispositivo que po<strong>de</strong> servir tanto<br />

para incluir como para excluir. Na análise, percebemos que, historicamente, a<br />

<strong>avaliação</strong> tem servido para a exclusão, mas, n<strong>um</strong> momento em que se abre para a<br />

17


<strong>inclusão</strong>, acreditamos que esta precisa estar articula<strong>da</strong> às práticas pe<strong>da</strong>gógicas para<br />

ser <strong>de</strong> fato inclusiva.<br />

Nesse contexto, o quarto capítulo abor<strong>da</strong> a metodologia usa<strong>da</strong> para conseguirmos<br />

compreen<strong>de</strong>r se as práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, estão contribuindo<br />

para a efetivação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>inclusão</strong>.<br />

Já <strong>no</strong> quinto e sexto capítulo, relatamos <strong>no</strong>ssas experiências <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong>,<br />

vivenciando <strong>um</strong> cotidia<strong>no</strong> que luta, que resiste contra a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> e acaba se<br />

estabelecendo como obra, porque busca a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

avaliativa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>inclusão</strong> <strong>no</strong>s limites possíveis. No sétimo, colocamos<br />

<strong>no</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações sobre o <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

18


2 ANÁLISE DO COTIDIANO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA<br />

LEFEBVRERIANA<br />

2.1 O COTIDIANO E A COTIDIANIDADE<br />

O cotidia<strong>no</strong> é <strong>um</strong> espaço <strong>de</strong>finido <strong>no</strong> senso com<strong>um</strong> como representação do dia-a-<br />

dia. Quando pensamos em cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, pensamos n<strong>um</strong> espaço on<strong>de</strong> convivem<br />

alu<strong>no</strong>s(as), professoras(es), meren<strong>de</strong>iras, serventes, pais e mães <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s,<br />

diretor(es), pe<strong>da</strong>gogos(as), quadro, carteiras, salas, banheiros, quadra, livros,<br />

ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s, pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> aula, enfim, pensamos em pessoas que passam alg<strong>um</strong> tempo<br />

nesse espaço e em objetos que aju<strong>da</strong>m a compor esse cenário.<br />

Quando pensamos na dinâmica <strong>de</strong>sse cotidia<strong>no</strong>, pensamos em alu<strong>no</strong>s e<br />

funcionários chegando próximos ao horário <strong>de</strong>terminado (ou, às vezes, bem antes<br />

ou bem <strong>de</strong>pois); a rotina <strong>da</strong> oração, <strong>da</strong> música, dos avisos que antece<strong>de</strong>m a entra<strong>da</strong><br />

na sala; a fila <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s puxa<strong>da</strong>s pela professora conduzindo-os ao interior <strong>da</strong>s<br />

classes; o início <strong>da</strong>s aulas, marcado pela escrita do cabeçalho <strong>no</strong> quadro e as<br />

crianças copiando o que a professora escreve; a distribuição <strong>da</strong> gra<strong>de</strong> curricular<br />

sendo sempre, antes do recreio, <strong>um</strong>a disciplina e, após o recreio outra<br />

(principalmente em turmas do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> 1ª a 4ª e educação infantil).<br />

Esse seria o cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r que muitos professores ou ex-alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>screveriam.<br />

Um cotidia<strong>no</strong> marcado pela repetição, como se as coisas fossem sempre <strong>da</strong> mesma<br />

19


forma. Nesse cotidia<strong>no</strong>, existe <strong>um</strong> padrão <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>, <strong>um</strong> padrão <strong>de</strong> sala, <strong>um</strong> padrão<br />

<strong>de</strong> professor. Nesse cotidia<strong>no</strong> homogêneo, não há espaço para as diferenças, para<br />

o <strong>no</strong>vo.<br />

Esteban (2001, p.1), falando <strong>de</strong>ssa perspectiva <strong>de</strong> cotidia<strong>no</strong>, <strong>de</strong>screve-o como <strong>um</strong>a<br />

palavra que lembra rotina e que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como aquele que é<br />

[...] conhecido, o que se repete, o peque<strong>no</strong> elemento que permite que tudo<br />

o que vem <strong>de</strong>pois seja previsto [...]. Previsão que quase sempre se<br />

confirma, confirmando, por sua vez, o saber que a embasa. Saber que<br />

permite antever, rever, refazer, repetir. Saber com sabor <strong>de</strong> já visto, já<br />

vivido, já sentido, já conquistado. Saber que leva a ver <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo e a não ver<br />

o <strong>no</strong>vo. Saber que per<strong>de</strong>u o jeito maravilhado que por certo teve <strong>um</strong> dia. O<br />

cotidia<strong>no</strong> é o tempo/espaço <strong>da</strong> previsibili<strong>da</strong><strong>de</strong> (grifo <strong>no</strong>sso).<br />

Mas o que é o cotidia<strong>no</strong>? Será esse espaço que se repete como se as coisas<br />

sempre fossem iguais, <strong>da</strong> mesma forma, como se não houvesse na<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo que<br />

<strong>no</strong>s surpreen<strong>de</strong>sse....<br />

Nas letras <strong>da</strong> poesia “O relógio”, que parece brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> criança, o poeta Vinicius<br />

<strong>de</strong> Moraes expressa as nuances do cotidia<strong>no</strong> concebido e vivido <strong>no</strong>s diversos<br />

contextos sociais.<br />

Passa, tempo, tic-tac<br />

Tic-tac, passa, hora<br />

Chega logo, tic-tac<br />

Tic-tac, e vai-te embora<br />

Passa, tempo<br />

Bem <strong>de</strong>pressa<br />

Não atrasa<br />

Não <strong>de</strong>mora<br />

Que já estou<br />

Muito cansado<br />

Já perdi<br />

To<strong>da</strong> a alegria<br />

20


De fazer<br />

Meu tic-tac<br />

Dia e <strong>no</strong>ite<br />

Noite e dia<br />

Tic-tac<br />

Tic-tac<br />

Tic-tac . . .<br />

Percebemos <strong>um</strong> cotidia<strong>no</strong> marcado e ritmado pelo tempo Chronós, que se repete...<br />

repete... e repete... como se fossem duplicações previsíveis, cíclicas, <strong>da</strong>quilo que vai<br />

ocorrendo dia a dia. Um tempo marcado pelas certezas, pela aparente<br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Na concepção <strong>de</strong> cotidia<strong>no</strong> como espaçotempo <strong>da</strong> previsibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, como aquele que<br />

não surpreen<strong>de</strong> e que está sempre previsível, constrói-se <strong>um</strong> olhar calcificado como<br />

se as coisas fossem programa<strong>da</strong>s para acontecer.<br />

Lefebvre (1991) arg<strong>um</strong>enta que esse cotidia<strong>no</strong>, entendido como aquele que se<br />

repete, não é concebido, por ele, como cotidia<strong>no</strong>. O autor <strong>de</strong><strong>no</strong>mina <strong>de</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

esse cotidia<strong>no</strong> fragmentado, programado, que parece sempre a mesma coisa.<br />

Em sua análise sobre o cotidia<strong>no</strong>, Lefebvre (1991) coloca que o termo cotidia<strong>no</strong> só é<br />

introduzido na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a partir do século XX, com a entra<strong>da</strong> do capitalismo, que<br />

faz com que a vi<strong>da</strong> cotidiana 3 seja inverti<strong>da</strong>, basea<strong>da</strong> na produção, <strong>no</strong> acúmulo <strong>de</strong><br />

bens.<br />

3 Antes do capitalismo, não havia o termo cotidia<strong>no</strong> e sim vi<strong>da</strong> cotidiana que, após a instauração e implantação<br />

do capitalismo, passa a ter <strong>um</strong>a inversão <strong>no</strong>s hábitos e comportamentos sociais. As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que eram<br />

produzi<strong>da</strong>s por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s passam agora a ser realiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> modo repetitivo para acúmulo <strong>de</strong> bens. Os estilos<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> povo passam a ser <strong>de</strong><strong>no</strong>minados cultura, dividi<strong>da</strong> entre cultura <strong>de</strong> massa e alta cultura. Nesses termos, o<br />

capitalismo, junto com a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, instaura a época <strong>da</strong> homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> hierarquização dos fatos.<br />

21


Nesse contexto, a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> é marca<strong>da</strong> pela técnica, pelo trabalho e pela<br />

linguagem. Ele coloca que esse período sofreu <strong>um</strong>a crise que cessou por volta <strong>de</strong><br />

1980 e passa, a partir <strong>de</strong>ssa <strong>da</strong>ta, a ser <strong>de</strong>signado como Mo<strong>de</strong>rnismo. Nessa fase, o<br />

cotidia<strong>no</strong> passa a ser o objeto <strong>de</strong> programação, controlado pela mídia, pelo<br />

marketing e dá-se a instalação e consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> que cristaliza o<br />

cotidia<strong>no</strong>. Penin (1989, p.19) coloca que, para Lefebvre, a “[...] cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> insiste<br />

sobre o homogêneo, sobre o repetitivo, sobre o fragmentário”.<br />

Esta cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> é percebi<strong>da</strong> pela homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> dos tempos cotidia<strong>no</strong>s<br />

on<strong>de</strong> a medi<strong>da</strong> abstrata do tempo, e não dos ciclos e ritmos naturais,<br />

coman<strong>da</strong> a prática social; pela fragmentação dos tempos cotidia<strong>no</strong>s em<br />

que <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong>s brutais <strong>de</strong>stroem os ciclos e ritmos naturais à medi<strong>da</strong><br />

que obe<strong>de</strong>cem à lineari<strong>da</strong><strong>de</strong> dos processos <strong>de</strong> medi<strong>da</strong> e que divi<strong>de</strong>m as<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s segundo <strong>um</strong>a or<strong>de</strong>nação geral <strong>de</strong>creta<strong>da</strong> do alto; pela<br />

hierarquização dos tempos cotidia<strong>no</strong>s on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> situações e<br />

instantes recebem <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> importantes ou <strong>de</strong>sprezíveis, segundo<br />

avaliações mal justifica<strong>da</strong>s (LEFEBVRE, apud PENIN, p. 22, grifo <strong>no</strong>sso).<br />

Essas marcas <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>: homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, fragmentação e hierarquia, po<strong>de</strong>m<br />

ser percebi<strong>da</strong>s em todos os campos sociais, inclusive <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> educação, <strong>de</strong><br />

modo geral, como também <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> educação especial. Tais marcas são tão<br />

programa<strong>da</strong>s que parecem difícil romper com tais i<strong>de</strong>ologias.<br />

2.1.1 As marcas <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> na <strong>escola</strong><br />

A cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> marca o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Segundo Penin (1989), a programação,<br />

na instituição <strong>escola</strong>r se <strong>de</strong>u pela implantação do tecnicismo que se tor<strong>no</strong>u<br />

tendência pe<strong>da</strong>gógica a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70. Uma <strong>da</strong>s conseqüências disso foi a<br />

22


especialização: pe<strong>da</strong>gogos, professores especialistas, psicope<strong>da</strong>gos, psicólogos,<br />

etc. Outra conseqüência foi a hierarquização na qual o saber técnico sobrepuja o<br />

saber prático, contribuindo para <strong>um</strong>a alienação e <strong>um</strong>a hetero<strong>no</strong>mia do fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico. Nesse contexto, ao professor cabia o papel <strong>de</strong> executor.<br />

Roldão (2001, p.127) coloca que a organização estrutural <strong>da</strong> instituição <strong>escola</strong>r, que<br />

se constituiu historicamente como responsável pela garantia <strong>da</strong> apropriação do<br />

conhecimento, permanece, ao longo do tempo, concebi<strong>da</strong> pelos princípios <strong>de</strong> “[...]<br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, segmentação, seqüenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e conformi<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />

Por sua vez, Ferraço (2000) aponta que esses princípios também se encontram na<br />

estrutura didático-pe<strong>da</strong>gógica <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, fazendo com que alg<strong>um</strong>as<br />

práticas acabem se institucionalizando e se consoli<strong>da</strong>ndo como algo inconcebível <strong>de</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça.<br />

Segundo ele, as disciplinas se regulam pelo princípio <strong>de</strong> compartimentalização do<br />

conhecimento, estabelecendo fronteiras entre o que pertence a <strong>um</strong>a e o que<br />

pertence à outra. A prática <strong>de</strong> seriação que encaixa os alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong> padrão série/i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

consoli<strong>da</strong> os princípios <strong>de</strong> hierarquização e lineari<strong>da</strong><strong>de</strong> como se o conhecimento<br />

pu<strong>de</strong>sse caber em espaços programados e lineares. A <strong>de</strong>terminação do a<strong>no</strong> letivo,<br />

expressa<strong>da</strong> na figura do calendário, tenta sistematizar <strong>um</strong>a visão <strong>de</strong>terminista <strong>de</strong><br />

tempo que regula o processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem.<br />

A <strong>avaliação</strong>, que é vista como sinônimo <strong>de</strong> prova, pauta-se pela precisão e é<br />

associa<strong>da</strong> ao rigor matemático e à quantificação. A estrutura-física <strong>da</strong> instituição<br />

23


usca garantir <strong>um</strong>a organização <strong>de</strong> tempo e espaço em função dos comportamentos<br />

e atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>s. Nesse sentido, as carteiras são enfileira<strong>da</strong>s, <strong>um</strong>a após a outra,<br />

para evitar conversas; a mesa <strong>da</strong> professora é localiza<strong>da</strong> n<strong>um</strong> espaço on<strong>de</strong> ela po<strong>de</strong><br />

ter o controle <strong>de</strong> quem entra e saí <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula.<br />

Um outro ponto que Ferraço (2002) analisa é a dinâmica <strong>da</strong> própria aula que é<br />

ass<strong>um</strong>i<strong>da</strong> como elemento pontual, regulador e <strong>de</strong> controle, <strong>de</strong>limita<strong>da</strong> <strong>no</strong> tempo e <strong>no</strong><br />

espaço, seguindo <strong>um</strong>a or<strong>de</strong>m com começo, meio e fim. Nessa mesma lógica <strong>de</strong> se<br />

pensar a aula como <strong>um</strong> elemento pontual, ele aponta as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, os materiais e<br />

recursos didáticos tendo <strong>um</strong> fim em si mesmos. O currículo prescritivo é concebido<br />

tanto como <strong>um</strong> elemento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador, assim como a síntese do processo <strong>de</strong><br />

<strong>escola</strong>rização que visa a assegurar a coerência e a uniformização <strong>de</strong> todos os<br />

elementos anteriores.<br />

Essas estruturas didático-pe<strong>da</strong>gógicas, pensa<strong>da</strong>s pelos princípios <strong>da</strong><br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, segmentação e hierarquização, acabam calcificando o olhar e<br />

favorecendo <strong>um</strong>a visão do cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, como se fosse fragmentado e tendo<br />

como metáfora os ponteiros do relógio que se repetem ca<strong>de</strong>nciando o tempo, o<br />

espaço e as ações.<br />

Ferraço (2002, p. 91, grifo do autor) coloca que “[...] o paradigma cartesia<strong>no</strong> <strong>no</strong>s<br />

ensi<strong>no</strong>u a pensar <strong>no</strong> mundo como <strong>um</strong> cosmos mecânico, <strong>um</strong> universo relógio, com<br />

peças fixas e movimentos previsíveis, n<strong>um</strong> tempo/espaço absoluto”.<br />

24


Nesse sentido, passamos a perceber <strong>um</strong> cotidia<strong>no</strong> como se fosse instituído, <strong>no</strong> qual<br />

existem poucas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças. Não se percebe: a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse cotidia<strong>no</strong>, as diferentes possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do ato pe<strong>da</strong>gógico, as diferentes ações<br />

inventa<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> inserção <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>, os diferentes sujeitos que se encontram<br />

naquele espaço e que a ca<strong>da</strong> dia são modificados e modificam o cotidia<strong>no</strong>.<br />

As marcas <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> – fragmentação, hierarquização e homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> –<br />

tentam programar <strong>um</strong> cotidia<strong>no</strong> que robotiza a ação, tornam indiferente o olhar sobre<br />

o cotidia<strong>no</strong>, como se na<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, <strong>de</strong> inusitado pu<strong>de</strong>sse acontecer e causar<br />

estranhamento.<br />

A idéia <strong>de</strong> homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> educação permite a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

enquadrar os fatos e as pessoas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> campo semântico que pu<strong>de</strong>sse ser<br />

estu<strong>da</strong>do, visto, apreciado, que possibilite tirar conclusões e generalizações. Criam-<br />

se, a partir <strong>da</strong>í, estilos: <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s, <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s, <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r.<br />

Criam-se tempos-padrão <strong>no</strong>s quais todos precisam ser enquadrados, e quem não se<br />

encaixa é consi<strong>de</strong>rado fora do padrão, <strong>da</strong> <strong>no</strong>rma.<br />

Essa lógica, segundo Garcia (2000), é pauta<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Parmêni<strong>de</strong>s,<br />

que explica a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tudo que não se encaixa nesse<br />

mo<strong>de</strong>lo é colocado <strong>no</strong> âmbito do errado, do a<strong>no</strong>rmal, do não-ser. É a lógica<br />

<strong>da</strong>rwiniana que acaba impregnando o olhar e a prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula<br />

exaltando os bons e con<strong>de</strong>nando à repetência, ao fracasso aqueles que não são tão<br />

bons.<br />

25


A premissa <strong>da</strong> homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> contribui para a <strong>um</strong>a visão exclu<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e<br />

ganha força a partir <strong>de</strong> alguns <strong>estudo</strong>s produzidos pela Psicologia, que colaboram<br />

com essa perspectiva <strong>de</strong>screvendo, <strong>no</strong>rmatizando e caracterizando as formas<br />

igualitárias <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> se comportar. A tendência, diante <strong>de</strong>sse fato, é<br />

ver as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s como características pessoais. Entretanto essa atitu<strong>de</strong>, apesar<br />

<strong>de</strong> pontuar a heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, acirra ain<strong>da</strong> mais o discurso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a falsa<br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula, separando aqueles que mais se diferenciam<br />

em tempos e ritmos <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Garcia e Alves (2002, p.86), analisando esse cotidia<strong>no</strong> previsível <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, apontam<br />

que o que faz a <strong>escola</strong> se organizar <strong>da</strong> forma como ela está hoje é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />

quatro processos dominantes: a pe<strong>da</strong>gogização do conhecimento (basea<strong>da</strong> em<br />

Varela); a grupalização (basea<strong>da</strong> em Popkewitz); a hierarquização; e a<br />

centralização.<br />

Na pe<strong>da</strong>gogização do conhecimento, a premissa se baseia em acreditar que alguns<br />

conhecimentos são autorizados a entrar na <strong>escola</strong> e a serem ensinados. A <strong>de</strong>cisão<br />

era pauta<strong>da</strong> “[...] buscando o que era conveniente ou não aos que iam apren<strong>de</strong>r,<br />

<strong>de</strong>cidido a partir <strong>de</strong> critérios exteriores a eles próprios e a partir <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alguém que se consi<strong>de</strong>rava e era reconhecido em posição <strong>de</strong> fazer escolha”<br />

(GARCIA; ALVES, 2002, p.86).<br />

Dessa forma, po<strong>de</strong>-se inferir que os conhecimentos que não eram autorizados a<br />

a<strong>de</strong>ntrar ao ambiente <strong>escola</strong>r podiam ser consi<strong>de</strong>rados saberes inúteis, ou sejam,<br />

saberes do cotidia<strong>no</strong>, que podiam ser apreendidos em qualquer lugar.<br />

26


Para <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong>sse cabe<strong>da</strong>l <strong>de</strong> saberes, foi preciso selecionar e fragmentar os<br />

saberes. “Estes, ao serem escolhidos e incorporados à <strong>escola</strong>, eram retirados <strong>de</strong><br />

seu contexto, o que obrigava ao fracionamento, já que nem tudo podia ser <strong>da</strong>do <strong>no</strong><br />

espaço/tempo <strong>escola</strong>r” (GARCIA; ALVES, 2002, p. 86). Era preciso, segundo as<br />

autoras, organizar os conteúdos criando <strong>um</strong>a seqüência que parecesse natural, que<br />

<strong>de</strong>sse <strong>um</strong> ar <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmali<strong>da</strong><strong>de</strong> e que legitimasse a passagem <strong>de</strong> <strong>um</strong> assunto para o<br />

outro. Alia<strong>da</strong> a esse processo, estava a disciplinarização com co<strong>no</strong>tações<br />

diferencia<strong>da</strong>s: <strong>um</strong>a como parte específica do conhecimento e outra como controle do<br />

corpo e <strong>da</strong> mente.<br />

No processo <strong>de</strong> grupalização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, os grupos foram formados sob a ótica<br />

dos dominantes e estes eram sempre genéricos e <strong>no</strong> masculi<strong>no</strong>. Sob esse aspecto,<br />

as autoras Garcia e Alves (2002, p. 88) colocam<br />

Este processo foi possível pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> que os<br />

específicos e as diferenças existentes entre os variados exemplares não<br />

tinham interesse e que para se <strong>da</strong>r <strong>um</strong>a ‘idéia geral’ <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> era<br />

preciso a realização <strong>de</strong> somas e divisões que permitissem chegar a<br />

‘médias’ que, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não existem, ou dito <strong>de</strong> outras formas, são mera<br />

abstração. Ou seja, foram criados conjuntos ‘naturais’, frutos <strong>de</strong><br />

abstrações, para representar <strong>um</strong>a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que não existe nesses<br />

conjuntos. Reducionismos que escon<strong>de</strong>m a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> impossível <strong>de</strong><br />

captar, melhor dizendo, <strong>de</strong> capturar. Para que isto acontecesse <strong>de</strong> maneira<br />

tão geral como se <strong>de</strong>u, foi necessário <strong>de</strong>sligar ca<strong>da</strong> indivíduo, ca<strong>da</strong> ser<br />

h<strong>um</strong>a<strong>no</strong> dos seus múltiplos contextos cotidia<strong>no</strong>s reais e diversos, e criar<br />

<strong>um</strong> outro espaço/tempo abstrato que passou a ser<br />

dito/visto/percebido/sentido como real. Este lugar criado foi apropriado e<br />

marcado pelos po<strong>de</strong>rosos que passaram, também eles, a agir como se<br />

esse fosse o único lugar existente (grifo <strong>da</strong>s autoras).<br />

Nesse contexto, surgem as turmas, os alu<strong>no</strong>s, as séries, as avaliações para<br />

mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> níveis, os graus <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, as classificações, os rótulos, enfim, o<br />

cotidia<strong>no</strong> passa a ser visto como a metáfora do relógio, que se repete, sempre <strong>da</strong><br />

mesma forma e <strong>no</strong> mesmo tempo.<br />

27


Passa-se a ver e enten<strong>de</strong>r o processo pe<strong>da</strong>gógico, a partir dos grupos que<br />

‘sabem’ e dos que ‘não sabem’, dos que ‘po<strong>de</strong>m passar <strong>de</strong> a<strong>no</strong>’ e dos que<br />

<strong>de</strong>vem ser reprovados e ‘repetir’, dos que ‘ficam na <strong>escola</strong>’ e dos que ‘<strong>de</strong>la<br />

se eva<strong>de</strong>m ou são expulsos’, dos ‘<strong>no</strong>rmais’ e dos ‘excepcionais’, dos que<br />

‘enten<strong>de</strong>m tudo’ e dos que ‘não conseguem compreen<strong>de</strong>r na<strong>da</strong>’, dos<br />

‘quietinhos’ e dos ‘bagunceiros’ (GARCIA; ALVES, 2002, p. 90, grifo <strong>da</strong>s<br />

autoras).<br />

Garcia e Alves, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>screvendo os processos pelos quais as <strong>escola</strong>s se<br />

organizam <strong>da</strong> forma tal como é hoje, discorrem que, atrelado aos dois processos já<br />

discorridos — grupalização e pe<strong>da</strong>gogização do conhecimento — está a hierarquia<br />

dos saberes na qual se justifica por que <strong>de</strong>terminados conhecimentos são mais<br />

importantes do que outros. Nesse contexto, legitima-se, por exemplo, por que a<br />

disciplina <strong>de</strong> Matemática e Português têm <strong>um</strong>a carga horária maior que Geografia e<br />

Educação Física ou, mesmo, por que a disciplina <strong>de</strong> Matemática reprova mais do<br />

que História e esta reprova mais do que Artes.<br />

O quarto processo é a centralização, que visa a <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> unificação<br />

curricular, <strong>de</strong> <strong>um</strong> currículo nacional para todos. Esse processo <strong>de</strong> centralização faz<br />

parte do projeto neoliberal que iguala para classificar.<br />

Esses processos, <strong>de</strong>scritos neste trecho e arrolados por Garcia e Alves (2002),<br />

apontam que existe <strong>um</strong>a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong> que estabelece<br />

quando, como e <strong>de</strong> que forma fazer, <strong>da</strong>ndo a impressão <strong>de</strong> <strong>um</strong>a falsa igual<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Essa programação não percebe as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> cotidia<strong>no</strong>, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

contexto e acabam igualando práticas pe<strong>da</strong>gógicas, modos <strong>de</strong> olhar e perceber o<br />

alu<strong>no</strong> sem consi<strong>de</strong>rar as diferenças <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>.<br />

28


Entretanto Lefebvre (1991) esclarece que, nessa cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos encontrar<br />

formas <strong>de</strong> superação, formas <strong>de</strong> olhar diferencia<strong>da</strong>s que possibilitam a construção<br />

<strong>de</strong> obras e não <strong>de</strong> produtos, que possibilitam a ca<strong>da</strong> cotidia<strong>no</strong> criar, reinventar e<br />

viver, superando os <strong>de</strong>safios e encontrando <strong>no</strong>vas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos se<br />

apropriarem do conhecimento.<br />

2.2 O COTIDIANO COMO POSSIBILIDADE DE MUDANÇA<br />

Analisando o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s, po<strong>de</strong>mos perceber que os princípios que regem<br />

a prática pe<strong>da</strong>gógica são pautados pelas características <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta, que<br />

é o cotidia<strong>no</strong> programado, ten<strong>de</strong> a se fechar, porém, n<strong>um</strong>a relação dialética.<br />

Entretanto, esse mesmo cotidia<strong>no</strong> po<strong>de</strong> ter movimentos <strong>de</strong> resistências que rompem<br />

com a programação homogênea <strong>de</strong> modo a transformar a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> em <strong>um</strong><br />

cotididia<strong>no</strong> imprevisível.<br />

Lefebvre (1991) coloca que é <strong>no</strong> cerne <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos propor<br />

mu<strong>da</strong>nças. Nesse sentido, acreditamos que precisamos olhá-la <strong>de</strong> forma<br />

diferencia<strong>da</strong>, para po<strong>de</strong>r romper com a programação que a faz produzir e<br />

(re)produzir <strong>da</strong> mesma forma. Precisamos, por meio do coletivo, transformar as<br />

ações <strong>de</strong>ssa cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> em obras, pois a programação intensa do cotidia<strong>no</strong> fez<br />

com que os agentes parassem <strong>de</strong> produzi-las, para produzir produtos que são<br />

entendidos como cópias, repetições.<br />

29


A obra po<strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong> como <strong>um</strong>a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer, viver, conviver<br />

nesse cotidia<strong>no</strong> sem ser captura<strong>da</strong> pela cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>. As obras, para Lefebvre, são<br />

as produções <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s h<strong>um</strong>anas que surgem <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> cotidiana. Sendo<br />

assim, elas são criativas, têm estilo e são únicas, porque partem <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

contexto. Isso é possível porque Lefebvre não separa dos atores sociais a<br />

construção do conhecimento. Nesse sentido, as concepções, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, as<br />

idéias e as criações dos professores significam a “criação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a obra”, pois são<br />

únicas, pertencentes àquele cotidia<strong>no</strong> (LEFEBVRE, apud BRZEZINSKI, 2001, p. 70).<br />

Já os produtos po<strong>de</strong>m ser entendidos quando realizamos ações sem refletir para<br />

que e por que estamos fazendo <strong>de</strong>ssa forma e não <strong>de</strong> outra, o que po<strong>de</strong> ser<br />

res<strong>um</strong>ido em fazermos pelo simples fato <strong>de</strong> que todo mundo está fazendo, pelo<br />

simples modismo.<br />

Po<strong>de</strong>mos associar o conceito <strong>de</strong> obra <strong>de</strong> Lefebvre à idéia <strong>de</strong> configuração <strong>de</strong><br />

Norbert Elias (1980). Segundo esse autor (apud GONSALVES, 2004, p. 22), “[...]<br />

configuração seria, portanto, <strong>um</strong>a abrangência relacional, o modo <strong>de</strong> existência do<br />

ser social e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual <strong>de</strong> aproximação às emergências do cotidia<strong>no</strong>”.<br />

Seriam as respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s aos <strong>de</strong>safios que acontecem <strong>no</strong> dia-a-dia, pelos sujeitos<br />

ou pelos jogadores <strong>da</strong>quele contexto. Isso significa que não há repetição <strong>de</strong>sse<br />

evento, pois essa configuração, ou esse jogo, 4 é <strong>um</strong>a combinação provisória e<br />

dinâmica <strong>da</strong>s relações <strong>da</strong>quele grupo.<br />

4 Norbert Elias (1980 apud GONSALVES, 2004, p.21) usa o termo jogo como <strong>um</strong> conceito interligado ao <strong>de</strong><br />

configuração. Segundo ele, o “[...] jogo é <strong>um</strong> sistema <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência complexo que serve para pensar [...]<br />

os grupos h<strong>um</strong>a<strong>no</strong>s, é <strong>um</strong> ‘padrão’ mutável que compreen<strong>de</strong> o conjunto criado pelos jogadores nas relações com<br />

os outros”.<br />

30


Essa combinação provisória não parte <strong>de</strong> leis preestabeleci<strong>da</strong>s, já concebi<strong>da</strong>s<br />

teoricamente, mas sim <strong>de</strong> <strong>um</strong>a relação dialética entre o vivido e o concebido. Dessa<br />

forma, tanto o vivido como o concebido estão articulados dialeticamente, e religa-se,<br />

<strong>no</strong> espaço <strong>escola</strong>r, a teoria com a prática e esta com a teoria. O vivido “[...] é<br />

formado tanto pela vivência <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sujeitos quanto pela vivência social<br />

e coletiva dos sujeitos n<strong>um</strong> contexto específico” (PENIN, 1989, p. 27). Segundo a<br />

mesma autora, Lefebvre não contempla essa vivência como algo singular, individual,<br />

porque, para ele, as relações sociais são vivencia<strong>da</strong>s antes <strong>de</strong> serem concebi<strong>da</strong>s,<br />

percebendo, assim, a própria teoria do conhecimento como história <strong>da</strong> prática social.<br />

Nesse sentido, a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser supera<strong>da</strong> e o cotidia<strong>no</strong> passa a ser <strong>um</strong><br />

espaço imprevisível <strong>no</strong> qual as configurações dos sujeitos/jogadores são<br />

constituí<strong>da</strong>s em obras. Entretanto essa imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> não significa a inexistência<br />

<strong>de</strong> espaços previsíveis, mas é <strong>um</strong> cotidia<strong>no</strong> que “[...] sendo lugar <strong>da</strong> previsão, <strong>da</strong><br />

repetição, do saber, é também seu oposto. Sempre igual e sempre diferente, o<br />

mesmo e o múltiplo, a simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>: oposições que dialogam <strong>no</strong><br />

cotidia<strong>no</strong>. Assim é o cotidia<strong>no</strong>: tempo/espaço em que a vi<strong>da</strong> se realiza” (ESTEBAN,<br />

2000, p. 5).<br />

Sendo assim, <strong>de</strong>ntro do cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, po<strong>de</strong>mos perceber as práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas, os alu<strong>no</strong>s, o caos e a or<strong>de</strong>m, as práticas <strong>de</strong> avaliações, o movimento<br />

<strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>, enfim to<strong>da</strong>s as coisas que acontecem e/ou <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> acontecer como<br />

frutos <strong>da</strong> configuração/ <strong>da</strong> obra/ do jogo/ <strong>da</strong>quilo que é vivido e concebido pelos<br />

atores sociais <strong>da</strong>quele grupo.<br />

31


A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vermos o cotidia<strong>no</strong> como passível <strong>de</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça/transformação/modificação/superação é possível porque Lefebvre enfatiza<br />

o cotidia<strong>no</strong> como <strong>um</strong> espaço <strong>no</strong> qual se concretizam “[...] as transformações através<br />

<strong>da</strong> ação do homem ativo, criativo e prático que ao mesmo tempo se transforma e<br />

provoca transformações” (BRZEZINSKI, 2001, p.70).<br />

Dessa forma, po<strong>de</strong>mos romper com a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>, com o previsível, com o que<br />

está pronto e acabado. Alves (2002), falando <strong>da</strong>s múltiplas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse<br />

cotidia<strong>no</strong>, refere-se aos momentos <strong>de</strong> luta/ <strong>de</strong> conquista/ <strong>de</strong> superação.<br />

Ser, assim, capaz <strong>de</strong> revoltar em mim o que está pronto e acabado,<br />

ganhando força (prática-teoria-prática) para organizar os arg<strong>um</strong>entos <strong>de</strong><br />

apoio à vi<strong>da</strong> na sua passagem cotidiana, <strong>no</strong>s múltiplos combates que <strong>de</strong>vo<br />

travar, tentando superar ca<strong>da</strong> vez mais a tão difícil cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(LEFEBVRE,1991) que leva tantos a entregarem os pontos porque na<strong>da</strong><br />

mais po<strong>de</strong> se fazer. Percebendo e vivendo acontecimentos <strong>no</strong>s múltiplos<br />

cotidia<strong>no</strong>s em que vivo, ser capaz <strong>de</strong> buscar aproximar os conhecimentos<br />

criados em ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>, traçando analogias que melhor me permitam<br />

compreen<strong>de</strong>r o cotidia<strong>no</strong> vivido nas <strong>escola</strong>s para ser capaz <strong>de</strong> trançar<br />

melhor as re<strong>de</strong>s necessárias ao enten<strong>de</strong>r (ALVES, 2002, p. 24).<br />

É esse cotidia<strong>no</strong> que queremos abor<strong>da</strong>r <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso olhar <strong>de</strong> pesquisadora. Um<br />

cotidia<strong>no</strong> que não é engessado pela cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois com a ação coletiva dos<br />

atores sociais, po<strong>de</strong> ser modificado. É nesse cotidia<strong>no</strong> que acreditamos que po<strong>de</strong><br />

haver <strong>um</strong>a educação que aten<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais <strong>de</strong> todos os alu<strong>no</strong>s<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Nesse contexto, quando pensamos <strong>no</strong> movimento <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s<br />

<strong>escola</strong>s, remetemos <strong>no</strong>sso pensamento a <strong>um</strong> espaçotempo <strong>no</strong> qual às pessoas <strong>da</strong><br />

instituição <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> consi<strong>de</strong>ram o cotidia<strong>no</strong> como algo imprevisível e, sendo assim,<br />

colocam-se n<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> busca constante <strong>de</strong> fazer e refazer as práticas<br />

32


pe<strong>da</strong>gógicas basea<strong>da</strong>s n<strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> investigativa que possibilita <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça<br />

do e <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>, porque é <strong>de</strong>sse e nele “[...] que emergem as gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cisões e<br />

os instantes dramáticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e ação” (LEFEBVRE, apud PENIN, 1989, p.16).<br />

33


3 INCLUSÃO: ANÁLISE DESSE MOVIMENTO NO COTIDIANO DAS<br />

ESCOLAS<br />

3.1 A COTIDIANIDADE DA INCLUSÃO MARCADA PELAS POLÍTICAS<br />

EDUCACIONAIS<br />

O termo <strong>inclusão</strong> vem ganhando força e visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90.<br />

Entretanto suas premissas originam-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período pós-guerra, quando é<br />

ressalta<strong>da</strong> a questão dos direitos iguais. Ela po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>da</strong> por dois vieses:<br />

como <strong>um</strong> direito constituído por conta <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia e como <strong>um</strong>a conquista que<br />

ocorre <strong>de</strong>vido aos movimentos <strong>de</strong> resistência à exclusão social.<br />

É <strong>um</strong> movimento que está atrelado à construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática e<br />

po<strong>de</strong> ser encarado como <strong>um</strong> “[...] movimento <strong>de</strong> resistência contra a exclusão social,<br />

que historicamente vem afetando grupos mi<strong>no</strong>ritários que visam à conquista do<br />

exercício do direito ao acesso a recursos e serviços <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (MENDES, 2002,<br />

p.61).<br />

Gentili (1998) aponta que, “[...] na ótica neoliberal o Estado foi incapaz <strong>de</strong> assegurar<br />

a <strong>de</strong>mocratização mediante o acesso <strong>da</strong>s massas às instituições educacionais e, ao<br />

mesmo tempo, a eficiência produtiva que <strong>de</strong>ve caracterizar as práticas pe<strong>da</strong>gógicas<br />

nas <strong>escola</strong>s <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />

34


Nesse contexto, alg<strong>um</strong>as políticas 5 foram traça<strong>da</strong>s com o intuito <strong>de</strong> prever<br />

programas <strong>de</strong> estabilização e reformas econômicas para minimizar tal situação.<br />

Sendo assim, várias reuniões foram agen<strong>da</strong><strong>da</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> homogeneizar<br />

<strong>um</strong>a política mundial <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>.<br />

Dentre essas reuniões, <strong>de</strong>stacam-se: a Convenção dos Direitos <strong>da</strong> Criança (Nova<br />

York, 1989); a Conferência Mundial <strong>de</strong> Educação para Todos (Jontiem, Tailândia,<br />

1990); a Conferência Mundial sobre “Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Educativas Especiais”<br />

(Salamanca – Espanha, 1994); e o Fór<strong>um</strong> Consultivo Internacional para a Educação<br />

para Todos (Dakar – Senegal, 2000).<br />

To<strong>da</strong>s essas reuniões apontam o direito <strong>de</strong> todos a <strong>um</strong>a educação e à valorização<br />

<strong>da</strong> diferença. Bue<strong>no</strong> (2005, p. 36) ressalta que a Declararação <strong>de</strong> Salamanca, que é<br />

<strong>um</strong> dos motes <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, reconhece que<br />

[...] as políticas educacionais <strong>de</strong> todo o mundo fracassam <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong><br />

esten<strong>de</strong>r a to<strong>da</strong>s as crianças a educação obrigatória e <strong>de</strong> que é preciso<br />

modificar tanto as políticas quanto as práticas <strong>escola</strong>res sedimenta<strong>da</strong>s na<br />

perspectiva <strong>da</strong> homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Sendo assim, “[...] <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> educação, a <strong>inclusão</strong> envolve <strong>um</strong> processo <strong>de</strong><br />

reformas e <strong>de</strong> reestruturação <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s como <strong>um</strong> todo, com o objetivo <strong>de</strong><br />

assegurar que todos os alu<strong>no</strong>s possam ter acesso a to<strong>da</strong>s as gamas <strong>de</strong><br />

5 Uma <strong>de</strong>ssas políticas po<strong>de</strong> ser expressa pelo Consenso <strong>de</strong> Washington que segue recomen<strong>da</strong>ções do Banco<br />

Mundial e do Fundo Monetário Internacional.<br />

35


oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais e sociais ofereci<strong>da</strong>s pela <strong>escola</strong>” (MITTLER, 2003, p.<br />

25).<br />

As políticas educacionais do Brasil também entraram nessa perspectiva. A<br />

legislação brasileira (leis, <strong>de</strong>cretos e resoluções) aponta a matrícula <strong>de</strong> modo<br />

preferencial dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais na re<strong>de</strong> regular<br />

<strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, assim como instr<strong>um</strong>entalizam a luta contra a discriminação e indicam<br />

perspectivas para o atendimento educacional <strong>de</strong>sses alu<strong>no</strong>s, <strong>de</strong> modo que eles<br />

possam ter acesso a <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Nessa linha, temos o art. 208 <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988; o Estatuto <strong>da</strong><br />

Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 1990; a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases<br />

<strong>da</strong> Educação Nacional (9394/96) que, além <strong>de</strong> prever a matrícula nas <strong>escola</strong>s<br />

regulares, apresenta <strong>um</strong> capítulo <strong>de</strong>liberando sobre a educação especial <strong>no</strong> âmbito<br />

nacional; o Decreto nº 3.928/1999, 6 que legisla sobre <strong>um</strong>a Política Nacional para a<br />

Integração <strong>da</strong> pessoa portadora <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência; 7 a Lei nº 10.172/01, que aprova o<br />

Pla<strong>no</strong> Nacional <strong>de</strong> Educação e que, entre as ações, estabelece<br />

<strong>no</strong>rmas/regras/princípios para a educação especial; o Decreto nº 3.956/01, que<br />

corrobora o que ficou estabelecido na Convenção Interamericana para Eliminação<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> discriminação contra as pessoas com <strong>de</strong>ficiência; e a<br />

Resolução CNE/CEB nº 02/2001, que estabelece as Diretrizes Nacionais para a<br />

Educação Especial na Educação Básica.<br />

6 Esse <strong>de</strong>creto tem como princípio a ação conjunta do Estado e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil para garantir os direitos<br />

constitucionais <strong>da</strong>s pessoas com <strong>de</strong>ficiência, inclusive <strong>no</strong> campo educacional.<br />

7 .O termo portador apresenta <strong>um</strong>a <strong>de</strong><strong>no</strong>tação <strong>de</strong> que as pessoas com <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> tê-las a<br />

qualquer momento, por isso a expressão “politicamente correta” seria pessoas com <strong>de</strong>ficiência. No entanto<br />

escrevemos o título <strong>da</strong> legislação tal como ele é <strong>de</strong>scrito.<br />

36


Além <strong>de</strong>sses doc<strong>um</strong>entos legislativos, o Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC) organizou, a<br />

partir <strong>de</strong> 2000, <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>entos que visam a <strong>no</strong>rtear a prática educacional<br />

para alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais. Entre esses doc<strong>um</strong>entos,<br />

po<strong>de</strong>mos citar:<br />

2000<br />

2002<br />

• O Projeto Escola Viva, é composto por duas coletâneas <strong>de</strong> cartilhas, <strong>um</strong>a<br />

amarela e outra azul, acompanha<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o para servir <strong>de</strong> formação inicial<br />

e continua<strong>da</strong> dos professores.<br />

• Portal <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> técnica para a educação: equipamentos e material<br />

pe<strong>da</strong>gógico. Este doc<strong>um</strong>ento, elaborado por Manzini e Santos, tinha como<br />

objetivo apoiar a <strong>escola</strong> e os professores <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> contribuir com<br />

sugestões para a prática pe<strong>da</strong>gógica e para a capacitação e recreação <strong>de</strong><br />

alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência física.<br />

• Estratégias e orientações para a educação <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem associa<strong>da</strong>s às condutas típicas. É <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento que procura<br />

i<strong>de</strong>ntificar o alu<strong>no</strong> com essa <strong>de</strong>ficiência apresentando formas <strong>de</strong> atendimento,<br />

o currículo, a <strong>avaliação</strong> e a terminali<strong>da</strong><strong>de</strong> específica.<br />

• O livro Avaliação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais dos alu<strong>no</strong>s, que é <strong>um</strong><br />

doc<strong>um</strong>ento que visa a discutir a questão <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> dos alu<strong>no</strong>s e aponta<br />

<strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> pe<strong>da</strong>gógica como ponto-chave para a i<strong>de</strong>ntificação dos alu<strong>no</strong>s<br />

com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Este doc<strong>um</strong>ento passou a fazer parte <strong>da</strong> coletânea <strong>de</strong><br />

livros <strong>da</strong> coleção saberes e práticas.<br />

37


2004<br />

2005<br />

• Saberes e prática <strong>da</strong> educação infantil<br />

• Saberes e prática do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental.<br />

Esses doc<strong>um</strong>entos são compostos <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve livros em ca<strong>da</strong> coleção e fazem parte<br />

<strong>da</strong> proposta <strong>de</strong> formação inicial e continua<strong>da</strong> dos profissionais <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Implica<br />

<strong>um</strong>a base sobre a <strong>inclusão</strong> e vários conhecimentos sobre os diferentes tipos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ficiência.<br />

• Direito à educação: subsídios para a gestão dos sistemas educacionais. Este<br />

é <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento que traz orientações sobre a educação inclusiva, <strong>da</strong>dos<br />

estatísticos e apresenta os principais marcos legais.<br />

• Referências para a construção dos sistemas educacionais inclusivos.<br />

Apresenta quatro doc<strong>um</strong>entos com indicadores para que os sistemas<br />

educacionais e o município possam avaliar suas ações em prol <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>.<br />

• Ensaios pe<strong>da</strong>gógicos: construindo <strong>escola</strong>s inclusivas. Este doc<strong>um</strong>ento é <strong>um</strong>a<br />

coletânea <strong>de</strong> textos escrita por pesquisadores e profissionais 8 que procuram<br />

expressar o pensamento filosófico, político, jurídico e cultural para a<br />

construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> sistema educacional inclusivo.<br />

• Educar na diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> – material <strong>de</strong> formação docente. Este material faz<br />

parte do Projeto Educar para a Diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que o MEC elaborou em conjunto<br />

com vários países do Mercosul e com o apoio <strong>da</strong> Unesco.<br />

8 Entre esses pesquisadores e profissionais, po<strong>de</strong>mos encontrar textos <strong>de</strong>: Rosa Blanco, Cláudio Baptista,<br />

Eugênia Fávero, Eduardo Manzini, Mantoan, Ronice Quadros e outros que se <strong>de</strong>stacam <strong>no</strong> cenário nacional e<br />

internacional, nas pesquisas na área <strong>de</strong> educação especial.<br />

38


2006<br />

• Revista Inclusão – esta revista teve <strong>um</strong>a “repagina<strong>da</strong>” 9 e foi relança<strong>da</strong> em<br />

2005, com o objetivo <strong>de</strong> contribuir na formação <strong>de</strong> profissionais voltados para<br />

a política <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>.<br />

• Experiências educacionais inclusivas – programa <strong>de</strong> educação inclusiva<br />

direito a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse doc<strong>um</strong>ento traz <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> vários<br />

locais do Brasil, que contam/relatam alguns caminhos e <strong>de</strong>safios em prol <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> sistema inclusivo.<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber que, entre 2000 a 2006, vários doc<strong>um</strong>entos foram formulados,<br />

publicados e disponibilizados eletronicamente com o intuito <strong>de</strong><br />

contribuir/aju<strong>da</strong>r/programar a <strong>escola</strong> para que tivesse, na sua cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>, marcas<br />

<strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>. Gentili (1998) coloca que, entre as políticas educacionais, <strong>no</strong>s<br />

diferentes países, existe <strong>um</strong>a regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> e semelhança sem levar em conta as<br />

peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>caso</strong> e isso, segundo o autor, é <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s características <strong>da</strong>s<br />

reformas <strong>escola</strong>res implementa<strong>da</strong>s durante os últimos 15 a<strong>no</strong>s. Não po<strong>de</strong>mos<br />

esquecer que tais ações fazem parte <strong>de</strong> <strong>um</strong>a política neoliberal que procura excluir<br />

para incluir.<br />

Tal regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser percebi<strong>da</strong> analisando-se <strong>um</strong> trabalho recente, coor<strong>de</strong>nado<br />

por Rosangela Gavioli Prieto e apresentado na 27º Reunião <strong>da</strong> Associação Nacional<br />

dos Pesquisadores em Educação (ANPED), em 2004. Esse trabalho, encomen<strong>da</strong>do<br />

pelo Grupo <strong>de</strong> Trabalho (GT) 15 – Educação Especial — teve como o objetivo<br />

9 Usamos o termo repagina<strong>da</strong>, pois o MEC já tinha <strong>um</strong>a Revista cujo <strong>no</strong>me era Integração e, em consenso,<br />

produz <strong>um</strong>a “<strong>no</strong>va/velha” com o título Inclusão.<br />

39


<strong>de</strong>screver e analisar a implantação <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> atendimento <strong>escola</strong>r às pessoas<br />

com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais em diferentes municípios pertencentes às<br />

regiões brasileiras. 10 Nessa análise, po<strong>de</strong>mos perceber que a Resolução nº 2/2001<br />

<strong>da</strong> CNE/CEB é o doc<strong>um</strong>ento que vai servir <strong>de</strong> base para que os municípios<br />

envolvidos na pesquisa elaborem suas políticas públicas municipais.<br />

Entre as políticas traça<strong>da</strong>s por essa Resolução, po<strong>de</strong>mos elencar: a matrícula<br />

preferencial <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais na re<strong>de</strong> regular <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong>; a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> quem são os alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais; os serviços <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula; o trabalho colaborativo<br />

entre professor especialista e professor <strong>da</strong> sala regular; a formação <strong>de</strong> professores<br />

<strong>no</strong> nível <strong>de</strong> capacitação e especialização; a preparação <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>escola</strong> para torná-<br />

la inclusiva; a a<strong>da</strong>ptação e flexibilização <strong>de</strong> práticas pe<strong>da</strong>gógicas e currículos para<br />

aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais; o apoio <strong>da</strong> família; a <strong>avaliação</strong> pe<strong>da</strong>gógica e<br />

não com cunho <strong>de</strong> diagnóstico; <strong>um</strong>a terminali<strong>da</strong><strong>de</strong> específica para aqueles que<br />

chegarem a <strong>de</strong>terminados limites; e apoio/reestruturação <strong>da</strong>s instituições<br />

filantrópicas para trabalharem como parceiras <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>.<br />

Nesse contexto, na análise <strong>da</strong> pesquisa produzi<strong>da</strong> na ANPED (PRIETO, 2004),<br />

po<strong>de</strong>mos perceber que os pontos apontados pelas Diretrizes do MEC estão<br />

arrolados nas políticas dos municípios envolvidos. No entanto não po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s<br />

esquecer, tal como <strong>no</strong>s alerta Garcia (2005), <strong>de</strong> que <strong>no</strong> bojo <strong>de</strong>sse doc<strong>um</strong>ento, há<br />

alg<strong>um</strong>as ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que são características <strong>de</strong> <strong>um</strong>a política neoliberal.<br />

10 Fizeram parte <strong>de</strong>ssa pesquisa os seguintes municípios: Região Norte – Belém do Pará; Região Nor<strong>de</strong>ste –<br />

Natal; Região Centro-Oeste – Campo Gran<strong>de</strong>; Região Su<strong>de</strong>ste – Dia<strong>de</strong>ma (SP).<br />

40


Entre alg<strong>um</strong>as <strong>de</strong>ssas ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Garcia (2005) aponta que há <strong>um</strong>a crítica à<br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas propõe a heterogenização <strong>de</strong> recursos e equipamentos<br />

conforme a “incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong>” dos alu<strong>no</strong>s; racionaliza o acesso, prevendo<br />

equipamentos, metodologias e profissionais necessários à educação <strong>de</strong> sujeitos com<br />

<strong>de</strong>ficiência e, ao mesmo tempo, racionaliza o conhecimento flexibilizando currículo e<br />

também pela terminali<strong>da</strong><strong>de</strong> específica; coloca que os professores <strong>de</strong>vem ter<br />

formação e competências diferencia<strong>da</strong>s (especialistas e capacitados), mas, ao<br />

mesmo tempo, visualiza a família como apoio em várias frentes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o diagnóstico<br />

até o acompanhamento do processo <strong>de</strong> implantação e implementação <strong>da</strong> política <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong>.<br />

Como vimos até aqui, o movimento <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> vem sendo programado para<br />

impregnar a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, mas essa programação em na<strong>da</strong> contribui para<br />

<strong>um</strong> olhar diferenciado, <strong>um</strong> olhar <strong>de</strong> aceitação em relação aos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência<br />

e sim acaba categorizando-os como o diferente <strong>no</strong> espaço <strong>escola</strong>r.<br />

É preciso, portanto, termos em mente que não há modos estanques para<br />

realizarmos a <strong>inclusão</strong>. Santos (2006, p. 8) <strong>no</strong>s ensina que a <strong>inclusão</strong> não se efetiva<br />

somente por políticas públicas, pois “[...] <strong>inclusão</strong> é processo, e processo não se<br />

ensina, vive-se”.<br />

Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos inferir que, apesar <strong>de</strong> o contexto neoliberal tentar<br />

programar o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> produzindo produtos, olhares, ações que serão<br />

repetidos, como se fosse <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> relógio previsível, há também, nesse contexto,<br />

41


a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças, <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong>s que não estão e nem são fixas, prontas,<br />

acaba<strong>da</strong>s.<br />

É <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>escola</strong>, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que iremos construir e reconstruir<br />

<strong>um</strong>a configuração <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> conforme as condições possíveis do e <strong>no</strong><br />

espaço/tempo. Isso implica <strong>um</strong>a educação que tenha em mente que <strong>inclusão</strong> e<br />

exclusão coexistem n<strong>um</strong>a relação dialética, na qual é preciso que a diferença seja<br />

respeita<strong>da</strong> e consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> e que, <strong>de</strong> fato, haja aprendizagem.<br />

3.2 INCLUSÃO E EXCLUSÃO<br />

A <strong>inclusão</strong> é, segundo Men<strong>de</strong>s (2002, p. 61), <strong>um</strong> movimento mundial proposto como<br />

<strong>um</strong> <strong>no</strong>vo paradigma que “[...] implica a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> processo bilateral <strong>no</strong> qual<br />

as pessoas excluí<strong>da</strong>s e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> buscam, em parceria, efetivar a equiparação <strong>de</strong><br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para todos”.<br />

Contudo não po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s esquecer, como <strong>no</strong>s alerta Sawaia (2002), <strong>de</strong> que<br />

<strong>inclusão</strong> e exclusão são faces <strong>da</strong> mesma moe<strong>da</strong>. Não po<strong>de</strong>mos abor<strong>da</strong>r o assunto<br />

sobre <strong>inclusão</strong> sem <strong>no</strong>s remetermos à exclusão:<br />

[...] a exclusão é processo complexo e multifacetado, <strong>um</strong>a configuração <strong>de</strong><br />

dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É processo sutil e<br />

42


dialético, pois só existe em relação à <strong>inclusão</strong> como parte constitutiva <strong>de</strong>la.<br />

Não é <strong>um</strong>a coisa ou <strong>um</strong> estado, é processo que envolve o homem por<br />

inteiro e suas relações com os outros (SAWAIA, 2002, p. 9).<br />

Essa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> exclusão <strong>no</strong>s remete ao conceito <strong>de</strong> configuração <strong>de</strong> Nobert Elias,<br />

e po<strong>de</strong>mos dizer que é nas ações dos jogadores, <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>, que será<br />

estabeleci<strong>da</strong> a relação <strong>de</strong> exclusão/<strong>inclusão</strong>. É na análise do cotidia<strong>no</strong> que po<strong>de</strong>mos<br />

perceber essa relação tão complexa.<br />

A dialética <strong>inclusão</strong>/exclusão gesta subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas que vão<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o sentir-se incluído até o sentir-se discriminado ou revoltado. Essas<br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s não po<strong>de</strong>m ser explica<strong>da</strong>s unicamente pela <strong>de</strong>terminação<br />

econômica, elas <strong>de</strong>terminam e são <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s por formas diferencia<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> legitimação social e individual, e manifestam-se <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> como<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, afetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, consciência e inconsciência<br />

(SAWAIA, 2002, p. 9).<br />

Nesse sentido, a <strong>inclusão</strong> não po<strong>de</strong> ser vista como <strong>um</strong> elemento à parte dos sujeitos<br />

e do contexto <strong>no</strong> qual ela é pratica<strong>da</strong>. Po<strong>de</strong>mos ter, <strong>no</strong> mesmo espaço/tempo,<br />

situações <strong>de</strong> exclusão e <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>. Em <strong>um</strong>a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista, Sawaia (2002,<br />

p.8) aponta que “[...] a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> exclui para incluir” e Padilha (2004, p. 109-110)<br />

<strong>de</strong>screve que “[...] <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> educação fala-se mais em <strong>inclusão</strong>. Pouco se fala<br />

<strong>da</strong> exclusão, como se fosse possível incluir sem compreen<strong>de</strong>r por que alguém não<br />

está incluído. Não estar incluído, ou excluído <strong>de</strong> quê? Quando? On<strong>de</strong>?” (grifos do<br />

autor).<br />

Padilha (2004, p. 96-97) aponta <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> ações que fazemos ou <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong><br />

fazer <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> que reflete essa dinâmica.<br />

Deixar crianças e jovens <strong>de</strong>ficientes ou pobres sem <strong>escola</strong>, sem ensi<strong>no</strong>,<br />

sem aprendizagem e abandonados à própria sorte é impedir, <strong>de</strong> forma<br />

43


violenta, o exercício do direito que todos têm <strong>de</strong> participar dos bens<br />

culturais produzidos pela h<strong>um</strong>ani<strong>da</strong><strong>de</strong> [...]. Igualmente violento é <strong>de</strong>ixá-los<br />

na <strong>escola</strong>, matriculados, com lugar marcado na sala <strong>de</strong> aula, mas sem<br />

apren<strong>de</strong>r, sem o acesso a todos os instr<strong>um</strong>entos e estratégias que<br />

respon<strong>da</strong>m às suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s peculiares: professores que saibam do<br />

que realmente estas crianças e jovens necessitam; equipe <strong>de</strong> profissionais<br />

que saiba orientar professores e familiares, acompanhando-os <strong>no</strong> processo<br />

<strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> seus alu<strong>no</strong>s e filhos; número suficiente <strong>de</strong> pessoas<br />

para cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong>stes alu<strong>no</strong>s na <strong>escola</strong>; número me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s por sala <strong>de</strong><br />

aula; salas <strong>de</strong> recurso em ple<strong>no</strong> funcionamento; estrutura física dos prédios<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>; possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção garanti<strong>da</strong>s; projeto pe<strong>da</strong>gógico<br />

coletivo; estrutura e funcionamento administrativos compatíveis com o<br />

projeto pe<strong>da</strong>gógico e com as singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos diferentes grupos <strong>de</strong><br />

crianças e jovens [...] (PADILHA, 2004, p. 96-97).<br />

Dessa forma, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que a <strong>inclusão</strong> é muito mais que a simples<br />

matrícula na <strong>escola</strong>, na qual os sujeitos exercem o seu direito constitucional. Muitas<br />

vezes, essa questão <strong>de</strong> direito não é visível para todos e, como aponta Wan<strong>de</strong>rley<br />

(2002, p. 24), há <strong>um</strong>a tramutação do “direito” em “favor” e isso acaba reforçando o<br />

processo <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong>ntro e na <strong>escola</strong>.<br />

Muitos acham que a <strong>inclusão</strong> se res<strong>um</strong>e na inserção <strong>de</strong>ntro do espaço <strong>escola</strong>r, o<br />

que acaba, <strong>no</strong> imaginário <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as instituições, parecendo <strong>um</strong>a coisa<br />

boa/inevitável/suficiente, mas, <strong>no</strong> entanto, isso se torna limitado. Para, <strong>de</strong> fato,<br />

po<strong>de</strong>rmos incluir alguém em alg<strong>um</strong> lugar, precisamos aceitá-lo, tal como ele é, e<br />

garantir espaços/recursos para que ele possa ter acesso a <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

3.2.1 Inclusão e diferença<br />

A <strong>inclusão</strong> implica <strong>um</strong> olhar sobre as diferenças. Entretanto é importante<br />

enten<strong>de</strong>rmos a semântica do termo diferença. Burbules (2003) faz <strong>um</strong>a distinção<br />

44


entre diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e diferença que, <strong>no</strong> discurso, vêm aparecendo com a mesma<br />

co<strong>no</strong>tação.<br />

Estu<strong>da</strong>ndo sobre o assunto, o autor citado aponta cinco perspectivas <strong>de</strong> concebê-la.<br />

Segundo ele, a diferença aparece na literatura como: diferença <strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> (essa<br />

perspectiva é categorial e refere-se aos diversos tipos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a categoria. Só<br />

se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> categorias quando a categoria é conheci<strong>da</strong>.); diferença em<br />

grau (são diferenças concebi<strong>da</strong>s como pontos diferentes ao longo do continu<strong>um</strong> <strong>de</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, por exemplo QI); diferença <strong>de</strong> variação (quando se mu<strong>da</strong> parcialmente o<br />

mo<strong>de</strong>lo); diferença <strong>de</strong> versão (tem <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo-base e se propõe alg<strong>um</strong>as mu<strong>da</strong>nças.<br />

Por exemplo, o currículo é básico e se propõem a<strong>da</strong>ptação curricular); e diferença<br />

por analogia (que é a comparação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los).<br />

Essas cinco formas são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s pelo autor como diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e ele as<br />

congrega na categoria <strong>de</strong> diferença entre, que possibilita compreen<strong>de</strong>r o outro a<br />

partir <strong>de</strong> <strong>um</strong>a matriz. Segundo Burbules (2003, p.173) “[...] os discursos <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> são <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> domesticar a diferença, permitindo-lhe livre<br />

expressão, mas em <strong>um</strong> âmbito extremamente limitado – além disso, <strong>um</strong> âmbito que<br />

não se abre facilmente à renegociação ou a contestação” (grifo do autor).<br />

Pensar a diferença como <strong>um</strong>a diferença entre, acaba permitindo <strong>um</strong>a exclusão<br />

<strong>da</strong>queles que se distanciam <strong>de</strong> <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo tido como padrão. Essa concepção<br />

permite que, em <strong>de</strong>terminados contextos, alg<strong>um</strong>as pessoas sejam incluí<strong>da</strong>s e outras<br />

possam ser excluí<strong>da</strong>s. Pensando na <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência, concebe-se<br />

a idéia <strong>de</strong> que <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiências (aquelas consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s leves e mo<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s,<br />

45


por exemplo) po<strong>de</strong>m ser aceitas em alg<strong>um</strong>as <strong>escola</strong>s e outras po<strong>de</strong>m continuar<br />

segrega<strong>da</strong>s em instituições especiais.<br />

Acreditamos que, n<strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> que valorize o outro, precisamos ir<br />

além <strong>da</strong>s diferenças entre para não cairmos nas armadilhas <strong>de</strong> incluir alguns e<br />

segregar/excluir outros. Conforme Mohanty (apud BURBULES, 2003) “[...] a questão<br />

central não é, portanto, apenas reconhecer a diferença; a questão mais difícil diz<br />

respeito ao tipo <strong>de</strong> diferença que é reconhecido e incorporado”.<br />

A diferença, vista como variação benigna (diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>), não produz tensão e,<br />

conseqüentemente, não implica <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça e acaba sugerindo <strong>um</strong> pluralismo<br />

harmonioso, vazio. Li<strong>da</strong>r com a diferença 11 na perspectiva <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> é aceitar que<br />

haverá conflitos, pois, muitas vezes, a diferença do outro vai além <strong>da</strong> minha<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreendê-lo. É enten<strong>de</strong>r que não conseguimos aprisionar as<br />

<strong>de</strong>ficiências em categorias estanques, pois somos sujeitos complexos e po<strong>de</strong>mos<br />

mu<strong>da</strong>r e sermos mu<strong>da</strong>dos a partir <strong>de</strong>/<strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> em que estamos inseridos.<br />

Burbules (2003, p. 160) aponta que, <strong>no</strong> campo educacional, a diferença po<strong>de</strong><br />

aparecer tanto como oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> assim como po<strong>de</strong> se constituir n<strong>um</strong> problema. É<br />

<strong>um</strong>a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> por três pontos <strong>de</strong> vista: o primeiro, porque, a partir dos embates<br />

entre os diversos grupos e indivíduos, po<strong>de</strong>mos ter <strong>um</strong> leque <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

h<strong>um</strong>anas que se expressam na cultura e na história; segundo, porque, <strong>no</strong> diálogo,<br />

<strong>no</strong> convívio entre os diferentes, po<strong>de</strong>mos apren<strong>de</strong>r com eles e também ensinar<br />

11 Burbules (2003) aponta três tipos <strong>de</strong> diferença: diferença além, diferença <strong>no</strong> interior e diferença contra. A<br />

primeira é quando a compreensão do outro vai além <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreendê-lo; a segun<strong>da</strong> é que<br />

existem diferenças <strong>no</strong> interior <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria diferença que impe<strong>de</strong>m <strong>de</strong> categorizar <strong>um</strong> sujeito <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

conceito estável; e a terceira implica <strong>um</strong>a constante retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> reflexão e crítica sempre que os pressupostos e<br />

as lacunas <strong>de</strong> <strong>um</strong> discurso dominante que quer ser imperativo.<br />

46


formas alternativas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>de</strong>senvolver empatia por elas; terceiro, porque,<br />

apren<strong>de</strong>r a li<strong>da</strong>r com essa diferença é <strong>um</strong>a virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> cultura cívica <strong>de</strong>mocrática.<br />

Conviver com a diferença po<strong>de</strong> se constituir como problema na esfera educacional,<br />

quando provoca conflitos e tensões equivoca<strong>da</strong>s; são manifestações imbuí<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

divisão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r; e quando aparecem n<strong>um</strong>a perspectiva que está longe <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão.<br />

Essas colocações <strong>no</strong>s servem <strong>de</strong> alerta, quando estamos pensando na questão <strong>da</strong><br />

educação inclusiva que agrega, <strong>no</strong> espaço <strong>escola</strong>r, pessoas que antes eram<br />

encaminha<strong>da</strong>s para instituições ou nem mesmo chegavam a a<strong>de</strong>ntrar os muros <strong>da</strong><br />

<strong>escola</strong> dita regular.<br />

Nesse rol <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s diferentes, temos os alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiências, sejam elas <strong>de</strong><br />

causas sensoriais, sejam orgânicas ou não, que, juntamente com aqueles que a<br />

<strong>escola</strong> julga “não saberem na<strong>da</strong>”, se constituem <strong>no</strong>s diferentes, <strong>no</strong>s “a<strong>no</strong>rmais”<br />

como se fosse possível <strong>de</strong>limitar a <strong>no</strong>rmali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Li<strong>da</strong>r com a educação inclusiva implica <strong>um</strong> outro olhar sobre os sujeitos/alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong><br />

cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r. Tal mu<strong>da</strong>nça requer ressignificar o olhar em relação ao alu<strong>no</strong> com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas especiais e também as práticas educativas. Rodrigues<br />

(2003) aponta que a <strong>escola</strong> tradicional propõe <strong>um</strong> ensi<strong>no</strong> igual para todos, porque<br />

acredita que todos são iguais. Dessa forma, a <strong>escola</strong> marginalizava e segregava<br />

liminarmente aqueles que aparecessem como diferentes.<br />

47


Quando falamos em igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos, na perspectiva <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, não significa<br />

igualar todos. “Incluir não é nivelar nem uniformizar o discurso e a prática, mas<br />

exatamente o contrário: as diferenças, em vez <strong>de</strong> inibi<strong>da</strong>s, são valoriza<strong>da</strong>s”<br />

(SANTOS; PAULINO, 2006, p.12 grifo dos autores).<br />

Assim, “[...] a <strong>inclusão</strong> provoca <strong>um</strong>a crise <strong>escola</strong>r, ou melhor, <strong>um</strong>a crise <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> institucional, que, por sua vez, abala a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor e faz com<br />

que seja ressignifica<strong>da</strong> a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do alu<strong>no</strong>” (MANTOAN, 2002, p. 87).<br />

Nesse contexto, a educação é <strong>de</strong>safia<strong>da</strong>. Tal <strong>de</strong>safio não po<strong>de</strong> imobilizar e sim<br />

impulsionar ações na busca <strong>de</strong> soluções possíveis (CARVALHO, 2002). Em face<br />

<strong>de</strong>sses <strong>de</strong>safios e mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> paradigmas, acreditamos que o movimento <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong> que vem se <strong>de</strong>senhando, ao longo <strong>da</strong> história, é <strong>um</strong> disparador <strong>de</strong><br />

necessárias mu<strong>da</strong>nças <strong>no</strong> campo educacional e <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

3.3 A INCLUSÃO NO COTIDIANO DAS ESCOLAS<br />

Conforme os <strong>da</strong>dos do censo <strong>escola</strong>r (INEP/MEC), po<strong>de</strong>mos perceber que, <strong>no</strong>s<br />

últimos a<strong>no</strong>s, há <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento na matrícula <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais por <strong>de</strong>ficiência <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. A matrícula evoluiu,<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente, <strong>de</strong> 110.704 alu<strong>no</strong>s em 2002 para 262.243 em 2005,<br />

a<strong>um</strong>entando em mais <strong>de</strong> 100% o contingente <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s nas <strong>escola</strong>s regulares,<br />

conforme <strong>de</strong>monstra a Figura 1.<br />

48


Figura 1 – Evolução <strong>de</strong> matrículas inclusivas na educação especial<br />

Fonte: Censo <strong>escola</strong>r 2005 (MEC/INEP)<br />

Esse a<strong>um</strong>ento po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>corrente <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> que começaram a ser<br />

intensifica<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>s Diretrizes Nacionais <strong>da</strong> Educação Especial na Educação<br />

Básica (Resolução nº 2/2001) que, como já foi dito, serviu <strong>de</strong> base para os<br />

municípios traçarem suas políticas municipais (PRIETO, 2004).<br />

Nesse mesmo período, po<strong>de</strong>mos constatar <strong>um</strong> crescimento dos municípios que<br />

registraram matrícula na educação especial, conforme aponta o gráfico <strong>da</strong> Figura 2.<br />

Figura 2 - Evolução <strong>de</strong> municípios com matrículas na educação especial<br />

Fonte: Censo <strong>escola</strong>r 2005 (MEC/INEP)<br />

49


O acréscimo foi <strong>de</strong> 27%, a<strong>um</strong>entando <strong>de</strong> 3.612 em 2002 para 4.582 em 2005.<br />

Nesses municípios, tal como apontam os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Figura 3, encontramos <strong>um</strong> total<br />

<strong>de</strong> 640.317 estabelecimentos <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> oferecendo matrículas aos alu<strong>no</strong>s com<br />

alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />

Figura 3 - Evolução <strong>da</strong> política <strong>de</strong> atendimento na educação especial<br />

Fonte: Censo <strong>escola</strong>r 2005 (MEC/INEP<br />

Entretanto, analisando ain<strong>da</strong> os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> figura acima, po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>tar que esses<br />

estabelecimentos ain<strong>da</strong> são, em sua maioria, <strong>escola</strong>s especiais ou classes<br />

especiais, configurando que, embora tenha evoluído o número <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s na política<br />

<strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>, avançando <strong>de</strong> 110.704 em 2002 para 262.243 em 2005, percebe-se,<br />

que nesse mesmo período, ain<strong>da</strong> foi autoriza<strong>da</strong> a criação <strong>de</strong> 40.177 <strong>escola</strong>s<br />

especiais e/ou classes especiais. Tal prerrogativa não é <strong>um</strong> contra-senso <strong>da</strong><br />

<strong>inclusão</strong>, mas sim <strong>um</strong>a situação garanti<strong>da</strong> na legislação – Lei nº 9394/96; Resolução<br />

nº 2/2001 – que prevê a não-matrícula na <strong>escola</strong> regular quando a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> for <strong>de</strong><br />

fato diferença, ou seja, quando os alu<strong>no</strong>s apresentam <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência mais grave a<br />

<strong>escola</strong>r regular po<strong>de</strong> encaminhá-los para instituições.<br />

50


Po<strong>de</strong>mos perceber na análise dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Figura 4 que, <strong>da</strong>s 38.019 <strong>escola</strong>s que<br />

entraram <strong>no</strong> movimento <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, 34.366 são provenientes do Po<strong>de</strong>r Público e<br />

3.653 são <strong>da</strong> re<strong>de</strong> particular <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. Percebemos <strong>um</strong>a discrepância <strong>no</strong>s números<br />

entre as esferas administrativas. Isso po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que, para se<br />

efetivar a <strong>inclusão</strong>, necessita-se <strong>de</strong> investimentos e, <strong>no</strong> que tange à re<strong>de</strong> priva<strong>da</strong>,<br />

acaba diminuindo a relação custo/benefício. Apesar <strong>de</strong> esses <strong>da</strong>dos apontarem que<br />

há <strong>um</strong> envolvimento <strong>da</strong> esfera pública <strong>no</strong> atendimento <strong>da</strong>s crianças com <strong>de</strong>ficiência,<br />

não po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s esquecer <strong>de</strong> que esse número é mascarado pelas instituições que<br />

a<strong>de</strong>riram à <strong>inclusão</strong>. Esses <strong>da</strong>dos po<strong>de</strong>m simplesmente significar matrícula, mas não<br />

acesso ao conhecimento.<br />

Figura 4 - Evolução <strong>de</strong> estabelecimentos inclusivos com educação especial<br />

Fonte: Censo <strong>escola</strong>r 2005 (MEC/INEP)<br />

Quando olhamos na perspectiva <strong>de</strong> atendimento na educação especial, focando a<br />

análise na Região Su<strong>de</strong>ste (Figura 5), po<strong>de</strong>mos perceber que, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 2002 a<br />

2005, houve <strong>um</strong>a evolução em 130% para ampliar a matrícula na <strong>escola</strong> regular<br />

enquanto nas classes/<strong>escola</strong>s especiais essa evolução ficou em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 8,6%.<br />

51


Figura 5 - Evolução <strong>da</strong> política <strong>de</strong> atendimento na educação especial <strong>da</strong> Região Su<strong>de</strong>ste<br />

Fonte: Censo <strong>escola</strong>r 2005 (MEC/INEP)<br />

Apesar <strong>de</strong> <strong>um</strong> acréscimo significativo <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s volta<strong>da</strong>s para a <strong>inclusão</strong> dos alu<strong>no</strong>s<br />

com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais, os <strong>da</strong>dos <strong>no</strong>s mostram que os alu<strong>no</strong>s<br />

com <strong>de</strong>ficiência ain<strong>da</strong> estão nas classes especiais e esse número, em proporções<br />

me<strong>no</strong>res, continua crescendo.<br />

Analisando os <strong>da</strong>dos do Censo <strong>de</strong> 2005 (INEP/MEC), Figura 6, po<strong>de</strong>mos perceber<br />

que o maior contingente <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência está matriculado <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong><br />

fun<strong>da</strong>mental, perfazendo <strong>um</strong> total <strong>de</strong> 419.309 alu<strong>no</strong>s.<br />

Figura 6 - Distribuição <strong>de</strong> matrículas na educação especial em 2005<br />

Fonte: Censo <strong>escola</strong>r 2005 (MEC/INEP)<br />

52


Esses <strong>da</strong>dos <strong>no</strong>s remetem a <strong>um</strong>a in<strong>da</strong>gação: por que o número do ensi<strong>no</strong><br />

fun<strong>da</strong>metal é tão alto em relação as outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s? Por que não há número <strong>no</strong><br />

ensi<strong>no</strong> superior? Se analisarmos os números do ensi<strong>no</strong> médio, po<strong>de</strong>remos ver que<br />

somente 1,7% está matriculado nessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e isso será que po<strong>de</strong> significar<br />

<strong>um</strong> alto índice <strong>de</strong> reprovação <strong>de</strong>sse alunado <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental? Essas<br />

perguntas carecem <strong>de</strong> outras investigações que vão além do propósito <strong>de</strong>ste<br />

trabalho. Entretanto cabe ressaltar que 65,4% dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais se encontram matriculados <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental o que<br />

requer que o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> esteja aberto para atendê-los.<br />

Em relação à preparação do corpo docente, po<strong>de</strong>mos perceber na Figura 7 a<br />

evolução <strong>de</strong> funções docentes na educação especial.<br />

Figura 7 - Evolução <strong>de</strong> funções docentes na educação especial<br />

Fonte: Censo <strong>escola</strong>r 2005 (MEC/INEP)<br />

Nota-se que houve <strong>um</strong> acréscimo, <strong>no</strong> que tange à preparação do professor, para<br />

trabalhar com esses alu<strong>no</strong>s. Dos 51.006 professores, 77% possuem cursos<br />

específicos para trabalhar com educação especial mas ain<strong>da</strong> se encontram, <strong>no</strong> a<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> 2005, 23% dos professores que trabalham sem curso específco na área. Porém<br />

53


não po<strong>de</strong>mos perceber, na análise dos <strong>da</strong>dos, se esses professores se encontram<br />

em instituições e/ou classes especiais ou se estão em estabelecimentos <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s<br />

regulares.<br />

Apesar <strong>de</strong> ser <strong>um</strong> ganho e<strong>no</strong>rme para a <strong>inclusão</strong> ter profissionais com cursos<br />

específicos na área <strong>de</strong> educação especial, isso não significa que os professores<br />

possuem conhecimentos e que estes são transpostos para <strong>um</strong>a prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

que garanta <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para todos. É preciso refletir sobre ”[...] o<br />

que po<strong>de</strong>mos fazer como profissional para contribuir com o avançar <strong>de</strong>sse processo,<br />

sem esquecermos que essa tarefa é coletiva” (VICTOR, 2006, p.123).<br />

Acreditamos que, para efetivar <strong>um</strong>a prática pe<strong>da</strong>gógica que garanta a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong><br />

todos os alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, a <strong>escola</strong> precisa refletir e rever práticas que<br />

contribuam para o sucesso pe<strong>da</strong>gógico <strong>de</strong> todos. Entretanto isso não é muito<br />

simples <strong>de</strong> ser feita.<br />

Padilha (2004) aponta que não é fácil realizar a <strong>inclusão</strong> e que muitos professores<br />

se sentem angustiados por não conseguirem ensinar tudo a todos.<br />

Sinto a angústia dos professores e professoras (angústia que também é<br />

minha) que se vêem ora obrigados a realizar <strong>um</strong>a proeza pe<strong>da</strong>gógica sem<br />

sequer saberem como; ora culpados por não estarem sendo solidários,<br />

caridosos, pacientes com aqueles que apren<strong>de</strong>m diferente, em tempos<br />

diferentes, <strong>de</strong> modos diferentes; ora se sentem incompetentes por não<br />

estarem conseguindo que todos os seus alu<strong>no</strong>s apren<strong>da</strong>m o que<br />

programaram para ser aprendido (PADILHA, 2004, p. 110).<br />

Nesse contexto, po<strong>de</strong>mos pontuar que a <strong>inclusão</strong> é <strong>um</strong> movimento que não se faz<br />

<strong>de</strong> modo solitário e sim em colaboração com to<strong>da</strong> a equipe <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Não basta<br />

54


termos números <strong>de</strong> matrículas, precisamos ter ações efetivas que garantam o<br />

acesso <strong>de</strong> todos a <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Padilha (2004, 116, grifo <strong>da</strong> autora) <strong>no</strong>s sugere “[...] que sem <strong>um</strong>a organização <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> [...] não adianta lei, nenh<strong>um</strong>a resolução, nenh<strong>um</strong> discurso [...] ca<strong>da</strong> <strong>um</strong><br />

<strong>de</strong> nós precisa conhecer para fazer a hora e não esperar acontecer”.<br />

E a mesma autora continua dizendo:<br />

Incluir é <strong>da</strong>r condições, pensar estas condições, planeja-las e replanejá-las.<br />

[...]<br />

Incluir é também excluir – incluir crianças na <strong>escola</strong> é excluir formas<br />

incompatíveis <strong>de</strong> tê-las na <strong>escola</strong>.<br />

Incluir <strong>de</strong>ficientes <strong>no</strong>s sistemas <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> é excluir preconceitos <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas<br />

vi<strong>da</strong>s. É excluir <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa agen<strong>da</strong> cultural a crença <strong>no</strong> sistema capitalista e<br />

neoliberal.<br />

[...]<br />

Incluir é saber-se capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que a história não acabou e ninguém<br />

<strong>de</strong>ve fazer, por nós, a <strong>no</strong>ssa história (PADILHA, 2004, p.117).<br />

Nesse contexto, pensamos em <strong>um</strong>a <strong>inclusão</strong> que vem sendo forja<strong>da</strong> por questões<br />

sociais, econômicas e políticas, e que vai muito além do c<strong>um</strong>primento <strong>de</strong> <strong>um</strong>a lei.<br />

Pensamos n<strong>um</strong>a <strong>inclusão</strong> que surge e ressurge a ca<strong>da</strong> dia <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r e<br />

que <strong>de</strong>safia o outro a buscar, em conjunto, possíveis saí<strong>da</strong>s/respostas/ações para<br />

<strong>de</strong>terminados contextos. Uma <strong>inclusão</strong> que respeita a diferença e que ganha <strong>um</strong><br />

significado diferente do concebido, pois é <strong>no</strong> vivido que ela se configura e po<strong>de</strong><br />

romper com a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Na revisão <strong>de</strong> literatura, po<strong>de</strong>mos perceber que alg<strong>um</strong>as pesquisas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s<br />

<strong>no</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo apontam<br />

55


que, para <strong>da</strong>rmos conta <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, alg<strong>um</strong>as mu<strong>da</strong>nças ain<strong>da</strong> precisam ser feitas<br />

<strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s.<br />

Uma <strong>de</strong>ssas mu<strong>da</strong>nças é a forma como olhamos o sujeito com alg<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência. O<br />

<strong>estudo</strong> <strong>de</strong> Rodrigues (2001) enfatiza essa questão. A autora percebe que, <strong>no</strong><br />

processo <strong>de</strong> <strong>escola</strong>rização <strong>de</strong> crianças com <strong>de</strong>ficiência mental, a marca patológica é<br />

mais relevante do que o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse sujeito. Precisamos<br />

romper com a dicotomia <strong>no</strong>rmal/a<strong>no</strong>rmal e olhar todos como sujeitos <strong>de</strong><br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que apren<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>senvolvem em tempo e ritmo próprios.<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse olhar patológico, as <strong>escola</strong>s encaminham os alu<strong>no</strong>s para as<br />

classes especiais e/ou <strong>escola</strong>s especiais legitimando <strong>um</strong> lugar diferenciado para que<br />

essas crianças possam ser aloja<strong>da</strong>s. O <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> Amaral (2001) <strong>de</strong>ixa bem claro<br />

que parece haver <strong>um</strong>a celebração <strong>de</strong> contrato quando essas crianças são<br />

encaminha<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong> regular e acolhi<strong>da</strong>s n<strong>um</strong> outro espaço sem contestação do<br />

diagnóstico apresentado.<br />

Para garantir tal processo, precisamos mexer na prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>no</strong>s cotidia<strong>no</strong>s<br />

<strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa <strong>escola</strong>. Caeta<strong>no</strong> (2002), analisando tal perspectiva em <strong>escola</strong>s do ensi<strong>no</strong><br />

fun<strong>da</strong>mental, principalmente nas séries finais, aponta que as práticas pe<strong>da</strong>gógicas<br />

presentifica<strong>da</strong>s nesse contexto precisam ser ressignifica<strong>da</strong>s para aten<strong>de</strong>r a todos os<br />

alu<strong>no</strong>s, oferencendo-lhes <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Gonçalves (2003), Almei<strong>da</strong> (2004), Louven (2005) e Meneguci (2005)<br />

apontam/analisam modos <strong>de</strong> ser/estar na <strong>escola</strong> que provocam/instigam possíveis<br />

56


mu<strong>da</strong>nças <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Nesse contexto, Gonçalves (2003) e Almei<strong>da</strong><br />

(2004) indicam <strong>da</strong>dos sobre a perspectiva <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho colaborativo. A primeira<br />

enfatiza a parceria entre o professor <strong>da</strong> classe regular e o professor <strong>de</strong> educação<br />

especial, pois esse envolvimento é fun<strong>da</strong>mental para o movimento <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>no</strong><br />

cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e, conseqüentemente, para a aprendizagem; já a segun<strong>da</strong>, por<br />

meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a pesquisa ação-crítico-colaborativa, <strong>de</strong>monstra que ter <strong>um</strong>a outra<br />

pessoa para articular/refletir sobre as questões <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> e <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

contribui para <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> formação continua<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria instituição, e,<br />

portanto contribui para a mu<strong>da</strong>nça <strong>no</strong> contexto educativo.<br />

Meneguci (2005) e Louvem (2005) esclarecem que, para as <strong>escola</strong>s efetivarem<br />

essas mu<strong>da</strong>nças, é preciso que elas busquem formas <strong>de</strong> organização que dêem<br />

conta <strong>de</strong> planejar, <strong>de</strong> garantir formação continua<strong>da</strong> e aten<strong>de</strong>r a todos os alu<strong>no</strong>s,<br />

oferecendo-lhes acesso, permanência e educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para isso<br />

precisamos rever a forma <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> que <strong>de</strong>ve estar atrela<strong>da</strong> à prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica, pois esta está muito mais volta<strong>da</strong> para <strong>um</strong>a prática exclu<strong>de</strong>nte,<br />

classificatória dos alu<strong>no</strong>s (AGUIAR, 2003) do que preocupa<strong>da</strong> com <strong>um</strong> processo <strong>de</strong><br />

aquisição <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Sobre essa questão, po<strong>de</strong>mos perceber que, para se garantir a <strong>inclusão</strong>, precisamos<br />

construir/reconstruir/modificar, em <strong>no</strong>sso cotidia<strong>no</strong>, a forma <strong>de</strong> olhar a diferença e<br />

conviver com ela e também precisamos efetivar práticas que contemplem <strong>um</strong>a ação<br />

que dê conta <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> na sala <strong>de</strong> aula. Para isso, acreditamos que a prática<br />

<strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> precisa avançar do momento <strong>de</strong> diagnóstico, <strong>da</strong> classificação e passar<br />

a ser usa<strong>da</strong> como retroalimentadora <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica. Sendo assim, passa a<br />

57


ser <strong>um</strong> dispositivo a mais para a busca <strong>de</strong> <strong>um</strong>a reorganização do contexto <strong>da</strong><br />

<strong>escola</strong>, tendo em vista <strong>um</strong>a postura que garanta a aprendizagem <strong>de</strong> todos.<br />

58


4 AVALIAÇÃO E INCLUSÃO: CONSTRUINDO CAMINHOS POSSIVEIS<br />

[...] Manhê! Tirei <strong>um</strong> <strong>de</strong>z na prova<br />

Me <strong>de</strong>i bem tirei <strong>um</strong> cem e eu quero ver quem me<br />

reprova<br />

Decorei to<strong>da</strong> lição<br />

Não errei nenh<strong>um</strong>a questão<br />

Não aprendi na<strong>da</strong> <strong>de</strong> bom<br />

Mas tirei <strong>de</strong>z (boa filhão!)”<br />

(GABRIEL, O PENSADOR).<br />

Avaliar... o que é avaliar? Será que se res<strong>um</strong>e a prova, a reprovação, a passar <strong>de</strong><br />

a<strong>no</strong>, a classificar os que sabem <strong>da</strong>queles que não sabem mediante a <strong>no</strong>ta que<br />

tiram? A reflexão, <strong>de</strong> acordo com o trecho <strong>da</strong> música <strong>de</strong> Gabriel, o Pensador, <strong>no</strong>s<br />

leva analisar <strong>no</strong>ssa prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> presente <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Uma prática na qual a <strong>avaliação</strong> é res<strong>um</strong>i<strong>da</strong> como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>dos, em que são esses resultados que testificam o saber dos alu<strong>no</strong>s, é <strong>um</strong>a<br />

prática que classifica para excluir e que não possibilita <strong>um</strong>a retoma<strong>da</strong> na ação<br />

pe<strong>da</strong>gógica.<br />

No atual contexto, <strong>de</strong> movimento <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, em que a diferença ganha corpos e<br />

<strong>no</strong>mes na sala <strong>de</strong> aula, concor<strong>da</strong>mos com Ba<strong>um</strong>el (1998, p.35), quando ela afirma<br />

que a <strong>escola</strong> inclusiva precisa mexer na questão pe<strong>da</strong>gógica “[...] exigindo <strong>um</strong>a<br />

revisão <strong>da</strong>s concepções do ensi<strong>no</strong>, <strong>da</strong> aprendizagem e até <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>. É nesta<br />

última que em geral emergem os mecanismos <strong>da</strong> exclusão ─ centrados na seleção e<br />

autoritarismo”.<br />

59


A <strong>avaliação</strong> tem sido usa<strong>da</strong>, há muito tempo, como mecanismo <strong>de</strong> exclusão e <strong>de</strong><br />

classificação que separa, na educação regular, os que sabem <strong>da</strong>queles que não<br />

sabem e, na educação especial, os “<strong>no</strong>rmais” dos “não-<strong>no</strong>rmais”. Nesse sentido,<br />

acreditamos que é necessária <strong>um</strong>a (re)significação <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> tanto <strong>no</strong> campo <strong>da</strong><br />

<strong>escola</strong> com<strong>um</strong> como na sua aplicação na educação especial.<br />

Ribeiro (2003, p. 48) aponta que tal mu<strong>da</strong>nça não é <strong>um</strong>a coisa simples <strong>de</strong> ser feita,<br />

porque<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> <strong>escola</strong> regular, esta se vê incapaz <strong>de</strong> resolver to<strong>da</strong> a<br />

problemática, que antes se eximia <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>r, apenas com os recursos <strong>de</strong><br />

que dispõe, porque simplesmente podia encaminhá-la a outras instâncias.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista dos serviços <strong>de</strong> Educação Especial estabelecidos e com<br />

<strong>um</strong>a tradição já consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>, também há <strong>um</strong> acometimento pela<br />

insegurança <strong>de</strong> que tudo que já foi edificado se transforme em inutili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

como n<strong>um</strong> passe <strong>de</strong> mágica.<br />

Entretanto não po<strong>de</strong>mos manter a <strong>avaliação</strong> como vem sendo concebi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a visão estática <strong>no</strong> tempo/espaço e que se restringe a classificar os alu<strong>no</strong>s.<br />

Mantoan (2001) coloca que esse tipo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> se constituiu n<strong>um</strong> entrave na<br />

implementação <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> e que precisamos, urgentemente, suprimir esse caráter<br />

classificatório e instr<strong>um</strong>entalista.<br />

4.1 AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO PARA MEDIR O CONHECIMENTO<br />

Quando pensamos na <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s, sempre <strong>no</strong>s lembramos<br />

<strong>da</strong>s provas, dos trabalhos, dos boletins, <strong>da</strong>s <strong>no</strong>tas tira<strong>da</strong>s, enfim, dos instr<strong>um</strong>entos<br />

que usamos para coletar informações <strong>da</strong>quilo que o alu<strong>no</strong> apren<strong>de</strong>u.<br />

60


O uso <strong>da</strong> prova como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento “infalível”, imprescindível na prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>de</strong> muitos professores, tem <strong>um</strong>a razão histórica <strong>de</strong> ser. Segundo Dias<br />

Sobrinho (2002) os testes escritos são <strong>um</strong>a criação <strong>da</strong> <strong>escola</strong> mo<strong>de</strong>rna. Essa<br />

criação tem <strong>um</strong> ranço muito forte nas práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, quando educadores<br />

atribuem <strong>um</strong> excessivo valor ao instr<strong>um</strong>ento em <strong>de</strong>trimento do processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem vivenciado pelos alu<strong>no</strong>s.<br />

Esteban (2003, p. 17) coloca que esses instr<strong>um</strong>entos têm a função <strong>de</strong> “[...] isolar a<br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que constitui a dinâmica <strong>escola</strong>r e <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> a resultados<br />

quantitativos que exponham o rendimento <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte e que sejam<br />

compreendidos como <strong>de</strong>monstração <strong>da</strong> aprendizagem realiza<strong>da</strong>”, como se avaliar<br />

fosse esse momento estanque, marcado pelo instr<strong>um</strong>ento que se usa e pela <strong>no</strong>ta<br />

que se tira.<br />

No trecho <strong>da</strong> música <strong>de</strong> Gabriel, o Pensador, coloca<strong>da</strong> como epígrafe <strong>de</strong>ste capítulo,<br />

po<strong>de</strong>mos exemplificar o que acabamos <strong>de</strong> relatar, observando que se dá <strong>um</strong>a<br />

ênfase muito maior ao resultado do que ao processo <strong>de</strong> aprendizagem. Essa<br />

vertente é possível ser pensa<strong>da</strong>, porque há <strong>um</strong> pressuposto <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong><br />

conseguir, por meio do instr<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>, a apreensão <strong>da</strong>quilo que o alu<strong>no</strong><br />

sabe. Baseia-se, assim, n<strong>um</strong>a perspectiva metafísica <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r o conhecimento,<br />

vendo-o como algo pronto e acabado, sem levar em conta o contexto e a sua<br />

condição <strong>de</strong> provisório.<br />

61


Lefebvre (1995) diz que o pensamento metafísico <strong>da</strong> lógica formal não leva em<br />

conta a história, o contexto e, não levando em conta o tempo, o lugar e o<br />

movimento, é abstrato, coagulado, incapaz <strong>de</strong> expressar o movimento real dos fatos.<br />

Essa lógica <strong>de</strong> neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> visava a separar o sujeito do objeto para conseguir<br />

extrair a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Lefebvre (1995) coloca que essa ver<strong>da</strong><strong>de</strong> estava situa<strong>da</strong> fora e<br />

acima <strong>de</strong> qualquer erro. Sendo assim, o resultado obtido era consi<strong>de</strong>rado como tal.<br />

A ênfase <strong>no</strong>s testes escritos marca a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> na qual ele aparece<br />

como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento infalível e os seus resultados servem para: classificar e<br />

separar os alu<strong>no</strong>s que sabem <strong>da</strong>queles que não sabem; para legitimar que este ou<br />

aquele alu<strong>no</strong> fique nesta ou naquela <strong>escola</strong>. Essa prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, com o intuito<br />

<strong>de</strong> examinar, ain<strong>da</strong> permanece <strong>no</strong>s espaços <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Nas palavras <strong>de</strong> Dias<br />

Sobrinho (2002, p. 20) “[...] <strong>de</strong>termina quem passa <strong>de</strong> a<strong>no</strong> e quem fica retido, quais<br />

são os melhores e os piores, os inteligentes e os incapazes, os esforçados e os<br />

preguiçosos, os educados e os indisciplinados” (grifo do autor).<br />

Segundo Dias Sobrinho (2002, p.19), tal perspectiva trouxe duas conseqüências:<br />

[...] <strong>de</strong> <strong>um</strong> lado, os instr<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> testes, provas e exames trouxeram<br />

mais precisão e força operacional ao sistema <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s e seleção. Por<br />

outro lado, <strong>de</strong>terminaram <strong>um</strong>a concepção e <strong>um</strong>a prática pe<strong>da</strong>gógica que<br />

consistem basicamente na formulação dos <strong>de</strong>veres ou exercícios <strong>escola</strong>res<br />

e controle através dos testes.<br />

Em relação ao sistema <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s e seleção, esse fato teve ressonância na<br />

construção e <strong>no</strong> uso intensificado dos testes <strong>de</strong> quociente <strong>de</strong> inteligência (QI) que<br />

dominaram <strong>no</strong> século XIX e meados do século XX e, marcados por ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras<br />

62


orgias <strong>de</strong> tabulações que quantificavam, analisavam e interpretavam os resultados<br />

obtidos (CREMIN, 1961, apud BARRIGA, 2003, p. 66). Esses autores acrescentam<br />

ain<strong>da</strong> que “[...] o resultado dos testes <strong>de</strong> inteligência era utilizado para justificar a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> eliminar aos que, por seu escasso coeficiente, não <strong>de</strong>viam estar na<br />

<strong>escola</strong>”.<br />

Dessa forma, o teste provocava <strong>um</strong>a exclusão dos alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e acabava<br />

outorgando a educadores e psicólogos o papel <strong>de</strong> sacerdotes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna, como aqueles que <strong>de</strong>cidiam sobre o lugar que ca<strong>da</strong> pessoa <strong>de</strong>veria<br />

ocupar.<br />

Essa idéia teve tanto peso <strong>no</strong> contexto <strong>escola</strong>r que, a partir dos resultados do<br />

coeficiente <strong>de</strong> inteligência, <strong>de</strong>cidia-se a vi<strong>da</strong> do alu<strong>no</strong>, julgando: se ele irá avançar<br />

para série seguinte ou se ele ficará reprovado; se ele tem condições <strong>de</strong> ficar na<br />

<strong>escola</strong> regular ou se <strong>de</strong>ve ser encaminhado para a <strong>escola</strong> ou classe especial; se ele<br />

é <strong>no</strong>rmal ou a<strong>no</strong>rmal; se ele tem ou não tem condições para apren<strong>de</strong>r.<br />

A postura <strong>de</strong> aceitar, como suposta ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, os resultados dos testes que me<strong>de</strong>iam<br />

a inteligência foi também abarca<strong>da</strong> pela educação especial que aceitava os<br />

encaminhamentos vindos <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e/ou psicólogos que atestavam aqueles alu<strong>no</strong>s<br />

que não correspondiam ao padrão convencional.<br />

Nessa perspectiva, a <strong>avaliação</strong>/encaminhamento <strong>da</strong>s crianças, tanto pela educação<br />

regular como pela educação especial, era a partir <strong>de</strong> <strong>um</strong> padrão <strong>de</strong> alu<strong>no</strong> e<br />

legitimava a separação, a segregação <strong>de</strong>ste ou <strong>da</strong>quele, em classes e/ou <strong>escola</strong>s<br />

63


especiais. As avaliações, como testes científicos, acabavam sendo marca<strong>da</strong>s como<br />

forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que caracterizava os alu<strong>no</strong>s conforme suas impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />

legitimava a exclusão, por meio <strong>da</strong> rotulação <strong>de</strong> quem era ou não capaz.<br />

Além <strong>da</strong> conseqüência do uso do teste <strong>de</strong> QI, temos, na mesma lógica dos sistemas<br />

<strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s, os exames nacionais, tais como: o Sistema Nacional <strong>de</strong> Avaliação <strong>da</strong><br />

Educação Básica (SAEB), o PROVÃO, o Exame Nacional do Ensi<strong>no</strong> Médio (ENEM),<br />

e outros que são construídos com o intuito <strong>de</strong> verificar a aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s<br />

via testes padronizados que são aplicados <strong>de</strong> forma igualitária <strong>de</strong> <strong>no</strong>rte a sul do País<br />

e que, a partir dos resultados, classificam Estados, municípios e <strong>escola</strong>s conforme<br />

os escores obtidos.<br />

Essa prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> é critica<strong>da</strong> por vários autores, entre eles, Sacristán e<br />

Gómez (1998, p. 334) que apontam a mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> eficientista basea<strong>da</strong> <strong>no</strong>s câ<strong>no</strong>nes<br />

positivistas como <strong>um</strong> dos caminhos para se conhecer a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional.<br />

Nessa prática, os resultados quantificáveis são as “[...] únicas ferramentas para falar<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s, professores/as e do sistema em seu conjunto”.<br />

Acrescentam ain<strong>da</strong> que a análise qualitativa também é avalia<strong>da</strong> por esses<br />

parâmetros.<br />

Percebemos, assim, que conceber a <strong>avaliação</strong> como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento capaz <strong>de</strong> medir<br />

o conhecimento em na<strong>da</strong> contribui para a retoma<strong>da</strong> do processo, muito pelo<br />

contrário, serve apenas para classificar e segregar alu<strong>no</strong>s e serviços.<br />

64


Com base em Bertagna (2002), po<strong>de</strong>mos dizer que o uso do instr<strong>um</strong>ento é apenas<br />

<strong>um</strong>a formalização <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>, mas que esta não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como <strong>um</strong>a<br />

apreensão <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois, atrás <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> formal, sempre se perpassa<br />

<strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> informal.<br />

Segundo a autora, a <strong>avaliação</strong> formal po<strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong><br />

[...] como sendo aquelas práticas que envolvem o uso <strong>de</strong> instr<strong>um</strong>entos<br />

explícitos <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, cujos resultados po<strong>de</strong>m ser examinados<br />

objetivamente pelo alu<strong>no</strong>, à luz <strong>de</strong> <strong>um</strong> procedimento claro, e a <strong>avaliação</strong><br />

informal como a construção por parte do professor <strong>de</strong> juízos gerais sobre o<br />

alu<strong>no</strong>, cujo processo <strong>de</strong> constituição está encoberto e é aparentemente<br />

assistemático (FREITAS, 1995, apud BERTAGNA , 2002, p. 251).<br />

Nesse sentido, nenh<strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> prática avaliativa po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

fi<strong>de</strong>dig<strong>no</strong>, objetivo, pois, na hora <strong>da</strong> correção, do resultado final há aspectos<br />

subjetivos que fazem com que o professor seja mais maleável ou mais rígido<br />

durante a correção.<br />

4.2. AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL<br />

Para enten<strong>de</strong>r as práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> educação especial, fomos<br />

buscar respaldo em Beyer (2005) que faz <strong>um</strong>a antropologia <strong>da</strong> pessoa com<br />

<strong>de</strong>ficiência. Ele aponta que as mu<strong>da</strong>nças <strong>no</strong> campo avaliativo são <strong>de</strong>correntes dos<br />

diferentes paradigmas presentes em <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s épocas.<br />

65


Baseando-se em Bleidick (1981), Hugo Beyer indica quatro concepções<br />

paradigmáticas que ocorreram ao longo do tempo. Embora haja <strong>um</strong>a separação<br />

didática entre esses paradigmas, Beyer (2005) chama-<strong>no</strong>s a atenção para enten<strong>de</strong>r<br />

que eles não aconteceram/acontecem <strong>de</strong> modo linear, mas que há a coexistência <strong>de</strong><br />

vários paradigmas ao mesmo tempo.<br />

A primeira forma <strong>de</strong> avaliar é respal<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>no</strong> paradigma clínico-médico, <strong>no</strong> qual o<br />

olhar para a pessoa com <strong>de</strong>ficiência é pautado a partir <strong>da</strong> doença e na busca pelo<br />

laudo que ateste se <strong>de</strong>terminado alu<strong>no</strong> tem ou não <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência. Acredita-se que<br />

esse sujeito é limitado e, portanto, a <strong>avaliação</strong> recai sobre a <strong>de</strong>ficiência e os<br />

encaminhamentos e prospectivas são pautados <strong>no</strong> diagnóstico.<br />

N<strong>um</strong>a análise <strong>da</strong> revisão <strong>de</strong> literatura, po<strong>de</strong>mos perceber que vários trabalhos foram<br />

realizados na perspectiva <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>. Nunes, Ferreira e<br />

Men<strong>de</strong>s (2003), analisando a produção discente dos programas <strong>de</strong> pós-graduação<br />

stricto sensu em Educação e Psicologia volta<strong>da</strong> para o indivíduo com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais, perceberam que, dos 550 trabalhos produzidos em 27<br />

universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras, 87 discutiam sobre a questão do diagnóstico, tendo como<br />

pa<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundo a i<strong>de</strong>ntificação e o encaminhamento, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1974 a 2001.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> liga<strong>da</strong> ao diagnóstico classificatório contribuiu para <strong>um</strong> olhar<br />

calcificado/limitado pela <strong>de</strong>ficiência e que não possibilitou <strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong><br />

avanço para esse sujeito. Tanto que os alu<strong>no</strong>s i<strong>de</strong>ntificados com <strong>de</strong>ficiência eram<br />

segregados em classes especiais ou em instituições especializa<strong>da</strong>s.<br />

66


Os encaminhamentos feitos pela <strong>escola</strong> e/ou pelos profissionais (principalmente<br />

pscicólogos) são baseados, em sua maioria, pela questão do fracasso <strong>escola</strong>r e a<br />

<strong>escola</strong> especial entra como “valizadora” <strong>de</strong>ssa exclusão, “[...] que não se inaugura<br />

quando a criança entra na <strong>escola</strong> especial, mas se constitui na trajetória <strong>escola</strong>r dos<br />

alu<strong>no</strong>s a serem excluídos” (AMARAL, 2001, p. 60).<br />

Padilha (2001, p. 102), falando sobre essa questão coloca que<br />

Quando penetramos pelo caminho porque passam as crianças<br />

suspeitas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência mental, encontramos os professores, os<br />

testes, os relatórios, as resoluções legais usando do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> avaliar,<br />

julgar e tomar <strong>de</strong>cisões sobre a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças – diagnósticos e<br />

prognósticos representantes <strong>de</strong> concepções e mo<strong>de</strong>los teóricos por<br />

vezes inconscientes, porém com estatuto oficial <strong>de</strong> cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> nas<br />

toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> posição por parte dos profissionais consi<strong>de</strong>rados<br />

competentes para este fim.<br />

Percebe-se, assim, que os encaminhamentos são feitos, porque há <strong>um</strong> serviço que<br />

se alimenta <strong>de</strong>les, legitimando a exclusão dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. A entra<strong>da</strong> na classe especial é o final <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

processo <strong>de</strong> reafirmação <strong>da</strong> ina<strong>de</strong>quação ao alu<strong>no</strong> mediante <strong>um</strong> sistema <strong>escola</strong>r que<br />

é segregacionista, estigmatizador e preconceituoso (PLATZER-AMARAL, 2001).<br />

Nesse sentido, o diagnóstico acaba confirmando a idéia que o professor já tinha<br />

sobre as limitações <strong>da</strong>s crianças, tornando-se <strong>um</strong> “doc<strong>um</strong>ento morto”, sem utili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

alg<strong>um</strong>a, legitimando a exclusão <strong>de</strong>sses alu<strong>no</strong>s (GONZÁLEZ, 2002). A prática <strong>de</strong><br />

diag<strong>no</strong>sticar-encaminhar acaba não causando nenh<strong>um</strong>a tensão, nenh<strong>um</strong>a<br />

modificação e, conseqüentemente, não contribui para <strong>um</strong> outro olhar em relação às<br />

crianças com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais.<br />

67


Essa não mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> olhar po<strong>de</strong> ser percebi<strong>da</strong> <strong>no</strong> trabalho <strong>de</strong> Mori e Oliveira<br />

(1999, apud FERREIRA, 2002), <strong>no</strong> qual elas apontam que, mesmo tendo a evolução<br />

dos mo<strong>de</strong>los e discursos <strong>de</strong> integração para <strong>inclusão</strong>, não houve mu<strong>da</strong>nças<br />

significativas nas formas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> e encaminhamento <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s apontados<br />

como <strong>de</strong>ficientes mentais.<br />

Nesse contexto, po<strong>de</strong>mos perceber que a <strong>avaliação</strong>, <strong>de</strong>ntro do paradigma clínico-<br />

médico, não contribui para o processo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>, pois continua segregando,<br />

excluindo, separando e não acreditando <strong>no</strong> potencial <strong>da</strong>queles que apresentam <strong>um</strong>a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial.<br />

A segun<strong>da</strong> concepção <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, aponta<strong>da</strong> por Beyer (2005), é basea<strong>da</strong> <strong>no</strong><br />

paradigma sistêmico. Nesta concepção, o alu<strong>no</strong> é avaliado conforme os padrões<br />

preestabelecidos <strong>no</strong> sistema <strong>escola</strong>r. Se seu <strong>de</strong>sempenho não é satisfatório, ou se<br />

ele não alcança os critérios estabelecidos pelo currículo para to<strong>da</strong> a classe, o<br />

sistema busca respostas. “Assim, aos alu<strong>no</strong>s cujo insucesso na aprendizagem<br />

signifique a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> progressão na <strong>escola</strong> regular, outras alternativas<br />

serão ofereci<strong>da</strong>s” (BEYER, 2005, p. 91-92).<br />

Essas alternativas po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenas flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>no</strong> currículo como<br />

até mesmo a segregação em classes e/ou <strong>escola</strong>s especiais, por julgarem que esse<br />

sujeito não consegue acompanhar o ritmo <strong>da</strong> turma. Percebe-se, nesse paradigma,<br />

<strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> individualiza<strong>da</strong>, porém sempre compara<strong>da</strong> com <strong>um</strong> padrão, com <strong>um</strong><br />

critério <strong>de</strong> referência preestabelecido.<br />

68


O trabalho <strong>de</strong> Capellini e Men<strong>de</strong>s (2002, 2003) <strong>de</strong>monstra bem essa <strong>avaliação</strong> que<br />

busca comparar o rendimento acadêmico dos alu<strong>no</strong>s incluídos na <strong>escola</strong> regular<br />

com rendimento dos <strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s. As autoras utilizaram-se <strong>de</strong> testes padronizados<br />

para verificar o nível <strong>de</strong> alfabetização, o rendimento na leitura-escrita e o rendimento<br />

na Matemática. Além <strong>de</strong>sses testes, utilizaram-se <strong>de</strong> observações dos alu<strong>no</strong>s e do<br />

boletim acadêmico. Na análise dos <strong>da</strong>dos, constataram que houve <strong>um</strong> avanço na<br />

questão dos pré-requisitos e <strong>um</strong> certo atraso <strong>no</strong> que tange ao <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong><br />

leitura e <strong>da</strong> escrita, quando consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a relação i<strong>da</strong><strong>de</strong>/série, porém apresentavam<br />

<strong>um</strong> resultado que tinha <strong>da</strong>dos inferiores, na média e acima <strong>de</strong>la, quando se levava<br />

em conta a turma como <strong>um</strong> todo.<br />

Percebe-se, assim <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> que verifica a aprendizagem mediante<br />

instr<strong>um</strong>entos-padrão <strong>no</strong>s quais os alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência precisam avançar além do<br />

seu processo natural <strong>de</strong> aprendizagem, pois precisam ter <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento maior<br />

que os dos <strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s, porque o parâmetro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho é o do alu<strong>no</strong> i<strong>de</strong>al.<br />

A <strong>avaliação</strong> basea<strong>da</strong> <strong>no</strong> paradigma sistêmico também po<strong>de</strong> ser contempla<strong>da</strong> <strong>no</strong> art.<br />

8º <strong>da</strong> Resolução CNE/CEB nº 2/2001 que propõe:<br />

[...] flexibilizações e a<strong>da</strong>ptações curriculares que consi<strong>de</strong>rem o significado<br />

prático e instr<strong>um</strong>ental dos conteúdos básicos, metodologias <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e<br />

recursos didáticos diferenciados e processos <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> a<strong>de</strong>quados ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos alu<strong>no</strong>s que apresentam necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais, em consonância com o projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, respeita<strong>da</strong><br />

a freqüência obrigatória (Inciso III, grifo <strong>no</strong>sso).<br />

Embora se possa perceber <strong>um</strong> avanço na perspectiva <strong>de</strong> <strong>da</strong>r ao alu<strong>no</strong> as condições<br />

para que ele tenha acesso à educação, existe <strong>um</strong> parâmetro curricular que<br />

69


prescreve os conteúdos básicos que todos precisam apren<strong>de</strong>r. Sendo assim,<br />

aqueles que não alcançarem essas metas precisarão <strong>de</strong> <strong>um</strong>a a<strong>da</strong>ptação ou<br />

flexibilização para chegar ao patamar preestabelecido, <strong>de</strong>ixando transparecer a<br />

orientação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> sistêmica que tem como critério <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo a ser<br />

seguido.<br />

O terceiro paradigma apontado por Beyer (2005) é o sociológico. Nele, <strong>de</strong>sloca-se o<br />

olhar sobre o indivíduo e volta-se para o grupo social <strong>no</strong> qual a pessoa está inseri<strong>da</strong>.<br />

“A <strong>de</strong>ficiência é interpreta<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> reação social. A forma como o grupo reagir<br />

à situação <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong>rá implicar o agravamento (pelo preconceito ou<br />

incompreensão) ou o alívio (pela empatia ou compreensão) <strong>da</strong> situação individual”<br />

(BEYER, 2005, p. 92).<br />

A <strong>avaliação</strong>, nesse paradigma, é subjetiva, pois, para <strong>um</strong> grupo preconceituoso, as<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento são limita<strong>da</strong>s e a <strong>avaliação</strong> também; já para <strong>um</strong><br />

grupo mais compreensivo, o prognóstico <strong>de</strong>sse indivíduo é bem melhor.<br />

O trabalho <strong>de</strong> Borges et al. (2005) 12 aponta essa perspectiva sociológica, na qual a<br />

visão preconceituosa <strong>de</strong> <strong>um</strong> professor ou <strong>de</strong> <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>goga po<strong>de</strong> limitar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>um</strong>a criança com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial. As autoras<br />

trazem à baila <strong>um</strong> episódio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a criança com síndrome <strong>de</strong> Down, matricula<strong>da</strong> em<br />

<strong>um</strong> Centro Municipal <strong>de</strong> Educação Infantil, que ficou reti<strong>da</strong> <strong>no</strong> mesmo período,<br />

12 Esse trabalho faz parte <strong>de</strong> <strong>um</strong>a pesquisa <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pela professora Drª Sonia Lopes Victor e consiste n<strong>um</strong>a<br />

interface entre os alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> graduação do Curso <strong>de</strong> Pe<strong>da</strong>gogia que fazem habilitação em Educação Infantil e os<br />

alu<strong>no</strong>s que fazem habilitação em Educação Especial juntamente com alu<strong>no</strong>s mestrandos do Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em Educação (PPGE) <strong>da</strong> UFES. As alunas <strong>da</strong> graduação observam o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong> registrando n<strong>um</strong> diário <strong>de</strong> campo que <strong>de</strong>pois é compartilhado e refletido juntamente com os alu<strong>no</strong>s<br />

mestrandos.<br />

70


porque a <strong>escola</strong> achava que, <strong>de</strong>vido à sua condição <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ficiente”, não era eficiente<br />

para progredir junto com seus pares. No entanto, segundo as estagiárias que<br />

participaram <strong>da</strong> pesquisa, quando se compara o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> criança, tendo<br />

como parâmetro os <strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> classe, não se percebe <strong>um</strong>a diferença<br />

plausível que justifique tal atitu<strong>de</strong>. Verificamos, claramente, <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong><br />

sociológica, na qual a <strong>de</strong>ficiência sobressai ao próprio <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> criança.<br />

Esse ponto <strong>no</strong>s remete a <strong>um</strong> outro trabalho realizado por Jesus, Caeta<strong>no</strong> e Aguiar<br />

(2001) que, analisando o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> educação<br />

inclusiva, na Capital do Espírito Santo, verificam o contexto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>s<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s pólos e percebem a ênfase <strong>de</strong> <strong>um</strong>a estratégia pe<strong>da</strong>gógica pauta<strong>da</strong> na<br />

repetição e na falta <strong>de</strong> credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s<br />

com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas especiais, ou seja, <strong>um</strong>a prática que não consi<strong>de</strong>ra<br />

volta<strong>da</strong> para o atendimento à diferença.<br />

Nesse mesmo tempo/espaço, foi analisa<strong>da</strong> a <strong>avaliação</strong> que, <strong>no</strong> discurso, é ti<strong>da</strong><br />

como constante, mas, na prática, pô<strong>de</strong>-se observar “[...] que via <strong>de</strong> regra o processo<br />

enquanto todo é calcado nas limitações <strong>da</strong> criança e não em suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s”<br />

(JESUS; CAETANO; AGUIAR, 2001, p. 11). Percebe-se, então, nesse trabalho, que<br />

o olhar, a prática e a <strong>avaliação</strong> dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais é engessa<strong>da</strong><br />

pela <strong>de</strong>ficiência dos sujeitos.<br />

A quarta concepção, basea<strong>da</strong> <strong>no</strong> paradigma crítico-materialista, coloca que a<br />

<strong>de</strong>ficiência é “[...] encara<strong>da</strong> como <strong>um</strong> resultado <strong>de</strong> inaptidão produtiva do indivíduo”<br />

(BEYER, 2005, p. 92). Segundo o autor, ela é provoca<strong>da</strong> pela <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

71


classes sociais e, n<strong>um</strong>a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva, as pessoas com <strong>de</strong>ficiência são<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s impossibilita<strong>da</strong>s/ineficientes para conseguir sucesso na vi<strong>da</strong> social.<br />

Alguns <strong>estudo</strong>s <strong>de</strong> Canejo (1997), Glat (1989), Rocha (1993), relatados por Nunes et<br />

al. (1998, p. 97), <strong>de</strong>monstram que essa questão <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, como marca <strong>de</strong><br />

indivíduo socializado, é muito <strong>de</strong>lica<strong>da</strong>. Segundo os autores, “[...] trabalhar fora<br />

significa, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a certa forma, abandonar sua condição <strong>de</strong> excepcional, e juntar-se à<br />

rotina diária <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais pessoas lutando por sua sobrevivência”. Por outro lado, não<br />

conseguir se manter eco<strong>no</strong>micamente é <strong>um</strong>a marca visível <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />

É preciso lembrar que a preparação para o trabalho <strong>da</strong>s pessoas com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais não acontece <strong>de</strong> modo sistemático; elas geralmente ocorrem<br />

por meio <strong>de</strong> oficinas pe<strong>da</strong>gógicas (que po<strong>de</strong>m ser vincula<strong>da</strong>s ou não a <strong>um</strong> trabalho)<br />

ou oficinas protegi<strong>da</strong>s ou abriga<strong>da</strong>s (que são volta<strong>da</strong>s para <strong>um</strong>a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

emprego ou <strong>um</strong>a colocação em alg<strong>um</strong>a empresa) (NUNES et al.,1998).<br />

A questão <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> também é menciona<strong>da</strong> pelas Diretrizes Nacionais <strong>da</strong><br />

Educação Especial para a Educação Básica que, em seu art. 16, aponta que os<br />

alu<strong>no</strong>s com grave <strong>de</strong>ficiência mental ou múltipla e que tiverem recebido a<br />

terminali<strong>da</strong><strong>de</strong> específica por não apresentar resultados <strong>de</strong> <strong>escola</strong>rização <strong>de</strong>vem ser<br />

encaminhados para a educação profissional.<br />

Esses quatro paradigmas citados por Beyer (2005) apontam formas diferencia<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

avaliar o alu<strong>no</strong> com <strong>de</strong>ficiência que refletem na sua própria constituição <strong>de</strong> sujeito e<br />

também <strong>no</strong> seu potencial para apren<strong>de</strong>r.<br />

72


Enquanto o primeiro paradigma faz sobressair a condição clínica, como<br />

<strong>de</strong>terminante nas limitações individuais, o terceiro sobreleva as reações<br />

sociais diante <strong>da</strong> condição individual. Enquanto o segundo paradigma<br />

mostra a dinâmica entre os sistemas <strong>escola</strong>res (regular e especial) como<br />

forma social <strong>de</strong> li<strong>da</strong>r com o sujeito (alu<strong>no</strong>) que ‘fracassa’, o quarto busca<br />

<strong>de</strong>svelar o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência como resultado <strong>de</strong> <strong>um</strong>a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

classes que supervaloriza a produção e a aquisição <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o<br />

(BEYER, 2005, p. 92).<br />

Esses paradigmas, clínico-médico, sistêmico, sociológico ou crítico-materialista, são<br />

formas culturais e sociais <strong>de</strong> conceber a pessoa com <strong>de</strong>ficiência. Essas pessoas<br />

po<strong>de</strong>m ser representa<strong>da</strong>s com base em <strong>um</strong>a única visão paradigmática ou po<strong>de</strong>m<br />

ser vistas na associação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> <strong>um</strong> paradigma.<br />

Percebemos, também, <strong>no</strong> cerne <strong>de</strong>ssas avaliações, <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> ver o sujeito com<br />

<strong>de</strong>ficiência tendo como critério a falta, o déficit do alu<strong>no</strong> e, conseqüentemente, <strong>um</strong><br />

prognóstico negativo em relação a ele. Essa <strong>avaliação</strong> unilateral, basea<strong>da</strong> <strong>no</strong><br />

“fracasso” do alu<strong>no</strong>, acaba provocando <strong>um</strong><br />

[...] rebaixamento <strong>da</strong>s expectativas sociais. Para o alu<strong>no</strong> que fracassa na<br />

<strong>escola</strong> e que se suspeita ter alg<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência, espera-se o<br />

encaminhamento para a <strong>escola</strong> especial, ou <strong>um</strong>a progressão <strong>escola</strong>r muito<br />

lenta, o que não ‘recomen<strong>da</strong>ria’ <strong>um</strong> maior investimento pe<strong>da</strong>gógico<br />

(BEYER, 2005, p. 96).<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber que as práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> pouco têm contribuído para a<br />

efetivação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para os alu<strong>no</strong>s que apresentam<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais. O que elas têm apontado é <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong><br />

pauta<strong>da</strong> na falta, <strong>no</strong> déficit, na concepção <strong>de</strong> <strong>um</strong> alunado que não precisa fazer<br />

muita intervenção <strong>no</strong> seu processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem, pois seu potencial é<br />

limitado. É <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> pós-ativa (SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998) que remete ao<br />

que já passou, ao diagnóstico, ao que o alu<strong>no</strong> já sabe e que segrega/classifica<br />

73


aqueles que o professor acha que não sabe ou que sabe bem me<strong>no</strong>s que os outros<br />

colegas.<br />

N<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> educação inclusiva, a <strong>avaliação</strong> na educação especial, não<br />

po<strong>de</strong> ser pautar <strong>no</strong> diagnóstico, na classificação <strong>de</strong>sses alu<strong>no</strong>s em comparação com<br />

os <strong>de</strong>mais. Essa prática limita o conhecimento <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do sujeito. É preciso mu<strong>da</strong>r o foco <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>.<br />

Eggert (1997, apud BEYER, 2005, p. 95) sugere que as transferências <strong>de</strong>vem ser:<br />

[...] a) <strong>da</strong> seleção dos alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ficientes para <strong>escola</strong>s especiais, para a<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais dos mesmos; b) do<br />

encaminhamento a <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> especial, para o apoio ao alu<strong>no</strong> <strong>no</strong> âmbito<br />

<strong>da</strong> <strong>escola</strong> regular; c) <strong>da</strong> justificativa do encaminhamento para a <strong>escola</strong><br />

especial, através do laudo clínico, para a orientação e o acompanhamento<br />

pe<strong>da</strong>gógico na <strong>escola</strong> regular; d) dos métodos quantitativos e <strong>no</strong>rmativos,<br />

para a <strong>de</strong>scrição qualitativa e a consi<strong>de</strong>ração do contexto ou do entor<strong>no</strong>.<br />

Nesse contexto, acreditamos que é preciso ressignificar a <strong>avaliação</strong>. Ela precisa ser<br />

vista e usa<strong>da</strong> como <strong>um</strong> elemento <strong>de</strong> íntima relação <strong>no</strong> fazer pe<strong>da</strong>gógico, que dá<br />

pistas, indícios <strong>de</strong> caminhos possíveis. A <strong>avaliação</strong> “[...] precisa, portanto, estar<br />

incorpora<strong>da</strong> ao próprio processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem para compreen<strong>de</strong>r as<br />

reações, situações dos alu<strong>no</strong>s, aspectos <strong>de</strong> sua evolução e dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que possam<br />

encontrar” (GONZÁLES, 2002, p.189).<br />

Entendi<strong>da</strong> assim, é <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> que se abre para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> diferença, que<br />

aten<strong>de</strong> a todos os alu<strong>no</strong>s e a to<strong>da</strong>s as alunas, inclusive aqueles(as) com <strong>de</strong>ficiência.<br />

Segundo Gonzalez (2001, p.194), “[...] as estratégias mais eficazes para aten<strong>de</strong>r à<br />

diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> serão aquelas que fazem <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento para gerar<br />

74


informação que permita fun<strong>da</strong>mentar as <strong>de</strong>cisões dos professores e orientar a<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alu<strong>no</strong>s”.<br />

Se quisermos construir caminhos para a <strong>escola</strong> inclusiva, temos que repensar a<br />

<strong>avaliação</strong>, usando-a como <strong>um</strong> dispositivo para a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s, sejam eles com,<br />

sejam sem <strong>de</strong>ficiência. Não cabem, neste atual contexto, práticas pe<strong>da</strong>gógicas<br />

segregacionistas que minimizem o potencial dos alu<strong>no</strong>s contribuindo para o escore<br />

<strong>da</strong> segregação <strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

4.3 PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA<br />

Embora a prática <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> tenha surgido fora do âmbito educacional, é nesse<br />

espaço que ela se perpetua com o mesmo objetivo <strong>da</strong> primeira manifestação<br />

histórica 13 e acontece em todos os níveis e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. Segundo<br />

Sacristán e Gómez (1998, p. 295), enten<strong>de</strong>r a <strong>avaliação</strong> como prática significa<br />

[...] que estamos frente a <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senvolve seguindo<br />

certos usos, que c<strong>um</strong>pre múltiplas funções, que se apóia n<strong>um</strong>a série <strong>de</strong><br />

idéias e formas <strong>de</strong> realiza-la e que é a resposta a <strong>de</strong>terminados<br />

condicionamentos do ensi<strong>no</strong> institucionalizado [...] ao mesmo tempo, ela<br />

inci<strong>de</strong> sobre todos os <strong>de</strong>mais elementos envolvidos na <strong>escola</strong>rização:<br />

transmissão do conhecimento, relações entre professores/as e alu<strong>no</strong>s/as,<br />

interações <strong>no</strong> grupo, métodos que se praticam, disciplina, expectativas<br />

<strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s/as, professores/as e pais, valorização do indivíduo na<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc.<br />

13 As primeiras manifestações históricas em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> envolvem <strong>um</strong>a prática <strong>de</strong> exame, como, por<br />

exemplo, acontecia com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesa que escolhia seus funcionários por <strong>de</strong> seleção e hierarquização<br />

(SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998; BARRIGA, 2004; DIAS SOBRINHO, 2002).<br />

75


Nesse contexto, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que, <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, não existe <strong>um</strong>a<br />

prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> e, sim, práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong>s concepções<br />

dos professores e dos usos que eles fazem <strong>de</strong>sse dispositivo.<br />

Sacristán e Gómez (1998, p. 323-336), relatando sobre as funções <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>,<br />

retratam a multifuncionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>la. Segundo eles, a prática avaliativa c<strong>um</strong>pre a<br />

função <strong>de</strong>:<br />

a) <strong>de</strong>finição dos significados pe<strong>da</strong>gógicos e sociais – por meio do ato avaliativo,<br />

são atribuídos valores e conceitos relacionados com a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensi<strong>no</strong> e<br />

conseqüentemente, com a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor e do alu<strong>no</strong>;<br />

b) função social – nessa prática está embuti<strong>da</strong> a questão <strong>da</strong> certificação, que<br />

atesta o rendimento pessoal e o nível <strong>de</strong> <strong>escola</strong>ri<strong>da</strong><strong>de</strong>, garantindo ao<br />

individuo <strong>um</strong>a possível entra<strong>da</strong> <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho;<br />

c) po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> controle – a <strong>avaliação</strong> é <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>no</strong> qual o<br />

professor tem o controle <strong>da</strong>quilo que irá cobrar como saber e do valor<br />

atribuído a esse saber;<br />

d) função pe<strong>da</strong>gógica – essa função é o que legitima a ação avaliativa <strong>no</strong><br />

cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, porém não é a mais <strong>de</strong>terminante. Várias outras funções<br />

são intercruza<strong>da</strong>s na função pe<strong>da</strong>gógica e acabam interferindo <strong>no</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />

proposto;<br />

e) funções na organização <strong>escola</strong>r – a <strong>avaliação</strong> tem a função <strong>de</strong> organizar o<br />

sistema <strong>escola</strong>r para garantir a <strong>escola</strong>rização. Entretanto, para <strong>da</strong>r conta<br />

<strong>de</strong>ssa função, utiliza-se <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> regulação e classificação<br />

impedindo que muitos alu<strong>no</strong>s avancem <strong>no</strong>s seus <strong>estudo</strong>s;<br />

76


f) projeção psicológica – a prática <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> tem essa função, porque se<br />

projeta sobre a motivação dos alu<strong>no</strong>s que passa a ser controla<strong>da</strong> muito mais<br />

por fontes extrínsecas do que intrínsecas; também se projeta sobre o<br />

comportamento; sobre as atitu<strong>de</strong>s; sobre a intensificação <strong>de</strong> ansie<strong>da</strong><strong>de</strong>s; e<br />

sobre a auto-estima dos sujeitos;<br />

g) apoio <strong>da</strong> investigação – a prática <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> vem servindo como fonte <strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>dos para avaliar o sistema educacional.<br />

Com refererência a função pe<strong>da</strong>gógica, Sacristán e Gómez (1998) citam vários<br />

pontos a serem refletidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa função: a <strong>avaliação</strong> cria <strong>um</strong> ambiente <strong>escola</strong>r<br />

que interfere nas relações interpessoais entre alu<strong>no</strong>s/alu<strong>no</strong>s e alu<strong>no</strong>s/professores.<br />

Esse clima é instigado pelos resultados <strong>da</strong>s provas, pelo controle <strong>da</strong> disciplina para<br />

que haja aprendizagem, pelas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que são realiza<strong>da</strong>s e que <strong>de</strong>pois serão<br />

avalia<strong>da</strong>s, etc.<br />

Outra função é a diagnóstica, que é utiliza<strong>da</strong> como <strong>um</strong> recurso para se conhecer os<br />

processos <strong>de</strong> aprendizagem, visando a <strong>um</strong>a possível intervenção. Essa função tem<br />

vários sentidos: a) <strong>avaliação</strong> inicial (para <strong>de</strong>tectar os conhecimentos prévios dos<br />

alu<strong>no</strong>s e também para conhecer as condições globais, <strong>de</strong>ntre elas, condições<br />

familiares, sociais e econômicas); b) <strong>avaliação</strong> formativa (para conhecer o curso dos<br />

processos <strong>de</strong> aprendizagem e procurar intervir); c) <strong>avaliação</strong> somativa (para<br />

<strong>de</strong>terminar o estado final do processo <strong>de</strong> aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s).<br />

77


Embora a função diagnóstica tenha esses três aspectos, na prática, em muitos<br />

cotidia<strong>no</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, a <strong>avaliação</strong> somativa, que é o resultado <strong>da</strong> prova, do processo,<br />

do bimestre, é o que tem <strong>um</strong> maior valor e o tipo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> mais usa<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> função pe<strong>da</strong>gógica, procura-se a<strong>da</strong>ptar os processos pe<strong>da</strong>gógicos<br />

ao ritmo dos alu<strong>no</strong>s, ou seja, po<strong>de</strong> ser usa<strong>da</strong> com o sentido <strong>de</strong> recurso para a<br />

individualização do ensi<strong>no</strong>. Também tem a função <strong>de</strong> garantir a aprendizagem,<br />

orientar os processos, servir <strong>de</strong> base prognóstica e <strong>de</strong> referência para a construção<br />

do currículo.<br />

Po<strong>de</strong>mos observar, nas funções <strong>da</strong> prática avaliativa expostas por Sacristán e<br />

Gómez (1998), o quanto falar sobre <strong>avaliação</strong> é complexo e necessário. Neste<br />

trabalho, vamos <strong>no</strong>s ater à prática <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> enquanto função pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Esteban (2003), fazendo <strong>um</strong>a análise geral <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> prática <strong>no</strong> contexto<br />

<strong>escola</strong>r, percebe que, atualmente há três perspectivas que coexistem. A primeira<br />

impõe <strong>um</strong> retor<strong>no</strong> ao padrão rígido <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> quantitativa vivencia<strong>da</strong> pelo controle<br />

<strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> nacional (SAEB, ENEM, ENADE), que acaba provocando <strong>um</strong>a<br />

homogeneização curricular e <strong>um</strong>a visão <strong>de</strong> que todos <strong>de</strong>vem ter acesso ao mesmo<br />

conteúdo, <strong>no</strong> mesmo ritmo e, conseqüentemente, <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> padroniza<strong>da</strong>. A<br />

busca pela suposta quali<strong>da</strong><strong>de</strong> acaba classificando os alu<strong>no</strong>s e as instituições<br />

conforme o escore dos resultados.<br />

A segun<strong>da</strong> perspectiva aponta <strong>um</strong>a consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo híbrido, que<br />

<strong>de</strong>staca a aprendizagem como <strong>um</strong> processo, fazendo com que a <strong>escola</strong> consi<strong>de</strong>re o<br />

78


tempo, o ritmo dos alu<strong>no</strong>s. Nesse contexto, embora haja mu<strong>da</strong>nças na concepção<br />

<strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, ela é vista como <strong>um</strong> controle ou como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento para comparar<br />

o <strong>de</strong>sempenho individual em relação ao <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong> turma.<br />

A terceira, <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Esteban, se pauta na construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong><br />

<strong>de</strong>mocrática imersa n<strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>. Tal perspectiva valoriza a<br />

heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, leva em conta a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a sala <strong>de</strong> aula,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo os ritmos individuais, intervindo <strong>no</strong>s processos e valorizando os<br />

saberes <strong>de</strong> modo a não dicotomizar os que sabem <strong>da</strong>queles que não sabem.<br />

Percebemos, nessa análise que as duas primeiras práticas, embora em nível<br />

diferenciado, propõem <strong>um</strong>a classificação, <strong>um</strong>a hierarquização conforme os<br />

resultados obtidos. É <strong>um</strong>a prática <strong>de</strong> exame<br />

[...] que reduz a riqueza e complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos processos <strong>de</strong> aprendizagem e<br />

<strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, <strong>da</strong>s relações sociais nas quais as relações pe<strong>da</strong>gógicas se<br />

constituem e dos sujeitos que apren<strong>de</strong>m e que ensinam, como a<br />

materialização <strong>da</strong> concepção positivista <strong>de</strong> conhecimento (ESTEBAN,<br />

2003, p.17).<br />

Essa prática <strong>de</strong> classificar, <strong>de</strong> selecionar em na<strong>da</strong> contribui para que o alu<strong>no</strong><br />

apren<strong>da</strong> e revela, como <strong>no</strong>s diz Esteban (2003, p. 23), a ambivalência <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong><br />

Nesse cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, avaliando e sendo avalia<strong>da</strong>, a professora vai<br />

apren<strong>de</strong>ndo duas lições contraditórias: é preciso classificar para ensinar; e<br />

classificar não aju<strong>da</strong> a ensinar melhor, tampouco a apren<strong>de</strong>r mais –<br />

classificar produz exclusão e para ensinar é indispensável incluir.<br />

Contradição facilmente abriga<strong>da</strong> na ambivalência <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>, que<br />

promete medir para incluir em alg<strong>um</strong>a categoria <strong>de</strong> classificação,<br />

produzindo <strong>um</strong>a opaci<strong>da</strong><strong>de</strong> que não <strong>de</strong>ixa que se perceba que alg<strong>um</strong>as<br />

categorias nas quais os alu<strong>no</strong>s e alunas, professoras e professores são<br />

incluídos só produzem exclusão.<br />

79


Já a terceira perspectiva <strong>de</strong> prática <strong>no</strong>s reporta a <strong>um</strong>a outra forma <strong>de</strong> conceber e<br />

viver a <strong>avaliação</strong>. Esteban (2001) pensa a <strong>avaliação</strong> como <strong>um</strong>a prática investigativa,<br />

que percebe o cotidia<strong>no</strong> como múltiplo, facetado e complexo. Pensando <strong>de</strong>ssa<br />

forma, estará aberta à diferença, à <strong>inclusão</strong>, porque o paradigma não é posto sob a<br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e sim sobre a heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Esteban (2001, p. 165) coloca que<br />

[...] a <strong>avaliação</strong> como processo <strong>de</strong> classificação está presa à<br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, como prática <strong>de</strong> investigação abre espaço para a<br />

heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, para o múltiplo, para o <strong>de</strong>sconhecido [...]. As diferenças<br />

entre os/as alu<strong>no</strong>s/as <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser interpreta<strong>da</strong>s como <strong>de</strong>ficiências que<br />

precisam ser corrigi<strong>da</strong>s para serem ass<strong>um</strong>i<strong>da</strong>s como particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s que<br />

<strong>de</strong>vem ser explora<strong>da</strong>s e integra<strong>da</strong>s à dinâmica coletiva.<br />

Nesse ponto <strong>de</strong> vista, contribui para <strong>um</strong> olhar que não classifica e que não separa os<br />

sujeitos conforme os padrões curriculares preestabelecidos. É <strong>um</strong>a prática que “[...]<br />

investe na busca do ain<strong>da</strong> não-saber, que trabalha com a ampliação do<br />

conhecimento, movimento permanente em que há sempre conhecimentos e<br />

<strong>de</strong>sconhecimentos” (ESTEBAN, 2001, p. 166).<br />

A <strong>avaliação</strong> investigativa é aquela que não tem a intenção <strong>de</strong> classificar, mas sim <strong>de</strong><br />

buscar indícios <strong>da</strong>quilo que o alu<strong>no</strong> sabe e <strong>da</strong>quilo que ele ain<strong>da</strong> não sabe e<br />

construir possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para que ele venha a apren<strong>de</strong>r. Ela corporifica o avaliado<br />

como sujeito que está inserido n<strong>um</strong> cotidia<strong>no</strong>, o que difere do avaliado n<strong>um</strong>a visão<br />

metafísica, que objetiva encontrar os princípios que regularizam, que mantêm a<br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. É mister avaliar não separando o que se avalia <strong>da</strong>s condições <strong>da</strong><br />

produção <strong>de</strong>sse conhecimento. Ou seja, não se po<strong>de</strong> avaliar só o sujeito, o alu<strong>no</strong>,<br />

80


mas é preciso, <strong>de</strong> forma dialética, avaliar também o próprio avaliador e o cotidia<strong>no</strong><br />

que favorece ou não as condições <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

É <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> que vai abrir caminhos para que o professor inci<strong>da</strong> na “zona<br />

proximal”. 14<br />

O conceito <strong>de</strong> zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal constitui <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento<br />

significativo para explorar a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento e a plurali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> processos para a sua construção, além <strong>de</strong> estabelecer mecanismos<br />

para a construção <strong>de</strong> conhecimentos <strong>no</strong>vos e mais amplos que os<br />

anteriores. Esse conceito implica <strong>um</strong> professorado que reflete sobre sua<br />

ação articulando <strong>um</strong> diálogo permanente em que se entretecem a teoria e a<br />

prática (ESTEBAN, 2001, p. 164).<br />

Tal pressuposto remete a <strong>um</strong>a superação <strong>da</strong>s práticas avaliativas e pe<strong>da</strong>gógicas<br />

que se têm, nas quais, muitas vezes, se cristaliza o alu<strong>no</strong> como aquele que não<br />

apren<strong>de</strong>, que não consegue. Atuar na zona proximal é caminhar junto com o alu<strong>no</strong> e<br />

perceber todo o seu processo <strong>de</strong> aprendizagem e não apenas o produto final. Essa<br />

prática favorece a <strong>inclusão</strong> <strong>da</strong>queles alu<strong>no</strong>s que, historicamente, foram alijados <strong>de</strong><br />

estarem na <strong>escola</strong> regular porque não se enquadram n<strong>um</strong> “padrão <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmali<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />

Acreditamos que a <strong>avaliação</strong>, como prática investigativa, contribui para <strong>um</strong>a prática<br />

<strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> que favoreça a todos <strong>no</strong> processo educacional.<br />

14 O conceito <strong>de</strong> zona proximal é <strong>de</strong>finido por Vigotsky (1997, p. 86) como “[...].funções que ain<strong>da</strong> não estavam<br />

amadureci<strong>da</strong>s, mas em processo <strong>de</strong> maturação; funções que, amanhã, estarão maduras, mas que hoje estão em<br />

estado embrionário [...]. O nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento real caracteriza o <strong>de</strong>senvolvimento mental respectivamente,<br />

enquanto a zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal caracteriza o <strong>de</strong>senvolvimento mental prospectivamente”.<br />

81


5 COTIDIANO, INCLUSÃO E AVALIAÇÃO: INTRODUZINDO A PESQUISA<br />

5.1 A PESQUISA<br />

Buscando ser coerente com a construção teórica <strong>de</strong> Lefebvre, que analisa o<br />

cotidia<strong>no</strong> para perceber o vivido, escolhemos, como questão <strong>de</strong> investigação <strong>da</strong><br />

<strong>no</strong>ssa pesquisa, compreen<strong>de</strong>r as práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, tendo<br />

como referência as práticas pe<strong>da</strong>gógicas dos professores e a reflexão sobre a<br />

<strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais.<br />

Queríamos saber, <strong>de</strong> modo específico: como os professores usavam as práticas<br />

avaliativas <strong>no</strong> seu cotidia<strong>no</strong>; se havia consenso entre o concebido e o vivido; se<br />

havia <strong>um</strong>a relação entre o ato <strong>de</strong> avaliar e as ações pe<strong>da</strong>gógicas que serviram <strong>de</strong><br />

intervenção para os alu<strong>no</strong>s e se estas contemplavam as diferenças dos educandos<br />

na sala <strong>de</strong> aula; se as avaliações eram presentifica<strong>da</strong>s <strong>de</strong> modo a contribuir com a<br />

aprendizagem <strong>de</strong> todos, inclusive dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais.<br />

Nesse sentido, buscamos <strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> pesquisa que não se caracterizasse como <strong>um</strong><br />

<strong>de</strong>svelamento crítico <strong>de</strong> <strong>um</strong>a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois <strong>no</strong>ssa intenção, como pesquisadora,<br />

não se remetia à idéia <strong>de</strong> construir <strong>um</strong> arcabouço <strong>de</strong> supostas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s a serem<br />

82


passa<strong>da</strong>s, pois sabemos que, na complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> que emerge do cotidia<strong>no</strong>, isso não<br />

seria viável e nem possível.<br />

Nesse sentido, encontramos respaldo na pesquisa qualitativa <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>caso</strong> do tipo et<strong>no</strong>gráfico 15 que, segundo André (2005), é <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> fenôme<strong>no</strong> educacional, cuja ênfase está na singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> e leva em conta os<br />

princípios e métodos <strong>da</strong> et<strong>no</strong>grafia.<br />

A pesquisa et<strong>no</strong>gráfica <strong>de</strong>riva <strong>da</strong>s pesquisas usa<strong>da</strong>s por antropólogos para estu<strong>da</strong>r<br />

a cultura <strong>de</strong> <strong>um</strong> grupo social, porém, <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> educação, o seu objetivo é<br />

compreen<strong>de</strong>r o processo educativo. Sendo assim, a autora afirma que há diferenças<br />

entre <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> et<strong>no</strong>gráfico (realizado pelos antropólogos) e <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>caso</strong> do tipo et<strong>no</strong>gráfico “[...] o que faz com que certos requisitos <strong>da</strong> et<strong>no</strong>grafia não<br />

sejam – nem necessitem ser – c<strong>um</strong>pridos pelos investigadores <strong>da</strong>s questões<br />

educacionais” (ANDRÉ, 2005, p. 28).<br />

Entretanto alg<strong>um</strong>as características permanecem, tais como: a relativização, que<br />

provoca <strong>no</strong> pesquisador <strong>um</strong> estranhamento para po<strong>de</strong>r investigar o objeto <strong>de</strong> <strong>estudo</strong>;<br />

o uso <strong>da</strong> observação participante e <strong>da</strong> entrevista como instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>dos; a duração do contato direto do pesquisador com a situação estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, que<br />

po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as semanas até alguns a<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos objetivos<br />

específicos; e a <strong>de</strong>scrição dos <strong>da</strong>dos coletados (ANDRÉ, 2005).<br />

15 Sabemos que existem autores que apontam outras metodologias <strong>de</strong> pesquisa para o <strong>estudo</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>.<br />

Entretanto, optamos pelo <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> do tipo et<strong>no</strong>gráfico por que a <strong>no</strong>ssa intenção, não é a pesquisa <strong>no</strong> e do<br />

cotidia<strong>no</strong>, mas sim, estu<strong>da</strong>r o cotidia<strong>no</strong>, sob a luz <strong>de</strong> Lefebvre, vendo-o como <strong>um</strong> lugar grávido <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças constantes.<br />

83


Assim, a opção por esse tipo <strong>de</strong> pesquisa po<strong>de</strong> permitir a compreensão <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

prática singular n<strong>um</strong> contexto <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental e enten<strong>de</strong>r<br />

como a <strong>avaliação</strong> foi concebi<strong>da</strong> e vivi<strong>da</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> que é atravessado pela<br />

<strong>inclusão</strong>.<br />

5.2 COLETA DE DADOS<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> tentar compreen<strong>de</strong>r como a <strong>escola</strong> pesquisa<strong>da</strong> e a Secretária <strong>de</strong><br />

Educação do município <strong>de</strong> Guarapari - ES pensam sobre a <strong>avaliação</strong> e a <strong>inclusão</strong>,<br />

usamos, como instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos: a entrevista semi-estrutura<strong>da</strong>; a<br />

análise doc<strong>um</strong>ental e a observação.<br />

Optamos pela entrevista por ser <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento que proporciona,<br />

[...] <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> interação social, verbal e não-verbal, que ocorre face a<br />

face, entre <strong>um</strong> pesquisador, que tem <strong>um</strong> objetivo previamente <strong>de</strong>finido, e<br />

<strong>um</strong> entrevistado que, supostamente, possui a informação, que possibilita<br />

estu<strong>da</strong>r o fenôme<strong>no</strong> em pauta, cuja mediação ocorre, principalmente, por<br />

meio <strong>da</strong> linguagem (MANZINI, 2005).<br />

Enten<strong>de</strong>ndo-a como <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> interação, realizamos <strong>um</strong>a entrevista semi-<br />

estrutura<strong>da</strong> que, segundo Triviños (1987, p. 146), parte <strong>de</strong> “[...] questionamentos<br />

básicos [...] que interessam à pesquisa, e que, em segui<strong>da</strong>, oferecem amplo campo<br />

<strong>de</strong> interrogativas, fruto <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas hipóteses que vão surgindo à medi<strong>da</strong> que se<br />

recebem as respostas do informante”. Tal opção <strong>no</strong>s permitiu <strong>um</strong> diálogo com os<br />

84


entrevistados <strong>de</strong> modo que eles não se sentiram “acuados”, ameaçados com a<br />

presença <strong>de</strong> <strong>um</strong> outro interrogando-os sobre o seu saber e seus modos <strong>de</strong> fazer.<br />

Outro tipo <strong>de</strong> instr<strong>um</strong>ento usado foi a análise doc<strong>um</strong>ental, que, segundo Lüdke e<br />

André (1986), é <strong>um</strong>a técnica que serve tanto para complementar informações já<br />

obti<strong>da</strong>s como para <strong>de</strong>svelar aspectos <strong>no</strong>vos <strong>de</strong> <strong>um</strong> tema. A análise doc<strong>um</strong>ental<br />

buscou i<strong>de</strong>ntificar informações factuais <strong>no</strong>s doc<strong>um</strong>entos, a partir <strong>de</strong> questões ou<br />

hipóteses do interesse <strong>da</strong> pesquisa. Foram usados, como objetos <strong>de</strong> análise: o<br />

projeto político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong>cenal do município, o regimento<br />

<strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s municipais, as portarias do município pertinentes à <strong>avaliação</strong>, os<br />

instr<strong>um</strong>entos avaliativos, o diário <strong>de</strong> classe, o ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> dos alu<strong>no</strong>s na classe e<br />

também, o usado na sala <strong>de</strong> recurso.<br />

Quanto à observação, foi feita a do tipo participante, porque esta é vista, não só<br />

como <strong>um</strong>a técnica <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, mas também como <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong><br />

intervenção (MATOS; VIEIRA, 2002). Usamos essa forma <strong>de</strong> observação com o<br />

intuito <strong>de</strong> observar, compreen<strong>de</strong>r o que era essencial para <strong>no</strong>ssa pesquisa,<br />

perfazendo a análise em duas classes do tur<strong>no</strong> vesperti<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> que tinham<br />

alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência.<br />

A escolha <strong>de</strong>sses instr<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos para <strong>um</strong>a pesquisa do tipo<br />

<strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> contribuiu para a análise do cotidia<strong>no</strong> volta<strong>da</strong> para a compreensão<br />

<strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> e <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> naquele contexto.<br />

85


5.2.1 Procedimento <strong>de</strong> pesquisa<br />

A pesquisa na <strong>escola</strong> começou em abril <strong>de</strong> 2006, quando conversamos com a<br />

diretora <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e com as pe<strong>da</strong>gogas, colocando <strong>no</strong>ssa intenção <strong>de</strong> realizar este<br />

trabalho naquela instituição. A receptivi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi satisfatória, pois já tinhamos <strong>um</strong><br />

vínculo com essa uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> a <strong>no</strong>ssa localização, como professora<br />

efetiva do município, ser nessa <strong>escola</strong>.<br />

Esclarecemos para todos, naquela reunião, o objetivo <strong>da</strong> pesquisa e acertamos que<br />

começaríamos a observação a partir <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006, quando se iniciaria o a<strong>no</strong>.<br />

Participamos, antes <strong>de</strong> entrar na sala <strong>de</strong> aula, do Conselho <strong>de</strong> Classe fechando o<br />

a<strong>no</strong> letivo <strong>de</strong> 2005, e também <strong>da</strong> primeira reunião que a diretora fez com os<br />

professores, colocando-os a par <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que iriam acontecer naquele a<strong>no</strong>.<br />

Informou que, <strong>de</strong>vido ao atraso do a<strong>no</strong> letivo, por causa <strong>da</strong> greve <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2005,<br />

muitas famílias retiraram seus filhos <strong>da</strong> <strong>escola</strong> pública e isso ocasio<strong>no</strong>u <strong>um</strong>a<br />

diminuição <strong>no</strong> número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s e, conseqüentemente, <strong>no</strong> número <strong>de</strong> turmas.<br />

Pensamos que a diretora, nesse dia, fosse <strong>no</strong>s apresentar para as professoras, mas<br />

isto só aconteceu <strong>no</strong> outro dia, na hora do recreio, quando as pe<strong>da</strong>gogas, Renata e<br />

Janete, 16 formalizaram a <strong>no</strong>ssa esta<strong>da</strong> naquele contexto.<br />

16 Apesar <strong>de</strong> os sujeitos concor<strong>da</strong>rem em participar <strong>da</strong> pesquisa os <strong>no</strong>mes que aparecem <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr do trabalho<br />

são fictícios para assegurar a privaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos mesmos.<br />

86


Foi colocado para as professoras que iríamos observar as salas <strong>da</strong> 3ª série, <strong>da</strong><br />

professora Iza, e <strong>da</strong> 4ª série, <strong>da</strong> professora Izabela, mas que a entrevista <strong>de</strong>veria<br />

acontecer com todos os professores e que contávamos com a colaboração <strong>de</strong>les.<br />

A idéia inicial do projeto <strong>de</strong> pesquisa era observar a sala <strong>da</strong> 1ª série e <strong>da</strong> 4ª série,<br />

pois eram, a <strong>no</strong>sso ver, as etapas nas quais os dilemas <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> se<br />

presentificavam com maior intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, naquele a<strong>no</strong>, não havia alu<strong>no</strong><br />

com <strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial por <strong>de</strong>ficiência naquela série. As<br />

pe<strong>da</strong>gogas, então, sugeriram que ficassemos na sala <strong>da</strong> 3ª e 4ª, pois nestas havia<br />

alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência.<br />

Ficamos na <strong>escola</strong> <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> maio até meados <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006. Organizamos<br />

<strong>no</strong>ssa coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos realizando, a princípio, as entrevistas com as professoras<br />

durante as aulas <strong>de</strong> Educação Física. Mesmo assim, não conseguimos entrevistar<br />

cinco professores que sempre alegavam não ter tempo, pois ora tinham que<br />

planejar, ora preparar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ora preencher diário, enfim, tinham sempre <strong>um</strong>a<br />

justificativa que <strong>no</strong>s fez enten<strong>de</strong>r e aceitar a não participação nas entrevistas.<br />

Paralelamente à coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, usando a técnica <strong>da</strong> entrevista, fazíamos a<br />

observação <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s salas seleciona<strong>da</strong>s e também a análise <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>entos<br />

pertinentes à <strong>escola</strong>, à sala <strong>de</strong> aula e à Secretaria <strong>de</strong> Educação. Íamos, a princípio,<br />

<strong>um</strong>a vez por semana em ca<strong>da</strong> classe, <strong>de</strong>pois, com o térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong>s entrevistas,<br />

a<strong>um</strong>entamos para dois dias em ca<strong>da</strong> sala. Essa divisão, muitas vezes, não era tão<br />

igualitária, pois, na sala <strong>da</strong> 3ª havia <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> surdo e não tinha intérprete para<br />

atendê-lo. Tendo a pesquisa, como <strong>um</strong> dos instr<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos a<br />

87


observação participante e sabendo a pesquisadora a Língua Brasileira <strong>de</strong> Sinais<br />

(LIBRAS) ficou acor<strong>da</strong>do que ficaríamos mais tempo nessa sala para po<strong>de</strong>r aju<strong>da</strong>r o<br />

alu<strong>no</strong>.<br />

Nosso procedimento nas classes era entrar, <strong>da</strong>r boa tar<strong>de</strong> para os alu<strong>no</strong>s e sentar<br />

sempre <strong>no</strong> final <strong>da</strong> classe <strong>de</strong> modo a não “atrapalhar” o an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> aula. Íamos<br />

sempre registrando <strong>no</strong> diário <strong>de</strong> campo tudo que observávamos e que achavámos<br />

que era essencial para a <strong>no</strong>ssa pesquisa.<br />

Durante a observação participante, após a abertura <strong>da</strong> aula pela professora e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ela explicar o que era para ser feito, ajudávamos os alu<strong>no</strong>s a fazerem as<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou interpretávamos para o alu<strong>no</strong> Pedro. Ora oferecíamos aju<strong>da</strong>, ora eles<br />

vinham até <strong>no</strong>ssa mesa solicitando. Esse apoio era <strong>da</strong>do tanto aos alu<strong>no</strong>s com<br />

<strong>de</strong>ficiência como aos <strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> classe.<br />

Após os quatro meses <strong>de</strong> observações e térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong>s entrevistas, conversamos com<br />

as pe<strong>da</strong>gogas, passando as <strong>no</strong>ssas impressões sobre aquilo que havíamos<br />

observado e visto naquele cotidia<strong>no</strong>. Propusemo-<strong>no</strong>s a fazer <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> com elas<br />

sobre questões que envolviam a <strong>inclusão</strong>, prática pe<strong>da</strong>gógica inclusiva e <strong>avaliação</strong>.<br />

A proposta <strong>de</strong>ste <strong>estudo</strong> era criar <strong>um</strong> momento na <strong>escola</strong> <strong>no</strong> qual a equipe pu<strong>de</strong>sse<br />

parar para refletir sobre suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e pensar juntos como po<strong>de</strong>riam equalizar<br />

alg<strong>um</strong>as saí<strong>da</strong>s. Ficou acor<strong>da</strong>do que esse <strong>estudo</strong> seria realizado em dois dias (3 e 7<br />

<strong>de</strong> agosto), sendo duas horas em ca<strong>da</strong> sessão e o <strong>estudo</strong> seria na própria uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

88


<strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. A escolha por esses dias foi aproveitando o período <strong>de</strong> reforma na<br />

<strong>escola</strong>, já que os alu<strong>no</strong>s eram liberados na hora do recreio.<br />

O <strong>estudo</strong> foi constituído por professores do tur<strong>no</strong> vesperti<strong>no</strong>, por pe<strong>da</strong>gogos e pela<br />

professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recursos. Para os encontros do grupo <strong>de</strong> <strong>estudo</strong>, <strong>de</strong>mos <strong>um</strong><br />

título que expressava <strong>no</strong>sso intuito coor<strong>de</strong>nando o grupo <strong>de</strong> profissionais <strong>da</strong>quela<br />

<strong>escola</strong>: “Reflexão sobre a <strong>inclusão</strong>”. Nossa intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, era construir <strong>um</strong>a<br />

relação dialógica que <strong>de</strong>sse voz ao grupo <strong>da</strong>quela <strong>escola</strong> e colaborasse para <strong>um</strong>a<br />

auto-reflexão <strong>da</strong>queles autores pertencentes àquela <strong>escola</strong>, <strong>de</strong>monstrando que eles<br />

tinham saberes que permitiam aquele cotidia<strong>no</strong> ser único e constituído <strong>de</strong><br />

potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No primeiro dia, os participantes receberam <strong>um</strong>a folha para preencher na qual eles<br />

completavam os quadrinhos com aquilo que lhes era solicitado (Quadro 1). Depois,<br />

fazíamos <strong>um</strong>a exposição oral e <strong>um</strong> <strong>de</strong>bate com arg<strong>um</strong>entações teóricas, tentando<br />

relacionar teoria e prática.<br />

O QUE É INCLUSÃO?<br />

ESTUDO REFLEXIVO SOBRE A INCLUSÃO<br />

QUAIS OS PRICÍPIOS<br />

PARA UMA EDUCA-<br />

ÇÃO INCLUSIVA?<br />

QUADRO 1 - ESTUDO REFLEXIVO SOBRE A INCLUSÃO<br />

COMO PODEMOS DE-<br />

SENVOLVER UM TRA-<br />

LHO QUE FAVOREÇA<br />

A INCLUSÃO?<br />

89<br />

O QUE PODEMOS<br />

MELHORAR NA NOS-<br />

SA PRÁTICA PARA<br />

FAZERMOS UMA EDU-<br />

CAÇÃO PARA TODOS?


Nesse <strong>estudo</strong>, foram <strong>de</strong>bati<strong>da</strong>s alg<strong>um</strong>as questões sobre: a <strong>inclusão</strong>; os princípios<br />

que estavam presentes nesse movimento; o trabalho pe<strong>da</strong>gógico para favorecer<br />

<strong>um</strong>a educação para todos; e também falamos sobre as práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>.<br />

Apresentamos o <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> (2004), que abor<strong>da</strong> sobre o trabalho<br />

colaborativo e a proposta <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> em multinível.<br />

O <strong>estudo</strong> acabou sendo <strong>um</strong> momento ímpar para que os profissionais <strong>da</strong> <strong>escola</strong><br />

pu<strong>de</strong>ssem parar para refletir <strong>um</strong> pouco sobre a <strong>inclusão</strong> e <strong>avaliação</strong> presentifica<strong>da</strong>s<br />

<strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> Escola Bansalu.<br />

5.3 O CONTEXTO DA PESQUISA<br />

5.3.1 A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Guarapari<br />

90<br />

“Quer viver <strong>um</strong> sonho lindo<br />

Que eu vivi<br />

Vá viver as maravilhas <strong>de</strong> Guarapari [...]”<br />

(PEDRO CAETANO)<br />

Guarapari, canta<strong>da</strong> em versos e prosas pelo poeta Pedro Caeta<strong>no</strong>, é <strong>um</strong>a ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

litorânea do Estado do Espírito Santo e fica a 41,75km <strong>da</strong> capital ─ Vitória. É<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>um</strong>a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> turística <strong>de</strong> fama internacional, <strong>de</strong>vido às proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

medicinais <strong>de</strong> suas areias monazíticas. Sua área territorial compreen<strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

superfície <strong>de</strong> 581,90km 2 e sua população é aproxima<strong>da</strong>mente 88.216 habitantes por<br />

Km 2 .


Para aten<strong>de</strong>r à <strong>escola</strong>rização <strong>de</strong> seus munícipes há, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, 93 instituições <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong>, 69 municipais, 10 estaduais e 14 particulares. Essas <strong>escola</strong>s, conforme o<br />

Quadro 2, aten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil até o ensi<strong>no</strong> médio. Atualmente, os<br />

moradores po<strong>de</strong>m ingressar <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> superior sem se <strong>de</strong>slocar <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />

outros centros, pois já existem, <strong>no</strong> município, quatro instituições oferecendo cursos<br />

nas áreas: educacional, jurídica, biomédica, jornalismo, administração e turismo.<br />

Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> Re<strong>de</strong> Municipal Re<strong>de</strong> Estadual Re<strong>de</strong><br />

Priva<strong>da</strong><br />

Educação Infantil 30 - 12<br />

Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental 55 10 10<br />

Ensi<strong>no</strong> Médio - 07 04<br />

Escolas Especiais - - 02<br />

Total 17 69 10 14<br />

QUADRO 2 - QUANTIDADE DE ESCOLAS CONFORME A REDE E MODALIDADE DE ENSINO<br />

Fonte: Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Guarapari - SEMED<br />

Conforme os <strong>da</strong>dos do Quadro 2, po<strong>de</strong>mos perceber que as <strong>escola</strong>s que compõem<br />

o Sistema <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Guarapari perfazem <strong>um</strong> total <strong>de</strong> 69<br />

instituições <strong>da</strong>s quais 38 se localizam na área urbana e 31 na área rural, sendo<br />

estas, em sua maioria, unidocentes. O número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s matriculados <strong>no</strong> a<strong>no</strong> letivo<br />

<strong>de</strong> 2006 perfaz <strong>um</strong> total <strong>de</strong> 16.001 estu<strong>da</strong>ntes distribuídos conforme os <strong>da</strong>dos do<br />

Quadro 3.<br />

NIVEL DE ENSINO Nº DE ALUNOS<br />

Creche 696<br />

Educação Infantil Pré-<strong>escola</strong> 1.869<br />

1ª a 4ª (incluindo o ciclo <strong>de</strong> alfabetização) 7.336<br />

Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental<br />

5ª a 8ª 3.931<br />

EJA 2.169<br />

Total 16.001<br />

QUADRO 3 - DISTRIBUIÇÃO DE NÚMERO DE ALUNOS POR NÍVEL DE ENSINO<br />

Fonte: Departamento <strong>de</strong> projetos e planejamento educacional - SEMED<br />

17 A somatória dos números <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s não fecha com os números listados na tabela, pois <strong>um</strong>a mesma instituição<br />

po<strong>de</strong> oferecer diferentes níveis <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>.<br />

91


A Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Guarapari (SEMED) tem se<strong>de</strong> própria e seu<br />

orga<strong>no</strong>grama é composto <strong>de</strong> três Departamentos, a saber: Departamento <strong>de</strong><br />

Educação, Departamento Administrativo e Financeiro e Departamento <strong>de</strong> Projetos e<br />

Planejamento Educacional.<br />

Ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>partamento tem suas atribuições e orga<strong>no</strong>gramas específicos. No<br />

orga<strong>no</strong>grama do Departamento <strong>de</strong> Educação, há <strong>um</strong> cargo <strong>de</strong> diretor e várias<br />

divisões: <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, <strong>de</strong> educação infantil, <strong>de</strong> apoio ao educando e <strong>de</strong><br />

alimentação <strong>escola</strong>r. Existem ain<strong>da</strong>, liga<strong>da</strong>s ao ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, equipes <strong>de</strong>:<br />

acompanhamento do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, <strong>de</strong> educação especial, <strong>de</strong> educação <strong>de</strong><br />

jovens e adultos (do 1º ao 4º ciclo), <strong>de</strong> acompanhamento <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s <strong>da</strong> zona rural,<br />

e a equipe <strong>de</strong> inspeção <strong>escola</strong>r.<br />

A equipe <strong>de</strong> educação especial, que ficava na SEMED, era composta, em 2003, por<br />

dois profissionais e, em 2006, passa a ter três componentes, que são responsáveis<br />

pela implantação e implementação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a política educacional inclusiva, volta<strong>da</strong><br />

para alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial por <strong>de</strong>ficiência. Entre as<br />

políticas visando à <strong>inclusão</strong> estão: a abertura <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recursos 18 para<br />

atendimento <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência mental, condutas típicas, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

acentua<strong>da</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, surdos, cegos e baixa visão; a perspectiva <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

trabalho colaborativo entre professor especialista e professor <strong>da</strong> sala regular;<br />

acompanhamento às <strong>escola</strong>s para saber sobre o <strong>de</strong>senvolvimento dos alu<strong>no</strong>s<br />

atendidos pela equipe <strong>de</strong> educação especial; formação continua<strong>da</strong> para todos os<br />

professores <strong>da</strong> re<strong>de</strong>, com seminários, cursos e palestras.<br />

18 Os alu<strong>no</strong>s surdos e cegos, por <strong>de</strong>man<strong>da</strong>rem <strong>um</strong> atendimento mais específico, possuem salas <strong>de</strong> recursos em<br />

espaços diferenciados <strong>da</strong>s outras <strong>de</strong>ficiências. Em alg<strong>um</strong>as <strong>escola</strong>s, po<strong>de</strong>m ter duas salas <strong>de</strong> recursos para<br />

aten<strong>de</strong>r às mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferencia<strong>da</strong>s.<br />

92


5.3.2 A Escola<br />

A instituição escolhi<strong>da</strong> como loco <strong>da</strong> pesquisa foi <strong>um</strong>a Escola Municipal <strong>de</strong><br />

Educação Infantil e Ensi<strong>no</strong> Fun<strong>da</strong>mental (EMEIEF) <strong>de</strong> Guarapari – ES, que passa a<br />

ter o codi<strong>no</strong>me <strong>de</strong> “BANSALU”. Essa <strong>escola</strong> foi inaugura<strong>da</strong> em 1990, na gestão <strong>de</strong><br />

Benedito Soter Lyra. Des<strong>de</strong> a época <strong>da</strong> sua fun<strong>da</strong>ção, passou por três reformas. A<br />

última foi <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006, coincidindo com o período <strong>da</strong> pesquisa, e que acabou<br />

provocando <strong>no</strong> ambiente <strong>escola</strong>r certas inquietu<strong>de</strong>s: pelo barulho, pelo cheiro <strong>de</strong><br />

tinta, pela poeira, pelo t<strong>um</strong>ulto natural a qualquer obra, quando o espaço é co-<br />

habitado.<br />

A <strong>escola</strong> possui <strong>um</strong>a área <strong>de</strong> 626,40m 2 , localiza-se <strong>no</strong> bairro Lagoa Fun<strong>da</strong> e aten<strong>de</strong><br />

alu<strong>no</strong>s oriundos <strong>de</strong>ssa própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> como também <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

adjacentes. A maioria dos discentes pertence a <strong>um</strong>a classe econômica que tem<br />

como ren<strong>da</strong> familiar <strong>de</strong> <strong>um</strong> a cinco salários mínimos.<br />

A estrutura física <strong>da</strong> <strong>escola</strong> correspon<strong>de</strong> a: <strong>de</strong>zesseis salas <strong>de</strong> aula, <strong>um</strong>a sala <strong>de</strong><br />

professor, <strong>um</strong>a sala para diretor e adjunto, <strong>um</strong>a sala para coor<strong>de</strong>nação, <strong>um</strong>a sala<br />

para os pe<strong>da</strong>gogos, <strong>um</strong>a secretaria, quatros banheiros para alu<strong>no</strong>s, <strong>um</strong>a sala <strong>de</strong><br />

recurso, <strong>um</strong>a sala <strong>de</strong> aula na qual é improvisa<strong>da</strong> <strong>um</strong>a biblioteca, <strong>um</strong>a cantina, <strong>um</strong>a<br />

cozinha, <strong>um</strong>a área coberta e equipa<strong>da</strong> com mesas e bancos para ser usa<strong>da</strong> como<br />

refeitório, <strong>um</strong>a dispensa na qual é guar<strong>da</strong><strong>da</strong> material pe<strong>da</strong>gógico e meren<strong>da</strong>, <strong>um</strong>a<br />

área com areia na qual é pratica<strong>da</strong> as aulas <strong>de</strong> Educação Física. Além <strong>de</strong>ssas áreas<br />

93


<strong>de</strong>scritas, a SEMED, ain<strong>da</strong> aluga <strong>um</strong>a casa na proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, que é<br />

<strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à educação infantil <strong>de</strong> crianças com quatro e cinco a<strong>no</strong>s.<br />

O quadro <strong>de</strong> funcionários <strong>da</strong> <strong>escola</strong> compreen<strong>de</strong> <strong>um</strong> contingente <strong>de</strong> 88 pessoas,<br />

sendo: sessenta professores, dois professores especialistas, <strong>um</strong> diretor, <strong>um</strong> diretor<br />

adjunto, quatro coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> tur<strong>no</strong>, cinco pe<strong>da</strong>gogos, quatro secretários, onze<br />

auxiliares <strong>de</strong> serviços gerais (meren<strong>de</strong>ira, servente e vigias).<br />

A uni<strong>da</strong><strong>de</strong> aten<strong>de</strong>u, em 2006, a 96 alu<strong>no</strong>s na educação infantil e 763 <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong><br />

fun<strong>da</strong>mental, incluindo os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> EJA. A organização curricular é por série e por<br />

ciclos (EJA e o ciclo <strong>de</strong> alfabetização). 19 Ela aten<strong>de</strong> os alu<strong>no</strong>s em três horários:<br />

matuti<strong>no</strong>, vesperti<strong>no</strong> e <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>. No vesperti<strong>no</strong>, que é o foco <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa análise, ela<br />

possui três salas <strong>de</strong> educação infantil e <strong>de</strong>z <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental que<br />

compreen<strong>de</strong>m a: quatro salas <strong>de</strong> ciclo básico <strong>de</strong> alfabetização, duas <strong>de</strong> segun<strong>da</strong><br />

série, duas <strong>de</strong> terceira série e duas <strong>de</strong> quarta série. Para aten<strong>de</strong>r a essas turmas, a<br />

<strong>escola</strong> conta com <strong>um</strong> contingente <strong>de</strong> doze professoras, sendo <strong>um</strong> professor <strong>de</strong><br />

Educação Física e <strong>um</strong> professor especialista.<br />

O a<strong>no</strong> letivo <strong>de</strong> 2006 foi atípico <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Iniciou-se em maio <strong>de</strong> 2006, <strong>de</strong>vido a <strong>um</strong>a<br />

greve geral do Magistério em 2005, por reivindicações <strong>de</strong> per<strong>da</strong>s salariais e outras<br />

questões trabalhistas, o que ocasio<strong>no</strong>u <strong>um</strong> atraso <strong>no</strong> térmi<strong>no</strong> do a<strong>no</strong> anterior e,<br />

conseqüentemente, <strong>um</strong> atraso <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006. Além <strong>de</strong>sse evento, houve, ain<strong>da</strong>,<br />

durante o a<strong>no</strong> várias paralisações e a reforma <strong>da</strong> <strong>escola</strong> o que prejudicou o<br />

19 Somente as classes <strong>de</strong> alfabetização são por ciclo, porque o município a<strong>de</strong>riu à proposta do Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> Educação amplia<strong>da</strong>. O Projeto <strong>de</strong> Educação Amplia<strong>da</strong> do município é baseado na Resolução do COMEG nº<br />

003/2004, mas a efetivação <strong>da</strong> proposta só aconteceu a partir do a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006, transformando as turmas <strong>de</strong> pré III<br />

como parte do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental.<br />

94


an<strong>da</strong>mento e trouxe <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> conseqüências, como: alteração do calendário<br />

<strong>escola</strong>r, esticando o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006 até março <strong>de</strong> 2007; retira<strong>da</strong> dos momentos <strong>de</strong><br />

planejamento e dias <strong>de</strong> <strong>estudo</strong>, o que dificultou <strong>um</strong>a interação coletiva dos<br />

professores em prol <strong>de</strong> <strong>um</strong> objetivo com<strong>um</strong>; insatisfação dos pais dos alu<strong>no</strong>s por<br />

conta do atraso <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r; reorganização dos Conselhos <strong>de</strong> Classe, <strong>de</strong>ixando<br />

<strong>de</strong> ser <strong>um</strong> encontro coletivo para ser <strong>um</strong> diálogo entre o professor e o pe<strong>da</strong>gogo <strong>da</strong><br />

<strong>escola</strong>.<br />

5.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA<br />

Na <strong>no</strong>ssa análise dos <strong>da</strong>dos, o foco <strong>da</strong> pesquisa se encontra em duas turmas que<br />

apresentavam matrículas <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais. As<br />

duas turmas escolhi<strong>da</strong>s foram a 3ª série <strong>da</strong> professora Iza, que tinha 26 alu<strong>no</strong>s, e<br />

entre esses <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> surdo ─ Pedro ─ e <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> com <strong>de</strong>ficiência múltipla ─<br />

Fernando; e a outra turma era a 4ª série <strong>da</strong> professora Izabela, que tinha 30 alu<strong>no</strong>s,<br />

incluindo <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> com <strong>de</strong>ficiência mental – Emanuel.<br />

A professora <strong>da</strong> 3ª série tem licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia e está fazendo pós-<br />

graduação em Supervisão Escolar. Tem 16 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Magistério e busca sua<br />

formação participando <strong>de</strong> cursos e seminários oferecidos pela SEMED. Não tem<br />

nenh<strong>um</strong> curso específico <strong>de</strong> educação especial, mas fez <strong>um</strong>a disciplina na<br />

graduação cujo conteúdo abor<strong>da</strong>va o tema <strong>inclusão</strong>. A professora Izabela tem<br />

Magistério e licenciatura em História. Há 13 a<strong>no</strong>s atua como professora e faz sua<br />

95


formação continua<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> cursos, mas não tem nenh<strong>um</strong> específico na área<br />

<strong>de</strong> educação especial.<br />

Em relação aos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>ssas salas, temos Fernando, Pedro e<br />

Emanuel. O alu<strong>no</strong> Fernando foi <strong>um</strong>a criança que nasceu prematura, com peso <strong>de</strong><br />

1.230g e várias complicações pós-parto: teve hipoglicemia <strong>no</strong> segundo dia <strong>de</strong><br />

nascido e para<strong>da</strong> cardiorrespiratória que se repetiu por três vezes consecutivas.<br />

Após exame <strong>de</strong> ressonância magnética, pô<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>tectar que ele apresentava <strong>um</strong>a<br />

agenesia do vérmix cerebelar e hipoplasia do hemisfério cerebelar esquerdo, com<br />

aparente fusão entre os hemisférios cerebelares. Seu <strong>de</strong>senvolvimento físico foi em<br />

meio a crises convulsivas e atraso <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento motor e <strong>de</strong> linguagem.<br />

Seu início <strong>de</strong> <strong>escola</strong>rização foi na pré-<strong>escola</strong>, na qual ficou até 2003, quando entrou<br />

<strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental em <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> pública. Para essa <strong>escola</strong>, na qual esta<br />

sendo realiza<strong>da</strong> a pesquisa, ele veio em 2005. Foi <strong>um</strong>a época <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação difícil,<br />

na qual ele ficava meio período, pois sempre se cansava <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e começava<br />

a mexer com os colegas, queria sair <strong>da</strong> sala to<strong>da</strong> hora e a estratégia que a <strong>escola</strong><br />

encontrou, para ambos, foi a redução do tempo diário na <strong>escola</strong>. Uma <strong>da</strong>s possíveis<br />

causas <strong>de</strong>sse ato era porque ele estava na 1ª série, com crianças muito pequenas,<br />

as quais ele não i<strong>de</strong>ntificava como seus pares. Resolveu-se, então, após reunião<br />

com a equipe <strong>da</strong> SEMED, colocá-lo n<strong>um</strong>a turma <strong>de</strong> 2ª série, em que havia alu<strong>no</strong>s<br />

maiores e on<strong>de</strong> ele conseguiu se ambientar com a turma e com a professora. No<br />

final do a<strong>no</strong> letivo <strong>de</strong> 2005, embora, segundo a <strong>escola</strong>, Fernando não tivesse<br />

condições <strong>de</strong> ir para a 3ª série, ele foi “aprovado” por causa <strong>da</strong> professora Iza, que<br />

96


seria a professora <strong>da</strong> turma e era a única na <strong>escola</strong> que conseguia domínio para<br />

mantê-lo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala.<br />

Pedro é <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> que apresenta sur<strong>de</strong>z profun<strong>da</strong> bilateral congênita. Ele se<br />

comunica por meio <strong>de</strong> Língua <strong>de</strong> Sinais, mas também emite alg<strong>um</strong>as palavras e tem<br />

<strong>um</strong>a boa percepção <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong>, fazendo leitura labial. Freqüentou, antes <strong>de</strong> ser<br />

incluído, nesta <strong>escola</strong>, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2004, <strong>um</strong>a classe especial <strong>de</strong> alfabetização para<br />

surdos. O município oferecia atendimento em contratur<strong>no</strong> para Pedro, porém,<br />

mesmo com o apoio sua a<strong>da</strong>ptação, foi difícil, pois não havia ninguém na <strong>escola</strong> que<br />

soubesse LIBRAS para servir <strong>de</strong> interlocutor entre o alu<strong>no</strong> e os <strong>de</strong>mais<br />

componentes <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Isso acabava gerando mal-entendimento <strong>da</strong>s regras e<br />

comportamento <strong>de</strong>safiante <strong>no</strong> qual o alu<strong>no</strong> ass<strong>um</strong>ia <strong>um</strong>a postura <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa em<br />

frente à dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação. Essa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> só melhorou quando <strong>um</strong><br />

professor <strong>da</strong> <strong>escola</strong> se mobilizou para apren<strong>de</strong>r LIBRAS e passou a trabalhar com<br />

ele. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006, ele ia trocar <strong>de</strong> <strong>escola</strong> para acompanhar a professora que<br />

sabia se comunicar com ele, porém sua família resolveu retorná-lo para a mesma<br />

<strong>escola</strong>, pois a outra ficava distante <strong>da</strong> sua residência. Ele voltou para a sua mesma<br />

turma, agora a 3ª série <strong>da</strong> professora Iza, na qual parte dos alu<strong>no</strong>s já sabiam se<br />

comunicar com Pedro.<br />

O outro alu<strong>no</strong>, pertencente à 4ª série, era Emanuel, que sempre foi <strong>um</strong>a criança fácil<br />

<strong>de</strong> se li<strong>da</strong>r, pois obe<strong>de</strong>cia às regras impostas, não brigava, ficava sempre <strong>no</strong> seu<br />

canto, porém tinha extrema dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r o que a <strong>escola</strong> ensinava. Ele<br />

já havia feito <strong>um</strong> trajeto <strong>de</strong> <strong>escola</strong>rização <strong>escola</strong> regular – <strong>escola</strong> especial – <strong>escola</strong><br />

regular, mas, mesmo assim, não tinha laudo que testificasse <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência. Isso<br />

97


fazia com que a <strong>escola</strong> não o tratasse como tal, mas também não era visto como<br />

<strong>um</strong>a criança “<strong>no</strong>rmal”. Ele já tem 15 a<strong>no</strong>s e várias histórias <strong>de</strong> reprovação. Apesar<br />

<strong>de</strong> ter ficado alguns a<strong>no</strong>s na 1ª série, ain<strong>da</strong> não domina a leitura nem a escrita,<br />

conseguindo apenas <strong>de</strong>codificar alg<strong>um</strong>as letras/sílabas e alg<strong>um</strong>as palavras. Agora,<br />

em 2006, orientaram a família a procurar aju<strong>da</strong> médica na tentativa <strong>de</strong> encontrar <strong>um</strong><br />

diagnóstico para ele. Essa preocupação com <strong>um</strong> laudo que ateste a <strong>de</strong>ficiência é<br />

fruto <strong>de</strong> <strong>um</strong>a história marca<strong>da</strong> pelo paradigma clínico-médico que se pauta n<strong>um</strong>a<br />

busca por <strong>um</strong>a causa orgânica/biológica que justifique a “impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>” do<br />

trabalho pe<strong>da</strong>gógico com esse alu<strong>no</strong>.<br />

98


6 A EDUCAÇÃO ESPECIAL DE GUARAPARI NO MOVIMENTO DE INCLUSÃO:<br />

POLÍTICAS QUE RESSOAM NAS ESCOLAS<br />

Antes <strong>de</strong> analisarmos o movimento <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> na <strong>escola</strong>, precisamos compreen<strong>de</strong>r<br />

que ações, que políticas são realiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> município para viabilizar a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong><br />

alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais.<br />

A princípio, é bom ressaltar que não há doc<strong>um</strong>ento oficial <strong>no</strong> município referente à<br />

educação especial para a educação básica. O que encontramos foram registros<br />

sobre a educação especial <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>entos específicos <strong>da</strong> educação<br />

municipal, tais como, a legislação que transforma a re<strong>de</strong> municipal em sistema <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong> (Lei nº 1.964/ 2000) e também <strong>no</strong> Regimento Com<strong>um</strong> <strong>da</strong>s Escolas Municipais<br />

que aponta alg<strong>um</strong>as diretrizes sobre o acesso e a permanência dos alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial nas instituições <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>.<br />

Essa falta <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>entação 20 para <strong>no</strong>rmatizar a educação especial <strong>de</strong>ixa<br />

transparecer <strong>um</strong>a situação ambígua. De <strong>um</strong> lado, a situação <strong>de</strong> não dicotomizar<br />

educação especial e educação regular, que é <strong>um</strong> ponto positivo, pois expressa <strong>um</strong>a<br />

visão <strong>de</strong> educação que integra a educação especial; por outro lado, a falta <strong>da</strong><br />

<strong>no</strong>rmatização pulveriza as ações políticas volta<strong>da</strong>s para tal mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> que fica<br />

muitas vezes coloca<strong>da</strong> em segundo pla<strong>no</strong>.<br />

20 O posicionamento em relação à falta <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>entação específica não significa a busca por<br />

legislação que engessa e homogeneíza as ações, mas sim, a <strong>no</strong>sso ver, <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento para orientar<br />

<strong>um</strong>a política <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>.<br />

99


Nos doc<strong>um</strong>entos encontrados, a educação especial aparece como mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

ensi<strong>no</strong> e <strong>de</strong>ve ser ofereci<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as etapas <strong>da</strong> educação básica. Na análise do<br />

Regimento Com<strong>um</strong> <strong>da</strong>s Escolas Municipais, po<strong>de</strong>mos encontrar, em relação ao<br />

atendimento, que este <strong>de</strong>ve ser oferecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil e se constitui<br />

como <strong>um</strong> dos objetivos e fins <strong>da</strong> educação (art. 6º, VI). Quanto aos sujeitos <strong>de</strong>sse<br />

atendimento, o doc<strong>um</strong>ento é omisso, garantindo apenas atendimento especializado<br />

conforme ca<strong>da</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Essa não clareza dos sujeitos que serão atendidos acaba pulverizando as ações e<br />

abarcando <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s para a educação especial contribuindo,<br />

assim, para <strong>um</strong> olhar ca<strong>da</strong> vez mais diferenciado.<br />

Em relação ao acesso, o doc<strong>um</strong>ento garante matrícula <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil até<br />

o ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental e acrescenta que, na organização <strong>da</strong>s classes e <strong>da</strong>s turmas<br />

estas <strong>de</strong>verão ter número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s conforme a especificação do Regimento. As<br />

salas <strong>de</strong> 1ª e 2ª séries <strong>de</strong>verão ter 25 alu<strong>no</strong>s, já as <strong>de</strong> 3ª e 4ª <strong>de</strong>verão ter 30.<br />

Entretanto, “[...] nas classes <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> regular o número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais não po<strong>de</strong>rão ultrapassar a dois (02), consi<strong>de</strong>rando <strong>no</strong><br />

agrupamento a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>” (art. 86).<br />

Essa limitação <strong>de</strong> número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial por<br />

turma ou classe po<strong>de</strong> ter conseqüências diversas. Se por, <strong>um</strong> lado, contribui para<br />

que os alu<strong>no</strong>s não sejam “alojados” todos em <strong>um</strong>a única sala e possibilita a vários<br />

professores a experiência em trabalhar com eles, por outro, po<strong>de</strong> causar rejeições<br />

100


<strong>de</strong> matrículas arg<strong>um</strong>entando que a sala já tem o número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s conforme a<br />

especificação do doc<strong>um</strong>ento.<br />

Nesse contexto, percebemos que as ações políticas <strong>da</strong> educação especial volta<strong>da</strong>s<br />

para a <strong>inclusão</strong> em Guarapari (ES) não diferem <strong>da</strong>s ações <strong>no</strong> âmbito nacional. Elas<br />

estão consoantes com a Lei nº 9.394/96 e a Resolução nº 2/2001, tal como as<br />

<strong>de</strong>mais Secretarias <strong>de</strong> Educação, sejam elas municipais, sejam estaduais (PRIETO,<br />

2004).<br />

Analisando os <strong>da</strong>dos do Censo <strong>de</strong> 2006, vemos que há <strong>um</strong> número representativo<br />

<strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência matriculados na re<strong>de</strong> municipal. Cabe também ressaltar o<br />

quantitativo <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s apresentados como tendo condutas típicas, que sozinhos<br />

representam mais <strong>de</strong> 50% do total <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência matriculados na re<strong>de</strong><br />

regular <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. É importante analisar o que significa condutas típicas e que tipo<br />

<strong>de</strong> alunado é consi<strong>de</strong>rado como tal, pois, essa categoria é muito ampla e complexa.<br />

Especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência Quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Sur<strong>de</strong>z ou <strong>de</strong>ficiência auditiva 45<br />

Cego ou baixa visão 10<br />

Deficiência física 12<br />

Deficiência mental 67<br />

Autismo 04<br />

Síndrome Down 05<br />

Altas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s 04<br />

Condutas típicas 187<br />

Total 334<br />

QUADRO 4 - MATRÍCULAS DE ALUNOS COM ALGUMA DEFICIÊNCIA NAS ESCOLAS<br />

MUNICIPAIS DE GUARAPARI<br />

Fonte: Departamento <strong>de</strong> Projetos e Planejamentos Educacionais – SEMED<br />

101


Em relação aos 334 alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>monstrados na Figura 11 esse contingente<br />

correspon<strong>de</strong> apenas a <strong>um</strong> percentual <strong>de</strong> 2,09% dos alu<strong>no</strong>s matriculados nas <strong>escola</strong>s<br />

municipais. Esses <strong>da</strong>dos <strong>no</strong>s impulsionam a refletir sobre o porquê <strong>de</strong>sse percentual<br />

tão baixo. Três apontamentos surgem <strong>de</strong>ssa questão: primeiro, a presença <strong>de</strong><br />

instituições especializa<strong>da</strong>s (APAE e PESTALLOZZI) que, <strong>de</strong>vido à tradição histórica<br />

em aten<strong>de</strong>r os alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência, acabam sendo <strong>um</strong> caminho para as famílias<br />

matricularem seus filhos e para as <strong>escola</strong>s encaminharem os alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência;<br />

segundo, é que o município precisa intensificar a política <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong>ssas crianças<br />

nas <strong>escola</strong>s, verificando o contingente <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s que está fora para po<strong>de</strong>r matriculá-<br />

los; e terceiro, trabalhar nas <strong>escola</strong>s com questões <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sses alu<strong>no</strong>s,<br />

pois, na hora do preenchimento do censo, muitos alu<strong>no</strong>s que aparentam ter<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais não são arrolados por não terem laudos que<br />

legitimam a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong>les <strong>no</strong> rol <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> educação especial.<br />

Prietto (2004) <strong>no</strong>s chama a atenção, colocando que <strong>um</strong> dos passos para o município<br />

efetivar as políticas <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> perpassa pelo conhecimento quantitativo <strong>da</strong>s<br />

características dos alu<strong>no</strong>s a serem atendidos.<br />

Paralela à questão do acesso, temos a questão <strong>da</strong> permanência, pois <strong>de</strong> na<strong>da</strong><br />

adianta matricular os alu<strong>no</strong>s nas <strong>escola</strong>s, se não lhes forem ofereci<strong>da</strong>s condições<br />

para adquirirem <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sendo assim, o município oferece<br />

serviços <strong>de</strong> apoio que se constituem em salas <strong>de</strong> recursos e trabalho colaborativo do<br />

professor especialista com o professor <strong>da</strong> sala regular.<br />

102


6.1 SERVIÇOS DE APOIO<br />

Os serviços para o atendimento dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais se constituem em apoio <strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula. O apoio intraclasse<br />

é <strong>de</strong><strong>no</strong>minado <strong>de</strong> trabalho colaborativo, que consiste <strong>no</strong> apoio do professor<br />

especialista ao alu<strong>no</strong> com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional e também ao professor na<br />

própria sala <strong>de</strong> aula. Essa forma <strong>de</strong> apoio é respal<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>no</strong> art. 8º <strong>da</strong> Resolução<br />

CNE/CEB nº 02/2001, porém, <strong>no</strong> município pesquisado, esse tipo <strong>de</strong> trabalho ain<strong>da</strong><br />

não está oficializado, mas acontece, oficiosamente, em várias uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005.<br />

Um outro tipo <strong>de</strong> apoio extraclasse que é oferecido é a sala <strong>de</strong> recurso, entendi<strong>da</strong>,<br />

conforme o texto extraído <strong>da</strong> pasta do professor <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso como<br />

103<br />

[...] <strong>um</strong> serviço <strong>de</strong> natureza pe<strong>da</strong>gógica, conduzi<strong>da</strong> por professor<br />

especializado [...]. Esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento utiliza materiais e<br />

recursos a<strong>de</strong>quados a ca<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> específica. O objetivo é facilitar a<br />

aprendizagem, a participação e integração social do alu<strong>no</strong> para levá-lo a<br />

apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r [...]. O atendimento na Sala <strong>de</strong> Recurso não po<strong>de</strong> ser<br />

confundido com reforço <strong>escola</strong>r [...] trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho que visa<br />

estimular o raciocínio do educando, para apren<strong>de</strong>r a pensar.<br />

Essas salas ficam localiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental. Alg<strong>um</strong>as<br />

possuem <strong>um</strong> excelente espaço físico, já outras foram monta<strong>da</strong>s em espaços<br />

a<strong>da</strong>ptados com condições físicas nem sempre a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s. A priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

atendimento nessas salas é o alu<strong>no</strong> que apresenta alg<strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional<br />

especial que interfere <strong>no</strong> seu processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006, o<br />

município contava com 18 salas para o atendimento <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência<br />

mental, duas salas <strong>de</strong> recurso para surdos e <strong>um</strong>a para alu<strong>no</strong>s cegos e com baixa


visão. O encaminhamento para ser atendido nessas salas é proveniente <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

queixa <strong>da</strong> professora <strong>da</strong> sala regular, que passa <strong>um</strong>a lista com os <strong>no</strong>mes dos alu<strong>no</strong>s<br />

que ela acha que têm alg<strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial que esteja<br />

prejudicando o seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem para a<br />

professora especialista que faz <strong>um</strong>a triagem <strong>de</strong>sses alu<strong>no</strong>s, avaliando-os,<br />

pe<strong>da</strong>gogicamente, nas questões <strong>de</strong> leitura-escrita, raciocínio lógico e representação<br />

gráfica do esquema corporal e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a imagem em geral.<br />

O atendimento nas salas <strong>de</strong> recurso é diferenciado conforme o alunado que<br />

freqüenta a sala e <strong>de</strong>veria ser, preferencialmente, <strong>no</strong> contratur<strong>no</strong>. O apoio para os<br />

alu<strong>no</strong>s surdos era visando a repassar os conteúdos ensinados em sala regular<br />

usando a LIBRAS como forma <strong>de</strong> comunicação. Além <strong>de</strong>ssa forma <strong>de</strong> atendimento,<br />

começou, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006, o trabalho colaborativo nas salas regulares que tinham<br />

surdos matriculados. Esse profissional fazia a interpretação <strong>da</strong> aula<br />

simultaneamente e aju<strong>da</strong>va o alu<strong>no</strong> <strong>no</strong> entendimento <strong>da</strong> matéria.<br />

Em relação aos alu<strong>no</strong>s cegos e com baixa visão, é ofereci<strong>da</strong> a transcrição em Braille<br />

para tinta e vice-versa, e também a a<strong>da</strong>ptação e ampliação dos conteúdos<br />

trabalhados nas salas nas quais eles estão matriculados. Para fazer o intercâmbio<br />

entre o professor <strong>da</strong> sala regular e o professor especialista, é realizado o serviço <strong>de</strong><br />

itinerância interinstitucional.<br />

As salas para atendimento <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência mental, condutas típicas e<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s acentua<strong>da</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem ficam localiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s próprias<br />

<strong>escola</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental e os alu<strong>no</strong>s não precisam se locomover para outras<br />

104


uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, diferente do trabalho com os alu<strong>no</strong>s surdos e cegos. O atendimento é <strong>no</strong><br />

contratur<strong>no</strong> e é realizado por <strong>um</strong>a professora especialista que recebe os<br />

encaminhamentos feitos pela própria <strong>escola</strong>.<br />

6.2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADE<br />

EDUCACIONAL ESPECIAL<br />

A educação especial, como <strong>um</strong>a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, perpassa por todos os níveis <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong> e cabe à <strong>escola</strong> a i<strong>de</strong>ntificação dos alu<strong>no</strong>s que apresentam necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

educacional especial. Em relação a esse item, o Regimento Com<strong>um</strong> <strong>da</strong>s Escolas<br />

Municipais aponta que a i<strong>de</strong>ntificação é <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor <strong>da</strong> classe<br />

regular, com os pe<strong>da</strong>gogos <strong>da</strong> <strong>escola</strong> (supervisor e orientador) e também do<br />

professor especialista.<br />

Cabe ao professor “[...] i<strong>de</strong>ntificar em tempo hábil as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais dos alu<strong>no</strong>s valorizando a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> na educação e a <strong>inclusão</strong>” (art. 46,<br />

VI); aos pe<strong>da</strong>gogos “[...] diag<strong>no</strong>sticar, junto aos profissionais as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos<br />

alu<strong>no</strong>s na aprendizagem, buscando medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pe<strong>da</strong>gógica a serem<br />

adota<strong>da</strong>s, bem como elaborar junto ao professor ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s para os<br />

alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais” (art. 35, V); e o professor<br />

especialista, <strong>de</strong>ve “[...] flexibilizar as ações pe<strong>da</strong>gógicas, juntamente com pe<strong>da</strong>gogos<br />

e professor especializado nas diferentes áreas do conhecimento, <strong>de</strong> modo a<br />

contemplar as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais” (art. 46, XV).<br />

105


Percebemos, nessa sobreposição <strong>de</strong> artigos, que o doc<strong>um</strong>ento não só menciona a<br />

proposta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, mas também a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer algo que vai além<br />

<strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação inicial. Articula, ain<strong>da</strong>, a cooperação dos pe<strong>da</strong>gogos e do professor<br />

especialista em i<strong>de</strong>ntificar e colaborando com <strong>um</strong>a proposta pe<strong>da</strong>gógica volta<strong>da</strong><br />

para a aprendizagem <strong>de</strong> todos que, conseqüentemente, será inclusiva, e elaborar<br />

com a efetivação <strong>de</strong>ssa proposta.<br />

Percebemos que há <strong>um</strong>a intenção <strong>de</strong> se instituir <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> educação<br />

inclusiva na qual os sujeitos <strong>da</strong> <strong>escola</strong> se articulem para tal. Entretanto, apesar <strong>de</strong> já<br />

estar instituí<strong>da</strong> <strong>no</strong> papel, ain<strong>da</strong> é <strong>um</strong>a ação que vem se iniciando <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s<br />

<strong>escola</strong>s, principalmente entre professor especialista e professor <strong>da</strong> sala regular.<br />

Quanto à <strong>avaliação</strong>, não aparece <strong>um</strong>a proposta clara e específica <strong>de</strong>sse item. No<br />

entanto po<strong>de</strong>mos perceber que há indício <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> que acompanha o<br />

percurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do alu<strong>no</strong>, porém não há registro dos “[...] alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais, <strong>de</strong>stacando suas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e avanços<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sempenho <strong>escola</strong>r” (art. 38, XVII). Estabelece<br />

que é <strong>da</strong> atribuição do professor, em conjunto com o professor <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso,<br />

emitir relatório por escrito do <strong>de</strong>sempenho dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais (art. 30, V, II).<br />

Apesar <strong>de</strong>sse direcionamento em relação aos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência, o mesmo<br />

doc<strong>um</strong>ento aponta que as <strong>escola</strong>s <strong>de</strong>vem realizar a <strong>avaliação</strong> formativa, mas o<br />

sistema avaliativo <strong>de</strong>ve ser o somatório. Sendo assim, ca<strong>da</strong> bimestre tem <strong>um</strong>a<br />

pontuação na qual os alu<strong>no</strong>s precisam atingir pelo me<strong>no</strong>s 60%. Por exemplo, <strong>no</strong><br />

106


primeiro e <strong>no</strong> segundo bimestres, a pontuação é 20 pontos e os alu<strong>no</strong>s precisam<br />

atingir <strong>um</strong> mínimo <strong>de</strong> 12 pontos.<br />

6.3 OS REBATES DESSA POLÍTICA DENTRO DA ESCOLA BANSALU<br />

A Escola Bansalu segue as Diretrizes municipais e recebe matrículas <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006, havia 39 alu<strong>no</strong>s com alg<strong>um</strong>a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial. Conforme o censo <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, estavam<br />

matriculados: <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> com <strong>de</strong>ficiência múltipla, dois surdos, dois com <strong>de</strong>ficiência<br />

física, seis que apresentavam <strong>de</strong>ficiência mental, <strong>um</strong> com altas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, 26 com<br />

condutas típicas. No tur<strong>no</strong> vesperti<strong>no</strong>, que foi o foco <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa pesquisa, havia 13<br />

alu<strong>no</strong>s: <strong>um</strong> surdo, <strong>um</strong> com <strong>de</strong>ficiência mental, <strong>um</strong> com <strong>de</strong>ficiência múltipla, <strong>no</strong>ve com<br />

condutas típicas e <strong>um</strong> com altas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sse alunado só era realiza<strong>da</strong> após a entra<strong>da</strong> na sala <strong>de</strong> aula, pois,<br />

<strong>no</strong> doc<strong>um</strong>ento que a família preenche, <strong>no</strong> ato <strong>da</strong> matrícula, não há nenh<strong>um</strong> campo<br />

<strong>no</strong> qual a família possa <strong>de</strong>screver, a priori, se seu filho apresenta alg<strong>um</strong>a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> especial.<br />

Para o atendimento <strong>de</strong>sses alu<strong>no</strong>s, há na <strong>escola</strong> <strong>um</strong>a sala <strong>de</strong> recursos que, <strong>no</strong><br />

começo <strong>da</strong> pesquisa, localizava-se n<strong>um</strong> espaço anexo à <strong>escola</strong>. Isso acabava<br />

dificultando a interação <strong>da</strong> professora especialista com os <strong>de</strong>mais professores <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. Logo <strong>no</strong> início do a<strong>no</strong> letivo <strong>de</strong> 2006, a diretora <strong>de</strong>slocou esse<br />

107


atendimento para o interior <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, pois, <strong>de</strong>vido à greve do a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2005, houve<br />

<strong>um</strong>a diminuição do número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s e acabou vagando <strong>um</strong>a sala. Esse fato<br />

favoreceu os alu<strong>no</strong>s atendidos na sala <strong>de</strong> recursos, pois ganharam <strong>um</strong>a sala ampla,<br />

confortável bem diferente <strong>da</strong>quela com a qual eles estavam submetidos.<br />

Apesar <strong>de</strong> a <strong>escola</strong> ter <strong>um</strong>a história <strong>de</strong> vários a<strong>no</strong>s aten<strong>de</strong>ndo matrícula <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s<br />

com alg<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência, ain<strong>da</strong> não se tem ação planeja<strong>da</strong> e volta<strong>da</strong> para eles. O<br />

Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> <strong>escola</strong> não menciona o número <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, nem formas <strong>de</strong> apoio e atendimento específico para eles. Segundo a<br />

diretora, o Projeto está sendo reformulado, pois não aten<strong>de</strong> à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> atual <strong>da</strong><br />

<strong>escola</strong>.<br />

N<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> educação inclusiva, na qual a <strong>escola</strong> precisa se organizar para<br />

oferecer situações <strong>de</strong> aprendizagem para todos, faz-se necessário, tal como propõe<br />

Ribeiro (2003, p. 49), que essa intenção esteja explícita “[...] <strong>no</strong> Projeto Pe<strong>da</strong>gógico<br />

<strong>da</strong> <strong>escola</strong>, <strong>de</strong> modo que o currículo proposto seja dinâmico e flexível, permitindo o<br />

ajuste do fazer pe<strong>da</strong>gógico às peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong>”. Organizar, <strong>no</strong> papel,<br />

as intenções <strong>da</strong> equipe <strong>da</strong> <strong>escola</strong> contribui para <strong>um</strong>a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> entre o corpo docente<br />

e diminui as práticas que não favorecem a <strong>inclusão</strong>.<br />

108


7 INCLUSÃO E AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA: REFLEXÕES SOBRE<br />

AS PRÁTICAS AVALIATIVAS NUMA PERSPECTIVA INCLUSIVA<br />

Neste capítulo, vamos <strong>no</strong>s situar na análise dos <strong>da</strong>dos obtidos <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> Escola<br />

Bansalu. Para tal, trabalhamos com três vertentes: o cotidia<strong>no</strong>, a <strong>inclusão</strong> e a<br />

<strong>avaliação</strong>. O conceito do cotidia<strong>no</strong> é baseado em Lefebvre (1991) que <strong>no</strong>s aponta<br />

<strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> olhá-lo sem percebê-lo como algo que se repete, sempre <strong>da</strong> mesma<br />

forma, do mesmo jeito. É <strong>no</strong> e do cotidia<strong>no</strong> que po<strong>de</strong>mos fazer mu<strong>da</strong>nças, que<br />

po<strong>de</strong>mos perceber o vivido e transformar aquilo que concebemos, entretanto as<br />

mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong>vem ser coletivas.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos a segun<strong>da</strong> vertente — a <strong>inclusão</strong> — como <strong>um</strong> movimento mundial <strong>de</strong><br />

valorização e respeito às diferenças em to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Aqui <strong>no</strong>s atemos à<br />

perspectiva <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> educacional que implica <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças para que a<br />

instituição possa oferecer <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A <strong>inclusão</strong> educacional não<br />

significa colocar os alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais <strong>no</strong> conjunto<br />

com os outros alu<strong>no</strong>s tidos como “<strong>no</strong>rmais”, mas reorganizar as práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas para que todos possam apren<strong>de</strong>r e se <strong>de</strong>senvolver. Entre essas<br />

práticas, o <strong>no</strong>sso olhar <strong>de</strong> pesquisadora <strong>no</strong>s remete à <strong>avaliação</strong> que, ao longo dos<br />

a<strong>no</strong>s, tem sido <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> exclusão na e <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Acreditamos n<strong>um</strong>a<br />

<strong>avaliação</strong> investigativa atrela<strong>da</strong> à prática pe<strong>da</strong>gógica que conduz sempre a <strong>um</strong>a<br />

ação, que busca pistas tentando compreen<strong>de</strong>r o que sabem aqueles que achamos<br />

que não sabem.<br />

109


Nessa perspectiva, acreditamos que a <strong>avaliação</strong> po<strong>de</strong> contribuir em muito para a<br />

<strong>inclusão</strong> dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s.<br />

Sendo assim, entramos <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> Escola Bansalu, realizando <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>caso</strong> et<strong>no</strong>gráfico que <strong>no</strong>s possibilitou compreen<strong>de</strong>r como a prática <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> é<br />

vivi<strong>da</strong> e concebi<strong>da</strong> e também qual a relação <strong>de</strong>la como retroalimentadora <strong>da</strong> prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica n<strong>um</strong> contexto <strong>de</strong> educação inclusiva.<br />

7.1 A INCLUSÃO NA ESCOLA BANSALU<br />

Antes <strong>de</strong> falarmos na prática avaliativa <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, vamos pontuar como<br />

a <strong>inclusão</strong> está presentifica<strong>da</strong> nesse cotidia<strong>no</strong>. Na análise percebemos que em tor<strong>no</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> estão implica<strong>da</strong>s alg<strong>um</strong>as categorias: o tipo <strong>de</strong> alu<strong>no</strong> que irá ser<br />

incluído; a imagem que a <strong>escola</strong> tem <strong>de</strong>sse alunado; a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apoios para<br />

implementar a <strong>inclusão</strong>.<br />

7.1.1 Incluir quem e on<strong>de</strong>?<br />

Uma <strong>da</strong>s questões que percebemos ao longo <strong>da</strong> pesquisa foi a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

quais alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>veriam ser incluídos na <strong>escola</strong>. Alguns professores ain<strong>da</strong> acham que<br />

<strong>de</strong>terminados alu<strong>no</strong>s não po<strong>de</strong>m estar na <strong>escola</strong> com<strong>um</strong> e que precisaria haver <strong>um</strong>a<br />

espécie <strong>de</strong> triagem.<br />

110<br />

Po<strong>de</strong>ria dizer que ca<strong>da</strong> <strong>caso</strong> é <strong>um</strong> <strong>caso</strong>. Tem <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiência que<br />

<strong>de</strong>ve primeiro ser trabalha<strong>da</strong> na <strong>escola</strong> especial. Por exemplo, <strong>caso</strong>s <strong>de</strong>


Já outra professora <strong>de</strong>clara:<br />

111<br />

autismo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências mais graves, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências que não consegue<br />

controlar as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas (PROFESSORA MARIANA).<br />

Eu ... Eu não concordo. Penso, ca<strong>da</strong> macaco <strong>no</strong> seu galho. Por mais que<br />

não queira, <strong>um</strong>a criança com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem já é<br />

discrimina<strong>da</strong> quanto mais <strong>um</strong>a com <strong>de</strong>ficiência [...] (PROFESSORA IZA). 21<br />

Essas duas falas acabam revelando, por <strong>um</strong> lado, <strong>um</strong>a face <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> que é<br />

marca<strong>da</strong> pela discriminação do outro por ser diferente, como se houvesse <strong>um</strong><br />

padrão, <strong>um</strong> nível <strong>de</strong> alu<strong>no</strong> para freqüentar a <strong>escola</strong>. É bom ressaltar que essa forma<br />

<strong>de</strong> pensar é construí<strong>da</strong> historicamente, pois o diferente sempre foi alijado do<br />

convívio social e seu potencial foi sempre subjulga<strong>da</strong> a sua <strong>de</strong>ficiência.<br />

Carvalho (2005) coloca que o sistema educativo é apoiado n<strong>um</strong>a lógica binária que<br />

separa em lados opostos o que se tem como <strong>de</strong>sejável, como legítimo, como padrão<br />

e os que não se enquadram nessas categorias. É <strong>um</strong>a lógica que se pauta na<br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> e, conseqüentemente, não estamos acost<strong>um</strong>ados a viver, nem a<br />

conviver com as diferenças, ou as concebemos como <strong>um</strong>a “diferença entre” tal como<br />

<strong>no</strong>s ensina Burbules (2003).<br />

Essa forma <strong>de</strong> conceber a diferença se enquadra na perspectiva <strong>de</strong> “diferença entre”<br />

que, conforme Burbules (2003, p. 169), é <strong>um</strong>a tolerância em relação ao outro porque<br />

se compara <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> padrão. Usando a “Gramática <strong>da</strong> diferença”, cria<strong>da</strong> por<br />

esse autor, essa forma <strong>de</strong> incluir alguns alu<strong>no</strong>s e excluir a presença <strong>de</strong> outros com<br />

21 Sabemos que, conforme a <strong>no</strong>rmas <strong>da</strong> ABNT, as citações até três linhas <strong>de</strong>vem ser coloca<strong>da</strong>s <strong>no</strong> corpo do texto.<br />

Entretanto optamos, por <strong>um</strong>a questão estética, por trazer to<strong>da</strong>s as falas usando recuo.


<strong>de</strong>ficiências, que a <strong>escola</strong> julga ser mais difícil conviver, é <strong>um</strong>a “visão <strong>da</strong> diferença<br />

<strong>de</strong> diferença em grau” que concebe n<strong>um</strong>a graduação <strong>de</strong> <strong>um</strong> continu<strong>um</strong> esses alu<strong>no</strong>s<br />

como os últimos <strong>da</strong> fila.<br />

Se as falas <strong>da</strong>s professoras, <strong>de</strong> <strong>um</strong> lado, <strong>no</strong>s mostram <strong>um</strong> processo <strong>de</strong><br />

discriminação, <strong>de</strong> preconceito em relação ao outro, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> suas<br />

potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong> outro, <strong>no</strong>s alertam para a condição <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> que estamos<br />

oferecendo a essas crianças.<br />

Incluir não é apenas colocar <strong>de</strong>ntro do espaço <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, implica <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça<br />

organizacional, <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça pe<strong>da</strong>gógica, <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça atitudinal e <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça<br />

política. A voz <strong>da</strong>s professoras também <strong>de</strong>nunciava isso.<br />

Que espaços educativos estamos oferecendo a <strong>no</strong>ssos alu<strong>no</strong>s? A que práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas eles estão sendo submetidos? Há <strong>um</strong>a valorização do saber que eles<br />

produzem ou sempre são avaliados <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quilo que a <strong>escola</strong> aponta como<br />

legítimo? Será que essa <strong>escola</strong>, do jeito que temos, com seus modos <strong>de</strong> fazer e ser,<br />

consegue trabalhar com a diferença?<br />

Nesses questionamentos, não estamos invali<strong>da</strong>ndo a <strong>escola</strong> como <strong>um</strong> espaço<br />

legítimo para todos apren<strong>de</strong>rem, mas advogando que mu<strong>da</strong>nças são necessárias<br />

para que prevaleça <strong>de</strong> fato <strong>um</strong>a educação inclusiva. Como <strong>no</strong>s alerta Padilha (2004)<br />

isso não é algo simples <strong>de</strong> se fazer.<br />

Àvila (2004, p. 97) abor<strong>da</strong>ndo esse contexto, revela:<br />

112


113<br />

[...] a forma como se organiza o trabalho pe<strong>da</strong>gógico po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisiva,<br />

porquanto po<strong>de</strong>rá ser ela mesma geradora dos insucessos, contribuindo<br />

para ratificar formas <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que colocam alguns<br />

em situações <strong>de</strong> inferiori<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação a outros<br />

E os professores <strong>da</strong> Escola Bansalu sabem disso. Eles falando sobre a <strong>inclusão</strong><br />

colocam<br />

Acho importante, porém ain<strong>da</strong> não me sinto prepara<strong>da</strong> para encarar suas<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s (PROFESSORA IZA).<br />

Depen<strong>de</strong>... as vezes tem alg<strong>um</strong> alu<strong>no</strong> incluído e o professor não esta<br />

preparado ai é difícil, agora se tem preparo é fácil. Eu não estou prepara<strong>da</strong><br />

apesar <strong>de</strong> ter curso. O professor tem que se sentir preparado<br />

(PROFESSORA ÉRICA).<br />

Apesar <strong>da</strong> resistência tem professores que aceitam bem, tem professor que<br />

trabalha porque tem que trabalhar. Aqui na <strong>escola</strong> tem profissionais que<br />

aceitam, mas ain<strong>da</strong> se tem que trabalhar muita coisa (PEDAGOGA<br />

JANETE).<br />

Nesse contexto, po<strong>de</strong>mos perceber que ninguém é contra a <strong>inclusão</strong>, mas há <strong>um</strong><br />

certo receio <strong>de</strong> se trabalhar n<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> educação inclusiva e os<br />

professores apontam a questão do ser preparado como algo fun<strong>da</strong>mental. Ficamos<br />

a pensar: o que é estar preparado? Será que envolve a formação? Será que tem a<br />

ver com experiências anteriores? O que se precisa conhecer para estar preparado,<br />

para incluir? Será que a aquisição <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong>ve ser anterior à experiência<br />

ou durante? Será que <strong>um</strong>a formação dá conta <strong>de</strong> <strong>um</strong>a educação inclusiva?<br />

Essas questões, a <strong>no</strong>sso ver, envolvem o estar preparado. A professora Érica<br />

coloca, em sua fala que isso vai além do curso, que é preciso se sentir prepara<strong>da</strong>. E<br />

estar preparado envolve, entre outras coisas, <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong> conhecimento sobre as<br />

<strong>de</strong>ficiências, sobre mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> práticas pe<strong>da</strong>gógicas, mas também envolve <strong>um</strong>


trabalho sobre questões <strong>de</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> respeito e valorização do outro que é<br />

diferente <strong>de</strong> mim, porque eu também sou diferente <strong>de</strong>le.<br />

A questão <strong>da</strong> formação dos professores é <strong>um</strong> dos pontos que atualmente tem se<br />

presentificado como <strong>de</strong>safio. Para Victor (2006, p.124), “A <strong>inclusão</strong> <strong>da</strong> classe<br />

popular (e <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência) na educação impulsiona-<strong>no</strong>s a pensar <strong>um</strong><br />

<strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escola</strong>, conseqüentemente, <strong>um</strong> <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

professores consoante com essa proposta [...]”.<br />

É preciso pensar nessa formação. Ventorim (2006) a aponta como <strong>um</strong>a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> romper com a forma hegemônica <strong>de</strong> ensinar-apren<strong>de</strong>r e<br />

ressignificar os espaços/tempos <strong>de</strong>stinados a esta formação. É preciso romper com<br />

a visão <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> técnica que apresentam mo<strong>de</strong>los “[...] que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

cursos, com conferências, até tipos <strong>de</strong> treinamentos que visam a aquisição ou o<br />

reforço às competências <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>s. Mo<strong>de</strong>los que partem <strong>de</strong> <strong>um</strong>a lista <strong>da</strong>quilo que<br />

os reformistas pensam faltar para *s professor*s [...]” (LINHARES, 2006, p.26).<br />

Nesse contexto, incluir quem e on<strong>de</strong> perpassa em refletirmos sobre as diferenças<br />

presentifica<strong>da</strong>s <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e olharmos não como alguém que é inferior<br />

ou superior ao outro. Entretanto, para a <strong>inclusão</strong>, não basta somente a mu<strong>da</strong>nça<br />

atitudinal, precisamos implementar <strong>um</strong> outro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>escola</strong> que saiba trabalhar<br />

com a diferença e para isso a formação do professorado é fun<strong>da</strong>mental.<br />

114


7.1.2 O estar na <strong>escola</strong> regular e a afirmação <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

A <strong>inclusão</strong> implica, entre outras questões, o estar na <strong>escola</strong> regular e pertencer<br />

àquele grupo. Os docentes <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Bansalu colocam que incluir é:<br />

115<br />

Oportunizar aos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r junto<br />

com a <strong>escola</strong> regular. Essa <strong>inclusão</strong> não é só para socializar, mas com o<br />

intuito <strong>de</strong> fazer com que eles apren<strong>da</strong>m [...] (PEDAGOGA RENATA).<br />

[...] É todo mundo conseguir respeitar as diferenças e suas<br />

individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. É todo mundo participar do mesmo grupo, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

(PROFESSORA ANDREIA).<br />

Nessas falas, percebemos que a presença <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência remete à idéia<br />

<strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e vai além <strong>da</strong> simples matrícula <strong>no</strong> rol <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong><br />

incluir para socializar. Incluir é possibilitar que eles apren<strong>da</strong>m e que po<strong>de</strong>m participar<br />

do mesmo grupo sem ser discriminados.<br />

Possibilitar é garantir que haverá espaços <strong>no</strong> ambiente <strong>escola</strong>r para troca, para<br />

compartilhamento, para mediação, para que haja experiências <strong>de</strong> aprendizagem e<br />

conseqüentemente, <strong>de</strong>senvolvimento do alu<strong>no</strong>. Ferreira (2005, p.73) coloca que<br />

nessa relação<br />

[...] po<strong>de</strong>mos ressignificar a função <strong>da</strong> <strong>escola</strong> para todos os alu<strong>no</strong>s, como<br />

<strong>um</strong> espaço privilegiado <strong>de</strong> vivência compartilha<strong>da</strong> <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s h<strong>um</strong>anas<br />

[...] que por estarem situa<strong>da</strong>s <strong>no</strong> espaço coletivo <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, <strong>de</strong>vem<br />

favorecer a riqueza <strong>da</strong>s interações sociais, que em função <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

h<strong>um</strong>ana, vão criar formas <strong>de</strong> mediação constituintes dos processos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>escola</strong>r.


Nesse contexto, percebemos que estar junto favorece a todos os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Observando a <strong>escola</strong>, po<strong>de</strong>mos perceber que os próprios alu<strong>no</strong>s também querem se<br />

sentir pertencentes ao grupo. Eles cantam, brincam, <strong>da</strong>nçam, jogam bola junto com<br />

os colegas, sem que seus atos sejam diferenciados por causa <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência,<br />

conforme po<strong>de</strong>mos obsservar <strong>no</strong> texto a seguir extraído do diário <strong>de</strong> campo.<br />

116<br />

Quando a sirene soa os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong> Bansalu já sabem o que<br />

precisam fazer. Caminham em direção ao pátio, fazem a fila por turma,<br />

oram e cantam. Enquanto as crianças cantavam o hi<strong>no</strong> <strong>da</strong> ban<strong>de</strong>ira, dois<br />

alu<strong>no</strong>s se <strong>de</strong>stacavam aos meus olhos. Era o Fernando e o Emanuel que<br />

embora em ritmos diferenciados, acompanhavam o grupo fazendo o que<br />

todos faziam.<br />

O estar na <strong>escola</strong> implica <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>. Sacristán (2005) aponta que a<br />

forma como concebemos o ser alu<strong>no</strong> perpassa pelas <strong>no</strong>ssas próprias experiências e<br />

também pelas concepções abarca<strong>da</strong>s em <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s épocas. Nesse sentido,<br />

existe <strong>um</strong> modo <strong>de</strong> conceber o alu<strong>no</strong>, e este alu<strong>no</strong> também tem <strong>um</strong> referencial a ser<br />

seguido.<br />

Não estamos aqui advogando sobre a homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> e nem sobre mo<strong>de</strong>los rígidos<br />

a serem copiados, mas afirmamos que existem, <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula,<br />

alg<strong>um</strong>as marcas, alg<strong>um</strong>as ações que possibilitam pensar a pessoa do professor e a<br />

pessoa do alu<strong>no</strong>.<br />

É possível intuir que, em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong> categoria alu<strong>no</strong>, formou-se to<strong>da</strong> <strong>um</strong>a<br />

or<strong>de</strong>m social na qual se <strong>de</strong>sempenham <strong>de</strong>terminados papéis e se configura<br />

<strong>um</strong> modo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que <strong>no</strong>s parece muito familiar porque estamos<br />

acost<strong>um</strong>ados a ele. Essa or<strong>de</strong>m propicia e ‘obriga’ os sujeitos nela<br />

envolvidos a serem <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> maneira (SACRISTÁN, 2005, p.<br />

14).


Quando se trata <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência, eles também querem exercer seu papel<br />

<strong>de</strong> sujeito/alu<strong>no</strong> fazendo to<strong>da</strong>s as ações que todos os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> sala também fazem,<br />

querendo do professor a mesma relação nas intervenções <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem,<br />

querendo apren<strong>de</strong>r o que todos apren<strong>de</strong>m, querendo fazer to<strong>da</strong>s as estripulias que<br />

cabem aos alu<strong>no</strong>s. O estar na <strong>escola</strong> marca <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong> e eles querem<br />

e precisam exercer essa função.<br />

Entretanto cabe relembrar que não estamos colocando que a categoria <strong>de</strong> alu<strong>no</strong><br />

seja homogênea, mas afirmando que esses alu<strong>no</strong>s que apresentam alg<strong>um</strong>a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial, por se colocarem na posição <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>, parecem<br />

querer ser vistos e tratados como tal.<br />

Observando a sala <strong>da</strong> 3ª série na qual estava Fernando, relatamos <strong>no</strong> diário <strong>de</strong><br />

campo<br />

117<br />

[...] Assim que cheguei comecei a observá-lo. Vi que, ao mesmo tempo que<br />

eu o olhava olhando a turma, ele também me olhava. Nesses olhares<br />

entrecruzados, pu<strong>de</strong> perceber que tentava ass<strong>um</strong>ir <strong>um</strong>a postura <strong>de</strong> alu<strong>no</strong><br />

imitando os seus colegas: abria o ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, folheava, olhava os movimentos<br />

dos colegas começando a copiar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do quadro. Folheava <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vo o ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> indo até a última página. Fecha. Parece inquieto. Não se<br />

levanta, mas movimenta o lápis indicando sua ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> para começar a<br />

fazer alg<strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, tal como os outros alu<strong>no</strong>s.<br />

Pega seu ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, levanta e mostra-o para a: ‘Tia, aqui meu ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>’.<br />

Parece querer fazer algo. A professora percebe sua ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> e enten<strong>de</strong> a<br />

sua fala dizendo que <strong>de</strong>pois irá trabalhar com ele. Ele pe<strong>de</strong> para ir tomar<br />

água, ela o <strong>de</strong>ixa sair e recomen<strong>da</strong> para que ele não <strong>de</strong>more. [...].<br />

Nessa cena, po<strong>de</strong>mos perceber a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> que sabe que estar na<br />

<strong>escola</strong> implica manusear ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s, escrever, recortar, ler, ou seja, implica realizar e<br />

c<strong>um</strong>prir as tarefas que são passa<strong>da</strong>s pelo professor. E esse papel é claro para


Fernando que vê seus colegas <strong>de</strong> classe se movimentando <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>da</strong> aula e ele<br />

ain<strong>da</strong> esperando a professora fazer a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> para ele.<br />

Embora a professora Iza tivesse sempre <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> para ele fazer, <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

diversifica<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ntro do nível do alu<strong>no</strong>, era <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> diferente <strong>da</strong>s tarefas dos<br />

<strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s. Esse episódio ocorrido <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala é apenas <strong>um</strong> recorte <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

dia, cuja cena parecia se repetir todos os dias, <strong>da</strong>ndo pistas <strong>de</strong> que esses alu<strong>no</strong>s<br />

queriam ser vistos como pertencentes àqueles grupos. Queriam realizar as<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pertinentes, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pensa<strong>da</strong>s para aquele conjunto <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s.<br />

Faziam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sugeri<strong>da</strong>s, mas queriam realizar as outras que os outros<br />

alu<strong>no</strong>s faziam.<br />

Isso <strong>de</strong>ixou claro que estar incluído implica <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> pertença, pois não<br />

basta estar na mesma sala, na mesma <strong>escola</strong>; é preciso ter <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

construí<strong>da</strong> e acolhi<strong>da</strong> por todos.<br />

Acreditamos, assim como Ferreira (2005, p.74), que<br />

118<br />

Tal como na <strong>no</strong>ssa utopia e estabelecido por lei, a mu<strong>da</strong>nça pretendi<strong>da</strong> é a<br />

<strong>de</strong> que aos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência seja garanti<strong>da</strong> <strong>um</strong>a educação <strong>escola</strong>r<br />

que c<strong>um</strong>pra com eles os objetivos gerais e específicos <strong>da</strong> educação<br />

<strong>escola</strong>r. Isto é que se garanta a eles o que está previsto para todos os<br />

alu<strong>no</strong>s, basicamente, a promoção do <strong>de</strong>senvolvimento dos alu<strong>no</strong>s [...]<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>.


7.1.3 A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apoios para implementar <strong>um</strong> trabalho pe<strong>da</strong>gógico<br />

voltado para a <strong>inclusão</strong><br />

Para incluirmos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial, o sistema <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong><br />

precisa implementar apoios. A resolução CNE/CEB nº 2 coloca que esses apoios<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala regular e <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso.<br />

O art. 8º <strong>de</strong>ssa Resolução aponta que os serviços <strong>de</strong> apoio pe<strong>da</strong>gógicos <strong>de</strong>vem ser<br />

oferecidos por <strong>um</strong> profissional especializado, que irá atuar em colaboração com o<br />

professor regente <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s classes comuns. Entretanto esse serviço não po<strong>de</strong> se<br />

constituir como <strong>um</strong>a segregação <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula.<br />

Concor<strong>da</strong>mos com Batista (2004), quando ele adverte, que a “pluridoscência” é <strong>um</strong>a<br />

alternativa possível quando esse encontro serve <strong>de</strong> disparador <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças. Não<br />

adianta acrescentar mais <strong>um</strong> professor na classe para favorecer a <strong>inclusão</strong> dos<br />

alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais se as bases <strong>da</strong> exclusão continuar em a existir.<br />

Quando olhamos, o contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong> Bansalu, percebemos que os alu<strong>no</strong>s que<br />

apresentam alg<strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial contam com <strong>um</strong> professor<br />

especialista <strong>no</strong> tur<strong>no</strong> vesperti<strong>no</strong> que divi<strong>de</strong> seu tempo <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, ora<br />

aten<strong>de</strong>ndo os alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> classe, junto com o professor, e ora aten<strong>de</strong>ndo os<br />

alu<strong>no</strong>s do próprio tur<strong>no</strong> ou os que vêm do tur<strong>no</strong> matuti<strong>no</strong>, utilizando a sala <strong>de</strong><br />

recurso. Os alu<strong>no</strong>s que ela aten<strong>de</strong> são aqueles que apresentam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

acentua<strong>da</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, condutas típicas e <strong>de</strong>ficiência mental. Ela não<br />

119


trabalha com o alu<strong>no</strong> surdo e nem com aquele que apresenta altas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

porque, eles são atendidos por outro profissional.<br />

A professora Mariana, falando do seu trabalho coloca:<br />

120<br />

Na sala <strong>de</strong> recursos, proponho ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para eles escolherem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> planejamento. Eu planejo várias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ixo eles escolherem. Na<br />

sala regular, com o trabalho colaborativo, faço o possível para trabalhar o<br />

que o professor está trabalhando <strong>de</strong>ntro do conteúdo que ele está <strong>da</strong>ndo.<br />

Faço a<strong>da</strong>ptações <strong>de</strong>ntro do conteúdo que ele está <strong>da</strong>ndo, não levo outro<br />

conteúdo e sim o que o professor faz.<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber que há <strong>um</strong>a distinção entre o trabalho na sala <strong>de</strong> recurso e o<br />

trabalho colaborativo e que ambos não se completam. Na sala <strong>de</strong> recurso, a<br />

professora trabalha várias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s volta<strong>da</strong>s para a alfabetização dos alu<strong>no</strong>s, com<br />

base em material lúdico e concreto. Os alu<strong>no</strong>s também têm auto<strong>no</strong>mia para escolher<br />

a or<strong>de</strong>m <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que farão. Observando as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que os alu<strong>no</strong>s fazem<br />

nessa sala, po<strong>de</strong>mos ver claramente a ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> ao processo <strong>de</strong> alfabetização,<br />

que é <strong>um</strong>a frente importante a ser trabalha<strong>da</strong>, porém não há <strong>um</strong>a sistematização<br />

<strong>de</strong>sse trabalho. Já na sala regular, a professora especialista segue o trabalho que a<br />

professora regente <strong>da</strong> classe está <strong>da</strong>ndo, o que muitas vezes, acaba pulverizando<br />

as ações que são feitas em prol do alu<strong>no</strong>, pois, como não há <strong>um</strong> projeto unificado<br />

ele faz várias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e não ac<strong>um</strong>ula conhecimento.<br />

Acreditamos que, para a proposta <strong>de</strong> trabalho colaborativo entre a professora<br />

especialista e a professora <strong>da</strong> sala regular, faz-se necessário <strong>de</strong>marcar alg<strong>um</strong>as<br />

diretrizes. Neri (apud BATISTA, 2004, p. 200) <strong>de</strong>staca alg<strong>um</strong>as ações, que <strong>de</strong>vem<br />

ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s pelos professores na efetivação <strong>de</strong>sse trabalho:


121<br />

[...] evitar a separação entre as ações dos diferentes docentes; a negação<br />

<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> substitutiva, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> intensificar as articulações entre os<br />

pla<strong>no</strong>s coletivo e individual que po<strong>de</strong>m existir em <strong>um</strong>a mesma classe; a<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> coletiva quanto a todos os alu<strong>no</strong>s; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> projetar/planejar; o reconhecimento <strong>da</strong> importância <strong>de</strong><br />

implementação <strong>de</strong> percursos individualizados, os quais são distintos <strong>de</strong><br />

percursos individuais <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

A professora Mariana organiza seu trabalho colaborativo tendo <strong>um</strong> horário fixo para<br />

entrar na classe. Entretanto nem sempre há <strong>um</strong> planejamento em conjunto entre a<br />

professora <strong>da</strong> sala regular e a professora especialista. Essa atitu<strong>de</strong> é justifica<strong>da</strong> pela<br />

falta <strong>de</strong> tempo para se planejar e pela própria resistência que os professores têm em<br />

compartilhar os saberes. Capellini (2004, p. 89) coloca que<br />

[...] <strong>um</strong>a parceria com colaboração efetiva não é muito fácil e nem<br />

rapi<strong>da</strong>mente alcança<strong>da</strong> [...]. É preciso tempo e prática para construir <strong>um</strong>a<br />

relação <strong>de</strong> confiança e <strong>de</strong>senvolver os procedimentos operacionais [...] que<br />

permitam às equipes trabalharem juntas.<br />

A mesma autora, baseando-se em vários pesquisadores que estu<strong>da</strong>m a perspectiva<br />

do ensi<strong>no</strong> colaborativo, discorre que esse po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como<br />

Uma fusão pragmática entre os professores <strong>da</strong> Educação Com<strong>um</strong> e<br />

Especial para ensinar <strong>de</strong> forma colaborativa, ou seja, <strong>um</strong>a estratégia<br />

inclusiva <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>d com reestruturação dos procedimentos <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong><br />

para aju<strong>da</strong>r <strong>no</strong> atendimento a estu<strong>da</strong>ntes com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais em classes comuns, mediante <strong>um</strong> ajuste por parte dos<br />

professores. Neste mo<strong>de</strong>lo, dois ou mais professores possuindo<br />

habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho distintas, juntam-se <strong>de</strong> forma co-ativa e<br />

coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>, para ensinar grupos heterogêneos tanto em questões<br />

acadêmicas quanto questões comportamentais, em cenários inclusivos<br />

(CAPELLINI, 2004, 88).<br />

Percebemos que é fun<strong>da</strong>mental a interação e o compromisso <strong>de</strong> ass<strong>um</strong>ir<br />

coletivamente a proposta <strong>de</strong> trabalho colaborativo. Se não há espaços para<br />

planejamentos, a instituição <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> precisa instituir esses espaçostempos. Se o


professor especialista faz o trabalho colaborativo a<strong>de</strong>ntrando a classe e a<strong>da</strong>ptando,<br />

naquele momento, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o alu<strong>no</strong> com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional<br />

especial, a proposta <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> apoio po<strong>de</strong> ficar distorci<strong>da</strong> e transformar-se n<strong>um</strong>a<br />

divisão <strong>de</strong> trabalho.<br />

122<br />

M. sempre ficava aqui comigo durante as aulas. O trabalho colaborativo<br />

aju<strong>da</strong>, enquanto ela fica com ele, eu posso <strong>da</strong>r <strong>um</strong> apoio maior aos outros<br />

(PROFESSORA ÉRICA).<br />

[...] eu acho que é válido, porém precisa ser aprimorado. Precisamos <strong>de</strong><br />

professores capacitados para apoiar. Talvez, se tivessem estagiários para<br />

apoiar o trabalho, po<strong>de</strong>ria ser melhor. Quando M. está na sala, a<br />

professora <strong>da</strong> classe po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r atenção melhor aos outros alu<strong>no</strong>s<br />

(PEDAGOGA RENATA).<br />

Percebemos, nessas falas, que há a aceitação do trabalho colaborativo, porém este<br />

se constitui n<strong>um</strong>a divisão <strong>de</strong> tarefa entre a professora especialista e a professora <strong>da</strong><br />

sala regular. Essa distorção <strong>da</strong> proposta do trabalho colaborativo não é culpa dos<br />

professores ou <strong>da</strong> <strong>escola</strong> em si, pois não há doc<strong>um</strong>ento que oriente a instituição<br />

sobre as diretrizes <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho colaborativo. Essa é a forma que a professora<br />

especialista conseguiu organizar para oferecer este apoio e que a <strong>escola</strong> acolheu.<br />

Entretanto, se por <strong>um</strong> lado, o Sistema <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> lançou a proposta e não<br />

sistematizou para as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s como <strong>de</strong>veria proce<strong>de</strong>r, como <strong>de</strong>veria ser a<br />

articulação entre o professor especialista e o professor <strong>da</strong> sala regular para que o<br />

trabalho fluísse e não se configurasse como <strong>um</strong> professor exclusivo do alu<strong>no</strong> que<br />

apresenta alg<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> classe, por outro lado, a <strong>escola</strong> também não<br />

procurou enten<strong>de</strong>r o sentido real <strong>da</strong> proposta e nem garantir que esse apoio<br />

pu<strong>de</strong>sse beneficiar a todos <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.


Queremos ressaltar que não estamos advogando que a SEMED trace <strong>um</strong>a proposta<br />

que contemple todos os contextos, pois isso nunca seria possível. Entretanto<br />

acreditamos ser importante que os sistemas <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> tenham orientações sobre as<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse trabalho que é <strong>um</strong> dispositivo importantíssimo para as práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas volta<strong>da</strong>s para a <strong>inclusão</strong>, a fim <strong>de</strong> traçar ações que melhor aproveitem<br />

esse recurso.<br />

É preciso trabalhar nessa sistematização, pois não se po<strong>de</strong> negar que a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> outro profissional seja fun<strong>da</strong>mental para implementar propostas pe<strong>da</strong>gógicas<br />

inclusivas, tal como coloca a pe<strong>da</strong>goga Renata. Precisamos pensar como será esse<br />

apoio. Será que é só disponibilizar o profissional para que ele faça a colaboração?<br />

Será que a <strong>escola</strong> não precisa se organizar para que haja planejamentos em<br />

conjunto do professor especialista, do professor <strong>da</strong> sala regular e do pe<strong>da</strong>gogo?<br />

Quando não há essa organização prévia, táticas são pensa<strong>da</strong>s para tentar<br />

aproveitar melhor essa proposta. É o <strong>caso</strong> do trabalho <strong>de</strong> colaboração entre a<br />

professora Mariana e a professora Iza. Ficou acor<strong>da</strong>do entre as duas que, às<br />

quartas-feiras, seria o dia <strong>de</strong>stinado para a classe <strong>da</strong> 3ª série. Então a professora <strong>da</strong><br />

sala regular se propôs a sempre trabalhar nesse dia a produção <strong>de</strong> texto.<br />

N<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ssas quartas-feiras, pu<strong>de</strong>mos perceber o quanto o apoio <strong>de</strong> <strong>um</strong> outro<br />

profissional po<strong>de</strong> colaborar com os alu<strong>no</strong>s e com os professores <strong>de</strong> modo geral,<br />

conforme registramos <strong>no</strong> diário <strong>de</strong> campo:<br />

123<br />

[...] A temática <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> texto era sobre o Dia dos Namorados.<br />

Quando a professora entregou a folha para os alu<strong>no</strong>s e Fernando pegou a


124<br />

<strong>de</strong>le imediatamente ele veio até nós duas [eu e a professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong><br />

recurso]. Aquele gesto remetia-<strong>no</strong>s a <strong>um</strong>a fala: quem irá me aju<strong>da</strong>r? [...].<br />

A professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso foi com ele até sua mesa. Fiquei <strong>de</strong> longe<br />

observando e observando sua relação com Fernando e seu<br />

comportamento. Ela começou a intervenção, mostrando-lhe o que estava<br />

<strong>no</strong>s balões, e ia travando <strong>um</strong> diálogo com ele. Ele ia colocando suas idéias<br />

sobre a imagem e narrando <strong>um</strong>a história o mais coerente possível. A<br />

medi<strong>da</strong> que ia narrando, registrava com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> professora o que havia<br />

pensado.<br />

Nesta caminha<strong>da</strong> <strong>de</strong> pensar/narrar/registrar, pu<strong>de</strong> perceber que alg<strong>um</strong>as<br />

letras ele dominava outras precisavam ser evoca<strong>da</strong>s para ressurgir na<br />

mente e outras ain<strong>da</strong> precisavam ser aprendi<strong>da</strong>s. Em <strong>um</strong> certo momento<br />

<strong>da</strong> produção <strong>de</strong> texto, a palavra que ele queria escrever era FICOU. Ela<br />

repetia a palavra, repetia, tentava fazê-lo pensar. ‘Ficou começa com quê?’<br />

ele respondia ‘FI’, ‘e fi é <strong>de</strong> qual palavra?’, ‘Filipe’.<br />

Percebi que, durante as intervenções <strong>da</strong> professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recursos,<br />

ela ia aju<strong>da</strong>ndo e escrevia as palavras à medi<strong>da</strong> que ele ia falando sempre<br />

aos poucos, pois ele acabava se per<strong>de</strong>ndo, se tinha muitas coisas para ele<br />

copiar.<br />

A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> tinha duas folhas, quando ele acabou a primeira parte, levantou<br />

os braços e bradou ‘CABOU’, mas a professora que o acompanhava lhe<br />

mostrou que havia outra folha para continuar a história [...].<br />

Nessa relação <strong>da</strong> professora especialista com o alu<strong>no</strong> Fernando, po<strong>de</strong>mos perceber<br />

o quanto é significativo o apoio <strong>de</strong> <strong>um</strong> outro colaborando <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> aquisição<br />

<strong>de</strong> conhecimentos, como <strong>um</strong> interlocutor que faz surgir a palavra e revela o potencial<br />

<strong>da</strong>quele que, aos olhos <strong>de</strong> muitos, era consi<strong>de</strong>rado “incapaz”.<br />

Na troca entre a professora Mariana e o alu<strong>no</strong> com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional<br />

especial, contemplamos que este é capaz <strong>de</strong> articular suas idéias para realizar as<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s propostas e que ele po<strong>de</strong> fazer as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha apoio para<br />

isso.<br />

[...] o fazer com o outro <strong>da</strong> cultura, com a aju<strong>da</strong> [...], o que ocorre nas<br />

situações <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem, possibilita que o sujeito em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, <strong>no</strong> futuro, o faça <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente,<br />

apropriando-se, <strong>de</strong> forma media<strong>da</strong>, dos instr<strong>um</strong>entos técnicos e<br />

psicológicos veiculados, e internalizando os significados e sentidos<br />

possibilitados, expandindo assim, o <strong>de</strong>senvolvimento real do indivíduo, o<br />

que viabiliza possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros processos ensi<strong>no</strong>-aprendizagem<br />

(VYGOTSKY, 1997; DUARTE, 1999, apud FERREIRA, 2005).


7.1.3.1 O apoio para o alu<strong>no</strong> surdo<br />

Além <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência mental, havia, também, <strong>no</strong> tur<strong>no</strong> <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, <strong>um</strong> alu<strong>no</strong><br />

surdo, o Pedro. Vários <strong>estudo</strong>s <strong>de</strong>monstram que a <strong>inclusão</strong> do surdo é complexa,<br />

pois implica a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> sur<strong>da</strong>, <strong>de</strong> compartilhamento <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

língua que irá favorecer o <strong>de</strong>senvolvimento do sujeito, porque é por meio <strong>da</strong><br />

linguagem que significamos o mundo e <strong>no</strong>s constituímos como sujeito.<br />

Soares e Lacer<strong>da</strong> (2004, p.128), pesquisadoras <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> surdos, discorrem:<br />

125<br />

[...] a <strong>escola</strong> parece receber os sujeitos ‘diferentes’ sem fazer qualquer<br />

concessão ou a<strong>da</strong>ptação para sua <strong>inclusão</strong>. Parece haver <strong>um</strong>a crença <strong>de</strong><br />

que essa <strong>inclusão</strong> se <strong>da</strong>rá ‘magicamente’. Cria-se, com isso, <strong>um</strong> paradoxo<br />

entre as propostas <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> e as reais tentativas <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s<br />

em classes regulares. Pela condição lingüística do surdo, é necessário que<br />

a língua <strong>de</strong> sinais esteja presente <strong>no</strong> meio acadêmico.<br />

Essa ausência <strong>da</strong> língua <strong>de</strong> sinais era presente <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> Escola Bansalu. Não<br />

havia na instituição nenh<strong>um</strong> profissional que pu<strong>de</strong>sse conversar com Pedro<br />

respeitando a sua condição <strong>de</strong> usuário <strong>de</strong> LIBRAS. Essa falta foi expressa<strong>da</strong> pela<br />

diretora adjunta Adélia que reivindica a presença <strong>de</strong> <strong>um</strong> intérprete, não apenas para<br />

o Pedro, mas também para o outro alu<strong>no</strong> surdo que estu<strong>da</strong> <strong>no</strong> tur<strong>no</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>.<br />

[...]. Nós temos dois alu<strong>no</strong>s surdos e não tem nenh<strong>um</strong> profissional na<br />

<strong>escola</strong> para li<strong>da</strong>r com eles, infelizmente.<br />

É preciso, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> educação inclusiva, que haja, <strong>no</strong> ambiente<br />

<strong>escola</strong>r, a presença <strong>de</strong> <strong>um</strong> intérprete e que esta seja usa<strong>da</strong>, vivi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro do


cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Soares e Lacer<strong>da</strong> (2004, p. 128), colocam que “[...] a interação<br />

lingüística requer que pessoas do meio usem efetivamente a língua em questão. No<br />

<strong>caso</strong> <strong>da</strong> proposta <strong>de</strong> educação inclusiva, poucas vezes há usuários <strong>da</strong> língua <strong>de</strong><br />

sinais na sala <strong>de</strong> aula regular, salvo o próprio alu<strong>no</strong> surdo”.<br />

Essa situação, acaba causando <strong>um</strong>a resistência, como a <strong>da</strong> professora Iza, que<br />

colocou na sua entrevista o receio que tinha sobre a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> surdo,<br />

exatamente por ela não saber a língua <strong>de</strong> sinais brasileira.<br />

126<br />

Está incluindo [...].Eu sempre fiquei assusta<strong>da</strong> [...] acho que não sou capaz.<br />

Peguei o F. mas, não é <strong>um</strong> <strong>de</strong>ficiente auditivo (PROFESSORA IZA).<br />

Em <strong>um</strong> dos momentos em que estávamos na sala, pu<strong>de</strong>mos vivenciar o quanto a<br />

falta <strong>de</strong> apoio, entendi<strong>da</strong>, como sugerem Lacer<strong>da</strong> e Lodi (2006, p. 46), como “[...]<br />

intérprete <strong>de</strong> LIBRAS responsáveis por propiciar aos alu<strong>no</strong>s surdos condições por<br />

meio <strong>da</strong> LIBRAS, para a aprendizagem; Educadores surdos responsáveis pelo<br />

ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> LIBRAS”, pô<strong>de</strong> dificultar o processo <strong>de</strong> aprendizagem do alu<strong>no</strong> surdo. O<br />

trecho a seguir, do diário <strong>de</strong> campo, assim registra:<br />

O objetivo <strong>da</strong> aula <strong>da</strong>quele dia era trabalhar produção <strong>de</strong> texto. A<br />

professora sentia instiga<strong>da</strong> a fazer o melhor e <strong>da</strong>r a atenção a todos, pois<br />

ela sabia que incluir não era <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado. Embora se esforçasse, a<br />

questão <strong>da</strong> comunicação com o surdo exigia <strong>um</strong>a linguagem diferencia<strong>da</strong>.<br />

Por mais que ela falasse mais articulado e tentasse gesticular, havia <strong>um</strong><br />

ruído na comunicação. Ela não conseguia passar a mensagem nem o<br />

alu<strong>no</strong> conseguia enten<strong>de</strong>r.<br />

Pedi para interpretar o que estava sendo dito e explicar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser<br />

feita. Era <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> texto, na qual já havia <strong>um</strong> início e<br />

os alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>veriam terminá-lo, havia também, como apoio, <strong>um</strong>a imagem<br />

ilustrativa.<br />

Comecei a conversar com ele [Pedro] e disse que iria ajudá-lo. Mostrei o<br />

<strong>de</strong>senho pra ele e perguntei, em língua <strong>de</strong> sinais, o que tinha ali, naquele<br />

<strong>de</strong>senho. Ele me respon<strong>de</strong>u que tinha <strong>um</strong> sol, <strong>um</strong>a lua. Então disse que


127<br />

era para fazer <strong>um</strong>a história. Pedi que ele lesse o que estava escrito. O<br />

texto dizia:<br />

‘O sol vivia solitário il<strong>um</strong>inando a terra. Um dia, ele convidou a lua para ...’<br />

À medi<strong>da</strong> que ele ia lendo as palavras, não consi<strong>de</strong>rava os artigos. Ele<br />

sinalizou [sol]; [terra]; [dia] e [lua]. Voltei a leitura com ele e perguntei <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vo o que estava escrito. Ele, então, foi lendo outra vez e as palavras que<br />

ele não sabia o significado ia fazendo a <strong>da</strong>ctologia. No diálogo, eu<br />

perguntava se ele sabia o que era, qual o significado? Ele sinalizava com a<br />

cabeça e com a expressão do rosto indicando que não sabia. Eu explicava<br />

a palavra e lhe mostrava o sinal correspon<strong>de</strong>nte. Aí, ele sinalizava e<br />

copiava o sinal, como se fosse <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> repetir e memorizar o que<br />

estava apren<strong>de</strong>ndo.<br />

A história foi feita com a intervenção, à medi<strong>da</strong> que ele ia construindo <strong>um</strong>a<br />

frase, eu ia traçando diálogos e questionando o que ele ia me dizendo em<br />

língua <strong>de</strong> sinais. No final, a produção <strong>de</strong> texto acabou ficando assim:<br />

‘O sol vivia solitário il<strong>um</strong>inando a terra.<br />

Um dia ele convidou a lua para ...<br />

Brincar nuvem.<br />

Sol, lua vivia com Deus<br />

Sol lua casado’<br />

Quando ele termi<strong>no</strong>u, foi mostrar à professora tal como os outros alu<strong>no</strong>s.<br />

Ela leu a história e <strong>de</strong>u visto <strong>no</strong> seu ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> [...].<br />

Esse trecho do diário <strong>de</strong> campo mostra duas questões fun<strong>da</strong>mentais, a <strong>no</strong>sso ver,<br />

sobre a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> surdos. Primeiro, <strong>de</strong>monstra a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> do alu<strong>no</strong> e <strong>de</strong>ixa<br />

claro que a falta <strong>de</strong> audição não é impeditivo para que ele apren<strong>da</strong> e, se <strong>de</strong>senvolva,<br />

tal como os outros alu<strong>no</strong>s. Depois <strong>de</strong>ixa claro que<br />

[...] quando se opta pela inserção do surdo na <strong>escola</strong> regular, esta precisa<br />

ser feita com muitos cui<strong>da</strong>dos que visem garantir sua possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

acesso aos conhecimentos que estão sendo trabalhados, além do respeito<br />

por sua condição lingüística e por seu modo peculiar <strong>de</strong> funcionamento<br />

(LACERDA, 2005, 101).<br />

Percebemos que a professora Iza tenta trabalhar com ele, mas lhe falta a língua <strong>de</strong><br />

sinais para se fazer compreendi<strong>da</strong>. Embora Pedro soubesse fazer leitura labial, esta<br />

se faz insuficiente para a aquisição <strong>de</strong> conhecimento. Não estamos julgando a<br />

professora por não saber LIBRAS, mas exaltando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> apoio


qualificado para que a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s surdos possa acontecer <strong>de</strong> forma efetiva<br />

favorecendo o processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem do alu<strong>no</strong> em questão.<br />

Nesse contexto, po<strong>de</strong>mos afirmar que o apoio é extremamente necessário sob pena<br />

<strong>de</strong> alijarmos, <strong>de</strong> negarmos o acesso ao conhecimento. Entretanto cabe ressaltar,<br />

assim como Soares e Lacer<strong>da</strong> (2004, p. 129), que<br />

128<br />

[...] as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos sujeitos surdos não se restringem às questões<br />

lingüísticas, mas abrangem também sua forma visual <strong>de</strong> apreensão do<br />

mundo, implicando a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta curricular e pe<strong>da</strong>gógica<br />

que leve em conta as singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e características <strong>de</strong>ssa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

[...].<br />

O apoio do intérprete é fun<strong>da</strong>mental, mas a <strong>inclusão</strong> do surdo exige, além disso,<br />

<strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça na proposta pegagógica <strong>da</strong> <strong>escola</strong> que passe a incluir recursos<br />

visuais na prática cotidiana ao invés <strong>de</strong> valorizar somente a parte auditiva.<br />

Cabe ressaltar que a restrição <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>escola</strong> não significava que o<br />

município não oferecia nenh<strong>um</strong> serviço para o atendimento dos alu<strong>no</strong>s surdos, mas<br />

que a política <strong>de</strong> atendimento precisava ser repensa<strong>da</strong>. A proposta do município<br />

para os alu<strong>no</strong>s surdos era oferecer suporte em contratur<strong>no</strong>, na sala <strong>de</strong> recurso que<br />

ficava localiza<strong>da</strong> n<strong>um</strong>a outra uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r, e a função <strong>da</strong> professora especialista,<br />

intérprete <strong>de</strong> LIBRAS, era aten<strong>de</strong>r na sala <strong>de</strong> recurso e fazer a itinerância para po<strong>de</strong>r<br />

articular esses dois campos <strong>de</strong> atendimento.<br />

Assim como Góes (2004), acreditamos que a sala <strong>de</strong> recurso em outra uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

dificulta a articulação dos profissionais que li<strong>da</strong>m com o alu<strong>no</strong> em tela. Para que<br />

esse serviço tenha efeito <strong>de</strong> fato e contribua com o processo <strong>de</strong> aprendizagem do


alu<strong>no</strong> surdo, é preciso que haja <strong>um</strong>a interação entre a professora especialista e a<br />

professora <strong>da</strong> sala regular. “Em geral, as atuações complementares <strong>de</strong>ssas salas e<br />

dos professores itinerantes, quando disponíveis, ain<strong>da</strong> constituem <strong>um</strong>a base <strong>de</strong><br />

sustentação insatisfatória para mu<strong>da</strong>nças promissoras do trabalho docente na<br />

classe regular” (GÓES, 2004, p.74).<br />

Em <strong>um</strong> dos momentos <strong>de</strong> conversa entre a professora e a pesquisadora essa falta<br />

<strong>de</strong> interação po<strong>de</strong> ser visível, conforme registramos <strong>no</strong> diário <strong>de</strong> campo.<br />

129<br />

Enquanto as crianças faziam a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> ela chegou perto <strong>de</strong> mim e<br />

aproveitei para questioná-la quanto ao apoio em relação ao alu<strong>no</strong> surdo.<br />

Ela me disse que ele leva os ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s para ela e a professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong><br />

recurso o aju<strong>da</strong>.<br />

Perguntei:<br />

_ Mas você não man<strong>da</strong> na<strong>da</strong>, ou ela não vem aqui para fazer a itinerância?<br />

_ Ela me liga, às vezes.<br />

_ Só ligar não basta. Precisa ser mais sistemático. Seria bom que você<br />

man<strong>da</strong>sse <strong>um</strong> bilhete sobre o que é para ela trabalhar. Por exemplo, ela<br />

sabia que ia ter prova hoje?<br />

_ Não.<br />

_ Se ela soubesse antes, ela po<strong>de</strong>ria ajudá-lo a se preparar. É difícil saber<br />

alguns sinais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a hora para outra. Por exemplo, na prova <strong>de</strong> hoje, tive<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> com os sinais <strong>de</strong> imigrantes, imigração, alemão. São sinais que<br />

quase não se usa <strong>no</strong> dia-a-dia. Se ela souber com antecedência, po<strong>de</strong><br />

preparar a aula melhor. Você não planeja?<br />

_ Sim [respon<strong>de</strong> também com <strong>um</strong> movimento <strong>de</strong> cabeça e sorrindo].<br />

_ Vejo que você é organiza<strong>da</strong>, você planeja suas aulas. Man<strong>de</strong> seu<br />

planejamento para ela.<br />

_ [Sorrindo] Você me <strong>de</strong>u <strong>um</strong>a boa dica.<br />

Nesse trecho, <strong>no</strong>tamos a falta <strong>de</strong> articulação para a política <strong>de</strong> atendimento dos<br />

alu<strong>no</strong>s surdos. Existe o contato, mas este parece vulnerável, pois não é eficaz. É<br />

preciso repensar a política <strong>de</strong> suportes, incluindo as diretrizes necessárias para<br />

agregar sentidos a esse serviço.


O trabalho colaborativo entre a professora especialista e a professora <strong>da</strong> sala<br />

regular precisa ser mais do que <strong>um</strong> acordo <strong>de</strong> atendimento entre as professoras que<br />

aten<strong>de</strong>m os alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial, precisa ir além <strong>de</strong>ssa<br />

celebração <strong>de</strong> cavaleiros. É preciso que haja <strong>um</strong>a estratégia <strong>de</strong> atendimento, bem<br />

planeja<strong>da</strong> e organiza<strong>da</strong>, para que ambos os professores possam incidir na zona<br />

proximal dos alu<strong>no</strong>s. Sendo assim, acreditamos que a <strong>inclusão</strong> implica apoios, sim,<br />

mas implica também reestruturação <strong>de</strong> como esses apoios serão direcionados.<br />

7.2 AS PRÁTICAS AVALIATIVAS NA ESCOLA BANSALU<br />

Quando falamos, ou pensamos em práticas avaliativas <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong>,<br />

sempre <strong>no</strong>s remetemos a provas, trabalhos, exercícios, pesquisas, ou seja, sempre<br />

<strong>no</strong>s voltamos para os instr<strong>um</strong>entos utilizados para se obter informações se o alu<strong>no</strong><br />

apren<strong>de</strong>u ou não.<br />

Na Escola Bansalu não é diferente. Os profissionais, falando sobre como avaliam<br />

seus alu<strong>no</strong>s, apontam<br />

130<br />

[...] Dou aquela provinha... famosa provinha. Dou trabalhos, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na<br />

sala, observo os ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s para ver se eles sabem (PROFESSORA IZA).<br />

[...] prova [<strong>avaliação</strong> escrita], trabalho, pesquisa, participação <strong>no</strong>s projetos.<br />

(PEDAGOGA RENATA).<br />

[...] Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na sala, auto-<strong>avaliação</strong>, a <strong>da</strong>na<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> ‘prova’.<br />

(PROFESSORA ANDRÉA).


Percebe-se, assim, que embora haja outros instr<strong>um</strong>entos, é a prova que sintetiza o<br />

sistema avaliativo. O uso <strong>da</strong> prova escrita como forma <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> é fruto <strong>da</strong><br />

organização <strong>da</strong> <strong>escola</strong> mo<strong>de</strong>rna e “[...] sua forma escrita está liga<strong>da</strong> à idéia <strong>de</strong><br />

credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública, transparência e rigor” (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 19). Por isso<br />

é que a prova se constitui <strong>no</strong> principal instr<strong>um</strong>ento avaliativo.<br />

Segundo Cury (1989, apud BERTAGNA, 2002, p. 235), “[...] a prova e o exame são<br />

a medi<strong>da</strong> pon<strong>de</strong>rável do aprendizado e o doc<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> que na <strong>escola</strong> se faz<br />

alg<strong>um</strong>a coisa”. É o resultado do que o alu<strong>no</strong> e a aluna tiram na prova que serve <strong>de</strong><br />

parâmetro para saber se <strong>de</strong>terminado alu<strong>no</strong> tem ou não condições <strong>de</strong> ser aprovado.<br />

É o valor <strong>da</strong> prova que legitima, que julga, que classifica e separa os alu<strong>no</strong>s em<br />

bons e maus alu<strong>no</strong>s.<br />

Quando os professores avaliam, seja por prova, seja por outro instr<strong>um</strong>ento, é <strong>da</strong><strong>da</strong> à<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>um</strong> valor. Esta valorização é fruto do sistema avaliativo do município que<br />

preconiza <strong>no</strong> Regimento Com<strong>um</strong> <strong>da</strong>s Escolas que a forma <strong>de</strong> avaliar <strong>de</strong>ve ser<br />

somatória, na qual os professores distribuem pontos nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que os alu<strong>no</strong>s<br />

fazem. As pe<strong>da</strong>gogas expõem esses critérios em <strong>um</strong>a <strong>de</strong> suas falas:<br />

131<br />

[...] o sistema <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> é por <strong>no</strong>tas <strong>de</strong> 0 a 20, <strong>no</strong>s dois primeiros<br />

bimestres e 30 <strong>no</strong> segundo semestre. Em relação aos instr<strong>um</strong>entos [...] as<br />

professoras diversificam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sem o caráter <strong>de</strong> prova, mas tem<br />

também a sistematização <strong>da</strong> prova. No final do bimestre acaba tendo as<br />

provas escritas. Mesmo sem ter institucionalizado a ‘semana <strong>de</strong> prova’<br />

alg<strong>um</strong>as provas acabam sendo <strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>no</strong> final (PEDAGOGA JANETE).<br />

Observa-se que a distribuição <strong>de</strong> pontos não é igualitária entre todos os bimestres e<br />

que, apesar <strong>de</strong> não se restringir ao instr<strong>um</strong>ento avaliativo – prova – é esta que é o


“carro-chave” do sistema <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, tanto que foi se instituindo <strong>no</strong> final <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

bimestre, a intitula<strong>da</strong> semana <strong>de</strong> prova.<br />

A pe<strong>da</strong>goga Renata aponta alg<strong>um</strong>as orientações sobre esse tipo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>,<br />

usando a prova como o principal instr<strong>um</strong>ento:<br />

132<br />

Valorizar o qualitativo ao invés do quantitativo, priorizar <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s<br />

avaliações escritas os conteúdos mais necessários que são importantes<br />

naquela disciplina e também o tipo <strong>de</strong> prova. A gente orienta sempre para<br />

que tenha na prova questões objetivas e subjetivas, <strong>da</strong>r sempre as duas<br />

coisas e distribuir os pontos. Para trabalhos individuais e grupos<br />

geralmente <strong>de</strong> 30% a 40% do valor dos pontos do semestre.<br />

Na análise, ela aponta: a supremacia do quantitativo sob o qualitativo, tal como<br />

colocado <strong>no</strong> art. 24 <strong>da</strong> Lei nº 9.394/96; a seleção <strong>da</strong>quilo que é primordial para<br />

aquela disciplina; a elaboração do instr<strong>um</strong>ento com questões objetivas e subjetivas;<br />

a distribuição <strong>de</strong> pontos nas questões; e <strong>um</strong>a atribuição significativa <strong>da</strong> prova<br />

equivalendo <strong>um</strong> percentual <strong>de</strong> 60% a 70% do total <strong>de</strong> pontos <strong>da</strong>quele bimestre.<br />

Percebemos aqui <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> olhar a prova como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento capaz <strong>de</strong><br />

apreen<strong>de</strong>r o conhecimento do alu<strong>no</strong> e por isso precisa ter o maior peso. Nessa<br />

prática, <strong>no</strong>tamos que os resultados po<strong>de</strong>m ser mais importantes do que o processo<br />

<strong>de</strong> aprendizagem. É <strong>um</strong>a concepção liga<strong>da</strong> à perspectiva metafísica que acredita<br />

que o conhecimento é parado e que, por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento avaliativo, o alu<strong>no</strong><br />

consegue esboçar aquilo que sabe.<br />

A prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, seguindo essa lógica <strong>de</strong> buscar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, por meio dos<br />

instr<strong>um</strong>entos, acaba por separar os que sabem <strong>da</strong>queles que não sabem. Separa


em pólos dicotômicos saber e não saber, como se fossem opostos. Nesse ínterim,<br />

Esteban (2001, p. 180) coloca que “[...] saber e não saber são interpretados como<br />

opostos e exclu<strong>de</strong>ntes, sendo o não saber marcado por <strong>um</strong> valor negativo”.<br />

Dessa forma, a <strong>avaliação</strong> é emprega<strong>da</strong> como se fosse algo estático e como se to<strong>da</strong><br />

a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> que a envolve não fosse percebi<strong>da</strong> e muito me<strong>no</strong>s contabiliza<strong>da</strong><br />

quando há julgamento, quando há emissão <strong>de</strong> valores.<br />

Nesse contexto, a <strong>avaliação</strong> é vista, na ótica do concebido, como <strong>um</strong>a ferramenta<br />

que<br />

133<br />

[...] reduz a riqueza e complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos processos <strong>de</strong> aprendizagem e<br />

ensi<strong>no</strong>, <strong>da</strong>s relações sociais nas quais as relações pe<strong>da</strong>gógicas se<br />

constituem e dos sujeitos que apren<strong>de</strong>m e que ensinam, como a<br />

materialização <strong>da</strong> concepção positivista <strong>de</strong> conhecimento (ESTEBAN,<br />

2003, p. 16).<br />

Então o que é avaliar? Para os profissionais <strong>da</strong> Escola Bansalu, avaliar significava<br />

diag<strong>no</strong>sticar, perceber o que a criança já apren<strong>de</strong>u em relação àquilo que foi<br />

ensinado. Sobre <strong>avaliação</strong>, os professores colocaram:<br />

[...] avaliar é você po<strong>de</strong>r diag<strong>no</strong>sticar como aquela criança está naquele<br />

<strong>de</strong>terminado momento. O que ela apren<strong>de</strong>u e o que não apren<strong>de</strong>u<br />

(PROFESSORA ÉRICA).<br />

[...] é ver o nível que a criança está, observar se ela está alcançando os<br />

objetivos traçados e perceber aquilo que se po<strong>de</strong> estar trabalhando e indo<br />

além (PROFESSORA MARIANA).<br />

Avaliar seria diag<strong>no</strong>sticar para ver o que ele sabe e o que teria que<br />

apren<strong>de</strong>r para a partir <strong>da</strong>í preparar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e dá continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao trabalho<br />

(PROFESSORA IZA).<br />

O que é avaliar... vamos pensar... Avaliação... bicho <strong>de</strong> sete cabeças... é<br />

<strong>um</strong> processo que você vai percebendo o grau <strong>de</strong> conhecimento, <strong>de</strong><br />

entendimento <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quilo que foi ensinado (PROFESSORA ANDRÉA)


Po<strong>de</strong>mos perceber que as falas remetem, por <strong>um</strong> lado, a <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> cuja função<br />

é diag<strong>no</strong>sticar e verificar o que o alu<strong>no</strong> já apren<strong>de</strong>u. Essa forma <strong>de</strong> avaliar, segundo<br />

Sacristán e Gómez (2001), é <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> pós-ativa que i<strong>de</strong>ntifica o que o alu<strong>no</strong> já<br />

sabe e o que ele, supostamente, não sabe <strong>da</strong>quilo que o professor ensi<strong>no</strong>u. Mas,<br />

por outro lado, na fala <strong>da</strong>s professoras, também percebemos <strong>um</strong>a preocupação com<br />

a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo ensi<strong>no</strong>aprendizagem, na qual aparece <strong>um</strong>a função do<br />

ato <strong>de</strong> avaliar para mobilizar futuras ações.<br />

Entretanto não po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s iludir achando que avaliar é algo simples <strong>de</strong> se fazer.<br />

Pelo contrário, é algo complexo que os professores, em seu cotidia<strong>no</strong>, acabam<br />

fazendo <strong>de</strong> modo solitário.<br />

Oliveira e Pacheco (2003, p. 127) colocam que<br />

134<br />

[...] há que se registrar a falta <strong>de</strong> espaço, na maioria <strong>da</strong>s instituições<br />

educacionais, para discussões comprometi<strong>da</strong>s com a melhoria dos<br />

instr<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>. Não há <strong>um</strong>a política sistemática <strong>de</strong> se buscar<br />

investir na criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos professores e professoras para encontrar outras<br />

alternativas.<br />

Na Escola Bansalu, não observamos, em nenh<strong>um</strong> momento, a instituição <strong>de</strong>sse<br />

espaço. O que vimos eram momentos fortuitos <strong>de</strong> <strong>um</strong> professor que dialogava com<br />

outro ou que dialogava com os pe<strong>da</strong>gogos na tentativa <strong>de</strong> solucionar alguns <strong>caso</strong>s<br />

isolados que atrapalhavam o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula. Apesar <strong>de</strong> a <strong>escola</strong> ter a<br />

previsão <strong>de</strong> planejamentos, esses, <strong>de</strong>vido ao atraso do a<strong>no</strong> letivo, foram reduzidos<br />

passando a ser quinzenalmente, com duração <strong>de</strong> duas horas, e acabavam sendo<br />

restritos a planejamento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e alguns informes. A questão <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong><br />

não era coloca<strong>da</strong> em pauta e muitos professores, durante a entrevista, se


essentiram <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> que eles tinham <strong>de</strong> avaliar, colocando aquilo que era mais<br />

complicado.<br />

135<br />

É saber se a <strong>avaliação</strong> está sendo justa. Se estou realmente pedindo o que<br />

ele po<strong>de</strong> me <strong>da</strong>r. [...] você avalia para saber se o alu<strong>no</strong> apren<strong>de</strong>u ou não,<br />

às vezes cobrar na <strong>avaliação</strong> aquilo que não foi ensinado, isso não é justo<br />

(PROFESSORA ANDRÉIA).<br />

É... <strong>da</strong>r assistência na hora <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> <strong>de</strong> forma específica e como<br />

avaliar, pontuar as questões. É preciso valorizar o qualitativo. Tem que ser<br />

levado em conta o estado emocional. É difícil marcar o dia <strong>de</strong> prova, pois a<br />

<strong>avaliação</strong> é diária. É preciso ver caminhos, atitu<strong>de</strong>s que eles tomam. Isso é<br />

difícil... é preciso perceber que ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong> é diferente[...] (PEDAGOGA<br />

RENATA).<br />

Nessas duas falas, po<strong>de</strong>mos perceber, em aspectos diferenciados, questões que<br />

são pertinentes à <strong>avaliação</strong> que envolvem, como, quando e quem é avaliado.<br />

Percebemos que, embora elas continuem falando do instr<strong>um</strong>ento avaliativo<br />

<strong>de</strong><strong>no</strong>minado prova, há <strong>um</strong>a preocupação <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> em relação à complexi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do alunado que se tem na sala. Alu<strong>no</strong>s que, como já sabemos, tem níveis <strong>de</strong><br />

aprendizagem diferenciados e também aqueles que apresentam <strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

educacional especial por <strong>de</strong>ficiência.<br />

Como <strong>da</strong>r a mesma prova, se esses alu<strong>no</strong>s não fazem as mesmas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que os<br />

outros colegas <strong>da</strong> classe? Será que é justo <strong>da</strong>r <strong>um</strong>a prova <strong>no</strong> nível <strong>de</strong>les? Será que<br />

é necessário fazer alg<strong>um</strong>a a<strong>da</strong>ptação? Se <strong>de</strong>rem a mesma prova, o que significa a<br />

<strong>no</strong>ta que eles tirarem?<br />

Mesmo sem ter <strong>um</strong> espaço para discussão sobre questões que envolvem a temática<br />

<strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>, percebemos que ter alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência faz a <strong>escola</strong> pensar e agir<br />

com práticas avaliativas diferencia<strong>da</strong>s que se diferenciam conforme os tipos <strong>de</strong>


<strong>de</strong>ficiência. Para alguns, é necessário <strong>um</strong>a redução <strong>de</strong> questões; para outros, <strong>um</strong>a<br />

<strong>avaliação</strong> oral; para outros, <strong>um</strong> suporte em LIBRAS; para outros, mais tempo; e,<br />

para outros, a <strong>avaliação</strong> não é realiza<strong>da</strong> por provas e nem tem <strong>no</strong>tas, é por meio do<br />

relatório:<br />

136<br />

A orientação é sobre o tipo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> principalmente na redução do nº<br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois a prova não precisa ter a mesma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> que os<br />

<strong>de</strong>mais. No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Pedro (que é surdo), é a professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso<br />

que faz. Fernando não dá conta <strong>de</strong> fazer a prova escrita, pedimos, então,<br />

para valorizar o oral, pois, na expressão oral, o alu<strong>no</strong> po<strong>de</strong> mostrar que<br />

enten<strong>de</strong>u o assunto (PEDAGOGA RENATA).<br />

Não. Eu dou a mesma <strong>avaliação</strong>. Só o tempo que é maior. Às vezes nem é<br />

necessário ter <strong>um</strong> tempo maior, às vezes é preciso (PROFESSORA<br />

ERICA).<br />

A <strong>avaliação</strong> é ain<strong>da</strong> <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os alu<strong>no</strong>s que não têm<br />

<strong>de</strong>ficiência passam pela mesma <strong>avaliação</strong> que os outros. Existem alu<strong>no</strong>s<br />

que não têm <strong>um</strong> <strong>de</strong>sempenho igual, eles fazem a mesma <strong>avaliação</strong>, os<br />

<strong>de</strong>mais vão por relatórios. [...] (PEDAGOGA JANETE).<br />

Percebemos, nessas falas, <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> diferencia<strong>da</strong> em frente à prática avaliativa<br />

dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais, em relação aos alu<strong>no</strong>s<br />

consi<strong>de</strong>rados sem nenh<strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>. As orientações diferem conforme o tipo<br />

<strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a redução <strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> ou variação do tempo até a<br />

realização <strong>da</strong> prova em outro contexto, como é o <strong>caso</strong> do alu<strong>no</strong> Pedro que é surdo ─<br />

quem aplica a sua prova é a professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso localiza<strong>da</strong> em outra<br />

<strong>escola</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> tem, nessa diferenciação, <strong>um</strong>a distinção entre os alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

educacional especial sem e com <strong>de</strong>ficiência. Para o primeiro, muitas vezes a<br />

alternativa é a variação do tempo <strong>de</strong> conclusão <strong>da</strong> prova ou o auxílio <strong>da</strong> professora<br />

especialista que, <strong>no</strong> trabalho colaborativo, aju<strong>da</strong> <strong>no</strong> momento <strong>da</strong> prova fazendo <strong>um</strong>a


intervenção com esses alu<strong>no</strong>s; já para o segundo, eles não são obrigados a fazer a<br />

prova e não são avaliados por <strong>no</strong>tas. Para eles, é sugerido o uso <strong>de</strong> relatório.<br />

Certo dia, na sala <strong>da</strong> 3ª série, pu<strong>de</strong>mos observar, enquanto a professora Iza<br />

entregava as provas, a reação dos alu<strong>no</strong>s quando viam as <strong>no</strong>tas. Eles comparavam<br />

<strong>um</strong> com o outro os resultados obtidos. Pedro e Fernando também receberam os<br />

instr<strong>um</strong>entos avaliativos. Pedro, assim que pegou, veio correndo me mostrar seu<br />

<strong>de</strong>sempenho na prova; Fernando também pegou sua <strong>avaliação</strong> e veio até a mim.<br />

137<br />

Neste dia a professora entregou as provas. Na <strong>de</strong> Português, Pedro ficou<br />

com <strong>no</strong>ta máxima. Ele me disse que fez sozinho, olhando o livro. O<br />

conteúdo <strong>da</strong> prova era leitura, interpretação, encontro vocálico e letra<br />

maiúscula. Em Geografia e História, também tirou <strong>no</strong>ta boa. Observei o<br />

diário <strong>de</strong> classe e vi que as <strong>no</strong>tas <strong>de</strong>le era n<strong>um</strong> nível bom, com <strong>no</strong>tas<br />

muitas vezes melhores que os <strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s.<br />

Disciplina 1º Bim. 2º Bim.<br />

Ciências 13,0 18,5<br />

Matemática 15,5 14,5<br />

Educação Artística 20,0 18,5<br />

Língua Portuguesa 14,0 18,0<br />

História 15,0 19,5<br />

Geografia 17,5 20,0<br />

Fernando também veio me mostrar sua prova, porém esta só tinha o visto<br />

<strong>da</strong> professora. Não havia impressões digitais, traços <strong>de</strong> escrita que<br />

<strong>de</strong>marcassem sinais do seu processo <strong>de</strong> aprendizagem. Era simplesmente<br />

<strong>um</strong> prêmio <strong>de</strong> consolação, <strong>um</strong>a prova do tipo ‘café com leite’, para fingir<br />

que fez. Mas ele sabia que aquele papel não significava na<strong>da</strong>. Tanto que,<br />

assim que eu a olhei, ele simplesmente guardou na bolsa (TRECHO DO<br />

DIÁRIO DE CAMPO).<br />

Conversei com a professora sobre a prova <strong>de</strong> Fernando e ela me disse que ele<br />

sempre quer fazer a prova, por isso, para não discriminar, ela dá a <strong>avaliação</strong> a ele.<br />

Entretanto parece que Fernando sabe que existe <strong>um</strong>a diferenciação <strong>de</strong>sse ato entre<br />

ele e os outros. Para os outros, quem sabe, indica a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>; para ele, marca<br />

a diferença, porque, na dos outros, tem marca, tem sinais; na <strong>de</strong>le somente <strong>um</strong><br />

visto, <strong>um</strong> silêncio. Um silêncio que se prolonga <strong>no</strong> espaço em branco dos diários.


O que significam <strong>de</strong> fato essas mu<strong>da</strong>nças? Será que a <strong>escola</strong> resolveu mu<strong>da</strong>r as<br />

práticas por respeitar o processo <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong>? Ou será que as<br />

mu<strong>da</strong>nças têm a ver com o sujeito avaliado que é consi<strong>de</strong>rado <strong>um</strong> estu<strong>da</strong>nte fora do<br />

padrão?<br />

Não estamos advogando que a <strong>avaliação</strong> tenha que ser a mesma, mas sim tentando<br />

refletir sobre os princípios que possibilitaram a mu<strong>da</strong>nça. Na fala <strong>da</strong> vice-diretora,<br />

Adélia, <strong>um</strong> dos possíveis motivos é esclarecido.<br />

138<br />

Esse alu<strong>no</strong> é amparado por lei. A retenção <strong>de</strong>sse alu<strong>no</strong> na série, mais <strong>um</strong>a<br />

vez gera <strong>de</strong>smotivação e baixa auto-estima. É pon<strong>de</strong>rado o seu qualitativo,<br />

a sua evolução, em relação a si próprio (VICE-DIRETORA ADÉLIA).<br />

Percebe-se aqui que a opção por fazer <strong>um</strong> registro tem a ver com <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong><br />

informal na qual há <strong>um</strong> i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> que os alu<strong>no</strong>s que apresentam alg<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência<br />

são amparados por lei e, por conta <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>ficiência, não po<strong>de</strong>m ficar reprovados.<br />

Nessa fala, também, po<strong>de</strong>mos refletir na seguinte questão: se o sistema avaliativo<br />

<strong>da</strong> <strong>escola</strong> é por <strong>no</strong>ta e o principal instr<strong>um</strong>ento é a prova cujos resultados são<br />

consi<strong>de</strong>rados a representação <strong>da</strong> aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s por intermédio <strong>da</strong><br />

professora, como avaliar a aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência, se esses não<br />

fazem a prova? Que imagem esses alu<strong>no</strong>s passam para o contexto <strong>da</strong> classe,<br />

quando são alijados <strong>de</strong>ssa prática? Qual a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> com a<br />

aprendizagem <strong>de</strong>sse alu<strong>no</strong> se ele passa por lei?<br />

Antes <strong>de</strong> continuarmos <strong>no</strong>ssa análise, queremos pontuar que não há <strong>um</strong>a Lei nem<br />

<strong>no</strong> âmbito nacional nem <strong>no</strong> âmbito municipal que contemple a promoção automática<br />

dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial. O que ocorre é o entendimento


errôneo <strong>da</strong>s legislações (Lei nº 9.394/96, em seu art. 24, e as Diretrizes Nacionais<br />

Para a Educação Especial na Educação Básica, alínea 8, do art. 8º) que apontam<br />

alg<strong>um</strong>as orientações quanto à perspectiva <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>.<br />

Essa falta <strong>de</strong> esclarecimento acaba fragilizando todo o processo pe<strong>da</strong>gógico <strong>de</strong>sses<br />

alu<strong>no</strong>s e como afirma Caeta<strong>no</strong> (2002, p. 151):<br />

139<br />

Os alu<strong>no</strong>s correm o risco <strong>de</strong> continuar avançando sem receber <strong>um</strong> ensi<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não estamos <strong>no</strong>s pren<strong>de</strong>ndo aqui ao fato <strong>de</strong> o alu<strong>no</strong> avançar<br />

ou não e sim ao fato <strong>de</strong> avançar sem nenh<strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> real, ou<br />

seja, on<strong>de</strong> haja quali<strong>da</strong><strong>de</strong> naquilo que se ensina e se apren<strong>de</strong>.<br />

7.2.1 O uso do relatório como <strong>um</strong>a prática avaliativa dos alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial<br />

Como já colocamos, <strong>no</strong> tópico anterior, os alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais<br />

especiais recebem <strong>um</strong>a prática avaliativa diferencia<strong>da</strong> dos <strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s. Aqueles<br />

que apresentam <strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> por <strong>de</strong>ficiência que a <strong>escola</strong> julga ter <strong>um</strong>a séria<br />

limitação para apren<strong>de</strong>r não fazem a prova e nem outra ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> avaliativa. A<br />

prática em relação a eles é o uso do relatório.<br />

Os alu<strong>no</strong>s que não são <strong>no</strong>rmais, eles não fazem essa <strong>avaliação</strong>. A<br />

<strong>avaliação</strong> <strong>de</strong>les é por meio <strong>de</strong> relatório. As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na sala, quando a<br />

especialista está, fazem a a<strong>da</strong>ptação. Alguns professores já conseguem<br />

a<strong>da</strong>ptar e <strong>da</strong>r a assistência individual aos alu<strong>no</strong>s.<br />

Na <strong>avaliação</strong> dos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência, o registro é feito pela professora<br />

<strong>da</strong> sala junto com a professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recursos e elas mostram ao<br />

pe<strong>da</strong>gogo. Os registros ficam arquivados, eles são feitos <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong><br />

(PEDAGOGA JANETE).


140<br />

Em relação ao registro o Pedro tem <strong>no</strong>ta. Os <strong>de</strong>mais não registramos <strong>no</strong>ta.<br />

Tem <strong>um</strong> registro à parte. No final do a<strong>no</strong>, a gente faz <strong>um</strong> relatório e, <strong>no</strong><br />

diário, coloca o amparo legal para avançar <strong>um</strong> alu<strong>no</strong>. A professora Mariana<br />

faz o relatório <strong>de</strong> atendimento na sala <strong>de</strong> recurso, aí a gente junta e produz<br />

<strong>um</strong> relatório unificado (PEDAGOGA RENATA).<br />

A diferenciação entre os alu<strong>no</strong>s com e sem <strong>de</strong>ficiência e entre os próprios alu<strong>no</strong>s<br />

com <strong>de</strong>ficiência parte <strong>de</strong> <strong>um</strong> princípio <strong>de</strong> que há <strong>um</strong>a homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>um</strong> padrão<br />

<strong>de</strong> aprendizagem a ser segui<strong>da</strong>. É <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> tal como aponta Beyer (2005),<br />

basea<strong>da</strong> <strong>no</strong>s paradigmas clínico-médicos e sistêmicos, pois a diferenciação, <strong>no</strong><br />

primeiro <strong>caso</strong>, parte <strong>de</strong> critério <strong>de</strong> o estu<strong>da</strong>nte ter ou não <strong>de</strong>ficiência. Se tem, há<br />

<strong>um</strong>a representação sobre esse sujeito, como alguém que tem limitações. No<br />

segundo, a diferenciação <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> é por inventar <strong>um</strong> padrão <strong>de</strong> turma e aqueles<br />

que não acompanham precisam <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptações, <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças para continuar<br />

seguindo.<br />

Percebemos, na fala <strong>da</strong>s pe<strong>da</strong>gogas, claramente, essa diferenciação. O alu<strong>no</strong><br />

Pedro, que é <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> surdo, faz a prova e tem <strong>no</strong>ta, porém ele não a faz na <strong>escola</strong><br />

como os <strong>de</strong>mais. Ele faz a prova com a professora especialista em surdos que a<br />

interpreta em LIBRAS para ele. Já o alu<strong>no</strong> Emanuel e o Fernando, eles são<br />

avaliados por relatório. Esse relatório é feito pela professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso e<br />

endossado pela professora <strong>da</strong> sala regular, geralmente <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong> letivo.<br />

Observei, <strong>no</strong> primeiro dia <strong>de</strong> aula e final do a<strong>no</strong> letivo <strong>de</strong> 2005, o Conselho<br />

<strong>de</strong> Classe <strong>da</strong>quele a<strong>no</strong>. As professoras preenchiam diários e a pe<strong>da</strong>goga ia<br />

conferindo dias letivos e <strong>da</strong>ndo orientações burocráticas <strong>de</strong> como<br />

preenchê-lo, pois o final do a<strong>no</strong> letivo estava totalmente atrasado por causa<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a greve naquele a<strong>no</strong>. Senti a falta <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as discussões, sobre o<br />

<strong>de</strong>sempenho dos alu<strong>no</strong>s, sobre o porquê <strong>de</strong>terminados alu<strong>no</strong>s iriam passar<br />

<strong>de</strong> a<strong>no</strong>. Enfim, reflexões comuns em qualquer Conselho.<br />

Vendo o movimento individual/coletivo (porque, embora juntos, ca<strong>da</strong> <strong>um</strong><br />

trabalhava individualmente) dos professores, percebi que a professora <strong>da</strong><br />

3º série aguar<strong>da</strong>va orientação sobre <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> [Emanuel] que tinha


141<br />

<strong>de</strong>ficiência mental e que não podia ficar retido naquela série. A pe<strong>da</strong>goga<br />

dizia que tinha fazer relatório e era para esperar a professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong><br />

recurso para fazerem juntas. ‘M. precisa fazer o relatório’ [falou a pe<strong>da</strong>goga<br />

quando avistou a professora especialista]. A pe<strong>da</strong>goga pediu para que eu<br />

aju<strong>da</strong>sse a colocar a legislação que garantia a aprovação para a 4ª série.<br />

Disse que não havia <strong>um</strong>a legislação específica, mas que a LDB, <strong>no</strong> art. 24,<br />

<strong>da</strong>va legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> para tal condição. A professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recursos foi<br />

fazer junta/sozinha o doc<strong>um</strong>ento. As duas fizeram alg<strong>um</strong>as<br />

a<strong>no</strong>tações/rascunhos e a professora especialista termi<strong>no</strong>u sozinha o<br />

doc<strong>um</strong>ento final.<br />

Percebi que os alu<strong>no</strong>s que tinham alg<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência, uns eram avaliados<br />

e continham <strong>no</strong>tas <strong>no</strong> diário e já outros eram avaliados somente pelos<br />

relatórios. Eram avaliados somente <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong>, quando a professora <strong>da</strong><br />

sala <strong>de</strong> recursos, junto com a professora <strong>da</strong> sala regular faziam o relatório<br />

final/inicial (porque esse relatório era o primeiro e o último). Este alu<strong>no</strong> em<br />

questão tinha sido avaliado, porém suas <strong>no</strong>tas eram baixíssimas e<br />

necessitavam <strong>de</strong> <strong>um</strong> relatório para anular suas <strong>no</strong>tas e aprová-lo como <strong>um</strong><br />

alu<strong>no</strong> com <strong>de</strong>ficiência (TRECHO DO DIÁRIO DE CAMPO).<br />

Percebemos que o relatório é <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento que <strong>de</strong>veria apontar o processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem dos alu<strong>no</strong>s. Entretanto este só é feito <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong> letivo. Como<br />

po<strong>de</strong>mos acompanhar a aprendizagem, o percurso, se só sistematizamos <strong>no</strong> final do<br />

a<strong>no</strong>? Para que serve esse relatório? Qual a relação <strong>de</strong>le com <strong>um</strong>a prática avaliativa<br />

que <strong>de</strong>veria estar atrela<strong>da</strong> à parte pe<strong>da</strong>gógica?<br />

Mén<strong>de</strong>z (2002, p. 17) aponta que<br />

[...] avaliar somente <strong>no</strong> final, ou por uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo ou <strong>de</strong> conteúdo, é<br />

chegar tar<strong>de</strong> para garantir a aprendizagem contínua e oportuna. Neste<br />

<strong>caso</strong> e neste uso, a <strong>avaliação</strong> só chega a tempo para qualificar, condição<br />

para a classificação, que é o passo prévio para a seleção e para a exclusão<br />

racional.<br />

Conseguimos, com a especialista, o relatório feito por ela, do a<strong>no</strong> letivo <strong>de</strong> 2005, dos<br />

alu<strong>no</strong>s Fernando e Emanuel.


Relatório sobre o alu<strong>no</strong> Fernado – maio/2006.<br />

142<br />

O alu<strong>no</strong> apresenta DM e hiperativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Segundo a professora Marilândia<br />

[professora especialista <strong>da</strong> outra <strong>escola</strong>], ele conhecia vogais e alg<strong>um</strong>as<br />

letras. Quando comecei o atendimento ele havia esquecido letras e<br />

n<strong>um</strong>erais fazendo o seu <strong>no</strong>me nem sempre correto.<br />

Relembrou letras, conhece quase to<strong>da</strong>s quando está concentrado, muitas<br />

<strong>de</strong>las relaciona<strong>da</strong>s a <strong>no</strong>mes significativos. Tem momentos <strong>de</strong> total<br />

esquecimento.<br />

Desenvolveu muito a psicomotroci<strong>da</strong><strong>de</strong>, fala (comunicação oral e<br />

expressão <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s em geral), comportamento (obediência às <strong>no</strong>rmas,<br />

horários, respeito com os colegas e material dos mesmos).<br />

Hoje realiza ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com entusiasmo e já sem precisar <strong>de</strong><br />

condicionamento. Quer muito apren<strong>de</strong>r a ler. Oralmente está na fase<br />

silábica <strong>de</strong> escrita e alguns fonemas, já escreve corretamente sem precisar<br />

falar a letra. Realiza ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> escrita espontânea com alg<strong>um</strong> valor<br />

so<strong>no</strong>ro [...].<br />

Preenche cruzadinha, faz produção <strong>de</strong> texto (ele fala eu estruturo a frase),<br />

e escrita <strong>de</strong> <strong>no</strong>mes com aju<strong>da</strong> (falando as letras e indicando o lugar para<br />

escrever). Muitas vezes volta e lê o que escreveu, se for <strong>de</strong> seu interesse.<br />

Relata fatos e conta historias através <strong>de</strong> gravuras e fatos do cotidia<strong>no</strong>, às<br />

vezes com frases, às vezes com palavras mais significativas do que<br />

representa a cena.<br />

Gosta <strong>de</strong> colorir e já faz com alg<strong>um</strong> limite. Na escolha <strong>da</strong>s cores necessita<br />

ser direcionado.<br />

Gosta <strong>de</strong> jogos como bola, tiro ao alvo, domi<strong>no</strong>, boliche, boca <strong>de</strong> palhaço e<br />

outros, precisa <strong>de</strong> acompanhamento para jogar.<br />

I<strong>de</strong>ntifica nºs 0 e 1, às vezes lembra <strong>de</strong> outros ate 9, conta até 5 e ás vezes<br />

até 8.<br />

Tem preferência por colegas e adora aju<strong>da</strong> <strong>de</strong>les quando realiza ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> escrita.<br />

É muito amoroso e cativa quem o ro<strong>de</strong>ia. Desenvolveu esquema corporal,<br />

quando questionado faz o corpo completo. A forma dos <strong>de</strong>senhos procura<br />

copiar para fazer melhor, tem consciência do que não está bem feito e<br />

sempre procura consertar solicitando mo<strong>de</strong>lo para copiar.<br />

Interpreta cena em ralação à leitura e acrescenta elementos necessários.<br />

Faz equiparação <strong>de</strong> figuras e letras. Tem <strong>no</strong>ção temporal e seqüencial dos<br />

acontecimentos do dia-a dia. [...] (PROFESSORA ESPECIALISTA<br />

MARIANA).


Relatório sobre o alu<strong>no</strong> Emanuel – maio/2006.<br />

143<br />

O alu<strong>no</strong> apresenta DM, não tem atendimento médico, a família resolveu<br />

procurar o médico. Inicialmente estava <strong>no</strong> pré-silábico e havia esquecido<br />

alg<strong>um</strong>as letras.<br />

Encontra-se <strong>no</strong> nível silábico com valor so<strong>no</strong>ro <strong>de</strong> vogal e consoante, com<br />

acompanhante escreve <strong>no</strong> nível alfabético.<br />

No a<strong>no</strong> passado apresentou problemas comportamentais. Hoje se<br />

relaciona bem com os colegas, em alguns momentos apresenta rebel<strong>de</strong><br />

por dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dialogar e <strong>de</strong> se expressar quando não concor<strong>da</strong> com os<br />

fatos.<br />

A princípio não copiava ou às vezes copiava os mesmos símbolos<br />

repeti<strong>da</strong>mente.<br />

Após acompanhamento em sala pelo trabalho colaborativo orientando-o e<br />

fazendo-o refletir sobre a escrita, com participação do professor regular ele<br />

passou a copiar legivelmente.<br />

Hoje copia quase to<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia. Apresenta boa<br />

coor<strong>de</strong>nação motora e auto-estima em alta confiante que está apren<strong>de</strong>ndo<br />

a ler.<br />

Realiza ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em sala com a<strong>da</strong>ptação e interferência do professor ou<br />

dos colegas.<br />

Nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> português já consegue encontrar palavras <strong>no</strong>s textos e<br />

enten<strong>de</strong>r significados <strong>da</strong> escrita.<br />

Participa do momento <strong>da</strong> conversa informal manifestando seu<br />

conhecimento quando <strong>da</strong> explicação <strong>da</strong> matéria, ao ser solicitado pelo<br />

professor.<br />

Soma e subtrai com material concreto e com orientação. Tem <strong>no</strong>ção dos<br />

conceitos <strong>de</strong> adição, subtração, n<strong>um</strong>eral e quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Necessita <strong>de</strong> neurologista, mas oferecido pelo SUS sua mãe não quer<br />

levar, e como agora a família resolveu leva-lo estão tentado arr<strong>um</strong>ar <strong>um</strong><br />

particular.<br />

Necessita <strong>de</strong> tratamento para chegar ao nível alfabético conforme<br />

diag<strong>no</strong>stico pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e já aceito pela família.<br />

Continua sendo trabalhado com leitura, escrita o que já faz rapi<strong>da</strong>mente<br />

quando feito valor so<strong>no</strong>ro pausa<strong>da</strong>mente (adolescência), relacionamento,<br />

psicomotrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e auto<strong>no</strong>mia alcançou os objetivos propostos. Faz a letra<br />

cursiva muito bem tendo dúvi<strong>da</strong>s em alg<strong>um</strong>as maiúsculas, colore <strong>no</strong>s<br />

limites quando quer, recorta e faz colagem.<br />

Participa <strong>de</strong> jogos como boliche, dominó, memória, tiro ao alvo, boca <strong>de</strong><br />

palhaço, encaixe, e monta quebra-cabeça, com entendimento <strong>de</strong>vendo ser<br />

alertado para respeitar as regras que já conhece.<br />

Relata fatos com seqüência e pe<strong>de</strong> esclarecimento <strong>de</strong> termos do dia que<br />

julga ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> usar e nem sempre sabe o significado e o porque <strong>de</strong><br />

não usa-los.


144<br />

Monta o corpo h<strong>um</strong>a<strong>no</strong> e <strong>de</strong>sempenha figura h<strong>um</strong>ana completa quando<br />

questionado sobre partes do corpo. Gosta <strong>de</strong> monitorar colegas, falando<br />

letras para a escrita <strong>de</strong> <strong>no</strong>mes quando os monta (loto-leitura, alfabeto,<br />

móvel-cruzadinha e outros). Conhece os ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros valores <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, mas<br />

nem sempre os aceita, para tal se faz necessário conversar com a família<br />

que o orienta <strong>no</strong>s apoiando (PROFESSORA ESPECIALISTA MARIANA).<br />

Percebemos que a professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recursos relata sobre o processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem <strong>de</strong>sses alu<strong>no</strong>s, apontando suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, seus <strong>de</strong>safios. E<br />

também volta a enfatizar, <strong>no</strong> <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Emanuel, a questão clínica como sendo <strong>um</strong><br />

dos recursos para a melhora na aprendizagem. Entretanto, como esse relatório só é<br />

feito <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong>, ele acaba se constituindo n<strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento burocrático, com <strong>um</strong><br />

fim em si mesmo, que não adquire <strong>um</strong> caráter avaliativo <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong><br />

retroalimentador <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica, mas, sim, <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento morto, que não<br />

impulsiona ações. Como colocou Mén<strong>de</strong>z (2002), a <strong>avaliação</strong> chegou tar<strong>de</strong>.<br />

Outro questionamento que <strong>no</strong>s vem a partir <strong>da</strong> análise <strong>de</strong>sse relatório é que este se<br />

constitui n<strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento que marca, que separa, que exclui o alu<strong>no</strong> que está<br />

incluído, pois quem tem o controle <strong>da</strong> aprendizagem não é a professora <strong>da</strong> sala<br />

regular, mas a professora especialista. Os alu<strong>no</strong>s estão incluídos, mas quem é<br />

responsável por esse processo <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> é <strong>um</strong> outro profissional que não é o<br />

responsável pela turma.<br />

Dessa forma, mesmo sendo por relatório, a prática avaliativa em relação aos alu<strong>no</strong>s<br />

com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional expressa <strong>um</strong>a prática exclu<strong>de</strong>nte, pois não serve para<br />

<strong>um</strong>a retroalimentação <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

É <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong>, tal como afirma Esteban (2001, p. 100), na ótica do exame, pois,


145<br />

[..] aten<strong>de</strong> as exigências <strong>de</strong> natureza administrativa, serve para reconhecer<br />

formalmente a presença (ou ausência) <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado conhecimento, mas<br />

não dispõe <strong>da</strong> mesma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para indicar qual é o saber que o sujeito<br />

possui ou como está interpretando as mensagens que recebe. Tampouco<br />

po<strong>de</strong> informar sobre o processo <strong>de</strong> aprendizagem dos estu<strong>da</strong>ntes ou<br />

questionar os limites do referencial interpretativo do/ a professor/a.<br />

A partir do exame o/a professor/a po<strong>de</strong> avaliar se o/a alu<strong>no</strong>/a foi capaz <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente a suas perguntas. Porém, o erro ou acerto <strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s questões não indica quais foram os saberes usados para<br />

respondê-la, nem os processos <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong>senvolvidos para<br />

adquirir o conhecimento <strong>de</strong>monstrado, tampouco o raciocínio que conduz à<br />

respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>. Para a construção do processo ensi<strong>no</strong>/aprendizagem,<br />

estas são as questões efetivamente significativas, e não o erro ou o acerto<br />

como ressalta a lógica do exame.<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber que os relatórios mostram sujeitos/alu<strong>no</strong>s que apresentam<br />

potenciais, falam <strong>de</strong> <strong>um</strong>a aprendizagem que eles já alcançaram mas que não dá<br />

pistas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> o professor po<strong>de</strong> intervir para que esse alu<strong>no</strong> possa crescer. É<br />

preciso repensar por que estamos oferecendo <strong>um</strong>a prática diferencia<strong>da</strong>, se é para<br />

respeitar o processo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong> ou se porque não acreditamos <strong>no</strong> potencial dos<br />

alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial.<br />

Não se trata <strong>de</strong>, simplesmente, mu<strong>da</strong>r a linha metodológica nem <strong>de</strong> abolir<br />

os ‘instr<strong>um</strong>entos’ [...] classificando-os como promotores <strong>de</strong> exclusão. Tratase,<br />

sim, <strong>de</strong> pensar a educação com o sentido <strong>de</strong> que suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> tessitura dos conhecimentos ─ construção, se preferirem ─ não<br />

necessitam, obrigatoriamente, passar por <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> que, [...] promove,<br />

quase que invariavelmente, exclusões e mutilações na formação dos<br />

<strong>no</strong>ssos alu<strong>no</strong>s (RIBETTO et al., 2003, p.108-109).<br />

Muito mais importante do que a forma <strong>de</strong> avaliar, precisamos <strong>no</strong>s ater ao que ela<br />

tem servido. Nesse contexto, precisamos analisar qual a relação <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> com a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica.


7.2.2 A relação <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> como retroalimentadora <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

Para além <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> atrela<strong>da</strong> a momentos estanques que servem para<br />

separar os alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong> interior <strong>da</strong>s classes e <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, acreditamos n<strong>um</strong>a perspectiva<br />

<strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> que contribua com o processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem <strong>de</strong> todos os<br />

alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

É preciso que se tenha <strong>um</strong>a prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> “[...] qualifica<strong>da</strong> como toma<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões para a compreensão e melhoria do ensi<strong>no</strong>” (VALLEJO, 2003, p. 51). Dessa<br />

forma, segundo o mesmo autor, coloca-se a serviço do processo<br />

ensi<strong>no</strong>aprendizagem, que se integra e forma parte do cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula,<br />

porque “[...] a <strong>avaliação</strong> é parte do currículo, na medi<strong>da</strong> em que a ele se incorpora<br />

como <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s etapas do processo pe<strong>da</strong>gógico” (OLIVEIRA; PACHECO, 2003, p.<br />

119).<br />

Nesse contexto, a <strong>avaliação</strong> precisa estar imbrica<strong>da</strong> à prática pe<strong>da</strong>gógica, estar<br />

presente nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diárias. Alg<strong>um</strong>as professoras colocaram que elas avaliam<br />

em todo o instante e com o intuito <strong>de</strong> rever o processo.<br />

146<br />

Em todo o instante. Eu sei <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les observando as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

que eles fazem na sala <strong>de</strong> aula [...]. Através <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong>s perguntas<br />

orais, proponho <strong>um</strong>a revisão, retomo o assunto <strong>no</strong>vamente,<br />

(PROFESSORA ANDRÉIA)<br />

Através <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s realiza<strong>da</strong>s revejo o processo ensi<strong>no</strong>-aprendizagem<br />

(PROFESSORA IZABELA).


Apesar <strong>de</strong> as professoras apontarem essa prática <strong>de</strong> estar revendo o conteúdo<br />

quando os alu<strong>no</strong>s não atingirem o objetivo, é bom ressaltar que, na análise do<br />

cotidia<strong>no</strong>, percebíamos que, <strong>no</strong> dia-a-dia, não havia essa retoma<strong>da</strong>. Os professores<br />

iam seguindo o conteúdo conforme a estrutura curricular <strong>da</strong> série.<br />

Loch (2003, p. 130-131) coloca que, na <strong>escola</strong> tradicional, “[...] existe o tempo <strong>de</strong><br />

ensinar e o tempo <strong>de</strong> avaliar, enquanto momentos estanques [...]. Os ‘conteúdos<br />

<strong>escola</strong>res’ são organizados <strong>de</strong> forma linear, hierárquica e previamente <strong>de</strong>terminados<br />

por bimestre, série, disciplina, sob justificativa <strong>de</strong> serem pré-requisitos <strong>de</strong> outros [...]”.<br />

As aulas eram fragmenta<strong>da</strong>s por disciplinas: História, Geografia, Matemática, Língua<br />

Portuguesa, Ciências e Artes. Geralmente, antes do recreio, era <strong>um</strong>a disciplina e<br />

<strong>de</strong>pois do recreio era outra. Nos dias em que tinham Educação Física e Artes, o<br />

alu<strong>no</strong> assistia a três matérias diferentes. Pela observação e análise do diário <strong>de</strong><br />

classe, vemos <strong>um</strong>a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> linear dos conteúdos a serem ensinados e a<br />

aplicação do instr<strong>um</strong>ento avaliativo sempre após <strong>um</strong>a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> pequena <strong>de</strong><br />

conteúdos que foram ensinados. Geralmente, nas matérias <strong>de</strong> Artes, História e<br />

Geografia, havia trabalhos, além <strong>da</strong> prova, já em Matemática e Língua Portuguesa,<br />

sempre a forma <strong>de</strong> avaliar era somente por meio <strong>de</strong> prova.<br />

Víamos, n<strong>um</strong> contexto <strong>de</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica, <strong>um</strong>a cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong>: explicar a matéria,<br />

fazer exercícios, fixar e avaliar. Esse ciclo se repetia nas duas salas observa<strong>da</strong>s. A<br />

<strong>avaliação</strong> era muito mais com <strong>um</strong> fim em si mesmo. Quando o alu<strong>no</strong> não ia bem, o<br />

que acontecia era <strong>um</strong>a recuperação paralela, não com o intuito <strong>de</strong> recuperar<br />

conteúdos, mas sim com o propósito <strong>de</strong> alcançar a <strong>no</strong>ta mínima.<br />

147


Esteban (2003, p. 88) coloca que, quando enten<strong>de</strong>mos a relação <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong>aprendizagem como <strong>um</strong> processo, “[...] o enfoque <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> mu<strong>da</strong>. O<br />

importante não é atribuição <strong>de</strong> <strong>no</strong>ta ou o conceito, interessa coletivamente a<br />

compreensão do processo ensi<strong>no</strong>-aprendizagem, para permitir a ampliação do<br />

conhecimento”.<br />

Dessa forma, “[...] a <strong>avaliação</strong> como prática <strong>de</strong> investigação pressupõe a<br />

interrogação constante e se revela <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento importante para professores e<br />

professoras comprometidos com <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> <strong>de</strong>mocrática” (ESTEBAM, 2003, p. 25).<br />

N<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> educação inclusiva, acreditamos que a <strong>avaliação</strong> <strong>de</strong>ve servir<br />

para a compreensão dos processos <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong> e assim<br />

contribuir para <strong>um</strong>a prática peadgógica que ofereça <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A<br />

<strong>avaliação</strong>, <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> Escola Bansalu, não era liga<strong>da</strong> à prática pe<strong>da</strong>gógica, nem<br />

em relação aos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial nem aos outros. Em<br />

<strong>um</strong>a <strong>da</strong>s observações na sala <strong>de</strong> aula, pu<strong>de</strong>mos ver:<br />

148<br />

[...]. Ela <strong>de</strong>u <strong>um</strong>a folha com ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para ele fazer, explicou e disse que<br />

qualquer dúvi<strong>da</strong> havia seu amigo do lado ou podia chamá-la.<br />

A medi<strong>da</strong> que ia ‘fazendo’ confirmava com seu amigo suas hipóteses. Aos<br />

poucos, outras crianças se prontificaram a aju<strong>da</strong>r. Percebi que, embora as<br />

crianças tivessem boa vonta<strong>de</strong>, elas acabavam respon<strong>de</strong>ndo para o<br />

Emanuel ao invés <strong>de</strong> ajudá-lo a pensar. Perguntei, então, a professora, se<br />

podia ajudá-lo. Ela me olhou e disse que sim. Pediu para que o alu<strong>no</strong> que<br />

estava próximo trocasse <strong>de</strong> lugar comigo. Então fui ajudá-lo. Era <strong>um</strong>a<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que tinha <strong>um</strong> quadro com brinquedos e havia perguntas em<br />

relação à quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>. Depois, ele tinha que fazer <strong>um</strong> gráfico<br />

com a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A primeira pergunta eu li para ele e ele conseguiu me respon<strong>de</strong>r. A<br />

segun<strong>da</strong> eu <strong>de</strong>ixei, ele ir lendo comigo. Sabia as letras, mas tinha<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em junta-las em voz alta. Conseguiu com aju<strong>da</strong> ler e respon<strong>de</strong>r.<br />

A princípio, me pareceu nervoso, querendo me mostrar que sabia, mas<br />

tinha medo <strong>de</strong> errar. Ele coçava a to<strong>da</strong> instante o nariz, tossia. Na hora <strong>de</strong>


149<br />

escrever a primeira resposta, ele parecia não querer errar: iniciava a escrita<br />

do n<strong>um</strong>eral e apagava, ora caçava o nariz, ora apagava. Parecia querer<br />

me impressionar, <strong>de</strong>monstrando que sabia. Durante a execução <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, olhava para os <strong>de</strong>mais colegas e via que eles faziam o <strong>de</strong>ver do<br />

livro, percebeu que eles estavam fazendo <strong>um</strong>a outra ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> diferente<br />

<strong>da</strong>quele que ele estava fazendo.<br />

Assim que acabou a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> folha, perguntou se podia fazer o <strong>de</strong>ver<br />

do livro. A professora o autorizou. Ele abriu <strong>um</strong> sorriso meio <strong>de</strong> lado, olhou<br />

o colega para i<strong>de</strong>ntificar a página e começou a folhear seu livro,<br />

procurando-a (DIÁRIO DE CAMPO- EPISÓDIO NA 4ª SÉRIE).<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber, <strong>no</strong> relato, que, para <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> <strong>de</strong> 4º série, ele tem <strong>um</strong> nível bem<br />

diferenciado dos <strong>de</strong>mais alu<strong>no</strong>s, apresentando dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ler e interpretar, mas,<br />

com a intervenção, é capaz <strong>de</strong> realizar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Entretanto não visl<strong>um</strong>bramos<br />

nenh<strong>um</strong> trabalho sistematizado, nenh<strong>um</strong> planejamento específico para que ele<br />

possa ter <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento mais avançado.<br />

Em <strong>um</strong> outro momento na sala <strong>da</strong> 3º série, pu<strong>de</strong>mos presenciar <strong>um</strong> outro fato que<br />

<strong>de</strong>monstra a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alu<strong>no</strong>s:<br />

[...] ela <strong>de</strong>u produção <strong>de</strong> texto. Era <strong>um</strong> <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> <strong>um</strong> papagaio que mor<strong>de</strong><br />

o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>um</strong>a criança. A partir <strong>da</strong> imagem, Pablo fez a interpretação e me<br />

disse o que a cena representava. Começamos, então, a escrever sobre o<br />

<strong>de</strong>senho. A história ficou assim:<br />

‘Papagaio bicou o <strong>de</strong>do meni<strong>no</strong>.<br />

O Pablo estava na janela <strong>da</strong> casa e viu o papagaio bicar <strong>de</strong>do Lucas.<br />

Lucas saiu correndo e chamou mãe.<br />

A mãe abraçou o meni<strong>no</strong>.<br />

Fim’<br />

Essa história foi feita com a intervenção <strong>da</strong> pesquisadora, mas as idéias<br />

foram <strong>de</strong> Pedro. O fim, após a conclusão, foi auto<strong>no</strong>mia <strong>de</strong>le que, após a<br />

escrita, me amostrou. Em segui<strong>da</strong>, foi amostrar à professora que lhe disse<br />

que estava bom, mas continha alguns erros [falta <strong>de</strong> artigos, pontuação].<br />

[...]<br />

Percebi que, quando ela corrigia o ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> <strong>da</strong>s outras crianças, ela<br />

circulava indicando o erro e intervia a<strong>no</strong>tando a palavra correta. Já com<br />

Pablo, ela só olhava e não fazia intervenção.<br />

Conversei com ela sobre a questão dos artigos na escrita dos surdos. Ela<br />

queria saber se precisava ensiná-lo ou não [...]. Quando Pablo acabou <strong>de</strong><br />

pintar a folha <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> texto, estava com <strong>um</strong> colorido muito lindo.


150<br />

Ele me amostrou e foi amostrar a professora que corrigiu. Quando retor<strong>no</strong>u<br />

a mesa, ele sinalizou [português], respondi que sim (TRECHO DO DIÁRIO<br />

DE CAMPO – 3ª SÉRIE).<br />

Percebemos, nesses dois fatos, que tanto o Pedro como o Emanuel têm potencial e<br />

po<strong>de</strong>m estar sendo estimulados, po<strong>de</strong>ndo ter intervenções <strong>no</strong> seu processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem. Eles dão pistas, dão sinais <strong>de</strong> que estão em processo. O alu<strong>no</strong><br />

Pedro consegue fazer <strong>um</strong>a produção textual <strong>no</strong> seu nível e <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> estrutura <strong>de</strong><br />

sua língua materna.<br />

Diante <strong>de</strong>sse potencial, acreditamos que as práticas avaliativas, <strong>de</strong>ntro do contexto<br />

<strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s, <strong>de</strong>vem valorizar muito mais a <strong>avaliação</strong> como prática investigativa que<br />

dá suporte ao processo <strong>de</strong> aprendizagem do que a <strong>avaliação</strong> final. É <strong>no</strong> dia-a-dia, <strong>no</strong><br />

cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s coisas, que catamos pistas sobre esse processo e, <strong>de</strong>ssa forma,<br />

po<strong>de</strong>mos redimensionar os <strong>no</strong>ssos olhares sobre todos os alu<strong>no</strong>s e oferecer <strong>um</strong>a<br />

educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A <strong>avaliação</strong> como <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> reflexão sobre e para a ação contribui<br />

para que o professor se torne ca<strong>da</strong> vez mais capaz <strong>de</strong> recolher indícios, <strong>de</strong><br />

atingir níveis <strong>de</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> na interpretação <strong>de</strong> seus significados, e <strong>de</strong><br />

incorporá-los como eventos relevantes para a dinâmica<br />

ensi<strong>no</strong>/aprendizagem (ESTEBAM, 2003, p. 24).<br />

É bom ressaltar que não estamos apontando a <strong>avaliação</strong> como <strong>um</strong>a panacéia que<br />

irá resolver, como <strong>um</strong> passe <strong>de</strong> mágica, todos os <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, mas,<br />

acreditamos que, por meio <strong>de</strong>la, po<strong>de</strong>mos contribuir para <strong>da</strong>r pistas a <strong>um</strong>a prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica que inci<strong>da</strong> <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>.


Entretanto <strong>de</strong> na<strong>da</strong> adianta mu<strong>da</strong>r a <strong>avaliação</strong> se as práticas pe<strong>da</strong>gógicas ain<strong>da</strong> se<br />

pautarem na homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>, na hierarquização e fragmentação. Dentro <strong>de</strong>sse<br />

contexto, remetemos, outra vez, às cenas já relata<strong>da</strong>s. Parece-<strong>no</strong>s que, nesses<br />

recortes, alguns apontamentos <strong>no</strong>s vêm à baila: como trabalhar com <strong>um</strong><br />

<strong>de</strong>terminado alu<strong>no</strong> que não tem o “padrão” dos <strong>de</strong>mais? Como equalizar <strong>um</strong><br />

trabalho pe<strong>da</strong>gógico que possibilite a aprendizagem <strong>de</strong> todos sem provocar<br />

discriminação, sem excluir ninguém?<br />

Mas como trabalhar com as diferenças sem excluí-las? As professoras <strong>da</strong> <strong>escola</strong><br />

Bansalu colocam que tal perspectiva não é simples, é <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio a ser transposto<br />

por elas mesmas:<br />

151<br />

Trabalho o individual, essa diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> é muito complica<strong>da</strong>. Além dos<br />

alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência você tem aqueles que têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>. E eu<br />

encontro muita dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> com a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> [...] (PROFESSORA IZA).<br />

A minha maior dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> é conseguir perceber como eles pensam. Em<br />

que caminho tenho que tomar para chegar até aquela criança. Em como e<br />

o que posso fazer para que eles apren<strong>da</strong>m [...] (PROFESSORA ANDRÉIA).<br />

[...]. Preparar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que estejam ao seu alcance. [...] Muito complicado,<br />

faço o que posso (PROFESSORA IZABELA).<br />

Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar que o uso <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diversifica<strong>da</strong>s é <strong>um</strong><br />

recurso que possibilita trabalhar o alu<strong>no</strong>, e isso é <strong>um</strong> ponto positivo para a prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>s professoras, porém essa prática não garante <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong><br />

pertença dos alu<strong>no</strong>s, pois eles realizam ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferencia<strong>da</strong>s dos <strong>de</strong>mais,<br />

explicitando a sua diferença. Segundo Stainback (1999, p. 480), “[...] o objetivo <strong>da</strong><br />

<strong>inclusão</strong> não é o <strong>de</strong> apagar as diferenças, mas o <strong>de</strong> que todos os alu<strong>no</strong>s pertençam<br />

a <strong>um</strong>a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional que valorize sua individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>”.


Nas falas, percebemos as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas também <strong>no</strong>tamos o esforço para que<br />

essas crianças não estejam simplesmente coloca<strong>da</strong>s <strong>no</strong> interior <strong>da</strong>s classes, sem<br />

nenh<strong>um</strong> atendimento. Elas apontam o caminho <strong>da</strong>s professoras para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s<br />

diferenças <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula e, para isso, utilizam ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diversifica<strong>da</strong>s.<br />

André (2004), baseando-se em Perre<strong>no</strong>ud, aponta que o i<strong>de</strong>al não é variar as<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e sim diferenciar os percursos e o acompanhamento. Isso não significa<br />

<strong>um</strong> programa especial para ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong>, mas <strong>um</strong>a busca por estratégias que dêem<br />

conta <strong>da</strong>quele conjunto <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s.<br />

Trabalhando com <strong>um</strong>a Pe<strong>da</strong>gogia diferencia<strong>da</strong>, há <strong>um</strong>a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a prática<br />

que aten<strong>da</strong> aos níveis diferenciados e que, ao mesmo tempo, contribua para <strong>um</strong><br />

processo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>, pois as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são pensa<strong>da</strong>s para todo o grupo. Entretanto<br />

isso não é <strong>um</strong>a prática fácil <strong>de</strong> ser feita, pois implica enten<strong>de</strong>r a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

processo ensi<strong>no</strong>aprendizagem, perceber a <strong>escola</strong> como <strong>um</strong> lugar possível <strong>da</strong><br />

coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>ssa forma <strong>um</strong>a instituição apren<strong>de</strong>nte.<br />

7.3 O COTIDIANO DA ESCOLA APONTANDO POSSIBILIDADES DE MUDANÇA<br />

Observando o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, po<strong>de</strong>mos perceber alg<strong>um</strong>as ações que indicam<br />

<strong>um</strong> processo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Queremos, nesta parte,<br />

enfatizar que <strong>um</strong> olhar prospectivo permite modificar práticas já instituí<strong>da</strong>s e se abre<br />

para que <strong>um</strong> indivíduo apren<strong>da</strong> sobre o outro e com o outro.<br />

152


No <strong>de</strong>correr <strong>da</strong>s análises, trouxemos vários exemplos que <strong>de</strong>monstram o potencial<br />

dos alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial e queremos apontar aqui que,<br />

quando a <strong>escola</strong> se propõe a apren<strong>de</strong>r sobre e com o outro, ela apren<strong>de</strong> a li<strong>da</strong>r com<br />

aqueles que ela julgava não ter conhecimento para trabalhar.<br />

Um dos exemplos é o <strong>da</strong> professora Iza que, em <strong>um</strong>a <strong>de</strong> suas falas, na entrevista,<br />

colocava que tinha muito receio em trabalhar com <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> que apresentasse<br />

“<strong>de</strong>ficiência auditiva”, pois não sabia se comunicar com ele. Durante as observações<br />

em sua sala, pu<strong>de</strong>mos acompanhar seu empenho para apren<strong>de</strong>r a li<strong>da</strong>r com Pedro.<br />

Um dos primeiros pontos a ser alterado nessa relação era a questão <strong>da</strong><br />

comunicação. Para amenizar essa situação e conseguir conversar com ele, n<strong>um</strong>a<br />

linguagem que houvesse <strong>um</strong>a relação <strong>de</strong> emissor e receptor, ela foi fazer <strong>um</strong> curso<br />

<strong>de</strong> LIBRAS oferecido pela Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Guarapari, <strong>da</strong>do<br />

fora do expediente <strong>de</strong> trabalho.<br />

Isso, com certeza, minimizou a barreira comunicacional entre os dois e possibilitou a<br />

professora trabalhar com ele, pois, como já colocamos, não havia intérprete naquela<br />

sala para fazer a interpretação Português-LIBRAS. A princípio, ela articulava as<br />

palavras pausa<strong>da</strong>mente, para que ele pu<strong>de</strong>sse fazer a leitura labial, <strong>de</strong>pois, durante<br />

a aprendizagem do curso, ela utilizou o conhecimento que estava apren<strong>de</strong>ndo para<br />

se comunicar com ele, conforme registro <strong>no</strong> diário <strong>de</strong> campo:<br />

153<br />

Ela vira para Pedro e pergunta quando ele irá para a Sala <strong>de</strong> Recurso para<br />

surdos [faz o sinal <strong>da</strong> professora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recurso para indicar a quem<br />

ela está se referindo]. Ela ain<strong>da</strong> não constrói <strong>um</strong>a estrutura frasal, faz mais<br />

<strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> comunicação total do que LIBRAS propriamente dita.


154<br />

Pablo olha pra mim, com cara <strong>de</strong> quem não estava enten<strong>de</strong>ndo. Eu, então,<br />

refiz a frase em LIBRAS.<br />

Ele respon<strong>de</strong> fazendo o sinal <strong>de</strong> quinta-feira. A professora imediatamente<br />

oraliza ‘quinta-feira’.<br />

_ Ah! Está apren<strong>de</strong>ndo! [aproveitei para elogia-la]<br />

_ [Sorri e diz] Estou sim! Tenho aprendido muito com ele.<br />

Nesse recorte do diário, apesar <strong>de</strong> ela ain<strong>da</strong> não ter <strong>um</strong>a competência lingüística em<br />

LIBRAS, procura se comunicar e enten<strong>de</strong>r a informação que o alu<strong>no</strong> passa. Em<br />

relação aos alu<strong>no</strong>s surdos, fazer uso <strong>da</strong> língua <strong>de</strong> sinais significa respeitar <strong>um</strong>a<br />

cultura sur<strong>da</strong> e propiciar ao alu<strong>no</strong> <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento na sua primeira língua.<br />

Esse episódio também <strong>de</strong>ixa claro o quanto ela reconhece que estar com Pedro a<br />

fez crescer. Ela antes concebia <strong>um</strong>a visão <strong>de</strong> que era difícil trabalhar com o surdo<br />

exatamente por causa <strong>da</strong> comunicação e hoje ela reconhece que ter Pedro em sala<br />

lhe possibilitou aprendizagem.<br />

É bom ressaltar que a <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> surdo implica que a <strong>escola</strong> precisa ter<br />

alguém que saiba LIBRAS, pois não po<strong>de</strong>mos continuar alijando o surdo <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento em sua língua materna, mas, por outro lado, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> matriculá-lo sob pena <strong>de</strong> não ter ninguém para trabalhar com ele. Vimos que as<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> comunicação foram ameniza<strong>da</strong>s pelo conhecimento <strong>de</strong> LIBRAS,<br />

linguagem aprendi<strong>da</strong> n<strong>um</strong> curso, mas também pelo convívio, pela experiência <strong>de</strong><br />

estar com ele. Não estamos advogando que, para a <strong>inclusão</strong> do surdo, basta que a<br />

professora <strong>da</strong> sala regular saiba LIBRAS, pois existem outras questões que<br />

envolvem essa situação.<br />

Neste contexto percebemos que estar com <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> com alg<strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

especial favorece a aprendizagem <strong>de</strong> todos aqueles que estão <strong>no</strong> mesmo contexto


que ele. Este é <strong>um</strong> dos benefícios <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com e<br />

sobre o outro favorecendo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todos. Para isso, precisamos<br />

apren<strong>de</strong>r a li<strong>da</strong>r com o outro e avaliar sempre as condições com as quais estamos<br />

li<strong>da</strong>ndo com a <strong>inclusão</strong>.<br />

Apesar <strong>de</strong> o episódio relatado apontar <strong>um</strong>a saga individual, precisamos pontuar que<br />

não dá pra realizar políticas <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> sem a parceria do outro. O alu<strong>no</strong> que<br />

apresenta qualquer <strong>de</strong>ficiência não é <strong>da</strong> professora Iza, Maria, Joana, ele, pertence<br />

à <strong>escola</strong> como <strong>um</strong> todo.<br />

Nos encontros para o Estudo Reflexivo sobre Inclusão, foi discutido sobre essas<br />

questões e pu<strong>de</strong>mos perceber, <strong>no</strong>s dois dias, que a <strong>escola</strong> precisa estar discutindo,<br />

refletindo, pensando sobre sua organização e o que po<strong>de</strong> ser feito para melhorar<br />

esse espaço. A <strong>escola</strong> precisa ser, <strong>no</strong>s dizeres <strong>de</strong> Alarcão (2001), <strong>um</strong>a <strong>escola</strong><br />

reflexiva, <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> que se organiza e que pensa sobre si mesma.<br />

Brzezinski (2001, p.65) coloca que a “[...] <strong>escola</strong> que se quer reflexiva e<br />

emancipadora é também <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> vivi<strong>da</strong> cotidianamente, dimensiona<strong>da</strong> em seu<br />

projeto político pe<strong>da</strong>gógico-curricular entendido aqui como elemento <strong>de</strong> organização<br />

do processo educacional que nela ocorre”.<br />

Para que isso ocorra, é necessário <strong>um</strong> trabalho em conjunto. Essa idéia <strong>de</strong> todos<br />

trabalhando juntos po<strong>de</strong> ser percebi<strong>da</strong> <strong>no</strong>s momentos <strong>de</strong> <strong>estudo</strong> do grupo. Os<br />

participantes elencaram alguns pontos que julgam favorecer a melhoria do trabalho<br />

155


pe<strong>da</strong>gógico e favorecer <strong>um</strong>a educação para todos. Alguns apontamentos são<br />

elencados:<br />

a) <strong>estudo</strong>s em grupo, envolvendo todos os professores, para troca <strong>de</strong><br />

experiência e conhecimentos;<br />

b) conhecimento acerca <strong>da</strong>s reais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos alu<strong>no</strong>s;<br />

c) busca <strong>de</strong> conhecimento para melhorar a prática pe<strong>da</strong>gógica e diferenciar as<br />

práticas <strong>escola</strong>res com segurança;<br />

d) utilização <strong>de</strong> recursos e estratégias que aten<strong>da</strong>m à diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> níveis <strong>da</strong><br />

sala <strong>de</strong> aula;<br />

e) planejamento com o professor <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> recursos e corpo docente para<br />

todos os alu<strong>no</strong>s;<br />

f) planejamento com antecedência, incluindo ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diversifica<strong>da</strong>s, <strong>de</strong><br />

acordo com o nível do alu<strong>no</strong>.<br />

Nesses apontamentos, percebemos que a questão do trabalho em equipe pensando<br />

e refletindo juntos é <strong>um</strong>a condição básica para a melhoria <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica na<br />

Escola Bansalu. No trabalho em equipe, eles apontam que é necessário o<br />

conhecimento e planejamento em conjunto.<br />

Nesse contexto, percebemos que, na hora <strong>da</strong> reflexão sobre a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r, os<br />

profissionais conseguem perceber para além <strong>de</strong> sua prática e apontar caminhos<br />

possíveis para a superação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Segundo Mizukami et al. (2002, p. 44-45),<br />

156


157<br />

A construção contínua dos saberes não ocorre <strong>de</strong> forma isola<strong>da</strong>. Ela <strong>de</strong>ve<br />

se <strong>da</strong>r na parceria entre as pessoas que estão em diferentes níveis <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento profissional [...]. Nesse processo <strong>um</strong> oferece o que sabe<br />

e, estando aberto para ouvir e analisar posições diferentes <strong>da</strong>s suas<br />

adquire outras formas <strong>de</strong> ver o mundo, <strong>de</strong> se ver nele e <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

seu papel <strong>no</strong> exercício profissional.<br />

Isso <strong>no</strong>s remete a <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r que consi<strong>de</strong>ra o saber individual, mas que<br />

consi<strong>de</strong>ra também o saber do outro. É nesse processo dialético e dialógico que<br />

acreditamos ser possível caminhar na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção do conhecimento. Nesse<br />

sentido, apren<strong>de</strong>ndo junto e com o outro, po<strong>de</strong>mos ressignificar o cotidia<strong>no</strong>.


8 INCLUSÃO E AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DA ESCOLA:<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Quando fomos à Escola Bansalu para realizar a pesquisa, tínhamos, como objetivo,<br />

compreen<strong>de</strong>r as práticas <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> cotidianas na <strong>escola</strong>, tendo como referência<br />

as práticas pe<strong>da</strong>gógicas dos professores e a reflexão sobre a <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> processo<br />

<strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais.<br />

Por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> et<strong>no</strong>gráfico, entramos <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> instituição e<br />

po<strong>de</strong>mos perceber como a <strong>avaliação</strong> é concebi<strong>da</strong> e vivi<strong>da</strong> pelos atores sociais que<br />

compõem aquele espaço. É preciso <strong>de</strong>ixar claro, como <strong>no</strong>s coloca Lefebvre (1991),<br />

que há <strong>um</strong>a relação dialética entre o vivido e o concebido e que aquilo que o sujeito<br />

concebe tem implicações naquilo que é vivido e, por sua vez, aquilo que se vive tem<br />

implicações naquilo que é concebido.<br />

A prática avaliativa que se presentifica <strong>de</strong>ntro do cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> se pauta n<strong>um</strong>a<br />

concepção <strong>de</strong> diag<strong>no</strong>sticar o conhecimento dos alu<strong>no</strong>s e, para isso, o instr<strong>um</strong>ento<br />

que ganha <strong>de</strong>staque é a prova. Utilizando esse instr<strong>um</strong>ento, representado na <strong>no</strong>ta<br />

que o alu<strong>no</strong> tira, o professor po<strong>de</strong> separar os que sabem <strong>da</strong>queles que não sabem,<br />

os que precisam <strong>de</strong> recuperação paralela e <strong>da</strong>queles que não precisam. A <strong>no</strong>ta <strong>da</strong><br />

<strong>avaliação</strong> é o imperativo <strong>da</strong>s toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e “[...] torna-se legitimadora <strong>da</strong><br />

posição que o alu<strong>no</strong> ocupa na classe, na <strong>escola</strong>, e que possivelmente <strong>no</strong> futuro<br />

refletirá a sua colocação na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (BERTAGNA, 2002, p. 240).<br />

158


Essa prática não é <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo encontrado somente na Escola Bansalu, mas é<br />

recorrente ao longo <strong>da</strong> história que <strong>de</strong>riva <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios <strong>da</strong> <strong>escola</strong> mo<strong>de</strong>rna<br />

(BARRIGA, 2003; DIAS SOBRINHO, 2002). Além do mais, a prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>,<br />

como somativa, é o mo<strong>de</strong>lo sugerido pelo Sistema <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> Municipal.<br />

Entretanto, para os alu<strong>no</strong>s que apresentam necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais<br />

por <strong>de</strong>ficiência, a prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> é diferencia<strong>da</strong>. Alguns fazem a prova na<br />

presença <strong>de</strong> <strong>um</strong> intérprete e outros acabam não fazendo. Não fazer a prova ou fazer<br />

com <strong>um</strong> outro professor não é a questão que importa, mas, sim, o motivo pelo qual<br />

se estabelece essa diferença.<br />

Percebemos que essa diferenciação, embora seja contempla<strong>da</strong> <strong>no</strong> Regimento<br />

Com<strong>um</strong> <strong>da</strong>s Escolas Municipais, não parte <strong>de</strong> <strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a<br />

diferença do outro, mas atua como <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> continuar marcando, segregando,<br />

separando os alu<strong>no</strong>s que apresentam <strong>um</strong>a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional especial<br />

<strong>da</strong>queles consi<strong>de</strong>rados <strong>no</strong>rmais. Dessa forma, não há indícios do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>sse alunado <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr do a<strong>no</strong> letivo, pois o relatório, que é o doc<strong>um</strong>ento que<br />

registra o processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem do alu<strong>no</strong>, só é elaborado <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong><br />

pela professora especialista e cabe à professora <strong>da</strong> sala regular legitimar o texto<br />

assinando em conjunto.<br />

Nesse contexto, percebemos <strong>um</strong>a prática avaliativa que privilegia somente o produto<br />

final _ expresso na <strong>no</strong>ta ou <strong>no</strong> relatório _ e que não contempla o processo <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong>aprendizagem. Sendo assim, como po<strong>de</strong> favorecer a educação <strong>de</strong> todos?<br />

159


Como po<strong>de</strong> implicar <strong>um</strong>a prática que retroalimenta o processo pe<strong>da</strong>gógico <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong>? Como po<strong>de</strong> favorecer a <strong>escola</strong> n<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>?<br />

Acreditamos que essa <strong>avaliação</strong>, como sinônimo <strong>de</strong> prova e que se presentifica na<br />

<strong>no</strong>ta, pouco contribui para a aprendizagem nem favorece a <strong>inclusão</strong>, pois, em sua<br />

gênese, ela tem, como princípio, a classificação para a exclusão.<br />

Esteban (2003) coloca que essa situação faz parte <strong>da</strong> ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> que<br />

me<strong>de</strong> para incluir em alg<strong>um</strong>a categoria <strong>de</strong> classificação e que acaba excluindo os<br />

que estão alí incluídos. Ela afirma que<br />

160<br />

No cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, avaliando e sendo avalia<strong>da</strong>, a professora vai<br />

apren<strong>de</strong>ndo duas lições contraditórias: é preciso classificar para ensinar; e<br />

classificar não aju<strong>da</strong> a ensinar melhor, tampouco a apren<strong>de</strong>r mais –<br />

classificar produz exclusão e para ensinar é indispensável incluir<br />

(ESTEBAN, 2003, p. 23).<br />

Sabemos que essa mu<strong>da</strong>nça não é simples <strong>de</strong> ser feita, pois implica <strong>um</strong>a série <strong>de</strong><br />

superações <strong>da</strong>s ações que acontecem <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, que precisa parar<br />

para refletir sobre a sua prática educacional; sobre sua concepção <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>;<br />

sobre os saberes produzidos pelos sujeitos que ali estão, sejam eles alu<strong>no</strong>s, sejam<br />

professores; sobre a estrutura e organização curricular e <strong>de</strong>mais componentes<br />

envolvidos <strong>no</strong> projeto político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Sendo assim, a prática avaliativa vivencia<strong>da</strong> na Escola Bansalu ain<strong>da</strong> privilegia <strong>um</strong>a<br />

forma <strong>de</strong> concepção que não promove <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça paradigmática <strong>no</strong> concebido. A<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong>, não po<strong>de</strong> ser por <strong>de</strong>creto, nem imposta; é preciso<br />

que seja consensual.


É necessário, então, reconhecer a existência <strong>da</strong> consciência coletiva, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por<br />

Lefebvre (apud BRZEZINKI, 2001, p.70), como aquela que “[...] não surge <strong>da</strong><br />

espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas emerge na e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> objetiva e brutal, inicialmente pela<br />

resistência, <strong>de</strong>pois pelo enfrentamento e busca <strong>de</strong> alternativas, e amplia-se para<br />

to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> do sujeito individual e social”.<br />

A mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática avaliativa só é possível se houver <strong>um</strong>a consciência coletiva.<br />

Um único professor po<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r a postura na sua sala, mas, para que essa<br />

perspectiva tome corpo, é necessário que a <strong>escola</strong> to<strong>da</strong>, que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r<br />

também se envolva. Percebemos, na Escola Bansalu, que todos consi<strong>de</strong>ram e<br />

acham importante essa consciência coletiva, porém falta criar esse espaço-tempo <strong>da</strong><br />

coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> para que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> possa parar e refletir sobre si mesma.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que, <strong>de</strong>ssa forma, po<strong>de</strong>mos caminhar n<strong>um</strong> sentido <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong><br />

que possa contribuir para a aprendizagem <strong>de</strong> todos, em que todos os envolvidos<br />

possam vencer a resistência inicial <strong>de</strong> trabalhar com alu<strong>no</strong>s que apren<strong>de</strong>m em<br />

ritmos e tempos diferentes, que possuem comportamentos diferenciados, que não<br />

são encaixados <strong>no</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Parmêni<strong>de</strong>s, mas que são vistos como alu<strong>no</strong>s<br />

concretos.<br />

N<strong>um</strong>a perspectiva <strong>de</strong> educação inclusiva, não se po<strong>de</strong> mais conceber que o<br />

professor trabalhe individualmente <strong>no</strong> seu espaço <strong>escola</strong>r. A <strong>escola</strong>, os professores<br />

precisam construir o saber em conjunto, refletindo juntos sobre que caminhos<br />

precisam ser articulados. Assim, apren<strong>de</strong>mos a li<strong>da</strong>r com todos os alu<strong>no</strong>s e construir<br />

conhecimentos sobre como organizar a <strong>escola</strong> para oferecer <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong><br />

161


quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois “[...] é assim que se avança o conhecimento, que não é <strong>um</strong>a<br />

revelação n<strong>um</strong> <strong>da</strong>do instante, nem mesmo n<strong>um</strong>a marcha linear e simples [...], mas<br />

<strong>um</strong>a estra<strong>da</strong>, cheio <strong>de</strong> complicados meandros, que acompanha os aci<strong>de</strong>ntes do<br />

terre<strong>no</strong>” (LEFEBVRE, 1995, p.103).<br />

Se houvesse a instituição <strong>de</strong>sse espaço-tempo para a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> pensar/refletir em<br />

conjunto, talvez a Escola Bansalu pu<strong>de</strong>sse questionar sobre: o papel do professor<br />

especialista <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>escola</strong>; os apoios necessários para se incluir <strong>um</strong> alu<strong>no</strong> surdo;<br />

<strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> avaliar sem causar exclusão dos alu<strong>no</strong>s; <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> avaliar que<br />

contribua para o processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>aprendizagem <strong>de</strong> todos; a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

educação que se oferece na uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>; <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> formação<br />

continua<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Enfim, podia parar e refletir sobre aquilo que o aflige e<br />

encontrar saí<strong>da</strong>s coletivas.<br />

O pensar coletivo traz <strong>um</strong> alívio e, <strong>de</strong> certa forma, diminui a ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />

professores e <strong>da</strong> <strong>escola</strong> nessa perspectiva <strong>de</strong> educação inclusiva, pois há sempre<br />

<strong>um</strong>a queixa sobre a não preparação para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> diferença. Quando<br />

apren<strong>de</strong>mos que o conhecimento é provisório e que se dá na interação com o outro,<br />

passamos a enten<strong>de</strong>r que as respostas para os problemas não estão <strong>da</strong><strong>da</strong>s, mas as<br />

ações <strong>de</strong>vem e precisam ser construí<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma artesanal, lembrando que são<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> construí<strong>da</strong> naquele cotidia<strong>no</strong>. Outro ponto a ser<br />

questionado é a visão clínico-médico que ain<strong>da</strong> serve <strong>de</strong> paradigma para olhar as<br />

crianças com <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. É preciso avançar e ressignificar esse<br />

olhar.<br />

162


É assim que olhamos as práticas avaliativas e o movimento <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> na Escola<br />

Bansalu. Nesse sentido, não cabe julgá-los, investigando se estão certos ou errados,<br />

mas é preciso enten<strong>de</strong>r essas práticas como <strong>um</strong>a representação <strong>da</strong> configuração<br />

vivi<strong>da</strong> pelos autores naquele espaço tempo. Isso remete a compreen<strong>de</strong>r o cotidia<strong>no</strong><br />

não como algo fechado, previsível; mas vê-lo aberto a <strong>no</strong>vas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. E<br />

ressaltamos a palavra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, tal como Esteban (2003, p. 18):<br />

163<br />

Quero ressaltar a palavra ‘possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>’. Não há certeza <strong>de</strong> que<br />

construiremos práticas me<strong>no</strong>s exclu<strong>de</strong>ntes na <strong>escola</strong>, mas po<strong>de</strong>mos<br />

visl<strong>um</strong>brar <strong>um</strong> movimento neste sentido. Portanto, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong>s<br />

convi<strong>da</strong> ao trabalho, árduo porque <strong>de</strong>sconhecido, <strong>de</strong> transformá-la em<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, visl<strong>um</strong>bramos o potencial <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

educacional <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> que po<strong>de</strong>m, com intervenção fruto <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

<strong>avaliação</strong> investigativa, apren<strong>de</strong>r <strong>no</strong> tempo e ritimo <strong>de</strong>les, mas apren<strong>de</strong>r com e como<br />

o outro; visl<strong>um</strong>bramos possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho colaborativo realizado entre<br />

professor especialista e professor <strong>da</strong> sala regular, com o intuito <strong>de</strong> favorecer não só<br />

a aprendizagem do alu<strong>no</strong> com <strong>de</strong>ficiência, mas favorecer a aprendizagem <strong>de</strong> todos;<br />

visl<strong>um</strong>bramos <strong>um</strong>a <strong>avaliação</strong> que contemple o dia-a-dia e que intervenha na “zona<br />

proximal” do alunado; visl<strong>um</strong>bramos a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho coletivo <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>da</strong> <strong>escola</strong>, <strong>no</strong> qual todos se sintam comprometidos com <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong>; visl<strong>um</strong>bramos espaços-tempos <strong>de</strong>stinados à reflexão e à formação<br />

continua<strong>da</strong> <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> <strong>escola</strong>; visl<strong>um</strong>bramos políticas públicas que não apenas<br />

cobrem atitu<strong>de</strong>s, mas que viabilizem recursos, condições para que haja <strong>inclusão</strong><br />

com <strong>um</strong>a educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.


Essas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>no</strong>s apontam <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio, mas também <strong>um</strong>a <strong>no</strong>va forma <strong>de</strong><br />

conceber o espaço-tempo <strong>escola</strong>r. Esteban (2001, p. 90) <strong>no</strong>s ensina:<br />

164<br />

A reflexão sobre a experiência vivi<strong>da</strong> é <strong>um</strong> caminho e <strong>um</strong> recurso<br />

fun<strong>da</strong>mental para instaurar <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, tendo como<br />

finali<strong>da</strong><strong>de</strong> construir <strong>no</strong>vas formas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que, embora não existam, po<strong>de</strong>m<br />

ser intuí<strong>da</strong>s na complexa tessitura que constitui a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> cotidiana.<br />

Quando olhamos a <strong>inclusão</strong> e a <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, percebemos que<br />

se faz necessário <strong>um</strong> outro olhar, <strong>um</strong>a outra forma <strong>de</strong> viver e conber a diferença, as<br />

práticas pe<strong>da</strong>gógicas, pois, como <strong>no</strong>s diz Ventorim (2006, p. 121):<br />

No caminho <strong>da</strong> educação inclusiva propõe-se ressignificar o já significado,<br />

<strong>de</strong>sconstruir o construído, <strong>de</strong>snaturalizar o tido como natural, suspeitar <strong>da</strong>s<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>da</strong>s certezas. Plurali<strong>da</strong><strong>de</strong>, transgressão, tolerância, incerteza,<br />

criação, estética, arte, territorialização, uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, re<strong>de</strong>, singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>no</strong>vas<br />

linguagens, diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, competência, prudência, política,<br />

aventura encanta<strong>da</strong> e estilos são alguns conceitos que movimentam o<br />

<strong>de</strong>bate sobre a emergência <strong>de</strong> <strong>um</strong> conhecimento ‘alternativo’ com, na e<br />

para a educação inclusiva.


9 REFERÊNCIAS<br />

1 AGUIAR, Ana Marta B. <strong>de</strong>. Caminhos e <strong>de</strong>scaminhos <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong> do<br />

<strong>de</strong>ficiente mental. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa <strong>de</strong><br />

Pós-graduação em Educação – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, Vitória,<br />

1999.<br />

2 ALARCÃO, Isabel. A <strong>escola</strong> reflexiva. In: ALARCÂO, Isabel (Org.). Escola<br />

reflexiva e <strong>no</strong>va racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porto Alegre: Artmed, 2001.<br />

3 ALMEIDA, Mariangela L. Formação continua<strong>da</strong> como processo crítico,<br />

reflexivo, colaborativo: possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a prática inclusiva.<br />

2004. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa <strong>de</strong> Pós–graduação em<br />

Educação, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, Vitória, 2004.<br />

4 ALVES, Nil<strong>da</strong>; GARCIA, Regina Leite. A invenção <strong>da</strong> <strong>escola</strong> a ca<strong>da</strong> dia. In:<br />

______. (Org.). A invenção <strong>da</strong> <strong>escola</strong> a ca<strong>da</strong> dia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2000.<br />

p.7-20.<br />

5 ALVES, Nil<strong>da</strong>. Decifrando o pergaminho: o cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s nas lógicas <strong>da</strong>s<br />

re<strong>de</strong>s cotidianas. In: OLIVEIRA, Inês B.; ALVES, Nil<strong>da</strong>. Pesquisa <strong>no</strong>/do<br />

cotidia<strong>no</strong> nas <strong>escola</strong>s: sobre re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saberes. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2002. p.<br />

13-38.<br />

6 AMARAL, Maria Apareci<strong>da</strong> F. Estudo sobre o encaminhamento <strong>de</strong> crianças à<br />

<strong>escola</strong> especial: <strong>um</strong>a negociação social. 2001. Dissertação (Mestrado em<br />

Educação) – Programa <strong>de</strong> Pós–graduação em Educação, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Espírito Santo, Vitória, 2001.<br />

7 AMARAL, Tatiana Platzer do. Encaminhamentos <strong>de</strong> crianças à classe especial: o<br />

registro oficial dos professores responsáveis. In: REUNIÃO ANUAL DA<br />

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM EDUCAÇÃO.<br />

24., 2001, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED, 2001. 1 CD-ROM.<br />

8 ANACHE, Alexandra A. Reflexões sobre o diagnóstico psicológico <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência<br />

mental utilizado em educação especial. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 24., 2001,<br />

Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED, 2001. 1 CD-ROM.<br />

9 ANDRÉ, Marli. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong>s diferenças na sala <strong>de</strong> aula. Campinas: Papirus,<br />

2001.<br />

165


10 ANDRÉ, Marli E. Dalmazo. <strong>de</strong>. Estudo <strong>de</strong> <strong>caso</strong> em pesquisa e <strong>avaliação</strong><br />

educacional. Brasília: Liber livro editora, 2005.<br />

11 ÁVILA, Ivany S. Das políticas públicas ao interior <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula: os sonhos<br />

possíveis. In: MOLL, Jaqueline (Col.). Ciclos na <strong>escola</strong>, tempos na vi<strong>da</strong>:<br />

criando possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 91-100.<br />

12 BARRIGA, Angel Díaz. Uma polêmica em relação ao exame. In: ESTEBAN,<br />

Maria Teresa (Org.). Avaliação: <strong>um</strong>a prática em busca <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos sentidos. 5. ed.<br />

Rio <strong>de</strong> janeiro: DP&A, 2003.<br />

13 BATISTA, C. R. Sobre as diferenças e as <strong>de</strong>svantagens: fala-se <strong>de</strong> qual<br />

educação especial? In: MARASCHIN, C. et al. (Org.). Psicologia e educação:<br />

multiversos sentidos, olhares e experiências. Porto Alegre: UFRGS Editora,<br />

2003.<br />

14 BAUMEL, Roseli C. Rocha <strong>de</strong> C. Escola inclusiva: questionamentos e direções.<br />

In: BAUMEL, R. C. R. <strong>de</strong>. SEMEGHINI, Idméa (Org.). Integrar/incluir: <strong>de</strong>safios<br />

para a <strong>escola</strong> atual. São Paulo: FEUSP, 1998.<br />

15 BERTAGNA, Regiane Helena. O formal e o informal em <strong>avaliação</strong>. In: FREITAS,<br />

Luiz Carlos <strong>de</strong>. (Org). Avaliação: construindo o campo e a crítica. Florianópolis:<br />

Insular, 2002. p. 231-256.<br />

16 BEYER, Hugo Otto. Inclusão e <strong>avaliação</strong> na <strong>escola</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais. Porto Alegre: Mediação, 2005.<br />

17 BIANCHETTI, Lucídio. Um olhar sobre a diferença: as múltiplas maneiras <strong>de</strong><br />

olhar e ser olhado e suas ocorrências. Revista Brasileira <strong>de</strong> Educação<br />

Especial, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual Paulista, Marília: Unesp, v. 08, nº 01, 2002.<br />

18 BORGES, Daniela C. et al. Diálogo entre mestrandos e graduandos: <strong>um</strong>a<br />

experiência <strong>de</strong> estágio. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA<br />

REGIÃO SUDESTE. 7., 2005, Belo Horizonte: UFMG/PUC. Anais... Belo<br />

Hotizonte, 2005.<br />

19 BORGES, Daniela C. et al. Estado <strong>da</strong> arte dos trabalhos apresentados na<br />

ANPED: <strong>um</strong> diálogo com a educação especial. In: ENCONTRO DE PESQUISA<br />

EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUDESTE. 7., 2005, Belo Horizonte: UFMG/PUC.<br />

Anais... Belo Hotizonte, 2005.<br />

20 BRASIL. Lei nº 9.394 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996. In: SAVIANI, Dermeval. A <strong>no</strong>va lei<br />

<strong>da</strong> educação. São Paulo: Autores Associados, 1997.<br />

21 BRASIL. Conselho Nacional De Educação; Câmara Educação Básica. Resolução<br />

nº 2, <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001. Diretrizes nacionais para a educação especial na<br />

educação básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001.<br />

22 BRZEZINSKI, Iria. Fun<strong>da</strong>mentos sociológicos, funções sociais e políticas <strong>da</strong><br />

<strong>escola</strong> reflexiva e emancipadora. In: ALARCÂO, Isabel (Org.). Escola reflexiva e<br />

<strong>no</strong>va racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porto Alegre: Artmed, 2001.<br />

166


23 BURBULES, Nicholas C. Uma gramática <strong>da</strong> diferença: alg<strong>um</strong>as formas <strong>de</strong><br />

repensar a diferença e a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> como tópicos educacionais. In: GARCIA,<br />

Regina L.; MOREIRA, Antonio Flávio B. (Org.). Currículo na<br />

contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>: incertezas e <strong>de</strong>safios. São Paulo: Cortez, 2003.<br />

24 BUENO, José Geraldo S. A <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ficientes nas classes comuns<br />

do ensi<strong>no</strong> regular. Temas sobre <strong>de</strong>senvolvimento, v. 09, n. 54, p. 21-27, 2001.<br />

25 BUENO, José Geraldo S. Inclusão <strong>escola</strong>r: <strong>um</strong>a crítica conceitual e política. In:<br />

SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA. 9., 2005, Vitória (ES). Anais... Vitória,<br />

2005. p. 32-48.<br />

26 CAETANO, Andressa M. O processo <strong>de</strong> <strong>escola</strong>rização <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com<br />

<strong>de</strong>ficiência mental incluídos nas séries finais do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental. 2002.<br />

Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa <strong>de</strong> Pós–Graduação em<br />

Educação, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, Vitória, 2002.<br />

27 CAPELLINI, Vera Lúcia Messias Fialho; MENDES, Enicéia Gonçalves. Alu<strong>no</strong>s<br />

com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacionais especiais em classes comuns: <strong>avaliação</strong> do<br />

rendimento acadêmico. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE<br />

PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 25., 2002, Caxambu. Anais...<br />

Caxambu: ANPED, 2002. 1 CD-ROM.<br />

28 CAPELLINI, Vera Lúcia Messias Fialho; MENDES, Enicéia Gonçalves. Avaliação<br />

do rendimento acadêmico <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência mental inseridos em classes<br />

comuns. In: MARQUEZINE, Maria Cristina; ALMEIDA, Maria Amélia; TANAKA,<br />

Elza D. O. (Org.). Avaliação em educação especial. Londrina: EDUEL, 2003.<br />

29 CAPELLINI, Vera Lúcia M. F. Avaliação <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do ensi<strong>no</strong><br />

colaborativo <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>escola</strong>r do alu<strong>no</strong> com <strong>de</strong>ficiência<br />

mental. 2004. Tese (Doutorado em Educação Especial) _ Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em Educação Especial, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos, São<br />

Carlos (SP), 2004.<br />

30 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. A invenção do cotidia<strong>no</strong>: artes <strong>de</strong> fazer. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Vozes, 1996<br />

31 CARVALHO, Janete M. O não-lugar dos professores <strong>no</strong>s entrelugares <strong>de</strong><br />

formação continua<strong>da</strong>. Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong> pesquisa em educação, Vitória, UFES,<br />

Centro Pe<strong>da</strong>gógico, Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação, v. 9, n. 17, 2003.<br />

32 ______. Pensando o currículo <strong>escola</strong>r a partir do outro que está em mim. In:<br />

FERRAÇO, Carlos Eduardo (Org.). Cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r, formação <strong>de</strong><br />

professores(as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2005.<br />

33 CARVALHO, Rosita E. Educação inclusiva: <strong>um</strong>a promessa <strong>de</strong> futuro. Porto<br />

Alegre: Mediação, 2002.<br />

167


34 DIAS SOBRINHO, José Dias. Campo e caminhos <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>: a <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong><br />

educação superior <strong>no</strong> Brasil. In: FREITAS, Luiz Carlos <strong>de</strong>. (Org.). Avaliação:<br />

construindo o campo e a crítica. Florianópolis: Insular, 2002. p. 13-62.<br />

35 ESTEBAN, Maria Teresa. A <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r. In: ______. (Org.).<br />

Avaliação: <strong>um</strong>a prática em busca <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos sentidos. 5. ed. DP&A, 2003. p. 7-<br />

28.<br />

36 ______. Ser professora: avaliar e ser avalia<strong>da</strong>. In: ______. (Org.). Escola,<br />

currículo e <strong>avaliação</strong>. São Paulo: Cortez, 2003. p. 13-37.<br />

37 _______. O que sabe quem erra? reflexões sobre a <strong>avaliação</strong> e fracasso<br />

<strong>escola</strong>r. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2001.<br />

38 _______. A <strong>avaliação</strong> <strong>no</strong> processo esni<strong>no</strong>/aprendizagem: os <strong>de</strong>safios. In:<br />

REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />

PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 25., 2002, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED,<br />

2002. 1 CD-ROM.<br />

39 _______. Avaliar: ato tecido pelas imprecisões do cotidia<strong>no</strong>. In: GARCIA, Regina<br />

Leite (Org.). Novos olhares sobre a alfabetização. São Paulo: Cortez, 2001.<br />

40 ESTEBAN, Maria Teresa; ZACCUR, Edwirges (Org.). Professora-pesquisadora<br />

<strong>um</strong>a práxis em construção. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP& A. 2002.<br />

41 FERRAZ, Maria Claudia R.; MACEDO, Stella Maris M. <strong>de</strong>. In: ESTEBAN, Maria<br />

Teresa. (Org.). Escola, currículo e <strong>avaliação</strong>. São Paulo: Cortez, 2003. p. 137-<br />

167.<br />

42 FERRAÇO, Carlos Eduardo. O cruzamento <strong>da</strong>s sombras vivido ou a busca pela<br />

estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do caos. In: SILVA, A. A.; BARROS, M.E. B. (Org.).<br />

Psicope<strong>da</strong>gogia: alguns hibridismos possíveis. Vitória: Saberes Instituto <strong>de</strong><br />

ensi<strong>no</strong>, 2000. p. 137-201.<br />

43 ______. Ensaio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a metodologia efêmera: ou sobre as várias maneiras <strong>de</strong> se<br />

sentir e inventar o cotidia<strong>no</strong>. In: OLIVEIRA, Inês B.; ALVES, Nil<strong>da</strong>. Pesquisa<br />

<strong>no</strong>/do cotidia<strong>no</strong> nas <strong>escola</strong>s: sobre re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saberes. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A,<br />

2002.<br />

44 FERREIRA, Júlio Romero . O GT educação especial: análise <strong>da</strong> trajetória e <strong>da</strong><br />

produção apresenta<strong>da</strong> (1991 – 2001). In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 25., 2002,<br />

Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED, 2002. 1 CD-ROM.<br />

45 GARCIA, Regina Leite. Da fronteira se po<strong>de</strong> alcançar <strong>um</strong> ângulo <strong>de</strong> visão muito<br />

mais amplo... embora nunca se veja tudo. In: CANDAU, Vera Maria. Ensinar e<br />

apren<strong>de</strong>r sujeitos, saberes e pesquisa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2000.<br />

168


46 GARCIA, Rosalba M. C. Políticas públicas para a educação especial e os<br />

discursos sobre a <strong>inclusão</strong>. In: SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA. 9.,<br />

2005, Vitória (ES). Anais... Vitória, 2005. p. 79-94.<br />

47 GENTILI, Pablo. A<strong>de</strong>us a <strong>escola</strong> pública: a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m neoliberal, a violência do<br />

mercado e o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>da</strong> educação <strong>da</strong>s maiorias. In: GENTILI, Pablo (Org.).<br />

Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> exclusão: crítica ao neoliberalismo em educação. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Vozes, 1998.<br />

48 GÓES, Maria Cecília R., Desafios <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s especiais: a<br />

<strong>escola</strong>rização do aprendiz e sua cosntituição como pessoa. In: GÓES, Maria<br />

Cecília R.; LAPLANE, Adriana L. Friszman (Org.). Políticas e práticas <strong>de</strong><br />

educação inclusiva. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. p. 21-48.<br />

49 GONÇALVES, Ag<strong>da</strong> F. S. A <strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas<br />

especiais pela via do trabalho coletivo. 2003. Dissertação (Mestrado em<br />

Educação) – Programa <strong>de</strong> Pós–graduação em Educação, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Espírito Santo, Vitória, 2003.<br />

50 GONSALVES, Elisa Pereira. Da ciência e <strong>de</strong> outros saberes: trilhas <strong>da</strong><br />

investigação científica na pós-mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Campinas (SP): Alínea, 2004.<br />

51 GONZÁLES, José Antonio Torres. Educação e diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>: bases<br />

organizativas. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />

52 HELLER, H. O cotidia<strong>no</strong> e a história. São Paulo: José Olympio,1992.<br />

53 JESUS, Denise Meyrelles. Educação Inclusiva: construindo <strong>no</strong>vos caminhos.<br />

2002. Tese (Pós-Doutrado em Educação) - Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2002.<br />

54 ______. Formação continua<strong>da</strong>: construindo <strong>um</strong> diálogo entre teoria, prática,<br />

pesquisa e educação Inclusiva. SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO<br />

ESPECIAL: MAPEANDO PRODUÇÕES, 1., 2005, Vitória. Anais..., Vitória, 2005.<br />

1 CD-ROM.<br />

55 ______; CAETANO, A, M.; AGUIAR, Ana M. B. <strong>de</strong>. Convivendo com a diferença:<br />

os alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na <strong>escola</strong> regular. In: REUNIÃO ANUAL DA<br />

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM EDUCAÇÃO.<br />

24., 2001, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED, 2001. 1 CD-ROM.<br />

56 LACERDA, Cristina B. Feitosa <strong>de</strong>. Reflexões sobre a experiência <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong><br />

<strong>escola</strong>r para alu<strong>no</strong>s surdos e ouvintes. In: SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO<br />

INCLUSIVA. 9., 2005, Vitória (ES). Anais... Vitória: UFES, 2005. p. 94-103.<br />

57 LACERDA, Cristina B. Feitosa; LODI, Ana Claudia B. Uma experiência <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong> <strong>escola</strong>r <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s surdos <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> infantil e fun<strong>da</strong>mental. In:<br />

SEMINÁRIO CAPIXABA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA. 10., 2006, Vitória (ES).<br />

Anais... Vitória: UFES, 2006. p. 45-49..<br />

169


58 LEFEBVRE, Henri. Lógica formal/lógica dialética. 6. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1995.<br />

59 LEFEBVRE, Henri. A vi<strong>da</strong> cotidiana <strong>no</strong> mundo mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>. São Paulo: Ática,<br />

1991.<br />

60 LINHARES, Célia. Políticas hegemônicas: implicações à formação docente. In:<br />

SEMINÁRIO CAPIXABA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA. 10., 2006, Vitória (ES).<br />

Anais... Vitória: UFES, 2006. p. 24-34.<br />

61 LOUVEM, Mônica A. Porto. Inclusão <strong>escola</strong>r em análise: movimentos<br />

autogestivos <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>escola</strong> – criando possíveis. 2005. Dissertação<br />

(Mestrado em Educação) – Programa <strong>de</strong> Pós–Graduação em Educação,<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, Vitória, 2005.<br />

62 LÜDKE, Menga. Um olhar crítico sobre o campo <strong>da</strong> <strong>avaliação</strong>. In: FREITAS, Luiz<br />

Carlos <strong>de</strong>. (Org.). Avaliação: construindo o campo e a crítica. Florianópolis:<br />

Insular, 2002.<br />

63 LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abor<strong>da</strong>gens<br />

qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.<br />

64 MARQUES, Carlos Alberto. A construção do a<strong>no</strong>rmal: <strong>um</strong>a estratégia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />

PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 24., 2001, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED,<br />

2001. 1 CD-ROM.<br />

65 MANTOAN, Maria Teresa Eglér (Org.). Abrindo as <strong>escola</strong>s às diferenças.<br />

pensando e fazendo educação <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2001.<br />

66 MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Produção <strong>de</strong> conhecimentos para a abertura <strong>da</strong>s<br />

<strong>escola</strong>s às diferenças: a contribuição do LEPED (UNICAMP). In: ROSA, D. E. G;<br />

SOUZA, V. C. (Org.). Políticas organizativas e curriculares, educação<br />

inclusiva e formação <strong>de</strong> professores. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2002.<br />

67 MANZINI, Eduardo José. Consi<strong>de</strong>rações sobre a entrevista para a pesquisa em<br />

educação e educação especial: <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> sobre Análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos. SEMINÁRIO<br />

DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL: MAPEANDO PRODUÇÕES, 1.,<br />

2005, Vitória. Anais..., Vitória, 2005. 1 CD-ROM.<br />

68 MATOS, Kelma S. Lopes <strong>de</strong>; VIEIRA, Sofia L. Pesquisa educacional: o prazer<br />

<strong>de</strong> conhecer. 2. ed. Fortaleza: edições Demócrito Rocha, 2002.<br />

69 MENDES, Enicéia G. Perspectivas para a construção <strong>da</strong> <strong>escola</strong> inclusiva <strong>no</strong><br />

Brasil. In: PALHARES, M. S.; MARINS, S. Escola inclusiva. São Carlos/SP:<br />

EdUFSCar, 2002. p. 61-85.<br />

70 MENDÉZ, Juan M. A. Avaliar para conhecer examinar para excluir. Porto<br />

Alegre: Artmed, 2002.<br />

170


71 MENENGUCI, Lilian P. Entrelaçando singulares e múltiplos: tarefa/<strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />

educar na perspectiva <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. 2005. Dissertação (Mestrado em<br />

Educação) – Programa <strong>de</strong> Pós–Graduação em Educação, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Espírito Santo, Vitória, 2005.<br />

72 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. O acesso <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência às<br />

<strong>escola</strong>s e classes comuns <strong>da</strong> re<strong>de</strong> regular. Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral:<br />

Fun<strong>da</strong>ção Procurador Pedro Jorge <strong>de</strong> Melo e Silva (Org.). 2. ed. rev. e atual.<br />

Brasília: Procuradoria Fe<strong>de</strong>ral dos Direitos do Ci<strong>da</strong>dão, 2004.<br />

73 MIZUKAMI, Maria <strong>da</strong>s Graças N. et al. Escola e aprendizagem <strong>da</strong> docência:<br />

processos <strong>de</strong> investigação e formação. São Carlos: EduFScar, 2002.<br />

74 NUNES, Leila R. O. <strong>de</strong> P; FERREIRA, Júlio R.; MENDES, Enicéia G. Teses e<br />

dissertações sobre educação especial: os temas mais investigados. In: ALMEIDA,<br />

M. A; MARQUESINE, M.C; OMOTE, Sa<strong>da</strong>o. Colóquios sobre pesquisa em<br />

educação especial. Londrina: Eduel, 2003.<br />

75 ______. Questões atuais em educação especial: pesquisa em educação<br />

especial na pós-graduação. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Sete Letras, 1998.<br />

76 OLIVEIRA, Inês Barbosa <strong>de</strong>; PACHECO, Dirceu C. Avaliação e currículo <strong>no</strong><br />

cotidia<strong>no</strong> <strong>escola</strong>r. In: ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Escola, currículo e<br />

<strong>avaliação</strong>. São Paulo: Cortez, 2003. p.119-136.<br />

77 PADILHA, Anna Maria Lunardi. Possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> histórias ao contrário: ou<br />

como <strong>de</strong>sencaminhar o alu<strong>no</strong> <strong>da</strong> classe especial. 2. ed. São Paulo: Plexus<br />

Editora, 2001.<br />

78 _______. Práticas pe<strong>da</strong>gógicas na educação especial: a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

significar o mundo e a inserção cultural do <strong>de</strong>ficiente mental. São Paulo: Autores<br />

Associados, 2001.<br />

79 ______. O que fazer para não excluir Davi, Hil<strong>da</strong>, Diogo. In: GÓES, Maria Cecília<br />

R.; LAPLANE, Adriana L. Friszman (Org.). Políticas e práticas <strong>de</strong> educação<br />

inclusiva. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. p. 93-120.<br />

80 PENIN, Sonia. Cotidia<strong>no</strong> e <strong>escola</strong>: a obra em construção. São Paulo: Cortez,<br />

1989.<br />

81 PORTER, G. Organização <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s: conseguir o acesso e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> através<br />

<strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>. In: AINSCOW, M.; PORTER, G.; WANG, M. Caminhos para as<br />

<strong>escola</strong>s inclusivas. Lisboa: Instituto <strong>de</strong> I<strong>no</strong>vação Educacional, 1997.<br />

82 PRIETO, Rosângela G. Políticas <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> <strong>escola</strong>r <strong>no</strong> Brasil: <strong>de</strong>scrição e<br />

análise <strong>de</strong> sua implementação em municípios <strong>da</strong>s diferentes regiões. In:<br />

REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />

PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 27., 2004, Caxambu. Anais... Caxambu: ANPED,<br />

2004. 1 CD-ROM.<br />

171


83 RIBEIRO, Maria Luisa S. Perspectiva <strong>da</strong> <strong>escola</strong> inclusiva: alg<strong>um</strong>as reflexões. In:<br />

RIBEIRO, Maria Luisa S.; BAUMEL, R.C.R. <strong>de</strong> C. (Org.). Educação especial: do<br />

querer ao fazer. São Paulo: Avercamp, 2003. 41-52.<br />

84 RIBETTO, Anelice. et al. Conversas sobre <strong>avaliação</strong> e comunicação. In:<br />

ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Escola, currículo e <strong>avaliação</strong>. São Paulo:<br />

Cortez, 2003. p.119-136.<br />

85 RODRIGUES, Armindo J. Contextos <strong>de</strong> aprendizagens e integração/<strong>inclusão</strong> <strong>de</strong><br />

alu<strong>no</strong>s com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas especiais. In: RIBEIRO, Maria Luisa S.;<br />

BAUMEL, R.C.R. <strong>de</strong> C. (Org.). Educação especial: do querer ao fazer. São<br />

Paulo: Avercamp, 2003. p. 13-26.<br />

86 ROLDÃO, M. C. A mu<strong>da</strong>nça anuncia<strong>da</strong> na <strong>escola</strong> ou o paradigma <strong>de</strong> <strong>escola</strong> em<br />

ruptura? In: ALARCÃO, Izabel. (Org.). Escola reflexiva e <strong>no</strong>va racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 115-134,<br />

87 SACRISTÁN, José Gime<strong>no</strong>. A construção do discurso sobre a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e suas<br />

práticas. In: ALCUDIA, Rosa. Atenção à diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porto Alegre: Artmed,<br />

2002. p. 13 – 38.<br />

88 ______. O alu<strong>no</strong> como invenção. Porto Alegre: Artmed, 2005.<br />

89 ______ ; GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreen<strong>de</strong>r e transformar o ensi<strong>no</strong>. Tradução<br />

<strong>de</strong> Ernani F. <strong>da</strong> Fonseca Rosa. 4. ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.<br />

90 SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r. Exclusão ou <strong>inclusão</strong> perversa. In: SAWAIA, B. (Org.). As<br />

artimanhas <strong>da</strong> <strong>inclusão</strong>: análise psicossocial e ética <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social.<br />

São Paulo: Vozes, 2002. p. 7-13;<br />

91 STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: <strong>um</strong> guia para educadores. Porto<br />

Alegre: Artmed, 1999.<br />

92 SOARES, Fabiana Martins R.; LACERDA, Cristina B. Feitosa. O alu<strong>no</strong> surdo em<br />

<strong>escola</strong> regular: <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> sobre a construção <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>. In: GÓES,<br />

Maria Cecília R.; LAPLANE, Adriana L. Friszman (Org.). Políticas e práticas <strong>de</strong><br />

educação inclusiva. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. p.121-148.<br />

93 SANTOS, Mônica P.; PAULINO, Marcos M. Inclusão em educação: <strong>um</strong>a visão<br />

geral. In: ______ (Org.). Inclusão em educação: culturas, políticas e práticas.<br />

São Paulo: Cortez, 2006. p.11-16.<br />

94 SOUZA, Marta A. <strong>da</strong> C. Avaliação: <strong>um</strong> olhar diferenciado na perspectiva <strong>da</strong><br />

<strong>inclusão</strong>. 2004. (mimeografado)<br />

95 TRIVIÑOS, Augusto N. Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a<br />

pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.<br />

96 VALLEJO, José M. B. Escola aberta e formação <strong>de</strong> professores: elementos<br />

para a compreensão e a intervenção didática. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2003.<br />

172


97 VENTORIM, Silvana. Formação <strong>de</strong> professores com, na e para a educação<br />

inclusiva. In: SEMINÁRIO CAPIXABA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA. 10., 2006,<br />

Vitória (ES). Anais... Vitória: UFES, 2006. p. 113-121.<br />

98 VICTOR, Sonia. O <strong>de</strong>bate sobre as representações dos alu<strong>no</strong>s com <strong>de</strong>ficiência<br />

na educação infantil: riscos `a proposta <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong>. In: SEMINÁRIO CAPIXABA<br />

DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA. 10., 2006, Vitória (ES). Anais... Vitória: UFES,<br />

2006. p. 122-134.<br />

99 ZEMELMAN, Hugo. Sujeito e sentido: consi<strong>de</strong>rações sobre a vinculação do<br />

sujeito ao conhecimento que constrói. In: SANTOS, Boaventura Sousa (Org.).<br />

Conhecimento pru<strong>de</strong>nte para <strong>um</strong>a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>cente. São Paulo: Cortez, 2004.<br />

173


APÊNDICES<br />

174


APÊNDICE A – ENTREVISTA REALIZADA COM OS PROFESSORES DA ESCOLA<br />

BANSALU.<br />

ROTEIRO DE ENTREVISTA A SER APLICADO AOS PROFESSORES DA ESCOLA<br />

PROFISSÃO<br />

1) QUAL A SUA FUNÇÃO E A SÉRIE?<br />

2) QUANTOS ANOS VOCÊ TRABALHA NO MAGISTÉRIO?<br />

QUAL A SUA FORMAÇÃO?<br />

3) COMO VOCÊ COMPLETA SUA FORMAÇÃO?<br />

4) JÁ FEZ ALGUM CURSO SOBRE INCLUSÃO OU SOBRE EDUCAÇÃO<br />

ESPECIAL?<br />

INCLUSÃO<br />

175<br />

1) VOCÊ TEM ALGUM ALUNO COM NEE NA SUA SALA? QUAL?<br />

2) O QUE É INCLUSÃO PARA VOCÊ?<br />

3) O QUE VOCÊ ACHA DA INCLUSÃO?<br />

4) QUAL A SUA MAIOR DIFICULDADE EM LIDAR COM OS ALUNOS? E COM<br />

AQUELES QUE TEM ALGUMA DEFICIÊNCIA?<br />

5) COMO TEM SIDO SEU TRABALHO PEDAGÓGICO JUNTO AOS ALUNOS<br />

COM NECESSIDADES ESPECIAIS?<br />

6) VOCÊ RECEBE ALGUM APOIO PARA LIDAR COM ESSES ALUNOS?<br />

AVALIAÇÃO<br />

1) PARA VOCÊ O QUE É AVALIAR?<br />

2) COMO VOCÊ AVALIA? QUAIS OS INSTRUMENTOS QUE VOCÊ USA?<br />

3) COMO A ESCOLA ORIENTA A QUESTÃO DA AVALIAÇÃO?<br />

4) HÁ ALGUMA DIFERENÇA ENTRE A AVALIAÇÃO DOS ALUNOS COM NEE<br />

E OS ALUNOS DITOS NORMAIS?<br />

5) COMO VOCÊ PERCEBE O DESEMPENHO DOS ALUNOS? O QUE VOCÊ<br />

PROPÕE A PARTIR DO DIAGNÓSTICO?<br />

6) QUAL A SUA MAIOR DIFICULDADE PARA AVALIÁ-LOS?<br />

7) NO FINAL DO ANO LETIVO O QUE TEM MAIS PESO PARA A DECISÃO DE<br />

APROVAÇÃO?


APÊNDICE B – ENTREVISTA REALIZADA COM OS PEDAGOGOS E<br />

DIRETORES.<br />

PROFISSÃO<br />

ROTEIRO DE ENTREVISTA A SER APLICADO AOS PEDAGOGOS E<br />

DIRETORES<br />

176<br />

1) QUAL A SUA FUNÇÃO?<br />

2) QUANTOS ANOS VOCÊ TRABALHA NO MAGISTÉRIO? E NESSA<br />

FUNÇÃO?<br />

3) QUAL A SUA FORMAÇÃO?<br />

4) COMO VOCÊ COMPLETA SUA FORMAÇÃO?<br />

5) JÁ FEZ ALGUM CURSO SOBRE INCLUSÃO OU SOBRE EDUCAÇÃO<br />

ESPECIAL?<br />

INCLUSÃO<br />

1) VOCÊS TÊM ALGUM ALUNO COM NEE NESSA ESCOLA? QUANTOS?<br />

QUAL?<br />

2) O QUE É INCLUSÃO PARA VOCÊ?<br />

3) O QUE VOCÊ ACHA DA INCLUSÃO?<br />

4) COMO A ESCOLA TEM IMPLEMENTADO A INCLUSÃO? QUAIS AÇÕES<br />

TÊM SIDO FEITAS?<br />

5) QUAL A MAIOR DIFICULDADE QUE A ESCOLA TEM ENFRENTADO<br />

PARA LIDAR COM OS ALUNOS? E COM AQUELES QUE TEM ALGUMA<br />

DEFICIÊNCIA?<br />

6) COMO TEM SIDO SEU TRABALHO PEDAGÓGICO JUNTO AOS<br />

PROFESSORES PARA LIDAR COM OS ALUNOS COM NECESSIDADES<br />

ESPECIAIS?<br />

7) VOCÊ RECEBE ALGUM APOIO PARA LIDAR COM ESSES ALUNOS?<br />

AVALIAÇÃO<br />

1) PARA VOCÊ O QUE É AVALIAR?<br />

2) COMO A ESCOLA ORIENTA A QUESTÃO DA AVALIAÇÃO? QUAIS OS<br />

INSTRUMENTOS?<br />

3) HÁ ALGUMA ORIENTAÇÃO DIFERENCIADA ENTRE A AVALIAÇÃO<br />

DOS ALUNOS COM NEE E OS ALUNOS DITOS NORMAIS?<br />

4) QUAIS OS ENCAMINHAMENTOS PROPOSTOS A PARTIR DO<br />

DIAGNÓSTICO DE DESEMPENHO DOS ALUNOS COM NEE?<br />

5) QUAL A MAIOR DIFICULDADE ENFRENTADA PARA AVALIÁ-LOS?<br />

6) NO FINAL DO ANO LETIVO O QUE A ESCOLA PONDERA SOBRE A<br />

DECISÃO DE APROVAÇÃO DESSES ALUNOS?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!