OS FLAGELADOS - Eduardo Campos
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CHUVAS<br />
“Do interior chegam-nos notícias promissoras,<br />
alvissareiras, se bem que tardias, de francos aguaceiros.<br />
Bemditas esperanças ressurgidas! Os campos amortecidos<br />
fremem, embebedam-se voluptuosamente de águas cálidas<br />
do céu como ressequidos estendais de árvores semimortas<br />
que são. O homem rude do sertão alivia-se da amarga<br />
opressão que lhe aperta o cérebro como vigorosas tenazes,<br />
apenas tarda a visita hibernal que, assim, rouba as poucas<br />
economias de um trabalho assíduo, intenso...”<br />
12.3.1915<br />
O CALOR<br />
“Chegam-nos notícias de chuvas no interior. Um dos<br />
nossos companheiros ouviu de um cidadão, no bond, que<br />
apanhou três horas de aguaceiro no Baú. Antes assim. Mas<br />
o que não cessa em Fortaleza, é o calor estafante. Sua-se à<br />
ufa. A vida tem de correr. E é uma tortura. Mas, assim como<br />
veio a chuva, virá também tempo ameno. Esperamos.”<br />
12.3.1915<br />
QUADRO SÓBRIO<br />
“Notícias do Cariri dizem a que estado se acha reduzida<br />
aquela fértil região. Devastada por uma revolução que esgotou<br />
os seus grandes celeiros, reduziu à metade sua creação e<br />
sacrificou a safra do ano passado, vê-se agora na iminência<br />
de uma crise climática que, nas atuais condições, é um golpe<br />
de morte à sua proverbial prosperidade. Com as três chuvas<br />
caídas este ano, já não é possível contar-se com a colheita de<br />
cereais. As primeiras plantações estarreceram com a canícula<br />
de fevereiro e a falta de sementes impossibilita nova tentativa<br />
nesse sentido, mesmo na hipótese de reaparecer o inverno.”<br />
16.3.1915<br />
140 EDUARDO CAMP<strong>OS</strong>