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em revista - AAI Brasil/RS

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10<br />

página<br />

Capa<br />

Um LUGar Para ViVer<br />

iniciativas como o transition towns procuram deixar os espaços urbanos melhor qualificados e<br />

sustentáveis, e a arquitetura é um dos muitos campos que pode contribuir para esse fim<br />

A atual situação das cidades, independente do seu nível de<br />

desenvolvimento, t<strong>em</strong> sido motivo de preocupação para os mais<br />

variados segmentos da sociedade mundial, e v<strong>em</strong> levando muitas<br />

pessoas a se organizar<strong>em</strong> e iniciar<strong>em</strong> mudanças <strong>em</strong> suas comunidades.<br />

É dentro desse espírito de mobilização civil e de sua articulação<br />

com governos locais e setores <strong>em</strong>presariais que nasceu<br />

o Transition Towns (Cidades <strong>em</strong> Transição), que propõe ações que<br />

vão desde a criação de planos para a redução de uso de energia<br />

até atividades educacionais e de conscientização sobre o consumo<br />

racional. É o caso do projeto Coisas do Vizinho, <strong>em</strong> andamento<br />

<strong>em</strong> Pombal, Portugal, como ex<strong>em</strong>plifica a arq. Izabele Colusso,<br />

doutoranda <strong>em</strong> Planejamento Urbano e Regional e professora da<br />

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unisinos. Ela conta que<br />

a meta é formar uma rede de troca de artigos usados e de serviços<br />

produzidos no lugar. “Assim, os participantes conhec<strong>em</strong> o poder<br />

que um grupo possui para lidar com desafios, como passar por<br />

uma crise econômica, e ainda contribuir para a diminuição das<br />

<strong>em</strong>issões de carbono, através do conceito de reutilização”, frisa.<br />

Tornar as localidades mais sustentáveis e resistentes às conjunturas<br />

externas são outros objetivos do movimento para transformar<br />

as cidades e amenizar os probl<strong>em</strong>as existentes. Dificuldades<br />

essas decorrentes, segundo a arq. Ana Rosa Cé, mestre <strong>em</strong><br />

Desenho Urbano pela Universidade de Oxford e professora da<br />

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC<strong>RS</strong>, do crescimento<br />

populacional, da migração descontrolada, da expansão do território<br />

ocupado de maneira irregular e da industrialização, aliadas<br />

à ineficiência de políticas públicas que respondam às d<strong>em</strong>andas<br />

reais. Na realidade nacional, o principal obstáculo é a baixa qualidade<br />

do ambiente urbano, avalia o arq. Fernando Ernesto Pasquali,<br />

professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da<br />

Unisinos. Para ele, a exceção de alguns bairros mais abastados,<br />

as ruas são degradadas e os municípios não possu<strong>em</strong> espaços<br />

com os equipamentos públicos de lazer, cultura, educação e saúde<br />

necessários. Ele pondera, também, que grande parcela dos<br />

brasileiros vive <strong>em</strong> extensas áreas periféricas, normalmente de<br />

baixa densidade populacional, com precária infraestrutura e ca-<br />

<strong>Brasil</strong>ândia é a primeira transition towns do <strong>Brasil</strong><br />

Formada por mais de c<strong>em</strong> favelas, a <strong>Brasil</strong>ândia, localizada na<br />

Zona Norte de São Paulo, é pioneira no País no desenvolvimento de<br />

atividades <strong>em</strong> sintonia com as propostas do movimento Cidades <strong>em</strong><br />

Transição (Transition Towns – TT). Conforme o Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de<br />

Geografia e Estatística (IBGE), a região reúne cerca de 247 mil habitantes<br />

e conta com os piores Índices de Desenvolvimento Humano<br />

da cidade. De acordo com a Fundação Stickel, organização que levou<br />

os princípios e objetivos do Transition Towns para o local, o processo<br />

para transformar <strong>Brasil</strong>ândia <strong>em</strong> uma área mais sustentável e com<br />

alternativas de renda abrange ações <strong>em</strong> saúde, educação, cultura,<br />

rência de sist<strong>em</strong>as de transporte adequados. “Nesse cenário, o<br />

desafio da arquitetura é resistir à tendência de deterioração das<br />

vias e da formação de guetos. As propostas dev<strong>em</strong> valorizar o<br />

ambiente urbano e não ignorá-lo”, defende Pasquali.<br />

Os profissionais do setor têm o importante papel de protagonistas<br />

da produção da cidade real, na avaliação de Ana Rosa, através<br />

de planos urbanísticos e arquitetônicos compreensíveis, articulados<br />

e integrados ao local existente e que incorpor<strong>em</strong> às novas estruturas<br />

as técnicas comprovadas de eficiência construtiva. “A inserção<br />

de uma obra <strong>em</strong> uma rua requer o reconhecimento do caráter daquele<br />

lugar, da relação com a vizinhança imediata e do impacto na<br />

vida normal de sua população”, afirma. A arq. Zaida Amaral, especializada<br />

no projeto de ecovilas e treinadora certificada do Transition<br />

Towns, acrescenta que cabe aos arquitetos repensar quesitos<br />

como mobilidade, consumo de energia da edificação erguida e a<br />

inclusão da comunidade como parte do desenho do espaço.<br />

Caminhos qualificados<br />

Para se alcançar cidades mais sustentáveis, os especialistas<br />

defend<strong>em</strong> a incorporação de soluções que privilegi<strong>em</strong> iluminação<br />

e ventilação naturais, orientação das fachadas e proteção solar e<br />

estratégias de conforto ambiental para redução do consumo de<br />

energia. “Não pod<strong>em</strong>os ser tão irresponsáveis a ponto de continuarmos<br />

projetando frentes inteiras <strong>em</strong> vidro, s<strong>em</strong> nenhuma<br />

preocupação com o consumo energético”, argumenta Pasquali.<br />

Ana Rosa frisa, ainda, o <strong>em</strong>prego de recursos naturais regionais<br />

e renováveis, evitando longos deslocamentos, e o estímulo a mão<br />

de obra local. “Processos de controle desses materiais, como<br />

sist<strong>em</strong>as inteligentes de gerenciamento de d<strong>em</strong>anda de energia<br />

e reuso de águas servidas, através de tratamento e reciclag<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> pequena escala, conscientizam a população ao impactar<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> sua vida diária”, reforça.<br />

Para se reverter o quadro de crescimento desordenado dos<br />

municípios, na avaliação de Ana Rosa, dev<strong>em</strong> ser planejados, a<br />

longo prazo, serviços de transporte público e redes de ciclovias<br />

para reduzir a dependência do veículo individual, o gasto com<br />

economia e meio ambiente, envolvendo os moradores para pensar<strong>em</strong><br />

soluções para os probl<strong>em</strong>as locais.<br />

Após seis meses de articulações, <strong>Brasil</strong>ândia tornou-se oficialmente<br />

uma TT <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro de 2010. Entre as iniciativas p<strong>revista</strong>s estão<br />

a recomposição florestal do Parque da Cantareira e a instalação de<br />

hortas <strong>em</strong> terrenos ociosos. Feiras de trocas incentivarão a economia<br />

solidária. A superintendente da Fundação Stickel, Monica Picavea,<br />

destaca que, até agora, o movimento tinha foco <strong>em</strong> bairros de classe<br />

média e alta e que a experiência do <strong>Brasil</strong> é inovadora ao aplicar<br />

os conceitos das Cidades <strong>em</strong> Transição <strong>em</strong> comunidades pobres.<br />

Fontes: Agências de notícias e Fundação Stickel<br />

Imagens Divulgação/Todescan Siciliano Arquitetura

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