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em revista - AAI Brasil/RS

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página<br />

Ent<strong>revista</strong><br />

Idealizador do Transition Towns, Cidades <strong>em</strong> Transição, o permaculturista<br />

inglês Rob Hopkins, falou com o <strong>AAI</strong> <strong>em</strong> <strong>revista</strong> e<br />

contou mais sobre o movimento e o papel da arquitetura na<br />

melhoria das cidades. Hopkins é professor de permacultura e de<br />

construção natural há dez anos, especialista <strong>em</strong> ecovilas e um<br />

ativista ambiental de destaque, acumulando diversos prêmios.<br />

Criou o primeiro curso de permacultura <strong>em</strong> período integral do<br />

mundo, no Kinsale Further Education College, na Irlanda, e coordenou<br />

o processo de transformação do município de Kinsale,<br />

que adotou as diretrizes do movimento <strong>em</strong> seu plano de gestão.<br />

<strong>AAI</strong> <strong>em</strong> <strong>revista</strong> - Como foi o início das Cidades <strong>em</strong> Transição?<br />

Rob Hopkins - Tudo começou <strong>em</strong> Kinsale, na Irlanda, onde lecionava<br />

<strong>em</strong> uma faculdade. Na época, passei a aprofundar meu conhecimento<br />

sobre o pico do petróleo e as alterações climáticas e decidi dar aos<br />

meus alunos um projeto para observar o que aconteceria a uma cidade<br />

caso nos afastáss<strong>em</strong>os da dependência desse combustível fóssil.<br />

Quando me mudei para a Inglaterra, a intenção era aprofundar a<br />

proposta e, desde então, a transição absorve ideias e inspirações de<br />

diferentes modelos e conceitos. A partir da experiência <strong>em</strong> Totnes<br />

(Inglaterra), <strong>em</strong> 2005, o movimento se espalhou. E acabamos de ter<br />

o primeiro lançamento no <strong>Brasil</strong>, <strong>em</strong> uma favela <strong>em</strong> São Paulo.<br />

<strong>AAI</strong> - Quais as ações iniciais para criar essas cidades?<br />

Hopkins - Exist<strong>em</strong> vários “ingredientes” para começar o processo,<br />

mas que são postos <strong>em</strong> prática de maneiras distintas. Inicialmente,<br />

ocorre uma sensibilização para instruir a comunidade sobre as mudanças<br />

climáticas e o pico petrolífero. Depois, são discutidas formas<br />

de engajar as pessoas sobre os assuntos e, então, é feito um evento<br />

de lançamento. Cada vez mais pod<strong>em</strong>os observar<br />

os rumos que o movimento está tomando<br />

<strong>em</strong> criar um comprometimento social, de geração<br />

de negócios e de meios de subsistência <strong>em</strong><br />

torno desse cenário. Em geral, grupos de transição<br />

trabalham para se tornar uma associação<br />

de desenvolvimento local, baseada no conceito<br />

de fazer com que a economia do lugar se torne<br />

mais forte e resistente.<br />

<strong>AAI</strong> - Quais os aspectos mais difíceis no desenvolvimento?<br />

Hopkins - Um dos desafios é o fato desses projetos<br />

ser<strong>em</strong> normalmente dirigidos por voluntários<br />

e requer<strong>em</strong> apoio financeiro, o que pode<br />

dificultar sustentar a longo prazo essa dinâmica.<br />

E há s<strong>em</strong>pre questões <strong>em</strong> torno de conflito de<br />

opiniões envolvidos e se esses grupos são capazes<br />

de trabalhar juntos.<br />

<strong>AAI</strong> - Que resultados foram notados <strong>em</strong> Totnes?<br />

Hopkins - T<strong>em</strong>os o Transition Streets (Ruas <strong>em</strong><br />

Transição) – uma ação local, de rua <strong>em</strong> rua, para<br />

apoiar pessoas a reduzir<strong>em</strong> o consumo de energia,<br />

de água e de <strong>em</strong>issão de carbono. Cerca de<br />

10% da população se envolveu na iniciativa e,<br />

desses, um terço instalou sist<strong>em</strong>as de energia<br />

solar. Estimamos que cada família envolvida, de<br />

acordo com dados coletados, tenha salvado 1,2<br />

toneladas de carbono e economizado <strong>em</strong> torno<br />

de 600 libras por ano (R$ 1.596,00). A cidade<br />

lançou, recent<strong>em</strong>ente, uma <strong>em</strong>presa de energia<br />

custeada pela comunidade que fará investimentos<br />

de grande escala <strong>em</strong> fontes renováveis.<br />

<strong>AAI</strong> - A arquitetura pode auxiliar pela sustentabilidade?<br />

Hopkins - O desafio é avançar na redução de<br />

o mUndo meLHor<br />

Rob Hopkin é idealizador do<br />

movimento Transition Towns<br />

carbono, tanto <strong>em</strong> termos de uso (idealmente eliminando o <strong>em</strong>prego<br />

de aquecimento artificial ou ventilação), mas, também, no que se<br />

refere aos materiais utilizados. Uma troca por produtos da região já<br />

teria um impacto econômico benéfico. Há um projeto no País de Gales<br />

onde foram erguidos dois edifícios nos padrões de “Casa Ecológica”,<br />

usando 90% de artigos locais, o que é um avanço. O objetivo é<br />

que um novo desenvolvimento também integre a produção de alimentos<br />

e de recolhimento de água.<br />

<strong>AAI</strong> - Há outros ex<strong>em</strong>plos arquitetônicos?<br />

Hopkins - O Transition Towns é relativamente novo, com cerca de<br />

quatro anos, e qualquer plano de construção significativo d<strong>em</strong>ora<br />

mais do que isso para ser desenvolvido. Em Totnes, existe o projeto<br />

Transition Homes (Casas de Transição), cuja intenção é construir casas<br />

<strong>em</strong>pregando predominant<strong>em</strong>ente materiais locais e treinar a comunidade<br />

para usá-los. Estamos planejando comprar um terreno perto<br />

da estação ferroviária da cidade para desenvolver habitações a preços<br />

acessíveis e para ser um lugar catalisador de negócios para <strong>em</strong>preendimentos<br />

de transição. Recent<strong>em</strong>ente, publicamos o livro Local<br />

Sustainable Homes (Casas Locais Sustentáveis) com diferentes propostas<br />

<strong>em</strong> construções e habitações.<br />

<strong>AAI</strong> - Qual é o espaço para o crescimento <strong>em</strong> termos de arquitetura<br />

e Transition Towns?<br />

Hopkins - A questão é como a arquitetura e a criação de moradias<br />

acontecerão <strong>em</strong> um mundo de preços voláteis de energia, <strong>em</strong> que a<br />

dependência energética influencia o modo como os materiais são<br />

produzidos, transportados para o local, tratados e, posteriormente,<br />

eliminados. Essa será uma preocupação fundamental para determinar<br />

se um plano é viável ou não. Portanto, para nós,<br />

os principais desafios para a arquitetura são elaborar<br />

planos com o uso de materiais da região,<br />

com elevados níveis de eficiência energética e<br />

envolvendo as comunidades no processo de<br />

construção, nos quais os benefícios do projeto<br />

permaneçam no lugar. Além disso, elaborar propostas<br />

<strong>em</strong> que a produção de alimentos esteja<br />

s<strong>em</strong>pre presente.<br />

<strong>AAI</strong> - Como mudar as edificações existentes?<br />

Hopkins - Esse é outro obstáculo a ser ultrapassado.<br />

Como pod<strong>em</strong>os construir novos prédios,<br />

uma vez que 80% dos imóveis que ter<strong>em</strong>os até<br />

2050 já exist<strong>em</strong>? Essa é uma área enorme e grande<br />

parte do trabalho de adaptação (retrofit) é<br />

feita com produtos industriais, importados de<br />

longe. A maioria dos projetos <strong>em</strong> andamento é<br />

<strong>em</strong> torno de novas edificações, mas a questão<br />

é como readaptar imóveis <strong>em</strong>pregando materiais<br />

naturais locais. Não conheço muitas pessoas<br />

que estão olhando para esse probl<strong>em</strong>a. É onde<br />

o esforço deve ser concentrado.<br />

Foto Rosalie Portman/Divulgação Transition Towns<br />

<strong>AAI</strong> - Quais suas recomendações para os arquitetos<br />

no <strong>Brasil</strong>?<br />

Hopkins - O ponto chave para mim é o que eles<br />

estão fazendo e as respostas que vêm dando<br />

para questões como criar projetos <strong>em</strong> um mundo<br />

com preços voláteis de energia, possível escassez<br />

de materias e com baixas <strong>em</strong>issões de<br />

carbono. Qualquer planejamento deve ser encarado<br />

no contexto de como ele pode estimular<br />

a economia local, gerando o maior número de<br />

postos de trabalho na região e estimulando novos<br />

<strong>em</strong>preendimentos.<br />

*Ent<strong>revista</strong> realizada pela jornalista Daniela Gross, da Irlanda.

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