AMOR PATERNO - AMOR MATERNO - Instituto Paulo Freire
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O Padre Lepargneur, autor de numerosas obras educacionais, foi um dos<br />
primeiros educadores brasileiros a falar da questão da autonomia da escola e da<br />
autonomia intelectual do aluno. Sinto-me honrado em poder reproduzir na íntegra a sua<br />
carta neste artigo pois é um convite à reflexão sobre a paternidade e também um notável<br />
depoimento pessoal que poucos intelectuais costumam fazer. Concordo com ele: pais e<br />
filhos podem ser igual ontologicamente, mas são profundamente diferentes quanto às<br />
responsabilidades de cada um. Nunca respondi a carta de Lepargneur. Talvez o esteja<br />
fazendo agora, do meu jeito, com um enorme agradecimento.<br />
Não sei o que pensam os que me escreveram. Talvez até tenham mudado de<br />
opinião. Este artigo que estou escrevendo é também uma resposta a alguns deles e um<br />
agradecimento a eles por terem tomado o seu tempo para me escrever sem receber<br />
resposta que hoje certamente já não esperam mais. Entre eles está a psicóloga Suely<br />
Ongaro, de Botucatu (19 de março de 1985), preocupada com o mesmo tema, a médica<br />
Maria de Lourdes F. Fontes, mãe de Vitor e de Lídia (Vitória da Conquista, Bahia, 6 de<br />
julho de 1987) que tanto aprendeu com o amor de sua mãe e o advogado Joel Samways<br />
Neto de Curitiba (15 de abril de 1986) que ficou sensibilizado com a leitura do livro e<br />
explica: “Vai aí muito de minha história, do amor que sinto por meu pai”. Anna Izabel<br />
Albuquerque de Macapá em 1995 me apresentou sua filha Inaê: deu esse nome por<br />
causa do livro. Disse-me que Inaê, significa “palmeira fina”, alta e delgada” numa certa<br />
língua indígena que esqueci. Vem de “Inaia”, que significa “açaí”, fruta típica da<br />
Amazônia. Eu lhe disse que também havia dado o nome de Inaê por causa de um livro:<br />
Mar morto, de Jorge Amado. Para o autor “Inaê” é um dos doze nomes de Iemanjá,<br />
rainha do mar.<br />
Ao Padre Lepargneur gostaria de agradecer e dizer que é preciso romper com<br />
uma estrutura familiar fechada, quebrar suas muralhas milenares para compreender<br />
porque é possível amar mais e de uma forma ainda mais sublime os nossos filhos se<br />
amarmos todas as crianças do mundo. Não significa abolir a família, mas criar uma<br />
“pluralidade de relações” (Georges Snyders, 1984) e de instituições que não se resumam<br />
solitariamente nela. Casais que vivem juntos ou não, relações prolongadas com os filhos<br />
ou não, pais biológicos ou não, etc. são formas possíveis que poderiam conviver<br />
harmoniosamente, sem serem todas elas reduzidas a uma instituição padrão. O pai não é<br />
necessariamente o progenitor ou reprodutor. Como diz <strong>Paulo</strong> Silveira (1996:1) pai é a<br />
“figura ligado ao homem com o qual a criança ciará laços afetivos e o elegerá como tal,<br />
mas não necessariamente o reprodutor”. Ele faz referência por exemplo aos meninos e<br />
meninas de rua que abandonam os seus progenitores e escolhem os seus “pais” na luta<br />
pela vida. Aquele que chamamos pai pode pode não ser necessariamente nosso genitor.<br />
Pode ser uma mulher.<br />
Pensamos a família ainda com parâmetros medievais ou burgueses. O que deve<br />
fazer, por exemplo, um pai que se separa com dois filhos e depois assume um novo<br />
casamento?<br />
A sociedade pouco tem pensado nisso. Eu me pergunto: como organizar uma<br />
sociedade onde pais e filhos separados possam viver felizes? Hoje é ainda uma causa<br />
sem partido. Os pais separados não podem, sozinhos, enfrentar a educação de seus<br />
filhos pois essa educação depende muito de como o meio aceita a separação. Dependerá<br />
muito de como o meio receber e perceber essas crianças: na escola, entre os amigos, no<br />
lazer, no trabalho.<br />
Se o leitor deste artigo tiver uma empregada em casa, interrompa a leitura agora<br />
e pergunte a ela onde estão os filhos dela neste momento. Li uma estatística na Folha de<br />
S. <strong>Paulo</strong>, em 1996, que 40% dos filhos de empregadas domésticas estão sem assistência<br />
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