AMOR PATERNO - AMOR MATERNO - Instituto Paulo Freire
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para a informática - do que um ato educativo. As professoras que buscam a profissão<br />
porque dizem sentir amor pelas crianças, não devem sentir complexo de culpa por isso.<br />
Elas estão preocupadas com a educação e não com a pura transferência de<br />
conhecimentos.<br />
Eis o que me escreveu uma psicóloga de Campinas dia 7 defevereiro de 1989.<br />
Para Moacir Gadottti<br />
A leitura de Dialética do amor paterno mexeu muito comigo. É um<br />
livro que li no domingo e segunda de Carnaval, estando só com meus filhos,<br />
em casa, cuidando deles, questionando a minha relação com o pai deles,<br />
triste, com muito desejo de uma vida melhor.<br />
O livro funcionou como uma oração. Senti muita necessidade de me<br />
aproximar de você pois me identifiquei enormemente com suas idéias...<br />
Meu filho acordou e eu preciso ficar com ele. Preciso e quero.<br />
Tchau. Regina...<br />
Veio a vontade de me expressar mais e daí surgiu esta segunda<br />
página. Talvez devido à preocupação em não mostrar somente o emocional.<br />
O seu livro me tocou bastante, também, no lado profissional. Sou<br />
psicóloga e presto assistência a gestantes e mães, e suas colocações vieram<br />
de encontro com muito do que eu penso. Estou com a idéia de usá-lo nos<br />
grupos de reflexão.<br />
Mas o que mais me encantou, com certeza, foi o fato de você estar<br />
falando de suas próprias vivências. É imprescindível que os “cientistas”<br />
falem, em público, de suas próprias experiências. É uma maneira super<br />
importante, eficiente e bonita de se descobrir caminhos, e eu percebo hoje,<br />
como nunca percebi antes, que mundo de coisas temos ainda por descobrir.<br />
As teorias estão aí, são fundamentais, mas a maioria dos<br />
intelectuais tem a mania de enquadrar tudo, de dar todas as explicações,<br />
onipotentemente. Eu vejo muito bem isto com a psicanálise e seu uso.<br />
Se seu livro modifica a sua trajetória como intelectual, como lhe<br />
disseram, eu digo - que coisa boa aconteceu com você. Até, Regina<br />
Sarmento.<br />
No livro Dialética do amor paterno eu conto como alguns colegas me criticaram<br />
porque estava me expondo através de um depoimento sobre a minha experiência de vida<br />
com meus filhos. Diziam-me que deveria guardar essas coisas comigo e que iria<br />
prejudicar minha carreira profissional se eu me abrisse tanto. Perplexo inicialmente,<br />
logo fiquei amorosamente com raiva. Depois passou. Cartas como as de Regina<br />
Sarmento me indicam hoje que estava certo ao não aceitar o conselho deles. Um ano<br />
após a publicação daquele livro, a Universidade de São <strong>Paulo</strong> e a Universidade Estadual<br />
de Campinas organizaram, a primeira em outubro e a segundo em dezembro, o<br />
“Seminário do Pai”.<br />
4 - PAI É AQUELE QUE SABE PARTIR<br />
Quando escrevei em Dialética do amor paterno que a separação é uma<br />
“antecipação da morte” é porque nem uma e nem outra podem ser evitadas. Elas fazem<br />
parte da natureza do ser humano. A morte - também um tema difícil de tratar - é a<br />
separação final (definitiva?) de uma série de separações. Partimos antes de nossos<br />
filhos. É a regra. Mas será que para ser pai é preciso saber partir? E o filho: para ser ele<br />
mesmo e não o retrato do pai, não terá ele também que partir?<br />
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