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AMOR PATERNO - AMOR MATERNO - Instituto Paulo Freire

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simplesmente, que você “espionava” a minha família e o nosso<br />

relacionamento. E se outros lessem, acredito, teriam a mesma sensação,<br />

portanto, o que você escreveu não foi só o seu cotidiano foi, também, o<br />

nosso, pais. E o que você fez foi e é muito importante. Parabéns. Abraços.<br />

Bagdassar Minassian.<br />

Essa parece ser também a tônica de outras cartas que recebi de outros leitores.<br />

Diziam-se não só “espionados” mas que os nomes dos meus filhos que eu utilizava na<br />

leitura de outros leitores apareciam com outros nomes.<br />

João Pessoa, 21 de maio de 1985.<br />

Li seu livro. Quase de um fôlego só. Possivelmente vou re-ler.<br />

Então, de lápis vermelho, pois, ora fi-lo de lápis preto. É manhãzinha e<br />

dentro de uma hora estarei em sala de aula: UFPA, onde seus livros<br />

circulam...<br />

Me fez muito bem. Na altura dos meus 57 anos, tenho um Dimitri<br />

(leia Ramon: 7 anos) e uma Inaê (leia Raissa... homenagem a Raissa<br />

Maritain, esposa do meu querido Jacques Maitain em cujos 30 livros<br />

calquei minha Dissertação de Filosofia na UFRJ). Me fez e vai fazê-lo e a<br />

muitos em sala de aula: sou professor de Filosofia da Educação e Educação<br />

Brasileira.<br />

Continue escrevendo. É jovem e sacudido. Pena que certos<br />

apologistas da Dialética não aceitem muito a dialética para si e suas idéias.<br />

Acredito que não é o seu caso. É uma alegria estar enviando esse dedinho<br />

de prosa para você, assim como um dia fi-lo para o Rubem Alves... Um<br />

abraço. F. Lúcio.<br />

O livro parece que tocou a todos e a todas que o leram porque conta a história do<br />

leitor tambem. E aí eu venho me perguntanto: “Por que um tema que toca a tanta gente,<br />

que concerne a todos, tenha tão pouca literatura publicada?”<br />

No dia 20 de janeiro de 1997 minha filha Inaê completou 20 anos. Fomos<br />

celebrar no Clube dos Professores da USP. Lá, num cantinho do restaurante, perguntei a<br />

ela se havia sofrido muito com a separação. Eu me separei da Clarinha, sua mãe, quando<br />

ela acabava de completar 7 anos. Ela me respondeu: “Acho que o Dimitri, com 11 anos,<br />

sofreu mais porque ele entendia o que estava acontecendo. Eu apenas perguntava para a<br />

mamãe: “Quando é que o papai vai voltar de viagem? Por que ele está demorando tanto<br />

tempo?”. Em toda partida há perdas. Em toda perda há grande dor. Também para quem<br />

parte.<br />

As relações entre pais e filhos, além de indissolúveis, são sempre únicas. É<br />

impossível estabelecer regras válidas em geral. Por isso nesse campo, creio que valem<br />

mais os depoimentos, porque históricos e situados dentro de contextos concretos.<br />

Quando mostramos essas complexas relações, às vezes, palavras não dizem nada.<br />

Muitas vezes um pequeno gesto, um olhar, diz muito mais. Sentar-se ao lado do pai ou<br />

do filho em silêncio, olhar para uma árvore, um passarinho, juntos, diz mais do que mil<br />

palavras de solidariedade ou uma centena de declarações de amor. Para amar basta estar<br />

em presença. Às vezes é tão difícil dizer alguma coisa, sobretudo quando se tem culpa<br />

ou simplesmente quando se está com saudades, esse delicioso e doloroso estado de ser e<br />

estar presente e passado ao mesmo tempo.<br />

Eu costumo falar muito de saudades, por isso me perguntaram, certa vez, como<br />

eu definia esse estado. Não soube responder, mas lembrei-me de algumas cenas de<br />

filmes que vi: o olhar da mãe que volta ao quarto vazio do filho que acaba de perder e<br />

da cena final do filme “Pelle, o conquistador”, de Bille August. Trata-se de uma<br />

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