A IGREJA MATRIZ DE TONDELA - Paróquia de Santa Maria de ...
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A <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA<br />
- Resenha histórica -<br />
António Manuel Matoso Martinho*<br />
A partir da terceira década, da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX,<br />
a dinâmica urbana <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la vai modificar-se profundamente.<br />
Na sequência da política <strong>de</strong> fomento iniciada, em 1852, com<br />
Fontes Pereira <strong>de</strong> Melo (1) que visava gerar os estímulos<br />
indispensáveis ao <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo industrial e<br />
financeiro era necessário que se proce<strong>de</strong>sse a um <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
aperfeiçoamento do nosso sistema viário <strong>de</strong> maneira a torná-lo rápido<br />
e barato. Esta política <strong>de</strong> fomento viário levou à abertura <strong>de</strong> novas<br />
estradas que passavam em Ton<strong>de</strong>la – a estrada real nº 8 ligando<br />
Mealhada a Viseu e a estrada real n.º 45 que ligava Aveiro a Ton<strong>de</strong>la,<br />
passando pela Serra do Caramulo.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la acentua-se, em gran<strong>de</strong> parte,<br />
<strong>de</strong>vido à sua situação geográfica na confluência das duas vias <strong>de</strong><br />
comunicação uma vez que punham os homens e as populações em<br />
contacto, uns com os outros, constituindo o “sistema circulatório <strong>de</strong><br />
todo o organismo social”.<br />
E o seu <strong>de</strong>senvolvimento vai provocar um aumento populacional<br />
que gera, também, uma nova centralida<strong>de</strong> e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
edificar uma nova Igreja Matriz – a actual – que se vai localizar na<br />
confluência <strong>de</strong>ssas vias <strong>de</strong> comunicação constituindo como uma<br />
espécie <strong>de</strong> remate ou andar superior do povoado ton<strong>de</strong>lense<br />
marcando-lhe, por isso, o seu perfil sobressaindo <strong>de</strong>sse mesmo<br />
aglomerado e parecendo dar pela linha vertical da sua torre um impulso<br />
para o Céu.<br />
Para a edificação da nova Matriz houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
proce<strong>de</strong>r à expropriação <strong>de</strong> terrenos como o <strong>de</strong>monstra o seguinte<br />
<strong>de</strong>creto:<br />
“Tendo a Junta <strong>de</strong> <strong>Paróquia</strong> da freguesia <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, nos termos<br />
do artigo 167.6 do Código Administrativo, <strong>de</strong>liberado requerer a<br />
expropriação por utilida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> duas porções contíguas <strong>de</strong><br />
terreno pertencentes aos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> D. <strong>Maria</strong> Horta e <strong>de</strong> Rachel <strong>de</strong><br />
Almeida, para obter o local on<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> ser edificada a sua nova igreja<br />
matriz; e havendo sido, a requerimento da mencionada junta <strong>de</strong><br />
<strong>Paróquia</strong>, instaurado o respectivo processo em conformida<strong>de</strong> com a<br />
carta <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1850, hei por bem conformando-me com<br />
o parecer da conferência dos fiscais da coroa e fazenda, <strong>de</strong>cretar a<br />
utilida<strong>de</strong> pública da expropriação dos terrenos constantes das plantas<br />
parcelares que acompanham o presente <strong>de</strong>creto (...). O ministro e<br />
secretário <strong>de</strong> estado dos negócios do reino afim o tenha entendido e<br />
faça executar – Paço, em 8 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1879 –Rei [D. Luís] – António<br />
Rodrigues Sampaio.<br />
A 3 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1879, o Administrador do Concelho <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la,<br />
Dr. António Marques <strong>de</strong> Oliveira, através do oficial <strong>de</strong> diligências<br />
manda intimar os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> D. <strong>Maria</strong> Horta e Rachel <strong>de</strong> Almeida da<br />
expropriação dos citados terrenos, junto ao largo <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>na, por<br />
utilida<strong>de</strong> pública.
Posteriormente, a Junta <strong>de</strong> <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la representada<br />
pelo seu Presi<strong>de</strong>nte Caetano Cardoso Figueira e pelos vogais Albino<br />
José Pereira da Silva, Manuel José Pereira Correia, António Simão e<br />
Germano José <strong>de</strong> Matos dirige petição ao Juiz <strong>de</strong> Direito no sentido<br />
<strong>de</strong> que, após os trâmites legais, man<strong>de</strong> avaliar a in<strong>de</strong>mnização que a<br />
Junta <strong>de</strong> <strong>Paróquia</strong> terá <strong>de</strong> pagar.<br />
Cumpridas todas estas formalida<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>u-se à construção<br />
da nova Igreja Matriz em estilo neogótico, <strong>de</strong> uma só nave, com arco<br />
cruzeiro e altares em talha, conhecendo-se as propostas <strong>de</strong><br />
orçamento para a execução do projecto do muro e escadas do adro,<br />
no valor <strong>de</strong> 710 e 720 mil réis.<br />
A escadaria principal teria 12 <strong>de</strong>graus curvilíneos, formados por<br />
três arcos <strong>de</strong> círculo aparelhados a picofino e com as arestas tiradas<br />
a cinzel.<br />
As alvenarias seriam <strong>de</strong> granito e as guardas e o cordão do<br />
muro em cantaria bem aparelhada a picofino e as arestas igualmente<br />
tiradas a cinzel.<br />
Conhecem-se, igualmente, as condições para a empreitada “da<br />
cobertura e mais trabalhos <strong>de</strong> carpintaria precisos na igreja matriz <strong>de</strong><br />
Ton<strong>de</strong>la”, sendo o prazo para a sua execução <strong>de</strong> 120 dias a partir da<br />
data da sua aprovação.<br />
A Igreja Matriz ficou concluída em 1889.<br />
Em 1958, a Igreja Matriz começou a dar sinais <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong>gradação e o seu Reitor, Padre José Tavares Baptista, tomou a<br />
iniciativa <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r ao seu restauro.<br />
Com as obras <strong>de</strong> beneficiação realizadas, entre 1958 e 1964, a<br />
Igreja Matriz sofreu profundas modificações que a <strong>de</strong>scaracterizaram –<br />
<strong>de</strong>struição da <strong>de</strong>coração do altar-mor e altares laterais e rebaixamento<br />
da sua altura interior.<br />
Em 1989, comemoraram-se os Cem Anos da construção da Igreja<br />
Matriz com várias cerimónias e activida<strong>de</strong>s realizadas no dia 8 <strong>de</strong><br />
Outubro. A Sessão Solene foi presidida pelo Vigário Geral da Diocese,<br />
em representação do Bispo <strong>de</strong> Viseu, D. António Monteiro em que<br />
produziram intervenções os representantes dos vários movimentos<br />
paroquiais e o Dr. António Martinho que historiou as origens da<br />
<strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, encerrando a sessão o Vigário Geral da Diocese.<br />
Ao fim da tar<strong>de</strong> o Senhor Bispo <strong>de</strong> Viseu, D. António Monteiro,<br />
presidiu à celebração da Eucaristia na Igreja Matriz.<br />
Em 1999, sendo já Pároco <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, o Padre Carlos Ângelo,<br />
em colaboração com o Conselho Paroquial, <strong>de</strong>cidiu iniciar os estudos<br />
conducentes ao restauro da Igreja Matriz visando recuperar a sua traça<br />
original. Nesse sentido, vão ser auscultados vários serviços e<br />
instituições oficiais e, entre eles, a Comissão Diocesana <strong>de</strong> Arte Sacra<br />
que, após profundos estudos, aconselharam e apoiaram o Padre<br />
Carlos Ângelo e o Conselho Paroquial a realizar a recuperação da<br />
Igreja Matriz.<br />
O restauro da Igreja Matriz processou-se em duas fases –<br />
realização <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> construção civil (1999-2003), a cargo da
Firma José da Costa e Filhos Lda e, posteriormente, a execução <strong>de</strong><br />
um retábulo e sua aplicação (2006-2008).<br />
As obras <strong>de</strong> construção civil abrangeram – a recuperação e<br />
restauro das pare<strong>de</strong>s interiores e exteriores pela remoção do reboco<br />
<strong>de</strong> saibro e colocação <strong>de</strong> um novo reboco; isolamento da torre e<br />
janelas; substituição da estrutura do coro por uma placa <strong>de</strong> cimento;<br />
arranjo da sacristia e piso superior à mesma o que iria permitir a<br />
utilização <strong>de</strong>stes espaços em função das necessida<strong>de</strong>s actuais da<br />
Igreja e limpeza geral da cantaria interior e exterior do edifício e do<br />
adro acompanhada <strong>de</strong> pavimentação, electrificação e sistema <strong>de</strong><br />
drenagem das águas do adro.<br />
No início dos trabalhos <strong>de</strong> construção civil constatou-se que,<br />
nas obras <strong>de</strong> restauro, dos finais da década <strong>de</strong> 50, a altura das naves<br />
e da capela-mor tinha sido rebaixada o que levou, agora, à realização<br />
<strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> recuperação da altura original da Igreja, com<br />
<strong>de</strong>molição do tecto e cornija <strong>de</strong> cimento colocando à vista a cornija<br />
primitiva em granito.<br />
Após conclusão <strong>de</strong>stes trabalhos proce<strong>de</strong>u-se à execução e<br />
aplicação do tecto em caixotões <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> castanho com um<br />
motivo extraído dos púlpitos, “peça remanescente do enquadramento<br />
primitivo da Igreja”, obra executada pela empresa “Arte e Talha –<br />
Conservação e Restauro – Unipessoal, L.da”, <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> Comba Dão.<br />
A segunda fase dos trabalhos <strong>de</strong> restauro envolveu a<br />
concepção, a execução e a aplicação do retábulo.<br />
A concepção-execução do retábulo visava recuperar as linhas e<br />
volumes originariamente presentes na Igreja uma vez que, como<br />
escreveu o Padre Carlos Ângelo o gran<strong>de</strong> objectivo do restauro<br />
consistia em <strong>de</strong>volver à Igreja “aquela que é “a matriz” dos seus<br />
espaços celebrativos, uma renovada presença <strong>de</strong> beleza” (2).<br />
Deste modo, o retábulo teria <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r “às legítimas aspirações<br />
<strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> que exprimia a sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um enquadramento<br />
primitivo do seu espaço celebrativo, entretanto <strong>de</strong>saparecido, e, por<br />
outro lado, acrescentar uma nota <strong>de</strong> contemporaneida<strong>de</strong>”.<br />
Na realida<strong>de</strong> o retábulo recuperou as linhas e os volumes da<br />
<strong>de</strong>coração da velha Igreja Matriz “com base nos seus elementos<br />
remanescentes, tais como os púlpitos, tocheiros, guarda-vento e<br />
sacrário”, foi concebido e executado, pela empresa “Arte e Talha”, a<br />
mesma que já executara os caixotões do tecto da Igreja e iria montar,<br />
igualmente, o políptico fruto “do engenho e da arte” <strong>de</strong> Serge Nouailhat<br />
(3).<br />
O políptico é constituído por 6 gran<strong>de</strong>s telas distribuídas por três<br />
níveis – na base as telas da “Anunciação”, “Nascimento do Menino” e<br />
“Bodas <strong>de</strong> Caná”, no segundo nível “Ascensão” e “Pentecostes” e no<br />
último “Ressurreição” para o qual aponta todo o conjunto artístico<br />
“verda<strong>de</strong>iro oxigénio <strong>de</strong> beleza”.<br />
Após um período <strong>de</strong> estudo e reflexão do projecto do políptico o<br />
contrato <strong>de</strong> adjudicação foi assinado a 7 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2007 (4).<br />
O Comendador Eduardo Brás, entretanto falecido, realizou a<br />
dádiva do políptico oferecendo cada tela, por cada um dos seus filhos.
A cerimónia <strong>de</strong> inauguração do retábulo da Igreja Matriz, “Para<br />
maior Glória <strong>de</strong> Deus”, realizou-se no dia 16 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2008,<br />
Domingo <strong>de</strong> Ramos (5), como consta num memorial, em lugar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>staque, no adro da Igreja, constituído por uma placa <strong>de</strong> granito<br />
com a antiga Cruz, em ferro forjado, que encimava a torre sineira da<br />
Igreja, aí chumbada e colocada pelo ton<strong>de</strong>lense A<strong>de</strong>lino Lopes, e que<br />
fora substituída por uma cruz luminosa, em 1977.<br />
O memorial contém as seguintes palavras (6):<br />
AD MAIOREM <strong>DE</strong>I GLORIAM/TABULAE/MATRICIS<br />
TEMPLI/INAUGURATIO/DOMINICA IN PALMIS/<strong>DE</strong> PASSIONE<br />
DOMINI/TON<strong>DE</strong>LLAE/ANNO MMVIII/DIE XVI/MARTII MENSIS<br />
Uma outra placa comemorativa, colocada na pare<strong>de</strong> frontal<br />
direita da Igreja, foi <strong>de</strong>scerrada pelo Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal<br />
e pelos filhos do falecido Comendador Eduardo Brás presentes em<br />
tão solene acto e on<strong>de</strong> se lê (7):<br />
AEDILITATI MUNICIPALI/AC COMMENDATORI/EDUARDO BRAS/EIUSQUE<br />
FAMILIAE/PAROCHIA TON<strong>DE</strong>LLENSIS/SEMPER GRATA<br />
A história da Igreja Matriz mostra-nos, assim, como ela foi ao<br />
longo dos séculos fonte e símbolo <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> religiosa e tem<br />
vinculada a si a história da antiga vila, hoje, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la.<br />
NOTAS<br />
*Professor Universitário; Professor-Investigador no Centro <strong>de</strong> Estudos Interdisciplinares<br />
do Século XX, da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra (CEIS20). O presente texto faz parte <strong>de</strong> um<br />
artigo a ser publicado proximamente.<br />
(1)- Dec. <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1852, Diário do Governo, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1852.<br />
(2)- “Liturgia da Luz” – Exposição <strong>de</strong> Pintura – Arte Sacra Contemporânea; Ton<strong>de</strong>la, 2008 (cit.).<br />
(3)- Serge Nouailhat, nasceu em Rennes, em 1960. Des<strong>de</strong> cedo manifestou gran<strong>de</strong> interesse pela<br />
arte, ingressando com 18 anos, na Escola Nacional Superior <strong>de</strong> Artes Aplicadas e das Profissões<br />
Artísticas, em Paris.<br />
Casou, em 1982, prosseguindo a sua formação na Escola Normal Superior <strong>de</strong> Cachan. É graças à<br />
sua evolução espiritual que concretiza a sua vocação <strong>de</strong> artista. A<strong>de</strong>re à Comunida<strong>de</strong> Católica das<br />
Bem-aventuranças on<strong>de</strong> realiza as suas primeiras obras, como pintor <strong>de</strong> vitrais. Vive na Abbaye<br />
Blanche, em Mortain.<br />
Chagal e outros contemporâneos bem como os mestres do século XVI influenciam a sua<br />
produção artística, assumindo a técnica do vitral um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na sua criação.<br />
Nouailhat <strong>de</strong>senvolve, a partir <strong>de</strong> 1984, uma obra diversificada como pintor e como vitralista<br />
estando, presentemente, a concluir os vitrais para uma igreja na Sibéria e para a recém criada<br />
paróquia <strong>de</strong> Callao, em Lima, no Peru.<br />
(4)- O valor dos trabalhos em talha e douramento e as pinturas cifraram-se em 241.880,00 Euros.<br />
(5)- A inauguração do Retábulo foi antecedida duma Exposição <strong>de</strong> Pintura – Arte Sacra<br />
Contemporânea, <strong>de</strong> Serge Nouailhat, <strong>de</strong>nominada “Liturgia da Luz”, que <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong><br />
Fevereiro a 16 <strong>de</strong> Março, apoiada pela Fundação Arca da Aliança, entida<strong>de</strong> tutelar da Galeria S.<br />
Miguel (Fátima), <strong>de</strong> que é Presi<strong>de</strong>nte o Padre Joaquim Rodrigues Ventura, com apoio logístico da<br />
Câmara Municipal <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la.<br />
Após a cerimónia <strong>de</strong> inauguração realizou-se na Igreja Matriz “O Concerto <strong>de</strong> Páscoa 2008” pela<br />
Orquestra <strong>de</strong> Música Clássica do Centro, interpretando o “Requiem” <strong>de</strong> Mozart, sendo regente o<br />
maestro Virgílio Caseiro, acompanhada pelo Choral Aeminium dirigido por Cristina Faria. Foram<br />
solistas Carlos Guilherme (tenor), António Salgado (barítono), Margarida Reis (mezzo-soprano) e<br />
Ana Paula Russo (soprano).<br />
(6)- Tradução: Para maior Glória <strong>de</strong> Deus / Inauguração / Do Retábulo da Igreja Matriz / Domingo<br />
<strong>de</strong> Ramos da Paixão do Senhor / Ton<strong>de</strong>la, XVI <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> MMVIII.<br />
(7)- Tradução: Á Câmara Municipal / Ao Comendador Eduardo Braz / E à sua Família / A <strong>Paróquia</strong><br />
<strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la / Eternamente agra<strong>de</strong>cida.
CRONOLOGIA - <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA<br />
1850 Alargamento da estrada real n.º 8 ligando Mealhada a Viseu no interior da vila e<br />
construção da estrada real n.º 45 ligando Aveiro a Ton<strong>de</strong>la;<br />
1879 Decreto do Rei D. Luís expropriando, por utilida<strong>de</strong> pública, terrenos para a<br />
construção da nova Igreja Matriz;<br />
1889 Conclusão da construção da nova Igreja Matriz;<br />
1958-1964 Obras <strong>de</strong> restauro na Igreja Matriz;<br />
1973-1974 Colocação do novo relógio na torre sineira da Igreja substituindo o velho<br />
relógio <strong>de</strong> pesos;<br />
1977 Substituição, na torre sineira, da Cruz em ferro forjado por uma Cruz luminosa<br />
1989 Comemorações dos Cem Anos da Igreja Matriz, com a presença do Bispo <strong>de</strong><br />
Viseu D. António Monteiro.<br />
1992-1997 Construção do Centro Paroquial, junto à Igreja Matriz, sendo Reitor o<br />
Cónego José Tavares Baptista;<br />
1999-2003 Início dos estudos conducentes ao restauro da Igreja Matriz visando<br />
recuperar a sua traça primitiva; Obras <strong>de</strong> restauro na Igreja Matriz;<br />
2008 Inauguração do retábulo do altar-mor e do políptico <strong>de</strong> Serge Nouailhat com a<br />
presença do bispo <strong>de</strong> Viseu, D. Ilídio Leandro.<br />
PÁROCOS DA <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA<br />
- <strong>de</strong> 1889 a 1912 o Padre Inácio Pires <strong>de</strong> Melo, <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la;<br />
- <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1912 a Julho <strong>de</strong> 1913 o Padre José <strong>de</strong> Matos Ferreira, <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la;<br />
- <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1913 a 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> l914 Padre Arnaldo Marques <strong>de</strong> Moura, pároco<br />
em Couto do Mosteiro, que, interinamente, foi encarregado da paróquia;<br />
- <strong>de</strong> fins <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1914 a 1919 Padre José Marques das Neves;<br />
- <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1919 a Outubro <strong>de</strong> 1953 Padre Dr. António <strong>Maria</strong> Cardoso, <strong>de</strong><br />
Castelões;<br />
- <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1953 a 14 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1997, Cónego José Tavares Baptista;<br />
- A partir <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1997 Padre Dr. Carlos Ângelo Silva Ferreira, da<br />
Congregação dos Missionários Claretianos.<br />
PROJECTO DO POLÍPTICO<br />
PARA O RETÁBULO DA <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA
Sumária exegese iconográfica do políptico<br />
que figura no retábulo da Igreja Matriz <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la<br />
Depois do período <strong>de</strong> aturada reflexão estabeleceu-se o<br />
programa iconográfico da seguinte maneira:<br />
As telas inferiores <strong>de</strong>veriam expressar a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Jesus Cristo. Optou-se pelo tema da Anunciação <strong>de</strong> Jesus, o<br />
Nascimento <strong>de</strong> Jesus e as Bodas <strong>de</strong> Cana.<br />
As telas superiores <strong>de</strong>veriam expressar a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus<br />
Cristo. Esta opção será plasmada no tema da Ascensão <strong>de</strong> Jesus, a<br />
Ressurreição <strong>de</strong> Jesus e o Pentecostes.<br />
Este programa iconográfico permite uma leitura mariana que<br />
também é importante nesta igreja cuja titular é <strong>Santa</strong> <strong>Maria</strong>.<br />
A inserção do tema das Bodas <strong>de</strong> Canã favorece uma ligação<br />
– ainda que indirecta - ao mistério eucarístico que se concretiza no altar<br />
(este também a ser objecto <strong>de</strong> remo<strong>de</strong>lação).<br />
Após a apresentação do projecto pelo artista Serge Nouailhat,<br />
a sua aprovação e a laboração do mesmo, a obra foi entregue no final<br />
do mês <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2008.<br />
A sua aplicação “in loco” aconteceu na semana que<br />
antece<strong>de</strong>u a inauguração do retábulo, a <strong>de</strong>zasseis <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2008.<br />
No conjunto do políptico a luz realiza a unida<strong>de</strong> das várias<br />
telas. O espaço pictórico é rasgado por inundações <strong>de</strong> luz que imanem<br />
especialmente da tela da Ressurreição.<br />
Um veio <strong>de</strong> luz <strong>de</strong> cor escalarte aparece como elemento<br />
unitivo das duas cenas centrais do políptico: o Nascimento e a<br />
Ressurreição.<br />
No tratamento da cena da Ressurreição, o autor dispõe Jesus<br />
Cristo Ressuscitado sobre uma plasticida<strong>de</strong> com a referida tonalida<strong>de</strong>.<br />
É expressão da força emergente da Vida que é Cristo. Também os<br />
raios <strong>de</strong> luz que emergem do lado <strong>de</strong> Cristo e dos sinais da paixão têm<br />
essa coloração.<br />
No episódio do Nascimento, a roupa que reveste o Menino<br />
tem a cor referida.<br />
Esta tonalida<strong>de</strong> é i<strong>de</strong>ntificável nas <strong>de</strong>mais telas, servindo-se<br />
também a elemento <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o conjunto.<br />
Assim, i<strong>de</strong>ntificamo-la em alguns traços da árvore <strong>de</strong> Jessé da<br />
tela da Anunciação; nos raios que se dirigem às talhas <strong>de</strong> pedra e no<br />
conteúdo das próprias talhas da tela das Bodas <strong>de</strong> Canã; na cor das<br />
vestes envolvendo a figura <strong>de</strong> Jesus na Ascensão; nas línguas <strong>de</strong> fogo
que pairam sobre as cabeças <strong>de</strong> <strong>Maria</strong> e dos Apóstolos na cena do<br />
Pentecostes.<br />
Todo o conjunto <strong>de</strong>ixa emanar uma “luz <strong>de</strong> alegria”,<br />
transformando-se numa plasticida<strong>de</strong> que é um cântico ao Senhor da<br />
Vida e do Amor.<br />
ANUNCIAÇÃO<br />
O autor apresenta o tema <strong>de</strong> acordo com o Evangelho <strong>de</strong><br />
Mateus. Neste encontramos a genealogia <strong>de</strong> Jesus Cristo que<br />
motivou ao longo da história a iconografia da árvore <strong>de</strong> Jesse. É<br />
<strong>de</strong>sta maneira que Serge Nouailhat trata o tema.<br />
Outro elemento significativo é a apresentação da Virgem<br />
<strong>Maria</strong> “<strong>de</strong> esperanças”. A cena transforma-se assim num louvor à<br />
maternida<strong>de</strong>. O anjo “apresenta” <strong>Maria</strong> como aquela que disse “Fiat”<br />
à vocação maternal.<br />
NASCIMENTO<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma tela central no políptico. A disposição e<br />
apresentação das figuras <strong>de</strong> <strong>Maria</strong>, José e do Menino evi<strong>de</strong>nciam o<br />
cuidado posto pelo autor no tratamento <strong>de</strong>sta cena.<br />
<strong>Maria</strong> surge como a mãe que continua a acolher o filho. José<br />
é todo ele <strong>de</strong>svelo para com o menino. O menino fixa-nos numa<br />
expressão cândida mas simultaneamente interpeladora do nosso ser.<br />
É ainda <strong>de</strong> salientar o enquadramento <strong>de</strong>sta cena: acima<br />
figura uma criança acompanhada pelos pais e que aponta para a cena<br />
abaixo <strong>de</strong> Jesus. É possível ver nesta criança João Baptista, aquele<br />
que indica “o Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Deus”?<br />
Um rosto aparece curioso, a espreitar, certamente na tentativa<br />
<strong>de</strong> conhecer e compreen<strong>de</strong>r o mistério que se revela. Outros figurantes<br />
voltam o seu olhar para a tela superior – da Ressurreição – como que<br />
nos elevando do início (Encarnação-Nascimento) para o terminus do<br />
caminho <strong>de</strong> Jesus (Ressurreição).<br />
BODAS <strong>DE</strong> CANÃ<br />
A conjugação das figuras <strong>de</strong> Jesus Cristo e <strong>Maria</strong> nesta tela é<br />
evi<strong>de</strong>nte. <strong>Maria</strong> é disposta em estreita união e colaboração com o seu<br />
Filho Jesus Cristo (o que é acentuado pelas disposição das mãos <strong>de</strong><br />
ambos que se aproximam, quase tocando-se).
ASCENSÃO<br />
A cor escarlate da veste que envolve Jesus Cristo indica<br />
uma Ascensão gloriosa porque libertadora <strong>de</strong> todos os medos e <strong>de</strong><br />
todos os vazios.<br />
A surpresa ou ainda incompreensão dos discípulos é<br />
atenuada pela atitu<strong>de</strong> serena <strong>de</strong> <strong>Maria</strong>, qual esteio daqueles<br />
chamados a dar testemunho do Ressuscitado.<br />
PENTECOSTES<br />
A tela representa o acontecimento como nos é transmitido<br />
pelo livro dos Actos dos Apóstolos: “…Viram, então, aparecer umas<br />
línguas à maneira <strong>de</strong> fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre<br />
cada um <strong>de</strong>les” (Act 2,1-4).<br />
Os Apóstolos e <strong>Maria</strong> são inebriados pelo Espírito Santo. O<br />
grupo recebe Aquele que Jesus lhes havia prometido enviar como<br />
Consolador. As mãos <strong>de</strong> <strong>Maria</strong> elevam-se e abrem-se numa<br />
expressão <strong>de</strong> acolhimento da oferta prometida.<br />
RESSURREIÇÃO<br />
O momento escolhido por Serge Nouailhat para a figuração<br />
<strong>de</strong>sta cena é aquele da saída triunfante <strong>de</strong> Cristo do sepulcro: “Nisto,<br />
houve um gran<strong>de</strong> terramoto,…Os guardas,…puseram-se a tremer e<br />
ficaram como que atordoados…” (Mt 28,2-4).<br />
No centro da cena temos a representação <strong>de</strong> um Jesus Cristo<br />
vigoroso, cuja força <strong>de</strong> Vida e <strong>de</strong> Amor venceu a morte, representada<br />
no abismo e escuridão do sepulcro abaixo.<br />
Envolve-O a luz pascal, a luz da Vida. A mesma luz que jorra<br />
no sentido das outras telas.<br />
Neste campo pictórico surge-nos, vicejante, a árvore da<br />
eternida<strong>de</strong> do jardim do paraíso, que jamais se per<strong>de</strong>rá, pela<br />
Ressurreição <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />
A la<strong>de</strong>ar a figura <strong>de</strong> Jesus Cristo estão algumas figuras que<br />
po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar com os salvos e os con<strong>de</strong>nados ou com aqueles<br />
que Jesus Cristo retira do sono da morte.
CÁLICE <strong>DE</strong> PRATA DOURADA<br />
SÉCULO XVI<br />
Embora <strong>de</strong> estrutura medieval <strong>de</strong>nuncia, pela sua <strong>de</strong>coração,<br />
características da Renascença manuelina.<br />
Tem o nó formado por uma construção fenestrada, <strong>de</strong> rica<br />
arquitectura gótica. A base, fortemente chanfrada, é coberta <strong>de</strong><br />
ornatos renascentistas e a copa, da qual pen<strong>de</strong>m seis tintinábulos, é<br />
circundada por seis cabeças <strong>de</strong> querubim e ornatos no estilo da base.<br />
Na parte superior da copa tem, em caracteres góticos, a<br />
inscrição: IN MEI MEMORIAM FACIETIS<br />
Acompanha o cálice, a respectiva patena, também em prata<br />
dourada. Nela figura uma cruz que se ergue sobre os sinais da morte<br />
(caveiras) e da qual pen<strong>de</strong> um pano, alusão ao lençol que envolveu<br />
Jesus. A cruz, a “Hora” <strong>de</strong> Jesus, é o sinal da vitória sobre a morte e<br />
<strong>de</strong> salvação para o mundo.
CUSTÓDIA <strong>DE</strong> PRATA DOURADA<br />
SÉCULO XVI<br />
A custódia, obra da Renascença, apresenta um hostiário com<br />
as faces rectangulares <strong>de</strong> cristal ricamente emolduradas.<br />
Na parte superior, sobrepujada por uma cúpula formando<br />
arcada, um edícula, sob a qual se vê a Virgem com o Senhor morto<br />
nos seus braços.<br />
A peça remata superiormente com a figura <strong>de</strong> Jesus<br />
Crucificado.<br />
O nó tem a forma <strong>de</strong> urna ornada <strong>de</strong> grinaldas e a base é<br />
historiada. Na base figuram em baixo relevo, São Pedro (a quem foi<br />
confiada a chave do Reino), <strong>Santa</strong> Luzia (a verda<strong>de</strong>ira visão é a Fé),<br />
<strong>Santa</strong> Catarina <strong>de</strong> Alexandria (recusa dos falsos ídolos e adoração do<br />
verda<strong>de</strong>iro e único Deus) e São João Baptista (“Eis o cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong><br />
Deus”.<br />
Os variados ornatos da base, hostiário e da cúpula formam um<br />
conjunto do mais precioso labor e <strong>de</strong> uma “graça rara e harmoniosa”.