16.04.2013 Views

A IGREJA MATRIZ DE TONDELA - Paróquia de Santa Maria de ...

A IGREJA MATRIZ DE TONDELA - Paróquia de Santa Maria de ...

A IGREJA MATRIZ DE TONDELA - Paróquia de Santa Maria de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA<br />

- Resenha histórica -<br />

António Manuel Matoso Martinho*<br />

A partir da terceira década, da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX,<br />

a dinâmica urbana <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la vai modificar-se profundamente.<br />

Na sequência da política <strong>de</strong> fomento iniciada, em 1852, com<br />

Fontes Pereira <strong>de</strong> Melo (1) que visava gerar os estímulos<br />

indispensáveis ao <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo industrial e<br />

financeiro era necessário que se proce<strong>de</strong>sse a um <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

aperfeiçoamento do nosso sistema viário <strong>de</strong> maneira a torná-lo rápido<br />

e barato. Esta política <strong>de</strong> fomento viário levou à abertura <strong>de</strong> novas<br />

estradas que passavam em Ton<strong>de</strong>la – a estrada real nº 8 ligando<br />

Mealhada a Viseu e a estrada real n.º 45 que ligava Aveiro a Ton<strong>de</strong>la,<br />

passando pela Serra do Caramulo.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la acentua-se, em gran<strong>de</strong> parte,<br />

<strong>de</strong>vido à sua situação geográfica na confluência das duas vias <strong>de</strong><br />

comunicação uma vez que punham os homens e as populações em<br />

contacto, uns com os outros, constituindo o “sistema circulatório <strong>de</strong><br />

todo o organismo social”.<br />

E o seu <strong>de</strong>senvolvimento vai provocar um aumento populacional<br />

que gera, também, uma nova centralida<strong>de</strong> e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

edificar uma nova Igreja Matriz – a actual – que se vai localizar na<br />

confluência <strong>de</strong>ssas vias <strong>de</strong> comunicação constituindo como uma<br />

espécie <strong>de</strong> remate ou andar superior do povoado ton<strong>de</strong>lense<br />

marcando-lhe, por isso, o seu perfil sobressaindo <strong>de</strong>sse mesmo<br />

aglomerado e parecendo dar pela linha vertical da sua torre um impulso<br />

para o Céu.<br />

Para a edificação da nova Matriz houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

proce<strong>de</strong>r à expropriação <strong>de</strong> terrenos como o <strong>de</strong>monstra o seguinte<br />

<strong>de</strong>creto:<br />

“Tendo a Junta <strong>de</strong> <strong>Paróquia</strong> da freguesia <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, nos termos<br />

do artigo 167.6 do Código Administrativo, <strong>de</strong>liberado requerer a<br />

expropriação por utilida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> duas porções contíguas <strong>de</strong><br />

terreno pertencentes aos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> D. <strong>Maria</strong> Horta e <strong>de</strong> Rachel <strong>de</strong><br />

Almeida, para obter o local on<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> ser edificada a sua nova igreja<br />

matriz; e havendo sido, a requerimento da mencionada junta <strong>de</strong><br />

<strong>Paróquia</strong>, instaurado o respectivo processo em conformida<strong>de</strong> com a<br />

carta <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1850, hei por bem conformando-me com<br />

o parecer da conferência dos fiscais da coroa e fazenda, <strong>de</strong>cretar a<br />

utilida<strong>de</strong> pública da expropriação dos terrenos constantes das plantas<br />

parcelares que acompanham o presente <strong>de</strong>creto (...). O ministro e<br />

secretário <strong>de</strong> estado dos negócios do reino afim o tenha entendido e<br />

faça executar – Paço, em 8 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1879 –Rei [D. Luís] – António<br />

Rodrigues Sampaio.<br />

A 3 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1879, o Administrador do Concelho <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la,<br />

Dr. António Marques <strong>de</strong> Oliveira, através do oficial <strong>de</strong> diligências<br />

manda intimar os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> D. <strong>Maria</strong> Horta e Rachel <strong>de</strong> Almeida da<br />

expropriação dos citados terrenos, junto ao largo <strong>de</strong> <strong>Santa</strong>na, por<br />

utilida<strong>de</strong> pública.


Posteriormente, a Junta <strong>de</strong> <strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la representada<br />

pelo seu Presi<strong>de</strong>nte Caetano Cardoso Figueira e pelos vogais Albino<br />

José Pereira da Silva, Manuel José Pereira Correia, António Simão e<br />

Germano José <strong>de</strong> Matos dirige petição ao Juiz <strong>de</strong> Direito no sentido<br />

<strong>de</strong> que, após os trâmites legais, man<strong>de</strong> avaliar a in<strong>de</strong>mnização que a<br />

Junta <strong>de</strong> <strong>Paróquia</strong> terá <strong>de</strong> pagar.<br />

Cumpridas todas estas formalida<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>u-se à construção<br />

da nova Igreja Matriz em estilo neogótico, <strong>de</strong> uma só nave, com arco<br />

cruzeiro e altares em talha, conhecendo-se as propostas <strong>de</strong><br />

orçamento para a execução do projecto do muro e escadas do adro,<br />

no valor <strong>de</strong> 710 e 720 mil réis.<br />

A escadaria principal teria 12 <strong>de</strong>graus curvilíneos, formados por<br />

três arcos <strong>de</strong> círculo aparelhados a picofino e com as arestas tiradas<br />

a cinzel.<br />

As alvenarias seriam <strong>de</strong> granito e as guardas e o cordão do<br />

muro em cantaria bem aparelhada a picofino e as arestas igualmente<br />

tiradas a cinzel.<br />

Conhecem-se, igualmente, as condições para a empreitada “da<br />

cobertura e mais trabalhos <strong>de</strong> carpintaria precisos na igreja matriz <strong>de</strong><br />

Ton<strong>de</strong>la”, sendo o prazo para a sua execução <strong>de</strong> 120 dias a partir da<br />

data da sua aprovação.<br />

A Igreja Matriz ficou concluída em 1889.<br />

Em 1958, a Igreja Matriz começou a dar sinais <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>gradação e o seu Reitor, Padre José Tavares Baptista, tomou a<br />

iniciativa <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r ao seu restauro.<br />

Com as obras <strong>de</strong> beneficiação realizadas, entre 1958 e 1964, a<br />

Igreja Matriz sofreu profundas modificações que a <strong>de</strong>scaracterizaram –<br />

<strong>de</strong>struição da <strong>de</strong>coração do altar-mor e altares laterais e rebaixamento<br />

da sua altura interior.<br />

Em 1989, comemoraram-se os Cem Anos da construção da Igreja<br />

Matriz com várias cerimónias e activida<strong>de</strong>s realizadas no dia 8 <strong>de</strong><br />

Outubro. A Sessão Solene foi presidida pelo Vigário Geral da Diocese,<br />

em representação do Bispo <strong>de</strong> Viseu, D. António Monteiro em que<br />

produziram intervenções os representantes dos vários movimentos<br />

paroquiais e o Dr. António Martinho que historiou as origens da<br />

<strong>Paróquia</strong> <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, encerrando a sessão o Vigário Geral da Diocese.<br />

Ao fim da tar<strong>de</strong> o Senhor Bispo <strong>de</strong> Viseu, D. António Monteiro,<br />

presidiu à celebração da Eucaristia na Igreja Matriz.<br />

Em 1999, sendo já Pároco <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, o Padre Carlos Ângelo,<br />

em colaboração com o Conselho Paroquial, <strong>de</strong>cidiu iniciar os estudos<br />

conducentes ao restauro da Igreja Matriz visando recuperar a sua traça<br />

original. Nesse sentido, vão ser auscultados vários serviços e<br />

instituições oficiais e, entre eles, a Comissão Diocesana <strong>de</strong> Arte Sacra<br />

que, após profundos estudos, aconselharam e apoiaram o Padre<br />

Carlos Ângelo e o Conselho Paroquial a realizar a recuperação da<br />

Igreja Matriz.<br />

O restauro da Igreja Matriz processou-se em duas fases –<br />

realização <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> construção civil (1999-2003), a cargo da


Firma José da Costa e Filhos Lda e, posteriormente, a execução <strong>de</strong><br />

um retábulo e sua aplicação (2006-2008).<br />

As obras <strong>de</strong> construção civil abrangeram – a recuperação e<br />

restauro das pare<strong>de</strong>s interiores e exteriores pela remoção do reboco<br />

<strong>de</strong> saibro e colocação <strong>de</strong> um novo reboco; isolamento da torre e<br />

janelas; substituição da estrutura do coro por uma placa <strong>de</strong> cimento;<br />

arranjo da sacristia e piso superior à mesma o que iria permitir a<br />

utilização <strong>de</strong>stes espaços em função das necessida<strong>de</strong>s actuais da<br />

Igreja e limpeza geral da cantaria interior e exterior do edifício e do<br />

adro acompanhada <strong>de</strong> pavimentação, electrificação e sistema <strong>de</strong><br />

drenagem das águas do adro.<br />

No início dos trabalhos <strong>de</strong> construção civil constatou-se que,<br />

nas obras <strong>de</strong> restauro, dos finais da década <strong>de</strong> 50, a altura das naves<br />

e da capela-mor tinha sido rebaixada o que levou, agora, à realização<br />

<strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> recuperação da altura original da Igreja, com<br />

<strong>de</strong>molição do tecto e cornija <strong>de</strong> cimento colocando à vista a cornija<br />

primitiva em granito.<br />

Após conclusão <strong>de</strong>stes trabalhos proce<strong>de</strong>u-se à execução e<br />

aplicação do tecto em caixotões <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> castanho com um<br />

motivo extraído dos púlpitos, “peça remanescente do enquadramento<br />

primitivo da Igreja”, obra executada pela empresa “Arte e Talha –<br />

Conservação e Restauro – Unipessoal, L.da”, <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> Comba Dão.<br />

A segunda fase dos trabalhos <strong>de</strong> restauro envolveu a<br />

concepção, a execução e a aplicação do retábulo.<br />

A concepção-execução do retábulo visava recuperar as linhas e<br />

volumes originariamente presentes na Igreja uma vez que, como<br />

escreveu o Padre Carlos Ângelo o gran<strong>de</strong> objectivo do restauro<br />

consistia em <strong>de</strong>volver à Igreja “aquela que é “a matriz” dos seus<br />

espaços celebrativos, uma renovada presença <strong>de</strong> beleza” (2).<br />

Deste modo, o retábulo teria <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r “às legítimas aspirações<br />

<strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> que exprimia a sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um enquadramento<br />

primitivo do seu espaço celebrativo, entretanto <strong>de</strong>saparecido, e, por<br />

outro lado, acrescentar uma nota <strong>de</strong> contemporaneida<strong>de</strong>”.<br />

Na realida<strong>de</strong> o retábulo recuperou as linhas e os volumes da<br />

<strong>de</strong>coração da velha Igreja Matriz “com base nos seus elementos<br />

remanescentes, tais como os púlpitos, tocheiros, guarda-vento e<br />

sacrário”, foi concebido e executado, pela empresa “Arte e Talha”, a<br />

mesma que já executara os caixotões do tecto da Igreja e iria montar,<br />

igualmente, o políptico fruto “do engenho e da arte” <strong>de</strong> Serge Nouailhat<br />

(3).<br />

O políptico é constituído por 6 gran<strong>de</strong>s telas distribuídas por três<br />

níveis – na base as telas da “Anunciação”, “Nascimento do Menino” e<br />

“Bodas <strong>de</strong> Caná”, no segundo nível “Ascensão” e “Pentecostes” e no<br />

último “Ressurreição” para o qual aponta todo o conjunto artístico<br />

“verda<strong>de</strong>iro oxigénio <strong>de</strong> beleza”.<br />

Após um período <strong>de</strong> estudo e reflexão do projecto do políptico o<br />

contrato <strong>de</strong> adjudicação foi assinado a 7 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2007 (4).<br />

O Comendador Eduardo Brás, entretanto falecido, realizou a<br />

dádiva do políptico oferecendo cada tela, por cada um dos seus filhos.


A cerimónia <strong>de</strong> inauguração do retábulo da Igreja Matriz, “Para<br />

maior Glória <strong>de</strong> Deus”, realizou-se no dia 16 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2008,<br />

Domingo <strong>de</strong> Ramos (5), como consta num memorial, em lugar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque, no adro da Igreja, constituído por uma placa <strong>de</strong> granito<br />

com a antiga Cruz, em ferro forjado, que encimava a torre sineira da<br />

Igreja, aí chumbada e colocada pelo ton<strong>de</strong>lense A<strong>de</strong>lino Lopes, e que<br />

fora substituída por uma cruz luminosa, em 1977.<br />

O memorial contém as seguintes palavras (6):<br />

AD MAIOREM <strong>DE</strong>I GLORIAM/TABULAE/MATRICIS<br />

TEMPLI/INAUGURATIO/DOMINICA IN PALMIS/<strong>DE</strong> PASSIONE<br />

DOMINI/TON<strong>DE</strong>LLAE/ANNO MMVIII/DIE XVI/MARTII MENSIS<br />

Uma outra placa comemorativa, colocada na pare<strong>de</strong> frontal<br />

direita da Igreja, foi <strong>de</strong>scerrada pelo Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal<br />

e pelos filhos do falecido Comendador Eduardo Brás presentes em<br />

tão solene acto e on<strong>de</strong> se lê (7):<br />

AEDILITATI MUNICIPALI/AC COMMENDATORI/EDUARDO BRAS/EIUSQUE<br />

FAMILIAE/PAROCHIA TON<strong>DE</strong>LLENSIS/SEMPER GRATA<br />

A história da Igreja Matriz mostra-nos, assim, como ela foi ao<br />

longo dos séculos fonte e símbolo <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> religiosa e tem<br />

vinculada a si a história da antiga vila, hoje, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la.<br />

NOTAS<br />

*Professor Universitário; Professor-Investigador no Centro <strong>de</strong> Estudos Interdisciplinares<br />

do Século XX, da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra (CEIS20). O presente texto faz parte <strong>de</strong> um<br />

artigo a ser publicado proximamente.<br />

(1)- Dec. <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1852, Diário do Governo, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1852.<br />

(2)- “Liturgia da Luz” – Exposição <strong>de</strong> Pintura – Arte Sacra Contemporânea; Ton<strong>de</strong>la, 2008 (cit.).<br />

(3)- Serge Nouailhat, nasceu em Rennes, em 1960. Des<strong>de</strong> cedo manifestou gran<strong>de</strong> interesse pela<br />

arte, ingressando com 18 anos, na Escola Nacional Superior <strong>de</strong> Artes Aplicadas e das Profissões<br />

Artísticas, em Paris.<br />

Casou, em 1982, prosseguindo a sua formação na Escola Normal Superior <strong>de</strong> Cachan. É graças à<br />

sua evolução espiritual que concretiza a sua vocação <strong>de</strong> artista. A<strong>de</strong>re à Comunida<strong>de</strong> Católica das<br />

Bem-aventuranças on<strong>de</strong> realiza as suas primeiras obras, como pintor <strong>de</strong> vitrais. Vive na Abbaye<br />

Blanche, em Mortain.<br />

Chagal e outros contemporâneos bem como os mestres do século XVI influenciam a sua<br />

produção artística, assumindo a técnica do vitral um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na sua criação.<br />

Nouailhat <strong>de</strong>senvolve, a partir <strong>de</strong> 1984, uma obra diversificada como pintor e como vitralista<br />

estando, presentemente, a concluir os vitrais para uma igreja na Sibéria e para a recém criada<br />

paróquia <strong>de</strong> Callao, em Lima, no Peru.<br />

(4)- O valor dos trabalhos em talha e douramento e as pinturas cifraram-se em 241.880,00 Euros.<br />

(5)- A inauguração do Retábulo foi antecedida duma Exposição <strong>de</strong> Pintura – Arte Sacra<br />

Contemporânea, <strong>de</strong> Serge Nouailhat, <strong>de</strong>nominada “Liturgia da Luz”, que <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong><br />

Fevereiro a 16 <strong>de</strong> Março, apoiada pela Fundação Arca da Aliança, entida<strong>de</strong> tutelar da Galeria S.<br />

Miguel (Fátima), <strong>de</strong> que é Presi<strong>de</strong>nte o Padre Joaquim Rodrigues Ventura, com apoio logístico da<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la.<br />

Após a cerimónia <strong>de</strong> inauguração realizou-se na Igreja Matriz “O Concerto <strong>de</strong> Páscoa 2008” pela<br />

Orquestra <strong>de</strong> Música Clássica do Centro, interpretando o “Requiem” <strong>de</strong> Mozart, sendo regente o<br />

maestro Virgílio Caseiro, acompanhada pelo Choral Aeminium dirigido por Cristina Faria. Foram<br />

solistas Carlos Guilherme (tenor), António Salgado (barítono), Margarida Reis (mezzo-soprano) e<br />

Ana Paula Russo (soprano).<br />

(6)- Tradução: Para maior Glória <strong>de</strong> Deus / Inauguração / Do Retábulo da Igreja Matriz / Domingo<br />

<strong>de</strong> Ramos da Paixão do Senhor / Ton<strong>de</strong>la, XVI <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> MMVIII.<br />

(7)- Tradução: Á Câmara Municipal / Ao Comendador Eduardo Braz / E à sua Família / A <strong>Paróquia</strong><br />

<strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la / Eternamente agra<strong>de</strong>cida.


CRONOLOGIA - <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA<br />

1850 Alargamento da estrada real n.º 8 ligando Mealhada a Viseu no interior da vila e<br />

construção da estrada real n.º 45 ligando Aveiro a Ton<strong>de</strong>la;<br />

1879 Decreto do Rei D. Luís expropriando, por utilida<strong>de</strong> pública, terrenos para a<br />

construção da nova Igreja Matriz;<br />

1889 Conclusão da construção da nova Igreja Matriz;<br />

1958-1964 Obras <strong>de</strong> restauro na Igreja Matriz;<br />

1973-1974 Colocação do novo relógio na torre sineira da Igreja substituindo o velho<br />

relógio <strong>de</strong> pesos;<br />

1977 Substituição, na torre sineira, da Cruz em ferro forjado por uma Cruz luminosa<br />

1989 Comemorações dos Cem Anos da Igreja Matriz, com a presença do Bispo <strong>de</strong><br />

Viseu D. António Monteiro.<br />

1992-1997 Construção do Centro Paroquial, junto à Igreja Matriz, sendo Reitor o<br />

Cónego José Tavares Baptista;<br />

1999-2003 Início dos estudos conducentes ao restauro da Igreja Matriz visando<br />

recuperar a sua traça primitiva; Obras <strong>de</strong> restauro na Igreja Matriz;<br />

2008 Inauguração do retábulo do altar-mor e do políptico <strong>de</strong> Serge Nouailhat com a<br />

presença do bispo <strong>de</strong> Viseu, D. Ilídio Leandro.<br />

PÁROCOS DA <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA<br />

- <strong>de</strong> 1889 a 1912 o Padre Inácio Pires <strong>de</strong> Melo, <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la;<br />

- <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1912 a Julho <strong>de</strong> 1913 o Padre José <strong>de</strong> Matos Ferreira, <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la;<br />

- <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1913 a 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> l914 Padre Arnaldo Marques <strong>de</strong> Moura, pároco<br />

em Couto do Mosteiro, que, interinamente, foi encarregado da paróquia;<br />

- <strong>de</strong> fins <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1914 a 1919 Padre José Marques das Neves;<br />

- <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1919 a Outubro <strong>de</strong> 1953 Padre Dr. António <strong>Maria</strong> Cardoso, <strong>de</strong><br />

Castelões;<br />

- <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1953 a 14 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1997, Cónego José Tavares Baptista;<br />

- A partir <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1997 Padre Dr. Carlos Ângelo Silva Ferreira, da<br />

Congregação dos Missionários Claretianos.<br />

PROJECTO DO POLÍPTICO<br />

PARA O RETÁBULO DA <strong>IGREJA</strong> <strong>MATRIZ</strong> <strong>DE</strong> TON<strong>DE</strong>LA


Sumária exegese iconográfica do políptico<br />

que figura no retábulo da Igreja Matriz <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la<br />

Depois do período <strong>de</strong> aturada reflexão estabeleceu-se o<br />

programa iconográfico da seguinte maneira:<br />

As telas inferiores <strong>de</strong>veriam expressar a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jesus Cristo. Optou-se pelo tema da Anunciação <strong>de</strong> Jesus, o<br />

Nascimento <strong>de</strong> Jesus e as Bodas <strong>de</strong> Cana.<br />

As telas superiores <strong>de</strong>veriam expressar a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo. Esta opção será plasmada no tema da Ascensão <strong>de</strong> Jesus, a<br />

Ressurreição <strong>de</strong> Jesus e o Pentecostes.<br />

Este programa iconográfico permite uma leitura mariana que<br />

também é importante nesta igreja cuja titular é <strong>Santa</strong> <strong>Maria</strong>.<br />

A inserção do tema das Bodas <strong>de</strong> Canã favorece uma ligação<br />

– ainda que indirecta - ao mistério eucarístico que se concretiza no altar<br />

(este também a ser objecto <strong>de</strong> remo<strong>de</strong>lação).<br />

Após a apresentação do projecto pelo artista Serge Nouailhat,<br />

a sua aprovação e a laboração do mesmo, a obra foi entregue no final<br />

do mês <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2008.<br />

A sua aplicação “in loco” aconteceu na semana que<br />

antece<strong>de</strong>u a inauguração do retábulo, a <strong>de</strong>zasseis <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2008.<br />

No conjunto do políptico a luz realiza a unida<strong>de</strong> das várias<br />

telas. O espaço pictórico é rasgado por inundações <strong>de</strong> luz que imanem<br />

especialmente da tela da Ressurreição.<br />

Um veio <strong>de</strong> luz <strong>de</strong> cor escalarte aparece como elemento<br />

unitivo das duas cenas centrais do políptico: o Nascimento e a<br />

Ressurreição.<br />

No tratamento da cena da Ressurreição, o autor dispõe Jesus<br />

Cristo Ressuscitado sobre uma plasticida<strong>de</strong> com a referida tonalida<strong>de</strong>.<br />

É expressão da força emergente da Vida que é Cristo. Também os<br />

raios <strong>de</strong> luz que emergem do lado <strong>de</strong> Cristo e dos sinais da paixão têm<br />

essa coloração.<br />

No episódio do Nascimento, a roupa que reveste o Menino<br />

tem a cor referida.<br />

Esta tonalida<strong>de</strong> é i<strong>de</strong>ntificável nas <strong>de</strong>mais telas, servindo-se<br />

também a elemento <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o conjunto.<br />

Assim, i<strong>de</strong>ntificamo-la em alguns traços da árvore <strong>de</strong> Jessé da<br />

tela da Anunciação; nos raios que se dirigem às talhas <strong>de</strong> pedra e no<br />

conteúdo das próprias talhas da tela das Bodas <strong>de</strong> Canã; na cor das<br />

vestes envolvendo a figura <strong>de</strong> Jesus na Ascensão; nas línguas <strong>de</strong> fogo


que pairam sobre as cabeças <strong>de</strong> <strong>Maria</strong> e dos Apóstolos na cena do<br />

Pentecostes.<br />

Todo o conjunto <strong>de</strong>ixa emanar uma “luz <strong>de</strong> alegria”,<br />

transformando-se numa plasticida<strong>de</strong> que é um cântico ao Senhor da<br />

Vida e do Amor.<br />

ANUNCIAÇÃO<br />

O autor apresenta o tema <strong>de</strong> acordo com o Evangelho <strong>de</strong><br />

Mateus. Neste encontramos a genealogia <strong>de</strong> Jesus Cristo que<br />

motivou ao longo da história a iconografia da árvore <strong>de</strong> Jesse. É<br />

<strong>de</strong>sta maneira que Serge Nouailhat trata o tema.<br />

Outro elemento significativo é a apresentação da Virgem<br />

<strong>Maria</strong> “<strong>de</strong> esperanças”. A cena transforma-se assim num louvor à<br />

maternida<strong>de</strong>. O anjo “apresenta” <strong>Maria</strong> como aquela que disse “Fiat”<br />

à vocação maternal.<br />

NASCIMENTO<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma tela central no políptico. A disposição e<br />

apresentação das figuras <strong>de</strong> <strong>Maria</strong>, José e do Menino evi<strong>de</strong>nciam o<br />

cuidado posto pelo autor no tratamento <strong>de</strong>sta cena.<br />

<strong>Maria</strong> surge como a mãe que continua a acolher o filho. José<br />

é todo ele <strong>de</strong>svelo para com o menino. O menino fixa-nos numa<br />

expressão cândida mas simultaneamente interpeladora do nosso ser.<br />

É ainda <strong>de</strong> salientar o enquadramento <strong>de</strong>sta cena: acima<br />

figura uma criança acompanhada pelos pais e que aponta para a cena<br />

abaixo <strong>de</strong> Jesus. É possível ver nesta criança João Baptista, aquele<br />

que indica “o Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Deus”?<br />

Um rosto aparece curioso, a espreitar, certamente na tentativa<br />

<strong>de</strong> conhecer e compreen<strong>de</strong>r o mistério que se revela. Outros figurantes<br />

voltam o seu olhar para a tela superior – da Ressurreição – como que<br />

nos elevando do início (Encarnação-Nascimento) para o terminus do<br />

caminho <strong>de</strong> Jesus (Ressurreição).<br />

BODAS <strong>DE</strong> CANÃ<br />

A conjugação das figuras <strong>de</strong> Jesus Cristo e <strong>Maria</strong> nesta tela é<br />

evi<strong>de</strong>nte. <strong>Maria</strong> é disposta em estreita união e colaboração com o seu<br />

Filho Jesus Cristo (o que é acentuado pelas disposição das mãos <strong>de</strong><br />

ambos que se aproximam, quase tocando-se).


ASCENSÃO<br />

A cor escarlate da veste que envolve Jesus Cristo indica<br />

uma Ascensão gloriosa porque libertadora <strong>de</strong> todos os medos e <strong>de</strong><br />

todos os vazios.<br />

A surpresa ou ainda incompreensão dos discípulos é<br />

atenuada pela atitu<strong>de</strong> serena <strong>de</strong> <strong>Maria</strong>, qual esteio daqueles<br />

chamados a dar testemunho do Ressuscitado.<br />

PENTECOSTES<br />

A tela representa o acontecimento como nos é transmitido<br />

pelo livro dos Actos dos Apóstolos: “…Viram, então, aparecer umas<br />

línguas à maneira <strong>de</strong> fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre<br />

cada um <strong>de</strong>les” (Act 2,1-4).<br />

Os Apóstolos e <strong>Maria</strong> são inebriados pelo Espírito Santo. O<br />

grupo recebe Aquele que Jesus lhes havia prometido enviar como<br />

Consolador. As mãos <strong>de</strong> <strong>Maria</strong> elevam-se e abrem-se numa<br />

expressão <strong>de</strong> acolhimento da oferta prometida.<br />

RESSURREIÇÃO<br />

O momento escolhido por Serge Nouailhat para a figuração<br />

<strong>de</strong>sta cena é aquele da saída triunfante <strong>de</strong> Cristo do sepulcro: “Nisto,<br />

houve um gran<strong>de</strong> terramoto,…Os guardas,…puseram-se a tremer e<br />

ficaram como que atordoados…” (Mt 28,2-4).<br />

No centro da cena temos a representação <strong>de</strong> um Jesus Cristo<br />

vigoroso, cuja força <strong>de</strong> Vida e <strong>de</strong> Amor venceu a morte, representada<br />

no abismo e escuridão do sepulcro abaixo.<br />

Envolve-O a luz pascal, a luz da Vida. A mesma luz que jorra<br />

no sentido das outras telas.<br />

Neste campo pictórico surge-nos, vicejante, a árvore da<br />

eternida<strong>de</strong> do jardim do paraíso, que jamais se per<strong>de</strong>rá, pela<br />

Ressurreição <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />

A la<strong>de</strong>ar a figura <strong>de</strong> Jesus Cristo estão algumas figuras que<br />

po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar com os salvos e os con<strong>de</strong>nados ou com aqueles<br />

que Jesus Cristo retira do sono da morte.


CÁLICE <strong>DE</strong> PRATA DOURADA<br />

SÉCULO XVI<br />

Embora <strong>de</strong> estrutura medieval <strong>de</strong>nuncia, pela sua <strong>de</strong>coração,<br />

características da Renascença manuelina.<br />

Tem o nó formado por uma construção fenestrada, <strong>de</strong> rica<br />

arquitectura gótica. A base, fortemente chanfrada, é coberta <strong>de</strong><br />

ornatos renascentistas e a copa, da qual pen<strong>de</strong>m seis tintinábulos, é<br />

circundada por seis cabeças <strong>de</strong> querubim e ornatos no estilo da base.<br />

Na parte superior da copa tem, em caracteres góticos, a<br />

inscrição: IN MEI MEMORIAM FACIETIS<br />

Acompanha o cálice, a respectiva patena, também em prata<br />

dourada. Nela figura uma cruz que se ergue sobre os sinais da morte<br />

(caveiras) e da qual pen<strong>de</strong> um pano, alusão ao lençol que envolveu<br />

Jesus. A cruz, a “Hora” <strong>de</strong> Jesus, é o sinal da vitória sobre a morte e<br />

<strong>de</strong> salvação para o mundo.


CUSTÓDIA <strong>DE</strong> PRATA DOURADA<br />

SÉCULO XVI<br />

A custódia, obra da Renascença, apresenta um hostiário com<br />

as faces rectangulares <strong>de</strong> cristal ricamente emolduradas.<br />

Na parte superior, sobrepujada por uma cúpula formando<br />

arcada, um edícula, sob a qual se vê a Virgem com o Senhor morto<br />

nos seus braços.<br />

A peça remata superiormente com a figura <strong>de</strong> Jesus<br />

Crucificado.<br />

O nó tem a forma <strong>de</strong> urna ornada <strong>de</strong> grinaldas e a base é<br />

historiada. Na base figuram em baixo relevo, São Pedro (a quem foi<br />

confiada a chave do Reino), <strong>Santa</strong> Luzia (a verda<strong>de</strong>ira visão é a Fé),<br />

<strong>Santa</strong> Catarina <strong>de</strong> Alexandria (recusa dos falsos ídolos e adoração do<br />

verda<strong>de</strong>iro e único Deus) e São João Baptista (“Eis o cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong><br />

Deus”.<br />

Os variados ornatos da base, hostiário e da cúpula formam um<br />

conjunto do mais precioso labor e <strong>de</strong> uma “graça rara e harmoniosa”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!