A IGREJA MATRIZ DE TONDELA - Paróquia de Santa Maria de ...
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A IGREJA MATRIZ DE TONDELA
- Resenha histórica -
António Manuel Matoso Martinho*
A partir da terceira década, da segunda metade do século XIX,
a dinâmica urbana de Tondela vai modificar-se profundamente.
Na sequência da política de fomento iniciada, em 1852, com
Fontes Pereira de Melo (1) que visava gerar os estímulos
indispensáveis ao desenvolvimento do capitalismo industrial e
financeiro era necessário que se procedesse a um desenvolvimento e
aperfeiçoamento do nosso sistema viário de maneira a torná-lo rápido
e barato. Esta política de fomento viário levou à abertura de novas
estradas que passavam em Tondela – a estrada real nº 8 ligando
Mealhada a Viseu e a estrada real n.º 45 que ligava Aveiro a Tondela,
passando pela Serra do Caramulo.
O desenvolvimento de Tondela acentua-se, em grande parte,
devido à sua situação geográfica na confluência das duas vias de
comunicação uma vez que punham os homens e as populações em
contacto, uns com os outros, constituindo o “sistema circulatório de
todo o organismo social”.
E o seu desenvolvimento vai provocar um aumento populacional
que gera, também, uma nova centralidade e a necessidade de
edificar uma nova Igreja Matriz – a actual – que se vai localizar na
confluência dessas vias de comunicação constituindo como uma
espécie de remate ou andar superior do povoado tondelense
marcando-lhe, por isso, o seu perfil sobressaindo desse mesmo
aglomerado e parecendo dar pela linha vertical da sua torre um impulso
para o Céu.
Para a edificação da nova Matriz houve necessidade de se
proceder à expropriação de terrenos como o demonstra o seguinte
decreto:
“Tendo a Junta de Paróquia da freguesia de Tondela, nos termos
do artigo 167.6 do Código Administrativo, deliberado requerer a
expropriação por utilidade pública de duas porções contíguas de
terreno pertencentes aos herdeiros de D. Maria Horta e de Rachel de
Almeida, para obter o local onde tem de ser edificada a sua nova igreja
matriz; e havendo sido, a requerimento da mencionada junta de
Paróquia, instaurado o respectivo processo em conformidade com a
carta de lei de 23 de Julho de 1850, hei por bem conformando-me com
o parecer da conferência dos fiscais da coroa e fazenda, decretar a
utilidade pública da expropriação dos terrenos constantes das plantas
parcelares que acompanham o presente decreto (...). O ministro e
secretário de estado dos negócios do reino afim o tenha entendido e
faça executar – Paço, em 8 de Março de 1879 –Rei [D. Luís] – António
Rodrigues Sampaio.
A 3 de Maio de 1879, o Administrador do Concelho de Tondela,
Dr. António Marques de Oliveira, através do oficial de diligências
manda intimar os herdeiros de D. Maria Horta e Rachel de Almeida da
expropriação dos citados terrenos, junto ao largo de Santana, por
utilidade pública.
Posteriormente, a Junta de Paróquia de Tondela representada
pelo seu Presidente Caetano Cardoso Figueira e pelos vogais Albino
José Pereira da Silva, Manuel José Pereira Correia, António Simão e
Germano José de Matos dirige petição ao Juiz de Direito no sentido
de que, após os trâmites legais, mande avaliar a indemnização que a
Junta de Paróquia terá de pagar.
Cumpridas todas estas formalidade procedeu-se à construção
da nova Igreja Matriz em estilo neogótico, de uma só nave, com arco
cruzeiro e altares em talha, conhecendo-se as propostas de
orçamento para a execução do projecto do muro e escadas do adro,
no valor de 710 e 720 mil réis.
A escadaria principal teria 12 degraus curvilíneos, formados por
três arcos de círculo aparelhados a picofino e com as arestas tiradas
a cinzel.
As alvenarias seriam de granito e as guardas e o cordão do
muro em cantaria bem aparelhada a picofino e as arestas igualmente
tiradas a cinzel.
Conhecem-se, igualmente, as condições para a empreitada “da
cobertura e mais trabalhos de carpintaria precisos na igreja matriz de
Tondela”, sendo o prazo para a sua execução de 120 dias a partir da
data da sua aprovação.
A Igreja Matriz ficou concluída em 1889.
Em 1958, a Igreja Matriz começou a dar sinais de evidente
degradação e o seu Reitor, Padre José Tavares Baptista, tomou a
iniciativa de proceder ao seu restauro.
Com as obras de beneficiação realizadas, entre 1958 e 1964, a
Igreja Matriz sofreu profundas modificações que a descaracterizaram –
destruição da decoração do altar-mor e altares laterais e rebaixamento
da sua altura interior.
Em 1989, comemoraram-se os Cem Anos da construção da Igreja
Matriz com várias cerimónias e actividades realizadas no dia 8 de
Outubro. A Sessão Solene foi presidida pelo Vigário Geral da Diocese,
em representação do Bispo de Viseu, D. António Monteiro em que
produziram intervenções os representantes dos vários movimentos
paroquiais e o Dr. António Martinho que historiou as origens da
Paróquia de Tondela, encerrando a sessão o Vigário Geral da Diocese.
Ao fim da tarde o Senhor Bispo de Viseu, D. António Monteiro,
presidiu à celebração da Eucaristia na Igreja Matriz.
Em 1999, sendo já Pároco de Tondela, o Padre Carlos Ângelo,
em colaboração com o Conselho Paroquial, decidiu iniciar os estudos
conducentes ao restauro da Igreja Matriz visando recuperar a sua traça
original. Nesse sentido, vão ser auscultados vários serviços e
instituições oficiais e, entre eles, a Comissão Diocesana de Arte Sacra
que, após profundos estudos, aconselharam e apoiaram o Padre
Carlos Ângelo e o Conselho Paroquial a realizar a recuperação da
Igreja Matriz.
O restauro da Igreja Matriz processou-se em duas fases –
realização de trabalhos de construção civil (1999-2003), a cargo da
Firma José da Costa e Filhos Lda e, posteriormente, a execução de
um retábulo e sua aplicação (2006-2008).
As obras de construção civil abrangeram – a recuperação e
restauro das paredes interiores e exteriores pela remoção do reboco
de saibro e colocação de um novo reboco; isolamento da torre e
janelas; substituição da estrutura do coro por uma placa de cimento;
arranjo da sacristia e piso superior à mesma o que iria permitir a
utilização destes espaços em função das necessidades actuais da
Igreja e limpeza geral da cantaria interior e exterior do edifício e do
adro acompanhada de pavimentação, electrificação e sistema de
drenagem das águas do adro.
No início dos trabalhos de construção civil constatou-se que,
nas obras de restauro, dos finais da década de 50, a altura das naves
e da capela-mor tinha sido rebaixada o que levou, agora, à realização
de trabalhos de recuperação da altura original da Igreja, com
demolição do tecto e cornija de cimento colocando à vista a cornija
primitiva em granito.
Após conclusão destes trabalhos procedeu-se à execução e
aplicação do tecto em caixotões de madeira de castanho com um
motivo extraído dos púlpitos, “peça remanescente do enquadramento
primitivo da Igreja”, obra executada pela empresa “Arte e Talha –
Conservação e Restauro – Unipessoal, L.da”, de Santa Comba Dão.
A segunda fase dos trabalhos de restauro envolveu a
concepção, a execução e a aplicação do retábulo.
A concepção-execução do retábulo visava recuperar as linhas e
volumes originariamente presentes na Igreja uma vez que, como
escreveu o Padre Carlos Ângelo o grande objectivo do restauro
consistia em devolver à Igreja “aquela que é “a matriz” dos seus
espaços celebrativos, uma renovada presença de beleza” (2).
Deste modo, o retábulo teria de atender “às legítimas aspirações
de uma comunidade que exprimia a saudade de um enquadramento
primitivo do seu espaço celebrativo, entretanto desaparecido, e, por
outro lado, acrescentar uma nota de contemporaneidade”.
Na realidade o retábulo recuperou as linhas e os volumes da
decoração da velha Igreja Matriz “com base nos seus elementos
remanescentes, tais como os púlpitos, tocheiros, guarda-vento e
sacrário”, foi concebido e executado, pela empresa “Arte e Talha”, a
mesma que já executara os caixotões do tecto da Igreja e iria montar,
igualmente, o políptico fruto “do engenho e da arte” de Serge Nouailhat
(3).
O políptico é constituído por 6 grandes telas distribuídas por três
níveis – na base as telas da “Anunciação”, “Nascimento do Menino” e
“Bodas de Caná”, no segundo nível “Ascensão” e “Pentecostes” e no
último “Ressurreição” para o qual aponta todo o conjunto artístico
“verdadeiro oxigénio de beleza”.
Após um período de estudo e reflexão do projecto do políptico o
contrato de adjudicação foi assinado a 7 de Fevereiro de 2007 (4).
O Comendador Eduardo Brás, entretanto falecido, realizou a
dádiva do políptico oferecendo cada tela, por cada um dos seus filhos.
A cerimónia de inauguração do retábulo da Igreja Matriz, “Para
maior Glória de Deus”, realizou-se no dia 16 de Março de 2008,
Domingo de Ramos (5), como consta num memorial, em lugar de
destaque, no adro da Igreja, constituído por uma placa de granito
com a antiga Cruz, em ferro forjado, que encimava a torre sineira da
Igreja, aí chumbada e colocada pelo tondelense Adelino Lopes, e que
fora substituída por uma cruz luminosa, em 1977.
O memorial contém as seguintes palavras (6):
AD MAIOREM DEI GLORIAM/TABULAE/MATRICIS
TEMPLI/INAUGURATIO/DOMINICA IN PALMIS/DE PASSIONE
DOMINI/TONDELLAE/ANNO MMVIII/DIE XVI/MARTII MENSIS
Uma outra placa comemorativa, colocada na parede frontal
direita da Igreja, foi descerrada pelo Presidente da Câmara Municipal
e pelos filhos do falecido Comendador Eduardo Brás presentes em
tão solene acto e onde se lê (7):
AEDILITATI MUNICIPALI/AC COMMENDATORI/EDUARDO BRAS/EIUSQUE
FAMILIAE/PAROCHIA TONDELLENSIS/SEMPER GRATA
A história da Igreja Matriz mostra-nos, assim, como ela foi ao
longo dos séculos fonte e símbolo de unidade religiosa e tem
vinculada a si a história da antiga vila, hoje, cidade de Tondela.
NOTAS
*Professor Universitário; Professor-Investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares
do Século XX, da Universidade de Coimbra (CEIS20). O presente texto faz parte de um
artigo a ser publicado proximamente.
(1)- Dec. de 30 de Agosto de 1852, Diário do Governo, de 1 de Setembro de 1852.
(2)- “Liturgia da Luz” – Exposição de Pintura – Arte Sacra Contemporânea; Tondela, 2008 (cit.).
(3)- Serge Nouailhat, nasceu em Rennes, em 1960. Desde cedo manifestou grande interesse pela
arte, ingressando com 18 anos, na Escola Nacional Superior de Artes Aplicadas e das Profissões
Artísticas, em Paris.
Casou, em 1982, prosseguindo a sua formação na Escola Normal Superior de Cachan. É graças à
sua evolução espiritual que concretiza a sua vocação de artista. Adere à Comunidade Católica das
Bem-aventuranças onde realiza as suas primeiras obras, como pintor de vitrais. Vive na Abbaye
Blanche, em Mortain.
Chagal e outros contemporâneos bem como os mestres do século XVI influenciam a sua
produção artística, assumindo a técnica do vitral um lugar de destaque na sua criação.
Nouailhat desenvolve, a partir de 1984, uma obra diversificada como pintor e como vitralista
estando, presentemente, a concluir os vitrais para uma igreja na Sibéria e para a recém criada
paróquia de Callao, em Lima, no Peru.
(4)- O valor dos trabalhos em talha e douramento e as pinturas cifraram-se em 241.880,00 Euros.
(5)- A inauguração do Retábulo foi antecedida duma Exposição de Pintura – Arte Sacra
Contemporânea, de Serge Nouailhat, denominada “Liturgia da Luz”, que decorreu de 28 de
Fevereiro a 16 de Março, apoiada pela Fundação Arca da Aliança, entidade tutelar da Galeria S.
Miguel (Fátima), de que é Presidente o Padre Joaquim Rodrigues Ventura, com apoio logístico da
Câmara Municipal de Tondela.
Após a cerimónia de inauguração realizou-se na Igreja Matriz “O Concerto de Páscoa 2008” pela
Orquestra de Música Clássica do Centro, interpretando o “Requiem” de Mozart, sendo regente o
maestro Virgílio Caseiro, acompanhada pelo Choral Aeminium dirigido por Cristina Faria. Foram
solistas Carlos Guilherme (tenor), António Salgado (barítono), Margarida Reis (mezzo-soprano) e
Ana Paula Russo (soprano).
(6)- Tradução: Para maior Glória de Deus / Inauguração / Do Retábulo da Igreja Matriz / Domingo
de Ramos da Paixão do Senhor / Tondela, XVI de Março de MMVIII.
(7)- Tradução: Á Câmara Municipal / Ao Comendador Eduardo Braz / E à sua Família / A Paróquia
de Tondela / Eternamente agradecida.
CRONOLOGIA - IGREJA MATRIZ DE TONDELA
1850 Alargamento da estrada real n.º 8 ligando Mealhada a Viseu no interior da vila e
construção da estrada real n.º 45 ligando Aveiro a Tondela;
1879 Decreto do Rei D. Luís expropriando, por utilidade pública, terrenos para a
construção da nova Igreja Matriz;
1889 Conclusão da construção da nova Igreja Matriz;
1958-1964 Obras de restauro na Igreja Matriz;
1973-1974 Colocação do novo relógio na torre sineira da Igreja substituindo o velho
relógio de pesos;
1977 Substituição, na torre sineira, da Cruz em ferro forjado por uma Cruz luminosa
1989 Comemorações dos Cem Anos da Igreja Matriz, com a presença do Bispo de
Viseu D. António Monteiro.
1992-1997 Construção do Centro Paroquial, junto à Igreja Matriz, sendo Reitor o
Cónego José Tavares Baptista;
1999-2003 Início dos estudos conducentes ao restauro da Igreja Matriz visando
recuperar a sua traça primitiva; Obras de restauro na Igreja Matriz;
2008 Inauguração do retábulo do altar-mor e do políptico de Serge Nouailhat com a
presença do bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro.
PÁROCOS DA IGREJA MATRIZ DE TONDELA
- de 1889 a 1912 o Padre Inácio Pires de Melo, de Tondela;
- de Agosto de 1912 a Julho de 1913 o Padre José de Matos Ferreira, de Tondela;
- de Julho de 1913 a 1 de Janeiro de l914 Padre Arnaldo Marques de Moura, pároco
em Couto do Mosteiro, que, interinamente, foi encarregado da paróquia;
- de fins de Janeiro de 1914 a 1919 Padre José Marques das Neves;
- de 1 de Fevereiro de 1919 a Outubro de 1953 Padre Dr. António Maria Cardoso, de
Castelões;
- de Outubro de 1953 a 14 de Setembro de 1997, Cónego José Tavares Baptista;
- A partir de 14 de Setembro de 1997 Padre Dr. Carlos Ângelo Silva Ferreira, da
Congregação dos Missionários Claretianos.
PROJECTO DO POLÍPTICO
PARA O RETÁBULO DA IGREJA MATRIZ DE TONDELA
Sumária exegese iconográfica do políptico
que figura no retábulo da Igreja Matriz de Tondela
Depois do período de aturada reflexão estabeleceu-se o
programa iconográfico da seguinte maneira:
As telas inferiores deveriam expressar a humanidade de
Jesus Cristo. Optou-se pelo tema da Anunciação de Jesus, o
Nascimento de Jesus e as Bodas de Cana.
As telas superiores deveriam expressar a divindade de Jesus
Cristo. Esta opção será plasmada no tema da Ascensão de Jesus, a
Ressurreição de Jesus e o Pentecostes.
Este programa iconográfico permite uma leitura mariana que
também é importante nesta igreja cuja titular é Santa Maria.
A inserção do tema das Bodas de Canã favorece uma ligação
– ainda que indirecta - ao mistério eucarístico que se concretiza no altar
(este também a ser objecto de remodelação).
Após a apresentação do projecto pelo artista Serge Nouailhat,
a sua aprovação e a laboração do mesmo, a obra foi entregue no final
do mês de Fevereiro de 2008.
A sua aplicação “in loco” aconteceu na semana que
antecedeu a inauguração do retábulo, a dezasseis de Março de 2008.
No conjunto do políptico a luz realiza a unidade das várias
telas. O espaço pictórico é rasgado por inundações de luz que imanem
especialmente da tela da Ressurreição.
Um veio de luz de cor escalarte aparece como elemento
unitivo das duas cenas centrais do políptico: o Nascimento e a
Ressurreição.
No tratamento da cena da Ressurreição, o autor dispõe Jesus
Cristo Ressuscitado sobre uma plasticidade com a referida tonalidade.
É expressão da força emergente da Vida que é Cristo. Também os
raios de luz que emergem do lado de Cristo e dos sinais da paixão têm
essa coloração.
No episódio do Nascimento, a roupa que reveste o Menino
tem a cor referida.
Esta tonalidade é identificável nas demais telas, servindo-se
também a elemento de unidade de todo o conjunto.
Assim, identificamo-la em alguns traços da árvore de Jessé da
tela da Anunciação; nos raios que se dirigem às talhas de pedra e no
conteúdo das próprias talhas da tela das Bodas de Canã; na cor das
vestes envolvendo a figura de Jesus na Ascensão; nas línguas de fogo
que pairam sobre as cabeças de Maria e dos Apóstolos na cena do
Pentecostes.
Todo o conjunto deixa emanar uma “luz de alegria”,
transformando-se numa plasticidade que é um cântico ao Senhor da
Vida e do Amor.
ANUNCIAÇÃO
O autor apresenta o tema de acordo com o Evangelho de
Mateus. Neste encontramos a genealogia de Jesus Cristo que
motivou ao longo da história a iconografia da árvore de Jesse. É
desta maneira que Serge Nouailhat trata o tema.
Outro elemento significativo é a apresentação da Virgem
Maria “de esperanças”. A cena transforma-se assim num louvor à
maternidade. O anjo “apresenta” Maria como aquela que disse “Fiat”
à vocação maternal.
NASCIMENTO
Trata-se de uma tela central no políptico. A disposição e
apresentação das figuras de Maria, José e do Menino evidenciam o
cuidado posto pelo autor no tratamento desta cena.
Maria surge como a mãe que continua a acolher o filho. José
é todo ele desvelo para com o menino. O menino fixa-nos numa
expressão cândida mas simultaneamente interpeladora do nosso ser.
É ainda de salientar o enquadramento desta cena: acima
figura uma criança acompanhada pelos pais e que aponta para a cena
abaixo de Jesus. É possível ver nesta criança João Baptista, aquele
que indica “o Cordeiro de Deus”?
Um rosto aparece curioso, a espreitar, certamente na tentativa
de conhecer e compreender o mistério que se revela. Outros figurantes
voltam o seu olhar para a tela superior – da Ressurreição – como que
nos elevando do início (Encarnação-Nascimento) para o terminus do
caminho de Jesus (Ressurreição).
BODAS DE CANÃ
A conjugação das figuras de Jesus Cristo e Maria nesta tela é
evidente. Maria é disposta em estreita união e colaboração com o seu
Filho Jesus Cristo (o que é acentuado pelas disposição das mãos de
ambos que se aproximam, quase tocando-se).
ASCENSÃO
A cor escarlate da veste que envolve Jesus Cristo indica
uma Ascensão gloriosa porque libertadora de todos os medos e de
todos os vazios.
A surpresa ou ainda incompreensão dos discípulos é
atenuada pela atitude serena de Maria, qual esteio daqueles
chamados a dar testemunho do Ressuscitado.
PENTECOSTES
A tela representa o acontecimento como nos é transmitido
pelo livro dos Actos dos Apóstolos: “…Viram, então, aparecer umas
línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre
cada um deles” (Act 2,1-4).
Os Apóstolos e Maria são inebriados pelo Espírito Santo. O
grupo recebe Aquele que Jesus lhes havia prometido enviar como
Consolador. As mãos de Maria elevam-se e abrem-se numa
expressão de acolhimento da oferta prometida.
RESSURREIÇÃO
O momento escolhido por Serge Nouailhat para a figuração
desta cena é aquele da saída triunfante de Cristo do sepulcro: “Nisto,
houve um grande terramoto,…Os guardas,…puseram-se a tremer e
ficaram como que atordoados…” (Mt 28,2-4).
No centro da cena temos a representação de um Jesus Cristo
vigoroso, cuja força de Vida e de Amor venceu a morte, representada
no abismo e escuridão do sepulcro abaixo.
Envolve-O a luz pascal, a luz da Vida. A mesma luz que jorra
no sentido das outras telas.
Neste campo pictórico surge-nos, vicejante, a árvore da
eternidade do jardim do paraíso, que jamais se perderá, pela
Ressurreição de Jesus Cristo.
A ladear a figura de Jesus Cristo estão algumas figuras que
podemos identificar com os salvos e os condenados ou com aqueles
que Jesus Cristo retira do sono da morte.
CÁLICE DE PRATA DOURADA
SÉCULO XVI
Embora de estrutura medieval denuncia, pela sua decoração,
características da Renascença manuelina.
Tem o nó formado por uma construção fenestrada, de rica
arquitectura gótica. A base, fortemente chanfrada, é coberta de
ornatos renascentistas e a copa, da qual pendem seis tintinábulos, é
circundada por seis cabeças de querubim e ornatos no estilo da base.
Na parte superior da copa tem, em caracteres góticos, a
inscrição: IN MEI MEMORIAM FACIETIS
Acompanha o cálice, a respectiva patena, também em prata
dourada. Nela figura uma cruz que se ergue sobre os sinais da morte
(caveiras) e da qual pende um pano, alusão ao lençol que envolveu
Jesus. A cruz, a “Hora” de Jesus, é o sinal da vitória sobre a morte e
de salvação para o mundo.
CUSTÓDIA DE PRATA DOURADA
SÉCULO XVI
A custódia, obra da Renascença, apresenta um hostiário com
as faces rectangulares de cristal ricamente emolduradas.
Na parte superior, sobrepujada por uma cúpula formando
arcada, um edícula, sob a qual se vê a Virgem com o Senhor morto
nos seus braços.
A peça remata superiormente com a figura de Jesus
Crucificado.
O nó tem a forma de urna ornada de grinaldas e a base é
historiada. Na base figuram em baixo relevo, São Pedro (a quem foi
confiada a chave do Reino), Santa Luzia (a verdadeira visão é a Fé),
Santa Catarina de Alexandria (recusa dos falsos ídolos e adoração do
verdadeiro e único Deus) e São João Baptista (“Eis o cordeiro de
Deus”.
Os variados ornatos da base, hostiário e da cúpula formam um
conjunto do mais precioso labor e de uma “graça rara e harmoniosa”.