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Quincas Borba - MiniWeb Educação

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Não lhe deu pancadas; mas só a descida era dolorosa, e o cão amigo gemeu por muito tempo no jardim.<br />

Rubião entrou, despiu-se e deitou-se. Ah! tinha vivido um dia cheio de sensações diversas e contrárias, desde as<br />

recordações da manhã, e o almoço aos dous amigos , até aquela última idéia de metempsicose, passando pela<br />

lembrança do enforcado, e por uma declaração de amor não aceita, mal repelida, parece que adivinhada por<br />

outros. . . Misturava tudo; o espírito ia de um para outro lado como bola de borracha entre mãos de crianças.<br />

Contudo, a sensação maior era a do amor. Rubião estava admirado de si mesmo, e arrependia-se ; mas o<br />

arrependimento era obra da consciência, ao passo que a imaginação não soltava por nenhum preço a figura da<br />

bela Sofia.. . Uma, duas, três horas.. . Sofia ao longe, os latidos do cão embaixo... O sono esquivo... Onde iam já<br />

as três horas? Três e meia... Enfim, depois de muito cuidar, apareceu-lhe o sono, espremeu as clássicas papoulas,<br />

e foi um instante; Rubião dormiu antes das quatro.<br />

CAPÍTULO L<br />

NÃO, SENHORA minha, ainda não acabou este dia tão comprido; não sabemos o que se passou entre<br />

Sofia e o Palha, depois que todos se foram embora. Pode ser até que acheis aqui melhor sabor que no caso do<br />

enforcado.<br />

Tende paciência; é vir agora outra vez a Santa Teresa. A sala está ainda alumiada, mas por um bico de<br />

gás; apagaram-se os outros, e ia apagar-se o último, quando o Palha mandou que o criado esperasse um pouco lá<br />

dentro. A mulher ia a sair, o marido deteve-a, ela estremeceu.<br />

-A nossa festa esteve bem bonita, disse ele.<br />

-Esteve.<br />

-O Siqueira é um cacete, mas paciência; é alegre. A filha não estava mal arranjada. Viste o Ramos como<br />

devorava tudo o que se lhe pôs no prato? Tu verás que ele um dia engole a mulher.<br />

certeza.<br />

-A mulher? disse Sofia, sorrindo.<br />

- É gorda, concordo; mas a primeira era muito mais gorda, e creio que não morreu, ele engoliu-a, com<br />

Sofia, reclinada no canapé, ria das graças do marido. Criticaram ainda alguns episódios da tarde e da<br />

noite; depois, Sofia, acariciando os cabelos do marido, disse-lhe de repente<br />

-E você ainda não sabe do melhor episódio da noite.<br />

-Que foi?<br />

-Adivinhe<br />

Palha ficou algum tempo calado, olhando para a mulher, a ver se adivinhava qual tinha sido o melhor<br />

episódio da noite. Não podia acertar; acudia-lhe isto ou aquilo, nada; Sofia abanava a cabeça.<br />

-Mas então que foi?<br />

-Não sei; adivinha.<br />

-Não posso. Dize logo.<br />

-Com uma condição, acudiu ela; não quero zangas nem barulhos.<br />

Palha foi ficando mais sério. Zangas? barulhos? Que diabo podia ser? pensava ele. Já se não ria; tinha<br />

só um resto de sorriso forçado e resignado. Olhou bem para ela, e perguntou-lhe o que era.

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