Hipertrofia intestinal induzida por alimento e obesidade - UFTM
Hipertrofia intestinal induzida por alimento e obesidade - UFTM
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sinalização detecta volumes em território alto<br />
(estômago) e nutrientes em território baixo, onde os<br />
nutrientes já foram expostos pela digestão, ou seja,<br />
intestino distal. A dieta moderna e refinada “engana”<br />
ambos os detectores. Os de volume <strong>por</strong>que volume<br />
muito baixo pode já conter carga calórica alta. Os de<br />
nutriente <strong>por</strong>que tendo sido digerida externamente<br />
(<strong>por</strong> refinamento e cocção), a dieta moderna pode<br />
ser absorvida em território mais alto (intestino<br />
proximal), deixando o intestino distal vazio e<br />
sinalizando que houve ingestão de pouco <strong>alimento</strong>.<br />
Está demonstrado que os sinalizadores de nutriente<br />
(GLP-1 e PYY) são mal secretados <strong>por</strong> obesos (12-13) e<br />
que esta secreção se eleva se nutrientes são levados<br />
ao intestino distal (14-15) . Ou seja, para esta dieta, os<br />
detectores de nutriente estão posicionados num ponto<br />
onde os nutrientes já foram quase totalmente<br />
absorvidos. Precisa-se, <strong>por</strong>tanto, de dieta menos<br />
refinada ou trato digestivo menor.<br />
Porém, há questão perturbadora. Todos os obesos<br />
nasceram marcados para ser obesos? E aqueles indivíduos<br />
que passaram boa parte da vida magros e de repente, em<br />
poucos anos, perdem o controle sobre seu peso? A<br />
hipótese que ora apresentamos versa sobre esta situação.<br />
Sabe-se que nutrientes induzem o trofismo de<br />
mucosa <strong>intestinal</strong> e que sua falta leva a hipotrofia (16) .<br />
É razoável aceitar que sua presença excessiva leve a<br />
hipertrofia. Ao operar obesos, é nítida a hipertrofia<br />
do intestino, em especial do intestino proximal. Digase<br />
o oposto dos caquéticos. A diferença de trofismo é<br />
óbvia nestas situações opostas.<br />
Ora, imagine-se que <strong>por</strong> atividade social intensa,<br />
fartura, dieta industrializada, etc., aconteça de um<br />
indivíduo ser exposto <strong>por</strong> alguns anos a excesso de<br />
nutrientes. É plausível que sua mucosa, em especial a<br />
proximal, se hipertrofie. Se tal ocorrer, é natural que<br />
haja necessidade progressivamente maior de <strong>alimento</strong>,<br />
para que o intestino distal consiga emitir um sinal de<br />
presença e adequação do volume ingerido (ou seja:<br />
um nível sangüíneo de GLP-1, PYY, oxintomodulina<br />
altos o suficiente para indicar saciedade e, uma vez<br />
percebido que há <strong>alimento</strong>, liberar o gasto energético).<br />
Se o tubo digestivo, <strong>por</strong> características da dieta, percebea<br />
mal, ele sinaliza para saciedade e gasto energéticos<br />
menores, que o hipotálamo providencia. Assim, come-se<br />
cada vez mais e se gasta pouco. A vida moderna e a <strong>obesidade</strong><br />
ainda induzem sedentarismo, completando a cilada<br />
metabólica. Esta hipótese anatomicofisiológica aponta para<br />
algo que a sabedoria popular há muito se refere: “quanto<br />
mais se come, mais se quer comer”.<br />
A hipertrofia <strong>intestinal</strong> <strong>induzida</strong> <strong>por</strong> <strong>alimento</strong><br />
(HIIA) pode ser fator causal ou agravante de <strong>obesidade</strong><br />
e diabetes. Já postulamos antes que o intestino mais<br />
longo, traço mais característico de herbívoros, confere<br />
maior tendência à <strong>obesidade</strong> (17) . Agora, apontamos que<br />
funcionalmente o intestino pode “crescer”, crescimento<br />
este induzido <strong>por</strong> dieta hipercalórica. A dieta<br />
hipercalórica externamente digerida <strong>por</strong> refinamento<br />
e cocção adoece um indivíduo e a doença que induz<br />
ainda agrava seus efeitos nefastos num ciclo.<br />
Assim, métodos terapêuticos que promovam maior<br />
a<strong>por</strong>te de <strong>alimento</strong> ao intestino distal precisam reduzir a<br />
massa de enterócitos. As cirurgias clássicas para <strong>obesidade</strong><br />
que funcionam bem (bypass gástrico em Y de Roux –<br />
BGYR - e bypass biliopancreático - BPD) excluem <strong>por</strong>ções<br />
intestinais, satisfazendo esta premissa, ainda que <strong>por</strong><br />
acaso. Ambas as técnicas cirúrgicas têm mais de 15 anos e<br />
o descobrimento e a compreensão de hormônios<br />
intestinais têm menos que isto. Estas técnicas sobreviveram<br />
<strong>por</strong>que eram melhores que suas contem<strong>por</strong>âneas, embora<br />
a compreensão do <strong>por</strong>que só viesse depois.<br />
Porém BGYR e BPD reduzem a massa de enterócitos<br />
a qual o <strong>alimento</strong> se expõe, mas o fazem <strong>por</strong> exclusão,<br />
método que implica uma série de conseqüências<br />
indesejáveis, <strong>por</strong> ainda não haver a aceitação de que se<br />
deva manter pro<strong>por</strong>cionalidade entre a relação gastroenterocorpórea<br />
e a “riqueza” da dieta. Alguns ainda<br />
pensam que quanto mais intestino há, melhor, como se<br />
isto apenas implicasse em reservas maiores e não houvesse<br />
conseqüência de âmbito metabólico. Já não pensam o<br />
mesmo quanto às reservas calóricas, pois se reconhece<br />
amplamente que não há só vantagens em se ter reservas<br />
calóricas superiores (ser obeso).<br />
Se se oferecer mais <strong>alimento</strong> ao íleo, sem se reduzir<br />
a massa (provavelmente já hiperplásica e hipertrófica)<br />
de enterócitos, o que ocorre é que, juntamente a GLP-<br />
1, há a secreção de GLP-2, agente fortemente indutor<br />
de crescimento epitelial <strong>intestinal</strong>. Isto se dá <strong>por</strong>que,<br />
nas ocasiões em que o íleo é sobrecarregado de nutrientes,<br />
entende-se que há insuficiência de intestino proximal.<br />
O GLP-2 é o principal agente indutor de crescimento<br />
epitelial após ressecções intestinais e a ele se atribui grande<br />
parte da “Adaptação Intestinal” (16,18) . Ao se induzir<br />
elevação de GLP-1 e GLP-2 <strong>por</strong> ressecção <strong>intestinal</strong>,<br />
obtêm-se elevação hormonal e provavelmente recuperação<br />
de grande parte da massa <strong>intestinal</strong> (à custa de GLP-<br />
2). A possível redução <strong>intestinal</strong> residual é bem-vinda,<br />
pois se reconhece a hipertrofia e hiperplasia prévias,<br />
além de inadequação inata da relação gastroenterocorpórea<br />
(devido à mudança dietética ser biologicamente<br />
311<br />
einstein. 2005; 3(4):311