13.05.2013 Views

O Ciclo da Água evaporada e pode retornar - UFTM

O Ciclo da Água evaporada e pode retornar - UFTM

O Ciclo da Água evaporada e pode retornar - UFTM

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>Ciclo</strong> <strong>da</strong> <strong>Água</strong><br />

Os principais elementos do ciclo<br />

hidrológico são a evaporação e<br />

precipitação, responsáveis pela contínua<br />

circulação <strong>da</strong> água no globo, sendo que a<br />

radiação solar fornece a energia necessária<br />

para todo o ciclo hidrológico.<br />

Anualmente evaporam dos oceanos<br />

cerca de 383.000 Km 3 de água,<br />

correspondentes a uma cama<strong>da</strong> de 106<br />

cm de espessura, sendo que 75% desta<br />

água retorna para os oceanos sob a<br />

forma de precipitação.<br />

O restante <strong>da</strong> água evapora<strong>da</strong> dos<br />

oceanos precipita-se sobre os<br />

continentes, sendo que a maior parte é<br />

evapora<strong>da</strong> e <strong>pode</strong> <strong>retornar</strong> aos oceanos<br />

sob forma de vapor, como precipitação<br />

ou através <strong>da</strong> rede hidrográfica.<br />

Embora a evaporação e a precipitação<br />

sejam os componentes mais importantes do<br />

ciclo hidrológico, a evapotranspiração,<br />

infiltração, escoamento superficial e<br />

subterrâneo são outros elementos que <strong>pode</strong>m<br />

assumir grande importância, especialmente a<br />

nível regional; sendo que ca<strong>da</strong> região<br />

apresenta suas próprias peculiari<strong>da</strong>des.<br />

Estes elementos irão determinar as<br />

características hidrológicas e geoquímicas<br />

dos diferentes corpos d’água. Se a<br />

evaporação é predominante teremos água<br />

“salga<strong>da</strong>s”, como as salinas do pantanal.<br />

Localização volume 10<br />

Distribuição Da <strong>Água</strong> Na Terra<br />

12 m3 Porcentagem do total Tempo de residência<br />

Lagos de água 125<br />

10 anos<br />

doce<br />

0,62<br />

2 semanas<br />

Rios 1,25<br />

2 semanas a 1 ano<br />

Solo 65 sendo que 50% está abaixo de 2 semanas a 10.000 anos<br />

<strong>Água</strong><br />

subterrânea<br />

8250 800 metros de profundi<strong>da</strong>de<br />

Lagos salinos<br />

e mares<br />

interiores<br />

105 0,008 10 anos<br />

Atmosfera 13 0,001 10 dias<br />

Gelo 2.920 2,1 10 a 1000 anos<br />

Oceanos 1.320.000 97,25 400 anos<br />

Total 1,36 x 10 18 m3 100<br />

O <strong>Ciclo</strong> do Carbono<br />

Três grandes classes de processos<br />

causam a reciclagem do carbono nos<br />

sistemas aquáticos e terrestres.<br />

⇒ reações assimilativas e desassimilativas<br />

de carbono na fotossíntese e na respiração;<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 10 14 kg de carbono entram<br />

em tais reações no mundo todo a ca<strong>da</strong> ano.<br />

⇒ a troca física de dióxido de carbono entre<br />

a atmosfera e os oceanos, lagos e águas<br />

correntes. O dióxido de carbono dissolve-se<br />

rapi<strong>da</strong>mente na água, 50 vezes mais que na<br />

atmosfera. O intercâmbio na interface arágua<br />

une os ciclos do carbono dos sistemas<br />

terrestres e aquáticos.<br />

⇒ o terceiro processo consiste na dissolução<br />

e precipitação de compostos de carbonato<br />

como sedimentos, particularmente o calcário<br />

(carbonato de cálcio [CaCO3]) e a dolomita<br />

[CaMg(CO3)2]. Em escala global, a<br />

dissolução e a precipitação equilibram-se.<br />

Quando o carbono se dissolve na<br />

água, ele forma o ácido carbônico.


CO2 + H2O ⇔ H2CO3 ⇔ H + + HCO3 - ⇔<br />

2H + + CO3 2- Ca 2+ + CO3 2- ⇔ CaCO3<br />

O carbonato de cálcio tem baixa<br />

solubili<strong>da</strong>de e precipita na coluna d’água.<br />

Sob condições áci<strong>da</strong>s, contudo, a formação<br />

de ácido carbônico remove os íons<br />

carbonato do sistema. Essa remoção reduz a<br />

quanti<strong>da</strong>de de carbonato de cálcio dissolvido<br />

na água, aumentando a dissolução de rochas<br />

de carbonato de cálcio e dos sedimentos por<br />

onde a água passa; assim águas áci<strong>da</strong>s<br />

dissolvem sedimentos calcários. Quando<br />

águas carrega<strong>da</strong>s de cálcio entram nos<br />

oceanos e se misturam com a água de pH<br />

praticamente neutro, o carbonato de cálcio<br />

torna-se menos solúvel e precipita-se<br />

formando sedimentos.<br />

No sistema marinho, sob condições<br />

aproxima<strong>da</strong>mente neutras, o sistema<br />

carbonato mantém um equilíbrio. CaCO3<br />

(insolúvel) + H2O + CO2 ⇔ Ca (HCO3)2<br />

(solúvel)<br />

A remoção de CO2 pela fotossíntese<br />

desloca a reação para a esquer<strong>da</strong>, resultando<br />

na formação e precipitação de carbonato de<br />

cálcio. Muitas algas excretam este carbonato<br />

de cálcio na água circulante, mas algas de<br />

recife e de coral incorporam a substância<br />

como estrutura rígi<strong>da</strong>.<br />

Quando a fotossíntese excede a<br />

respiração, o cálcio tende a precipitar-se.<br />

O <strong>Ciclo</strong> do Fósforo<br />

Devido ao requerimento nutricional<br />

<strong>da</strong>s plantas e animais o fósforo foi, e é, um<br />

elemento amplamente estu<strong>da</strong>do. Os<br />

organismos requerem cerca de um décimo<br />

<strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de requeri<strong>da</strong> de nitrogênio.<br />

O fósforo é constituinte dos ácidos<br />

nucléicos, membranas celulares, sistema de<br />

transferência de energia (ATP), ossos e<br />

dentes. Sendo o fósforo um fator limitante<br />

Página 2 de 28<br />

<strong>da</strong> produção de matéria orgânica, a sua<br />

abundância <strong>pode</strong> promover o crescimento<br />

exagerado de plantas e consequentemente de<br />

animais.<br />

Este nutriente é assimilado na forma<br />

do íon fosfato (PO4 3- ) diretamente do solo ou<br />

<strong>da</strong> água, sendo incorporado em vários<br />

compostos orgânicos. Os animais eliminam<br />

o excesso de fósforo orgânico excretando<br />

sais de fósforo na urina. O fósforo não entra<br />

na atmosfera, assim o ciclo envolve somente<br />

os compartimentos do solo e aquáticos do<br />

ecossistema.<br />

O <strong>Ciclo</strong> do Enxofre<br />

O enxofre ocorre nos aminoácidos<br />

cistina e metionina e assim é requerido pelas<br />

plantas e animais. Assim como o ciclo do<br />

nitrogênio, o ciclo do enxofre também segue<br />

vários caminhos e afeta o ciclo de outros<br />

elementos.<br />

Em condições aeróbicas, a redução<br />

assimilativa de enxofre (SO4 2- → S<br />

orgânico) equilibra a oxi<strong>da</strong>ção do enxofre<br />

orgânico de volta ao sulfato (SO4 2- , a forma<br />

mais oxi<strong>da</strong><strong>da</strong> do enxofre), ou diretamente ou<br />

passando pelo sulfito (SO3 2- ) como um passo<br />

intermediário. Esta oxi<strong>da</strong>ção ocorre quando<br />

os animais excretam o enxofre orgânico<br />

excessivo <strong>da</strong> dieta e quando os<br />

microorganismos decompõem detritos<br />

vegetais e animais.<br />

Sob condições anaeróbicas, o sulfato<br />

<strong>pode</strong> funcionar como um oxi<strong>da</strong>nte. As<br />

bactérias Desulfovibrio e Desulfomonas<br />

acoplam redução desassimilativa de sulfato<br />

(SO4 2- → S 2- ) com a oxi<strong>da</strong>ção de carbono<br />

orgânico para fornecer energia disponível .<br />

O reduzido S 2- <strong>pode</strong> então ser usado como<br />

um agente redutor (S 2 → S 0 + 2e - ) por<br />

bactéria fotoautotrófica, a qual assimila o<br />

carbono por caminhos análogos aos <strong>da</strong><br />

fotossíntese <strong>da</strong>s plantas verdes. O enxofre<br />

toma o lugar do átomo de oxigênio na água<br />

como um doador de elétrons. O enxofre<br />

elementar acumula-se a menos que os<br />

sedimentos fiquem expostos ao oxigênio, e<br />

em sendo assim o enxofre <strong>pode</strong> ser oxi<strong>da</strong>do<br />

ain<strong>da</strong> mais em sulfeto (SO3 2- ) e sulfato<br />

(SO4 2- ).


O enxofre tiol (S 2- ), produzido em<br />

condições aeróbicas, <strong>pode</strong>-se combinar<br />

formando sulfetos de hidrogênio, com odor<br />

característico. A presença de ferro em<br />

sedimentos, geralmente favorece a formação<br />

de sulfetos de ferro (FeS). Os sulfetos estão<br />

comumente associados com carvão e óleo.<br />

Quando expostos à atmosfera como em<br />

rejeitos de minas ou queimados para<br />

produzir energia, o enxofre reduzido se<br />

oxi<strong>da</strong> e as formas oxi<strong>da</strong><strong>da</strong>s combinam-se<br />

com a água para produzir o ácido sulfúrico<br />

de drenagem ou chuva áci<strong>da</strong>.<br />

O <strong>Ciclo</strong> do Nitrogênio<br />

2-<br />

SO<br />

3<br />

2-<br />

SO<br />

4<br />

A fonte do nitrogênio para o<br />

ecossistema é o nitrogênio molecular <strong>da</strong><br />

atmosfera. A fixação do nitrogênio somente<br />

ocorre sob condições aeróbicas. Após a<br />

fixação, ocorre a hidrólise de proteínas e a<br />

oxi<strong>da</strong>ção de aminoácidos, resultando na<br />

produção de amônia, que é realiza<strong>da</strong> por<br />

todos os organismos.<br />

A nitrificação é realiza<strong>da</strong> por<br />

bactérias especializa<strong>da</strong>s. A Nitrosomonas<br />

no solo e a Nitrosococcus nos mares<br />

convertem NH3 em NO2 - (N 3- para N 3+ ). O<br />

nitrito é convertido em nitrato (NO2 - para<br />

NO3 - ) pela Nitrobacter no solo e<br />

Nitrococcus nos mares.<br />

O nitrato <strong>pode</strong> ser convertido em<br />

nitrito e este em NO (monóxido de<br />

mononitrogênio) (Pseudomonas<br />

denitrificans). A desnitrificação, que ocorre<br />

em ambientes anaeróbicos, <strong>pode</strong> prosseguir,<br />

Desulfovibrio e<br />

Desulfomonas<br />

S 2- , H 2 S, FeS<br />

se as condições forem favoráveis e o NO é<br />

convertido em N2O (monóxido de<br />

dinitrogênio) e este em N2.<br />

A desnitrificação é equilibra<strong>da</strong> pela<br />

fixação. A redução assimilativa de<br />

nitrogênio é efetua<strong>da</strong> por bactérias tais como<br />

Azobacter (vi<strong>da</strong> livre); a Rhizobium, que<br />

ocorre em associação simbiótica com raízes<br />

de leguminosas e as cianobactérias.<br />

Os microorganismos fixadores de<br />

nitrogênio obtêm a energia necessária para a<br />

fixação através <strong>da</strong> oxi<strong>da</strong>ção de açúcares ou<br />

outros compostos orgânicos. As bactérias de<br />

vi<strong>da</strong> livre devem obter esses recursos<br />

metabolizando detritos orgânicos no solo,<br />

sedimentos e coluna d’água. As bactérias em<br />

simbiose com plantas conseguem compostos<br />

abun<strong>da</strong>ntes em ambiente com pouco<br />

oxigênio. A bactéria Rhizobium promove a<br />

infecção dos nódulos radiculares de<br />

leguminosas, <strong>da</strong> casuarina, algas marinhas,<br />

além de outras espécies.<br />

Numa escala global, a fixação de<br />

nitrogênio equilibra a produção de N2 por<br />

desnitrificação. Os fluxos alcançam 2% do<br />

ciclo total do nitrogênio através do<br />

ecossistema.


Em ambiente anaeróbico,<br />

NO 3 e NO 2 são<br />

receptores de elétrons<br />

Pseudomonas denitrificans<br />

O estado mais reduzido tem maior potencial de energia química. NO e N 2 não <strong>pode</strong>m ser<br />

utilizados pelas algas!<br />

NH 3<br />

A fixação equilibra a produção de N 2 por desnitrificação. Os fluxos alcançam 2% do ciclo total através do<br />

ecossistema.


Reciclagem de Nutrientes<br />

Em hábitats terrestres, a maioria dos<br />

elementos circula através dos detritos na<br />

superfície do solo; enquanto que em<br />

ambientes aquáticos, os sedimentos são a<br />

fonte de nutrientes reciclados.<br />

A entra<strong>da</strong> de elementos nos<br />

ecossistemas, via intemperismo é muito<br />

pequena compara<strong>da</strong> com o montante que é<br />

circulado continuamente. Quanto mais<br />

antigo e estável é o ecossistema menor é a<br />

representativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> parcela proveniente do<br />

intemperismo.<br />

Quando um solo atinge um estado<br />

estacionário, a per<strong>da</strong> de um elemento do<br />

sistema iguala a entra<strong>da</strong> por intemperismo<br />

<strong>da</strong>quele elemento a partir <strong>da</strong> rocha mãe,<br />

acrescidos de outras fontes como a<br />

precipitação.<br />

As plantas assimilam nutrientes do<br />

solo muito mais rapi<strong>da</strong>mente do que o<br />

intemperismo os gera a partir <strong>da</strong> rocha mãe.<br />

Rochas ígneas não contém nitrogênio e<br />

somente 0,3% de fosfato (P2O5) e 0,1% de<br />

sulfato (SO3) em massa; as entra<strong>da</strong>s por<br />

precipitação e por fixação de nitrogênio<br />

também são pequenas.<br />

Por este motivo a produção vegetal<br />

depende <strong>da</strong> rápi<strong>da</strong> reciclagem dos nutrientes<br />

a partir dos detritos e de sua retenção dentro<br />

do ecossistema. Neste sentido os detritívoros<br />

(moluscos, insetos, ácaros, bactérias e<br />

fungos) exercem papel importante.<br />

A quebra <strong>da</strong>s folhas <strong>da</strong> serapilheira<br />

no chão <strong>da</strong> floresta acontece de três formas:<br />

lixiviação de minerais solúveis e de<br />

pequenos compostos orgânicos pela água<br />

(sais, açúcares e aminoácidos); consumo por<br />

grandes organismos fragmentadores e<br />

posterior ataque por fungos e a eventual<br />

mineralização do fósforo, nitrogênio e<br />

enxofre por bactérias.<br />

A veloci<strong>da</strong>de de decomposição de<br />

vegetais depende de fatores ambientais<br />

como temperatura e pH e também do<br />

conteúdo de lignina <strong>da</strong>s folhas (ligninas são<br />

polímeros fenólicos ou longas cadeias de<br />

subuni<strong>da</strong>des fenólicas), que são degra<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

somente por fungos.<br />

Além do papel na decomposição dos<br />

detritos, algumas espécies de fungos<br />

crescem na superfície ou dentro <strong>da</strong>s raízes<br />

de muitos tipos de plantas. Esta associação<br />

que é chama<strong>da</strong> de micorrizo (ecto ou endo),<br />

aumenta a capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> planta em extrair<br />

minerais do solo.<br />

O micorrizo é comum e ocorre em<br />

to<strong>da</strong> parte, mas seu papel é mais notável em<br />

solos pobres, onde sua ocorrência <strong>pode</strong><br />

aumentar em 2 a 3 vezes a assimilação de<br />

nitrogênio, fósforo e potássio.<br />

Além <strong>da</strong> fonte extra de nutrientes,<br />

devido a habili<strong>da</strong>de do fungo em explorar<br />

fontes não disponíveis para a planta, a<br />

mesma é protegi<strong>da</strong> contra agentes<br />

patogênicos; em contraparti<strong>da</strong> os fungos<br />

obtém uma fonte “confiável” de carbono na<br />

forma de compostos fotossintéticos<br />

transportados para as raízes.<br />

Bactérias do gênero Rhizobium em<br />

associação simbiótica com leguminosas,<br />

algas marinhas, liquens e mesmo moluscos<br />

bivalvos do gênero Teredo que cava galerias<br />

em madeira submersa também <strong>pode</strong>m fixar<br />

nitrogênio.<br />

AMBIENTES TROPICAIS X<br />

TEMPERADOS<br />

Os ecossistemas tropicais e<br />

temperados diferem em muitos aspectos<br />

devido aos efeitos do clima no intemperismo<br />

e na reciclagem de detritos. Os solos pobres<br />

dos ambientes tropicais condicionariam<br />

baixa produtivi<strong>da</strong>de se não fosse pela rápi<strong>da</strong><br />

reciclagem de nutrientes a partir dos detritos<br />

sob condições úmi<strong>da</strong>s e quentes com<br />

eficiente retenção de nutrientes. Devido a<br />

rápi<strong>da</strong> reciclagem dos elementos, a maior<br />

parte dos nutrientes ocorre na biomassa<br />

viva, o que traz importantes implicações<br />

para a agricultura e conservação dos solos.<br />

A prática <strong>da</strong> derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta e<br />

queima <strong>da</strong> vegetação com consequente<br />

plantio <strong>pode</strong> provocar empobrecimento do<br />

solo devido a lixiviação dos nutrientes e<br />

erosão. Também observamos a laterização<br />

que é um processo característico <strong>da</strong>s regiões<br />

tropicais de clima úmido, em que há<br />

hidratação e oxi<strong>da</strong>ção dos elementos<br />

minerais, eliminação quase total de silício e<br />

óxido de magnésio, com enriquecimento <strong>da</strong>s<br />

rochas e solos em ferro e alumina (óxido de<br />

alumínio) e formação de resíduos insolúveis<br />

na superfície, chama<strong>da</strong>s lateritos, que


provoca compactação <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> superficial<br />

favorecendo ain<strong>da</strong> mais a erosão.<br />

A remoção <strong>da</strong> vegetação revela seu<br />

importante papel na retenção dos nutrientes<br />

do solo.<br />

As plantas assimilam o nitrogênio<br />

disponível do solo tão rapi<strong>da</strong>mente que as<br />

florestas não perturba<strong>da</strong>s ganham nitrogênio<br />

na taxa de 1 a 3 kg/ha/ano <strong>da</strong> precipitação e<br />

do processo de fixação. Em bacias<br />

desmata<strong>da</strong>s a per<strong>da</strong> de nitrogênio na forma<br />

de nitrato chega a 54 kg/ha/ano, sendo que a<br />

entra<strong>da</strong> por precipitação <strong>pode</strong> chegar a 7<br />

kg/ha/ano.<br />

A serapilheira do chão <strong>da</strong> floresta<br />

constitui cerca de 20% <strong>da</strong> biomassa total de<br />

vegetação e detritos em florestas tempera<strong>da</strong>s<br />

de coníferas e somente 1 a 2% em florestas<br />

tropicais úmi<strong>da</strong>s. A razão entre a<br />

serapilheira e a biomassa de folhas vivas<br />

está entre 5 e 10 para 1 nas florestas<br />

tempera<strong>da</strong>s mas menos que 1 para 1 em<br />

florestas tropicais.<br />

Mas mesmo nos trópicos, existem<br />

solos ricos (eutróficos) e pobres<br />

(oligotróficos). Solos eutróficos<br />

desenvolvem-se em áreas geologicamente<br />

ativas onde a erosão natural é alta e os solos<br />

são relativamente jovens; o solo é rico<br />

devido a proximi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> rocha matriz <strong>da</strong><br />

superfície tendo consequentemente eleva<strong>da</strong>s<br />

taxas de intemperismo. Os solos<br />

oligotróficos são observados em áreas<br />

antigas e geologicamente estáveis com<br />

depósitos aluviais arenosos.<br />

A floresta oligotrófica ganha cálcio e<br />

retém nutrientes mais firmimente e ao<br />

contrário a floresta eutrófica perde<br />

nutrientes.<br />

A retenção de nutrientes pela<br />

vegetação é ponto chave para manter a<br />

eleva<strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de dos ecossistemas<br />

tropicais. As plantas retêm nutrientes através<br />

do desenvolvimento de uma malha densa de<br />

raízes com fungos associados que<br />

permanece próximo à superfície. Esta malha<br />

de raízes é capaz de captar nutrientes antes<br />

que estes possam ser perdidos para fora do<br />

sistema. Em trabalhos realizados na África,<br />

constatou-se que 68 a 85% <strong>da</strong> biomassa<br />

radicular <strong>da</strong>s florestas estão concentrados<br />

dentro dos primeiros 25 a 30 cm de solo.<br />

ECOLOGIA HUMANA E AGENDA 21<br />

Por que o povo não tem saúde?<br />

Christian de Paul de Barchifontaine 2003 O<br />

mundo <strong>da</strong> Saúde, 26(3): 379-375<br />

Só existe a exploração como forma de<br />

acumulação<br />

injustiça social alarmante<br />

doença de pobre: fome, desnutrição,<br />

verminose, diarréia, ... mais as doenças dos<br />

ricos: cardiovasculares, estresse, câncer, ....<br />

Podemos reunir em quatro grupos as causas<br />

que fazem com que o povo brasileiro esteja<br />

sem saúde:<br />

1. causas liga<strong>da</strong>s as condições naturais<br />

de vi<strong>da</strong> e suas variações com o<br />

clima, a água, a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e o<br />

meio ambiente<br />

2. causas liga<strong>da</strong>s aos determinantes<br />

estruturais (sociopolíticos e<br />

econômicos) <strong>da</strong> produção de bens<br />

materiais (a comi<strong>da</strong>, a mercadoria, o<br />

dinheiro). A pobreza, a desigual<strong>da</strong>de<br />

social, o desemprego e a<br />

globalização. Segundo David Satcher<br />

do Centers for Diseases Control: “A<br />

saúde do indivíduo é melhor<br />

assegura<strong>da</strong> pela manutenção ou<br />

melhora <strong>da</strong> saúde de to<strong>da</strong> a<br />

comuni<strong>da</strong>de”.<br />

ex. Guerras; prolongamento <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> de<br />

trabalho e a aceitação de condições de<br />

trabalho perigosas e insalubres; acidentes de<br />

trabalho, de trânsito<br />

3. causas liga<strong>da</strong>s as condições sociais<br />

de vi<strong>da</strong> (a moradia, a higiene, o<br />

vestuário, e principalmente a<br />

alimentação)<br />

4. causas liga<strong>da</strong>s a outras condições de<br />

vi<strong>da</strong> diretamente associa<strong>da</strong>s aos<br />

recursos e serviços de cura –<br />

atendimento médico e remédios<br />

Alguns chegam a dizer que o sistema<br />

de saúde em nosso país reforça a tese de que<br />

ele não é organizado com a preocupação de<br />

aju<strong>da</strong>r o povo, mas aqueles que vivem a<br />

custas do sistema: indústrias de<br />

equipamentos, hospitais particulares,<br />

empresas farmacêuticas e de seguro médico,<br />

empresários, ... A preocupação seria apenas<br />

com o lucro.<br />

Em todos os níveis: enfermeiro prefere UTI .


Causas <strong>da</strong>s pessoas não terem saúde –<br />

sistema de saúde; desumanização; formação<br />

profissional; ineficiência ineficácia;<br />

relacionamento interpessoal;<br />

hospitalocêntrico; estrutura; alocação de<br />

recursos; política de saúde e iniqüi<strong>da</strong>de.<br />

Causas <strong>da</strong>s pessoas ficarem doentes<br />

(trabalho desenvolvido no Canadá):<br />

• meio ambiente<br />

• estilo de vi<strong>da</strong><br />

• biologia<br />

• organização <strong>da</strong> saúde<br />

Quem quer criar peixe deve se preocupar<br />

com a água! Logo para um indivíduo ter<br />

saúde, o meio é fun<strong>da</strong>mental. Qual esse<br />

meio?<br />

Exemplo de interferência no meio com<br />

implicações para a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>:<br />

Lago Vitória no leste <strong>da</strong> África<br />

No dia 11 de fevereiro saiu do Saara uma<br />

nuvem de poeira, atravessou o Atlântico e<br />

dois dias depois chegou na Grã-Bretanha.<br />

No norte <strong>da</strong> ilha, poucos dias depois,<br />

erupções simultâneas de febre aftosa foram<br />

anuncia<strong>da</strong>s.<br />

Um bilhõa de tonela<strong>da</strong> de poeira circula pelo<br />

planeta todo ano.<br />

A seca de 30 anos no norte <strong>da</strong> África <strong>pode</strong><br />

ser resultado de fenômeno natural, mas a<br />

drenagem do lago Chade na África e do mar<br />

de Aral na Ásia Central são resultados de<br />

administração míope dos recursos naturais<br />

O processo de desertificação (Minas Gerais)<br />

é acompanhado por pestici<strong>da</strong>s e dejetos<br />

humanos e animais.<br />

Transporte, poluição, saneamento<br />

básico, urbanização acelera<strong>da</strong>, fertilizantes,<br />

insetici<strong>da</strong>s, desmatamento, secas, enchentes.<br />

Doenças de veiculação hídrica:<br />

hepatites, febre tifóide, leptospirose, cólera,<br />

diarréias de várias etiologias, arboviroses<br />

como o hantavírus, disseminação de doenças<br />

transmiti<strong>da</strong>s por vetores como malária,<br />

leishmaniose, esquistossomose, risco <strong>da</strong><br />

urbanização <strong>da</strong> febre amarela, ....<br />

No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 um fungo<br />

terrestre começou a atacar e matar gorgônias<br />

(coral) em lugares desabitados e desprovidos<br />

de solo. Mas esse fungo não reproduz no ar.,<br />

então depende de suprimento constante de<br />

novos fungos.<br />

Poeira africana contém fungos e leva esses<br />

para o Caribe Aspergillus sydowi (fungo<br />

terrestre) infecta gorgônias saudáveis.<br />

Existem evidências para doenças de corais e<br />

bactérias leva<strong>da</strong>s pelo vento.<br />

As descobertas sobre tempestades de poeira<br />

internacionais também chamaram a atenção<br />

<strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des preocupa<strong>da</strong>s com o<br />

bioterrorismo. O antraz certamente <strong>pode</strong><br />

atravessar o Atlântico <strong>da</strong> África para EUA.<br />

As nuvens de poeira agora são considera<strong>da</strong>s,<br />

potencialmente, como uma bomba suja.<br />

A Rio + 10, que revisou partes <strong>da</strong> Ag 21,<br />

apontou questões relevantes quanto a:<br />

•Biodiversi<strong>da</strong>de<br />

Países pobres detêm riqueza, são explorados<br />

e não recebem na<strong>da</strong> em troca<br />

•Mu<strong>da</strong>nças Climáticas<br />

Em todo o mundo ocorrem 55 milhões de<br />

mortes por ano, sendo que 5% delas são<br />

decorrentes <strong>da</strong> poluição atmosférica (OMS,<br />

2000)<br />

•Energia<br />

•Subsídios agrícolas<br />

•<strong>Água</strong><br />

11 milhões de brasileiros que vivem em<br />

ci<strong>da</strong>des não possuem acesso a água<br />

encana<strong>da</strong><br />

•Pesca<br />

sustentabili<strong>da</strong>de e aqüicultura<br />

•Combate a miséria<br />

Manipuladores cerebrais – Robert Sapolsky<br />

Parasitas desenvolvem habili<strong>da</strong>des<br />

para mu<strong>da</strong>r comportamento de seus<br />

hospedeiros a seu favor:<br />

•ácaros que montam nas costas de formigas,<br />

provocando reflexo que culmina em vômito<br />

•oxiúros depositam ovos na pele de um<br />

roedor; os ovos secretam substância que<br />

provoca coceira, fazendo o roedor mordiscar<br />

a região e acabam engolindo os ovos<br />

Nestes casos o intruso molesta o<br />

hospedeiro fazendo-o comportar a seu favor;<br />

Mas alguns parasitas alteram a função do


sistema nervoso, manipoulando hormônios e<br />

conseqüentemente comportamento:<br />

•cirrípedes (Saculina granifera) um<br />

crustáceo encontrado na Austrália gru<strong>da</strong>m<br />

em caranguejos machos e secretam<br />

hormônios feminizante, induzindo<br />

comportamento maternal do animal. O<br />

animal partte para o mar e cava buracos<br />

ideais para desova, como se fosse uma<br />

fêmea e os pequenos crustáceos desovam.<br />

Se o hospedeiro for uma fêmea, essa sofre<br />

uma castração parasítica – seus ovários<br />

atrofiam!<br />

Em casos extremos o parasita penetra<br />

no cérebro e altera o comportamento do<br />

hospedeiro em favor próprio: como o vírus<br />

<strong>da</strong> raiva. O vírus deve passar de um animal a<br />

outro e faz isso disparando comportamento<br />

agressivo. O mecanismo <strong>pode</strong>ria ser outro<br />

como espirros ou uma vontade incontrolável<br />

de lamber..... Mas esse mecanismo <strong>pode</strong><br />

aprimorar! Se o hospedeiro morde qualquer<br />

um o sucesso do parasita <strong>pode</strong> reduzir, como<br />

no caso de coelhos, onde o vírus <strong>da</strong> raiva<br />

não se replica bem. Então, se o efeito é<br />

generalizado, o sucesso futuro do parasita<br />

<strong>pode</strong> ser nulo, morrendo em um hospedeiro<br />

inadequado.<br />

O controle do comportamento <strong>pode</strong><br />

ir além e ser extremamente específico, como<br />

no caso do Toxoplasma gondii. O<br />

protozoário é ingerido por um roedor, onde<br />

forma cistos em todo o corpo,<br />

particularmente no cérebro. O roedor é<br />

comido por um gato, onde o toxoplasma se<br />

reproduz. O parasito conquista novos<br />

horizontes via fezes, que <strong>pode</strong> ser belisca<strong>da</strong><br />

por um roedor..... Mas o protozoário não<br />

teria sucesso se o roedor fosse consumido<br />

por um cachorro ou ave de rapina, pois o<br />

gato é o único animal onde o toxoplasma<br />

<strong>pode</strong> se reproduzir com sucesso, bem como<br />

se as fezes do gato fossem consumi<strong>da</strong>s por<br />

uma lesma ou um inseto. O parasita <strong>pode</strong><br />

infectar inúmeras espécies (inclusive<br />

mulheres grávi<strong>da</strong>s-promovendo<br />

comprometimento neurológico no feto), mas<br />

o sucesso é garantido somente no gato.<br />

Ratos são avessos a ratos e fogem<br />

quando sentem o cheiro de gatos, são<br />

feronônios e sinalizadores químicos por<br />

odor. Esse comportamento esta tão bem<br />

fixado geneticamente, que ratos, após<br />

centenas de gerações em laboratório, ain<strong>da</strong><br />

apresentam esse comportamento. Esse<br />

padrão de ação fixa não é desenvolvido por<br />

tentativa e erro, pois ratos que encontrassem<br />

gatos não teriam segun<strong>da</strong> chance de<br />

aprender ou ensinar esse comportamento. O<br />

curioso é que ratos contaminados com o<br />

protozoário perdem o medo de gatos.<br />

Mesmo contaminados os ratos não alteram<br />

comportamento geral como hierarquia social<br />

e interesse pela cópula, e naturalmente<br />

reconhece feromônios do sexo oposto e<br />

outros cheiros também.<br />

Sindrome respiratória agu<strong>da</strong> grave:<br />

pequenos mamíferos (cachorro, guaxinim e<br />

texugo) vendidos em mercados livres e<br />

consumidos como alimento<br />

A gripe é transmiti<strong>da</strong> de uma pessoa<br />

a outra através <strong>da</strong> tosse e espirros, mas o<br />

vírus não começa sua viagem através de um<br />

humano. Ele se perpetua em aves aquáticas<br />

selvagens, como gansos, codornas e<br />

marrecos. O vírus vive no intestino dessas<br />

aves e não lhes causa mal algum. Essas<br />

causadoras de pandemias humanas <strong>pode</strong>m<br />

viajar por todo o globo, através de processos<br />

migratórios, e disseminar o vírus <strong>da</strong> gripe. A<br />

forma do vírus encontra<strong>da</strong> nas aves não se<br />

reproduz bem nos homens, e por isso tem<br />

mu<strong>da</strong>r primeiro em um hospedeiro<br />

intermediário, em geral aves domésticas,<br />

como as galinhas ou porcos , que se<br />

contaminam quando entram em contato, em<br />

geral através <strong>da</strong> água, com aves selvagens.<br />

Cavalos, baleias e focas, entre outros<br />

animais, são periodicamente infectados pelo<br />

vírus <strong>da</strong> gripe. Embora esses animais<br />

possam adoecer e morrer, os suínos <strong>pode</strong>m<br />

conviver por longo tempo com os vírus,<br />

servindo como misturadores entre o vírus<br />

a<strong>da</strong>ptado as aves e aqueles a<strong>da</strong>ptados aos<br />

homens. Isso acontece por que os suínos tem<br />

receptores para vírus avícolas e humanos.<br />

A maior parte <strong>da</strong>s pandemias<br />

origina-se na China, onde aves, porcos e<br />

pessoas vivem muito próximas uns dos<br />

outros. A ca<strong>da</strong> 20 ou 30 anos, mais ou<br />

menos, o vírus <strong>da</strong> gripe tipo B sofre uma<br />

permuta antigênica, assim o sistema<br />

imunológico não consegue reconhecer um<br />

novo vírus e o resultado é uma pandemia.


Quase 500 mil pessoas morreram de<br />

gripe nos EUA entre 1918 e 1919. Na<br />

primeira Guerra Mundial, 40% dos jovens<br />

norte-americanos morreram de gripe, e não<br />

em combate. Curiosamente, quase metade<br />

<strong>da</strong>s pessoas que morreram tinham entre 20 e<br />

40 anos, mas o comum é que pessoas mais<br />

jovens e idosas apresentem maior taxa de<br />

mortali<strong>da</strong>de.<br />

Segundo <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> OMS (31 de<br />

maio), o mundo já teve 8.360 pessoas<br />

notifica<strong>da</strong>s infecta<strong>da</strong>s com a Síndrome<br />

respiratória agu<strong>da</strong> grave, com o total de 764<br />

mortes, uma taxa de mortali<strong>da</strong>de de 9,1%.<br />

Em pessoas acima de 60 anos, esta taxa sobe<br />

para algo em torno de 55%.<br />

Cajueiro – a castanha movimentou<br />

mais de US$ 12 milhões em exportações,<br />

mas compra 20 milhões em antioxi<strong>da</strong>nte,<br />

geralmente derivado do petróleo. Um<br />

líquido extraído <strong>da</strong> casca <strong>da</strong> castanha,<br />

rejeita<strong>da</strong> no beneficiamento, após<br />

beneficiado, <strong>pode</strong> combater radicais livres<br />

formados no refino <strong>da</strong> gasolina e que<br />

entopem os bicos injetores de combustível,<br />

sujam o tanque e carburadores. O Líquido <strong>da</strong><br />

Castanha do Caju ou LCC está sendo<br />

processado na Universi<strong>da</strong>de Federal do<br />

Ceará em parceria com várias empresas.<br />

VERDE E QUALIDADE DE VIDA<br />

Apesar de já terem sido tachados de<br />

"chatos" ou "radicais", os ambientalistas, ou<br />

simplesmente aqueles que estão<br />

preocupados em garantir uma melhor<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> através <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong><br />

natureza, têm agora mais um motivo para<br />

confirmar a opção. Sua preocupação com o<br />

verde, com a manutenção e ampliação de<br />

áreas verdes nas ci<strong>da</strong>des e com a<br />

preservação <strong>da</strong>s florestas têm, além de<br />

razões de ordem social e econômica, razões<br />

de ordem física e mental.<br />

A pesquisa foi publica<strong>da</strong><br />

originalmente no Journal of Environmental<br />

Psychology, Volume 3, em junho de 2003,<br />

p. 109-123, por Terry Hartig, Gary W.<br />

Evans, Larry D. Jamner, Deborah S. Davis e<br />

Tommy Gärling. 112 jovens, depois de<br />

submetidos a uma série de fatores<br />

estressantes e colocados num local com<br />

árvores, recuperam-se mais rapi<strong>da</strong>mente,<br />

tendo inclusive reduzido sua pressão arterial<br />

em relação a pessoas que se sentaram em<br />

uma sala sem janelas e depois caminharam<br />

por uma área urbaniza<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong>, segundo a pesquisa conduzi<strong>da</strong><br />

por pesquisadores de diferentes<br />

universi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Suécia e dos Estados<br />

Unidos, após os jovens serem submetidos a<br />

situações de estresse, tendo sido levados a<br />

uma área com muitas árvores, verificou-se<br />

que seu desempenho em um teste de atenção<br />

melhorou ligeiramente enquanto<br />

caminhavam na reserva natural. Ao mesmo<br />

tempo, ocorreu o oposto com o grupo que<br />

permaneceu na área urbana. Esta melhora de<br />

desempenho persistiu depois do passeio.<br />

Outro aspecto detectado foi que a raiva<br />

diminuiu na reserva natural ao final do<br />

passeio; o padrão oposto emergiu no<br />

ambiente urbano.<br />

Essa pesquisa confirmou o que<br />

muitos já sabiam, ain<strong>da</strong> que de modo<br />

intuitivo. Muitos habitantes <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des<br />

saem no fim de semana em busca de<br />

ambientes preservados, como parques,<br />

reservas naturais ou proprie<strong>da</strong>des rurais.<br />

Eles têm seu motivo, mesmo que não saibam<br />

expressar isso. A própria saí<strong>da</strong> em massa<br />

nos feriados para áreas de montanha,<br />

turismo rural ou praia é um sintoma dessa<br />

busca por condições mais adequa<strong>da</strong>s para o<br />

relaxamento e o descanso <strong>da</strong>s situações<br />

estressantes do cotidiano.<br />

Por outro lado, nas ci<strong>da</strong>des, é<br />

necessário reconhecer o papel que têm as<br />

áreas verdes, os parques e os jardins, bem<br />

como, nas residências, ain<strong>da</strong> que sendo<br />

apartamentos, a importância de se cultivar<br />

plantas em vasos ou floreiras.<br />

Uma pesquisa como essa tem a<br />

capaci<strong>da</strong>de de reforçar mu<strong>da</strong>nças de<br />

atitudes. As pesquisas são importantes<br />

porque confirmam ou negam nossas diversas<br />

concepções acerca do mundo e de nós<br />

próprios. Além disso, abrem novas<br />

perspectivas, novos campos para a atuação<br />

humana, possibilitam descobertas que, em<br />

última instância, <strong>pode</strong>m facilitar e contribuir<br />

para modificar situações de risco e impedir a<br />

piora <strong>da</strong>s nossas condições de vi<strong>da</strong>.


A divulgação de pesquisas e estudos<br />

sobre a importância do verde na vi<strong>da</strong><br />

humana <strong>pode</strong> mostrar a todos, em especial<br />

às autori<strong>da</strong>des municipais, que essa não é<br />

apenas uma questão de embelezamento dos<br />

espaços públicos ou peça de marketing<br />

eleitoral, mas um fator fun<strong>da</strong>mental para a<br />

melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />

Efeito Estufa - As conseqüências <strong>da</strong>nosas do<br />

aquecimento global no Alasca<br />

Os efeitos do aquecimento global<br />

estão fazendo com que até o gelo<br />

permanente do Alasca, Estados Unidos,<br />

derreta. A elevação <strong>da</strong> temperatura, seja<br />

causa<strong>da</strong> pela emissão de gases de efeito<br />

estufa ou não, está trazendo também<br />

conseqüências como maré cheia, presença<br />

de insetos em locais nos quais eles não<br />

existiam e também causado incêndios<br />

incontroláveis. O relatório elaborado pelo<br />

órgão americano de proteção ambiental para<br />

o governo Bush, destaca que "não há mais<br />

como duvi<strong>da</strong>r que mu<strong>da</strong>nças climáticas<br />

importantes ocorreram nas últimas déca<strong>da</strong>s<br />

na região, com conseqüências visíveis e<br />

mensuráveis". (O Estado de São Paulo,<br />

Geral, 23/06/02, pág. A18, página inteira).<br />

O que são Créditos de Carbono? ( Amyra El<br />

Khalili)<br />

Créditos de Carbono são certificados<br />

que autorizam o direito de poluir. O<br />

princípio é simples. As agências de proteção<br />

ambiental reguladoras emitem certificados<br />

autorizando emissões de tonela<strong>da</strong>s de<br />

dióxido de enxofre, monóxido de carbono e<br />

outros gases poluentes. Inicialmente,<br />

selecionam-se indústrias que mais poluem<br />

no País e a partir <strong>da</strong>í são estabeleci<strong>da</strong>s metas<br />

para a redução de suas emissões. A<br />

empresas recebem bônus negociáveis na<br />

proporção de suas responsabili<strong>da</strong>des. Ca<strong>da</strong><br />

bônus, cotado em dólares, equivale a uma<br />

tonela<strong>da</strong> de poluentes. Quem não cumpre as<br />

metas de redução progressiva estabeleci<strong>da</strong>s<br />

por lei, tem que comprar certificados <strong>da</strong>s<br />

empresas mais bem sucedi<strong>da</strong>s. O sistema<br />

tem a vantagem de permitir que ca<strong>da</strong><br />

empresa estabeleça seu próprio ritmo de<br />

adequação às leis ambientais. Estes<br />

certificados <strong>pode</strong>m ser comercializados<br />

através <strong>da</strong>s Bolsas de Valores e de<br />

Mercadorias, como o exemplo do Clean Air<br />

de 1970, e os contratos na bolsa<br />

estadunidense. (Emission Trading - Joint<br />

Implementation)<br />

Há várias empresas especializa<strong>da</strong>s no<br />

desenvolvimento de projetos que reduzem o<br />

nível de gás carbônico na atmosfera e na<br />

negociação de certificados de emissão do<br />

gás espalha<strong>da</strong>s pelo mundo se preparando<br />

para vender cotas dos países<br />

subdesenvolvidos e países em<br />

desenvolvimento, que em geral emitem<br />

menos poluentes, para os que poluem mais.<br />

Enfim, preparam-se para negociar contratos<br />

de compra e ven<strong>da</strong> de certificados que<br />

conferem aos países desenvolvidos o direito<br />

de poluir.<br />

Segundo Sergio Besserman Vianna -<br />

Presidente do Instituto Brasileiro de<br />

Geografia e Estatística (IBGE), “O<br />

aquecimento global é uma reali<strong>da</strong>de<br />

inegável. Se ele não for tratado pelo<br />

mercado financeiro, algum outro mecanismo<br />

terá de ser criado para fazê-lo”, disse para a<br />

Folha de São Paulo.<br />

Por sua vez, Eduardo Viola,<br />

Professor Titular do Departamento de<br />

Relações Internacionais e Centro de<br />

Desenvolvimento Sustentável <strong>da</strong> UnB,<br />

analisa: “Está claro hoje que para proteger o<br />

ambiente precisamos ir além dos<br />

mecanismos rígidos de comando e controle<br />

que predominaram no mundo nos últimos 30<br />

anos”.<br />

A criação de mecanismos de<br />

mercado que valorizam os recursos naturais<br />

é uma extraordinária inovação cujo primeiro<br />

exemplo deu-se nos EUA com a emen<strong>da</strong> de<br />

1990 ao Clean Air de 1970. Por causa dessa<br />

Emen<strong>da</strong> de 1990, que criou as cotas<br />

comercializáveis de poluição nas bacias<br />

aéreas regionais dos EUA, a poluição do ar<br />

diminuiu numa media de 40% nos EUA<br />

entre 1991 e 1998. Varias iniciativas,<br />

seguindo o mesmo princípio, estão em<br />

processo de ser adota<strong>da</strong>s em vários países e<br />

internacionalmente (o Protocolo de Kyoto<br />

1997 estabelece as cotas de emissões de<br />

carbono comercializáveis entre os países do<br />

Anexo 1 e o Clean Development Mechanism


entre países desenvolvidos de um lado e<br />

médios e pobres do outro).<br />

Os volumes do Mercado de Carbono<br />

têm estimativas <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s, e na<br />

maior parte <strong>da</strong>s matérias publica<strong>da</strong>s pela<br />

imprensa os índices não batem. Ca<strong>da</strong> fonte<br />

indica um <strong>da</strong>do diferente, vai desde U$ 500<br />

milhões até US$ 80 bilhões por ano - os<br />

analistas de investimentos consideram o<br />

volume estimado pelos especialistas<br />

insignificante, comparado com alguns<br />

setores que giram volumes equivalente num<br />

mês.<br />

O que <strong>pode</strong> haver é uma forte<br />

deman<strong>da</strong> por países industrializados e uma<br />

expectativa futura de que esse mercado<br />

venha a ser um “grande negócio”, uma fonte<br />

de investimentos, do ponto de vista<br />

estritamente financista. Neste caso, a<br />

posição do Brasil é estratégica, em função<br />

de uma série de considerações que faremos<br />

adiante.<br />

Qual a posição do Brasil?<br />

Acontece que, no caso do Brasil,<br />

como também no <strong>da</strong> África, é exigi<strong>da</strong> uma<br />

série de certificações e avais em função dos<br />

riscos de crédito, por to<strong>da</strong>s as questões de<br />

credibili<strong>da</strong>de: o chamado “Risco Brasil”. O<br />

Brasil não é considerado no mercado<br />

internacional um bom pagador. Já tivemos<br />

escân<strong>da</strong>los financeiros que assustaram<br />

investidores sérios, atraindo ao país<br />

investimentos de curtíssimo prazo, capital<br />

especulativo e volátil, além dos chamados<br />

farejadores <strong>da</strong>s Ilhas Cayman, que adoram<br />

negócios “nebulosos” para ancorar as<br />

operações de lavagem de dinheiro. Tudo isso<br />

entra na contabili<strong>da</strong>de dos empréstimos<br />

internacionais, e o risco que corremos é de<br />

acontecer de o dinheiro com taxa baixa ou a<br />

fundo perdido chegar na mão do pequeno<br />

com taxas altíssimas. Não se deve esquecer<br />

ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de deste indivíduo<br />

diante de contratos complexos, projetos<br />

duvidosos e pressões de especuladores,<br />

interessados em comprar terras abaixo do<br />

preço do mercado para se credenciarem a<br />

esses investimentos.<br />

Existem grandes diferenças entre as<br />

CDMs e as commodities ambientais. Os<br />

CDMs ou MDLs (Mecanismos de<br />

Desenvolvimento Limpo) em síntese, são<br />

alternativas que implicam em assumir uma<br />

responsabili<strong>da</strong>de para reduzir as emissões de<br />

poluentes e promover o desenvolvimento<br />

sustentável. Trata-se de um mecanismo de<br />

investimentos, pelo qual países<br />

desenvolvidos <strong>pode</strong>m estabelecer metas de<br />

redução de emissões e de aplicação de<br />

recursos financeiros em projetos como<br />

reflorestamentos, produção de energia<br />

limpa. As empresas, por exemplo, ao invés<br />

de utilizar combustíveis fósseis, que são<br />

altamente poluentes, passariam a utilizar<br />

energia produzi<strong>da</strong> em condições<br />

sustentáveis, como é o caso <strong>da</strong> biomassa.<br />

Existe, enfim, uma gama enorme de projetos<br />

ambientais e operações de engenharia<br />

financeira que <strong>pode</strong>m ser desenvolvidos no<br />

Brasil, proprietário <strong>da</strong>s sete matrizes<br />

ambientais. (água, energia, biodiversi<strong>da</strong>de,<br />

madeira, minério, reciclagem e controle de<br />

emissão de poluentes - água, solo e ar).<br />

Nem todo projeto de CDM gera<br />

necessariamente uma “commodity<br />

tradicional” e muito menos uma<br />

“commodity ambiental”. Explico: a troca de<br />

créditos de cotas entre países desenvolvidos,<br />

que estabelecem limites de “direitos de<br />

poluir” (Joint Implemetation e Emission<br />

Trading), <strong>pode</strong> ser transforma<strong>da</strong> em títulos<br />

comercializáveis em mercados de balcão<br />

(contratos de gaveta - side letters), ou em<br />

mercados organizados (Bolsas,<br />

Interbancários, Intergovernamentais, etc).<br />

Mas afirmar que poluição é mercadoria é um<br />

absurdo conceitual e chamá-la de<br />

“commodity ambiental” é uma contradição.<br />

Em primeiro lugar, a poluição não<br />

<strong>pode</strong> ser considera<strong>da</strong> mercadoria, ain<strong>da</strong> mais<br />

quando se deseja eliminá-la. Em segundo,<br />

não serão os pequenos produtores os<br />

contemplados nesta troca, porque ela é<br />

realiza<strong>da</strong> entre grandes corporações<br />

nacionais e transnacionais. Além disso, só é<br />

possível realizar tais trocas em um mercado<br />

fortemente globalizado, já que esses títulos<br />

migrarão de um país para o outro com a<br />

mesma veloci<strong>da</strong>de que migram os<br />

investimentos globalizados, num círculo<br />

restrito de países mais ou menos<br />

desenvolvidos, o que vai contra to<strong>da</strong>s as<br />

reivindicações do Fórum Social Mundial<br />

realizado no Rio Grande do Sul.


Se de um lado as commodities<br />

ambientais têm como seu principal<br />

diferencial o modelo <strong>da</strong> pirâmide, no qual os<br />

contemplados pelos recursos financeiros<br />

devem diretamente ser os excluídos, o<br />

trading emission (compra e ven<strong>da</strong> de<br />

créditos de carbono) atendem ao tradicional<br />

modelo <strong>da</strong>s operações financeiras que todos<br />

nós já estamos cansados de conhecer. Ele<br />

apenas repete um mecanismo já explorado,<br />

com a agravante de ser falacioso, trazendo o<br />

argumento ambiental e causando confusão<br />

de conceituação.<br />

Mas o CDM <strong>pode</strong> e deve ser<br />

aplicado ao conceito “commodities<br />

ambientais”, observa<strong>da</strong>s duas condições: se<br />

o projeto de controle de emissão de<br />

poluentes estiver gerando uma “commodity”<br />

como energia (biomassa), madeira,<br />

biodiversi<strong>da</strong>de, água, minério, reciclagem, e<br />

se o modelo vier a promover a geração de<br />

emprego e ren<strong>da</strong> e financiar educação,<br />

saúde, pesquisa e preservação de área<br />

protegi<strong>da</strong>s. Em outras palavras, ela precisa<br />

também atender às reivindicações do<br />

movimento ambientalista e de grupos de<br />

direitos humanos, engajados nesta luta<br />

ingrata para preservar o meio ambiente.<br />

Nesse sentido, um projeto de<br />

reflorestamento com pinus e eucalipto não<br />

<strong>pode</strong> invadir uma área como Amazônia,<br />

ain<strong>da</strong> que a comuni<strong>da</strong>de científica prove<br />

com todos os meios que pinus e eucaliptos<br />

captam mais carbono do que uma floresta<br />

nativa.<br />

Faca de dois gumes<br />

Veja, então, a diferença. Não importa<br />

para as “commodities ambientais” o que<br />

capta mais carbono. Importa, porém, o que<br />

gera mais emprego e mantém mais áreas de<br />

preservação. O modelo de “commodities<br />

ambientais” que propomos debater é<br />

exatamente produzir uma trava que impeça<br />

que um ecossistema seja prejudicado para<br />

favorecer a exploração comercial do outro.<br />

O marketing dos países ricos, prometendo<br />

dinheiro aos projetos ambientais dos países<br />

pobres, <strong>pode</strong> ser uma faca de dois gumes<br />

para o meio ambiente.<br />

Existe o risco dos certificados de<br />

carbono serem transforma<strong>da</strong>s apenas numa<br />

operação financeira para <strong>da</strong>r lucros aos seus<br />

investidores e acabar não gerando nenhuma<br />

vantagem para o meio ambiente. Isto é, se os<br />

instrumentos econômicos forem uma<br />

promessa de capturar carbono no futuro.<br />

Como ocorreu, por exemplo, muitas<br />

vezes no caso dos incentivos florestais,<br />

quando muita gente pegou dinheiro<br />

subsidiado do Governo para plantar, mas<br />

não plantou ou recebeu dinheiro para plantar<br />

mil hectares, terminou plantando somente<br />

200 hectares. Nestes casos, as travas para se<br />

proteger dos especuladores mauintencionados<br />

estão sendo articula<strong>da</strong>s com o<br />

sistema de produção <strong>da</strong>s commodities<br />

ambientais.<br />

Sempre existe esse risco quando<br />

li<strong>da</strong>mos com o mercado financeiro. Um dia<br />

após o outro, criam-se contratos com<br />

cláusulas complexas e expressões em inglês<br />

não raras vezes escondendo negócios de<br />

interesse estrangeiro.<br />

Se isso já é muitas vezes difícil para<br />

os especialistas <strong>da</strong> área entenderem, o que se<br />

dirá do pequeno produtor ou do proprietário<br />

de uma área florestal que deseja tornar sua<br />

floresta um projeto com viabili<strong>da</strong>de<br />

econômica, devendo respeitar as leis de<br />

conservação, códigos florestais e outras<br />

exigências. Estamos cientes de que a<br />

certificação é um caminho, mas não a<br />

solução do problema, pois para certificar o<br />

produto é necessário produzir em condições<br />

sustentáveis, o que requer investimentos.<br />

Tudo isso é caro e leva tempo e dinheiro.<br />

O que acontece hoje é uma<br />

concorrência desleal com as altas taxas de<br />

juros. Qualquer negócio de longo prazo no<br />

Brasil torna-se incompatível com os lucros<br />

que os títulos financeiros garantem, sem que<br />

seja necessário se preocupar com chuvas,<br />

investimentos na produção, a plantação, a<br />

colheita, o pagamento de funcionários. Isso<br />

explica porque, ao invés de ser aplicado<br />

diretamente na produção, o dinheiro<br />

subsidiado migra para a especulação<br />

financeira.<br />

Mas isso só acontece com a<br />

participação de agentes que não são <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de produtiva, até porque o produtor<br />

sozinho, que sequer sabe como captar o<br />

recurso para sua lavoura, sabe tampouco


atuar no mercado. Ele tem muitas vezes seu<br />

CPF ou CNPJ <strong>da</strong> cooperativa usado em<br />

operações de lavagem de dinheiro. E quando<br />

quebram, prejudicam a credibili<strong>da</strong>de de<br />

todos: vide a Cooperativa Agrícola de Cotia<br />

e, mais recentemente, o caso <strong>da</strong> Exportadora<br />

<strong>da</strong>s Cooperativas Brasileiras - Eximcoop.<br />

Nem precisamos ir muito longe - agora<br />

temos os escân<strong>da</strong>los financeiros que<br />

revoltaram os mercados de capitais em 2002<br />

e jogaram as Bolsas de Valores no chão.<br />

A crise no mercado de ações tem<br />

sido compara<strong>da</strong> com os colapsos provocados<br />

pelo crash de 1929 e pelas crises do petróleo<br />

em 1973 e 1974. Os Créditos de Carbono, se<br />

mal desenhados e lançados no mercado no<br />

afã <strong>da</strong> euforia, apenas para suprir uma<br />

expectativa de captar investimentos<br />

internacionais, <strong>pode</strong>m mascarar a ação de<br />

muitos “oportunistas de negociatas”.<br />

Ao implantar os Fóruns Regionais<br />

BECE (Brazilian Environment Commodities<br />

Exchange), no Projeto CTA, estamos<br />

tentando descobrir os meios de resolver o<br />

problema. Eliminar o risco é impossível,<br />

uma utopia. Mas <strong>pode</strong>mos amenizá-lo<br />

identificando quem realmente merece ser<br />

receptor deste dinheiro, traçando com a<br />

comuni<strong>da</strong>de uma estratégia de elaboração e<br />

de fiscalização de projetos ambientais com<br />

comprometimento, para que os produtores e<br />

comuni<strong>da</strong>des extrativistas obtenham<br />

investimentos sem que os recursos passem<br />

pelas mãos de “inimigos ocultos”, expertos<br />

na arte de desvirtuar projetos ambientais.<br />

Por isso criamos a proposta “BECE”,<br />

genuinamente brasileira, porque este é um<br />

problema brasileiro. Precisamos mapear as<br />

nossas reais necessi<strong>da</strong>des e fazer a lição de<br />

casa para então conseguirmos também<br />

adotar uma postura mais séria e fazer<br />

propostas mais concretas nas relações com a<br />

ALCA, Mercosul, no Protocolo de Kyoto,<br />

etc. Olhando de frente com coragem e<br />

determinação os nossos problemas,<br />

chegaremos mais rápido às soluções, sem<br />

ficar enxugando lágrimas em lençóis porque<br />

tivemos nossas “commodities tradicionais”<br />

excluí<strong>da</strong>s dos acordos internacionais.<br />

Outro aspecto crucial de nosso<br />

debate é como chegar aos pequenos e fazer<br />

com que estes tenham as mesmas<br />

oportuni<strong>da</strong>des de financiamento de seus<br />

projetos, seja na área de educação, saúde,<br />

meio ambiente ou agropecuária. Estamos,<br />

em suma, falando <strong>da</strong> reconstrução<br />

econômica do país, e os projetos para<br />

produção de commodities ambientais são<br />

soluções potenciais num momento em que<br />

estamos fartos de somente enxergar<br />

problemas.<br />

O Projeto CTA (www.sindeconesp.org.br)<br />

fará <strong>da</strong>s palavras de Eduardo<br />

Viola a missão de BECE: “O Século 20 nos<br />

ensinou, com alegria e tragédia extremas,<br />

como o mercado é o mais eficiente<br />

mecanismo alocativo inventado pela<br />

humani<strong>da</strong>de. Também nos ensinou que um<br />

mercado sem pleno Estado de Direito e sem<br />

indivíduos educados e auto-reflexivos<br />

produz uma socie<strong>da</strong>de extremamente<br />

materialista que bloqueia as potenciali<strong>da</strong>des<br />

de evolução humana. Precisamos avançar na<br />

direção de um mercado transparente e<br />

conscientemente regulado pela socie<strong>da</strong>de,<br />

onde não exista espaço para informações<br />

privilegia<strong>da</strong>s, nem cláusulas para favorecer<br />

alguns dos competidores, (...).”<br />

Com a proposta BECE e a<br />

elaboração de Projetos Econômico-<br />

Financeiros para os Mercados de<br />

“Commodities Ambientais”, estaremos<br />

colocando a preservação ambiental na<br />

contabili<strong>da</strong>de como ativo/investimento e não<br />

como passivo/prejuízo, tentado mu<strong>da</strong>r a<br />

visão dos empresários e investidores hoje<br />

em relação à questão sócio-ambiental.<br />

Especialmente, onde as commodities<br />

ambientais <strong>pode</strong>riam aju<strong>da</strong>r a luta pelo<br />

combate ao efeito estufa que está<br />

comprova<strong>da</strong>mente aquecendo o planeta e<br />

provocando prejuízos enormes com o<br />

agravamento <strong>da</strong>s secas, chuvas, tempestades.<br />

ALTERAÇÕES EM ESCALA GLOBAL<br />

28 de outubro de 2004; Versão on line -<br />

Mortes por desastres naturais triplicaram<br />

em 2003<br />

GENEBRA, Suíça - Os desastres<br />

naturais mataram 76.806 pessoas em 2003,<br />

três vezes mais que o números de vítimas<br />

em 2002, um acréscimo devido em grande<br />

parte às condições extrema<strong>da</strong>s do clima


mundial, disse nesta quinta-feira o principal<br />

organismo humanitário do planeta.<br />

Um terremoto que matou 31 mil em<br />

Bam, no Irã, e a on<strong>da</strong> de calor na Europa,<br />

que provocou a morte de outros 35 mil,<br />

explicam o maior número de óbitos,<br />

informou a Federação Internacional <strong>da</strong>s<br />

Socie<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Cruz Vermelha e do<br />

Crescente Vermelho.<br />

No total, revelou o relatório, 250<br />

milhões de pessoas foram afeta<strong>da</strong>s por<br />

secas, inun<strong>da</strong>ções ou abalos sísmicos,<br />

levando a prejuízos de US$ 56 bilhões.<br />

Cinco de janeiro de 2005 Globo Versão on<br />

line Tsunami provocou ondulações na<br />

costa do Brasil<br />

RIO - As on<strong>da</strong>s gigantes que<br />

atingiram o litoral de países <strong>da</strong> Ásia e <strong>da</strong><br />

África provocaram ondulações, com<br />

pequena intensi<strong>da</strong>de, que viajaram 16 mil<br />

quilômetros, a uma veloci<strong>da</strong>de de 700 km/h,<br />

até chegar à costa brasileira.<br />

- Essas on<strong>da</strong>s se propagaram pela<br />

ligação do Atlântico Sul com o Índico, que é<br />

uma ligação bem mais franca do que a<br />

ligação do Pacífico com o Atlântico -<br />

explicou Albano Alves, oceanógrafo, em<br />

entrevista ao Jornal Nacional.<br />

A chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> ao litoral<br />

brasileiro não causou nenhum estrago. Mas<br />

provocou um fenômeno que os especialistas<br />

consideram inédito e que foi percebido em<br />

vários pontos <strong>da</strong> costa graças à sensibili<strong>da</strong>de<br />

de equipamentos como um marégrafo, que<br />

mede a variação do nível do mar.<br />

As alterações incomuns <strong>da</strong> maré<br />

foram registra<strong>da</strong>s em pelo menos três<br />

estados: Rio Grande do Norte, Bahia e Rio<br />

de Janeiro. Em Arraial do Cabo, litoral norte<br />

do Rio, elas foram senti<strong>da</strong>s na uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

marinha.<br />

Normalmente, a maré sobe e desce,<br />

em média, a intervalos de seis horas. No<br />

Rio, a previsão <strong>da</strong> marinha para às 22h de<br />

domingo, dia 26, era de que a maré subisse<br />

um metro e 30 centímetros até às 3h de<br />

segun<strong>da</strong>. Mas nesse período, com a chega<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>s ondulações <strong>da</strong> Ásia, a maré ficou<br />

subindo e descendo cerca de 30 centímetros,<br />

a intervalos de meia hora. Esse<br />

comportamento raro durou dois dias. Na<br />

noite de terça-feira o movimento <strong>da</strong> maré no<br />

litoral do Brasil voltou ao normal. Para<br />

Victor D´ávila, oceanógrafo do Observatório<br />

Nacional, as mu<strong>da</strong>nças na maré, que<br />

impressionaram os especialistas, não devem<br />

ser motivo de preocupação para os<br />

brasileiros.<br />

10 de janeiro de 2005; Globo on line -<br />

Icebergs invadem mar <strong>da</strong> Nova Zelândia<br />

CHRISTCHURCH - O Instituto<br />

neozelandês de Investigação para a<br />

Atmosfera informou nesta quinta-feira que<br />

vários icebergs, alguns com mais de 3 mil<br />

metros de largura, chegaram às aguas do<br />

país, <strong>pode</strong>ndo afetar a navegação. Os blocos<br />

de gelo foram avistados 1.700km ao sul <strong>da</strong><br />

capital Wellington. - Esses icebergs são só o<br />

começo, ain<strong>da</strong> vamos ver muitos mais -<br />

avisa Lionel Campton, um cientista do<br />

instituto. Segundo Campton, o aumento <strong>da</strong><br />

temperatura no planeta está fazendo com<br />

que blocos se soltem do continente antártico<br />

e flutuem mar adentro.<br />

- Em breve haverá muitos icebergs mais ao<br />

norte do que o habitual, e o derretimento<br />

deles aumentará o nível <strong>da</strong>s águas no planeta<br />

- prevê. As autori<strong>da</strong>des marítimas do país já<br />

emitiram um alerta aos navegadores. Um<br />

iate que participa de uma regata<br />

internacional ao redor do mundo teria<br />

sofrido pequenas avarias ao se chocar com<br />

um dos blocos de gelo.<br />

25 de janeiro de 2005; Globo on line -<br />

Aquecimento global <strong>pode</strong> ser irreversível<br />

em menos de dez anos<br />

LONDRES<br />

O aquecimento global está se<br />

aproximando de um ponto crítico, após o


qual secas mais fortes, falta de água,<br />

desaparecimento de florestas, dificul<strong>da</strong>des<br />

na agricultura, alta do nível dos mares e<br />

intensificação <strong>da</strong>s doenças seriam<br />

irreversíveis. E isto <strong>pode</strong> acontecer em<br />

menos de dez anos, diz um relatório<br />

internacional apresentado pelo jornal<br />

britânico "The Independent".<br />

Com o título "Aceitando o desafio do<br />

clima", o documento independente exorta os<br />

líderes do G8, que reúne os países mais ricos<br />

e industrializados, a cortarem a emissão de<br />

dióxido de carbono, dobrar os gastos com<br />

pesquisa sobre tecnologia ecológica e<br />

trabalhar com Índia e China para fazer valer<br />

o Protocolo de Kyoto.<br />

A divulgação do conteúdo do<br />

relatório coincide com o início do man<strong>da</strong>to<br />

<strong>da</strong> Grã-Bretanha na presidência do G8. O<br />

premier britânico, Tony Blair, elegeu a luta<br />

contra o aquecimento global como uma de<br />

suas priori<strong>da</strong>des à frente do bloco.<br />

- Temos pela frente uma bomba-relógio<br />

ecológica - afirmou Stephen Byers, exministro<br />

dos Transportes e homem de<br />

confiança de Tony Blair.<br />

- Os líderes mundiais precisam reconhecer<br />

que a mu<strong>da</strong>nça climática é a questão de<br />

longo prazo mais importante que o mundo<br />

deve enfrentar. Segundo ele, é fun<strong>da</strong>mental<br />

que Balir consiga apoio de Washington em<br />

sua empreita<strong>da</strong>.<br />

Segundo o relatório, o chamado<br />

ponto sem retorno está fixado em dois graus<br />

acima <strong>da</strong> temperatura média do planeta em<br />

1750, antes <strong>da</strong> Revolução Industrial. Desde<br />

1860, a temperatura subiu 0,8%, chegando a<br />

15 graus.<br />

1 de fevereiro de 2005; Globo on line -<br />

Aquecimento global grave <strong>pode</strong> ocorrer a<br />

partir de 2026, diz WWF.<br />

A temperatura mundial <strong>pode</strong>rá<br />

aumentar em apenas duas déca<strong>da</strong>s para um<br />

patamar que provavelmente provocará<br />

mu<strong>da</strong>nças perigosas no clima, alertou o<br />

grupo ambientalista Fundo Mundial para a<br />

Natureza (WWF). Segundo o grupo, a região<br />

do Ártico está esquentando mais rápido do<br />

que as outras, o que leva ao degelo <strong>da</strong>s<br />

calotas polares e ameaça o sustento dos<br />

caçadores locais. Espécies como os ursos<br />

polares <strong>pode</strong>rão ser extintas até o fim do<br />

século.<br />

"Se na<strong>da</strong> for feito, a Terra terá<br />

aquecido 2º Celsius acima dos níveis préindustriais<br />

entre 2026 e 2060", afirmou o<br />

WWF em um relatório.<br />

Poucos cientistas estimaram que<br />

haverá em tão pouco tempo um aumento de<br />

dois graus na temperatura, um aumento<br />

considerado pelo WWF como um patamar<br />

que <strong>pode</strong> resultar em aquecimento<br />

"perigoso", elevando o nível do mar e<br />

causando enchentes, tempestades ou secas,<br />

além <strong>da</strong> extinção de espécies.<br />

A temperatura global aumentou<br />

cerca de 0,7 grau desde 1750. A maioria dos<br />

cientistas culpa o aumento <strong>da</strong> emissão de<br />

gases como o dióxido de carbono, emitido<br />

pela queima de combustíveis fósseis em<br />

fábricas, usinas energéticas e carros.<br />

Proteína de semente transgênica causa<br />

alergia em camundongos<br />

A ervilha (Pisum sativum)<br />

foi geneticamente modifica<strong>da</strong> para sintetizar<br />

uma proteína que impede insetos pre<strong>da</strong>dores<br />

de digerir o amido <strong>da</strong>s plantas.<br />

Um estudo australiano vem jogar<br />

mais lenha na fogueira do debate dos<br />

transgênicos, especificamente sobre a<br />

questão do consumo de alimentos<br />

geneticamente modificados <strong>pode</strong>r fazer mal<br />

às pessoas. Ao tentar criar uma ervilha<br />

(Pisum sativum) capaz de resistir à praga do<br />

besouro <strong>da</strong> espécie Bruchus pisorum, os<br />

pesquisadores constataram que a proteína<br />

envolvi<strong>da</strong> na proteção, a inibidora de alfaamilase<br />

I (AAI), causava alergia em<br />

camundongos. Extraí<strong>da</strong> originalmente do<br />

feijão (Phaseolus vulgaris), essa substância<br />

impede o inseto de digerir o amido <strong>da</strong>s<br />

plantas.<br />

Os cientistas <strong>da</strong> Organização de<br />

Pesquisa Científica e Industrial do


Commonwealth (Csiro) e <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Nacional <strong>da</strong> Austrália, ambos em Canberra,<br />

mostraram que a AAI, quando produzi<strong>da</strong> nas<br />

ervilhas, sofre uma alteração estrutural que<br />

dispara uma resposta imune nos animais de<br />

laboratório, <strong>pode</strong>ndo levar a inflamações e<br />

<strong>da</strong>nos pulmonares. Os resultados foram<br />

publicados na edição de 16 de novembro <strong>da</strong><br />

revista norte-americana Journal of<br />

Agricultural and Food Chemistry.<br />

Inicialmente, o trabalho analisou e<br />

comparou as duas versões <strong>da</strong> proteína, a<br />

original, do feijão, e a transgênica, <strong>da</strong><br />

ervilha. Segundo o artigo, ao ser expressa<br />

nesta última, a AAI sofre alterações póstraducionais,<br />

ou seja, embora possua a<br />

mesma seqüência genética, a proteína é<br />

modifica<strong>da</strong> após sua produção,<br />

principalmente durante uma etapa chama<strong>da</strong><br />

de glicosilação, onde moléculas de açúcares<br />

são adiciona<strong>da</strong>s à AAI.<br />

Normalmente, proteínas que fazem<br />

parte <strong>da</strong> dieta de um indivíduo são digeri<strong>da</strong>s<br />

no estômago e induzem uma tolerância oral:<br />

o sistema imune do organismo não reage<br />

quando a substância entra em contato com a<br />

pele ou o pulmão. No entanto, os<br />

pesquisadores suspeitaram que as diferenças<br />

estruturais <strong>da</strong> versão <strong>da</strong> AAI produzi<strong>da</strong> na<br />

ervilha pudessem afetar a tolerância oral.<br />

Para responder a essa questão, eles<br />

alimentaram camundongos com a proteína<br />

normal e a transgênica, e depois expuseram<br />

a pele e o pulmão dos animais às mesmas<br />

substâncias. A AAI do feijão não causou<br />

qualquer reação. Já a <strong>da</strong> ervilha produziu<br />

hipersensibili<strong>da</strong>de e resposta inflamatória.<br />

Esses efeitos foram registrados mesmo<br />

quando a proteína foi extraí<strong>da</strong> de ervilhas<br />

cozi<strong>da</strong>s por 20 minutos. Além disso, a AAI<br />

transgênica potencializa reações<br />

imunológicas contra outras substâncias<br />

alimentares.<br />

Os autores do artigo não sabem dizer<br />

qual a freqüência com que alterações<br />

estruturais de proteínas transgênicas<br />

acontecem ou se o fenômeno se restringe à<br />

AAI. Eles ressaltam, porém, que é possível<br />

que o mesmo aconteça com outras proteínas,<br />

o que reforça a importância de uma<br />

avaliação cui<strong>da</strong>dosa de novos alimentos<br />

transgênicos antes de sua liberação para<br />

consumo humano ou animal.<br />

Fred Furtado Ciência Hoje On-line 08/12/2005<br />

O DILEMA DA CLASSE MÉDIA -<br />

EDITORIAL DO CORREIO DA<br />

CIDADANIA - 2006<br />

A tendência do capitalismo, nesta<br />

sua nova fase, é concentrar mais riqueza nas<br />

mãos dos já muito ricos, aumentando assim,<br />

ain<strong>da</strong> mais, a abismal distância que os<br />

separa dos mais pobres. Quanto à classe<br />

média, uma parte pequena se incorporará<br />

entre os mais ricos e o grosso despencará<br />

para o universo dos pobres.<br />

Isto quer dizer que o ciclo de<br />

ascensão <strong>da</strong> classe média brasileira, iniciado<br />

com a Revolução de 1930, a industrialização<br />

e a urbanização, está encerrado. Queira ou<br />

não, ela terá de tomar posição diante de um<br />

conflito social, que, sem abolir a disputa<br />

classista, se polarizará, ca<strong>da</strong> vez mais, entre<br />

ricos e pobres.<br />

Surge <strong>da</strong>í o seu dilema: se se<br />

posicionar a favor dos mais ricos, vai ser<br />

esvazia<strong>da</strong> lentamente; se se posicionar a<br />

favor dos pobres, perderá uma série de<br />

privilégios ligados ao seu “status” social.<br />

Este dilema será central no debate eleitoral<br />

deste ano, porque o problema <strong>da</strong><br />

desigual<strong>da</strong>de social – o problema crucial do<br />

desenvolvimento brasileiro – será levantado<br />

pelas esquer<strong>da</strong>s. Elas proporão à classe<br />

média um novo posicionamento no espectro<br />

político. Proporão que se desligue <strong>da</strong><br />

posição histórica <strong>da</strong> maioria dos seus<br />

membros junto à classe dominante e venha a<br />

juntar-se aos “de baixo”, a fim de viabilizar<br />

uma transformação substancial na reali<strong>da</strong>de<br />

social e política do país.<br />

Para que a proposta seja honesta,<br />

não deverá esconder aquilo que a classe<br />

média perderá nessa troca. Com efeito,<br />

numa socie<strong>da</strong>de mais igualitária, a classe<br />

média não terá acesso aos bens e serviços<br />

que lhe asseguram um “status” superior ao<br />

<strong>da</strong>s classes populares. São bens e serviços<br />

copiados do padrão de consumo <strong>da</strong> classe<br />

dominante – um padrão que não <strong>pode</strong> ser<br />

universalizado e cuja possibili<strong>da</strong>de é<br />

garanti<strong>da</strong> unicamente pela destituição<br />

completa dos mais pobres. Se quisermos


acabar com o “mundo cão” que está<br />

tomando conta <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira, tanto<br />

o padrão luxuoso dos mais ricos como o<br />

padrão imitativo <strong>da</strong> classe média terão de ser<br />

reduzidos.<br />

Um consumo mais modesto para os<br />

brasileiros situados nos escalões superiores<br />

de ren<strong>da</strong> é condição para que os mais pobres<br />

possam desfrutar um padrão de consumo<br />

mínimo, sem o qual não se <strong>pode</strong> evitar a<br />

barbárie que está tomando conta <strong>da</strong> nossa<br />

socie<strong>da</strong>de. O desafio colocado para a<br />

esquer<strong>da</strong> consiste em demonstrar à classe<br />

média que o sacrifício do consumo de<br />

alguns “bens de prestígio”, perfeitamente<br />

dispensáveis, será compensado pela<br />

melhoria <strong>da</strong> sua quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, em uma<br />

socie<strong>da</strong>de muito mais equilibra<strong>da</strong>, muito<br />

menos violenta, muito mais ética, muito<br />

mais prazerosa. Porque tudo aquilo que,<br />

hoje, gera insegurança, tensão e tira o prazer<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong> classe média decorre<br />

<strong>da</strong>s seqüelas inevitáveis <strong>da</strong> enorme<br />

dispari<strong>da</strong>de social que nos estigmatiza como<br />

uma <strong>da</strong>s nações mais desiguais do mundo<br />

A nova face <strong>da</strong>s guerras<br />

A briga por recursos naturais é um fator<br />

ca<strong>da</strong> vez mais presente nos conflitos<br />

armados na África<br />

Ciência Hoje on-line<br />

As guerras estão adquirindo<br />

características diferentes nos últimos anos.<br />

Elas <strong>pode</strong>m ser internas ou externas, mas na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes envolvem organizações<br />

arma<strong>da</strong>s sem <strong>pode</strong>r político legítimo. Entre<br />

1989 e 2003, dos 116 conflitos que<br />

aconteceram em 78 países, apenas sete eram<br />

entre Estados, ou seja, as guerras civis são<br />

ca<strong>da</strong> vez mais comuns.<br />

“Novas guerras” é o termo que os<br />

especialistas têm usado para designar os<br />

conflitos contemporâneos, ca<strong>da</strong> vez mais<br />

centrados nos aspectos econômicos do que<br />

nos políticos – briga pelo controle estatal ou<br />

por terras nas fronteiras. Na África, por<br />

exemplo, a disputa por recursos naturais tem<br />

papel preponderante nas guerras que ali<br />

eclodiram desde os anos 1990. Essa é a idéia<br />

central de uma dissertação de mestrado<br />

recém-defendi<strong>da</strong> na Universi<strong>da</strong>de de<br />

Brasília (UnB) por Denise Galvão.<br />

Sol<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Missão <strong>da</strong> ONU na República<br />

Democrática do Congo reforçam a<br />

segurança em Che, na província de Ituri. Em<br />

janeiro deste ano, a missão levou<br />

armamentos e tropas para proteger a região,<br />

vítima de ataques de organizações arma<strong>da</strong>s<br />

(Foto: ONU/Christophe Boulierac).<br />

“Nessas ‘novas guerras’ é difícil<br />

distinguir os combatentes dos nãocombatentes”,<br />

explica Galvão. “O conflito<br />

se torna lucrativo a ponto de tornar a agen<strong>da</strong><br />

econômica <strong>da</strong>s organizações arma<strong>da</strong>s mais<br />

importante que a agen<strong>da</strong> política. Outra<br />

característica desse tipo de guerra é a falta<br />

de clareza entre a situação de guerra e a<br />

situação de paz.”<br />

Após analisar os casos do Congo, de<br />

Serra Leoa e de Angola, a pesquisadora<br />

concluiu que a disputa por recursos naturais<br />

é um fator fun<strong>da</strong>mental para entender as<br />

guerras. “Assim como os conflitos armados<br />

intensificam as disputas por recursos<br />

naturais, essa disputa intensifica e prolonga<br />

os combates”, diz. Ela ressalta ain<strong>da</strong> que<br />

essas características não são exclusivas <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de africana e <strong>pode</strong>m ser observa<strong>da</strong>s<br />

em países como a Indonésia.<br />

Médicos <strong>da</strong> ONU aju<strong>da</strong>m civis congoleses<br />

refugiados depois dos ataques <strong>da</strong>s<br />

organizações arma<strong>da</strong>s à ci<strong>da</strong>de de Che, no<br />

Congo (Foto: ONU/Christophe Boulierac).


Por isso, Galvão identifica um novo<br />

padrão de conflito: a “guerra por recursos”.<br />

Nesses casos a disputa pelas reservas de<br />

riquezas naturais é a força motriz <strong>da</strong><br />

formação e dos embates dos grupos armados<br />

que atuam nesses países. Nos três casos<br />

analisados há recursos naturais abun<strong>da</strong>ntes,<br />

cujo controle é disputado pelo Estado e por<br />

grupos armados. Em Angola, que é rica em<br />

diamantes e petróleo, a guerra acabou em<br />

2002; em Serra Leoa, que possui reservas<br />

diamantíferas, os conflitos cessaram em<br />

2001 após a intervenção <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s<br />

Nações Uni<strong>da</strong>s (ONU).<br />

A falência <strong>da</strong>s instituições públicas é<br />

uma <strong>da</strong>s características que a autora<br />

identifica nos países onde ocorre esse tipo<br />

de conflito. “Os governos dos Estados<br />

africanos, logo após a descolonização, foram<br />

baseados no neopatrimonialismo, ou seja, o<br />

patrimônio público era utilizado pelos<br />

governantes como se fosse um bem<br />

privado.” Ela identificou a existência de<br />

“senhores de guerra” – formas de <strong>pode</strong>r<br />

locais sustenta<strong>da</strong>s no uso <strong>da</strong> força e<br />

ilegítimas, que negociam com empresas<br />

estrangeiras como se fossem o próprio<br />

Estado. “A informali<strong>da</strong>de econômica foi se<br />

tornando política”, explica. “No caso de<br />

Serra Leoa o Estado faliu em 1995. No<br />

Congo, ele está em colapso desde 1997.”<br />

Embora as guerras civis tenham sido<br />

controla<strong>da</strong>s, a situação de violência ain<strong>da</strong> é<br />

muito complexa. Em janeiro deste ano, oito<br />

sol<strong>da</strong>dos de uma missão de paz <strong>da</strong> ONU<br />

foram mortos no Congo. Além <strong>da</strong><br />

intervenção <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s – que tem<br />

papel indispensável na resolução desses<br />

conflitos –, Denise Galvão aponta outras<br />

estratégias possíveis para evitá-los. “A<br />

ilegitimi<strong>da</strong>de de alguns Estados africanos<br />

deveria ser trata<strong>da</strong> de maneira preventiva”,<br />

sugere. “Ain<strong>da</strong> que haja democracia, ela não<br />

é totalmente legítima, o que <strong>pode</strong> provocar a<br />

formação de grupos armados e de guerras<br />

civis no futuro.”<br />

Conheça os conflitos analisados no<br />

estudo:<br />

Serra Leoa – Palco de uma guerra<br />

civil que durou de 1991 até 2002. O conflito<br />

só terminou após a intervenção de 17 mil<br />

sol<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> ONU. A situação gerou ao<br />

menos 50 mil mortos e 300 mil refugiados.<br />

O governo e a organização arma<strong>da</strong> Frente<br />

Revolucionária Uni<strong>da</strong> disputavam as<br />

reservas de diamantes.<br />

Angola – O conflito no país envolve<br />

duas organizações arma<strong>da</strong>s que disputavam<br />

o <strong>pode</strong>r: o Movimento para a Libertação de<br />

Angola (MPLA) e a União para a<br />

Independência Total de Angola (Unita). O<br />

país possui diamante e petróleo, recursos<br />

muito valorizados no mercado. O MPLA,<br />

que atualmente representa o Estado, detém<br />

as reservas petrolíferas e a Unita controlava<br />

o mercado de diamantes. Desde a déca<strong>da</strong> de<br />

1970 o país está em guerra civil, mas a partir<br />

dos anos 1990 o conflito adquiriu<br />

características <strong>da</strong>s “novas guerras”. Mesmo<br />

após o fim dos embates em 2002, com a<br />

eleição de um presidente, ain<strong>da</strong> há 10<br />

milhões de minas espalha<strong>da</strong>s pelo país, que<br />

colocam grande parte <strong>da</strong> população em risco<br />

mesmo durante a paz.<br />

Congo – Os conflitos envolvem o<br />

Estado e a Aliança de Forças Democráticas<br />

para a Libertação do Congo (1996-1997) e<br />

entre o Estado e a Liga Congolesa para a<br />

Democracia e o Movimento pela Libertação<br />

do Congo (1998-2003). Essas organizações<br />

tiveram apoio externo, tanto de países como<br />

de empresas, para desestabilizar o governo.<br />

Uma multinacional forneceu US$ 50<br />

milhões, interessa<strong>da</strong> em contratos de<br />

mineração de cobalto e cobre. O último<br />

período de guerra foi entre 1998 a 2002, mas<br />

a situação é bastante instável, mesmo com a<br />

presença de sol<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> ONU.<br />

Franciane Lovati Ciência Hoje On-line 30/05/2006<br />

Nova ameaça para os recifes de corais<br />

Acidificação dos oceanos liga<strong>da</strong> ao aumento<br />

de CO2 <strong>pode</strong> comprometer ecossistemas<br />

marinhos<br />

Cerca de um terço do gás carbônico<br />

liberado na atmosfera é absorvido pela água<br />

do mar. Como as emissões de CO2 não<br />

param de aumentar, especialistas alertam<br />

que isso deve tornar o oceano mais ácido: o<br />

pH dos oceanos já diminuiu 0,1 uni<strong>da</strong>de<br />

desde o início <strong>da</strong> Revolução Industrial, e<br />

essa taxa <strong>pode</strong> quadruplicar até 2100. O<br />

fenômeno ameaça os organismos marinhos,<br />

principalmente os recifes de corais, cuja


sobrevivência depende do equilíbrio<br />

químico <strong>da</strong> água.<br />

O alerta foi <strong>da</strong>do em um relatório<br />

recém-publicado pelo Centro Nacional de<br />

Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos<br />

(NCAR na sigla em inglês). O relatório está<br />

disponível on-line,<br />

(http://www.ucar.edu/communications/Final<br />

_acidification.pdf) em formato PDF. “Se a<br />

concentração de CO2 na atmosfera continuar<br />

a aumentar, o pH dos oceanos diminuirá<br />

proporcionalmente”, prevê Joanie Kleypas,<br />

ecóloga marinha do NCAR e co-autora do<br />

relatório, em entrevista à CH On-line.<br />

Recifes localizados na Grande Barreira de<br />

Corais, na costa <strong>da</strong> Austrália (foto: Richard Ling).<br />

Os recifes de corais constroem seus<br />

esqueletos a partir dos íons carbonato<br />

presentes na água do mar. A concentração<br />

desses íons, no entanto, está relaciona<strong>da</strong> ao<br />

pH <strong>da</strong> água: se o processo de acidificação<br />

dos oceanos continuar, essa concentração<br />

<strong>pode</strong> se reduzir à metade até 2100, o que<br />

comprometerá a sobrevivência dos corais.<br />

Isso acontece porque o gás carbônico<br />

absorvido pela água se transforma em ácido<br />

carbônico, tornando a água menos alcalina<br />

(o oceano é naturalmente básico, com pH<br />

entre 7,5 e 8,5).<br />

“Quando o meio está mais ácido, há<br />

menos carbono inorgânico dissolvido na<br />

forma de carbonato e mais na forma de<br />

bicarbonato, o que dificulta seu uso pela<br />

biota e conseqüentemente pelos corais,<br />

fazendo com que sua calcificação seja<br />

lenta”, explica a geógrafa Cátia Fernandes,<br />

professora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

Fluminense (UFF).<br />

O eventual desaparecimento dos<br />

recifes de corais, por sua vez,<br />

comprometeria todo o ecossistema marinho.<br />

“Esses organismos constroem estruturas que<br />

sustentam uma grande quanti<strong>da</strong>de de seres<br />

marinhos. Se eles perdem espaço no oceano,<br />

também são prejudicados peixes, moluscos,<br />

lulas, crustáceos e caranguejos, entre<br />

outros”, diz o geobiólogo Justin Ries,<br />

pesquisador <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Johns Hopkins,<br />

nos EUA. Em julho, sua equipe publicou na<br />

revista Geology um estudo que mostra como<br />

a diminuição do crescimento dos recifes de<br />

corais afetaria de forma significativa o<br />

ecossistema marinho.<br />

Aquecimento global<br />

Embora a acidificação dos oceanos já<br />

seja uma reali<strong>da</strong>de, ela não configura ain<strong>da</strong><br />

um problema ambiental significativo para os<br />

recifes de corais, na avaliação do<br />

geoquímico marinho John Maddock,<br />

professor <strong>da</strong> UFF. “A diminuição do pH será<br />

um problema no futuro. O aquecimento<br />

global, por exemplo, é uma ameaça muito<br />

maior atualmente", pondera. Tanto o<br />

aquecimento global quanto a acidificação<br />

dos oceanos têm uma origem comum: o<br />

aumento <strong>da</strong>s emissões de CO2 na atmosfera.<br />

"Os corais são muito influenciados pelo<br />

aumento <strong>da</strong> temperatura e pela poluição,<br />

pois só conseguem sobreviver em águas<br />

transparentes“, explica Maddock. Se a água<br />

for quente demais, os corais perdem a alga<br />

endossimbionte (que vive em simbiose<br />

dentro do tecido do organismo) responsável<br />

pela sua coloração característica. Após o<br />

branqueamento, eles não conseguem<br />

sobreviver muito tempo.<br />

Existem relativamente poucos<br />

projetos de pesquisa que estu<strong>da</strong>m o estado<br />

de conservação dos recifes de corais no<br />

Brasil. “A situação geral no país não é boa<br />

em termos de conservação, embora o<br />

ambiente apresente em alguns locais uma<br />

enorme capaci<strong>da</strong>de de recuperação, que<br />

precisa ser melhor investiga<strong>da</strong>. Isto se deve<br />

também ao fato de que os corais brasileiros<br />

são mais resistentes às águas turvas do que<br />

corais do Caribe ou <strong>da</strong> Indonésia, por<br />

exemplo”, afirma Cátia Fernandes. A<br />

situação mundial também preocupa: cerca<br />

de 70% dos recifes de corais estão<br />

ameaçados e 20% são irrecuperáveis<br />

segundo a Força-tarefa de Recifes de Corais<br />

dos Estados Unidos.


Apesar disso, Joanie Kleypas insiste<br />

que é preciso evitar que a acidificação dos<br />

oceanos se torne um problema tão sério<br />

quanto o aquecimento global. “Atualmente,<br />

o branqueamento e a mortali<strong>da</strong>de dos corais<br />

são causados por fatores mais visíveis, como<br />

o aquecimento global”, argumenta. "Porém,<br />

a acidificação será um problema sério no<br />

futuro. Por isso é preciso pesquisar para<br />

saber até que pondo ela <strong>pode</strong> prejudicar os<br />

corais e como isso <strong>pode</strong> alterar o<br />

ecossistema marinho“.<br />

Franciane Lovati<br />

Ciência Hoje On-line<br />

04/08/2006<br />

É BOM SABER... (Fonte: Newsletter CNPq – Set de 2006)<br />

Na Estratégia Nacional para a<br />

Biodiversi<strong>da</strong>de, desenvolvi<strong>da</strong> pelo<br />

Ministério do Meio Ambiente, acordou-se<br />

que o Brasil deve <strong>da</strong>r ênfase para seis<br />

questões básicas: conhecimento <strong>da</strong><br />

biodiversi<strong>da</strong>de; conservação; uso<br />

sustentável; repartição de benefícios;<br />

fortalecimento de capaci<strong>da</strong>des científicas e<br />

tecnológicas; educação e conscientização<br />

pública.<br />

O desmatamento <strong>da</strong>s florestas tropicais<br />

responde por 25% <strong>da</strong>s emissões globais de<br />

dióxido de carbono, o principal gás de efeito<br />

estufa.<br />

As florestas tropicais representam apenas<br />

7% <strong>da</strong> superfície terrestre, entretanto,<br />

abrigam cerca de 50% <strong>da</strong>s formas de vi<strong>da</strong>, e<br />

possuem alto grau de endemismo, isto é, um<br />

grande número de espécies encontra<strong>da</strong>s<br />

exclusivamente em determina<strong>da</strong> área.<br />

LIMNOLOGIA


Entrevista: Prof. Dr. Angelo Antonio<br />

Agostinho (CNPq 2006)<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Atualmente, o senhor trabalha em<br />

que áreas ou linhas de pesquisa?<br />

Angelo Antonio Agostinho - Atuo na<br />

área de ecologia de águas continentais, com<br />

foco principal na conservação e manejo de<br />

recursos pesqueiros em reservatórios e áreas<br />

alagáveis.<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Qual a importância <strong>da</strong><br />

biodiversi<strong>da</strong>de para o mundo e para o País?<br />

Angelo Antonio Agostinho - A<br />

biodiversi<strong>da</strong>de tem um papel fun<strong>da</strong>mental<br />

no funcionamento dos ecossistemas. Sua<br />

importância para os processos<br />

ecossistêmicos é tão eleva<strong>da</strong> que os bens e<br />

serviços que os ecossistemas oferecem à<br />

socie<strong>da</strong>de humana se confundem com os<br />

dela próprios. A produção primária e<br />

secundária, a ciclagem de nutrientes, o fluxo<br />

de carbono ou o seu armazenamento na<br />

forma de biomassa, assim como a<br />

manutenção de reservas de água com<br />

quali<strong>da</strong>de são algumas funções dos<br />

ecossistemas media<strong>da</strong>s pela biodiversi<strong>da</strong>de,<br />

e que são responsáveis pela vi<strong>da</strong> em nosso<br />

planeta. Invasões ou extinções de espécies<br />

causa<strong>da</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des humanas alteram<br />

os bens e serviços que os ecossistemas<br />

oferecem à humani<strong>da</strong>de. Entre os primeiros,<br />

destaco os recursos alimentares, a grande<br />

varie<strong>da</strong>de de matéria-prima utiliza<strong>da</strong> para<br />

nosso conforto e bem-estar, o princípio ativo<br />

de muitos medicamentos, os recursos<br />

genéticos utilizados para a melhoria <strong>da</strong><br />

produtivi<strong>da</strong>de agropecuária. Além, é claro,<br />

<strong>da</strong>queles intrínsecos à própria manutenção<br />

<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, qual seja a garantia de<br />

seu uso pelas futuras gerações. Já entre os<br />

serviços prestados <strong>pode</strong>mos destacar a<br />

polinização, o controle de pragas, a<br />

regulação climática, o controle de cheias e<br />

<strong>da</strong> erosão, a fertili<strong>da</strong>de do solo, a depuração<br />

de efluentes, a recreação, o turismo e a<br />

educação. Muitos outros bens e serviços<br />

<strong>pode</strong>m ain<strong>da</strong> ser citados. Para se ter uma<br />

idéia <strong>da</strong> grandeza destes serviços, uma<br />

estimativa realiza<strong>da</strong> por Robert Costanza e<br />

colaboradores, publica<strong>da</strong> no periódico<br />

Nature, em 1997, chegou a um valor médio<br />

de 33 trilhões de dólares por ano, quase o<br />

dobro de todo o PIB mundial. Como o Brasil<br />

é um país de dimensões continentais, nossa<br />

megadiversi<strong>da</strong>de representa um patrimônio<br />

natural de valor ao mesmo tempo<br />

inestimável e imprescindível aos nossos<br />

conterrâneos que vivem em regiões distantes<br />

de centros urbanos.<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Sendo o Brasil o país com maior<br />

biodiversi<strong>da</strong>de do mundo, como o senhor<br />

avalia as iniciativas nacionais em prol do<br />

uso racional e do desenvolvimento<br />

sustentável? Quais se destacam? Que tipo de<br />

trabalhos realizam?<br />

Angelo Antonio Agostinho - O<br />

Brasil comporta, numa estimativa<br />

conservadora, cerca de 14% de to<strong>da</strong>s as<br />

espécies do mundo. O desenvolvimento<br />

econômico do país, aspiração de todos,<br />

conflita muitas vezes com os esforços para<br />

preservar esta diversi<strong>da</strong>de. As iniciativas<br />

que visam organizar os sistemas produtivos<br />

de maneira a racionalizar os usos, reduzindo<br />

consumo e agregando valores aos produtos<br />

são as mais compatíveis com este propósito.<br />

Por outro lado, aquelas que buscam o<br />

rendimento máximo sustentável são, em<br />

geral, não sustentáveis, já que buscam<br />

aumentar a quanti<strong>da</strong>de de recursos<br />

utilizados. As iniciativas mais relevantes na<br />

área são aquelas que envolvem pesquisas,<br />

monitoramento e gestão compartilha<strong>da</strong> do<br />

uso dos recursos, como o Projeto Manejo<br />

dos Recursos Naturais <strong>da</strong> Várzea<br />

(ProVárzea-Ibama) ou do Instituto<br />

Mamirauá. No setor elétrico destaca-se o<br />

Programa Nacional de Conservação de<br />

Energia Elétrica (Procel), que busca a<br />

racionalização na produção e consumo de<br />

energia, reduzindo as deman<strong>da</strong>s de novas<br />

usinas hidrelétricas. A criação e<br />

implementação de novas uni<strong>da</strong>des de<br />

conservação para ambientes críticos à<br />

biodiversi<strong>da</strong>de são também iniciativas<br />

promissoras e mais necessárias do que<br />

nunca.<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Por que um país precisa investir na<br />

pesquisa científica? De que forma esse tipo<br />

de estudo recebe incentivos no Brasil? E


como an<strong>da</strong> a pesquisa brasileira sobre<br />

biodiversi<strong>da</strong>de?<br />

Angelo Antonio Agostinho - As<br />

estratégias de conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de<br />

pressupõem o conhecimento desta<br />

diversi<strong>da</strong>de, sua distribuição e estado de<br />

conservação, além dos requerimentos de<br />

habitat e as inter-relações de seus<br />

componentes. O conhecimento disponível<br />

não contempla de modo satisfatório nenhum<br />

destes pré-requisitos. A biota aquática, por<br />

exemplo, sequer foi inventaria<strong>da</strong> em muitos<br />

cursos de água brasileiros. Soma-se a isto a<br />

falta de consenso acerca <strong>da</strong> posição<br />

taxonômica de muitas espécies, erros na<br />

identificação, imprecisões em listas de<br />

espécies ameaça<strong>da</strong>s e o fato de que em<br />

comuni<strong>da</strong>des com eleva<strong>da</strong> riqueza de<br />

espécies a maioria delas é rara e, por isso,<br />

com história natural pouco conheci<strong>da</strong>. Este<br />

quadro justifica os esforços de agências<br />

como o CNPq, Capes, Finep e Fapesp/Biota<br />

no apoio à obtenção deste conhecimento e<br />

na consoli<strong>da</strong>ção do sistema de pósgraduação<br />

brasileiro, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />

importantes na geração dos conhecimentos<br />

disponíveis. Cabe salientar também que<br />

grande parte do conhecimento de nossa<br />

diversi<strong>da</strong>de se deve aos inventários e<br />

programas ambientais desenvolvidos pelo<br />

setor elétrico nos últimos 20 anos, em<br />

atendimento às resoluções do Conselho<br />

Nacional do Meio Ambiente (Conama).<br />

...<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Como uma empresa do setor<br />

elétrico <strong>pode</strong> contribuir para a preservação<br />

<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de no país?<br />

Angelo Antonio Agostinho - O<br />

desafio imposto pelas contradições do<br />

desenvolvimento econômico e social, que<br />

tem na produção de energia um de seus<br />

pilares, e a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de é<br />

fantástico. A construção de reservatórios se<br />

constitui, talvez, na maior fonte pontual de<br />

impactos sobre a diversi<strong>da</strong>de biológica que o<br />

homem é capaz de produzir. A Eletrobrás,<br />

ao longo de sua existência, tem procurado<br />

reduzir estas contradições, seja<br />

estabelecendo as diretrizes de atuação e<br />

políticas ambientais para o setor elétrico ou<br />

executando programas como o Procel, além<br />

de promover seminários e produzir<br />

documentos. Deve-se também ao setor<br />

elétrico grande parte do conhecimento<br />

disponível sobre nossa diversi<strong>da</strong>de<br />

biológica, especialmente a aquática.<br />

Entretanto, há ain<strong>da</strong> muito que fazer para<br />

reduzir os conflitos entre a geração de<br />

energia, práticas de manejo equivoca<strong>da</strong>s e a<br />

conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Como inserir as fontes alternativas<br />

de energia num contexto energético<br />

basicamente hidráulico?<br />

Angelo Antonio Agostinho - Exceto<br />

as fontes solar e eólica, que ain<strong>da</strong> carecem<br />

de grandes investimentos e esforços para<br />

que possam ser considera<strong>da</strong>s alternativas<br />

relevantes, as demais formas de produção de<br />

energia trazem inevitáveis problemas<br />

ambientais. Mesmo as fontes renováveis,<br />

como aquelas basea<strong>da</strong>s em biomassa, têm<br />

sido considera<strong>da</strong>s lesivas ao meio ambiente<br />

pela prática <strong>da</strong> monocultura e<br />

desmatamento. As alterações na matriz<br />

energética brasileira por meio de fontes<br />

alternativas e ambientalmente mais<br />

desejáveis9 é, assim, um tema sobre o qual<br />

pesquisadores, governo e socie<strong>da</strong>de devem<br />

dedicar seus esforços. Porém, a reali<strong>da</strong>de<br />

imediata e a situação emergencial requerem<br />

mais atenção sobre estratégias que reduzam<br />

o consumo e o desperdício de energia.<br />

Também são importantes ações capazes de<br />

atenuar os impactos <strong>da</strong> construção e<br />

operação de reservatórios hidrelétricos.<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Nos últimos tempos, houve uma<br />

mu<strong>da</strong>nça na mentali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas sobre a<br />

preservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de? Como tratar<br />

esse assunto no século XXI?<br />

Angelo Antonio Agostinho - A<br />

percepção dos problemas afetos à per<strong>da</strong> de<br />

biodiversi<strong>da</strong>de tem crescido acentua<strong>da</strong>mente<br />

no Brasil durante as duas últimas déca<strong>da</strong>s,<br />

cabendo à Conferência <strong>da</strong>s Organizações<br />

Uni<strong>da</strong>s sobre Meio Ambiente e<br />

Desenvolvimento (ECO-92) e aos<br />

documentos ali gerados um papel decisivo<br />

nesse processo. Esta percepção foi<br />

acompanha<strong>da</strong> pela proliferação de<br />

organizações não governamentais, a<br />

consoli<strong>da</strong>ção do Sistema Nacional do Meio


Ambiente e maior espaço <strong>da</strong>do aos temas<br />

ambientais pela mídia. Entretanto, interesses<br />

econômicos privados e aspirações de<br />

governo em acelerar o desenvolvimento,<br />

muitas vezes não compatíveis com a<br />

conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, têm<br />

produzido alguns retrocessos. Há, portanto,<br />

muito que fazer na área <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong><br />

pesquisa para demonstrar à socie<strong>da</strong>de que a<br />

conservação <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de biológica tem<br />

um valor maior, produzindo mais benefícios<br />

econômicos e sociais do que aqueles<br />

advindos de sua destruição.<br />

PROGRAMA JOVEM CIENTISTA<br />

CNPQ - Qual a mensagem que o senhor<br />

deixa para estu<strong>da</strong>ntes e pesquisadores<br />

brasileiros <strong>da</strong>s áreas que englobam o tema<br />

'Gestão Sustentável <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de:<br />

desafio do milênio'?<br />

Angelo Antonio Agostinho - O<br />

grande desafio que se apresenta aos<br />

estu<strong>da</strong>ntes e jovens pesquisadores brasileiros<br />

nos próximos anos é o de contemporizar as<br />

necessi<strong>da</strong>des do homem atual e a<br />

preservação <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de biológica. O<br />

sucesso nesta tarefa pressupõe, por um lado,<br />

o amplo conhecimento dos componentes<br />

ecossistêmicos e, por outro, o entendimento<br />

<strong>da</strong>s aspirações sociais, econômicas e<br />

políticas em relação ao uso dos recursos<br />

naturais ou às ativi<strong>da</strong>des que impliquem na<br />

sua degra<strong>da</strong>ção, sejam elas legítimas ou não.<br />

Nas abor<strong>da</strong>gens sobre o tema deve estar<br />

implícito que a biodiversi<strong>da</strong>de é um<br />

patrimônio nacional sobre o qual as gerações<br />

atuais são responsáveis. Dados acerca de sua<br />

importância para o nosso bem-estar e<br />

sobrevivência devem ser obtidos para se<br />

contrapor às iniciativas econômicas de lucro<br />

rápido, especialmente as do tipo que<br />

privatizam os benefícios e socializam os<br />

prejuízos. Alternativas sustentáveis devem<br />

ser busca<strong>da</strong>s para os segmentos sociais cuja<br />

sobrevivência depende <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção do<br />

meio ambiente. Além do desenvolvimento<br />

de tecnologias de recuperação de ambientes<br />

degra<strong>da</strong>dos, a conscientização <strong>da</strong> população<br />

sobre os valores <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong><br />

biodiversi<strong>da</strong>de, de maneira que a opinião<br />

pública se contraponha aos interesses<br />

eleitoreiros, também é parte deste desafio.<br />

Do sucesso dessa empreita<strong>da</strong> depende o<br />

destino e o bem-estar <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de.<br />

Dr. Erney Camargo, presidente do<br />

CNPq: "As alternativas de solução <strong>pode</strong>m<br />

estar nas cabeças dos pesquisadores de todo<br />

o país"<br />

Apesar de o Brasil ter uma <strong>da</strong>s<br />

maiores diversi<strong>da</strong>des biológicas do mundo,<br />

são poucos os que têm consciência <strong>da</strong> sua<br />

importância enquanto riqueza nacional.<br />

Como se estima que o país abriga cerca de<br />

20% <strong>da</strong>s espécies do planeta, ain<strong>da</strong><br />

levaremos muitos anos para conhecer to<strong>da</strong><br />

essa biodiversi<strong>da</strong>de, seu significado<br />

biológico e o seu aproveitamento<br />

sustentável. Este, efetivamente, é o grande<br />

binômio do desafio que se coloca para to<strong>da</strong> a<br />

socie<strong>da</strong>de: conhecer para utilizar e<br />

preservar. ...<br />

Prof. Luiz Drude de Lacer<strong>da</strong>: "Focos<br />

localizados de contaminação ambiental<br />

ocorreram através dos séculos. Porém,<br />

nunca na escala global que testemunhamos<br />

hoje"<br />

A poluição ambiental ao nível<br />

mundial é um subproduto indesejável do<br />

aumento pela deman<strong>da</strong> por recursos naturais<br />

<strong>da</strong> civilização moderna. Entretanto, desde o<br />

surgimento <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des humanas, focos<br />

localizados de contaminação ambiental<br />

ocorreram através dos séculos. Porém,<br />

nunca na escala global que testemunhamos<br />

hoje. Praticamente, todos os ambientes do<br />

planeta encontram-se sob graus variados de<br />

contaminação. Mesmo áreas remotas como o<br />

continente antártico, apresentam<br />

concentrações de contaminantes como o<br />

mercúrio e o chumbo, cuja distribuição é<br />

feita em escala global pelo transporte<br />

atmosférico, com concentrações acima dos<br />

níveis naturais esperados para a região.<br />

Assim, a pergunta principal <strong>da</strong>s agências<br />

ambientais não é mais se um ambiente esta<br />

ou não contaminado, mas em que grau<br />

ocorre esta contaminação.<br />

De modo geral, <strong>pode</strong>mos dividir os<br />

poluentes que mais causam <strong>da</strong>nos aos<br />

ecossistemas em dois grandes grupos. O<br />

primeiro inclui substâncias presentes nos<br />

efluentes de grandes áreas urbanas,


principalmente associa<strong>da</strong>s à disposição<br />

imprópria de resíduos sólidos (lixo) e ao<br />

tratamento inadequado ou inexistente de<br />

esgoto sanitário. Os ambientes aquáticos,<br />

como rios, estuários e áreas costeiras, são os<br />

mais afetados pelos contaminantes gerados<br />

por estas fontes. Nesse grupo encontram-se<br />

a matéria orgânica, que resulta em um<br />

aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> bioquímica de<br />

oxigênio nos sistemas aquáticos, e o excesso<br />

de nutrientes - particularmente nitrogênio e<br />

fósforo -, que promovem a proliferação de<br />

algas e plâncton em águas naturais. O<br />

resultado deste tipo de poluição ambiental é<br />

a eutrofização dos ecossistemas,<br />

caracterizado por um crescimento acelerado<br />

de organismos fotossintéticos simples, como<br />

algas e bactérias e a eliminação de espécies<br />

mais sensíveis as novas condições<br />

ambientais, contribuindo ain<strong>da</strong> mais com o<br />

aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> bioquímica de<br />

oxigênio. A continuação do processo de<br />

poluição resulta em ambientes anóxicos ou<br />

sub-óxicos, ou seja, com níveis insuficientes<br />

de oxigênio para o pleno desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> aquática. Os países pobres e<br />

populosos são os principais agentes desse<br />

tipo de poluição, cuja causa está diretamente<br />

relaciona<strong>da</strong> à baixa condição de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

população, sem saneamento básico e<br />

tratamento de esgotos sanitários deficientes.<br />

Exemplos clássicos desta situação são os<br />

corpos receptores adjacentes as grandes<br />

áreas metropolitanas como a Baia de<br />

Guanabara, no Rio de Janeiro, e o Rio Tietê<br />

que corta a ci<strong>da</strong>de de São Paulo, por<br />

exemplo.<br />

Em algumas regiões do planeta,<br />

como a região do Golfo do México<br />

adjacente à foz do Rio Mississipi, EUA, um<br />

fenômeno de poluição semelhante também<br />

ocorre, porém originado pela enorme carga<br />

de nutrientes trazidos pelo rio <strong>da</strong> região<br />

agrícola central dos EUA, a maior<br />

consumidora de fertilizantes do mundo.<br />

Como resultado, extensas regiões de subanoxia<br />

ocorrem no Golfo do México durante<br />

a estação chuvosa quando ocorre a maior<br />

parte do transporte destes nutrientes para o<br />

mar.<br />

O segundo grupo, composto pelos<br />

poluentes de origem industrial e <strong>da</strong><br />

mineração, inclui substâncias tóxicas, como<br />

metais pesados, gases de efeito estufa e<br />

poluentes orgânicos, principalmente aqueles<br />

gerados pela queima de petróleo. Ao<br />

contrário dos contaminantes do primeiro<br />

grupo, cujo efeito é geralmente local ou, no<br />

máximo, regional, esses têm o <strong>pode</strong>r de<br />

afetar o ambiente em escala global. Por<br />

exemplo, a emissão de gases de efeito estufa<br />

(principalmente de dióxido de carbono e<br />

metano) e de metais pesados (como o<br />

mercúrio) para a atmosfera origina-se em<br />

grande parte na geração de energia pelos<br />

Estados Unidos e por países <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

européia, que consomem cerca de 70% dos<br />

combustíveis fósseis do planeta. Embora os<br />

efeitos destes contaminantes sejam bem<br />

menos visíveis, seus impactos são muito<br />

mais difíceis de remediação. É pouco<br />

conheci<strong>da</strong> a resposta dos ecossistemas<br />

naturais à exposição crônica a este grupo de<br />

contaminantes, vários deles, como os metais<br />

pesados, não são degradáveis acumulandose<br />

progressivamente nos ecossistemas<br />

naturais e afetando seu funcionamento<br />

durante déca<strong>da</strong>s ou mesmo séculos. Por<br />

exemplo, antigas áreas de mineração,<br />

embora desativa<strong>da</strong>s há séculos, como os<br />

rejeitos <strong>da</strong> corri<strong>da</strong> do ouro do oeste<br />

americano, ain<strong>da</strong> hoje afetam a biota local.<br />

Nas últimas déca<strong>da</strong>s do século<br />

passado, o reconhecimento do perigo<br />

representado por estes poluentes levou a<br />

maior parte dos países do mundo a adotarem<br />

rígi<strong>da</strong>s legislações ambientais e a alterarem<br />

processos tecnológicos altamente<br />

poluidores. Entretanto, embora tenha havido<br />

uma redução significativa <strong>da</strong>s emissões de<br />

fontes pontuais, como indústrias, as fontes<br />

difusas, como a lavagem de rejeitos destas<br />

ativi<strong>da</strong>des dispostos inadequa<strong>da</strong>mente no<br />

meio ambiente, o aumento na deman<strong>da</strong> por<br />

combustíveis fósseis e o crescimento <strong>da</strong>s<br />

grandes áreas urbaniza<strong>da</strong>s levou ao aumento<br />

relativo <strong>da</strong> importância destas fontes ditas<br />

difusas, cuja emissão é imprevisível e<br />

dependente <strong>da</strong>s condições ambientais locais.<br />

Além disto, a legislação ambiental em vigor<br />

ain<strong>da</strong> é insuficiente para tratar<br />

adequa<strong>da</strong>mente as emissões de fontes<br />

difusas. Como resultado, extensas áreas do<br />

planeta continuam recebendo grandes cargas


de poluentes sob forma crônica e os<br />

eventuais efeitos sobre os ecossistemas<br />

naturais ain<strong>da</strong> são muito pouco conhecidos.<br />

Um caso exemplar é a contaminação por<br />

mercúrio na Amazônia brasileira. Embora o<br />

garimpo de ouro, fonte principal deste metal<br />

na região, tenha praticamente desaparecido<br />

em relação às últimas déca<strong>da</strong>s do século<br />

passado, as alterações no uso do solo <strong>da</strong><br />

Amazônia, desmatamento e agricultura, tem<br />

levado a remobilização do mercúrio<br />

depositado naquele período em solos<br />

florestais, mantendo os níveis de<br />

contaminação de peixes e humanos <strong>da</strong><br />

região ain<strong>da</strong> bastante elevados.<br />

É necessário, portanto, um esforço<br />

técnico-científico voltado ao estudo <strong>da</strong><br />

caracterização de fontes difusas de<br />

poluentes, do comportamento de suas<br />

emissões e dos efeitos <strong>da</strong> exposição crônica<br />

aos contaminantes gerados por estas fontes<br />

nos ecossistemas naturais.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!