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O Ponto entrevista Leandro Cadenas, juiz federal em - Ponto dos ...

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O <strong>Ponto</strong> <strong>entrevista</strong> <strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>, <strong>juiz</strong> <strong>federal</strong> <strong>em</strong> Foz do Iguaçu<br />

Inicialmente, fiquei <strong>em</strong> dúvida se eu faria esta apresentação do Doutor <strong>Leandro</strong><br />

<strong>Cadenas</strong>, ou se delegaria esse papel à Carol do <strong>Ponto</strong>. Dúvida porque, como se sabe,<br />

não é fácil escrevermos a respeito de pessoas que admiramos muito, devido à<br />

tendência de parcialidade. Mas, ao final, acabou pesando o orgulho, a honra que para<br />

mim seria des<strong>em</strong>penhar essa tarefa – e aqui estamos!<br />

Conheci o <strong>Leandro</strong> há muitos anos (<strong>em</strong> 2000), quando ele ainda exercia o cargo de<br />

Técnico do Poder Judiciário. Nessa época, eu e o Marcelo Alexandrino acabávamos de<br />

ingressar no cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal e começávamos a dar os<br />

nossos primeiros passos <strong>em</strong> nossa parceria (na internet e na publicação de livros).<br />

Parece-me que o <strong>Leandro</strong> tomou conhecimento do que escrevíamos na internet e<br />

gostou da nossa objetividade e clareza na exposição <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong>. Trocamos alguns<br />

e-mails, discutindo questões polêmicas <strong>dos</strong> direitos Administrativo e Constitucional, e<br />

provavelmente aí tenha nascido a minha admiração.<br />

Posteriormente, o <strong>Leandro</strong> foi aprovado no concurso de Auditor-Fiscal da Receita<br />

Federal e, então, como eu e o Marcelo Alexandrino ministrávamos aulas no curso de<br />

formação desse concurso, nos encontramos na Esaf/Brasí lia. Daí por diante a nossa<br />

amizade se consolidou, e também nossas parcerias profissionais (publicação de livros,<br />

palestras, aulas no <strong>Ponto</strong> etc.).<br />

Pois b<strong>em</strong>, o que para muitos seria o fim de jornada (aprovação no cargo de Auditor da<br />

Receita), para o <strong>Leandro</strong> era só o início! Numa das nossas primeiras conversas <strong>em</strong><br />

Brasília, ele foi logo me dizendo: “meu sonho, Vicente, é ser <strong>juiz</strong> <strong>federal</strong>; vou cursar<br />

Direito e prestar o concurso até passar”.<br />

E assim foi feito! O <strong>Leandro</strong> formou-se <strong>em</strong> Direito, fez toda uma progra mação de<br />

estudo, tirou licença s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração para estudar e, <strong>em</strong> menos de dois anos de<br />

preparação, foi aprovado <strong>em</strong> dois concursos da magistratura, (ambos 1º lugar!) – e<br />

agora, desde o ano passado, é “Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal” na cidade<br />

de Foz do Iguaçu (PR), vinculado ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região.<br />

Eu digo, s<strong>em</strong>pre, que estudar para concursos exige, acima de tudo, <strong>em</strong>penho,<br />

disciplina, determinação. Não é assunto para fracos, n<strong>em</strong> para mima<strong>dos</strong>. Você verá,<br />

nas páginas seguintes, um ex<strong>em</strong>plo vivo de que a aprovação não é um acaso, n<strong>em</strong><br />

sorte, n<strong>em</strong> genialidade; é apenas o resultado de um planejamento sério, fielmente<br />

cumprido, regado de suor, humildade e de muitas abdicações t<strong>em</strong>porárias. Valorize as<br />

palavras do Doutor <strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>. Eu não tenho dúvida de que essa (extensa)<br />

<strong>entrevista</strong> será um marco na história de preparação de muitos concursan<strong>dos</strong> por esse<br />

Brasil afora...<br />

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Vicente Paulo: Qual foi a primeira vez que você pensou <strong>em</strong> ser servidor<br />

público? Qual foi a motivação para isso?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Meu amigo Vicente Paulo, inicialmente, quero agradecer a<br />

gentileza das palavras, e o inegável exagero, fruto, s<strong>em</strong> dúvida, da amizade sincera e<br />

fraternal que nos une há tantos anos. Sinto-me bastante à vontade para falar no<br />

assunto “concursos”, pois vivo nesse “mundo concursal” há duas décadas.<br />

Venho de uma família s<strong>em</strong> nenhuma tradição no serviço público. Ninguém nela buscou<br />

essa via, ao contrário, meus parentes s<strong>em</strong>pre atuaram no setor privado.<br />

Contudo, b<strong>em</strong> por acaso, esses “acasos” que mudam c ompletamente o rumo das<br />

nossas vidas, passei diante de uma agência <strong>dos</strong> correios e vi um cartaz que dizia que<br />

estavam abertas as inscrições para o concurso para preenchimento de cargos na<br />

Justiça Federal do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com vagas para Curitiba,<br />

onde eu nasci e morava.<br />

Eu não tinha a menor idéia do que era um T RF, só sabia que o salário era bom, cerca<br />

de oito vezes o que eu recebia como estagiário de Engenharia Elétrica, curso que eu<br />

freqüentava.<br />

Fiz a inscrição e ali mesmo comprei uma apostila com o conteúdo da prova: português<br />

e noções de Direito. Costumo brincar que eu não tinha a menor noção da diferença<br />

entre STF e STJ, carta precatória ou carta rogatória, por ex<strong>em</strong>plo.<br />

Mas estudei, fiz a prova e passei!!! Recebi um telegrama (sim, telegrama...)<br />

comunicando minha nomeação no meu aniversário de 21 anos!! Grande presente que<br />

mudaria, daí por diante, toda minha vida.<br />

Então, esse foi meu primeiro grande contato com o serviço público e, confesso, creio<br />

que minha motivação foi quase que exclusivamente salarial. Não me l<strong>em</strong>bro de algum<br />

outro motivo que me levou a fazer aquela prova.<br />

Vicente Paulo: E qual foi o primeiro concurso que você prestou? Olhando,<br />

hoje, depois de tantas aprovações, como você “julgaria” essa sua primeira<br />

experiência de preparação?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Eu havia feito outras provas antes. Fiz “concursos” para estagiário<br />

e também um para um cargo t<strong>em</strong>porário no DET RAN do Paraná, que, apesar de<br />

aprovado, sequer assumi, pois o salário era baixo e havia previsão de multa se o<br />

abandonasse antes do fim do prazo. Mas esses não contam.<br />

O primeiro sério foi esse de técnico judiciário. Mas, sejamos honestos, era outro<br />

t<strong>em</strong>po. Estamos falando <strong>em</strong> 1993 quando fiz a prova. O “mundo concursal” não existia<br />

como é hoje. Ninguém falava <strong>em</strong> c oncurso, não existia cursinho, editoras na área eram<br />

raras, e se limitavam a apostilas muito resumidas, mal feitas, desatualizadas e difíceis<br />

de achar. Internet? Não existia. Bons livros pra concurso? N<strong>em</strong> se sonhava com isso.<br />

Acesso a provas anteriores? Ne m pensar.<br />

A prova, então, era o que se poderia classificar hoje como “uma piada”. As questões<br />

eram fáceis, diretas, s<strong>em</strong> a menor preocupação com o raciocínio do candidato.<br />

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Preocupava-se tão somente com um pouco de conhecimento técnico (jurídico) e do<br />

idioma brasileiro, nada mais.<br />

Mesmo assim, <strong>em</strong> razão das dificuldades com material didático, poucos passavam. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo, naquele concurso que fiz eram, salvo engano, aproximadamente 1300<br />

candidatos. Somente 111 obtiveram a nota mínima na prova. Ao fim <strong>dos</strong> quatro anos<br />

de validade do certame, to<strong>dos</strong> estavam nomea<strong>dos</strong>. Noutras palavras, naquele t<strong>em</strong>po,<br />

obtendo a nota mínima havia grandes chances de ser nomeado no decorrer do t<strong>em</strong>po.<br />

Hoje a realidade é totalmente distinta. Soube de um concurso para técnico judiciário<br />

<strong>em</strong> que eram oferecidas sete vagas. Se a m<strong>em</strong>ória não me falha, onze candidatos<br />

gabaritaram a prova! Nesses concursos onde a prova é do tipo “decoreba”, acertar<br />

90% das questões costuma ser sinal de reprovação. No concurso que fiz, acertando o<br />

mínimo, estava dentro.<br />

Enfim, comprei àquela apostila, <strong>em</strong> uns dias, uma hora por dia, li duas vezes a parte<br />

de direito (a parte de português sequer abri) e fui pra prova. Pelo que me l<strong>em</strong>bro ,<br />

fiquei <strong>em</strong> 33º lugar, e fui nomeado já na segunda turma (na primeira foram uns 15,<br />

três meses antes).<br />

Qu<strong>em</strong> lê esta resposta hoje certamente pensa: “Por que eu não pensei <strong>em</strong> concurso<br />

nessa época?”.<br />

Respondo: <strong>em</strong> primeiro lugar, não olhe para o passado, mas sim para a realidade de<br />

hoje.<br />

É óbvio que a prova era muito mais fácil, não se compara. Também o acesso à<br />

informação era b<strong>em</strong> mais difícil.<br />

Olhando especificamente para o concurso da magistratura, por ex<strong>em</strong>plo, provas<br />

realizadas há vinte anos eram, aos olhos de hoje, muito fáceis. Praticamente não se<br />

cobrava jurisprudência. O acesso a ela era por livros, edita<strong>dos</strong> muitos meses depois do<br />

julgado. E hoje? Você t<strong>em</strong> no seu <strong>em</strong>ail, de graça, as notícias do que está sendo<br />

julgado hoje, no STF!<br />

É o mundo da informação, então, s<strong>em</strong> ela, você não chega muito longe na sua<br />

caminhada.<br />

Portanto, a experiência desse meu primeiro concurso <strong>em</strong> nada se aplica aos meus<br />

concursos posteriores, salvo o fato de saber que sim, é possível, e ser aprovado só<br />

depende da gente, e não do sobrenome ou se algum <strong>dos</strong> seus pais t<strong>em</strong> um cargo<br />

influente. Só depende do candidato. Estudando, a aprovação chega.<br />

Vicente Paulo: Como Técnico Judiciário, você certamente via ali, no ambiente<br />

de trabalho, o dia a dia de um Juiz. Você l<strong>em</strong>bra quando decidiu,<br />

verdadeiramente, que queria ser um magistrado?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Eu gostava do que eu fazia, me sentia útil atendendo ao público,<br />

ajudando, ainda que de forma simples, as pessoas que precisavam do Judiciário.<br />

Mas eu era estudante de Engenharia, e gostava disso também.<br />

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Então, enfrentei um primeiro conflito sério acerca do meu futuro profissional: gostava<br />

do serviço público e gostava de engenharia.<br />

Passei a avaliar os prós e contras de cada uma das possibilidades e, especialmente <strong>em</strong><br />

razão da estabilidade e das possibilidades r<strong>em</strong>uneratórias para um recém formado,<br />

além, claro, de gostar do que fazia, acabei optando pelo serviço público.<br />

Mas o meu cargo era de nível médio, e me sentia um pouco limitado nele. Então passei<br />

a estudar para o concurso da Receita Federal, um <strong>dos</strong> melhores cargos para gradua<strong>dos</strong><br />

<strong>em</strong> outras carreiras que não o Direito.<br />

Nessa fase, melhorei muito minha capacidade técnico-jurídica, <strong>em</strong> razão <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong><br />

para o concurso de Auditor que, como sab<strong>em</strong>os, exige muito do candidato.<br />

Foi nessa época que o <strong>juiz</strong> com qu<strong>em</strong> eu trabalhava me convidou para ajudá -lo a<br />

minutar as decisões <strong>dos</strong> processos a cargo dele. E foi aí que, verdadeiramente, me<br />

senti com a vontade de ser <strong>juiz</strong>, já que percebia que, de fato, poderia mudar a vida<br />

das pessoas, ajudá-las a ter o que elas tinham direito. Até então, minhas atividades<br />

eram meramente burocráticas, com sua inegável importância, é óbvio, mas s<strong>em</strong> que<br />

se pudesse perceber um resultado concreto. Ajudando aquele <strong>juiz</strong>, apesar de caber a<br />

ele a assinatura da decisão, eu me sentia muito útil para a sociedade.<br />

Passei no concurso da Receita com uma idéia fixa: fazer a faculdade de Direito e<br />

prestar o concurso para a magistratura.<br />

E assim foi.<br />

Vicente Paulo: Quando se fala <strong>em</strong> concurso para a magistratura, a reação<br />

normal das pessoas é pensar que se trata de algo quase inatingível para os<br />

“mortais”! Eu mesmo conheço muitos, muitos candidatos que se formaram <strong>em</strong><br />

Direito com o sonho de ser<strong>em</strong> juízes, mas passaram <strong>em</strong> algum concurso de<br />

técnico ou analista do Judiciário e nele estacionaram. No início, você também<br />

não tinha essa sensação, de que seria quase impossível a aprovação na<br />

magistratura?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Sim, de fato, essa é uma sensação geral. Contudo, inicialmente,<br />

s<strong>em</strong> saber direito das dificuldades, eu achava que era perfeitamente possível chegar<br />

lá, tanto é que acreditava que os três anos de prática jurídica exigi<strong>dos</strong> a partir da EC<br />

nº 45/2004, que se transformam <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po de preparação, era t<strong>em</strong>po suficiente para<br />

estudar...<br />

E acabei iniciando meus estu<strong>dos</strong> apenas seis meses depois da formatura. Foi só<br />

estudando que percebi o quão difícil é, realmente, esse concurso. Assim, passei dois<br />

anos só fazendo cursinho, s<strong>em</strong> estudar, até perceber que, naquele rit mo, talvez<br />

d<strong>em</strong>orasse dez anos para passar, ou talvez nunca passasse. Foi o volume de matéria<br />

que me levou a pedir licença s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração para ficar totalmente focado no estudo<br />

para o concurso. Essa foi minha decisão pessoal. Boa parte <strong>dos</strong> aprova<strong>dos</strong> acaba<br />

passando enquanto trabalha, é dizer, trabalhar não é um <strong>em</strong>pecilho.<br />

Curioso é que entre os que estudam para a magistratura estadual essa sensação de<br />

dificuldade se repete. Certa vez, conversando com um colega antes da prova de <strong>juiz</strong><br />

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estadual, comentei que eu queria ser <strong>juiz</strong> <strong>federal</strong>, ao que ele prontamente respondeu:<br />

“isso não é pra mim, não imagino isso n<strong>em</strong> nos meus melhores sonhos, é muito<br />

difícil!”.<br />

Essa sensação, então, é bastante comum e, digo mais, com boa parcela de razão.<br />

Difícil é sim, impossível não!<br />

É bom que se diga: to<strong>dos</strong> os concursos são difíceis, cada um com suas características e<br />

peculiaridades. Hoje <strong>em</strong> dia não há concurso fácil.<br />

Por último, acrescento que o que mais se vê são pessoas querendo um certo cargo<br />

mas não se submetendo ao caminho que essa aprovação exige, ou seja, quer<strong>em</strong> o<br />

cargo, mas não quer<strong>em</strong> o caminho para chegar até ele. Assim, acabam sendo<br />

aprova<strong>dos</strong> <strong>em</strong> outro cargo, eventualmente mais fácil de passar, e nele se acomodando,<br />

mesmo que não seja onde gostariam de estar. Vi muitos ex<strong>em</strong>plos assim na minha<br />

preparação.<br />

Se você está satisfeito no seu cargo, seja ele qual for, ótimo. To<strong>dos</strong> t<strong>em</strong> suas<br />

peculiaridades, com vantagens e desvantagens. Se você quer ser delegado, você será<br />

delegado, não desista enquanto a aprovação não chegar. Se quer ser <strong>juiz</strong> ou m<strong>em</strong>bro<br />

do Ministério Público, id<strong>em</strong>, batalhe até conseguir. Repito: se ficou satisfeito no cargo<br />

no qual foi aprovado, pode se aposentar da carreira “concursal” e ir aproveitar a vida.<br />

Mas é importante fazer uma boa avaliação do que quer e do que o faz feliz. O cargo é<br />

só um detalhe na sua vida.<br />

A pior opção, me parece, é ficar r<strong>em</strong>oendo o resto da vida uma não aprovação para<br />

um cargo que se optou não mais estudar.<br />

De outro lado, também não é bom passar e ficar reclamando do trabalho, das funções,<br />

das competências. L<strong>em</strong>bre-se: dinheiro, poder, “status”, são coisas que pod<strong>em</strong> até<br />

deslumbrar candidatos, mas dificilmente substitu<strong>em</strong> o prazer de se trabalhar com<br />

aquilo que dá alegria e satisfação. Mesmo <strong>em</strong> concursos muito difíceis v<strong>em</strong>os<br />

aprova<strong>dos</strong> insatisfeitos com a função, especialmente aqueles que não t<strong>em</strong> a respectiva<br />

aptidão ou que escolheram o cargo pelo salário. Então, antes de escolher o cargo que<br />

pretende, avalie, muito além da dificuldade da prova, também suas aptidões e gostos<br />

pessoais. O caminho escolhido pode surpreender você!<br />

Vicente Paulo: Eu conheci melhor você quando ingressou no cargo de Auditor-<br />

Fiscal da Receita Federal. Mesmo naquele momento – de superação, pós-<br />

aprovação -, você já falava firm<strong>em</strong>ente no seu ingresso na magistratura. Dali<br />

por diante, paralelamente ao exercício do cargo de Auditor, você cursou<br />

Direito. O exercício de um importante cargo público (Auditor da Receita<br />

Federal) auxilia ou atrapalha na aprovação <strong>em</strong> um concurso da magistratura?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: É verdade. É que eu já tinha vontade de ser <strong>juiz</strong> antes de ser<br />

auditor. Como era engenheiro, eu tinha duas opções: ficar como técnico e fazer a<br />

faculdade de Direito para, depois, enfrentar o concurso da magistratura, ou já fazer<br />

um concurso de nível superior e depois fazer Direito. Optei por este caminho, pois<br />

sentia que podia produzir muito mais do que estava produzindo. Para tanto, era<br />

necessário um cargo de nível superior. Dentre eles, o que mais me agradava era o de<br />

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AFRFB e, de fato, gostei muito de ser auditor. Se acaso não tivesse logrado êxito na<br />

magistratura, ficaria nele até a aposentadoria muito satisfeito, por se tratar de um<br />

cargo ótimo, inserido <strong>em</strong> um órgão de excelência, onde há uma infinidade de<br />

oportunidades de realização profissional, servindo ao interesse público.<br />

O exercício de outros cargos antes da magistratura é muito importante para a<br />

formação profissional do futuro <strong>juiz</strong>, dando-lhe outros pontos de vista, outras<br />

percepções que, talvez, alguém que assuma a magistratura s<strong>em</strong> essa experiência, não<br />

tenha.<br />

Hoje a CF/88 exige prática jurídica de três anos, que podia ser suprida por cursos de<br />

pós graduação, já não mais aceitos. Me parece óbvio que um novo <strong>juiz</strong>, que não teve<br />

experiência profissional, terá muito mais dificuldades do que aqueles que a tiveram.<br />

Com o exercício de outros cargos o novo <strong>juiz</strong> t<strong>em</strong> mais facilidade para compreender o<br />

que as partes ped<strong>em</strong>, vivenciam, desejam, sofr<strong>em</strong>. Com outras experiências o<br />

exercício do cargo acaba sendo mais completo, melhor e útil para a sociedade, objetivo<br />

último ao assumir um cargo público, ou seja, efetivamente “servir ao público”.<br />

São muito comuns aprova<strong>dos</strong> nesse concurso que antes eram procuradores,<br />

delega<strong>dos</strong>, defensores, analistas, técnicos, auditores. Essa diversidades só engrandece<br />

a magistratura e o serviço judiciário.<br />

Outro ponto que me parece relevante é que, <strong>em</strong> razão da dificuldade própria desse<br />

concurso, como já citei, é comum também os candidatos ser<strong>em</strong> aprova<strong>dos</strong> para outr os<br />

cargos no decorrer da preparação. Isso, então, é igualmente relevante para o<br />

concursando, já que representa uma espécie de “caminho”, cada vez passando por<br />

novos postos até atingir seu objetivo final. O meu atingi e fiquei plenamente satisfeito,<br />

tanto com o destino quanto com o caminho percorrido!<br />

Vicente Paulo: E o cargo de Técnico do Judiciário facilitou a ulterior<br />

preparação para a magistratura?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Na preparação não foi relevante, contudo, foi durante o exercício<br />

desse cargo que eu passei a ter vontade de ser <strong>juiz</strong>, a ter contato com o mundo<br />

jurídico, pois, quando fiz esse concurso, tinha apenas 20 anos e era estudante de<br />

engenharia, s<strong>em</strong> ter a menor noção do Poder Judiciário.<br />

Outro fator muito importante foi vivenciar o trabalho sob o ponto de vista do servidor.<br />

Como se diz, para poder determinar o que deve ser feito, melhor saber como se faz. E<br />

isso creio que aprendi b<strong>em</strong>, pois foram oito anos como servidor, fazendo todo tipo de<br />

trabalho burocrático e, mais, compartilhando o cotidiano co m os d<strong>em</strong>ais colegas, o que<br />

inclui as inevitáveis fofocas, intrigas e disputas por funções gratificadas.<br />

E essa experiência é fundamental hoje <strong>em</strong> dia, na administração da vara, <strong>dos</strong><br />

servidores, do serviço. Como passei por tudo isso, tenho uma visão diferenciada, algo<br />

que os colegas que nunca foram servidores pod<strong>em</strong> não ter, o que gera essa dificuldade<br />

extra no exercício do cargo.<br />

Para o concurso, enfim, influenciou muito pouco; para a vontade de fazê-lo, muito.<br />

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Vicente Paulo: Em todo o período do “Projeto Ju iz Federal”, qual foi a sua<br />

maior dificuldade? E o que fez para superá-la?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: S<strong>em</strong> nenhuma dúvida foi manter a motivação para estudar<br />

durante o t<strong>em</strong>po necessário para aprender o suficiente para a aprovação.<br />

Essa, com certeza, é a parte mais difícil da preparação. A matéria, me parece, não é a<br />

pior parte. Afinal, to<strong>dos</strong> nós já passamos tantos anos estudando até a graduação que<br />

isso, b<strong>em</strong> ou mal, já sab<strong>em</strong>os fazer.<br />

Porém, o estudo para o concurso é diferente.<br />

No ensino tradicional, estudamos um pouco de matéria para uma prova específica, <strong>em</strong><br />

geral, dois meses de aula e prova. Saímos da prova e passamos a nos preocupar com<br />

o conteúdo <strong>dos</strong> próximos dois meses, e assim chegamos ao fim da graduação.<br />

No concurso o rit mo é outro. T<strong>em</strong>os que estudar tudo, de todas as matérias, para uma<br />

prova só. “Tudo ao mesmo t<strong>em</strong>po agora!”<br />

Então, o t<strong>em</strong>po necessário para a preparação, de regra, é largo, o que acaba gerando<br />

ansiedade no candidato e, no mais das vezes, dificuldades de concentração, prejuízo<br />

para os estu<strong>dos</strong> e, <strong>em</strong> c asos extr<strong>em</strong>os (e comuns), a desistência.<br />

Em resumo: para passar <strong>em</strong> concurso, é necessário um bom t<strong>em</strong>po de dedicação aos<br />

estu<strong>dos</strong> e à preparação <strong>em</strong> geral. E manter a motivação durante esse t<strong>em</strong>po vai ser a<br />

diferença entre a aprovação ou não. Portanto, a princ ipal dica que tenho para dar é<br />

essa, arrume algo para manter sua motivação. Cada um deve procurar o que mais<br />

representa seu desejo de assumir o cargo e, cada vez que estiver desanimado, deve<br />

l<strong>em</strong>brar do que lhe fez decidir por seguir esse caminho, tortuoso, mas recompensador.<br />

E, uma vez reanimado, retomar os estu<strong>dos</strong> com força total.<br />

Esse “fator motivacional” vai ser muito particular de cada candidato. Uns pensam no<br />

salário, na posição, no reconhecimento social, no poder. Outros na estabilidade, na<br />

garantia de um bom “<strong>em</strong>prego”, na aposentadoria. Outros, ainda, na possibilidade de<br />

dar uma vida confortável para a família, uma boa casa, trocar de carro todo ano ou<br />

viajar para conhecer o mundo. T<strong>em</strong> também aqueles que pensam <strong>em</strong> uma nova<br />

esposa ou <strong>em</strong> um novo marido! Mas, apesar de to<strong>dos</strong> esses “motivos” pessoais, não<br />

nos esqueçamos do que realmente importa, afinal, estamos buscando um cargo<br />

público, ser servidor público. Então, um ponto muito importante é l<strong>em</strong>brar que, uma<br />

vez aprova<strong>dos</strong>, passamos a ter uma função social muito relevante, qual seja, a de<br />

servir ao público, e isso nunca pod<strong>em</strong>os perder de foco. Se isso não nos agrada,<br />

estamos buscando a carreira errada!<br />

Enfim, cada um t<strong>em</strong> suas prioridades! Eleita a sua, use-a como um amuleto, cole na<br />

parede uma foto representativa do seu desejo e, a cada recaída (esteja certo, elas<br />

ocorrerão várias vezes durante esse percurso), olhe para a foto, feche os olhos, pense<br />

no que lhe move, e siga seu caminho, até a aprovação! Ela virá!<br />

Mas, nos momentos mais dramáticos, como logo <strong>em</strong> seguida a uma reprovação que<br />

lhe pareça justa ou não, ou um baque mais significativo, aí a solução talvez seja um<br />

pouco mais d<strong>em</strong>orada. Pode ser fechar o livro, ir dormir, brincar com as crianças,<br />

andar no parque, passar um fim de s<strong>em</strong>ana na praia, ir ao cin<strong>em</strong>a. Mude seu foco por<br />

um t<strong>em</strong>po, que s<strong>em</strong>pre deve ser curto. E retome os estu<strong>dos</strong> tão logo consiga.<br />

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Portanto, na minha opinião, manter a motivação é o ponto crucial para a preparação<br />

para essa batalha. Busque a forma de manter a sua e perceberá que o estudo flui com<br />

mais tranqüilidade, e a aprovação será apenas uma conseqüência disso tudo.<br />

Vicente Paulo: Agora, vamos esquecer um pouco a magistratura e falar de<br />

outros concursos. Eu sei que você tirou licença s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração e foi para<br />

Curitiba (PR) para focar nos estu<strong>dos</strong>. Sei, também, que você fez cursinho<br />

preparatório, leu muito e acompanhava dia e noite a jurisprudência <strong>dos</strong><br />

tribunais superiores. Agora, levando essa sua experiência para outros<br />

concursos – menos complexos do que o da magistratura -, qual a combinação<br />

que você considera ideal numa preparação (cursinho + leitura + exercícios<br />

etc.)?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Há alguns anos concurso virou uma coisa séria. Deixou de ser, na<br />

maioria das provas, mera “decoreba” da legislação ou coisa para principiantes ou<br />

sortu<strong>dos</strong>.<br />

Hoje <strong>em</strong> dia, uma preparação integral é fundamental. Isso inclui uma série de ações<br />

que dev<strong>em</strong> ser tomadas pelo estudante.<br />

Costumo recomendar o seguinte conjunto:<br />

1 – comece fazendo cursinho. Nele você aprende o foco para estudar. Iniciar, sozinho,<br />

costuma ser um caminho tortuoso, já que, como já referi, a preparação para essa<br />

prova é b<strong>em</strong> diferente de tudo que já fiz<strong>em</strong>os na nossa vida acadêmica. O enfoque das<br />

questões id<strong>em</strong>. Aprender Direito Constitucional na faculdade é b<strong>em</strong> diferente do que<br />

no cursinho para concurso. Fazer essa prova na faculdade não t<strong>em</strong> nada a ver com a<br />

prova do concurso. Assim, não é porque você fez Direito que não precisa ir para as<br />

aulas de Direito no cursinho. Você vai descobrir um mundo novo. No cursinho, então,<br />

vai aprender como passar <strong>em</strong> concurso. Depois de algum t<strong>em</strong>po, muitos já se sent<strong>em</strong><br />

aptos para estudar sozinhos, o que é muito natural.<br />

2 – mantenha um caderno completo e atualizado. Esse vai ser o “seu manual”, o seu<br />

“tesouro”. É ele que vai te acompanhar durante todo esse processo. Os livros ficam<br />

desatualiza<strong>dos</strong> e você os substitui por novos, mas o caderno será o mesmo até a<br />

posse! Eu fiz o seguinte e, preste atenção, essa certamente vai ser uma das melhores<br />

dicas desta <strong>entrevista</strong>: eu anotava tudo <strong>em</strong> sala de aula durante um ano. No ano<br />

seguinte, passei a limpo o caderno, deixando de lado partes que eu já sabia b<strong>em</strong> e,<br />

portanto, não precisaria mais estudar. Tirei fotocópia desse material, deixando o verso<br />

<strong>em</strong> branco, e encadernei. No ano seguinte, quando ia para a aula (repetindo o que já<br />

havia feito antes), levava essa cópia e prestava atenção à aula (note que, antes, eu<br />

anotava tudo, depois eu ficava de braços cruza<strong>dos</strong> ouvindo o professor). Se houvesse<br />

alguma informação nova, eu anotava nesse “caderno”, para isso deixei o verso <strong>em</strong><br />

branco. Estudando <strong>em</strong> casa, se visse algum novo julgado, nova lei etc, pegava meu<br />

“caderno” e anotava esse detalhe. Ou seja, no fim, tinha um material que, apesar de<br />

ter sido produzido há quase quatro anos, estava s<strong>em</strong>pre atualizado. E essa foi a base<br />

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do meu estudo, já que li e reli por volta de umas quarenta vezes to<strong>dos</strong> esses<br />

“cadernos”.<br />

3 – leia a doutrina especializada. Quando comecei a estudar para auditor, não havia<br />

quase nada voltado para concursos. Aliás, nessa época é que conheci o Vicente e o<br />

Marcelo, que iniciavam suas aulas na internet. Pouco depois vieram os livros da Editora<br />

Impetus, pioneira na produção de livros de qualidade volta<strong>dos</strong> para concursos. Hoje a<br />

realidade é outra. Há tanto material específico para essa área que ouso dizer que o<br />

probl<strong>em</strong>a se inverteu: antes, quase não havia; hoje, há tanto que é necessário separar<br />

o joio do trigo. De fato, há muita coisa ruim no mercado. Assim, procure descobrir os<br />

bons livros para concursos e leia-os com atenção. Se julgar conveniente (eu fiz isso)<br />

destaque as partes principais e depois releia só essas. Alguns livros li quase dez vezes,<br />

uma vez completa, e as outras só a parte destacada. A repetição é importante para a<br />

apreensão do conteúdo.<br />

4 – faça muitos exercícios de provas anteriores. O treino é parte indissociável do<br />

aprendizado. Como fazer uma prova de concurso s<strong>em</strong> nunca antes ter resolvido umas<br />

questões <strong>em</strong> casa? O sucesso acaba ficando comprometido. Hoje há inúmeros sítios de<br />

internet onde é possível ter acesso às provas antigas, inclusive separadas por assunto,<br />

banca, ano etc. Além disso, também estão disponíveis no mercado livros de questões<br />

comentadas que pod<strong>em</strong> ser ótimas ferramentas para a preparação. Use e abuse delas,<br />

quanto mais treino, melhor o des<strong>em</strong>penho quando for para valer.<br />

5 – mantenha-se atualizado com a jurisprudência, se seu concurso a exigir. Alguns<br />

concursos não, mas outros exig<strong>em</strong> muito conhecimento da jurisprudência. Isso se<br />

intensificou <strong>em</strong> uma época de poucas novidades legislativas. Como são tantos<br />

concursos cobrando o mesmo conteúdo, não há mágica, e a repetição acaba sendo um<br />

caminho necessário. Então, para tentar inovar, as bancas passaram a cobrar também<br />

jurisprudência. Já vi prova com quase 25% das questões cobrando esse tipo de<br />

conhecimento. Portanto, atenção a ele. Sugiro, no mínimo, a leitura s<strong>em</strong>anal <strong>dos</strong><br />

Informativos do STF e do STJ, gratuitamente envia<strong>dos</strong> por e- mail, pelo respectivo<br />

Tribunal, para qu<strong>em</strong> nele se cadastra. De outro lado, toda s<strong>em</strong>ana envio as partes que<br />

julgo mais importantes do Informativo do STF para meus alunos. Se você tiver<br />

interesse de receber, me escreva: leandro@cadenas.com.br.<br />

Além disso tudo, não dev<strong>em</strong>os esquecer que alguns cargos exig<strong>em</strong> mais que uma<br />

prova de conhecimento. Há aqueles nos quais é necessária prova de digitação, prova<br />

física, que o candidato tenha um determinado tipo de habilitação para dirigir veículo<br />

etc.<br />

Assim sendo, verifique o que o edital do seu concurso contém acerca desse assunto e<br />

se prepare de maneira completa. Já vi gente aprovada na fase de conhecimento e<br />

reprovada no exame físico... nada mais decepcionante. A preparação deve ser com o<br />

t<strong>em</strong>po necessário para alcançar a aprovação. Em geral, depois do resultado da<br />

primeira fase não dá mais t<strong>em</strong>po para se preparar para a seguinte. Leve isso <strong>em</strong> conta<br />

no seu planejamento.<br />

Vicente Paulo: Você já se preparou simultaneamente com o trabalho e, agora,<br />

na reta final para o cargo de Juiz Federal, optou por tirar licença do trabalho e<br />

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ficar só estudando. O que você nos diz dessas duas experiências? O que<br />

poderia dizer a candidatos que têm a eterna dúvida “se para ou não de<br />

trabalhar para estudar”?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Com organização, é possível trabalhar e estudar para qualquer<br />

concursos.<br />

Claro que não trabalhar t<strong>em</strong> a conseqüência de “sobrar” mais t<strong>em</strong>po. Mas qualquer<br />

opção t<strong>em</strong> seus prós e contras. Aquele que não trabalha t<strong>em</strong> mais t<strong>em</strong>po, mas não<br />

t<strong>em</strong> dinheiro no fim do mês, o que gera uma <strong>dos</strong>e extra de ansiedade. Aquele que<br />

trabalha t<strong>em</strong> menos t<strong>em</strong>po para estudar, mas t<strong>em</strong> mais tranqüilidade financeira.<br />

Então, a opção deve levar <strong>em</strong> conta esses e outros vários aspectos.<br />

Destaco também um “probl<strong>em</strong>a” comum entre os que só estudam: a sensação de que<br />

se t<strong>em</strong> muito t<strong>em</strong>po, portanto, pode folgar um pouco mais, deixando para depois o<br />

que poderia fazer hoje. Resultado: o t<strong>em</strong>po passa e não estuda. De o utro lado, aquele<br />

que t<strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po tende a fazer render suas folgas com mais eficiência. Cuidado<br />

com as armadilhas do t<strong>em</strong>po!<br />

A decisão, destaco, é algo muito pessoal. Durante muito t<strong>em</strong>po eu não tinha a<br />

disciplina necessária para estudar sozinho, então, precisei frequentar cursinhos, pois,<br />

<strong>em</strong> casa, não conseguia estudar.<br />

É muito importante conhecer e reconhecer suas limitações. Não adianta ter o dia todo<br />

para estudar e se distrair com TV, telefone, internet, comida... O candidato deve olhar<br />

para si e, com honestidade, avaliar a melhor solução pessoal.<br />

Pedir d<strong>em</strong>issão do <strong>em</strong>prego, ou licença s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração, é uma decisão muito<br />

importante, que deve ser tomada com cautela e reflexão, pois influenciará sua vida<br />

financeira e, no lugar de trazer mais t<strong>em</strong>po, pode trazer mais preocupações e<br />

pressões.<br />

Eu avaliei isso e, com três anos de antecedência, decidi que iria pedir essa licença. Mas<br />

era uma situação peculiar, pois eu sentia que tinha (e tinha, de fato) muito para<br />

estudar e, com pouco t<strong>em</strong>po por dia, d<strong>em</strong>oraria muito t<strong>em</strong>po. Além disso, eu mantinha<br />

uma série de atividades fora da Receita Federal, como as aulas, os livros e um<br />

cursinho para concursos do qual eu era sócio na época. Necessitava, então, abrir mão<br />

de algo para me focar nos estu<strong>dos</strong>, e decidi abrir mão da Receita e de 90% das aulas,<br />

passando a estudar todo o t<strong>em</strong>po que me restava.<br />

Graças a Deus deu certo. Dois meses antes de vencer minha licença de dois anos<br />

tomei posse no meu cargo atual, encerrando minha vida de concursando!<br />

Se não tivesse feito isso, certamente d<strong>em</strong>oraria muito mais t<strong>em</strong>po para alcançar a<br />

aprovação.<br />

Avalie sua situação pessoal, seus limites, suas virtudes. Veja o melhor caminho e siga<br />

por ele, com fé. O resultado virá.<br />

Vicente Paulo: Todo mundo fala da importância de exercitar, de fazer<br />

exercícios e provas anteriores. Você já disse que considera mesmo<br />

fundamental. Fale um pouco mais sobre isso.<br />

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<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Como já citei antes, sim, isso é essencial para um bom resultado.<br />

A prática gera segurança para enfrentar o dia da prova com mais tranqüilidade. Nada<br />

como treinar antes da competição. Conhecendo a banca e a forma de ser cobrado o<br />

conteúdo, fica muito mais fácil fazer a prova.<br />

Depois de analisar diversas provas de um determinado concurso ou de certa banca,<br />

percebe-se que há uma forma mais ou menos esperada de avaliar o candidato. Como<br />

diz Sun Tzu, “conhece teu inimigo e conhece-te a ti mesmo. Se tiveres c<strong>em</strong> combates<br />

a travar, c<strong>em</strong> vezes serás vitorioso.”<br />

O “inimigo”, aqui, é o concurso, a banca, a prova. E você só o conhece estudando. No<br />

caso, resolvendo provas anteriores.<br />

Agregue-se a isso a já citada repetição de questões. É muito comum tal repetição.<br />

Assim, pode ser que você veja pontos na sua prova já cobra<strong>dos</strong> antes, e já resolvi<strong>dos</strong><br />

por você durante sua fase de preparação.<br />

Vicente Paulo: Você é um ótimo ex<strong>em</strong>plo de candidatos que já obteve sucesso<br />

<strong>em</strong> concursos não jurídicos (Técnico do Judiciário, Auditor-Fiscal da Receita<br />

Federal) e, agora, <strong>em</strong> jurídicos (aprovação para Defensor Federal e <strong>em</strong><br />

concursos para Juiz). Quais seriam as principais diferenças no tocante a se<br />

preparar para um concurso fiscal e um concurso jurídico?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Pelo que percebo, a diferença fundamental está na lista de<br />

disciplinas e na prova.<br />

Os ditos concursos jurídicos costumam ter mais fases, como prova escrita e oral.<br />

Ultimamente até o concurso para Auditor, e outros não jurídicos, passaram a exigir<br />

também uma prova escrita, mudança muito positiva para uma melhor seleção <strong>dos</strong><br />

candidatos.<br />

Quanto à lista de disciplinas, nos certames que exig<strong>em</strong> bacharelado <strong>em</strong> Direito,<br />

praticamente só são cobradas matérias desse ramo do conhecimento, salvo língua<br />

portuguesa, exigida <strong>em</strong> alguns deles.<br />

Já nos d<strong>em</strong>ais, o rol costuma ser mais abrangente, incluindo outras, como mat<strong>em</strong>ática,<br />

estatística, língua estrangeira, contabilidade, arquivologia, raciocínio lógico etc. Sob<br />

determinado ponto de vista, pode ser ainda mais difícil, por avaliar do candidato um<br />

leque diversificado de conhecimentos, enquanto que aqueles concursos jurídicos se<br />

restring<strong>em</strong> a uma área do saber. Contudo, neste caso, as questões, <strong>em</strong> geral, são<br />

mais aprofundadas e, naquele, pod<strong>em</strong> ser mais superficiais.<br />

Então, creio que essas são as principais diferenças, a gerar uma preparação<br />

direcionada. Se for o caso de prova com variadas áreas de conhecimento, acho<br />

interessante a idéia de mesclar as matérias. Quando estiver cansado de ler Direito<br />

Constitucional, resolva alguns exercícios de mat<strong>em</strong>ática financeira. Depois, faça uma<br />

redação, e assim por diante. Se as questões de uma área são superficiais, não perca<br />

t<strong>em</strong>po se aprofundando nela.<br />

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Vicente Paulo: Que conselho inicial você daria para um candidato não<br />

graduado <strong>em</strong> Direito que fosse começar a estudar hoje para um concurso que<br />

exija vários ramos do Direito (quase to<strong>dos</strong> cobram!)? Por onde começar?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Em primeiro lugar, deixe de lado todo e qualquer preconceito que<br />

você eventualmente tenha contra essas matérias. Não pense, como eu pensava, que<br />

Direito era chato e se resumia à mera leitura e “decoreba”.<br />

É muito mais que isso.<br />

Abra sua mente para esse novo mundo de informações, entenda o Direito e o porquê<br />

de cada uma de suas regras, tentando, muito mais do que mera m<strong>em</strong>orização, a<br />

compreensão da matéria. Isso facilitará, e muito, na hora da prova. Claro, na sua vida<br />

também!<br />

Costumamos não gostar daquilo que não conhec<strong>em</strong>os ou não dominamos. Isso não é<br />

diferente com o Direito. Depois de aprender, tudo muda. Eu não gostava de controle<br />

de constitucionalidade, achava chato, difícil, cheio de peculiaridades que eu não<br />

entendia. Também ouvi isso de muitos alunos. Como era um <strong>dos</strong> pontos mais cobra<strong>dos</strong><br />

<strong>em</strong> prova, me dediquei a estudar e, como recompensa, passou a ser um <strong>dos</strong> assuntos<br />

de Constitucional que eu mais dominava, acertando quase todas as questões de<br />

concursos.<br />

Matérias de Direito serão cobradas na prova? É fundamental para sua aprovação? Se<br />

sim, então, aos estu<strong>dos</strong>, s<strong>em</strong> preconceitos e com boa vontade. Pense assim: matéria<br />

interessante é aquela que me faz passar!<br />

Vicente Paulo: Além de concursando de sucesso, você é também autor e<br />

coordenador de obras jurídicas (coordenador, por ex<strong>em</strong>plo, das Coleções<br />

“1001 Questões Comentadas” e “Direito de Bolso”, publicadas pelo<br />

GEN/Método/Vicente & Marcelo). Você também já falou sobre a importância<br />

do material didático. Então, que recado você deixaria para os concursan<strong>dos</strong> a<br />

respeito de “material de estudo para concursos”?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Como já referi, t<strong>em</strong>os à disposição, atualmente, todo tipo de<br />

material didático voltado para concursos.<br />

Mas a quantidade não se reflete, necessariamente, <strong>em</strong> qualidade. Justamente v<strong>em</strong>os o<br />

contrário: uma infinidade de livros que não t<strong>em</strong> compromisso com a qualidade, a<br />

atualidade, a didática ou o conteúdo direcionado. Infelizmente, o novato só vai<br />

descobrir depois que comprou. Pior, às vezes sequer depois de ler o livro se apercebe<br />

da sua má qualidade, já que, por vezes, o leitor não t<strong>em</strong> condições de avaliar a<br />

publicação.<br />

Diante disso, a melhor saída é confiar na indicação <strong>dos</strong> professores ou concursan<strong>dos</strong><br />

mais experientes, dando preferência a autores especialistas nessa área, de<br />

reconhecida excelência.<br />

Dessa forma, você otimiza seus estu<strong>dos</strong>, e não perde t<strong>em</strong>po “aprendendo” e<br />

“desaprendendo” com materiais de baixa qualidade.<br />

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A dica, <strong>em</strong> resumo, é: você precisará de bons livros, então, abuse das indicações e do<br />

currículo do autor.<br />

Vicente Paulo: Você também já foi sócio de curso preparatório para<br />

concursos, <strong>em</strong> Campo Grande (MS), como já citou. Nessa época, você<br />

certamente vivenciou os maiores “sofrimentos” <strong>dos</strong> candidatos. Em geral,<br />

quais são as maiores angústias <strong>dos</strong> candidatos durante uma preparação?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: A mais freqüente característica que pude perceber foi a falta de<br />

paciência, característica que é comum nas nossas vidas. Quer<strong>em</strong>os resulta<strong>dos</strong> “para<br />

ont<strong>em</strong>”, e não estamos dispostos a investir o t<strong>em</strong>po necessário para alcançá-los.<br />

Iniciamos um regime e quer<strong>em</strong>os <strong>em</strong>agrecer, <strong>em</strong> um mês, o que com<strong>em</strong>os a mais<br />

durante anos. Começamos as aulas de uma língua estrangeira e quer<strong>em</strong>os sair falando<br />

logo. Começamos um cursinho e quer<strong>em</strong>os passar na primeira prova, de preferência<br />

com poucos meses de estu<strong>dos</strong>.<br />

Ora, isso não é possível. Então, o que eu vi nessas quase duas décadas vivenciando o<br />

mundo “concursal”: muita gente sonhando com um cargo, fazendo um cursinho, e<br />

desistindo no meio do caminho.<br />

Os poucos que não desistiram, passaram.<br />

Os alunos também acabam gastando muita energia e muito t<strong>em</strong>po com questões que<br />

fog<strong>em</strong> do seu controle, como d<strong>em</strong>ora para a publicação do edital, falta de<br />

previsibilidade da Administração Pública, mudanças nas matérias, excesso de questões<br />

anuladas, greve, reajuste salarial etc.<br />

São questões, s<strong>em</strong> dúvida, importantes, mas que não t<strong>em</strong> nenhuma possibilidade de<br />

ser<strong>em</strong> resolvidas pelos candidatos e que, por outro lado, lhes tiram o foco <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong>.<br />

Para resumir, importante que o aluno tenha <strong>em</strong> mente que vai passar muito t<strong>em</strong>po<br />

estudando até lograr alcançar seu objetivo final, e que é nisso que ele deve focar. Se<br />

não pode decidir quando será publicado o edital, então concentre seus esforços nos<br />

estu<strong>dos</strong>. Quando for ele, enfim, publicado, o candidato já estará quase pronto, apenas<br />

precisando adequar o que estudou ao novo edital. E, com paz de espírito, ir fazer a<br />

prova e com<strong>em</strong>orar o resultado positivo!<br />

Vicente Paulo: E os maiores erros cometi<strong>dos</strong> pelos candidatos? Ou, mesmo,<br />

erros que tenham sido cometi<strong>dos</strong> por você – e que, hoje, você não os<br />

cometeria novamente?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Da mesma forma que quer<strong>em</strong>os os resulta<strong>dos</strong> a curto prazo,<br />

costumamos avaliar nosso des<strong>em</strong>penho positivamente de maneira exagerada. Já<br />

passei por isso e já ouvi muitos dizer<strong>em</strong>: “estudei muito, estou pronto para passar!”<br />

Depois, ao conferir o resultado, decepção grande!<br />

Sigo um pensamento que diz: “seja pessimista na avaliação e otimista na ação”.<br />

Noutras palavras, eu diria: estude mais do que você acha necessário, s<strong>em</strong>pre<br />

considere que você foi pior do que realmente foi.<br />

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Posso listar outros erros comuns, alguns já aqui analisa<strong>dos</strong>: uso de material indevido,<br />

estudo de conteúdo que não cai ou itens que são cobra<strong>dos</strong> e não estudei, esquecer do<br />

horário de verão e chegar atrasado, não conferir o endereço da prova, estar cansado<br />

na hora da prova, comer muito ou pouco no grande dia etc.<br />

Leia o edital, isso é importante! Já fui fazer uma prova <strong>em</strong> que era possível a consulta<br />

à legislação e não a levei. Noutra, o cartão de respostas deveria ser preenchido com<br />

caneta preta e eu só tinha azul...<br />

Enfim, importante “conhecer seu inimigo...”. Preste atenção aos detalhes do edital,<br />

para não ser surpreendido depois.<br />

Mas, além do estudo, <strong>dos</strong> livros, da prova, do edital, há outros itens que erramos e<br />

sequer nos damos conta. Refiro- me a aspectos paralelos, acessórios, secundários.<br />

S<strong>em</strong>pre chamo a atenção a outros pontos que costumamos desprezar. Muito<br />

importante ter um bom ambiente de estu<strong>dos</strong>: mesa, cadeira, iluminação, t<strong>em</strong>peratura,<br />

som ambiente. O conforto para ler é tão importante quanto a qualidade do livro. Ler<br />

um bom livro <strong>em</strong> condições inadequadas dificulta o aprendizado. Organize seu local de<br />

estu<strong>dos</strong> e mantenha-o <strong>em</strong> ord<strong>em</strong>, isso ajudará na absorção da matéria e no menor<br />

desgaste físico e mental durante os estu<strong>dos</strong>.<br />

Limite o uso da internet, da TV, do telefone. Converse com os familiares para que você<br />

tenha tranqüilidade para estudar, s<strong>em</strong> precisar atender à campainha ou ao telefone.<br />

Nesse ponto confesso meu maior “atrapalhador” de estu<strong>dos</strong>: internet. Tanto não<br />

conseguia me manter afastado dela que tomei uma atitude radical: o primeiro ano, <strong>em</strong><br />

casa, só estudando, foi s<strong>em</strong> internet. Usava no curso que eu frequentava, para aonde<br />

ia uma hora mais cedo. Era o t<strong>em</strong>po que eu tinha para resolver minhas coisas na net.<br />

Depois disso, só no dia seguinte. Deu certo, meus est u<strong>dos</strong> deslancharam e eu não<br />

perdia momentos valiosos com a internet.<br />

Portanto, avalie quais são as pedras no seu sapato e tente eliminá-las ou minimizar a<br />

interferência, você perceberá a melhora no seu des<strong>em</strong>penho.<br />

Vicente Paulo: Recent<strong>em</strong>ente, você publicou um pequeno livro no qual é<br />

contada a sua trajetória de sucesso (Concurso Público, eu passei! M<strong>em</strong>órias e<br />

dicas de um concursando que não desistiu. Editora Método.). O que lhe<br />

estimulou a isso?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Vários foram os motivos, mas posso dizer que, dentre os<br />

principais, foi o de divulgar a minha história, de modo a estimular as pessoas a<br />

perseguir<strong>em</strong> seus sonhos. A persistência costuma andar próxima ao sucesso mas,<br />

infelizmente, é uma característica de poucos. Como já citei antes, somos muito<br />

“imediatistas”, quer<strong>em</strong>os tudo para já. Não suportamos o caminho, desejamos o<br />

resultado final pulando a parte “chata”. E isso t<strong>em</strong> um efeito devastador para muitos,<br />

que acabam desistindo muito rápido.<br />

Quis mostrar que conseguimos chegar onde quer<strong>em</strong>os, se tivermos dedicação e<br />

paciência para seguir pelo caminho que, <strong>em</strong>bora longo, é necessário e, ao final,<br />

recompensador.<br />

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Venho de uma família s<strong>em</strong> qualquer histórico com concursos e, por méritos próprios,<br />

s<strong>em</strong> ajuda do sobrenome ou de algum padrinho poderoso, alcancei um <strong>dos</strong> cargos<br />

mais deseja<strong>dos</strong> da República.<br />

E isso se deve tão somente às minhas condutas, aos meus sacrifícios, às minhas<br />

escolhas. Claro que a ajuda da família, <strong>dos</strong> amigos, <strong>dos</strong> professores, s<strong>em</strong>pre foi muito<br />

importante, mas quero dizer que cheguei aonde cheguei de forma absolutamente<br />

honesta, lícita e ética. E desejei mostrar isso para outras pessoas que estão na mesma<br />

situação que eu, que não pens<strong>em</strong> que o sucesso depende da posição ocupada por um<br />

parente ou padrinho, mas sim do seu próprio esforço.<br />

Além disso, s<strong>em</strong>pre fui muito questionado por alunos, amigos, leitores e até<br />

desconheci<strong>dos</strong> sobre minha história, meus méto<strong>dos</strong>, minhas sugestões de estudo,<br />

bibliografia etc. Portanto, escrever esse livro foi como um fechamento da minha vida<br />

de concursando, encerrada co m a aprovação para <strong>juiz</strong> <strong>federal</strong>, “pagando” uma dívida<br />

que tinha (e tenho) com o mundo “concursal”, dando uma retribuição de tudo quanto<br />

dele recebi.<br />

A partir dessa aprovação, deixei definitivamente minha condição de candidato,<br />

mantendo- me nessa seara como professor, autor, palestrante, não mais como<br />

concursando.<br />

Aos que ainda estão na batalha, recomendo a leitura desse livro. Ele é pequeno, de<br />

leitura fácil e rápida, direto ao ponto. Pode ser um bom instrumento de motivação nas<br />

horas de desânimo!<br />

Vicente Paulo: Se você tivesse que dizer, <strong>em</strong> uma só palavra, o que considera<br />

fundamental para uma aprovação <strong>em</strong> concurso, que palavra seria essa? E se<br />

foss<strong>em</strong> duas palavras? E se foss<strong>em</strong> três palavras? E se lhe fosse permitida<br />

uma frase?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Vontade. Vontade e dedicação. Vontade, dedicação e<br />

perseverança.<br />

Meu pensamento preferido, s<strong>em</strong>pre repetido <strong>em</strong> sala de aula: “Difícil é para todo<br />

mundo. Muitos desist<strong>em</strong> pelo caminho. Os que não desist<strong>em</strong>, passam.”<br />

Vicente Paulo: Qual a sua orientação para os candidatos da área não jurídica<br />

que estão começando a estudar agora?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Para qu<strong>em</strong> nunca estudou para concursos é importante dizer que<br />

esse é um mundo completamente diferente.<br />

Parece que a vida passa <strong>em</strong> outro rit mo. Será outro ambiente, outros amigos, outras<br />

conversas, outras perspectivas.<br />

Normalmente, qu<strong>em</strong> não faz parte desse mundo não consegue entender b<strong>em</strong> o que<br />

acontece com a gente. Olham de fora e ve<strong>em</strong> pessoas que só estudam, só falam <strong>em</strong><br />

concursos, se estressam com um tal de “edital” ou com a espera por um gabarito ou<br />

resposta a um recurso. Esse é o nosso mundo incompreendido pelos “alienígenas”.<br />

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Então, se você já está nesse mundo, ótimo, você sabe do que eu estou falando. Se não<br />

está, lhe digo: sim, é um mundo diferente de tudo o que você já viveu até agora, de<br />

certo isolamento do mundo “normal”, mas que, ao final, seguindo as dicas da nossa<br />

cartilha, te dá de presente um cargo público, com um bom salário, estabilidade e<br />

tranqüilidade financeira para o resto da vida! Agregue-se a isso a possibilidade real de<br />

poder servir, servir ao público, fazer a diferença <strong>em</strong> sociedade.<br />

Comece se inteirando do que se trata. Minha sugestão de s<strong>em</strong>pre: faça um cursinho.<br />

Lá to<strong>dos</strong> os d<strong>em</strong>ais estão no mesmo barco que você. Ali o clima é de concurso, você<br />

conhecerá esse mundo, aprenderá sobre as bancas, as provas, os cargos, os livros, os<br />

professores. Aos poucos, você vai se acostumando com isso e podendo fazer suas<br />

próprias escolhas.<br />

E, uma vez “enturmado”, perceberá todas as nuances da preparação para um certame,<br />

e encontrará apoio <strong>dos</strong> d<strong>em</strong>ais para seguir a trilha até seu objetivo final. Curioso que,<br />

no mais das vezes, os candidatos se ajudam mutuamente. Pouco vi, nesses anos,<br />

sentimentos de competição, egoísmo ou boicote. Você s<strong>em</strong>pre encontrará, tanto nos<br />

colegas de turma, quanto nos professores, ajuda para as suas dificuldades.<br />

De outro lado, daqueles que não conhec<strong>em</strong> “nosso mundo”, normalmente só ouvimos<br />

críticas e gozações.<br />

Mas, se sua decisão for por ser servidor público, uma dica importante: afaste-se <strong>dos</strong><br />

maus humora<strong>dos</strong>, <strong>dos</strong> pessimistas, <strong>dos</strong> invejosos. Você vai ouvir muitos discursos que<br />

não te ajudarão a prosseguir no caminho, <strong>em</strong> especial das pessoas próximas que não<br />

entend<strong>em</strong> nossa escolha, nossa ansiedade e nossa angústia.<br />

Em casa, no lugar de se afastar, prefira uma boa conversa, e explique o que é o<br />

mundo “concursal” e suas agruras. O apoio da família faz toda diferença.<br />

Portanto, se você é novato nesse mundo, procure informação, e se aproximar de<br />

pessoas que já estejam nele, isso facilitará muito suas escolhas.<br />

Vicente Paulo: E para os candidatos que são gradua<strong>dos</strong> <strong>em</strong> Direito, mas<br />

acham que a aprovação <strong>em</strong> um concurso de Juiz é algo praticamente<br />

impossível, coisa para gênio?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Não é coisa para gênio, é coisa para dedica<strong>dos</strong> e persistentes.<br />

Atendi<strong>dos</strong> os critérios objetivos (formado <strong>em</strong> Direito, três anos de prática jurídica etc),<br />

qualquer um pode alcançar sua aprovação.<br />

Como já antes referido, no início, o principal ponto a ser observado é o t<strong>em</strong>po: o<br />

candidato precisará de muito t<strong>em</strong>po para lograr o sucesso nas provas. Estando ciente e<br />

consciente disso, o próximo passo é estudar. E depois, estudar. E depois, estudar. E<br />

depois, estudar. E depois, com<strong>em</strong>orar a aprovação.<br />

E, no caso específico da magistratura ou do Ministério Público, como são várias fases,<br />

perceba que o estudo contém variantes importantes, cada fase t<strong>em</strong> suas<br />

características próprias. Avançando de uma <strong>em</strong> uma, vai alterando a forma de estudar,<br />

até conseguir chegar na prova oral e passar!<br />

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Não t<strong>em</strong> segredo. Se você conseguir manter-se motivado não se deixar abater com a<br />

passag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po, uma hora a aprovação chega. Aposte nisso e depois me conte!<br />

Vicente Paulo: E para aqueles que já estão na árdua caminhada há algum<br />

t<strong>em</strong>po e ainda não conseguiram a tão sonhada aprovação? Ou, mesmo, que já<br />

estão pensando <strong>em</strong> desistir, <strong>em</strong> razão daquele tal pensamento “eu não vou<br />

passar nunca”?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Quantas vezes eu pensei <strong>em</strong> desistir, quantas vezes pensei que<br />

nunca passaria! Foram várias. Em todas elas eu parava, l<strong>em</strong>brava <strong>dos</strong> motivos que me<br />

levaram a estar ali, de licença s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração, estudando de oito a doze horas to<strong>dos</strong><br />

os dias da s<strong>em</strong>ana, renovava minhas energias e seguia estudando.<br />

Digo o seguinte: avalie, com honestidade, o que você v<strong>em</strong> fazendo. Veja se, de fato,<br />

está estudando ou está se enganando. Se t<strong>em</strong> feito sua parte. Verifique como está<br />

sendo teu des<strong>em</strong>penho. O mais relevante, a meu ver, não é necessariamente ir b<strong>em</strong> já<br />

nas primeiras provas. Mais que isso, o que realmente importa é sua evolução. Anote<br />

como você t<strong>em</strong> se saído a cada novo certame e, se não está melhorando a cada prova,<br />

na média, precisa rever onde está errando. E corrigir o erro.<br />

Desistir é o caminho mais rápido e fácil. S<strong>em</strong>pre cito que é mais fácil ficar na piscina,<br />

na praia ou vendo novela que estudando. Mas é estudando que se alca nça a<br />

tranqüilidade tão desejada.<br />

Mas, enfim, desistir do concurso não é o fim do mundo. A iniciativa privada está aí,<br />

cheia de ótimas oportunidades e desafios. Se não “se achou” no mundo público,<br />

assuma isso, não perca mais t<strong>em</strong>po, e invista na sua carreira privada. T<strong>em</strong> suas<br />

vantagens e desvantagens, como tudo na vida. Você não terá estabilidade no<br />

<strong>em</strong>prego, mas também não terá teto r<strong>em</strong>uneratório. Eventualmente, você poderá<br />

ganhar um salário de c<strong>em</strong> mil reais por mês, patamar jamais alcançado, de forma<br />

lícita, no serviço público.<br />

Faça sua opção, consciente, levando <strong>em</strong> conta seu perfil, e não o que é mais fácil hoje.<br />

Pense onde pretende estar daqui uns anos, e o que precisa para tanto. Isso vai lhe<br />

ajudar a b<strong>em</strong> decidir. E seja feliz!<br />

Vicente Paulo: Você disse que se aposentou da sua vida de “concursando”.<br />

Com a assunção do cargo de Juiz Federal, você pretende continuar a atuar no<br />

segmento de concursos? Enfim, você ainda t<strong>em</strong> projetos no tal mundo <strong>dos</strong><br />

concursos, ou já guardou a chuteira de vez?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: De fato, encerrei minha vida de concursando, pois cheguei onde<br />

eu queria. Foi um caminho árduo. Imagine que desejei ser <strong>juiz</strong> muito t<strong>em</strong>po antes de<br />

iniciar a faculdade de Direito! O meu caminho, então, era ainda mais longo que o<br />

normal. Eu ainda tinha que entrar na segunda faculdade, cursar seus cinco anos,<br />

cumprir os três anos de prática jurídica, e, simples, passar <strong>em</strong> uma das provas mais<br />

difíceis no ramo <strong>dos</strong> concursos.<br />

Mas, apesar de várias recaídas, não desisti pois estava convicto <strong>dos</strong> meus sonhos.<br />

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E é por isso que permaneço nesse mundo. O que mais me agrada e satisfaz é poder<br />

participar, ainda que de forma indireta e minimamente, do sucesso <strong>dos</strong> meus alunos e<br />

leitores. Fico imensamente feliz cada vez que recebo <strong>em</strong>ail de alguém que passou <strong>em</strong><br />

um concurso e me escreve para contar! No fundo, o sucesso <strong>dos</strong> alunos é minha<br />

felicidade.<br />

Assim, continuarei dando aulas, proferindo palestras, escrevendo livros, respondendo a<br />

to<strong>dos</strong> os <strong>em</strong>ails. Quero continuar retribuindo para a sociedade tudo de bom que dela<br />

recebi, incluindo aí, meu amigo Vicente Paulo, a ajuda que você e o Marcelo<br />

Alexandrino, de forma incógnita, me deram, quando divulgaram, naquela época, aulas<br />

gratuitas na internet, que muito me ajudaram nos estu<strong>dos</strong>.<br />

Agora é minha vez de retribuir, ou continuar retribuindo. Pod<strong>em</strong> contar com isso.<br />

Vicente Paulo: Qual seria sua mensag<strong>em</strong> para qu<strong>em</strong> já foi aprovado?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Se você que está lendo esta <strong>entrevista</strong> é um feliz servidor público,<br />

nomeado e já <strong>em</strong> exercício, nunca se esqueça <strong>dos</strong> seus valores pessoais, e de todo o<br />

tortuoso caminho percorrido até seu momento atual. L<strong>em</strong>bre-se de que você escolheu<br />

o caminho do serviço público e, exatamente por isso, sua principal atribuição, qualquer<br />

que seja o seu cargo, é servir ao público. O cidadão que precisa de seu serv iço não é<br />

um probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> sua vida, um incômodo. Ele é o destinatário final de todo o seu<br />

trabalho, ele é a razão de ser do seu cargo. Afinal, se não foss<strong>em</strong> as necessidades<br />

dele, seu cargo não existiria e você não teria essa atividade.<br />

Mantenha uma conduta ética, proba, irretocável. A sua r<strong>em</strong>uneração é suficiente para<br />

suas necessidades, por isso você optou por assumir esse cargo. Se não for, há três<br />

opções lícitas: i) peça exoneração e busque outro trabalho que o r<strong>em</strong>unere melhor; ii)<br />

continue estudando <strong>em</strong> busca de uma posição mais confortável financeiramente; iii)<br />

acumule sua função pública com outra que seja licitamente autorizada.<br />

Só não siga parte <strong>dos</strong> servidores que se dedicam a reclamar do trabalho e do valor que<br />

receb<strong>em</strong>, mas nada faz<strong>em</strong> para melhorar sua situação pessoal. Esse time (e sim, eles<br />

exist<strong>em</strong>, aos montes) é de perdedores que vão reclamar s<strong>em</strong>pre, qualquer que seja o<br />

valor depositado <strong>em</strong> suas contas. Afaste-se deles.<br />

Enfim, você tanto estudou para ser aprovado e para ser feliz. Em verdade, é isso o que<br />

importa.<br />

Seja feliz no cargo que você escolheu e, se não for possível, continue na busca da<br />

felicidade, estudando e fazendo outras provas, se esse for o caso.<br />

Vicente Paulo: Qual seria sua mensag<strong>em</strong> final para qu<strong>em</strong> está lendo sua<br />

<strong>entrevista</strong>?<br />

<strong>Leandro</strong> <strong>Cadenas</strong>: Quero dizer, de forma genérica, independente do t<strong>em</strong>a concursos<br />

públicos, que somos movi<strong>dos</strong> a sonhos. S<strong>em</strong> eles, a vida fica monótona, s<strong>em</strong> graça,<br />

s<strong>em</strong> sentido.<br />

Se é assim, então dev<strong>em</strong>os dar atenção especial a eles. E persegui-los deve ser tão<br />

interessante quanto atingi-los. Desistir no meio do caminho, algumas vezes, pode ser<br />

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necessário e não deve ser visto como um fracasso. Mas, <strong>em</strong> geral, não desanime.<br />

Corra (ou ande, ou engatinhe) <strong>em</strong> direção a eles.<br />

Que estas linhas lhes inspir<strong>em</strong> a não desistir <strong>dos</strong> seus sonhos!<br />

Sucesso!<br />

<strong>Leandro</strong>@cadenas.com.br<br />

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