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Formas de Dialogismo no Discurso Poético - Unemat

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Márgara) sobre a "mulher-homem". No <strong>no</strong>me escolhido há também outro diálogo - o do<br />

poeta com um poema seu, Amar- amaro, publicado em Lição <strong>de</strong> coisas 7 .<br />

O olhar do autor dá acabamento a seu herói, consegue vê-lo por inteiro, em toda<br />

sua diversida<strong>de</strong> e riqueza. O exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> visão possibilita dar forma, dar sentido à<br />

existência <strong>de</strong> Márgara. Não há na cida<strong>de</strong>/dia um olhar acolhedor, mas sim recusas; ninguém,<br />

exceto o poeta, se i<strong>de</strong>ntifica com ela. A recusa do outro leva este à <strong>no</strong>ite, longe <strong>de</strong> olhares<br />

que o con<strong>de</strong>nam, olhares que produzem a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>:<br />

Depredação e recusa na relação com a alterida<strong>de</strong> produziram <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, e muitas dos<br />

que <strong>de</strong><strong>no</strong>minamos 'diferenças sociais' são produções <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, já que<br />

diferenças apenas po<strong>de</strong>m emergir entre semelhantes ou entre iguais. (...) Diferença não é<br />

sinônimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Com diferenças muitas vezes escon<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

Diferenças só são percebidas nas familiarida<strong>de</strong>s compartilhadas; <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s são<br />

recusas <strong>de</strong> partilhas (Geraldi, inéd.).<br />

A i<strong>de</strong>ntificação com o outro é, para Bakhtin, o primeiro momento da ativida<strong>de</strong><br />

estética. No poema, o meni<strong>no</strong> i<strong>de</strong>ntifica-se com a esquiva mulher 8 , coloca-se <strong>no</strong> lugar <strong>de</strong>la,<br />

vê “o mundo através <strong>de</strong> seu sistema <strong>de</strong> valores” (1992, p.45). Depois, retorna a seu lugar e<br />

<strong>de</strong>le a contempla com o seu exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> visão que permite ver nela o que os outros não<br />

conseguem (“olho bem para ela”), que permite dar a ela o acabamento. Essa<br />

aproximação/encontro, esse “acontecimento” mostra a incompletu<strong>de</strong> e “constitui o Outro<br />

como o único lugar possível <strong>de</strong> uma completu<strong>de</strong> sempre impossível” (Geraldi). Assim como<br />

o meni<strong>no</strong> tem uma experiência inacessível a Márgara, já que com seu olhar acolhedor a vê<br />

como um todo, esta também o aceita, dá a ele um acabamento provisório, o vê com outros<br />

olhos- ele é o “meni<strong>no</strong>-homem”:<br />

“A (o) esquiva Márgara sorri<br />

e <strong>de</strong> mãos dadas vamos<br />

meni<strong>no</strong>-homem, mulher-homem,<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>ite pelas ruas passeando<br />

o <strong>de</strong>sgosto do mundo malformado”<br />

7 "Boitempo não é, por outro lado, um diálogo mantido com a memória do vivido: é também uma evocação permanente da obra anterior do<br />

poeta. Drummond se lembra <strong>de</strong> seus versos, quanto <strong>de</strong> sua vida"(Merquior, p.226).<br />

8 “Nos poemas <strong>de</strong> Boitempo assistimos à gênese do gauche” (Merquior).

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