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COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS Exercícios de sala de ... - Unemat

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Introdução<br />

<strong>COESÃO</strong> E <strong>COERÊNCIA</strong> <strong>TEXTUAIS</strong><br />

<strong>Exercícios</strong> <strong>de</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> aula<br />

A coerência é vista, pois, como um princípio <strong>de</strong><br />

interpretabilida<strong>de</strong> do texto, num processo<br />

cooperativo entre produtor e receptor (Koch e<br />

Travaglia,1993: 102)<br />

Mas não escrevemos apenas poeticamente. Na<br />

escrita cotidiana <strong>de</strong> nossos textos não-poéticos,<br />

também somos <strong>de</strong>safiados a “lutar com palavras”.<br />

Aí, diferentemente do que acontece com os<br />

poetas, precisamos garantir que a luta não seja “a<br />

luta mais vã” (Antunes, 2005: 193).<br />

Marlon Leal RODRIGUES (UEMS/UNA)<br />

Paulo Cesar TAFARELLO (UNEMAT/AIA)<br />

Antes <strong>de</strong> abordarmos o presente tema, “Coesão e Coerência Textuais,<br />

exercício”, seria interessante situá-lo no campo mais amplo, o da Lingüística enquanto<br />

Ciência. Se tomarmos como referência, ainda que muito breve, a gramática do sânscrito,<br />

<strong>de</strong> Panini (Leroy, 1982, 17) até o advento da Lingüística Contemporânea fundada pro<br />

Saussure (1995: 271) quando lhe “dá” um objeto: “a lingüística tem um único e<br />

verda<strong>de</strong>iro objeto a língua em si mesma e por si mesma”, talvez possamos compreen<strong>de</strong>r<br />

a questão da coerência e coesão como uma superação e ruptura das categorias<br />

gramaticais, ou tido <strong>de</strong> outra forma, as diferença entre análise gramatical e análise<br />

lingüística. A referência à gramática diz respeito à Normativa. A oposição entre análise<br />

gramatical e análise lingüística aqui é apenas uma forma <strong>de</strong> separar o “trigo do joio”,<br />

uma vez que a gramática como a conhecemos hoje é constituída no lastro da tradição<br />

dos clássicos literários enquanto a análise lingüística se constitui a partir <strong>de</strong> um<br />

arcabouço teórico.<br />

1. De Panini a Saussure<br />

De forma geral, os estudos lingüísticos tiveram início com a <strong>de</strong>scrição do<br />

sânscrito (Leroy, 1982), apesar do interesse dos hindus serem religiosos, eles abordaram<br />

a língua em seus aspectos fonéticos/fonológicos, sintáticos e morfológicos com certa


precisão para os recursos da época. Os gramáticos, Panini (IV a.C.) foi o mais célebre,<br />

“<strong>de</strong>dicaram-se ao estudo do valor e emprego das palavras e fizeram <strong>de</strong> sua língua, com<br />

precisão e minúcia admiráveis, <strong>de</strong>scrições fonéticas e gramaticais que são mo<strong>de</strong>lares no<br />

gênero” (i<strong>de</strong>m, 18).<br />

Os gregos já com outros propósitos e pautado em seu egocentrismo, uma vez<br />

que o mito não mais explicava o mundo, eles direcionaram sua atenção e reflexão para<br />

os fenômenos da natura com a propósito <strong>de</strong> abstrair leis, regras, fórmulas, tratados etc.<br />

Tudo que po<strong>de</strong>ria contribuir para a compreensão do mundo e seus fenômenos uma vez<br />

que os mitos não lhe eram suficientes para explicar e aplacar a existência humana. O<br />

advento da filosofia marca o fim do mito.<br />

Os gregos se e um lado foram amantes da História, do outro trataram com<br />

indiferença ao não fazer nenhum registro e nem informações sobre os falares e línguas<br />

<strong>de</strong> povos e populares que estabeleceram contato, <strong>de</strong> acordo com Leroy (1982: 18), “não<br />

achou necessário fornecer a mínima observação acerca da língua <strong>de</strong> seus habitantes”<br />

mesmo tendo que apren<strong>de</strong>r línguas estrangeiras.<br />

Um dos focos dos <strong>de</strong>bates girou em torno da arbitrarieda<strong>de</strong> do signo<br />

lingüístico, ou seja,<br />

“o problema que se colocava para os filósofos preocupados com elaboração <strong>de</strong> uma<br />

teoria do conhecimento consistia em <strong>de</strong>finiras relações entre a noção e a palavra<br />

que a <strong>de</strong>signa: a gran<strong>de</strong> questão <strong>de</strong>batida entre os sofistas e os filósofos antigos – e<br />

que manterá atual até a escolástica medieval – é saber se a linguagem fora criada<br />

pela natureza ou por via <strong>de</strong> uma convenção (...), em outros termos,haverá uma<br />

relação necessária entre as palavras e suas significações, entre o significado e o<br />

significante?” (Leroy, 1982: 19).<br />

De forma geral, a questão era saber se havia alguma relação entre o objeto e<br />

nome do objeto. Platão abordou em vários momentos <strong>de</strong> sua filosofia essa questão, em<br />

particular no diálogo com Crátilo. Saussure, século XIX, retoma esta questão e afirma<br />

que o signo é arbitrário.<br />

Enquanto os platônicos estavam preocupados com os efeitos da palavra ou<br />

discurso e sua exatidão, eles queriam saber qual o tipo <strong>de</strong> relação que havia entre as<br />

palavras e as verda<strong>de</strong>s que estas provavelmente po<strong>de</strong>riam conter, ou seja, a palavra<br />

<strong>de</strong>veria conter ou transmitir a proposição verda<strong>de</strong>ira.<br />

Os sofistas, por seu turno, se estavam preocupados com os modos <strong>de</strong> uso da<br />

palavra in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mente <strong>de</strong>la conter uma verda<strong>de</strong> ou uma falsida<strong>de</strong>, ou ainda mais<br />

propriamente, eles estavam preocupados com as estratégias <strong>de</strong> argumentação. É possível


consi<strong>de</strong>rar que a questão da coerência e da coesão era um tópico, <strong>de</strong> certa forma latente.<br />

Outro aspecto interessante dos sofistas é que eles <strong>de</strong>rem, <strong>de</strong> certa forma, início a<br />

educação popular, pois ensinavam nos portais das cida<strong>de</strong>s para todos e cobravam pelas<br />

suas lições <strong>de</strong> “retórica e argumentação”. Não é sem propósito que eles foram<br />

perseguidos e até recentemente consi<strong>de</strong>rados filósofos menores.<br />

Aristóteles, em suas reflexões, i<strong>de</strong>ntifica as partes dos discursos em seu livro,<br />

Arte Retórica e Arte Poética, aborda também o uso e as estratégias da arte <strong>de</strong> falar<br />

visando à palavra, a moral e o discurso verda<strong>de</strong>iros. Aristóteles entre outros aspectos<br />

<strong>de</strong>sloca as questões Platônicas e sofísticas, pois, nela contém o cerne da constituição da<br />

gramática. Outro mérito é “o <strong>de</strong> sido o primeiro a tentar proce<strong>de</strong>r a uma análise precisa<br />

da estrutura lingüística” (Leroy, 1982: 20).<br />

No rastro da história, os Alexandrinos, com <strong>de</strong>staque para Dionísio da Trácia<br />

(séculos II e I a.C.) se empenharam nos pormenores gramaticais agrupando em<br />

doutrinas. A questão era saber se o sistema gramatical se constitui por analogia ou por<br />

anomalias, doutrinas que ren<strong>de</strong>ram disputas infindáveis.<br />

De uma forma ou <strong>de</strong> outra, a partir a partir <strong>de</strong>stas reflexões no correr do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das investigações sobre a língua e linguagem, em cada período outros<br />

estudiosos, inclusive os Latinos, gramáticos como Apolônio e Varrão, que se <strong>de</strong>dicou a<br />

<strong>de</strong>finir a gramática como ciência e arte, e bom seguidores dos gregos não fizeram mais<br />

do que propagar os i<strong>de</strong>ários gregos, no entanto, os Latinos perceberam “o valor da<br />

oposição <strong>de</strong> aspectos no sistema do verbo” (i<strong>de</strong>m, 21).<br />

Já na Ida<strong>de</strong> Média, o advento do cristianismo po<strong>de</strong>ria ter promovido um certo<br />

alargamento no campo da linguagem, consi<strong>de</strong>rando a tradução da Bíblia em gótico,<br />

armênio, eslavo, no entanto, a língua <strong>de</strong> outros povos eram vistas como “instrumentos<br />

<strong>de</strong> propagandas” religiosas. As propostas <strong>de</strong> Dionísio da Trácia passaram a Ida<strong>de</strong> Média<br />

intactas enquanto a Escolástica se <strong>de</strong>dica ao rediscutir os ramos da gramática: trivium,<br />

retórica e lógica o que subjaz a discussão entre a exatidão das palavras, os realistas (“as<br />

palavras são reflexos das idéias”) <strong>de</strong> uma lado e os nominalista (“os nomes foram dados<br />

arbitrariamente”)<strong>de</strong> outro. É importante <strong>de</strong>stacar que nesse período houve um interesse<br />

pelo conceito <strong>de</strong> dialetos, <strong>de</strong> língua, <strong>de</strong> literatura, po<strong>de</strong>-se citar “Questione <strong>de</strong>lla língua”<br />

e “De vulgari eloquentia” (1301).<br />

A Renascença foi um período <strong>de</strong> intensa ebulição intelectual que ocasionou<br />

um ambiente propício aos estudos lingüísticos entre outros. A chegada dos sábios<br />

bizantinos, expulsos <strong>de</strong> Constantinopla, os <strong>de</strong>bates teológicos, estudo mais aprimorado


do grego, o recurso ao hebraico e as línguas semíticas com estruturas diferentes que<br />

resultaram na comparação estrutural. Outro aspecto foram as traduções dos livros<br />

sagrados para os numerosos dialetos. As observações e os documentos <strong>de</strong> viajantes,<br />

diplomatas se constituem em um número arquivo para os estudiosos e curiosos dos<br />

estudos lingüísticos que propicia um ambiente <strong>de</strong> classificação. Nesse movimento, as<br />

questões metodológicas se colocam em vários sentidos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a simples especulação até<br />

a classificação geográfica. Essa produção gerou inúmeras coleções.<br />

Nessa ebulição, para citar alguns exemplos, surgiu em 1502 o dicionário<br />

poliglota do italiano Ambrosio Calepino, em 1538 Guillaume Postel publicou o<br />

Linguarum duo<strong>de</strong>cim characteribus differentium alphabetum, em 1555 apareceu em<br />

Zurique uma compilação intitulada Mitbridates <strong>de</strong> Conrad Gesner, em 1592, Jerônimo<br />

Megiser lança Thesaurus Polyglottus. Assim, as publicações mais diversas vão se<br />

multiplicando <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> certa forma uma registro <strong>de</strong> dialetos e línguas e tentativas<br />

metodológicas <strong>de</strong> classificação, algumas com certo rigor da época, outras apenas<br />

especulações. No entanto, as reflexões iam se <strong>de</strong>senvolvendo com estudiosos <strong>de</strong> boa<br />

vonta<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ixavam levar por elaborações simplistas sobre as línguas, os dialetos,<br />

as traduções e principalmente as interpretações dos livros sagrados.<br />

No século XVIII, Leibniz po<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rado um pesquisador original,<br />

reconheceu a arbitrarieda<strong>de</strong> do signo como fizera Platão, combateu a hipótese <strong>de</strong> origem<br />

hebraica para as línguas contemporâneas, no entanto cometeu equívocos ao construiu<br />

um sistema genealógico. Em 1725, outro pesquisador original foi Giambattista vico cujo<br />

voz não ecoou, sua obra Scienza nuova eterna que contava uma história cíclica do<br />

gênero humano. A respeito das línguas o autor comenta que<br />

“a língua da época primitiva foi muda, sendo que os homens se comunicavam entre<br />

si por meio <strong>de</strong> sinais; mas a primeira linguagem articulada foi simbólica, vale dizer,<br />

poética, e os homens se exprimiram naturalmente em verso; enfim, o terceiro<br />

estágio <strong>de</strong> língua humana composta <strong>de</strong> vocábulos, cujo sentido os povos po<strong>de</strong>m<br />

fixar à sua vonta<strong>de</strong>” (Leroy, 1982: 26).<br />

As reflexões sobre a linguagem humana são marcadas por tentativas como um<br />

prolongamento dos antigos. Ao longo da historia, foram <strong>de</strong>scobrindo outras categorias<br />

gramaticais como os casos nominativo, acusativo, o genitivo; o grau, o número, o<br />

adjetivo, os superlativo, as conjunções etc. Arnauld e Lancelot (século XVII) fazem<br />

uma gran<strong>de</strong> síntese, imbuídos do espírito filosófico, das categorias gramaticais. O<br />

mo<strong>de</strong>lo dos autores <strong>de</strong> Port-Royal ainda hoje é o seguido nas gramáticas normativas, no


que diz respeito à estrutura, organização, a concepção <strong>de</strong> conceitos, concepção <strong>de</strong> língua<br />

etc.<br />

No entanto, o prestígio <strong>de</strong> Aristóteles continua vigoroso, nesse sentido é<br />

possível <strong>de</strong>stacar a prodigiosa obra <strong>de</strong> Arnauld e Lancelot com a Grammaire generale<br />

et raisonnée <strong>de</strong> Port-Royal (primeira edição 1660) que servirá nos dos séculos seguinte<br />

<strong>de</strong> referência obrigatória ao pensamento e raciocínio lógico. É importante ressaltar que<br />

o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gramática normativa ainda utilizada contemporaneamente tem a gramática<br />

<strong>de</strong> Arnauld e Lancelott com referência.<br />

Enfim, o homem no Renascimento um pouco mais livre dos domínios do<br />

pensamento religioso, a aventura-se nas especulações <strong>de</strong> todo or<strong>de</strong>m, momento<br />

frutífero, pois, muitas <strong>de</strong>ssas especulações se constituem <strong>de</strong> um terreno para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas consistente nos séculos seguintes, seja para criticar, seja<br />

para continuar ou para redimensionar em alguns aspectos as reflexões, ou ainda para se<br />

valer da gran<strong>de</strong> massa documental produzida.<br />

Já com o advento da lingüística contemporânea com ciência (com objeto e<br />

método <strong>de</strong>finidos) que se opõe a gramática normativa com tradição, século XX, as<br />

categorias gramaticais e os conceitos <strong>de</strong> cunho filosófico vão ser <strong>de</strong>slocados para uma<br />

outra perspectiva.<br />

A língua passa a ser concebido como um sistema em que os elementos, os<br />

signos, são um valor, puros, opositivos, abstratos e relacionais (Saussure, 1995: 132-<br />

133). Assim, os estudos lingüísticos contemporâneos tomaram a menor unida<strong>de</strong> da fala<br />

provida <strong>de</strong> significação, o fonema, até ao texto. É na passagem dos estudos da palavra<br />

para o texto que surge a Lingüística Textual para procurar compreen<strong>de</strong>r não mais o<br />

sentido das palavras, mas como se dava e construção e unida<strong>de</strong> do texto.<br />

Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar, ainda que <strong>de</strong> forma muito precária e sem muita reflexão<br />

que a Lingüística Textual vai observar e re<strong>de</strong>finir as categorias gramaticais, como<br />

conjunção, preposição, pronomes etc. mas como unida<strong>de</strong>s lingüísticas e não categorias<br />

gramaticais.<br />

Para concluir, é importante consi<strong>de</strong>rar que os estudos textuais, <strong>de</strong> uma certa<br />

forma ou <strong>de</strong> outra, antes da Lingüística, eram concebidos como formas <strong>de</strong> organização e<br />

or<strong>de</strong>nação textuais em torno do uso da preposição e conjunções, enca<strong>de</strong>amento das<br />

proposições, em torno do tema dos textos, e por fim, das estratégias <strong>de</strong> argumentação e<br />

persuasão, o que requeria um certo uso específico das preposições e conjunções<br />

(conectivos) e domínio específico <strong>de</strong> oratória no manuseio da palavra na construção do


texto.<br />

Para concluir este tópico <strong>de</strong>masiado longo, o propósito foi para <strong>de</strong>monstrar<br />

uma trajetória geral do <strong>de</strong>senvolvimento dos estudos lingüísticos.<br />

2. Lingüística Textual: uma breve introdução<br />

Foi na Europa, década <strong>de</strong> sessenta, mas precisamente na Alemanha, que os<br />

estudos lingüísticos partiram do texto e não mais da palavra ou da frase para construir<br />

um objeto <strong>de</strong> estudo particular como manifestação da linguagem humana. É possível<br />

citar alguns <strong>de</strong> seus precursores, tais como Coseriu (1955), Weinrich (1966, 1967).<br />

É importante consi<strong>de</strong>rar que <strong>de</strong> acordo com a concepção <strong>de</strong> texto no âmbito da<br />

Lingüística, ele assumiu <strong>de</strong>nominações diferenciadas a partir <strong>de</strong> seus autores. Assim,<br />

análise transfrásica, gramática do texto, textologia (Harweg), teoria do texto<br />

(Schimidt), translingüística (Barthes), Hipersintaxe (Pelk) entre outras <strong>de</strong>nominações.<br />

Uma das explicações mas corrente a respeito do surgimento da Lingüística<br />

Textual está na precarieda<strong>de</strong> e nas lacunas das gramáticas normativas ou <strong>de</strong>scritivas<br />

para compreen<strong>de</strong>r alguns fenômenos <strong>de</strong> co-referência, pronomilização, a seleção <strong>de</strong><br />

palavras, a or<strong>de</strong>nação das palavras no enunciado, a relação entre sentenças ligadas por<br />

conjunções, os tipos <strong>de</strong> concordância dos tempos verbais, as retomadas e substituições<br />

etc.<br />

Para Dressler (1977), a Lingüitica Textual não comporta os mesmos<br />

problemas que os da gramática e vice-versa. Conte (1977), classifica três momentos<br />

importantes no <strong>de</strong>slocamento da lingüística da frase para a lingüística do texto. O<br />

primeiro está restrito ainda aos enunciados ou as seqüências coerentes dos enunciados<br />

que chegará ao texto. O segundo momento é marcado pela reflexão <strong>de</strong> uma gramática<br />

do texto. O que está em questão é a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> que há entre o enunciado e o texto.<br />

Neste instante o que está em pauta é diferenciar várias espécies <strong>de</strong> texto, levantar<br />

critérios para <strong>de</strong>limitar o texto, e verificar o que faz que um texto seja um texto. O<br />

último momento é marcado pela observação do texto em seu contexto pragmático, ou<br />

seja, a perspectiva vai do texto ao contexto, enquanto conjunto <strong>de</strong> condições externa ao<br />

texto na sua produção, recepção e interpretação.<br />

De forma geral a Lingüística Textual teve alguns precursores históricos<br />

distintos, o que correspon<strong>de</strong> a três gran<strong>de</strong>s linhas <strong>de</strong> pensamento: a Retórica Clássica<br />

(Empédocles, Corax, Tísias) que das suas cinco partes duas têm relação com a


lingüística do texto: uma diz respeito à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> operações lingüísticas subjacentes à<br />

produção do texto, ou seja, a sua microestrutura; a segunda refere-se à localização do<br />

texto no processo global <strong>de</strong> comunicação, ou, a sua macroestrutura.<br />

A outra linha <strong>de</strong> pensamento foi a Estilística que se serviu da retórica, da<br />

gramática e da filosofia. A Estilística tinha por objeto todas as relações acima do nível<br />

da frase, consi<strong>de</strong>rando que até bem pouco tempo a maior unida<strong>de</strong> da lingüística era a<br />

frase.<br />

A terceira e última linha <strong>de</strong> pensamento foi a dos Formalistas Russos,<br />

pertencentes ao Círculo Lingüístico Moscou. Dentro os quais têm Propp (analisou as<br />

estrutura dos contos populares), Jakobson (rompeu com os padrões tradicionais <strong>de</strong><br />

análise <strong>de</strong> texto) a partir do esquema <strong>de</strong> comunicação (emissor, canal, código,<br />

interlocutores etc.)<br />

A título <strong>de</strong> registro, temos também precursores strictu seno, que <strong>de</strong> uma forma<br />

ou <strong>de</strong> outra tiveram sua atenção voltada para o texto. Fazem parte <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong><br />

precursores: Hjelmslev, Harris, Pike, Jakobson, Benveniste, Pêcheux, Orlandi entre<br />

outros.<br />

2.1 Coerência e coesão: consi<strong>de</strong>rações<br />

Após as consi<strong>de</strong>rações gerais e históricas, ainda que muito breve, sobre a<br />

Lingüística Textual, neste tópico a proposta é abordar um quadro esquemático geral da<br />

coerência e coesão, bem como a importância <strong>de</strong> alguns conceitos como mecanismos não<br />

só <strong>de</strong> leitura e compreensão do texto, mas também para produção do texto.<br />

Enquanto a coerência se manifesta no nível macroestrutural do texto, como<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer uma relação entre os elementos do texto, contribuir para<br />

construir uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido. Já a coesão diz respeito ao nível microestrutura, se<br />

refere ao modo como as unida<strong>de</strong>s vocabulares se relacionam construindo assim uma<br />

seqüência <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s lingüísticas portadora <strong>de</strong> sentido no texto. A coerência e a<br />

coesão, muito embora sejam mecanismos distintos, no entanto, a coesão po<strong>de</strong> auxiliar<br />

no estabelecimento da coerência.<br />

De forma geral, mais do conhecer os conceitos básicos <strong>de</strong> coerência e coesão,<br />

o importante talvez seja: saber <strong>de</strong> que forma os mecanismos contribuem para que o<br />

texto se torne inteligível; compreen<strong>de</strong>r que a coerência e coesão se constituem em<br />

requisitos <strong>de</strong> fundamental importância na elaboração <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> texto; a


coerência está fundamentada na continuida<strong>de</strong> da produção dos sentidos, a coesão por<br />

sua vez se apresenta por meios <strong>de</strong> marcas lingüísticas; um último aspecto seria perceber<br />

que a coesão e coerência se complementam no processo <strong>de</strong> construção ou produção do<br />

texto.<br />

Assim temos, ainda que <strong>de</strong> forma resumida:<br />

2.1.1 Coerência: breves consi<strong>de</strong>rações<br />

A coerência se estabelece em uma situação comunicativa, ela é responsável<br />

pela construção do sentido que um texto <strong>de</strong>ve possuir quando partilhado por usuários,<br />

assim, se manifesta nas diversas camadas <strong>de</strong> organização do texto, <strong>de</strong> forma que<br />

constitui em uma dimensão semântica (caracteriza-se pela in<strong>de</strong>pendência semântica<br />

entre os elementos que constituem o texto), uma dimensão pragmática (rituais, usos,<br />

costumes, leis tratados, <strong>de</strong> forma geral, conhecimento partilhado etc.).<br />

A coerência está ligada à compreensão, à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação<br />

daquilo que se diz ou se escreve. Ela é <strong>de</strong>corrente dos sentidos contido no texto, para<br />

quem ouve ou quem lê, seja um jornal, uma simples frase, uma obra literária, um<br />

conversa animada, um discurso político etc.. Qualquer tipo <strong>de</strong> comunicação verbal,<br />

indiferente a sua extensão, ela precisa possuir sentido em seu nível macro-estrutural,<br />

isto é, precisa ter coerência. Em aspectos gerais ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>: do conhecimento do<br />

mundo e do grau em que esse conhecimento <strong>de</strong>ve ser ou é compartilhado pelos usuários<br />

da língua ou interlocutores; do domínio das regras que norteiam a língua, consi<strong>de</strong>rando<br />

que este fator vai promover a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> várias combinações dos elementos<br />

lingüísticos; dos próprios interlocutores, consi<strong>de</strong>rando a situação em que se encontram,<br />

as suas intenções <strong>de</strong> comunicação, suas crenças, a função comunicativa do texto. 1<br />

Nesse sentido, temos quatro tipos <strong>de</strong> coerência: semântica; sintática; estilística;<br />

pragmática e texto e coerência.<br />

exemplos:<br />

A título <strong>de</strong> exemplificação geral sobre coerência, temos os seguintes<br />

a) o homem construiu uma casa na floresta.<br />

1 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


) o pássaro construiu seu ninho na árvore.<br />

c) a árvore está grávida.<br />

d) as árvores estão plantadas no <strong>de</strong>serto.<br />

É possível aceitar que as frases (a) e (b) possuem um grau <strong>de</strong> aceitação, não<br />

oferecem qualquer tipo <strong>de</strong> problema a para sua compreensão, ao passo que as frases (c)<br />

e (d) há restrições para sua compreensão, pois a proprieda<strong>de</strong> estar grávida não diz<br />

respeito ao vegetal, o que não haveria problema se referisse à mulher. A combinatória<br />

não faz sentido. Já na letra (d) ocorrem duas idéias opostas, uma contrária a outra, pois<br />

no <strong>de</strong>serto, pelas suas características não se planta árvores no sentido geral, e o fato da<br />

ser plantada, implica que seja em um lugar on<strong>de</strong> tenha as condições necessárias para<br />

que se <strong>de</strong>senvolve, o que não é possível conceber que ela seja ou esteja plantado no<br />

<strong>de</strong>serto.<br />

2.1.1 Coerência semântica 2<br />

Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em<br />

seqüência; a incoerência aparece quando esses sentidos não combinam, ou quando são<br />

contraditórios. Assim temos alguns exemplos:<br />

a) ... ouvem-se vozes exaltadas para on<strong>de</strong> acorrem muito fotógrafos e telegrafistas para<br />

registrarem o fato.<br />

O uso do vocábulo “telegrafista” provoca um ruído pela sua ina<strong>de</strong>quação neste<br />

contexto, pois o fato que causa espanto será documentado por fotógrafos e, talvez,<br />

cronistas, que, po<strong>de</strong>rão escrever sobre o fato, mas com certeza, um telegrafista não se<br />

constitui em espectadores comuns nessas circunstâncias.<br />

Ainda há um outro problema, o <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m sintática: trata-se do emprego da<br />

locução conjuntiva “para on<strong>de</strong>”, que teria vozes exaltadas como referente, o que não é<br />

possível, porque esse referente não contém idéia <strong>de</strong> lugar, implícita no pronome relativo<br />

2 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


“on<strong>de</strong>”.<br />

Uma última observação seria a respeito do emprego do tempo verbal <strong>de</strong><br />

“ouvem-se” e “acorreram”, presente e pretérito perfeito, respectivamente. Seria mais<br />

a<strong>de</strong>quado os dois verbos estarem no mesmo tempo, o presente.<br />

2.1.2. Coerência sintática 3<br />

Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica:<br />

conectivos, pronomes etc. Temos o seguinte exemplo:<br />

a) “Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular. On<strong>de</strong> há<br />

métodos, equipamentos e até professores melhores”.<br />

A coerência <strong>de</strong>ste período po<strong>de</strong>ria ser recuperada se duas alterações fossem<br />

feitas. A seria a troca do relativo “on<strong>de</strong>”, específico <strong>de</strong> lugar, “para no qual” ou “em<br />

que” (ensino particular, no qual/em que já métodos), e a segundo seria a substituição do<br />

ponto por vírgula, maneira que a oração relativa não ocorre como uma oração completa<br />

e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da anterior. Teríamos a seguinte oração, sem problema <strong>de</strong> compreensão:<br />

a) “então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular, no qual<br />

há equipamentos e até professores melhores”.<br />

2.1.3 Coerência estilística 4<br />

É possível perceber, no exemplo a seguir, que este tipo <strong>de</strong> coerência não chega<br />

a perturbar ou a incomodar a interpretabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um texto; é uma noção relacionada à<br />

mistura <strong>de</strong> registros lingüísticos. É <strong>de</strong>sejável, <strong>de</strong> certa forma, que quem escreve <strong>de</strong>va se<br />

manter num estilo relativamente uniforme. Entretanto, a alternância <strong>de</strong> registro po<strong>de</strong> ser,<br />

por um lado, um recurso estilístico.<br />

3 i<strong>de</strong>m<br />

4 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005<br />

Poema <strong>de</strong> Manoel Ban<strong>de</strong>ira<br />

Tereza, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima <strong>de</strong> você


e te jurar uma paixão do tamanho <strong>de</strong> um<br />

bon<strong>de</strong><br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Tereza<br />

É lágrima <strong>de</strong> cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA<br />

Manoel Ban<strong>de</strong>ira, poeta, proce<strong>de</strong> como se estivesse falando, aconselhando<br />

alguém, advertindo sobre uma possível “cantada”. Há mistura <strong>de</strong> tratamento (tu/você),<br />

mistura <strong>de</strong> registros, pois o autor utiliza várias expressões da língua oral, como “do<br />

tamanho <strong>de</strong> um bon<strong>de</strong>”, “se ele se rasgar todo”, “cai fora”, ao mesmo tempo em que<br />

emprega o futuro subjuntivo, tempo mais comum num registro cuidado.<br />

2.1.4 coerência pragmática 5<br />

Refere-se ao texto visto como uma seqüência <strong>de</strong> “atos <strong>de</strong> fala” (Austin, 1985).<br />

Para haver coerência nesta seqüência, é preciso que os “atos <strong>de</strong> fala” se realizem <strong>de</strong><br />

forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez <strong>de</strong> falar, <strong>de</strong>ve conjurar o seu<br />

discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz uma pergunta a outra, a resposta<br />

po<strong>de</strong> ser manifestada por meio <strong>de</strong> uma afirmação, <strong>de</strong> outra pergunta, <strong>de</strong> uma promessa,<br />

<strong>de</strong> negação. Qualquer uma <strong>de</strong>ssa seqüência seria consi<strong>de</strong>rada coerente. Por outro lado,<br />

se o interlocutor não respon<strong>de</strong>, virar as costas e sair andando, começar a cantar, ou<br />

mesmo dizer algo totalmente <strong>de</strong>sconectado do tema da pergunta, estas seqüências<br />

seriam consi<strong>de</strong>radas incoerentes. Exemplo:<br />

a) -Você po<strong>de</strong> me dizer on<strong>de</strong> fica a Rua Alice?<br />

-O ônibus está muito atrasado hoje.<br />

5 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


No exemplo acima há uma quebra <strong>de</strong> ritual cultural, quando alguém (estranho)<br />

faz uma pergunta sobre alguma localida<strong>de</strong>, uma das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> respostas seria <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r afirmativamente e indicar ou a <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r negativamente, recomendar que<br />

procure outras pessoas etc. Mas não o caso <strong>de</strong> vir com uma outra fala <strong>de</strong>sconectado do<br />

contexto.<br />

b) - No balcão <strong>de</strong> uma companhia aérea, o viajante perguntou à aten<strong>de</strong>nte;<br />

- A senhorita po<strong>de</strong> me dizer quanto tempo dura um vôo do Rio a Lisboa?<br />

- Um momentinho.<br />

- Muito obrigado.<br />

Para quem faz uma pergunta, não parece nem um pouco incoerente a resposta<br />

obtida. Entretanto, um momentinho não é a resposta, é simplesmente um pedido <strong>de</strong><br />

tempo para <strong>de</strong>pois dar uma atenção ao interlocutor. Nós é que percebemos a incoerência<br />

da seqüência e tomamos o conjunto como ma piada.<br />

2.3 Coesão: breves consi<strong>de</strong>rações<br />

A coesão está ligação no nexo que se estabelece entre as partes <strong>de</strong> um texto.<br />

Ela contribui para a ligação <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> natureza gramatical, no caso dos pronomes,<br />

conjunções, categorias verbais, e elementos <strong>de</strong> natureza lexical, como sinônimos,<br />

antônimos, repetições, e ainda mecanismos sintáticos, responsáveis pela subordinação,<br />

coor<strong>de</strong>nação, or<strong>de</strong>m dos vocábulos e orações. É um dos mecanismos necessários pela<br />

inter<strong>de</strong>pendência semântica que se instaura entre os elementos constituintes <strong>de</strong> um<br />

texto.<br />

É importante ressaltar que a respeito da coesão que muitos autores têm<br />

publicados apoiados, principalmente nos trabalhos <strong>de</strong> Koch (1989), como Platão e<br />

Fiorin (1996) para o quem a coesão textual “é a ligação, a relação, a conexão entre as<br />

palavras, expressões ou frase do texto”; Suárez Abreu (1990), “o enca<strong>de</strong>amento<br />

semântico que produz a textualida<strong>de</strong>; trata-se <strong>de</strong> uma maneira <strong>de</strong> recuperar em uma<br />

sentença B, um termo da sentença A e o termo que o retoma na sentença B”, e para<br />

Marcusch (1983), os fatores <strong>de</strong> coesão “são aqueles que dão conta da seqüenciação<br />

superficial do texto, isto é, os mecanismos formais <strong>de</strong> uma língua que permitem


estabelecer, entre os elementos lingüísticos do texto, relações <strong>de</strong> sentido”. 6<br />

Assim, temos a coesão gramatical: frásica; interfrásica; temporal; referencial; e<br />

a coesão lexical: reiteração; substituição.<br />

Assim, a coesão po<strong>de</strong>r ser observada em enunciados simples quanto em<br />

enunciados mais complexos, por exemplo:<br />

a) Mulheres <strong>de</strong> três gerações enfrentam o preconceito e revelam suas experiências.<br />

b) Elas resolveram falar. Quebrando o muro <strong>de</strong> silêncio, oito <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> mulheres<br />

<strong>de</strong>cidiram contar como aconteceu o fato que marcou sua vida.<br />

c) Do alto <strong>de</strong> sua ignorância, os seres humanos costumam achar que dominam a terra e<br />

todos os outros seres vivos.<br />

Nesses exemplos, po<strong>de</strong>mos observar o seguinte: os pronomes “suas” e “que”<br />

retomando mulheres <strong>de</strong> três gerações e o fato, respectivamente: os pronomes “elas” e<br />

suas antecipam oito <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> mulheres e os seres humanos, respectivamente. Estes<br />

são apenas alguns mecanismos <strong>de</strong> coesão.<br />

2.3.1. Coesão gramatical 7<br />

Se dão por meio das concordâncias nominais e verbais, da or<strong>de</strong>m dos<br />

vocábulos, dos conectores, dos pronomes pessoais <strong>de</strong> terceira pessoa (retos e oblíquos),<br />

pronomes possessivos, <strong>de</strong>monstrativos, in<strong>de</strong>finidos, interrogativos, relativos, diversos<br />

tipos <strong>de</strong> numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos <strong>de</strong>finidos, <strong>de</strong> expressões <strong>de</strong> valor<br />

temporal.<br />

2.3.2 Coesão frásica 8<br />

Este tipo <strong>de</strong> coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes<br />

da frase, com base na concordância entre os nomes e seus <strong>de</strong>terminantes, entre o sujeito<br />

6 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005<br />

7 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005<br />

8 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


e seus predicadores, na or<strong>de</strong>m dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal.<br />

Exemplo:<br />

a) Florianópolis tem praias para todos os gostos, <strong>de</strong>sertas, agitadas, com ondas, sem<br />

ondas, rústicas, sofisticadas.<br />

1 – Concordância nominal: praias (substantivo) – <strong>de</strong>sertas, agitadas, rústicas,<br />

sofisticadas (adjetivos); todos (pronome) – os (artigos); gostos (substantivo).<br />

2 – Concordância verbal: Florianópolis (sujeito) – tem (verbo).<br />

2.3.3 Coesão interfrástica 9<br />

Designa os variados tipos <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência semântica existente entre as<br />

frases na superfície textual. Essas relações são expressas pelos conectores ou<br />

operadores discursivos.<br />

a) Na verda<strong>de</strong>, muitos habitantes <strong>de</strong> Aparecida estão entre a cruz e a caixa registradora.<br />

Vivem a dúvida <strong>de</strong> preservar a pureza da Casa <strong>de</strong> Deus ou apoiar um empreendimento<br />

que po<strong>de</strong> trazer benesses materiais.<br />

O conector ou apresente uma disjunção argumentativa, uma alterância.<br />

1 – Aparentemente boa, a infra-estrutura da Basílica se transforma em pó em outubro,<br />

por exemplo, quando num único fim <strong>de</strong> semana surgem 300 mil fiéis.<br />

O conector, por exemplo, serve para especificar o que foi dito antes.<br />

2.3.4 Coesão temporal 10<br />

A coesão é assegurada pelo emprego a<strong>de</strong>quado dos tempos verbais,<br />

obe<strong>de</strong>cendo a uma seqüência plausível, ao uso <strong>de</strong> advérbios que ajudam a situar o leitor<br />

9 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005<br />

10 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


no tempo (são, <strong>de</strong> certa forma, os conectores temporais). Exemplo:<br />

a) A dita Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos <strong>de</strong> base sobre<br />

os quais repousa a transmissão televisiva já estivessem em experimentação entre 1908 e<br />

1914 nos Estados Unidos, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> pesquisas sobre implantação eletrônica,<br />

somente na década <strong>de</strong> vinte chegou-se ao tubo catódico, principal peça do aparelho <strong>de</strong><br />

tevê. Após várias experiências por socieda<strong>de</strong>s eletrônicas, tiveram inicio em 1939, as<br />

transmissões regulares entre Nova Iorque – mas quase não havia aparelhos particulares.<br />

A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão vertiginosa do novo veículo <strong>de</strong>u-<br />

se após 1945. No Brasil, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> algumas experiências pioneiras <strong>de</strong> laboratório<br />

(Pinto chegou a interessar-se pela transmissão <strong>de</strong> imagem), a tevê só foi mesmo<br />

implantada em setembro <strong>de</strong> 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis<br />

Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca <strong>de</strong> cem estações<br />

servindo a doze milhões <strong>de</strong> aparelhos. Existem hoje mais <strong>de</strong> 50 canais em<br />

funcionamento, em todo território brasileiro, e perto <strong>de</strong> 4 milhões <strong>de</strong> aparelhos<br />

receptores [dados <strong>de</strong> 1971].<br />

Temos, neste texto, apresentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que<br />

contribui para a clareza <strong>de</strong>sta trajetória é a seqüência coerente da datas: entre 1908 e<br />

1914, na década <strong>de</strong> vinte, em 1939. Após várias experiências por socieda<strong>de</strong>s eletrônicas<br />

(época da) guerra, após 1945, em setembro <strong>de</strong> 1950, nesse mesmo ano, hoje.<br />

2.3.5. Coesão referencial 11<br />

É um tipo <strong>de</strong> componente <strong>de</strong> superfície textual que faz referência a outro<br />

componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para este referência são largamente os<br />

pronomes <strong>de</strong> terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, <strong>de</strong>monstrativos,<br />

in<strong>de</strong>finidos, interrogativos, relativos, diversos tipos <strong>de</strong> numerais, advérbios (ali, aí, aqui,<br />

lá), artigos. Exemplo:<br />

a) Durante o período <strong>de</strong> amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência ao<br />

filhote é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda, ele<br />

11 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


também o faz.<br />

vocábulo mãe.<br />

“Ela”, “a” – retomam o termo “baleiona”, que, por sua vez substitui o<br />

“Ele” – retoma o termo filhote.<br />

“Ele” também o faz – “o” retorna as ações <strong>de</strong> saltar, bater, que a mãe pratica.<br />

2.3.6 Coesão lexical 12<br />

É um tipo <strong>de</strong> coesão que retoma os vocábulos ou expressões que já ocorreram,<br />

porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da<br />

coesão lexical po<strong>de</strong>mos distinguir a reiteração e a substituição.<br />

2.3.7 Reiteração 13<br />

Por reiteração en<strong>de</strong>ntemos a repetição <strong>de</strong> expressões lingüísticas; neste caso,<br />

existe i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> traços semânticos.<br />

1- Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma<br />

refinaria brasileira dar certo.<br />

Quando a Ipiranga começou a produzir querosene <strong>de</strong> padrão internacional,<br />

muitos afirmavam, também, que dificilmente isso seria possível.<br />

Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf e Oil e Atlantic, muitos<br />

disseram que isso era incomum.<br />

E, a cada passo que a Ipiranga <strong>de</strong>u nesses anos todos, nunca faltaram previsões<br />

que indicavam outra direção.<br />

2.3.8. Substituição 14<br />

A substituição é a mais ampla, pois po<strong>de</strong> se efetuar por meio <strong>de</strong> sinonímia, da<br />

antonímia, da hiperonímia, da hiponímia. Vamos exemplificar apenas um <strong>de</strong>sses<br />

12 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005<br />

13 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005<br />

14 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


mecanismos. Exemplo.<br />

a) Sinonímia 15<br />

1 - Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento <strong>de</strong> Cuba, João Paulo II <strong>de</strong>cidiu visitar em<br />

janeiro a ilha da Fantasia.<br />

Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso esclarecer<br />

que, neste caso, há um julgamento <strong>de</strong> valor na substituição <strong>de</strong> Cuba por ilha da Fantasia,<br />

numa alusão a lugar on<strong>de</strong> não haja serieda<strong>de</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

O objetivo, além <strong>de</strong> uma brevida<strong>de</strong> história da constituição da Lingüística<br />

Textual, nós procuramos também <strong>de</strong>monstrar, ainda que brevemente, como os<br />

mecanismos <strong>de</strong> coerência e coesão são importantes na compreensão e produção <strong>de</strong><br />

textos. O que vimos foi os processos <strong>de</strong> seqüencialização que asseguram uma ligação<br />

entre os elementos lingüísticos formadores <strong>de</strong> texto, recurso <strong>de</strong> coerência e <strong>de</strong> coesão<br />

textuais.<br />

Referência bibliográfica<br />

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15 http://acd.ufrj.br/~pead/ Acesso em 14/07/2005


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FÁVERO, L. P. e KOCH, I,. G. Lingüistica textual: introdução. 6 ed São Paulo: Cortez<br />

Editora, 2002.<br />

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____. A coesão textual. 18 ed. São Paulo: Editora Contexto, 2003.<br />

LEONOR, L. F. Coesão e Coerência Textuais. 2ª. ed. São Paulo: Editora Ática, 1993.<br />

LEROY, M. As Gran<strong>de</strong>s Correntes da Lingüística Mo<strong>de</strong>rna. 5ª. ed. São Paul: Cultrix,<br />

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Acesso em 14/07/2005<br />

PLATÃO, F. S. E FIORIN, J. L. Para enten<strong>de</strong>r o texto, leitura e redação. 5ª. ed São<br />

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____. Lições <strong>de</strong> texto: leitura e redação. 2ª. ed. São Paulo: Editora Ática, 1997.<br />

SAUSSURE, F. Curso <strong>de</strong> Lingüística Geral. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 1995.

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