NO CORAÇÃO DA ÁFRICA MISTERIOSA - Pedro Almeida Vieira
NO CORAÇÃO DA ÁFRICA MISTERIOSA - Pedro Almeida Vieira
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2. a edição<br />
Ana Maria Magalhães Isabel Alçada<br />
ilustrações de Arlindo Fagundes<br />
<strong>NO</strong> <strong>CORAÇÃO</strong><br />
<strong>DA</strong> <strong>ÁFRICA</strong><br />
<strong>MISTERIOSA</strong>
I capítulo<br />
O tesouro perdido<br />
Orlando desenrolara vários mapas em cima da mesa<br />
da sala de jantar e observava-os através de uma lupa<br />
grossa e potentíssima que lhe permitia ver com clareza os<br />
-<br />
<br />
da campainha. Só quando o som se tornou contínuo lhe<br />
rompeu os pensamentos e atingiu a zona do cérebro que<br />
capta sinais sonoros.<br />
<br />
largou a lupa e dirigiu-se à porta da rua disposto a fazer<br />
<br />
viu diante de si as caras muito queridas da Ana e do<br />
<br />
<br />
estava cheio de saudades!<br />
— Nós também!<br />
— Viemos desejar-lhe Bom Ano...<br />
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— Bom ano? — perguntou ele atarantado. — Porquê?<br />
Os dois irmãos largaram à gargalhada.<br />
— Porque hoje é o dia l de Janeiro.<br />
— Aposto que passou a meia-noite fechado no seu<br />
laboratório a estudar imenso.<br />
<br />
tório.<br />
Nem me lembrei da passagem do ano. Agora que<br />
<br />
certeza...<br />
— E qual era o trabalho? Está à beira de uma nova<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
— Humm... Resolveu começar o ano a gozar à nossa<br />
custa?<br />
<br />
comigo.<br />
Assim que entraram na sala de jantar os dois irmãos<br />
liço<br />
era total! Havia pirâmides de livros no chão e em<br />
<br />
<br />
de chá a segurar as pontas. Havia também uma travessa<br />
de loiça cheia de papéis amarelados e rolos de documen-<br />
<br />
<br />
<br />
— Olhem! O que eu procuro deve estar ali.<br />
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Eles inclinaram-se a observar a zona do mapa de<br />
África que a lupa ampliava mas não reconheceram nada<br />
do que viam.<br />
— Mo-no-mo-ta-pa — leu o João separando bem<br />
as sílabas. — Monomotapa. Nunca ouvi falar em tal<br />
sítio.<br />
— Nem eu. E como também não sabemos o que pro-<br />
<br />
<br />
— Pois — interrompeu o João. — Mas essa palavra<br />
<br />
anda louco à procura de um tesouro a sério ou quer imenso<br />
encontrar meia dúzia de esquisitices que só interessam a<br />
sábios e pessoas do género?<br />
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Orlando soltou uma das suas inconfundíveis gargalhadas<br />
roucas.<br />
— Vocês são impagáveis! E eu adoro-vos por serem<br />
zinho<br />
de entusiasmo a iluminar-lhe os olhos azuis. — Ando<br />
<br />
<br />
seguidos de interrogatório:<br />
— São muitas peças?<br />
— E onde é que estão?<br />
— É fácil encontrá-las?<br />
<br />
de graça — disse o João na brincadeira. — Mas claro que<br />
<br />
A sugestão levou Ana a perguntar:<br />
— As peças desaparecidas não têm dono?<br />
Orlando passou a mão pela careca e sentou-se no<br />
<br />
— Tss... Tss! Parem de me bombardear com pergun-<br />
<br />
<br />
cientista.<br />
<br />
<br />
oiçam.<br />
Não precisou de repetir a ordem. Sentados de pernas<br />
<br />
<br />
começou usando expressões de conto de fadas:<br />
— Em tempos que já lá vão; havia um reino muito<br />
rico e poderoso no interior da África. Não se sabia ao<br />
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1 <br />
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1 <br />
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Os olhos azuis faiscaram e a cara mudou de expressão.<br />
<br />
mexeriquices sobre a vida pessoal de um amigo.<br />
<br />
-<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
fan-tástica e de saber dançar melhor do que ninguém.<br />
<br />
percebo onde entra o tesouro.<br />
— Lá estás tu com as impaciências do costume! Não<br />
<br />
<br />
— Os mensageiros partiram carregados de presentes.<br />
<br />
-<br />
<br />
— Ferramentas de ouro? Isso não devia dar o menor<br />
jeito para trabalhar!<br />
— Claro que não! Mas essas ferramentas não serviam<br />
<br />
rei usava como símbolos de poder pequenas enxadas e<br />
<br />
mendou<br />
aos artistas da corte outros objectos preciosos.<br />
<br />
<br />
nunca chegaram ao seu destino.<br />
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— Perderam-se?<br />
— Não. Desapareceram sem deixar rasto. Ainda hoje<br />
não se sabe o que aconteceu à caravana.<br />
— Não me parece mistério nenhum — disse o João.<br />
<br />
as coisas.<br />
— Enganas-te. Os mensageiros tinham sido escolhi-<br />
<br />
<br />
três se sentissem tentados a largar tudo e a fugir com o<br />
<br />
<br />
foram procurados por montes e vales e nunca se encontrou<br />
o mínimo vestígio nem deles nem da carga que transportavam.<br />
— Que estranho!<br />
<br />
<br />
<br />
A primeira dizia que os espíritos dos antepassados não<br />
queriam aquela união entre os dois povos e para a evitar<br />
<br />
dá outra versão. Conta que o feiticeiro da tribo estava<br />
apaixonado pela rapariga e para impedir que ela casasse<br />
com outro transformou os mensageiros em árvores.<br />
— E roubou o tesouro?<br />
— Não. Enterrou-o debaixo do tronco que correspondia<br />
ao corpo do chefe da caravana.<br />
<br />
<br />
sonho tão saboroso como inquietante. Imaginavam os<br />
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esticando-se e retorcendo-se até se imobilizarem con-<br />
<br />
num sussurro de folhagem... e o feiticeiro de volta das<br />
<br />
<br />
<br />
parece-me demasiado fantástica para levar cientistas a<br />
fazerem pesquisas.<br />
— O teu comentário tem lógica porque estás a baralhar<br />
lendas com factos. Nós não vamos procurar abismos<br />
nem árvores humanas. Queremos é recuperar peças que<br />
<br />
<br />
<br />
— Humm?<br />
-<br />
<br />
Há muito que não há descobertas capazes de provocar<br />
tal alvoroço!<br />
<br />
novo para junto da mesa.<br />
— As investigações têm-se desenvolvido por etapas.<br />
<br />
Como sabemos de onde é que eles partiram e para onde<br />
cimento.<br />
É essa que tem um círculo vermelho no mapa.<br />
— Ah!<br />
<br />
<br />
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— E então?<br />
tos<br />
escritos do império de Monomotapa. Mas há relatos<br />
de viajantes que passaram por aquela zona alguns séculos<br />
depois de o império se ter extinguido. Esses viajantes<br />
contactaram com descendentes do rei e de outras pessoas<br />
e foram registando nos seus diários o que ouviam contar.<br />
Nós pensámos que valia a pena ler todas as folhas que<br />
chegaram aos nossos dias e andámos a arrebanhar material<br />
pelas bibliotecas. Trabalhámos imenso e realmente<br />
<br />
grande interesse apareceu parte do diário de um viajante<br />
que nos deu uma pista.<br />
Apontou-lhes então uma folha de papel quase a des-<br />
<br />
<br />
<br />
ferramenta de ouro à beira de um rio. E nós sabemos<br />
qual é.<br />
Agora eram os olhos da Ana e do João que soltavam<br />
faíscas.<br />
— Nesse caso podem ir lá procurar o resto!<br />
— Já fomos! Tomámos logo o primeiro avião. Levá-<br />
<br />
<br />
tivemos que desistir.<br />
— Porquê?<br />
— Porque todas as conclusões apontavam para onde<br />
actualmente há uma cidade. Não podíamos destruir as<br />
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casas para escavar por baixo e também não quisemos<br />
divulgar o resultado das nossas pesquisas porque sabemos<br />
que as pessoas perdem a cabeça por tesouros. Receámos<br />
que alguém derrubasse paredes à toa.<br />
<br />
Por que é que não se metem na máquina do tempo e vão<br />
ver o que aconteceu realmente à caravana?<br />
— Também já nos fartámos de fazer essa viagem<br />
<br />
não são rigorosas. Quem se desloca no espaço tem de<br />
<br />
<br />
<br />
andado à deriva. Mas creio que durante esta bendita noite<br />
de passagem do ano resolvi a questão.<br />
— Como?<br />
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uma página coberta de desenhos. Julgo que pertence ao<br />
mesmo diário.<br />
Retirou da travessa de loiça mais um pedaço de papel<br />
a desfazer-se e exibiu-o com orgulho:<br />
<br />
do penedo em forma de leão é um mapa para assinalar o<br />
local onde o homem achou a ferramenta. E está assinado<br />
aí no canto. A letra da assinatura é igualzinha à do texto<br />
anterior. Ora vejam.<br />
<br />
seria?<br />
<br />
-se de um pombeiro.<br />
— O que é isso? Caçador de pombos?<br />
<br />
muito corajosos. Os únicos africanos que faziam longos<br />
percursos pelo interior do mato. Conheciam os habitantes<br />
<br />
desde muito novos a enfrentar perigos terríveis. Dormiam<br />
ao relento se fosse preciso e pouco se ralavam de serem<br />
apanhados por um temporal. Mas o mais importante de<br />
tudo era saberem lidar com os animais ferozes. A experiência<br />
permitia-lhes sentir a aproximação de uma fera<br />
<br />
<br />
evitar encontros desagradáveis ou então caçar. E como<br />
<br />
é preciso muito sangue-frio e uma pontaria extraordinária.<br />
— Mas por que é que os pombeiros andavam no<br />
mato de um lado para o outro?<br />
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