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caderno de textos ii modulo curso sul enfoc/2007 - Contag

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

- 1 -


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

(...) (...) (...) Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é<br />

bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso<br />

também não ter filosofia nenhuma".<br />

Filosofia é um monte <strong>de</strong> idéias, <strong>de</strong>ntro da cabeça, sobre como são<br />

as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.<br />

Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para<br />

ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio <strong>de</strong>ntro da<br />

alma". Daí a dificulda<strong>de</strong>: a gente não agüenta ouvir o que o outro<br />

diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com<br />

aquilo que a gente tem a dizer.<br />

Como se aquilo que ele diz não fosse digno <strong>de</strong> <strong>de</strong>scansada<br />

consi<strong>de</strong>ração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente<br />

tem a dizer, que é muito melhor. (...)<br />

(...)<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Rubem Rubem Alves<br />

Alves


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

ÍNDICE NDICE NDICE SUMÁRIO UMÁRIO UMÁRIO<br />

Textos Página<br />

01 MATRIZ PEDAGÓGICA DO 2º MÓDULO DO CURSO REGIONAL SUL SUL 01<br />

02 O QUE É SER HOMEM? O QUE É SER MULHER? Nalú Faria e<br />

Miriam Nobre<br />

03 O NASCIMENTO DOS DOS SIN SINDICATOS SIN<br />

DICATOS RURAIS RURAIS E E E O O SSINDICALISMO<br />

S NDICALISMO<br />

NDICALISMO<br />

COMUNISTA COMUNISTA NO NO PARANÁ PARANÁ - 0svaldo Heller da Silva<br />

04 ORIGEM ORIGEM E E PAPEL PAPEL DOS DOS SSINDICATOS<br />

SS<br />

INDICATOS INDICATOS – Altamiro Borges 31<br />

05 PARTICIPAÇÃO DAS MUL MULHERES MUL<br />

HERES NA LUTA DOS TR TRABALHADORES TR<br />

ABALHADORES E<br />

NO NO MOVIMENTO MOVIMENTO SINDICA SINDICAL SINDICA - Maria Valéria Junho Penna<br />

06 HISTÓRIA DO MOVIMENT MOVIMENTO MOVIMENT<br />

O SIND SINDICAL SIND<br />

ICAL – CARTILHA CNTE 45<br />

07 CONCEPÇÕES E CORRENT CORRENTES CORRENT<br />

ES SINDICAIS SINDICAIS NO NO BRAS BRASIL BRAS IL - Amarildo<br />

Carvalho <strong>de</strong> Souza e Domingos Corcione<br />

08 HISTÓRIA DE NOSSAS RRAÍZES<br />

R<br />

AÍZES – Socorro Silva 73<br />

09 A A TRAJETÓRIA POLÍTIC POLÍTICA POLÍTIC<br />

A A DA CONTAG 88<br />

10 HISTÓRICO DA CUT NAC NACIONAL NAC<br />

IONAL – www.cut.org.br 101<br />

11 POTENCIAL POTENCIAL E E LIMITE LIMITE DAS DAS DISPUTAS DISPUTAS POLÍTICAS: POLÍTICAS: PONTOS PONTOS PARA<br />

PARA<br />

REFLEXÃO REFLEXÃO - Sara Pimenta e Domingos Corcione<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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05<br />

07<br />

37 37<br />

57<br />

104<br />

104


2°M<br />

2°M<br />

Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

2°MÓDULO ÓDULO DO DO CURSO CURSO DE DE FORMAÇÃO ORMAÇÃO DE DE EDUCADORES DUCADORES E E EDUCADORAS DUCADORAS EM EM CONCEPÇÃO ONCEPÇÃO ONCEPÇÃO, ONCEPÇÃO PRÁTICA RÁTICA SINDICAL INDICAL E E METODOLOGIA ETODOLOGIA DA DA FORMAÇÃO ORMAÇÃO ORMAÇÃO. ORMAÇÃO<br />

Data: Data: 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong><br />

Local: Local: FETAESC<br />

(R<br />

(REGIÃO EGIÃO SUL UL UL) UL<br />

En<strong>de</strong>reço: RUA LEOBERTO LEAL, 976 – BARREIROS, 88117-700 - SAO JOSE /SC – fone: 48. 3246-8011<br />

Objetivo Objetivo Geral: Geral:<br />

Geral:<br />

MATRIZ MATRIZ PEDAGÓGICA<br />

PEDAGÓGICA<br />

• Contribuir com a formação <strong>de</strong> militantes do MSTTR, <strong>de</strong> modo que aprimorem sua capacida<strong>de</strong> multiplicadora e<br />

potencializadora da ação formativa em suas áreas <strong>de</strong> atuação.<br />

Objetivos Objetivos Específicos:<br />

Específicos:<br />

• Socializar e aprofundar referenciais teóricos, políticos e i<strong>de</strong>ológicos que fundamentam e alimentam os i<strong>de</strong>ais e a luta<br />

sindical e popular.<br />

• Re-avaliar e fortalecer a luta sindical, numa visão e ação sindical transformadoras, estimulando processos <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s, comportamentos e práticas individuais e coletivas, coerentes com as exigências <strong>de</strong> implementação do PADRSS.<br />

• Favorecer a experimentação, sistematização e apropriação <strong>de</strong> novas metodologias pedagógicas que realimentem a prática<br />

formativa do movimento sindical.<br />

• Contribuir para a constituição <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> formadores/as que assumam e implementem o projeto <strong>de</strong> formação do<br />

MSTTR.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

EIXO EIXO EIXO TEMÁTICO: TEMÁTICO: HIST HISTÓRIA, HIST ÓRIA, CONCEPÇÃO, CONCEPÇÃO, ESTRUTURA ESTRUTURA ESTRUTURA E E PRÁTICA PRÁTICA SINDICAL SINDICAL. SINDICAL<br />

EIXOS EIXOS PEDAGÓGICOS: PEDAGÓGICOS: PEDAGOGIA PEDAGOGIA PARA PARA UMA UMA NOVA NOVA SOCIABILIDADE SOCIABILIDADE E E MEMÓRIA MEMÓRIA E E IDENTIDADE.<br />

IDENTIDADE.<br />

Dia/períodos Dia/períodos<br />

07/10 –<br />

Tema Tema e e Sub Sub-temas. Sub temas. Objetivos Responsáveis<br />

Domingo<br />

Chegada e Acolhimento<br />

Dar continuida<strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong> FETAES FETAESC/ENFOC<br />

FETAES ENFOC<br />

Manhã 10:00 - Mística – I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> regional integração do grupo.<br />

Abertura<br />

Socializar a programação do 2º módulo,<br />

Apresentação do roteiro, acordos <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir comissões <strong>de</strong> trabalho e acordos <strong>de</strong><br />

convivência, comissões <strong>de</strong> trabalho convivência.<br />

Tar<strong>de</strong><br />

08/10<br />

Segunda<br />

Feira<br />

Manhã<br />

Tar<strong>de</strong><br />

14:00 – Reapropriação do I Módulo<br />

Trabalho em grupo a partir <strong>de</strong> perguntas<br />

orientadoras<br />

Estabelecer pontes com o 2º Módulo<br />

08:30 – I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> classe<br />

Raça e Etnia<br />

Gênero.<br />

14:00 – Sociali Socialização Sociali zação das das ativida<strong>de</strong>s ativida<strong>de</strong>s ativida<strong>de</strong>s inter<br />

inter<br />

modulares<br />

modulares<br />

Trabalho em grupo por estado a partir<br />

<strong>de</strong> perguntas orientadoras<br />

Apresentação<br />

Construir pontes e i<strong>de</strong>ntificar possíveis<br />

lacunas <strong>de</strong> um módulo para outro<br />

Compreen<strong>de</strong>r como são reproduzidas as<br />

relações <strong>de</strong>siguais.<br />

Socializar os re<strong>sul</strong>tados das ativida<strong>de</strong>s<br />

inter-módulo e i<strong>de</strong>ntificar aspectos a serem<br />

refletidos durante o módulo.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Re<strong>de</strong> Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> educadores<br />

educadores<br />

Equipe Equipe ENFOC<br />

ENFOC<br />

Convidado Convidados:<br />

Convidado :<br />

Marcos Marcos Rodrigues<br />

Rodrigues<br />

Con<strong>sul</strong>tor do MDA<br />

Sonilda Sonilda Sonilda Pereira Pereira –<br />

Assessora da FETAG RS<br />

Re<strong>de</strong> Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> educadores<br />

educadores<br />

Equipe Equipe da ENFOC


09/10<br />

Terça Feira<br />

Manhã e<br />

tar<strong>de</strong><br />

10/10<br />

Quarta feira<br />

manhã<br />

Tar<strong>de</strong><br />

Noite<br />

08:00 – História <strong>de</strong> lutas lutas na região <strong>sul</strong> <strong>sul</strong><br />

Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Abordagem histórica das lutas na<br />

região <strong>sul</strong>, consi<strong>de</strong>rando as colônias<br />

anarquistas, ligas camponesas, as<br />

frentes agrárias nos estados do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, Santa Catarina e<br />

Paraná.<br />

Memória e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>ranças que fazem a história dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras rurais<br />

na região <strong>sul</strong>.<br />

8:30h – Co Contexto Co ntexto e origem do sindicalismo<br />

no no Brasil<br />

Brasil<br />

História<br />

Concepções e práticas sindicais<br />

Exposição Dialogada<br />

L I V R E<br />

C O N F R A T E R N I Z Ç Ã O<br />

Resgatar elementos da história política do<br />

país consi<strong>de</strong>rando as principais lutas pela<br />

terra na região <strong>sul</strong>.<br />

Refletir sobre questões presentes nos<br />

relatos históricos das li<strong>de</strong>ranças<br />

convidadas e sobre suas trajetórias <strong>de</strong><br />

lutas.<br />

Introduzir a abordagem histórica do<br />

sindicalismo no Brasil. Compreen<strong>de</strong>r o<br />

papel do sindicalismo no contexto histórico<br />

enquanto meio <strong>de</strong> transformação social.<br />

Refletir sobre o contexto, as diversas<br />

concepções sindicais existentes, as formas<br />

<strong>de</strong> organização dos trabalhadores a as<br />

estratégias <strong>de</strong> lutas adotadas.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Professor Professor Osvaldo Osvaldo Heler Heler –<br />

Universida<strong>de</strong><br />

Paraná<br />

Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Li<strong>de</strong>ranças Li<strong>de</strong>ranças convidadas convidadas dos dos 3<br />

3<br />

estados. estados.<br />

estados.<br />

Convidado:<br />

Convidado:<br />

Nelson Nelson Mota Mota – educador


11/10<br />

Quinta Feira<br />

Manhã e<br />

tar<strong>de</strong><br />

12/10<br />

Sexta Feira<br />

Manhã<br />

12/10<br />

Sexta Feira<br />

Tar<strong>de</strong><br />

13/10<br />

Sábado<br />

Manhã<br />

Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

08:30h – Organização no Campo<br />

Trajetória Histórica da <strong>Contag</strong> e das<br />

Fe<strong>de</strong>rações<br />

História <strong>de</strong> lutas das mulheres<br />

A construção do PADRSS: Projeto<br />

Alternativo <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural<br />

Sustentável Solidário<br />

08:30h – Diálogos Pedagógicos<br />

Pedagógicos<br />

Desafios e perspectiva para o MSTTR<br />

A relação entre Política Nacional <strong>de</strong><br />

Formação e a prática sindical:<br />

princípios e sujeitos<br />

14:00h – Diálogos Pedagógicos:<br />

Tempo Escola e Tempo Comunida<strong>de</strong><br />

08:30 – Avaliação e Sistematização<br />

13:00 – Encerramento<br />

Encerramento<br />

Compreen<strong>de</strong>r e refletir sobre a trajetória<br />

histórica da CONTAG e das fe<strong>de</strong>rações dos<br />

estados da região <strong>sul</strong><br />

Dialogar sobre a construção histórica do<br />

PADRSS<br />

Debater e refletir sobre os <strong>de</strong>safios e as<br />

perspectivas para o MSTTR a partir da<br />

reapropriação das questões suscitadas<br />

pela abordagem histórica e do atual<br />

contexto sócio-político.<br />

Refletir sobre a Política Nacional <strong>de</strong><br />

Formação do MSTTR e sua relação com a<br />

prática sindical na perspectiva da<br />

transformação política.<br />

Dialogar sobre a estratégia do tempo<br />

comunida<strong>de</strong> – discutir próximos passos<br />

Fazer avaliação do processo pedagógico<br />

vivenciado durante o módulo e sistematizar<br />

as principais questões apreendidas.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Manhã:<br />

Manhã:<br />

Exposição: Exposição: Manoel Manoel Santos Santos –<br />

Presi<strong>de</strong>nte da CONTAG<br />

Coor<strong>de</strong>nação: Coor<strong>de</strong>nação: Alberto Alberto Broch Broch<br />

Broch<br />

– Vice Presi<strong>de</strong>nte da<br />

CONTAG.<br />

Tar<strong>de</strong>: Tar<strong>de</strong>: Painel Painel com com as as<br />

as<br />

fe<strong>de</strong>rações: fe<strong>de</strong>rações: Eucli<strong>de</strong>s Eucli<strong>de</strong>s Dionísio<br />

Dionísio<br />

Canalle Canalle (SC), (SC), Sergio Sergio Miranda<br />

Miranda<br />

(RS), (RS), Maira Maira Botega Botega (RS) (RS) e<br />

e<br />

Augustinho Augustinho Bukowski Bukowski (PR)<br />

Equipe ENFOC<br />

Equipe ENFOC<br />

Equipes <strong>de</strong> Estudantes e<br />

equipe ENFOC


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

O O QUE QUE É É SER SER MULHER?<br />

MULHER?<br />

O O O QUE QUE É É SER SER SER HOMEM?<br />

HOMEM?<br />

Subsídios para uma discussão das relações <strong>de</strong> gênero<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Nalú Nalú Faria Faria e e Mir Miriam Mir iam Nobre Nobre<br />

Quando uma criança nos pergunta por que a Terra é redonda ou porque o<br />

céu é azul, temos duas saídas. Respon<strong>de</strong>r "porque sim" ou pensar, procurar uma reposta,<br />

que só vai provocar novas perguntas. Este texto é para quem prefere o segundo caminho.<br />

O que é ser mulher? O que é ser homem? Por que mulheres e homens vivem<br />

em condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>? Por que se diz que algumas coisas são <strong>de</strong> mulheres e<br />

outras <strong>de</strong> homens? Por que as mulheres são consi<strong>de</strong>radas inferiores e vivem situações <strong>de</strong><br />

injustiça por serem mulheres? On<strong>de</strong> é que isto tudo começa?<br />

A A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DESIGUALDADE DESIGUALDADE DE DE GÊNERO GÊNERO<br />

Vamos começar pelos bebês. As pessoas nascem bebê machos e fêmeas e<br />

são criadas e educadas conforme o que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine como próprio <strong>de</strong> homem e <strong>de</strong><br />

mulher. Os adultos educam as crianças marcando diferenças bem concretas entre<br />

meninas e meninos. A educação diferenciada dá bola e caminhãozinho para os meninos e<br />

boneca e fogãozinho para as meninas, exige formas diferentes <strong>de</strong> vestir, conta estórias<br />

em que os papéis dos personagens homens e mulheres são sempre muito diferentes.<br />

Outras diferenças aparecem <strong>de</strong> modo mais sutil, por aspectos menos visíveis, como atitu<strong>de</strong>s,<br />

jeito <strong>de</strong> falar, pela aproximação com o corpo.<br />

Educados assim, meninas e meninos adquirem características e atribuições<br />

correspon<strong>de</strong>ntes aos consi<strong>de</strong>rados papéis femininos e masculinos. As crianças são<br />

levadas a se i<strong>de</strong>ntificarem como mo<strong>de</strong>los do que é feminino e masculino para melhor<br />

<strong>de</strong>sempenharem os papéis correspon<strong>de</strong>ntes. Os atribuídos às mulheres não são só<br />

diferentes dos do homem, são também <strong>de</strong>svalorizados. Por isso, as mulheres vivem em<br />

condições <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> e subordinação em relação aos homens.<br />

Usamos as expressões i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero e relações <strong>de</strong> gênero para<br />

<strong>de</strong>ixar bem claro que as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre homens e mulheres são construídas pela<br />

socieda<strong>de</strong> e não <strong>de</strong>terminadas pela diferença biológica entre os sexos. Elas são uma<br />

construção social, não <strong>de</strong>terminada pelo sexo.<br />

Compreen<strong>de</strong>r essa construção social, não significa <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar que ela se<br />

dá em corpos sexuados. Compreen<strong>de</strong>mos que há uma estreita imbricação entre o social e<br />

o biológico. Como disse Guacira Lopes Louro, gênero também tem uma dimensão e uma<br />

expressão biológica. Assim, mulheres e homens imprimem no corpo, gestos, posturas e<br />

disposições, as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r vividas a partir das relações <strong>de</strong> gênero.<br />

Os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> feminino em nossa socieda<strong>de</strong> são criados a partir <strong>de</strong><br />

símbolos antagônicos: Eva e Maria, bruxa e fada, mãe e madrasta. Essas <strong>de</strong>finições


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

propõem o que é bom para as mulheres e culpam-nas quando não respon<strong>de</strong>m a esse<br />

padrão.<br />

A partir da consolidação do capitalismo, existe a idéia <strong>de</strong> que ocorre uma<br />

divisão entre as esferas pública e privada, sendo que a esfera privada é consi<strong>de</strong>rada como<br />

o lugar próprio das mulheres, do doméstico, da subjetivida<strong>de</strong>, do cuidado. A esfera pública<br />

é consi<strong>de</strong>rada como o espaço dos homens, dos iguais, da liberda<strong>de</strong>, do direito.<br />

Nessa compreensão, o papel feminino tradicional estabelece a maternida<strong>de</strong><br />

como principal atribuição das mulheres e, com isso também o cuidado da casa e dos<br />

filhos, a tarefa <strong>de</strong> guardiã do afeto e da moral na família. Ela é uma pessoa que <strong>de</strong>ve<br />

sentir-se realizada em casa. O homem típico é consi<strong>de</strong>rado o provedor, isto é, o que<br />

trabalha fora, traz o sustento da família, realiza-se fora <strong>de</strong> casa, no espaço público. Para<br />

uma mulher, ainda é consi<strong>de</strong>rado mais a<strong>de</strong>quado ser meiga, atenciosa, maternal, frágil,<br />

<strong>de</strong>ngosa, e do homem, o que ainda se espera, é que tenha força, iniciativa, objetivida<strong>de</strong>,<br />

racionalida<strong>de</strong>.<br />

Esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida, em que os homens trabalham fora e as mulheres só<br />

fazem o trabalho doméstico, nunca existiu, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sse jeito. Na realida<strong>de</strong>, só uma<br />

parcela muito pequena <strong>de</strong> mulheres vive essa situação.<br />

As mulheres negras, por exemplo, sempre trabalharam fora <strong>de</strong> casa, primeiro<br />

como escravas e <strong>de</strong>pois na prestação <strong>de</strong> serviços domésticos ou como ven<strong>de</strong>doras<br />

ambulantes, circulando por muitos espaços públicos. Para as mulheres camponesas, o<br />

que é chamado <strong>de</strong> cuidar da casa escon<strong>de</strong> o trabalho na roça, a produção <strong>de</strong> artesanato,<br />

o cultivo da horta e a criação <strong>de</strong> animais, trabalho que produz mercadorias, cuja venda<br />

contribui para o sustento da família. Além disso, nas cida<strong>de</strong>s, muitas mulheres vivem<br />

sozinhas com seus filhos e são as principais responsáveis por sua manutenção. E muitas,<br />

muitas outras trabalham fora e divi<strong>de</strong>m com o marido o sustento da casa.<br />

E por que ainda é tão forte a idéia <strong>de</strong> que mulher <strong>de</strong>ve seguir o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

mãe e dona-<strong>de</strong>-casa? E por que ainda é tão forte a idéia <strong>de</strong> que o trabalho fora <strong>de</strong> casa<br />

cabe apenas ao homem? A persistência nessas idéias tradicionais e nunca realizadas<br />

plenamente costuma ser justificada pela idéia <strong>de</strong> que esses papéis são naturais, isto é,<br />

homens e mulheres já nascem para ser <strong>de</strong>sse jeito. Dizemos que a naturalização é o<br />

principal mecanismo <strong>de</strong> justificativa <strong>de</strong>ssa situação.<br />

A naturalização dos papéis e das relações <strong>de</strong> gênero faz parte <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ologia que tenta fazer crer que esta realida<strong>de</strong> é fruto da biologia, <strong>de</strong> uma essência<br />

masculina e feminina, como se homens e mulheres já nascessem assim. Ora, o que é ser<br />

mulher e ser homem não é fruto da natureza, mas da forma como as pessoas vão<br />

apren<strong>de</strong>ndo a ser, em uma <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>, em um <strong>de</strong>terminado momento<br />

histórico. Por isso, <strong>de</strong>snaturalizar e explicar os mecanismos que conformam esses papéis<br />

é fundamental para compreen<strong>de</strong>r as relações entre homens e mulheres, e também seu<br />

papel na construção do conjunto das relações sociais.<br />

Se os papéis femininos e masculinos são uma construção histórica, as<br />

relações entre homens e mulheres que daí <strong>de</strong>correm também variam ao longo da história.<br />

A nossa geração sabe que essas relações sofreram profundas mudanças nos últimos<br />

trinta anos, em gran<strong>de</strong> parte como fruto da ação organizada das mulheres e do<br />

feminismo.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

O O nascimento nascimento dos dos sindicatos sindicatos rurais rurais e e o o sindicalismo sindicalismo comunista comunista no no Paraná Paraná<br />

1<br />

0svaldo 0svaldo Heller Heller Heller da da Silva<br />

Silva<br />

Introdução<br />

O surgimento <strong>de</strong> organizações <strong>de</strong> representação da população rural, envolvendo<br />

lutas sociais e candidatos a porta-vozes dos trabalhadores, ocorridos a partir do final dos<br />

anos 40 no estado do Paraná, é que se preten<strong>de</strong> aqui examinar. O estudo do momento <strong>de</strong><br />

constituição do movimento sindical no campo ganha relevância não só <strong>de</strong>vido à rara<br />

literatura existente sobre o tema, em função também do mito criado pelo sindicalismo<br />

oficial, que ignora e queria fazer ignorar este período inicial do sindicalismo, mas<br />

sobretudo graças às lições que po<strong>de</strong>m ser tiradas e talvez assim contribuir para a<br />

compreensão dos dilemas atuais vividos pelo sindicalismo.<br />

Com a ocupação rápida e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada da região <strong>de</strong> Porecatu, no norte do<br />

Paraná, um conflito em torno da posse da terra no final da década <strong>de</strong> 40 permitiu o início<br />

da implantação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no campo. Juntamente, <strong>de</strong>u-se a<br />

criação dos primeiros organismos <strong>de</strong> representação coletiva dos pequenos agricultores e<br />

trabalhadores rurais, as chamadas “ligas camponesas”. A partir do sufocamento da<br />

guerrilha <strong>de</strong> Porecatu pelas forças <strong>de</strong> repressão, os militantes comunistas remanescentes<br />

servirão <strong>de</strong> elo ao posterior <strong>de</strong>senvolvimento das “Uniões Gerais <strong>de</strong> Trabalhadores”,<br />

organismos <strong>de</strong> tipo sindical - arregimentando indistintamente grupos sociais rurais e<br />

urbanos. Apesar da feroz resistência dos patrões, o sucesso alcançado junto à população<br />

rural, particularmente colonos das fazendas <strong>de</strong> café, impôs o <strong>de</strong>smembramento <strong>de</strong>stas<br />

Uniões ecléticas e a constituição dos primeiros sindicatos especificamente agrícolas.<br />

Sempre sob a iniciativa dos comunistas, a proliferação sindical no campo e a<br />

formação da primeira geração <strong>de</strong> dirigentes sindicais rurais mexeu com interesses<br />

po<strong>de</strong>rosos, sobretudo das oligarquias rurais e da Igreja Católica. Esta última, com o apoio<br />

das primeiras, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> assim entrar na corrida pela sindicalização dos trabalhadores rurais,<br />

constituindo o seu próprio movimento sindical: a Frente Agrária Paranaense. Mas os<br />

comunistas vencerão este primeiro embate pela hegemonia da representação dos<br />

trabalhadores do campo. A região norte do estado constituiu-se, assim, no berço da<br />

1 Este texto é uma versão resumida <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> minha tese <strong>de</strong> doutorado intitulada "Communistes et<br />

anticommunistes : l'enjeu du syndicalisme agricole dans l'état du Paraná - <strong>de</strong> 1945 à la fin <strong>de</strong>s<br />

années 70", <strong>de</strong>fendida na École <strong>de</strong>s Hautes Étu<strong>de</strong>s en Sciences Sociales, Paris em 2 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1993. Ele foi publicado em: VILLALOBOS, Jorge(org). Geografia social e agricultura. Maringá,<br />

EUEM, 2000. As fontes utilizadas foram: entrevistas com aqueles que viveram os<br />

acontecimentos, jornais da época, documentos dos sindicatos e arquivo do DOPS do Paraná.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

organização sindical da população agrícola do Paraná. Entretanto, o golpe militar <strong>de</strong> abril<br />

<strong>de</strong> 1964 varrerá, <strong>de</strong>finitivamente, os a<strong>de</strong>ptos do PCB da paisagem rural.<br />

Em que pese a quase ausência <strong>de</strong> organização profissional, sindical e mesmo<br />

política no meio rural do estado, na virada dos anos 40 para os anos 50, ocorreu a<br />

formação <strong>de</strong> ligas camponesas. Entretanto, elas foram exceção. Sua aparição bem como o<br />

seu rápido <strong>de</strong>saparecimento por volta <strong>de</strong> 1951 –inesperado e pouco claro– <strong>de</strong>ixaram<br />

muitas questões em aberto. As evidências indicam que a repressão policial que se abateu<br />

sobre a guerrilha <strong>de</strong> Porecatu sufocou, ao mesmo tempo, estas ligas animadas pelo<br />

Partido Comunista Brasileiro. Assim, esta primeira tentativa comunista <strong>de</strong> mobilização da<br />

população rural no Paraná aparentemente foi interrompida.<br />

O aparato policial e militar havia cumprido seu objetivo: dispersão e<br />

<strong>de</strong>sarticulação dos camponeses rebel<strong>de</strong>s e aniquilamento das ligas. Todavia, o pesado<br />

dispositivo utilizados pelas forças <strong>de</strong> repressão não chegou a <strong>de</strong>smontar <strong>de</strong> fato a<br />

organização do PCB na região. Afora algumas perseguições, algumas <strong>de</strong>tenções e<br />

processos judiciais sem maiores conseqüências, a organização <strong>de</strong> base e as relações <strong>de</strong><br />

confiança junto a algumas camadas sociais pobres do campo e mesmo as ligações com<br />

círculos do po<strong>de</strong>r local foram preservadas. A máquina <strong>de</strong> repressão policial e o dis<strong>curso</strong><br />

radical anticomunista das elites não conseguiram – ou curiosamente não quiseram –<br />

<strong>de</strong>senraizar o <strong>de</strong>butante Partido Comunista no setentrião paranaense.<br />

Deste modo, sem <strong>de</strong>longas os militantes comunistas retomaram o trabalho <strong>de</strong><br />

implantação do “Partidão” entre as camadas menos favorecidas, nesta região ainda<br />

essencialmente rural. Progressivamente, recomeçou a distribuição <strong>de</strong> panfletos e jornais,<br />

a busca <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> trabalhadores do campo e as reuniões nas fazendas. Ora, não<br />

<strong>de</strong>morou para que esta efervescência social no meio rural provocasse preocupação,<br />

irritação e clara reação no seio das elites políticas, da gran<strong>de</strong> imprensa, das forças<br />

policiais e do clero.<br />

Não obstante, agora o PCB havia transformado suas táticas e sua estratégia<br />

política. O extremismo do Manifesto <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1950 (que propunha a luta armada), os<br />

guerrilheiros <strong>de</strong> Porecatu, as ligas camponesas, tudo isto pertencia ao passado. Agora,<br />

sua ação política pautava-se na conciliação e no legalismo. As antigas táticas radicais<br />

tinham sido esquecidas e enterradas.<br />

Neste momento, o PCB dizia que “o caráter semi-feudal e semi-escravista da<br />

socieda<strong>de</strong> brasileira” e “as tarefas não cumpridas da revolução burguesa” colocavam a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma “revolução <strong>de</strong>mocrático-popular, <strong>de</strong> natureza anti-imperialista e<br />

agrária anti-feudal”. De agora em diante, os gran<strong>de</strong>s inimigos eram o “imperialismo e o<br />

latifúndio. O partido não <strong>de</strong>via mais lutar contra a burguesia brasileira – dita “nacional”-<br />

esta não merecia mais ser vista como adversária. Stalin ensinava: “não convém<br />

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sobrecarregar a revolução com todas as tarefas <strong>de</strong> uma só vez”. Ao contrário, é melhor<br />

“concentrar o fogo sobre o inimigo mais forte”.<br />

Munidos <strong>de</strong>sta doutrina mais conciliadora e mo<strong>de</strong>rada em relação às elites<br />

“nacionais”, os comunistas batalhavam para construir organizações mais adaptadas à<br />

legislação existente, mais susceptíveis <strong>de</strong> serem assimiladas institucionalmente e<br />

legitimadas socialmente. No lugar dos bandos rebel<strong>de</strong>s e das ligas camponesas, foram<br />

propostos uniões e sindicatos. Primeiro foi a vez das “uniões gerais <strong>de</strong> trabalhadores”, em<br />

seguida vieram os “sindicatos <strong>de</strong> trabalhadores rurais”(entrevistas 1 e 2). A formação<br />

<strong>de</strong>stes organismos, sob o comando do PCB, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ará um movimento <strong>de</strong> reação dos<br />

grupos dominantes, contribuindo assim para a formação <strong>de</strong> uma novo campo <strong>de</strong> conflitos<br />

e lutas sociais. Porém, este processo <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> camponeses no Paraná continua<br />

ainda hoje muito pouco conhecido, só agora começam a aparecer pesquisas sobre este<br />

assunto.<br />

As primeiras organizações sindicais<br />

O fraco <strong>de</strong>senvolvimento da região não havia ainda permitido a criação <strong>de</strong><br />

organismos sindicais e profissionais no meio urbano. Este fator, aliado à ausência <strong>de</strong><br />

órgãos similares da população rural, provavelmente tenha conduzido o Partido Comunista<br />

a propor uma modalida<strong>de</strong> ampla <strong>de</strong> organização a todos os “trabalhadores”, sejam eles<br />

da cida<strong>de</strong> ou do campo. Assim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros anos da década <strong>de</strong> 50, começaram a<br />

se formar entida<strong>de</strong>s chamadas uniões gerais <strong>de</strong> trabalhadores (UGTs), que logo se<br />

espalharam por todo o norte do Paraná.<br />

Entre os seus associados, estes organismos contavam com citadinos como<br />

operários da construção civil e da indústria nascente, empregados do comércio,<br />

bancários, funcionários públicos e pequenos comerciantes. Mas sobretudo <strong>de</strong>les<br />

participavam pessoas da roça, como colonos, assalariados agrícolas, trabalhadores <strong>de</strong><br />

empreitada, parceiros, posseiros, pequenos arrendatários e proprietários. Em<br />

conseqüência, estas “uniões <strong>de</strong> trabalhadores” acolhiam sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

“trabalhadores” os mais variados tipos <strong>de</strong> empregados, <strong>de</strong> produtores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e<br />

também <strong>de</strong> pequenos empresários e patrões. Observa-se, portanto, que o termo<br />

“trabalhadores” era aqui utilizado num sentido bastante amplo, para não dizer elástico. A<br />

formação ainda incipiente dos grupos sociais seria o motivo principal da constituição<br />

<strong>de</strong>stes organismos tão heterogêneos. Aqueles que <strong>de</strong>sejassem “contribuir com serviço ou<br />

financeiramente” eram aceitos “na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sócio benemérito”. As UGTs se<br />

pretendiam isentas <strong>de</strong> caráter “político-partidário e religioso”(entrevista 3).<br />

Graças à sua vocação sindical, estas uniões se propunham a “<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

intransigentemente as reivindicações da classe operária”, com o objetivo “<strong>de</strong> melhorar<br />

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suas condições <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> educação; <strong>de</strong> promover<br />

assistência médica e hospitalar, assistência jurídica e o conhecimento da legislação do<br />

trabalho e da Constituição Fe<strong>de</strong>ral; <strong>de</strong> alertar os trabalhadores sobre os empregadores<br />

que não pagavam férias, horas extras e o <strong>de</strong>scanso semanal. A exigência do cumprimento<br />

da legislação existente estava muito presente neste princípio <strong>de</strong> sindicalismo rural.<br />

Para colocar em evidência o caráter “proletário” <strong>de</strong>stes organismos, o 1° <strong>de</strong> maio<br />

era a ocasião <strong>de</strong> comemorar “o dia do trabalhador”, “a jornada internacional dos<br />

trabalhadores”. Assim, em 1956, a UGT <strong>de</strong> Londrina organizou uma “concentração <strong>de</strong><br />

trabalhadores do campo”, na se<strong>de</strong> da União. Em seguida ocorreu um “encontro solene dos<br />

trabalhadores do campo e da cida<strong>de</strong>”, na Praça Primeiro <strong>de</strong> Maio, on<strong>de</strong> Manoel Jacinto,<br />

David Marujo, entre outros dirigentes sindicais, falaram sobre “a anistia ampla, os direitos<br />

dos trabalhadores do campo e o salário mínimo previsto em lei”. No final, uma passeata<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duas mil pessoas se dirigiu ao Cine Marabá para escutar os dis<strong>curso</strong>s <strong>de</strong><br />

Flávio Ribeiro e <strong>de</strong> Clarice Valença, chefes comunistas locais. No ano seguinte, no Cine<br />

Horizonte <strong>de</strong> Maringá, novas “ativida<strong>de</strong>s cívicas”, festivida<strong>de</strong>s e provas esportivas<br />

marcaram o Dia do Trabalhador.<br />

Em relação aos colonos das fazendas <strong>de</strong> café, reclamava-se “um pedaço <strong>de</strong> terra<br />

para plantar” e para “criar um porco, uma vaca”, assim como o direito <strong>de</strong> fazer culturas<br />

intercalares no cafezal. Para os assalariados agrícolas <strong>de</strong>mandava-se o pagamento<br />

regular e o salário mínimo. Um exemplo: A União interveio na fazenda Palmital, em<br />

Iretama, on<strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> trabalhadores viviam sob um “verda<strong>de</strong>iro sistema <strong>de</strong><br />

campo <strong>de</strong> concentração”. Até para ir ao banheiro eles tinham “a carabina apontada pra<br />

cabeça”. Não recebiam nada, e alguns foram mortos e enterrados no local. Por fim, as<br />

UGTs também promoviam ativida<strong>de</strong>s lúdicas para os seus associados, como bailes,<br />

futebol, corridas <strong>de</strong> bicicleta e à pé, con<strong>curso</strong>s <strong>de</strong> violão e <strong>de</strong> dança, e projeção <strong>de</strong><br />

filmes.(entrevista 3)<br />

A completa ausência <strong>de</strong> organismos <strong>de</strong> representação das classes sociais menos<br />

favorecidas é que permitiu aos militantes comunistas construírem estas “Uniões Gerais <strong>de</strong><br />

Trabalhadores”. Elas foram as primeiras entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tipo sindical na zona rural do<br />

Paraná, embora o caráter ainda rudimentar e singelo <strong>de</strong> sua organização.<br />

No aspecto jurídico, as UGTs se apresentavam como associações <strong>de</strong> direito civil,<br />

que tinham um simples registro em cartório. Portanto, formalmente elas não eram<br />

organismos sindicais, pois não tinham autorização do Ministério do Trabalho (entrevista<br />

3). A vocação sindical <strong>de</strong>stes órgãos <strong>de</strong>corria do seu papel social e não <strong>de</strong> sua forma<br />

institucional.<br />

Apesar da sua linguagem relativamente mo<strong>de</strong>rada e <strong>de</strong> suas ações “bem<br />

comportadas”, as “uniões gerais <strong>de</strong> trabalhadores” não ganharam a simpatia <strong>de</strong> todos,<br />

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suscitando até reações hostis. O assistencialismo e o legalismo eram as marcas principais<br />

da intervenção <strong>de</strong>stes organismos principiantes. Todavia, a simples <strong>de</strong>fesa das leis<br />

trabalhistas já era suficiente para inquietar setores do patronato, que se manifestavam na<br />

imprensa e nas câmaras municipais. Isto ocorreu com a União dos trabalhadores <strong>de</strong><br />

Maringá que, acusada <strong>de</strong> “comunista”, enfrentava dificulda<strong>de</strong>s em obter re<strong>curso</strong>s do<br />

governo municipal. E seus membros camponeses eram <strong>de</strong>finidos como “caipiras,<br />

ignorantes e bêbados”. A UGT se queixava <strong>de</strong> O Jornal: um “pasquim” que “combatia os<br />

trabalhadores e suas organizações” e “só <strong>de</strong>fendia aqueles que mais podiam pagar”. De<br />

fato, o dono do jornal havia solicitado ao DOPS do Paraná uma lista dos comunistas<br />

“infiltrados” na União. Por seu lado, a polícia local, sob pressão <strong>de</strong> seus superiores e das<br />

elites, também se inquietava. A polícia <strong>de</strong> Maringá pretendia fazer uma “batida total” na<br />

se<strong>de</strong> sindical. Em Campo Mourão, os policiais foram encarregados <strong>de</strong> obter da UGT “as<br />

informações necessárias sobre seus dirigentes e também <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s”.<br />

Assim como no conflito <strong>de</strong> Porecatu, Londrina mais uma vez teve o papel<br />

irradiador. Graças à iniciativa dos comunistas, a União Geral <strong>de</strong> Trabalhadores daquela<br />

cida<strong>de</strong> foi a primeira a ser fundada. José Rodrigues dos Santos - quadro do PCB na época -<br />

conta, no entanto, que esta UGT se limitava a ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer(entrevista 4).<br />

À moda <strong>de</strong> Londrina, em 8 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1956, Maringá cria sua União Geral <strong>de</strong><br />

Trabalhadores. José Rodrigues muda-se expressamente <strong>de</strong> Londrina para Maringá e torna-<br />

se o primeiro presi<strong>de</strong>nte da entida<strong>de</strong>. Prova <strong>de</strong> seu sucesso, 10 meses após, a UGT já<br />

contava 1.571 filiados. Por volta <strong>de</strong> 1957, sob o comando <strong>de</strong> Antônio Mendonça Con<strong>de</strong>,<br />

uma extensão da organização foi fundada na cida<strong>de</strong> vizinha <strong>de</strong> Mandaguari (entrevistas 5<br />

e 4).<br />

A União <strong>de</strong> Campo Mourão teve importância não <strong>de</strong>sprezível. Criada em 14 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1960, ela chegou a atingir “alguns milhares <strong>de</strong> membros”.(entrevista 3)<br />

Pouco a pouco, estes organismos ecléticos vão se espalhando pelo norte, mas<br />

igualmente em direção à região oeste do estado. É <strong>de</strong>ste modo que surgiram UGTs<br />

também em Cabirú, Nova Esperança, Paranavaí, Loanda, Goioerê, Querência do Norte e<br />

Cascavel (entrevista 3).<br />

O balanço que se po<strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>stas Uniões é positivo, concluiu Moacyr Ferraz, um<br />

<strong>de</strong> seus principais animadores. Graças ao largo campo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stas entida<strong>de</strong>s, os<br />

sindicalistas tiveram a chance <strong>de</strong> “tomarem consciência <strong>de</strong> vários problemas <strong>de</strong> muitas<br />

categorias profissionais”. Portanto, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> categorias sócio-profissionais e <strong>de</strong><br />

camadas sociais, mais que fonte <strong>de</strong> problemas, representava uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

interconhecimento. Com relação ao <strong>de</strong>senvolvimento regional, a UGT <strong>de</strong> Campo Mourão<br />

teve “um papel muito importante”, “tranqüilizando a população”, estabilizando “até um<br />

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certo ponto” a região. Os agricultores pu<strong>de</strong>ram plantar, colher seus produtos sem<br />

excessivas dificulda<strong>de</strong>s. Assim, o município po<strong>de</strong> “florescer e crescer”(entrevista 3).<br />

Na ausência <strong>de</strong> uma orientação nacional precisa do Partido Comunista, seus<br />

militantes locais eram obrigados – ou tinham a chance – <strong>de</strong> se virarem sozinhos. Estes<br />

momentos <strong>de</strong> autonomia e <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> dos militantes do Paraná é que permitiram o<br />

surgimento das UGTs. Também é verda<strong>de</strong> que, durante os anos 50, o Partido não possuía<br />

uma política clara voltada para o campo. Os comunistas dispunham somente <strong>de</strong> palavras-<br />

<strong>de</strong>-or<strong>de</strong>m gerais e genéricas como “criar associações, ligas, uniões, sindicatos e etc.”.<br />

Assim, tudo leva a crer que as “uniões gerais <strong>de</strong> trabalhadores” foram um fenômeno<br />

específico do Paraná, pois não observou-se mo<strong>de</strong>lo similar <strong>de</strong> organização em outras<br />

regiões do país.<br />

É preciso salientar ainda que, sob uma aparente homogeneida<strong>de</strong>, cada União<br />

tinha uma maneira singular <strong>de</strong> se inserir na socieda<strong>de</strong>, sujeita às pressões das forças<br />

políticas locais, <strong>de</strong> sua base social e das características <strong>de</strong> suas li<strong>de</strong>ranças.<br />

A título <strong>de</strong> exemplo e <strong>de</strong> maneira esquemática, comparemos as práticas das UGTs<br />

<strong>de</strong> Londrina, Maringá e Campo Mourão. Enquanto a primeira se consagrava<br />

essencialmente à diversão e ao congraçamento <strong>de</strong> seus associados, a segunda cobrava a<br />

aplicação das leis trabalhistas e a terceira se envolvia seguidamente em conflitos mais<br />

graves pela posse da terra. O presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sta última União se pronunciava contra as<br />

“posições radicais como a luta armada”, explicando que a sua “luta passava pela<br />

organização legal” dos camponeses, mas “não era legalista”. Este dis<strong>curso</strong> parece<br />

contraditório com relação às posições radicais efetivamente assumidas pela UGT <strong>de</strong><br />

Campo Mourão. Porém, é preciso assinalar, primeiro, que esta organização viveu o<br />

ambiente político do início dos anos 60, muito mais conflituoso do que nos anos<br />

prece<strong>de</strong>ntes; segundo, nos arredores <strong>de</strong> Campo Mourão a luta pela terra era mais<br />

acentuada que nas regiões mais ao norte do estado (entrevista 3). Portanto, da primeira à<br />

terceira entida<strong>de</strong>, é visível o crescimento do radicalismo das práticas políticas.<br />

Ao constituir estas organizações, o Partido Comunista reatava seus laços<br />

construídos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a guerrilha <strong>de</strong> Porecatu, com os camponeses e os trabalhadores rurais.<br />

Ao mesmo tempo, o Partido tentava estabelecer uma aproximação com outros grupos<br />

sociais oprimidos. Em que pese as limitações impostas pela clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> (o PCB era<br />

consi<strong>de</strong>rado ilegal), os comunistas buscavam se afirmar enquanto uma força emergente<br />

na política paranaense. A formação das “uniões gerais <strong>de</strong> trabalhadores”, <strong>de</strong>vido a sua<br />

composição social heterogênea, significava o início da construção <strong>de</strong> uma concepção<br />

política da expressão “trabalhadores”. Era a primeira vez que os comunistas utilizavam do<br />

conceito <strong>de</strong> “classe trabalhadora” <strong>de</strong> uma maneira mais sistemática, para <strong>de</strong>signar o<br />

conjunto dos grupos sociais <strong>de</strong>sfavorecidos, urbanos e rurais. Esta concepção genérica <strong>de</strong><br />

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“trabalhadores” não fazia ainda parte <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong>liberada. Porém, ao longo do<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do sindicalismo, a palavra “trabalhadores” ganhará uma<br />

conotação política globalizadora, primeiro através do dis<strong>curso</strong> do PCB, <strong>de</strong>pois será<br />

incorporada pelo governo, para em seguida “cair na boca do povo” se legitimando<br />

socialmente.<br />

Até o golpe militar <strong>de</strong> 1964, as UGTs provocarão todo o tipo <strong>de</strong> oposição: da<br />

repressão oficial dos militares à repressão oficiosa <strong>de</strong> grupos para-militares, da reação<br />

patronal à contra-ofensiva da Igreja. Algumas Uniões <strong>de</strong>sapareceram mesmo antes <strong>de</strong><br />

1964. A medida que sindicatos específicos eram criados nas diferentes categorias<br />

profissionais, estas categorias eram <strong>de</strong>sligadas da UGT. Assim, estes organismos sindicais<br />

polivalentes davam lugar, progressivamente, ao sindicalismo por ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Deste<br />

modo, seguindo as ligas camponesas, mas com uma postura menos radical, as “uniões<br />

gerais <strong>de</strong> trabalhadores” contribuíram para o enraizamento comunista no norte do Paraná,<br />

arregimentando os ‘trabalhadores” do campo e da cida<strong>de</strong>. Além disso, as UGTs permitiram<br />

a formação <strong>de</strong> um novo grupo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças comunistas – pós-Porecatu – dos quais uma<br />

parcela será <strong>de</strong> origem camponesa. Ao mesmo tempo, as Uniões irão constituir uma base<br />

sólida para a criação, em escala mais ampla, dos sindicato rurais.<br />

Os sindicatos comunistas no Paraná<br />

No Paraná, até meados dos anos 50, não existiam sindicatos <strong>de</strong> pequenos<br />

agricultores e <strong>de</strong> assalariados rurais. Entretanto, os problemas sociais no campo eram<br />

inúmeros: grilagem <strong>de</strong> terras, não observância das leis trabalhistas, <strong>de</strong>srespeito aos<br />

contratos <strong>de</strong> arrendatários e parceiros, violências <strong>de</strong> toda a sorte. Nas fazendas, imperava<br />

“realmente a escravidão”, dizia um sindicalista. O ambiente <strong>de</strong> insatisfação favorecia o<br />

“Partidão” que, pouco a pouco, via aumentada a sua audiência junto à população rural. Já<br />

em 1952, quando o médico Dirceu Galli a<strong>de</strong>riu ao partido em Maringá, este já “tinha se<br />

infiltrado no campo” <strong>de</strong> maneira consi<strong>de</strong>rável (entrevistas 6 e 5). Paralelamente, as<br />

“uniões gerais <strong>de</strong> trabalhadores” ganhavam importância. Isso, em reação aos ataques e à<br />

coação constante imposta pelos grupos dominantes ou diretamente pelos órgãos <strong>de</strong><br />

repressão.<br />

Contudo, as UGTs tornavam-se, progressivamente, muito pequenas e pouco ágeis<br />

para enfrentar ao leque <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas crescentes. Sem tardar, os militantes comunistas<br />

tiveram que <strong>de</strong>smembrar as “uniões <strong>de</strong> trabalhadores”. Segundo Gregório Parandiuc,<br />

antigo militante, o sindicato era uma necessida<strong>de</strong>:<br />

“Naquela época, tínhamos necessida<strong>de</strong> do sindicato, por que ... o cara pegava o<br />

trabalho, não tinha nenhum contrato ... era oral, isto trazia problemas”. (entrevista<br />

1)<br />

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Assim nasceram os primeiros sindicatos <strong>de</strong> lavradores e <strong>de</strong> trabalhadores<br />

agrícolas do estado do Paraná que, certamente, figuraram entre os primeiros sindicatos<br />

camponeses criados no Brasil. Eles darão impulso a uma formidável onda <strong>de</strong><br />

sindicalização que invadirá, no início dos anos 60, o meio agrícola brasileiro.<br />

Londrina e Maringá: os pre<strong>curso</strong>res<br />

Após os episódios <strong>de</strong> Porecatu, o PCB não tardou a retomar sua ativida<strong>de</strong> política<br />

na região, e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina manteve-se sempre estrategicamente como sua base <strong>de</strong><br />

comando. Aqui e acolá ocorreram algumas substituições <strong>de</strong> militantes comunistas, mas os<br />

lí<strong>de</strong>res da época do conflito, sediados em Londrina, como Newton Câmara, Manoel Jacinto<br />

e Flávio Ribeiro, permanecerão à frente do movimento <strong>de</strong> organização no campo.<br />

Nesta época, o PCB encorajava os assalariados das fazendas a lutar por uma<br />

remuneração em dinheiro, opondo-se ao “boró”, espécie <strong>de</strong> vale cunhado pelo fazen<strong>de</strong>iro,<br />

aceito unicamente <strong>de</strong>ntro daquela fazenda. O trabalhador não po<strong>de</strong>ndo, gastar o “boró”<br />

em outro lugar, via-se obrigado a fazer todas as suas compras no armazém do<br />

proprietário.<br />

Trabalhando na fazenda Eldorado, nos arredores <strong>de</strong> Londrina, José Rodrigues dos<br />

Santos estava na linha <strong>de</strong> frente do Partido na zona rural.<br />

“Em Eldorado nós já tínhamos feito um movimento ... uma greve contra o boró ...<br />

Os Esguario, eles utilizavam o boró ... Eles pagavam 10%, 20% ao pessoal, <strong>de</strong> 90<br />

em 90 dias, e todo o resto era em bônus. Então, nós começamos uma luta contra<br />

o boró ... nós cuidávamos <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> pés <strong>de</strong> café ... No dia do pagamento,<br />

eles só pagavam em boró ... Eu mobilizei as mulheres, não os homens! Eu reuni<br />

doze <strong>de</strong>las e <strong>de</strong>i um soco no balcão. Elas saltaram para trás do balcão, <strong>de</strong>ste jeito,<br />

e o senhor Raul foi obrigado a pagar em dinheiro. Um pouco em boró, um pouco<br />

em dinheiro. Um pouco <strong>de</strong> boró, um pouco <strong>de</strong> dinheiro.”(entrevista 4)<br />

Em seguida, José dos Santos mudou-se para a Fazenda Santa Helena, on<strong>de</strong> ele<br />

dirigiu uma outra mobilização:<br />

“Eu organizei um movimento ... por melhores condições <strong>de</strong> vida. Não <strong>de</strong>ixavam a<br />

gente plantar, cortavam as plantas ... melancia, abóbora, tomate, todas aquelas que<br />

cresciam no cafezal. O fazen<strong>de</strong>iro não <strong>de</strong>ixava ... Um dia, eu cheguei ... os colonos<br />

estavam reunidos para fazer uma limpeza, para cortar todas as coisas ... Eu era<br />

empreiteiro da fazenda ... Eu disse: ‘Aquele que não luta contra isso, contra esse absurdo<br />

... não é digno <strong>de</strong> ser pai <strong>de</strong> família’. ... Eu revolucionei o pessoal, o pessoal se agitava ...<br />

Então, dois colonos puxa-saco ... contaram (ao proprietário) ... À noite, ele foi à minha<br />

casa: ‘Você quer comandar a minha fazenda?! Promover a agitação?!’ ‘Não, a fazenda é<br />

sua, mais eu quero respeito’. Ele tentou me convencer que isto, a Reforma Agrária que eu<br />

pregava, que ela não ia dar certo, ... que não tinha resolvido nada no México, na China, na<br />

Rússia ... que eu me confundia ... Eu disse: “O.K., esta é a sua idéia, mas a minha é que a<br />

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idéia da Reforma Agrária é válida”. Eu me livrei ... e um dia eu pedi <strong>de</strong>missão.”(entrevista<br />

4)<br />

Todavia, em pouco tempo, <strong>de</strong>vido à coação dos fazen<strong>de</strong>iros, este militante se viu<br />

obrigado a <strong>de</strong>ixar o trabalho agrícola, e foi se estabelecer na cida<strong>de</strong>, em Londrina. Mas o<br />

campesinato permaneceu seu setor <strong>de</strong> atuação. Afim <strong>de</strong> não per<strong>de</strong>r o contato com a<br />

população rural, José Rodrigues percorria as fazendas, ven<strong>de</strong>ndo remédios, roupas,<br />

fazendo fotografias, distribuindo panfletos e jornais.(entrevista 4)<br />

A partir <strong>de</strong>ste trabalho político no campo, os comunista <strong>de</strong> Londrina <strong>de</strong>ram mais<br />

um passo para organizar os trabalhadores da agricultura. Desta vez, pretendia-se<br />

arregimentar estes trabalhadores em um organismo autônomo, <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

dos grupos sociais urbanos. Assim, em 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1956, no Cine Avenida, os<br />

militantes do PCB convocaram a população pobre do campo para a fundação do Sindicato<br />

dos Colonos e Assalariados Rurais <strong>de</strong> Londrina. Mais <strong>de</strong> dois mil trabalhadores<br />

respon<strong>de</strong>ram ao apelo. “Algumas pessoas ficaram do lado <strong>de</strong> fora”. Para a direção da<br />

entida<strong>de</strong> foram escolhidos: José Onofre Borges, para presi<strong>de</strong>nte; Val<strong>de</strong>vino Ma<strong>de</strong>ira, para<br />

secretário; Odilon Martina, para tesoureiro; Manoel Jacinto Corrêa, para presi<strong>de</strong>nte do<br />

conselho fiscal; Miguel Tostaresli e José Pereira da Costa, como membros do conselho<br />

fiscal. (entrevista 4)<br />

O Cine Marabá teve que ser alugado por oito meses para se<strong>de</strong>ar as reuniões,<br />

daquele que seria o primeiro sindicato <strong>de</strong> lavradores e assalariados rurais do Paraná (e o<br />

sexto do Brasil). Segundo a polícia, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina tornava-se o local <strong>de</strong> reuniões <strong>de</strong><br />

“colonos revoltados”, que recebiam “instruções para a luta <strong>de</strong> classes contra os patrões”.<br />

Em apenas 6 meses <strong>de</strong> existência do sindicato, atingiu-se a cifra extraordinária <strong>de</strong> 18 mil<br />

filiados. Ônibus lotados <strong>de</strong> colonos das fazendas <strong>de</strong> café chegavam ao sindicato. Filas <strong>de</strong><br />

200 a 300 pessoas se formavam para a<strong>de</strong>rir ao sindicato. 10 a 12 pessoas eram<br />

necessárias para fazer as filiações. Não havendo concorrentes, este sindicato logo<br />

extrapolou os limites <strong>de</strong> Londrina, transformando-se em sindicato agrícola <strong>de</strong> toda a<br />

região norte (entrevistas 4 e 5). As elites mais alarmistas falavam em 40.000<br />

trabalhadores sindicalizados:<br />

“Começa então uma loucura generalizada. Das terras dos municípios <strong>de</strong> Ibiporã,<br />

Sertanópolis, Bela Vista do Paraíso, Cambé, Rolândia, Arapongas, Apucarana,<br />

centenas <strong>de</strong> pessoas, diariamente, dirigiam-se à Londrina. São os colonos que<br />

querem filiar-se no ‘sindicato’”.<br />

Sem tardar, outros lugares seguiram o exemplo <strong>de</strong> Londrina. Neste momento,<br />

Maringá já dispunha <strong>de</strong> uma União Geral dos Trabalhadores. Os 100 km que a separam<br />

<strong>de</strong> Londrina foram percorridos rapidamente e o sindicalismo invadiu as fazendas e os<br />

sítios, os cafezais e os canaviais. Em poucos meses, o setor dos trabalhadores agrícola se<br />

separou da União. Assim, ainda no ano <strong>de</strong> 1956, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong><br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Maringá foi fundado, sendo o primeiro, <strong>de</strong> uma longa série, com esta <strong>de</strong>nominação. O<br />

conceito globalizador <strong>de</strong> “trabalhador”, já utilizado pelas UGTs, foi aqui retomado. Deste<br />

modo, a expressão “trabalhadores rurais” abrigava todas as camadas da socieda<strong>de</strong> rural,<br />

excluindo-se é claro os fazen<strong>de</strong>iros. Aos poucos, esta noção excessivamente abrangente<br />

<strong>de</strong> “trabalhador rural” foi se institucionalizando, tornando-se praticamente consensual,<br />

sendo incorporada ao vocabulário sindical e mesmo governamental.<br />

Uma reunião <strong>de</strong> aproximadamente 180 pessoas, no Cine Horizonte, formou uma<br />

comissão provisória para a direção do sindicato, tendo como presi<strong>de</strong>nte Chico - um<br />

assalariado agrícola. Contudo, neste momento o jovem sindicato agrícola <strong>de</strong> Maringá<br />

ainda estava vinculado à UGT, dividindo o mesmo teto. Durante 3 meses, a primeira<br />

diretoria, foi composta por Manoel Barreto, Zé Seguro, Gregório Parandiuc e Barbosa,<br />

li<strong>de</strong>rados por José Rodrigues dos Santos - <strong>de</strong>slocado <strong>de</strong> Londrina e até então presi<strong>de</strong>nte<br />

da UGT. (entrevistas 1, 2 e 4)<br />

Sob à direção do Partido Comunista, o sindicato nasceu graças à iniciativa <strong>de</strong><br />

Bonifácio Martins, um militante local e pequeno comerciante <strong>de</strong> vestuário. Apesar <strong>de</strong>sta<br />

obediência ao partido, a entida<strong>de</strong> se pretendia aberta em termos <strong>de</strong> religião e política.<br />

Embora não comparável ao caso <strong>de</strong> Londrina, o sindicato <strong>de</strong> Maringá passou por um<br />

crescimento bastante acentuado, logo contando com 4 mil sindicalizados, tornando-se<br />

em 1961 “a mais forte organização rural do Paraná”. (entrevista 7)<br />

O maior empreendimento do sindicalismo comunista em Maringá foi sem dúvida o<br />

Palácio Sindical. Tratava-se <strong>de</strong> um local para o encontro <strong>de</strong> sindicalistas, reuniões,<br />

eventos, produção cultural, discussão i<strong>de</strong>ológica e, sobre tudo, para a afirmação política<br />

frente aos adversários. Fundado em 1963, sob o comando <strong>de</strong> José Rodrigues, o Palácio<br />

era apoiado por “todos os sindicatos legalizados <strong>de</strong> Maringá” - “13 ou 12 organizações”.<br />

Entre estas contava-se os sindicato dos trabalhadores rurais, dos empregados do<br />

comércio, dos bancários, dos trabalhadores da construção civil, dos ensacadores e<br />

carregadores <strong>de</strong> café, dos metalúrgicos, a associação dos cabeleireiros e a associação<br />

das mulheres. Porém, no dia primeiro <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1964, os militares fecharam o Palácio<br />

dos sindicalistas, pondo fim ao sonho comunista <strong>de</strong> união sindical: “reunir, juntar todo o<br />

mundo, para começar a falar a mesma língua”. (entrevistas 7, 4 e 5)<br />

A proliferação dos sindicatos<br />

A onda <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> sindicatos que se iniciou em Londrina e Maringá logo<br />

alcançou outros municípios como Nova Fátima, Cornélio Procópio, Apucarana e Centenário<br />

do Sul. Afastado a apenas 50 km, o Sindicato dos Colonos e Assalariados Agrícolas <strong>de</strong><br />

Nova Fátima, conforme o nome indica, era praticamente uma extensão daquele <strong>de</strong><br />

Londrina. Sob a presidência <strong>de</strong> Manoel Carlos <strong>de</strong> Souza, a entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova Fátima<br />

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contava com Manoel Janjão Filho e Vítor Volpi para o trabalho <strong>de</strong> propaganda nas<br />

fazendas.<br />

Localizado na região que tinha sido atingida pela guerrilha <strong>de</strong> Porecatu, o<br />

Sindicato dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Centenário do Sul, fundado ainda em 1956,<br />

provavelmente seja uma herança do movimento <strong>de</strong> guerrilha. Contudo, esta organização<br />

não resistiu aos <strong>de</strong>safios da conjuntura e <strong>de</strong>sapareceu, para ressuscitar em 26 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 1963. Naquele dia, uma assembléia formal reuniu-se para solicitar o reconhecimento<br />

do sindicato pelo Ministério do Trabalho. Cerca <strong>de</strong> 90 pessoas aprovaram um estatuto<br />

para a entida<strong>de</strong> e elegeram uma diretoria provisória, integrada por: Regino Alves <strong>de</strong><br />

Almeida (presi<strong>de</strong>nte), Sebastião Júlio da Costa (secretário), Armando <strong>de</strong> Souza<br />

(tesoureiro), Juvenal <strong>de</strong> Oliveira, Joaquim Lopes Sobrinho e João Siqueira <strong>de</strong> Oliveira<br />

(membros do Conselho fiscal).<br />

Em 1961, chegou a vez do município <strong>de</strong> Mandaguari. Antônio Con<strong>de</strong>, então<br />

encarregado da UGT <strong>de</strong> Mandaguari e presi<strong>de</strong>nte do sindicato agrícola <strong>de</strong> Maringá, ce<strong>de</strong>u<br />

este posto a José Rodrigues, para ficar disponível para a fundação do Sindicato dos<br />

Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Mandaguari e tornar-se seu presi<strong>de</strong>nte (entrevista 54). Antônio<br />

Soares assumiu a secretaria da organização. O crescimento <strong>de</strong>sta entida<strong>de</strong> foi bastante<br />

peculiar. O padre da Igreja local - com <strong>de</strong> resto toda a Igreja Católica do Paraná daquela<br />

época - combatia abertamente os comunistas e seus sindicatos. Mas, em Mandaguari, a<br />

pregação católica não conseguiu <strong>de</strong>sencorajar a população e, até mesmo, acabou<br />

curiosamente estimulando a a<strong>de</strong>são dos adventistas ao sindicato.(entrevista 5)<br />

Em seguida, os sindicalizados do município <strong>de</strong> Jandaia do Sul, que antes estavam<br />

ligados ao sindicato <strong>de</strong> Mandaguari, separaram-se <strong>de</strong>ste e criaram sua própria<br />

organização, em 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1962: o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) <strong>de</strong><br />

Jandaia do Sul. No dia 11 <strong>de</strong> março do ano seguinte, Agenor Messias da Silva<br />

(presi<strong>de</strong>nte), José Sonni e João Soares Filho foram escolhidos para a primeira diretoria<br />

efetiva da entida<strong>de</strong>. Normalmente, a representação local do PTB <strong>de</strong>cidia sobre a<br />

composição da diretoria. Pouco a pouco, esta colaboração entre comunistas e trabalhistas<br />

irá se estreitar ainda mais. (entrevista 5)<br />

Portanto, o sindicato <strong>de</strong> Londrina fracionou-se dando origem ao <strong>de</strong> Maringá, que<br />

por sua vez levou à formação daquele <strong>de</strong> Mandaguari, este último re<strong>sul</strong>tou no sindicato<br />

<strong>de</strong> Jandaia do Sul... e assim por diante. Rapidamente, as organizações sindicais<br />

multiplicaram-se em todas as direções nestas terras rochas do norte do Paraná até atingir,<br />

segundo José dos Santos, a cifra <strong>de</strong> 86 sindicatos <strong>de</strong> agricultores e assalariados rurais<br />

fundados pelos comunistas, às vésperas do golpe militar em março <strong>de</strong> 1964. Além do<br />

sindicalismo agrícola, os militantes rurais do PCB também estimularam a criação <strong>de</strong> cerca<br />

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<strong>de</strong> 100 sindicatos <strong>de</strong> outras categorias <strong>de</strong> trabalhadores, especialmente urbanos.<br />

(entrevistas 8, 7, 4 e 3)<br />

O êxito do sindicalismo <strong>de</strong> inspiração comunista, no entanto, foi duramente<br />

criticado por seus adversários políticos, principalmente pela Igreja Católica. Apesar <strong>de</strong><br />

reconhecer a vitória dos comunistas na corrida pela sindicalização no Paraná, os cristãos<br />

os acusavam <strong>de</strong> terem se utilizado <strong>de</strong> métodos fraudulentos. Assim, segundo os católicos,<br />

para a fundação dos sindicatos, eles reuniam “20 ou 30 pessoas” que, às vezes, nem<br />

pertenciam à localida<strong>de</strong>. Eles criavam vários sindicatos <strong>de</strong> uma só vez: “agora eles estão<br />

em Jandaia, daqui há três horas estarão em Cambira” e assim por diante. Conta a Igreja<br />

que, das assinaturas coletadas durante a assembléia, “70% eram falsificadas”. Para uma<br />

reunião <strong>de</strong> 70 ou 80 pessoas, eles <strong>de</strong>claravam a presença <strong>de</strong> 700 participantes.<br />

(entrevistas 9, 10 e 11)<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> valorizar a sua organização, os sindicalistas do PCB<br />

informavam ao Ministério do Trabalho que esta continha: advogado, hospital, médicos,<br />

equipamentos <strong>de</strong> raios X, armazém <strong>de</strong> sementes, farmácia, ambulância e “mais mil<br />

coisas”. Na verda<strong>de</strong>, não dispunha <strong>de</strong> nada, nem mesmo “a sombra disto”. Portanto, aos<br />

olhos dos filhos <strong>de</strong> Deus, este órgão não passava <strong>de</strong> um “sindicato <strong>de</strong> malandros, não<br />

autêntico”. (entrevistas 9, 10 e 11)<br />

Sindicato <strong>de</strong> trabalhadores rurais, direção <strong>de</strong> pequenos proprietários<br />

A composição da base social <strong>de</strong>sta primeira geração <strong>de</strong> sindicatos rurais do<br />

Paraná mostrava-se muito parecida <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> para outra. De forma geral, estes<br />

organismos sindicais - apesar das diferentes <strong>de</strong>nominações - apresentavam-se como<br />

representantes <strong>de</strong> todos aqueles que viviam em sua região e se enquadravam na gran<strong>de</strong><br />

categoria dos “trabalhadores rurais”. Re<strong>sul</strong>tado: a base do sindicato era extremamente<br />

heterogênea, compreen<strong>de</strong>ndo ao mesmo tempo assalariados agrícolas <strong>de</strong> todos os tipos,<br />

posseiros, meeiros, pequenos arrendatários e pequenos proprietários. O que po<strong>de</strong>ria levar<br />

a pensar que as diretorias sindicais também fossem igualmente heterogêneas. Nada<br />

disso. Des<strong>de</strong> a sua criação, o sindicalismo rural do Paraná se apresentou composto por<br />

um corpo <strong>de</strong> sindicalizados diversificado sob uma direção, mais ou menos homogênea, <strong>de</strong><br />

pequenos proprietários <strong>de</strong> terra. Ou seja, uma organização com uma base heterogênea<br />

comandada - ou dominado - por um grupo <strong>de</strong> proprietários. Cena comum no norte do<br />

estado: enquanto o assalariado dava duro nos cafezais, seu representante sitiante<br />

<strong>de</strong>fendia “seus interesses” e “seus direitos” enfiado no sindicato dos “trabalhadores<br />

rurais”. Fato que, com algumas variações, se repete até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Em 1960, a base potencial do sindicalismo rural do norte do Paraná era<br />

constituída aproximadamente <strong>de</strong> 25 % <strong>de</strong> pequenos proprietários (<strong>de</strong> 0 a 50 ha), 0,6 % <strong>de</strong><br />

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posseiros, 4 % <strong>de</strong> meeiros, 9 % <strong>de</strong> arrendatários e 61 % <strong>de</strong> assalariados. Porém, esta<br />

composição nunca se reproduziu nas diretorias sindicais. A justificativa para isto era, <strong>de</strong><br />

um lado, que a proprieda<strong>de</strong> agrícola - ainda que pequena - funcionava como uma espécie<br />

<strong>de</strong> retaguarda, <strong>de</strong>ixando o sitiante mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, mais à vonta<strong>de</strong>, mais livre para as<br />

tarefas sindicais; por outro lado, estes pequenos proprietários seriam mais interessados e<br />

<strong>de</strong>dicados ao sindicalismo, graças as suas melhores condições econômicas e culturais.<br />

Vejamos o caso <strong>de</strong> Maringá:<br />

“o sindicato <strong>de</strong>colou, começou a sua caminhada... quando eu tomei a direção,<br />

porque eu tinha o apoio dos pequenos proprietários. Na diretoria, eu era o único<br />

assalariado. O resto era tudo proprietário .... nossa diretoria era uma diretoria <strong>de</strong><br />

pequenos proprietários. Isto fortaleceu, isto viabilizou ... e ... <strong>de</strong>u vida ao sindicato.<br />

Porque ele (o pequeno proprietário) não se <strong>de</strong>slocava. E tinha muito interesse em<br />

apren<strong>de</strong>r e nós tínhamos muitas coisas a ensinar... Ele tinha também interesse <strong>de</strong><br />

ensinar aos seus filhos”. (entrevistas 7 e 4)<br />

Mais do que uma distância econômica em relação ao restante dos trabalhadores<br />

rurais, estes dirigentes sindicais pertenciam a um grupo social específico, diferente do<br />

conjunto da maioria dos associados. Estas diferenças entre a condição social da base e a<br />

direção do movimento trazia consigo outras diferenciações importantes em termos dos<br />

interesses imediatos, das estratégias políticas ou mesmo dos projetos i<strong>de</strong>ológicos.<br />

Entretanto, estas diferenças sociais no seio do sindicato comunista não chegaram a ter<br />

tempo <strong>de</strong> colocar-se como um problema para este sindicalismo nascente. O golpe do<br />

1964 interrompeu o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas organizações.<br />

Sindicato rural, mo<strong>de</strong>lo urbano<br />

Quando este sindicalismo se instalou nas áreas rurais, os comunistas brasileiros<br />

não levaram suficientemente em conta as particularida<strong>de</strong>s do meio rural. Tudo indica que<br />

as peculiarida<strong>de</strong> do meio ambiente e as características próprias das camadas sociais do<br />

campo não estimularam uma discussão mais aprofundada, nem tomadas <strong>de</strong> posição<br />

específicas sobre o assunto <strong>de</strong>ntro do Partido. Assim, o PCB aplicou, sem modificações, a<br />

receita <strong>de</strong> sindicalismo que já vinham implantando há algum tempo nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s.<br />

Des<strong>de</strong> a sua constituição, estes sindicatos rurais foram marcados por características<br />

urbanas, quer na sua estrutura, nas suas ações, quer no seu programa político. Esta falta<br />

<strong>de</strong> inventivida<strong>de</strong>, inércia ou conservadorismo po<strong>de</strong>m ser atribuídos a um conjunto <strong>de</strong><br />

fatores. Antes <strong>de</strong> mais nada, o “Partidão” se pretendia her<strong>de</strong>iro da tradição marxista-<br />

leninista, on<strong>de</strong> a classe operária industrial <strong>de</strong>sempenharia o papel dirigente, no quadro <strong>de</strong><br />

uma “aliança operário-camponesa”. Daí <strong>de</strong>correm julgamentos <strong>de</strong>preciativos em relação<br />

aos camponeses, consi<strong>de</strong>rados como embrutecidos, ignorantes e ingênuos, como<br />

“batatas em um saco” (MARX em “O 18 Brumário”). Além disso, após a revolução do<br />

1930, vivia-se no país um ambiente político <strong>de</strong> sobrevalorização do urbano - o novo, o<br />

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mo<strong>de</strong>rno, o cosmopolita, o progressista – em <strong>de</strong>trimento do rural. Outro fator é que a<br />

maioria dos dirigentes do Partido no Paraná, como nos outro estados, era <strong>de</strong> citadinos.<br />

Por fim, é bom lembrar que este sindicalismo rural nasceu das “uniões gerais dos<br />

trabalhadores”, que eram ecléticas e urbanas. Imitá-las, portanto, parecia “natural”,<br />

“lógico”, quase que obrigatório.<br />

Assim, estes sindicatos “rurais” apresentavam uma estruturação interna, os<br />

postos <strong>de</strong> direção, a divisão das tarefas, os mecanismos <strong>de</strong> representação, <strong>de</strong> eleição, <strong>de</strong><br />

con<strong>sul</strong>ta dos associados semelhante ao movimento operário. Mais à frente, estes traços<br />

urbanos serão reforçadas pela intervenção do Governo, que imporá uma estrutura sindical<br />

segundo o mesmo mo<strong>de</strong>lo.<br />

As datas “históricas” do proletariado industrial eram sempre motivo para<br />

comemoração no sindicalismo rural. O calendário do movimento operário era utilizado<br />

como referência obrigatória. Assim, a partir <strong>de</strong> 1956, em coerência com suas “origens<br />

proletárias”, os jovens sindicatos <strong>de</strong> Londrina e Maringá participavam nas festas do<br />

Primeiro <strong>de</strong> Maio. Originadas pelas mesmas práticas sindicais citadinas, as greves eram<br />

propostas - e às vezes seguidas - nas áreas rurais: greves localizadas nas fazendas, como<br />

aquelas que ocorreram nas proprieda<strong>de</strong>s da família Moreste (Mandaguaçu, 1963), contra<br />

o atraso <strong>de</strong> cinco meses nos pagamentos; greves <strong>de</strong> longa duração como na fazenda São<br />

José, dos irmãos Moreschi - “latifundiário, os mais terríveis da região” - (Maringá, em<br />

1963), que durou mais <strong>de</strong> 50 dias; greves gerais, como aquela organizada em 1957, por<br />

ocasião da colheita do café. (entrevista 5)<br />

Nos anos 50, apesar da sua <strong>de</strong>terminação em se implantar no meio agrícola, o<br />

“Partidão” ainda continuava sendo essencialmente um partido urbano e fracamente<br />

enraizado nas “massas populares”. Em 1953, segundo a opinião cáustica do jornal<br />

conservador francês “Le Figaro”, o comunismo brasileiro não passava <strong>de</strong> um “comunismo<br />

<strong>de</strong> colarinho branco” e seus militantes seriam “revolucionários <strong>de</strong> salão”. Nas reuniões do<br />

PCB, alguns dirigentes do Paraná reconheciam que o Partido visitava os bairros populares<br />

somente “em dia <strong>de</strong> eleição”. Segundo os militantes, em Maringá, o partido “era só <strong>de</strong><br />

cúpula” e, em Londrina, haviam “9 pequeno-burgueses para cada operário”. Em<br />

conseqüência, o Partido sequer distinguia seus militantes rurais dos não-rurais. Na falta<br />

<strong>de</strong> efetivos <strong>de</strong> origem camponesa, freqüentemente quadros <strong>de</strong> classe média urbana<br />

chefiavam ativistas do campo. Em Maringá, os médicos Salim Haddad e Dirceu Galli<br />

participavam das reuniões públicas do sindicato dos “trabalhadores rurais”. Em Londrina,<br />

o também médico Newton Câmara <strong>de</strong>sempenhava um papel parecido. Muitas vezes, as<br />

assembléias <strong>de</strong> fundação dos sindicatos eram dirigidas por citadinos, este foi o caso <strong>de</strong><br />

Centenário do Sul (entrevistas 7 e 10). Esta prática paternalista do urbano mais à vonta<strong>de</strong><br />

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frente ao rural tido como menos preparado, marcará significativamente o sindicalismo<br />

brasileiro até hoje.<br />

O assistencialismo<br />

Des<strong>de</strong> o seu nascimento, o sindicalismo rural brasileiro dará muita atenção à<br />

prestação <strong>de</strong> serviços para os filiados, <strong>de</strong> vários tipos, entre os quais mereceu uma<br />

posição <strong>de</strong> relevo a assistência à saú<strong>de</strong>. O “assistencialismo”, espécie <strong>de</strong> benevolência<br />

sindical, será a marca registrado dos sindicatos pós-64. A falta <strong>de</strong> uma estrutura estatal<br />

<strong>de</strong> segurida<strong>de</strong> social, a ausência <strong>de</strong> uma responsabilida<strong>de</strong> formal neste sentido por parte<br />

dos empregadores, aliada ao precário po<strong>de</strong>r aquisitivo dos lavradores, re<strong>sul</strong>taram num<br />

acesso difícil – para muitos, impossível – aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (médicos, hospitais,<br />

ambulatórios e <strong>de</strong>ntistas). A tal ponto que a ampliação da segurida<strong>de</strong> social para o<br />

pessoal da agricultura constituiu uma das primeiras reivindicações do recém-nascido<br />

sindicalismo. Na ausência <strong>de</strong> uma resposta positiva, em pouco tempo o sindicato tratou,<br />

ele mesmo, <strong>de</strong> preencher esta lacuna. Talvez isto não passasse <strong>de</strong> uma medida<br />

temporária, mas logo se revelou um excelente meio para atrair agricultores e assalariados<br />

para o sindicalismo. Assim, para além da “luta reivindicativa”, gabinetes médicos e<br />

odontológicos foram instalados nos sindicatos; foram assinados convênios com hospitais,<br />

médicos e <strong>de</strong>ntistas. Em Maringá, pelo menos três médicos, Dirceu Galli, Salim Haddad e<br />

Osvaldo Alves, trabalhavam para o sindicato. Dirceu Galli conta que oferecia con<strong>sul</strong>tas,<br />

cuidava dos doentes, assistia a partos: “a minha clínica já era um órgão do sindicato .. e<br />

tudo era gratuito”. Da mesma forma, o médico Salim “assistia às pessoas que<br />

precisavam”, “os agricultores”, na sua clínica. Até 1964, o sindicato <strong>de</strong> Maringá tinha<br />

patrocinado em torno <strong>de</strong> 1800 con<strong>sul</strong>tas médicas para os filiados (entrevistas 7 e 6). Os<br />

sindicatos comunistas foram, portanto, os iniciadores <strong>de</strong>stas práticas assistenciais. Dez<br />

anos <strong>de</strong>pois, esta ativida<strong>de</strong> ganhará em importância, chegando a transformar as<br />

organizações sindicais em meros escritórios <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços para os associados.<br />

Os congressos camponeses do Paraná<br />

A partir <strong>de</strong> 1960, numa <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> força política, o sindicalismo rural<br />

comunista preparou reuniões <strong>de</strong> âmbito estadual. Ora, pela primeira vez se promoviam<br />

encontros – contando com a participação efetiva <strong>de</strong> lavradores e <strong>de</strong> trabalhadores rurais<br />

oriundos <strong>de</strong> diferentes pontos do Paraná - com o objetivo <strong>de</strong> discutir assuntos <strong>de</strong> seu<br />

interesse. Desta forma, foram organizados dois “congressos dos trabalhadores rurais”,<br />

primeiro em Londrina e em seguida em Maringá. (entrevista 5)<br />

De 5 a 7 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1960, o Sindicato dos Colonos e Assalariados Agrícolas <strong>de</strong><br />

Londrina - com a colaboração <strong>de</strong> Maringá – realizou aquele que ficou conhecido como o<br />

“Primeiro Congresso dos Trabalhadores Rurais do Paraná”. “Um dos maiores eventos na<br />

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vida sindical e rural” do Brasil - segundo um dos organizadores -, o conclave reuniu 307<br />

“trabalhadores rurais” inscritos, representando os assalariados, os meeiros, os<br />

trabalhadores <strong>de</strong> empreitada e os posseiros <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200 fazendas do estado. Entre os<br />

convidados estavam presentes “algumas autorida<strong>de</strong>s” e “alguns camponeses <strong>de</strong><br />

Pernambuco das famosas ligas camponesas”, entre os quais seu número um, Francisco<br />

Julião em pessoa, símbolo indiscutível da relevância da reunião. (entrevistas 4 e 5)<br />

Divididos em cinco comissões, os congressistas <strong>de</strong>bateram sobre: o “regime<br />

feudal”, que grassava nas áreas rurais; salário mínimo; férias; aviso prévio em caso <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>missão; <strong>de</strong>scanso semanal remunerado; ausência <strong>de</strong> uma legislação trabalhista<br />

completa e a<strong>de</strong>quada à vida rural; direito à previdência social. Eles <strong>de</strong>mandavam o acesso<br />

ao crédito para os agricultores sem terra, o <strong>de</strong>senvolvimento da indústria <strong>de</strong> tratores e <strong>de</strong><br />

implementos agrícolas, preço mínimo para seus produtos, reforma agrária e o<br />

reconhecimento dos sindicatos por parte do Ministério do Trabalho. Nessa época, nenhum<br />

sindicato rural do Paraná havia sido legalizado pelo Governo. Fato revelador da obediência<br />

às diretrizes comunista, foram incluídas reivindicações patrióticas como: uma política<br />

nacionalista, dinâmica e <strong>de</strong>senvolvimentista, visando libertar o país do “imperialismo<br />

internacional e escravista” e a <strong>de</strong>fesa da Petrobrás, da Eletrobrás e das riquezas minerais.<br />

Em resumo, segundo um porta-voz comunista, “a consciência e o valor da classe<br />

camponesa” foram reafirmados.<br />

O “Segundo Congresso dos Lavradores e dos Trabalhadores Rurais do Paraná”<br />

ocorreu em Maringá, <strong>de</strong> 12 a 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961. Mais <strong>de</strong> dois mil <strong>de</strong>legados eleitos<br />

estavam presentes.(entrevistas 1, 4, 5 e 10 )<br />

Entre os convidados, participaram o senador Nelson Maculano, os <strong>de</strong>putados<br />

fe<strong>de</strong>rais Josué <strong>de</strong> Castro e José Silveira, os <strong>de</strong>putados estaduais Leo <strong>de</strong> Almeida Neves,<br />

Amaury <strong>de</strong> Oliveira e Silva e Val<strong>de</strong>mar Daros, o presi<strong>de</strong>nte da Associação dos Produtores<br />

<strong>de</strong> Café do Paraná (Roberto Celidônio), o juiz <strong>de</strong> Maringá, o presi<strong>de</strong>nte da União dos<br />

Estudantes do Paraná e representantes <strong>de</strong> “todos os sindicatos” do estado, da ULTAB, do<br />

PSB (general Agostinho Pereira), do Conselho Municipal <strong>de</strong> Maringá (Arion Ribeiro <strong>de</strong><br />

Campos), da “quase totalida<strong>de</strong>” da imprensa e inclusive da ONU. A presença <strong>de</strong>les era um<br />

indicador <strong>de</strong> que o sindicalismo rural <strong>de</strong> orientação comunista estava, enfim,<br />

conquistando um lugar no jogo político institucional. Em particular, a participação do<br />

Nestor Duarte, representando o Presi<strong>de</strong>nte da República, <strong>de</strong>monstrava as mudanças –<br />

sem dúvida favoráveis - nas relações entre o Governo Fe<strong>de</strong>ral e os sindicatos. Sinal<br />

revelador <strong>de</strong> uma política um pouco mais tolerante em relação à esquerda, o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Jânio Quadros tinha, recentemente, reatado as relações diplomáticas com a União<br />

Soviética e os “países satélites”. Medida aplaudida, na ocasião, pelo PCB. (entrevistas 1, 4<br />

e 5)<br />

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A presença da figura emblemática <strong>de</strong> Francisco Julião revelava a busca <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do movimento camponês (entrevista 6). Enfim, o congresso, sob a<br />

presidência <strong>de</strong> Nestor Vera - dirigente nacional comunista - <strong>de</strong>monstrava que o PCB do<br />

Norte do Paraná não se constituía em um braço autônoma do partido, o comando do<br />

Comitê Central se fazia presente, em que pese as fricções e as divergências com os<br />

paranaenses.<br />

O diagnóstico elaborado pelo Congresso não se mostrava otimista: um Paraná<br />

on<strong>de</strong> o latifúndio dominava ¾ da superfície e on<strong>de</strong> 80 % dos camponeses não possuíam<br />

terra, era um “barril <strong>de</strong> pólvora”, sobretudo na região norte. O <strong>de</strong>putado Julião tentava dar<br />

um tom mais radical ao evento. Segundo o chefe das ligas do nor<strong>de</strong>ste, “o caminho do<br />

Brasil é o caminho <strong>de</strong> Cuba”:<br />

“Acredito que nosso lema <strong>de</strong>va ser: “Reforma Agrária ou revolução!”... Para as<br />

forças reacionárias que infestam o país, é melhor per<strong>de</strong>r um pouco hoje, do que<br />

per<strong>de</strong>r tudo no futuro”. (entrevistas 4 e 5)<br />

Todavia, para além da exigência <strong>de</strong> uma “reforma agrária radical capaz <strong>de</strong><br />

eliminar o monopólio das terras”, o Congresso cobrava mudanças nas relações <strong>de</strong><br />

trabalho como salário mínimo, <strong>de</strong>scanso semanal e férias pagas.<br />

Entretanto, este teria sido apenas mais um congresso camponês, não fosse o<br />

conflito ocorrido com os fieis da Igreja Católica, o que lhe conferiu um caráter espetacular.<br />

Mas, como por ironia da história - na verda<strong>de</strong> expressando uma nova relação <strong>de</strong> forças<br />

política – o evento promovido pelos comunistas só po<strong>de</strong> ocorrer graças à ajuda<br />

provi<strong>de</strong>ncial da polícia militar, sob as or<strong>de</strong>ns do Governo Fe<strong>de</strong>ral. Apesar das pressões<br />

feitas pela Igreja, o Presi<strong>de</strong>nte da República apoiou o Congresso:<br />

“Jânio Quadros nos <strong>de</strong>u um gran<strong>de</strong> apoio .... Jânio manteve uma posição correta<br />

... Sem isso, nós não teríamos podido realizado o congresso! Nos teriam massacrado ....<br />

Nós conseguimos colocar a polícia do nosso lado ... contra os padres .... Não tivemos uma<br />

carnificina graças ao Presi<strong>de</strong>nte da República”. (entrevistas 1, 4, 5 e 3)<br />

Assim, contra a vonta<strong>de</strong> dos “servos <strong>de</strong> Deus” e apoiada pelas forças <strong>de</strong><br />

repressão, a reunião conseguiu chegar ao seu final. Este Congresso representava um<br />

momento importante do sindicalismo <strong>de</strong> tendência comunista: <strong>de</strong> afirmação em relação<br />

aos adversários políticos; e <strong>de</strong> afirmação dos militantes do PCB como porta-voz dos<br />

lavradores e dos assalariados agrícolas presentes. Por extensão, eles pretendiam tornar-<br />

se também representantes dos que ali não estavam, quer dizer, do conjunto do<br />

campesinato paranaense. Mais do que um espaço <strong>de</strong> reflexão, <strong>de</strong> elaboração e <strong>de</strong> tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões políticas, este congresso funcionava como lugar <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> energias,<br />

espécie <strong>de</strong> bateria política. Olhando-se cara a cara, escutando-se uns aos outro,<br />

encontrando aqueles que os ouviam e os aplaudiam, os sindicalistas saíam do<br />

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isolamento. Momento mágico, a “classe” sonhada e representada tornava-se concreta,<br />

visível e audível. A possibilida<strong>de</strong> igualmente <strong>de</strong> entrar em contato direto com seus “ídolos”<br />

políticos transformava esses militantes verda<strong>de</strong>iros fãs. Atribuindo às li<strong>de</strong>ranças todas as<br />

qualida<strong>de</strong>s que lhes faltavam, esses militantes imaginavam preencher suas carências<br />

políticas. Desta forma, podiam voltar para suas casas mais confiantes, mais seguros <strong>de</strong> si,<br />

mais confiantes <strong>de</strong> sua missão e <strong>de</strong> sua boa causa.<br />

A Fe<strong>de</strong>ração sindical dos comunistas<br />

Os sindicalistas do “Partidão” tinham pressa. Em pouco tempo eles sentiram o<br />

concorrência <strong>de</strong> outras forças políticas – notadamente dos católicos -, também <strong>de</strong>sejosos<br />

<strong>de</strong> comandar o campesinato. O PCB, então, elaborou um plano para fundar sindicatos “em<br />

todos os municípios, antes da Igreja”. Ora, este impulso na sindicalização, somado aos<br />

congressos estaduais permitiram mais um passo rumo à hegemonia no sindicalismo rural:<br />

a fundação da Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores da Lavoura do Estado do Paraná, no primeiro<br />

semestre do 1963. Mais uma vez, tratava-se <strong>de</strong> uma iniciativa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos<br />

militantes do norte do estado: “isto foi por nossa conta. Depois <strong>de</strong> ter fundado, nós<br />

comunicamos e eles (a direção do PCB) acharam que estava certo”.(entrevista 5)<br />

A fundação foi simples, discreta e um pouco precipitada. Um pequeno anúncio<br />

nos jornais da capital informava do evento. Em Maringá, uma mo<strong>de</strong>sta reunião <strong>de</strong><br />

presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> apenas 8 sindicatos do norte do estado <strong>de</strong>cidiu, então, criar a fe<strong>de</strong>ração<br />

sindical, votando seu estatuto e elegendo sua diretoria: Antônio Mendonça Con<strong>de</strong>,<br />

presi<strong>de</strong>nte; José Rodrigues dos Santos, secretário e Arlindo Pereira da Silva, tesoureiro.<br />

Em seguida, no dia 20 <strong>de</strong> julho do mesmo ano, aquela que foi, segundo José dos Santos,<br />

“a primeira fe<strong>de</strong>ração dos trabalhadores rurais do Brasil” recebia sua carta<br />

sindical.(entrevistas 4 e 5)<br />

Porém, a disputa não se limitava a uma concorrência para constituir sindicatos<br />

aqui e acolá. O objetivo final da corrida pela sindicalização estava na conquista da<br />

confe<strong>de</strong>ração nacional: “a necessida<strong>de</strong>, a urgência da fe<strong>de</strong>ração tinha a ver com a<br />

fundação da confe<strong>de</strong>ração... para fazer número”. Assim, era preciso apressar-se, ter o<br />

controle <strong>de</strong> muitas fe<strong>de</strong>rações estaduais, reconhecidas pelo Ministério do Trabalho, afim<br />

<strong>de</strong> segurar a maioria dos votos no congresso <strong>de</strong> constituição da confe<strong>de</strong>ração. Então, a<br />

razão principal pela criação da Fe<strong>de</strong>ração do Paraná – <strong>de</strong> resto, parecido com o que<br />

acontecia em outros estados - não era o interesse local ou regional. O verda<strong>de</strong>iro o<br />

objetivo maior era o controle do sindicalismo rural em termos nacionais.<br />

No entanto, esta Fe<strong>de</strong>ração, que no plano nacional era muito mais um<br />

instrumento político, não teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estruturar-se e <strong>de</strong> estabelecer-se<br />

realmente. O tempo lhe fez falta - o golpe militar abortou todas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação.<br />

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Os limitados esforços voluntaristas do presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração que, ven<strong>de</strong>u seu sítio,<br />

mudou-se para Curitiba e montou uma mo<strong>de</strong>sta se<strong>de</strong> na rua José Loureiro, 133, 17 o<br />

andar, revelaram-se insuficientes. Ele chegou a organizar, em nome da entida<strong>de</strong>, algumas<br />

reuniões sindicais, como o “1 o Encontro dos Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores na Lavoura do<br />

Paraná”, em Apucarana; promoveu a fundação <strong>de</strong> alguns sindicatos; participou <strong>de</strong><br />

algumas reuniões com empregadores, como a que teve lugar na Câmara Municipal <strong>de</strong><br />

Londrina. Mas estas ativida<strong>de</strong>s no interior o impediam <strong>de</strong> ficar na se<strong>de</strong>. Deste modo,<br />

antes do 1964, a Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores na Lavoura do Estado do Paraná era<br />

quase sinônimo <strong>de</strong> Antônio Con<strong>de</strong>, ele era a personalização da organização. Testemunho<br />

da insipiência <strong>de</strong>ste órgão, Gregório Parandiuc e Salim Haddad, ex-militantes comunistas<br />

<strong>de</strong> Maringá, hoje nem se lembram mais da existência da Fe<strong>de</strong>ração.(entrevistas 1, 7 e 5)<br />

O papel dos advogados<br />

No sindicalismo brasileiro, sempre existiu um personagem, às vezes enigmático,<br />

às vezes carismático, geralmente nos bastidores, mas sem dúvida central: o advogado. O<br />

mito do “doutor”, do “intelectual”, do “homem que conhece e faz cumprir a lei”, que<br />

“enfrenta os patrões”, o “intocável”, ou até “o profeta”, foi essencial tanto na constituição<br />

quanto no cotidiano do movimento sindical. Lembremo-nos da figura do advogado<br />

Francisco Julião do nor<strong>de</strong>ste do país, bem em evidência naquela época. Assim, a<br />

assistência jurídica tem sido um traço fundamental do sindicalismo brasileiro. Todos os<br />

sindicatos, inclusive os mais mo<strong>de</strong>stos, ofereciam - e ainda oferecem - a seus filiados os<br />

serviços <strong>de</strong> assessoria jurídica, seja por meio <strong>de</strong> advogado(s) da própria organização<br />

sindical, seja <strong>de</strong> um profissional in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Em geral, o “jurídico” não passava <strong>de</strong> um<br />

pretexto para transformar o bacharel em mentor intelectual, em conselheiro ou até<br />

mesmo em direção política. Deve-se atribuir este fenômeno por um lado, ao surgimento <strong>de</strong><br />

um novo e promissor filão <strong>de</strong> atuação para os advogados, abrindo novas perspectivas<br />

profissionais, econômicas e, no limite, políticas (entrevista 7). Por outro lado, às<br />

<strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> escolarização e <strong>de</strong> preparo político, por parte daqueles oriundos do povo<br />

do campo, principalmente no início da campanha <strong>de</strong> sindicalização.<br />

Não fugindo à regra, a partir das primeiras manifestações do sindicalismo rural no<br />

Paraná, um lugar importante foi reservado aos advogados, em particular àqueles que<br />

tinham ligações com o “Partidão”. Seus escritórios serviram, ao mesmo tempo, como polo<br />

<strong>de</strong> atração das camadas sociais dominadas, como local difusor das propostas comunistas<br />

e como organizador da militância. Em Londrina, no centro <strong>de</strong>ste trabalho político estava<br />

Flávio Ribeiro, advogado especialista em direito trabalhista, tendo adquirido experiência<br />

na época da guerra <strong>de</strong> Porecatu. Ele era “o advogado dos camponeses”, o homem que<br />

lidava com “a <strong>de</strong>fesa do trabalhador”, se apoiando na Consolidação das Leis do Trabalho<br />

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e no Código Civil. A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Flávio Ribeiro incluía o recebimento daqueles que<br />

chegavam das zonas rurais, mas também envolvia incursões suas no campo, promovendo<br />

encontros entre colonos e assalariados nas fazendas <strong>de</strong> café.<br />

A área <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> Flávio Ribeiro, que contava com um grupo <strong>de</strong> auxiliares,<br />

cobria vários municípios nos arredores <strong>de</strong> Londrina. Exemplo disto, Nova Fátima, on<strong>de</strong> os<br />

advogados Jairo Regis e Raul Santos, “ostensivamente dirigiam o movimento” do sindicato<br />

local.<br />

Outros bacharéis labutaram em favor da “causa dos trabalhadores” e escolheram<br />

como seus redutos outros municípios: Jorge Haddad em Maringá e Mandaguari; Newton<br />

Pereira em Campo Mourão; Osny Rebelo e Manoel Silva em Porecatu; Manoel Alberto <strong>de</strong><br />

Azevedo Coelho em Jandaia do Sul; e Joaquim Monteiro da Nobrega em Nova Esperança.<br />

Ainda que o indivíduo não fosse diplomado em direito, mas o simples fato <strong>de</strong> dominar o<br />

“jurídico” lhe abria muitas portas, era o mais importante. O contador Bonifácio Martins era<br />

muito valorizado por seus camaradas comunistas maringaenses, porque ele “sabia mais<br />

... ele conhecia todas as leis”.(entrevistas 1, 12 e 3)<br />

Por isso a função - muitas vezes política - dos advogados acabou imprimindo aos<br />

sindicatos um ritmo e um estilo <strong>de</strong> condução bem peculiar, on<strong>de</strong> o “jurídico”, o “legal”, “os<br />

direitos” tinham uma posição central na vida sindical. Des<strong>de</strong> a sua criação, estas<br />

organizações foram, portanto, impregnadas por estes atributos legalistas. A preocupação<br />

primeira e a mais importante era sempre a <strong>de</strong> satisfazer as leis em vigor, visando a<br />

obtenção do reconhecimento pelo Ministério do Trabalho. A assembléia <strong>de</strong> fundação da<br />

organização tinha este objetivo principal. Ela era cuidadosamente preparada, tendo em<br />

conta todos procedimentos <strong>de</strong>terminados pela lei: formas e prazo <strong>de</strong> convocação,<br />

composição da diretoria, forma <strong>de</strong> eleição, conteúdo das atas, etc. Por exemplos, em Nova<br />

Fátima, a agenda do dia da assembléia era a seguinte: “autorização para o recon-<br />

hecimento do Sindicato no Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comercio, <strong>de</strong> acordo<br />

com a Portaria Ministerial n.º, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1945”; em Jandaia do Sul,<br />

“reconhecimento do sindicato no Ministério do Trabalho e da Previdência Social”. Em<br />

seguida, os estatutos “discutidos” e adotados eram freqüentemente a réplica do mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong>finido e imposto pelo Governo. Neste estatuto padrão, a entida<strong>de</strong> sindical <strong>de</strong>clarava-se<br />

favorável à “colaboração com os po<strong>de</strong>res públicos”, “à solidarieda<strong>de</strong> social”, a sua<br />

“subordinação aos interesses nacionais” e comprometia-se a “respeitar ... a lei e acatar as<br />

autorida<strong>de</strong>s constituídas”.<br />

Em conseqüência, a ativida<strong>de</strong> diária <strong>de</strong>stas organizações centrava-se na ação<br />

legal. Um caso típico: o Sindicato dos Colonos e Assalariados Agrícolas <strong>de</strong> Londrina, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a fundação se preocupava com as queixas dos empregados das fazendas contra seus<br />

patrões. E foi isto que popularizou o sindicato. Geralmente os reclamantes expunham seus<br />

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problemas e assinavam uma reclamatória trabalhista. Esta reclamatória era preenchido<br />

pelos advogados com as <strong>de</strong>mandas e justificativas e enviadas ao Fórum local. “Choveram<br />

reclamações trabalhistas” nos Fóruns <strong>de</strong> Londrina e dos municípios vizinhos. No Fórum <strong>de</strong><br />

Mandaguari existiam mais <strong>de</strong> 400 processos abertos pelo sindicato. Mas estas<br />

reclamatórias eram na sua maioria proteladas, arquivadas ou simplesmente recusadas.<br />

Segundo um militante comunista, a Justiça ficava na maior parte dos casos do lado dos<br />

fazen<strong>de</strong>iros, “por causa do medo”.(entrevistas 4 e 5)<br />

Mas o que importava mais era o fato em si mesmo, com suas repercussões e<br />

seus divi<strong>de</strong>ndos políticos e simbólicos. Simplesmente, dado o volume das reclamatórias,<br />

estes processos originalmente jurídicos logo ganharam uma dimensão política. A recusa<br />

sistemática dos tribunais podia constituir uma munição i<strong>de</strong>ológica para combater a “não<br />

in<strong>de</strong>pendência dos três po<strong>de</strong>res” e a “justiça burguesa”.<br />

No que diz respeito às reivindicações, os trabalhadores ou - mais exatamente - os<br />

advogados em nome <strong>de</strong>les, <strong>de</strong>mandavam “o respeito aos seus direitos” ao salário mínimo,<br />

às férias remuneradas, ao décimo terceiro salário, ao aviso prévio em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão,<br />

ao <strong>de</strong>scanso semanal remunerado e ao correto preenchimento das ca<strong>de</strong>rnetas dos<br />

colonos; a aplicação, ponto por ponto, da legislação trabalhista em vigor, mesmo que<br />

estas exigências eram seguidamente contestadas pelas elites. Em resumo, reivindicava-se<br />

uma legislação trabalhista “completa e a<strong>de</strong>quada à vida rural”.<br />

A busca <strong>de</strong> negociação com os empregadores fazia parte do trabalho <strong>de</strong>stes<br />

jovens sindicalistas comunistas. Eles praticavam uma política “<strong>de</strong> boa vizinhança”, “não<br />

sectária”, segundo eles. Assim, em agosto <strong>de</strong> 1961, o sindicato <strong>de</strong> Maringá assinou o<br />

primeiro contrato coletivo <strong>de</strong> trabalho rural da região. Naquela tempo, o fato <strong>de</strong> reunir-se<br />

com os representantes dos empresários, todos “reacionários, terríveis, todos <strong>de</strong> direita” e<br />

o bispo <strong>de</strong> Londrina, dom Geraldo Fernan<strong>de</strong>s, era uma verda<strong>de</strong>ira proeza.(entrevistas 4 e<br />

5)<br />

Também nas mobilizações da base o aspeto “legal”, “os direitos” eram<br />

valorizados. Durante um conflito que surgiu nas terras dos irmãos Moreschi, o sindicato,<br />

por meio <strong>de</strong> seu advogado, Jorge Haddad, “cumprindo sua missão”, moveu uma ação <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>nização. “Os trabalhadores” estavam dispostos a <strong>de</strong>ixar a proprieda<strong>de</strong> só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

terem recebido “aquilo que eles tinham direito”. Igualmente, “a orientação e<br />

esclarecimentos sobre as leis que protegem os trabalhadores do campo” ocupavam um<br />

lugar central na formação sindical.<br />

Progressivamente, institucionalizava-se um ritual jamais visto no norte do Paraná:<br />

a peregrinação dos senhores da terra ao sindicato ou - pior - ao Tribunal, que exigia<br />

explicações, recriminava, julgava, e <strong>de</strong> vez em quando os con<strong>de</strong>nava a pagar seus<br />

empregados. Mesmo a Igreja Católica não escapou <strong>de</strong>ste novo rito. E o fato <strong>de</strong> conseguir<br />

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acordos com os empregadores constituía um indicador <strong>de</strong> eficácia do sindicato: em<br />

Maringá, até o golpe militar, foram obtidos “mais <strong>de</strong> 600 acordos através dos<br />

advogados”(entrevista 2).<br />

O domínio sindical comunista<br />

Ao longo dos anos 50 e início dos anos 60, o Partido Comunista estabeleceu-se<br />

efetivamente nos campos e sertões do norte do Paraná. A guerrilha <strong>de</strong> Porecatu tinha<br />

significado o início da instalação comunista na região, <strong>de</strong>pois com a formação da<br />

formidável re<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizações sindicais, o partido enraizou-se nessas terras roxas do<br />

Sul do Brasil. O “Partidão” constitui-se, assim, no elo <strong>de</strong> ligação entre o movimento <strong>de</strong><br />

guerrilha e o posterior sindicalismo. Ainda mais que os simpatizantes e os militantes<br />

comunistas, oriundos do conflito <strong>de</strong> Porecatu, tiveram um papel <strong>de</strong> ponta na constituição<br />

das primeiras organizações que preten<strong>de</strong>ram arregimentar o campesinato paranaense. No<br />

final, esta corrida à sindicalização foi premiada pelo triunfo dos comunistas sobre as<br />

<strong>de</strong>mais forças políticas, com a fundação da Confe<strong>de</strong>ração nacional, a CONTAG. Foi,<br />

portanto, em torno do “Partidão” que se constituiu a primeira corrente do sindicalismo<br />

rural. Para alcançar esta posição, o PCB teve que abandonar a política radical pregada<br />

pelo Manifesto <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1950, que propunha a luta armada, e assumir posições mais<br />

aceitáveis para a opinião pública, especialmente aos olhos das elites. Ao mesmo tempo,<br />

os marxistas foram obrigados a fazer concessões em seus dogmas políticos, se adaptando<br />

ao ambiente sociocultural. Também mostrou-se necessária e útil a ampliação <strong>de</strong> sua<br />

influência junto aos centros do po<strong>de</strong>r. Por meio do “trabalhismo”, os comunistas<br />

conseguiram fazer-se ouvir muitas vezes nas Câmaras Municipais, assim como<br />

estabelecer relações privilegiadas - jamais vistas - junto ao Governo Fe<strong>de</strong>ral, em<br />

especialmente o Presi<strong>de</strong>nte João Goulart e seu Ministro paranaense, Amaury Silva.<br />

Contudo, sobretudo no início da sindicalização, para vencer a inércia, os jovens<br />

sindicalistas do Paraná tiveram que enfrentar obstáculos <strong>de</strong> todos os tipos. As primeiras<br />

resistências ao projeto <strong>de</strong> sindicalização rural vieram do interior próprio aparelho<br />

partidário do PCB. Em seguida, por ocasião da criação dos primeiros sindicatos (<strong>de</strong><br />

Londrina e <strong>de</strong> Maringá), no momento <strong>de</strong> fundação da Fe<strong>de</strong>ração estadual e <strong>de</strong> escolher a<br />

diretoria da Confe<strong>de</strong>ração nacional, aumentaram os choques opondo o Comitê Central aos<br />

militantes do norte do Paraná. Assim, o partido <strong>de</strong> tradição estalinista, muitas vezes<br />

percebido como um bloco monolítico, <strong>de</strong>svendou suas contradições internas.<br />

Paralelamente, brotaram inúmeras forças externas <strong>de</strong> oposição à ação do Partido. Isto<br />

porque, apresentando-se como porta-voz dos lavradores e dos assalariados agrícolas, os<br />

comunistas <strong>de</strong>safiavam o po<strong>de</strong>r secular das oligarquias rurais. O PCB procurava, na<br />

verda<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> sua clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, conquistar um lugar - ainda que minoritário – no<br />

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campo político. As classes patronais, sustentadas pelo aparelho repressivo do governo do<br />

estado, obstaculizavam <strong>de</strong> todas as formas. Mais tar<strong>de</strong>, será a Igreja Católica do Paraná,<br />

<strong>de</strong> tendência conservadora, que acorrerá em auxílio aos grupos dominantes. O clero<br />

organizará seu próprio movimento sindical, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir as baixas em seu<br />

rebanho e, principalmente, para freiar o avanço comunista. Porém, não sem contradições,<br />

o Partido Comunistas soube ultrapassar ou contornar estes obstáculos que surgiram no<br />

seu caminho no Paraná. Constituindo a maioria dos sindicatos, criando a primeira<br />

fe<strong>de</strong>ração sindical e impondo a fundação da Confe<strong>de</strong>ração nacional, os sindicalistas<br />

comunistas <strong>de</strong>rrotaram seus adversários, em particular os cristãos. Foi, portanto, ao redor<br />

do PCB - seja por sua intervenção direta, seja pelas reações provocadas - que o<br />

sindicalismo rural do Paraná se formou. Assim, o “Partidão” consi<strong>de</strong>rava-se o porta-voz<br />

autorizado e inconteste dos “trabalhadores rurais” paranaenses, e também brasileiros.<br />

Porém, o golpe militar <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1964 porá um fim à supremacia comunista no<br />

sindicalismo rural, transformando os sindicatos em meros apêndices do Estado.<br />

Entrevistas Entrevistas Citadas Citadas<br />

Citadas<br />

1 Gregório Parandiuc - ex-diretor do sindicato <strong>de</strong> Maringá<br />

2 Gregório Parandiuc - ex-diretor do sindicato <strong>de</strong> Maringá (realizada pelo Projeto<br />

Memória)<br />

3 Moacyr Ferraz - ex-presi<strong>de</strong>nte da UGT Campo Mourão (realizada por Salvador<br />

Ferraz)<br />

4 José Rodrigues dos Santos - ex-presi<strong>de</strong>nte do sindicato <strong>de</strong> Maringá<br />

5 Antônio Mendonça Con<strong>de</strong> - ex-presi<strong>de</strong>nte da FETAEP<br />

6 Dirceu Galli – médico e ex-militante comunista <strong>de</strong> Maringá<br />

7 Salim Haddad - médico e ex-militante comunista <strong>de</strong> Maringá<br />

8 Ta<strong>de</strong>u Boddy - assessor da FETAEP<br />

9 José Lázaro Dumont - ex-presi<strong>de</strong>nte da FETAEP<br />

10 Pe. Osvaldo Rambo ex-dirigente da FAP<br />

11 Lauro Vilas-Boas - ex-diretor da FETAEP<br />

12 Onofre Pimenta - ex-presi<strong>de</strong>nte do sindicato <strong>de</strong> Nova Esperança)<br />

Bibliografia Bibliografia Bibliografia <strong>de</strong> <strong>de</strong> Interesse<br />

Interesse<br />

PRIORI, Angelo. O Protesto do Trabalho Trabalho: Trabalho<br />

História das Lutas Sociais dos Trabalhadores<br />

Rurais do Paraná: 1954-1964. Maringá:Eduem, 1996.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

AZEVEDO, Fernando . As ligas camponesas: campesinato e política - 1955-1964. Recife,<br />

PIMES. 1980. 140 p.<br />

BANDEIRA, Moniz. O governo João Goulart : as lutas sociais no Brasil (1961-1964). 5 ª ed.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, Civilização Brasileira. 1978. 187 p.<br />

CHILCOTE, Ronald H. Partido Comunista Brasileiro - conflito e integração - 1922-1972. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, Graal. 1982. 413p.<br />

CORRÊA, Hercules. A classe operária e seu partido. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Civilização Brasileira.<br />

1980. 247 p.<br />

FERREIRA, Angela Duarte Damaceno. Agricultura capitalista e campesinato no norte do<br />

Paraná. Região <strong>de</strong> Porecatu 1940-1952. Curitiba, UFPR. 1984. 243 p. (tese <strong>de</strong><br />

mestrado)<br />

FÜCHTNER, Hans. Os sindicatos brasileiros - organização e função política. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Graal. 1980. 259 p.<br />

MARTINS, José <strong>de</strong> Souza. Os camponeses e a política no Brasil. 3 ª ed. Petrópolis, Vozes.<br />

1986. 185 p.<br />

MEDEIROS, Leonil<strong>de</strong> Sérvolo <strong>de</strong>. 1989. História dos movimentos sociais no campo. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, FASE.<br />

TONELLA, Celene e outros. As memórias do sindicalista José Rodrigues dos Santos.<br />

Maringá, Eduem. 1999. 108 p.<br />

VERA, Nestor. "O II Congresso camponês em Maringá". Revista Brasiliense. (37) set-out<br />

1961: p. 62-65.<br />

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Origem Origem e e papel papel dos dos sindicatos<br />

sindicatos<br />

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Altamiro Borges 2<br />

Des<strong>de</strong> a divisão da socieda<strong>de</strong> em classes, após a superação da comuna<br />

primitiva, a história das socieda<strong>de</strong>s é marcada pela luta entre explorados e exploradores.<br />

Isto ocorreu no sistema escravista, no modo <strong>de</strong> produção asiático, no feudalismo e ocorre<br />

até hoje no capitalismo. É nesse último sistema econômico, entretanto, que a luta <strong>de</strong><br />

classes atinge a sua plenitu<strong>de</strong>.<br />

O Sindicato, objeto <strong>de</strong> nosso estudo, é um fenômeno típico <strong>de</strong>sse sistema.<br />

Ele só surge no modo <strong>de</strong> produção capitalista. A palavra surge do francês - syndic - que<br />

significa “representante <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada comunida<strong>de</strong>”. Com a queda do feudalismo<br />

na Europa, num longo processo iniciado a partir do século 17, a socieda<strong>de</strong> se divi<strong>de</strong><br />

claramente em duas classes. De um lado, a burguesia, dona dos meios <strong>de</strong> produção -<br />

instalações, máquinas, matérias primas etc. O termo burguesia <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> burgos, que<br />

eram as pequenas localida<strong>de</strong>s nos arredores dos feudos, on<strong>de</strong> viviam os comerciantes e<br />

os artífices - os germes dos futuros industriais. Do outro, o proletariado, <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong><br />

tudo, obrigado a ven<strong>de</strong>r a sua força <strong>de</strong> trabalho aos capitalistas. A expressão proletariado<br />

vem do latim da antiga Roma e <strong>de</strong>signa os cidadãos que viviam à beira da miséria e que<br />

tinham uma prole numerosa.<br />

Lênin, dirigente da revolução russa <strong>de</strong> 1917, sintetiza <strong>de</strong> maneira simples as<br />

características <strong>de</strong>sse sistema. “Denomina-se capitalismo a organização da socieda<strong>de</strong> em<br />

que a terra, as fábricas, os instrumentos <strong>de</strong> produção etc., pertencem a um pequeno<br />

número <strong>de</strong> latifundiários e capitalistas, enquanto a massa do povo não possui nenhuma<br />

ou quase nenhuma proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve, por isso, alugar sua força <strong>de</strong> trabalho. Os<br />

latifundiários e industriais contratam os operários, obrigando-os a produzir tais ou quais<br />

artigos que eles ven<strong>de</strong>m no mercado. Os patrões pagam aos operários exclusivamente o<br />

salário indispensável para que estes e suas famílias mal possam sub-existir. Tudo o que o<br />

operário produz acima <strong>de</strong>ssa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos necessária a sua manutenção, o<br />

patrão embolsa isso: isso constitui o seu lucro. Portanto, na economia capitalista, a massa<br />

do povo trabalha para os outros, não trabalha para si, mas para os patrões, e o faz por um<br />

salário. Compreen<strong>de</strong>-se que os patrões tratem <strong>de</strong> reduzir o salário, quanto menos aos<br />

operários, mais lucro lhes sobra. Em compensação, os operários tratam <strong>de</strong> receber o<br />

maior salário possível para po<strong>de</strong>r sustentar sua família com uma alimentação abundante<br />

e sadia, viver numa boa casa e não se vestir como mendigos. Portanto, entre patrões e<br />

operários há uma constante luta pelo salário”.<br />

É <strong>de</strong>ssa luta cotidiana, inerente ao capitalismo, que surgem as primeiras<br />

formas <strong>de</strong> organização dos trabalhadores. Elas nascem como re<strong>sul</strong>tado do esforço<br />

espontâneo dos operários para impedir ou atenuar a exploração. Não aparecem por<br />

inspiração <strong>de</strong> “subversivos”, como a burguesia propaga, mas sim por uma necessida<strong>de</strong><br />

natural dos que vivem <strong>de</strong> salário. Para elevar os seus lucros, o capitalista necessita extrair<br />

o máximo <strong>de</strong> mais-valia, que é o trabalho exce<strong>de</strong>nte não repassado ao operário na forma<br />

<strong>de</strong> salário.<br />

2 Jornalista


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Essa é a lógica do sistema, em que a concorrência leva os empresários a<br />

uma incessante busca por maiores lucros - com a redução dos custos operacionais e a<br />

elevação da produtivida<strong>de</strong>. Por sua vez, os trabalhadores têm a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lutar pela<br />

diminuição da taxa <strong>de</strong> mais-valia, pelo aumento do seu po<strong>de</strong>r aquisitivo, e por condições<br />

humanas <strong>de</strong> trabalho. Nessa luta, o operariado conta com a vantagem <strong>de</strong> se constituir em<br />

gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>.<br />

Para cumprir esse papel, os sindicatos se tornam centros organizadores dos<br />

assalariados, focos <strong>de</strong> resistência à exploração capitalista. Num primeiro momento, eles<br />

vão congregar os operários das oficinas e das fábricas, os que produzem diretamente as<br />

riquezas - o setor dinâmico da socieda<strong>de</strong> capitalista. Posteriormente, com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do próprio sistema, eles se generalizam, atingindo outros setores<br />

econômicos. Para Marx, “se os sindicatos são indispensáveis para a guerra <strong>de</strong> guerrilhas<br />

cotidianas entre o capital e trabalho, são também importantes como meio organizado<br />

para a abolição do sistema <strong>de</strong> trabalho assalariado”.<br />

Berço Berço do do capitalismo<br />

capitalismo<br />

Os primeiros sindicatos nascem exatamente na Inglaterra - consi<strong>de</strong>rada o<br />

“berço do capitalismo”. Foi nesse país que se realizou a primeira revolução burguesa da<br />

história - dirigida por Cromwell, em 1640. Após muitas marchas e contramarchas, a<br />

burguesia se consolidou no po<strong>de</strong>r, acumulou capital e po<strong>de</strong> realizar a primeira revolução<br />

industrial - no século 18. O capitalismo inglês vai viver a partir daí um intenso processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, com a superação do trabalho artesanal, posteriormente da produção<br />

manufatureira e, a partir da introdução <strong>de</strong> novas máquinas, com o surgimento das<br />

gran<strong>de</strong>s fábricas. É nesse momento, meados do século 18, que o capitalismo encontra<br />

plenas condições para se expandir e virar o sistema predominante.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo <strong>de</strong>ixará evi<strong>de</strong>nte a contradição <strong>de</strong>sse<br />

sistema. Para extrair a mais-valia, fonte dos lucros, a burguesia inglesa imporá jornada <strong>de</strong><br />

trabalho que atingiam até 16 horas diárias. Os salários serão os mais reduzidos e as<br />

condições <strong>de</strong> trabalho, as mais precárias. Com o objetivo <strong>de</strong> atrair mão-<strong>de</strong>-obra livre, ela<br />

promoverá os famosos “cercamentos” no campo, nos séculos 17 e 18, expulsando os<br />

servos das glebas rurais para torná-los “homens livres”, aptos ao trabalho assalariado.<br />

Nesse período, são constituídos enormes contingentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempregados nos centros<br />

urbanos, que Marx chamará <strong>de</strong> exército industrial <strong>de</strong> reserva, como forma <strong>de</strong> baratear o<br />

custo do trabalho através da concorrência.<br />

A introdução das novas máquinas, que representa a consolidação <strong>de</strong>finitiva<br />

<strong>de</strong>sse novo modo <strong>de</strong> produção, também agravará as contradições entre capital e trabalho.<br />

Através <strong>de</strong>sses novos instrumentos, a burguesia golpeia os artesãos e suas corporações,<br />

que tinham gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha. Com as máquinas, ela não necessita mais <strong>de</strong> mão<br />

<strong>de</strong> obra especializada do artesão, po<strong>de</strong> introduzir a mulher e o menor no mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, com salários mais aviltados e em piores condições <strong>de</strong> trabalho. Leo Huberman,<br />

no livro “História da Riqueza do Homem”, <strong>de</strong>screve esse brutal processo <strong>de</strong> rebaixamento<br />

do nível profissional. Ele cita, por exemplo, o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong> 11 anos a<br />

uma comissão do parlamento inglês, em 1816: “Sempre nos batiam se adormecíamos. O<br />

Capataz costumava pegar uma corda da grossura do meu <strong>de</strong>do polegar, dobrá-la e dar-lhe<br />

em nós. Trabalhei toda a noite, certa vez”.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Todas essas condições <strong>de</strong> exploração, próprias do novo sistema econômico,<br />

vão gerar resistências entre os explorados. Esse processo <strong>de</strong> luta passará por longas<br />

experiências. As greves e os sindicatos, por exemplo, não aparecerão num estalo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>dos. Antes, a classe operária passará por um longo processo <strong>de</strong> aprendizado até<br />

encontrar as formas mais eficientes <strong>de</strong> luta e concluir que sua união é fundamental para<br />

se contrapor ao po<strong>de</strong>r do patronato. Um das principais formas <strong>de</strong> luta foi o Luddismo,<br />

também conhecido como o movimento dos quebradores <strong>de</strong> máquinas. Inexperiente, a<br />

jovem classe operária viu nas máquinas o seu principal inimigo. Afinal, aparentemente a<br />

máquina é que era responsável pelo <strong>de</strong>semprego dos trabalhadores especializados, pela<br />

inserção da mulher e do menor nas fábricas em condições <strong>de</strong>gradantes etc.<br />

O termo Luddismo <strong>de</strong>riva do nome do operário têxtil Ned Ludd, que<br />

trabalhava numa pequena oficina em Nottingham, cida<strong>de</strong> próxima <strong>de</strong> Londres. Segundo<br />

pesquisas, esse operário <strong>de</strong>struiu totalmente os teares mecânicos da fábrica num sinal <strong>de</strong><br />

revolta contra os efeitos da Revolução Industrial. Sua atitu<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> individual, refletia<br />

o estado <strong>de</strong> espírito dos artesões. Em pouco tempo, seu gesto foi imitado em várias<br />

cida<strong>de</strong>s da Inglaterra e atingiu também a França. “Entre 1811 e 1812, os Luddistas<br />

espantaram a burguesia”, informa José Cândido Filho, autor do livro “O Movimento<br />

Operário: O Sindicato e o Partido”. O parlamento Inglês, que nunca tratara da questão<br />

operária, discutiu o assunto e aprovou, em 1812, uma lei que punia com a pena <strong>de</strong> morte<br />

os “quebradores <strong>de</strong> máquinas”.<br />

A legislação repressiva não conteve o Movimento Luddista, que quatro anos<br />

<strong>de</strong>pois foi retomado com novas máquinas quebradas em Londres, Glasgow, Newcastle,<br />

Preston, Dun<strong>de</strong>e e outras cida<strong>de</strong>s. Segundo José Cândido, os Luddistas ingleses<br />

costumavam cantar uma música que se tornou conhecida, quando quebravam as<br />

máquinas. “De pé ficaremos todos/E com firmeza juramos/Quebrar tesouras e válvulas/E<br />

arrasar todas as máquinas”. A revolta operária repercutiu também entre a<br />

intelectualida<strong>de</strong> da época, que passou a dar maior atenção às condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong><br />

trabalho do proletariado. Dessas primeiras lutas da classe operária nasceram belos<br />

escritos e poemas, como o <strong>de</strong> Shelley, “Os homens da Inglaterra”, reproduzido no livro <strong>de</strong><br />

Leo Huberman, “A História da Riqueza do homem”.<br />

Aos poucos, entretanto, o Luddismo começou a ser superado como forma <strong>de</strong><br />

luta da jovem classe operária. Mas experiente, ela constatou que não era a máquina a<br />

sua inimiga, mas sim o uso que o patrão fazia <strong>de</strong>la. Que era um erro se contrapor ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do próprio conhecimento humano, expresso os avanços da tecnologia. O<br />

movimento dos quebradores <strong>de</strong> máquinas também caiu no isolamento diante da<br />

socieda<strong>de</strong>, reduzindo-se a pequenos grupos <strong>de</strong> trabalhadores que <strong>de</strong>struíam máquinas e<br />

espancavam os cientistas que as inventavam. A própria burguesia que num primeiro<br />

momento aprovou a pena <strong>de</strong> morte, começou a dar sinais <strong>de</strong> assimilação <strong>de</strong>ssa forma <strong>de</strong><br />

luta. É nesse período que se generalizava o seguro <strong>de</strong> patrimônio na Inglaterra e alguns<br />

patrões inclusive são flagrados <strong>de</strong>struindo suas máquinas para adquirir outras mais<br />

mo<strong>de</strong>rnas.<br />

Outra forma <strong>de</strong> luta que será utilizada na infância da classe operária, será o<br />

boicote - palavra que <strong>de</strong>riva do nome <strong>de</strong> um oficial inglês encarregado <strong>de</strong> administrar os<br />

negócios do con<strong>de</strong> Erne, da Irlanda, Sir Boycott era conhecido por seus métodos<br />

truculentos no tratamento com os empregados. Ele se recusava a negociar e os<br />

trabalhadores passaram a fazer o mesmo, propondo que os moradores do povoado não<br />

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consumissem os produtos do Con<strong>de</strong> Erne. Este teve um gran<strong>de</strong> prejuízo e afastou o oficial<br />

inglês do cargo. A sabotagem também será usada nesse período como mecanismo <strong>de</strong><br />

pressão dos trabalhadores por seus direitos. O termo tem origem francesa e significa<br />

"tamanco". Os operários franceses usavam esse tipo <strong>de</strong> calçado para danificar as<br />

máquinas, emperrando a produção.<br />

O salto na ação <strong>de</strong>sse jovem proletariado vai se dar com o re<strong>curso</strong> da greve -<br />

uma forma <strong>de</strong> luta mais avançada para pressionar o patronato. Segundo José Cândido, “A<br />

origem do termo, liga-se à Praça da Greve (place <strong>de</strong> grève), atualmente praça do Hotel De<br />

Ville, em Paris. Quando <strong>de</strong>sempregados ou para tratarem <strong>de</strong> assuntos relativos ao<br />

trabalho, os operários costumavam reunir-se ali. Faire grève (fazer greve) significava,<br />

portanto, reunir-se na praça da greve. A greve foi o re<strong>curso</strong> <strong>de</strong> luta <strong>de</strong> maior eficácia nesse<br />

período, tanto na Inglaterra, como nos <strong>de</strong>mais países em que o capitalismo foi<br />

introduzido. Esse re<strong>curso</strong> se espalhou pelo mundo, sendo encarado <strong>de</strong> diversas formas.<br />

Para alguns, <strong>de</strong>fensores da manutenção do sistema capitalista, como simples mecanismo<br />

regulador do mercado <strong>de</strong> trabalho. Para outros, no caso dos Anarquistas, como um fim em<br />

si mesmo. “A greve é tudo”, dirá Bakunin - um dos principais teóricos do movimento<br />

ácrata.<br />

Já para os revolucionários, a greve será vista como uma das principais<br />

armas na luta <strong>de</strong> guerrilha entre capital e trabalho e como po<strong>de</strong>roso instrumento <strong>de</strong><br />

elevação da consciência e do nível <strong>de</strong> organização do proletariado. O dirigente da<br />

revolução russa <strong>de</strong> 1917, Vladimir Ilitch Lênin, escreveu um texto sobre as greves.<br />

Sindicato Sindicato Sindicato Clan<strong>de</strong>stino<br />

Clan<strong>de</strong>stino<br />

É nesse processo da luta que a classe operária sentirá a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

organizar. É <strong>de</strong>le que surgirão os sindicatos que na Inglaterra têm o nome <strong>de</strong> tra<strong>de</strong>-unions<br />

- que significa união <strong>de</strong> ofício, <strong>de</strong> profissões. Essas jovens entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhadores não<br />

terão as mesmas características dos sindicatos atuais - que conquistaram o<br />

reconhecimento legal, têm se<strong>de</strong>s, diretores afastados e gozam do direito <strong>de</strong> negociar com<br />

o patronato. Pelo contrário. No século 17, período <strong>de</strong> surgimento das tra<strong>de</strong>-unions, elas<br />

serão clan<strong>de</strong>stinas, com muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação. A burguesia verá nelas um gran<strong>de</strong><br />

perigo. Seu temor é que elas unam o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> trabalhadores, até aqui dispersos<br />

e vivendo em concorrência entre si pelo emprego. Há registro <strong>de</strong> associações <strong>de</strong><br />

trabalhadores com caráter sindical <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1699. Nesse ano em Londres, uma greve dos<br />

operários têxteis assustou o governo e a jovem burguesia - que ainda se constituía<br />

enquanto classe. É só no século 18, quando a revolução industrial tomou impulso na<br />

Inglaterra, que os sindicatos vão se generalizar para evitar seu crescimento, o parlamento<br />

inglês aprova em 1799 a combination law, a lei sobre associações que proíbe o<br />

funcionamento <strong>de</strong> sindicatos.<br />

A violência da burguesia se dará em vários terrenos. No campo legal, elas<br />

serão proibidas. A primeira lei que garantirá a livre associação dos trabalhadores só será<br />

aprovada em 1812, na câmara dos Lor<strong>de</strong>s, em Londres. Além <strong>de</strong> usar o aparato policial<br />

do Estado para reprimir essas entida<strong>de</strong>s, a burguesia inglesa - e posteriormente <strong>de</strong> outros<br />

países - também utilizará as milícias privadas. Os jagunços, que hoje são uma marca do<br />

campo em nosso país, já foram muito usados pelo patronato nos centros urbanos. Alguns<br />

se tornaram famosos como o bando Pinkerton, dos EUA - uma po<strong>de</strong>rosa agência <strong>de</strong><br />

pistoleiros contratada para reprimir greves e assassinar li<strong>de</strong>ranças operárias.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

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Para se proteger <strong>de</strong>ssa violência, no inicio as tra<strong>de</strong>-unions agem totalmente<br />

na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. As reuniões são secretas; não há se<strong>de</strong>s sindicais, campanhas<br />

massivas <strong>de</strong> sindicalização, nem mesmo negociação direta com o patronato. Algumas<br />

tra<strong>de</strong>-unions inclusive formulam “códigos <strong>de</strong> participação”, com normas para garantir a<br />

sobrevivência da entida<strong>de</strong>. Elas fixam a triagem dos trabalhadores que <strong>de</strong>vem ser<br />

convidados para as reuniões clan<strong>de</strong>stinas. A entida<strong>de</strong> dos têxteis, por exemplo, prevê um<br />

período <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> dois anos para avaliar se o trabalhador não é <strong>de</strong>do-duro,<br />

infiltrado do patrão. Só <strong>de</strong>pois ele é convidado a participar das reuniões. O seu código fala<br />

também <strong>de</strong> justiçamento dos <strong>de</strong>latores, compondo um braço armado para amedrontar os<br />

traidores em potencial.<br />

Aos poucos, no entanto, as tra<strong>de</strong>-unions inglesas vão se consolidando. Elas<br />

dirigem mais greves, maiores protestos. Deixam o patronato num dilema. Já que são<br />

proibidas, o empresário não tem como negociar em momentos <strong>de</strong> greve. Isso gera<br />

gran<strong>de</strong>s prejuízos, principalmente quando não há estoques e surgem encomendas <strong>de</strong><br />

produtos. Diante <strong>de</strong>sse crescimento das lutas operárias, é que o parlamento da Inglaterra<br />

irá aprovar, em 1824, a primeira lei sobre o direito <strong>de</strong> organização sindical dos<br />

trabalhadores. Essa conquista permitirá um po<strong>de</strong>roso aumento da força do sindicalismo.<br />

Em todos os ramos industriais formam-se tra<strong>de</strong>-unions. Também surgem as “caixas <strong>de</strong><br />

resistências” para apoiar financeiramente os grevistas.<br />

O outro avanço nesse período será a organização <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>rações que<br />

unificam várias categorias. Em 1830 é fundada a primeira entida<strong>de</strong> geral dos operários<br />

ingleses - a associação nacional para a proteção do trabalho. Ela reunirá têxteis,<br />

mecânicos, ferreiros, mineiros e outras profissões. Chegará a ter cerca <strong>de</strong> 100 mil<br />

membros e editará um periódico, A Voz do Povo. Na vanguarda do movimento operário<br />

inglês <strong>de</strong>ssa época estarão os têxteis, principalmente os da concentração industrial <strong>de</strong><br />

Lancashire. Em 1866, com o avanço da industrialização em outros países, será realizado<br />

o primeiro congresso internacional das jovens organizações <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> vários<br />

países. Ela representará um gran<strong>de</strong> salto na unida<strong>de</strong> dos assalariados, que será<br />

materializado com a fundação da associação internacional dos trabalhadores (AIT),<br />

também conhecida como a primeira internacional.<br />

Apesar <strong>de</strong> possibilitar um avanço da organização sindical, a lei <strong>de</strong> 1824 é<br />

contraditória, tendo duas características distintas. Em primeiro lugar, reflete a própria<br />

pressão organizada dos trabalhadores. Em segundo, também indica uma mudança<br />

estratégica da burguesia inglesa. Tanto que a lei foi aprovada na câmara dos Lor<strong>de</strong>s, que<br />

reunia apenas a aristocracia inglesa. Com ela a burguesia procura novos métodos para<br />

controlar o movimento operário. Ela não po<strong>de</strong>ria abandonar o seu projeto <strong>de</strong> dificultar a<br />

luta e a união dos trabalhadores - fundamental para sua sobrevivência enquanto classe.<br />

Como não era mais possível proibir as tra<strong>de</strong>-unions, ela adota novos meios<br />

<strong>de</strong> interferir. Como a história vai <strong>de</strong>monstrar, mesmo legalizados, os sindicatos po<strong>de</strong>m ser<br />

reprimidos. Neste período, muitos industriais pressionarão os operários exigindo a<br />

renúncia formal à participação das tra<strong>de</strong>-unions, como forma <strong>de</strong> garantir o emprego. A<br />

força policial continuará a ser acionada, <strong>de</strong>ixando um rastro <strong>de</strong> sangue em toda a<br />

trajetória do movimento sindical. A legalização também permitirá i<strong>de</strong>ntificar as li<strong>de</strong>ranças,<br />

o que po<strong>de</strong> facilitar o trabalho <strong>de</strong> cooptação e corrupção - processo muito usado até hoje<br />

pelo patronato. Além disso, é possível implantar toda uma legislação <strong>de</strong> controle dos<br />

sindicatos - como a que existiu no Brasil após o governo <strong>de</strong> Getúlio Vargas.<br />

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Ainda nesse período, fruto da experiência concreta, o proletariado também<br />

<strong>de</strong>senvolverá a luta política, superando a pressão apenas por reivindicações <strong>de</strong> caráter<br />

econômico e específico. Surge o movimento cartista na Inglaterra, que representou um<br />

salto na ação operária. O nome <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma “carta”, elaborada em 1837-38, em que os<br />

trabalhadores reivindicam maiores liberda<strong>de</strong>s políticas: direito <strong>de</strong> voto para todos,<br />

abolição do sistema pelo qual só podiam se candidatar os que tivessem renda, voto<br />

secreto etc. Em seu conteúdo, o cartismo já expressara a luta por liberda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>mocráticas e socialistas. Ele será duramente reprimido - com inúmeros cartistas,<br />

sofrendo processo criminal - <strong>de</strong> “alta traição” - e muitas con<strong>de</strong>nações.<br />

Em outros países, o proletariado participará <strong>de</strong> ações políticas, sendo a mais<br />

célebre participação na Comuna <strong>de</strong> Paris. Essa foi a primeira experiência em que a classe<br />

operária alcançou o po<strong>de</strong>r político. Sua duração foi curta - <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> março a fins <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 1871. Num primeiro momento, a se<strong>de</strong> do novo po<strong>de</strong>r se instalou na Câmara Fe<strong>de</strong>ral<br />

dos Sindicatos franceses que também era o local <strong>de</strong> reuniões da sessão parisiense da AIT.<br />

Essa experiência, que não se alastrou e serviu <strong>de</strong> base para novos estudos dos marxistas,<br />

foi violentamente reprimida. As tropas do exército francês, que pouco antes havia sido<br />

<strong>de</strong>rrotadas e tornadas prisioneiras pelos alemães, foram libertadas e colocadas a<br />

disposição do governo da França, <strong>de</strong> Thiers, por or<strong>de</strong>m e Bismarck. A burguesia superava<br />

as suas divergências para esmagar o movimento operário. A luta contra a comuna durou<br />

uma semana. Mais <strong>de</strong> 14 mil combatentes foram mortos na guerra ou foram<br />

sumariamente fuzilados; 5 mil operários foram <strong>de</strong>portados e outros 5 mil encarcerados.<br />

O próprio Karl Marx, um dos i<strong>de</strong>alizadores da AIT, já havia apontado essa<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação política ao proletariado. “O fim imediato dos Sindicatos concretiza-se<br />

nas exigências do dia a dia, nos meios <strong>de</strong> resistência contra os incessantes ataques do<br />

capital”. Numa palavra, na questão do salário e da jornada <strong>de</strong> trabalho. Essa ativida<strong>de</strong><br />

não só é justificada, como necessária. Não po<strong>de</strong>mos privar <strong>de</strong>la enquanto perdure o modo<br />

atual <strong>de</strong> produção. Ao contrário, é preciso generalizá-la, fundando e organizando<br />

sindicatos em todos os países. Por outro lado, os Sindicatos, sem que estejam<br />

conscientes disso, chegaram a ser o eixo da organização da classe operária. “Se os<br />

sindicatos são indispensáveis para a guerra <strong>de</strong> guerrilhas cotidianas entre o capital e o<br />

trabalho, são também importantes como meio organizado para a abolição do próprio<br />

sistema <strong>de</strong> trabalho assalariado”.<br />

Papel Papel dos dos Sindicatos<br />

Sindicatos<br />

Nessa primeira fase <strong>de</strong> existência, o sindicalismo vai <strong>de</strong>monstrar que é um<br />

instrumento indispensável para os assalariados. Com a expansão do capitalismo, que se<br />

torna o sistema predominante a partir do século passado, os sindicatos vão se espalhar<br />

pelo mundo. Deixam <strong>de</strong> ser um fenômeno na Inglaterra. Num processo dialético, em que o<br />

capital impera, suas contradições aparecem, as lutas operárias têm início e,<br />

conseqüentemente, surgem os sindicatos. Todos os avanços sociais, mesmo que<br />

pequenos ou parciais, serão fruto <strong>de</strong>ssa luta e da formação dos sindicatos. Nada será<br />

dado <strong>de</strong> mão-beijada pelo capital; nada cairá do céu. Cada nova reivindicação<br />

apresentada pelos trabalhadores representa, num primeiro momento, a redução da taxa<br />

<strong>de</strong> mais-valia do patrão. Por isso, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> luta, <strong>de</strong> pressão organizada. A história da<br />

legislação trabalhista no mundo será a história da luta <strong>de</strong> classes, em que os sindicatos<br />

jogarão um importante papel.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

PARTICIPAÇÃO PARTICIPAÇÃO DAS DAS MULHERES MULHERES NA NA LUTA LUTA DOS DOS TRABALHADORES TRABALHADORES E E NO NO MOVIMENTO<br />

MOVIMENTO<br />

SINDICAL<br />

SINDICAL<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Maria Valéria Junho Penna3<br />

Em 1872, ainda durante o Império, foi realizado o primeiro recenseamento<br />

da população brasileira. Naquele ano, constatou-se que ela era composta, por 9.700.187<br />

pessoas, das quais 4.694.943 eram mulheres e, <strong>de</strong>ssas, 689.998 mulheres escravas.<br />

Mais <strong>de</strong> cem anos <strong>de</strong>pois, o Censo Demográfico <strong>de</strong> 1980 mostra que a população<br />

brasileira é <strong>de</strong> 119.070.865 pessoas, das quais 59.146.099 do sexo feminino. Mas às<br />

diferenças; é claro, não são apenas <strong>de</strong>mográficas e numéricas: em 1888 extinguiu-se a<br />

escravidão, um, ano após proclamou-se a República, o país industrializou-se alterou-se a<br />

composição <strong>de</strong> sua população com a absorção intensa da imigração espanhola, italiana,<br />

alemã e japonesa; formou-se um proletariado urbano rural e a classe média assumiu<br />

claros contornos sociais e políticos.<br />

Nos longínqüos 1872, as mulheres compunham aproximadamente 45% do<br />

que o Censo consi<strong>de</strong>rava trabalhadores e, então, como agora, não se consi<strong>de</strong>rou as donas<br />

<strong>de</strong> casa nesse conjunto. Das mulheres que trabalhavam oficialmente, a agricultura<br />

empregava 25%, os serviços domésticos 33%. No entanto, se observarmos o total <strong>de</strong><br />

pessoas absorvidas, naquela ocasião, tanto nos· serviços, quanto na indústria,<br />

constataremos que elas eram mulheres em sua maioria. De fato, as mulheres eram<br />

dominantes na prestação <strong>de</strong> serviços pessoais· (81 % do total <strong>de</strong> pessoas no setor);<br />

contudo, diferentemente <strong>de</strong> agora, eram 78% , dos trabalhadores industriais: Elas<br />

perdiam para os homens na agricultura, que' consistia na ativida<strong>de</strong> econômica mais<br />

importante.<br />

O que esses dados do século passado mostram é que muitas mulheres<br />

trabalhavam, embora parte substancial, <strong>de</strong>sse trabalho fosse realizada <strong>de</strong>ntro da família,<br />

como donas <strong>de</strong> casa e serviçais domésticas. Política e economicamente, a família, a<br />

proprieda<strong>de</strong> territorial e a escravidão eram eixos do mesmo fenômeno, o latifúndio, com<br />

sua produção voltada para o mercado externo. No latifúndio, sinhás e escravas eram<br />

partes da mesma comunhão doméstica. Às fazen<strong>de</strong>iras, embora sob o jugo masculino e<br />

interminavelmente explorando as escravas, cabia, não obstante, <strong>de</strong>sempenhar várias ocupações:<br />

supervisionava e controlava todas as ativida<strong>de</strong>s caseiras, como cuidar das<br />

crianças, cozinha e costura e, ainda, a produção <strong>de</strong> sabão e velas, freqüentemente<br />

comercializados nas vilas mais próximas. No caso das mulheres escravas, elas partilhavam,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenas, com as crianças do sexo masculinas, as tarefas mais duras e<br />

pesadas, tanto domésticas quanto na agricultura. Elas roçavam plantavam e colhiam<br />

algumas cultivavam ainda, alimentos em pequenos pedaços <strong>de</strong> terras que vendiam e<br />

assim, logravam comprar sua liberda<strong>de</strong>.<br />

Na periferia da gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> territorial estavam os antepassados dos<br />

atuais bóias-frias: homens e mulheres pobres e brancos, sem proprieda<strong>de</strong>, e que,<br />

eventualmente, eram incorporados às ativida<strong>de</strong>s do latifúndio: Nesse grupo, disperso pelo<br />

território brasileiro e <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> terras, as mulheres ficavam com o encargo dos filhos,<br />

3 Este texto foi distribuído pela Nalú Farias da SOF, durante o Curso <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Educadores/as em<br />

Concepção Prática Sindical e Metodologia da Formação, realizado pela ENFOC/CONTAG.


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

freqüentemente abandonados pelos pais, <strong>de</strong>dicando-se ao comércio ambulante <strong>de</strong><br />

mercadorias feitas em casa, à prestação <strong>de</strong> serviços pessoais como costura ou cozinha e,<br />

finalmente, à prostituição. A mulher taboleira, por exemplo, teve origem nesse pequeno<br />

comércio ambulante, on<strong>de</strong> se vendia sonhos, café torrado, flores, refrescos, cestos,<br />

palmitos, aves, milho assado, bolo, angu, etc.<br />

Foi também no século passado que tomou impulso a constituição <strong>de</strong> um<br />

campo <strong>de</strong> trabalho fundamental para a jovem <strong>de</strong> classe média: o ensino primário.<br />

Inicialmente, o ensino era uma esfera <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s masculina, mesmo porque, até o<br />

inicio do século XIX, um conjunto <strong>de</strong> medidas legais restringia o acesso das mulheres às<br />

escolas e, portanto, à habilitação profissional. Apenas em 1827 surgiu a primeira<br />

regulamentação que permitia às mulheres freqüentarem o ensino elementar, mas apenas<br />

esse. As primeiras Escolas Normais (a da Bahia, fundada em 1835, e a <strong>de</strong> São Paulo,<br />

fundada em 1836) <strong>de</strong>stinavam-se exclusivamente a rapazes. Não po<strong>de</strong>ndo ser alunas,<br />

não podiam ser professoras. Aos poucos, no entanto, as vagas foram se abrindo às<br />

mulheres e, finalmente, em 1871, reorganizou·se o ensino <strong>de</strong> formação para o magistério,<br />

aceitando-se a participação feminina, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que com um currículo específico que<br />

incluísse bordado branco, em filó, <strong>de</strong> matizes, flores <strong>de</strong> contas e aplicação, cortes <strong>de</strong><br />

roupas brancas e lisas.<br />

Como se sabe, as restrições progressivas ao tráfego negreiro, a libertação <strong>de</strong><br />

escravos sexagenários, a Lei do Ventre livre, começaram a configurar uma crise na oferta<br />

<strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e a estimular o comércio interno <strong>de</strong> escravos, principalmente em direção<br />

às regiões fluminense e paulista, para absorção nas lavouras <strong>de</strong> café. No mesmo período,<br />

expandiu-se a cultura do algodão em São Paulo e surgiram as primeiras fábricas têxteis.<br />

Em resumo, a expansão econômica da lavoura para exportação provocou uma crise na<br />

lavoura para o abastecimento interno e uma <strong>de</strong>manda não suprida por mão-<strong>de</strong>-obra. A<br />

longo prazo, promovida pelo Estado em estreita conexão com os empresários, a imigração<br />

européia seria a solução para a questão da força <strong>de</strong> trabalho nas lavouras <strong>de</strong> exportação<br />

e consumo interno e, ainda, para a indústria em expansão. A curto prazo, mulheres e<br />

crianças das periferias pobres das cida<strong>de</strong>s forneceram os primeiros braços para essa<br />

indústria.<br />

MULHERES MULHERES E E CRIANÇAS CRIANÇAS NA NA FÁBRICA FÁBRICA<br />

FÁBRICA<br />

O panorama da convivência das mulheres e crianças com as fábricas foi,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, <strong>de</strong>solador: viviam nelas, trabalhando uma jornada <strong>de</strong> até <strong>de</strong>zesseis horas<br />

diárias, dormindo e se alimentando entre máquinas; eram obrigadas, após incontáveis<br />

horas <strong>de</strong> trabalho, a apren<strong>de</strong>r corte e costura e, freqüentemente, não faziam jus a<br />

nenhum salário. As condições <strong>de</strong> trabalho supunham, ainda, a sujeira, a insalubrida<strong>de</strong>, os<br />

espancamentos e estupros.<br />

À medida que o século XX se avizinhava, vilas operárias foram sendo<br />

construídas, os homens - freqüentemente imigrantes estrangeiros - passaram,<br />

paulatinamente, a substituir as mulheres nas oficinas, os salários generalizaram-se no interior<br />

da indústria, iniciando-se o hábito <strong>de</strong> pagamento diferenciado entre os sexos, com<br />

os homens recebendo salários maiores que as mulheres.<br />

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Uma operária, Luzia Ferreira <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, da fábrica têxtil Bangu, no<br />

subúrbio do Rio, contou como eram as condições <strong>de</strong> trabalho já <strong>de</strong>pois da virada do<br />

século: "Entrei para a fábrica Bangu no período da primeira guerra mundial com sete anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Iniciava o trabalho às seis e terminava por volta das 17 horas - sem horário para<br />

almoço <strong>de</strong> <strong>de</strong>finido. Era o critério dos mestres o direito <strong>de</strong> comer e tendo ou não tempo<br />

para almoçar, o salário era o mesmo. Isso, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passada a fase do<br />

trabalho gratuito, que chamavam <strong>de</strong> aprendizado. Não tínhamos lugar para comer. As<br />

refeições eram feitas entre as máquinas. A Penas uma pia imunda servia· nos <strong>de</strong><br />

bebedouro. Nunca recebíamos horas extras, mesmo trabalhando além do horário<br />

estabelecido. Mestre Cláudio fechava as moças no escritório para força-la à praticar<br />

relação sexual. Muitas moças foram prostituídas por aquele canalha. (Em Edgar<br />

Rodrigues, Alvorada Operária.)<br />

O fato é que as mulheres: além <strong>de</strong> estarem submetidas, como os homens<br />

trabalhadores, a condições <strong>de</strong> trabalho corrosivas, diferentemente <strong>de</strong>sses, ainda sofriam<br />

maus tratos corporais e auferiam salários mais baixos. Dados <strong>de</strong> 1912, do Departamento<br />

Estadual do Trabalho <strong>de</strong> São Paulo, revelam que foram visitadas, para confecção <strong>de</strong> um<br />

relatório, fábricas que contavam com 1.943 trabalhadores brasileiros, 7.499 estrangeiros<br />

e 862 <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> ignorada. Dos 10.304 recenseados, 6.80I eram do sexo feminino.<br />

A jornada <strong>de</strong> trabalho iniciava-se por volta das cinco e meia da manhã e terminava treze<br />

horas <strong>de</strong>pois. O salário médio das mulheres era bastante mais baixo que o dos homens: o<br />

salário médio masculino na fiação era <strong>de</strong> 4$500 réis e o das mulheres, 2$000 réis. Na<br />

seção <strong>de</strong> acabamento, em média, os homens recebiam 4$900 réis e as mulheres<br />

recebiam 3$000 réis.<br />

O O PROTESTO PROTESTO PROTESTO FEMININO<br />

FEMININO<br />

No entanto, por mais dramática que fosse a vida da mulher operária,<br />

dividida entre seus afazeres domésticos e a longa jornada do trabalho assalariado, esse<br />

fato não a fez abdicar da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reação à injustiça e da ação política. No<br />

Brasil, no início do século, anarquistas e socialistas foram os arquitetos da questão social<br />

- uma questão <strong>de</strong> polícia para o Estado. Assim, foi no interior <strong>de</strong>sses dois movimentos que<br />

as mulheres procuraram <strong>de</strong>marcar um território para sua luta. Porque luta houve. O jornal<br />

A Terra Livre, <strong>de</strong> tendência anarquista, foi o veículo utilizado pelas costureiras das<br />

confecções para articular suas <strong>de</strong>mandas e organizar seus sindicatos. Dois manifestos,<br />

assinados por Teresa Cari, Teresa Fabri e Maria Lopes, ficaram célebres. Neles, por<br />

exemplo, podia-se ler: "Devemos <strong>de</strong>monstrar, enfim, que somos capazes <strong>de</strong> exigir o que<br />

nas pertence; e se todas forem solidária, se todas nos acompanharem nessa luta, se nos<br />

<strong>de</strong>rem ouvidos, nós começaremos por <strong>de</strong>smascarar a cupi<strong>de</strong>z dos patrões sanguinolentos".<br />

(A Terra Livre, 19.07I 906.)<br />

Conjuntamente ao apelo em nome dos' "direitos", vinham reivindicações<br />

mais concretas e imediatas, mas não menos importantes, exigindo melhores salários e<br />

menor jornada. Ao mesmo tempo muitas mulheres encabeçaram alguns dos mais<br />

importantes movimentos grevistas do período.<br />

Em 1901 e 1903, na Álvares Penteado, paralisaram o trabalho em protesto<br />

contra as condições <strong>de</strong> trabalho e os salários; na mesma época, na Companhia Industrial<br />

<strong>de</strong> São Paulo, fizeram uma paralisação contra a diminuição <strong>de</strong> tarefas; em 1902, na<br />

Anhaia, em São Paulo, entraram em greve por solidarieda<strong>de</strong> a uma companheira<br />

<strong>de</strong>spedida; em 1903, na Cruzeiro, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, pelas mesmas razões, com o<br />

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agravante <strong>de</strong> que a operária em questão, recém-parida, fora dispensada pelo mestre que<br />

a engravidou; em 1906 e 1907, em fábricas por todo o país, pela diminuição da jornada.<br />

Em 1917, as mulheres pararam os trabalhos nas Fábricas Matarazzo,<br />

Fábrica <strong>de</strong> ligas Peterson, Fábrica <strong>de</strong> tecidos Mariângela, Fábrica <strong>de</strong> cigarros Trajano; e<br />

em 1919, em Porto Alegre, tecelãs da Cia. Têxtil Rio Gran<strong>de</strong>nse, Companhia <strong>de</strong> Fiação e<br />

Tecidos Porto-Alegrense e trabalhadoras da fábrica <strong>de</strong> chapéus F. C. Kessler & Cia.,<br />

participaram <strong>de</strong> nova greve geral por aumento <strong>de</strong> salário, além das havidas no Rio e em<br />

São Paulo.<br />

MULHERES MULHERES ENTRAM ENTRAM PARA PARA OS OS SINDICATOS<br />

SINDICATOS<br />

Embora houvesse inúmeros fatores freando a participação feminina na vida<br />

sindical.., . <strong>de</strong> um lado, a relutância masculina em aceitá-Ias como companheiras e, <strong>de</strong><br />

outro, as exigências <strong>de</strong> sua dupla jornada <strong>de</strong> trabalho que não Ihes <strong>de</strong>ixava tempo para a<br />

política - ainda assim, existem numerosos registros mostrando que um esforço consi<strong>de</strong>rável<br />

nessa direção foi realizado: não apenas vários sindicatos femininos foram<br />

fundados, quanto há evidências <strong>de</strong> freqüência <strong>de</strong> mulheres, inclusive discursando, em<br />

alguns congressos operários. ,<br />

Dos sindicatos constituídos, um dos mais importantes foi a União das<br />

Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas, com se<strong>de</strong> na rua Senhor dos Passos, no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, on<strong>de</strong> já funcionava a União dos Alfaiates da mesma cida<strong>de</strong>. Â União foi fundada<br />

por 50 operárias e sua primeira medida foi <strong>de</strong>flagrar uma greve pela redução da jornada<br />

<strong>de</strong> trabalho a oito horas diárias. Uma <strong>de</strong> suas inspiradoras, Elvira Boni, lembra que o<br />

trabalho começava às 8 h da manhã, terminando às 19 h, isso "quando a dona do atelier<br />

não prorrogava a jornada até às 20 ou 22 horas, sempre pelo mesmo salário". (Em Edgar<br />

Rodrigues, Alvorada Operária.)<br />

Por sua vez, em alguns Congressos Operários, sua presença foi <strong>de</strong>stacada.<br />

No 2º Congresso Operário do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, realizado em 1920, lima operária<br />

<strong>de</strong>legada, <strong>de</strong> nome Alzira, dis<strong>curso</strong>u sobre as condições do trabalho feminino, <strong>de</strong>stacando<br />

como essas eram tão árduas que impediam um companheirismo mais vigoroso como o<br />

dos homens na vida sindical: “Quando tomamos conta que a jornada <strong>de</strong> trabalho é <strong>de</strong> 8<br />

horas e mais, pois ainda há casas em que se trabalham 14 a 16 horas, como por exemplo<br />

as chapeleiras, costureiras sob medida, etc., po<strong>de</strong>mos ainda lembrar o estado <strong>de</strong> ânimo<br />

em que se encontram nossas irmãs, que após tão fatigante trabalho em troca <strong>de</strong> um<br />

mísero salário , tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer seus serviços domésticos. Como já disse, a<br />

maioria é composta por mães <strong>de</strong> famílias, necessitando sustentar os seus e ampará-los<br />

contra as misérias da vida (...) " (Em Edgar Rodrigues, Alvorada Operária.)<br />

De fato, embora a presença <strong>de</strong> mulheres não tenha sido usual nos<br />

Congressos, sendo mesmo obstaculada em alguns casos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras reuniões <strong>de</strong><br />

trabalhadores formou-se um certo consenso sobre quais <strong>de</strong>veriam ser as condições <strong>de</strong><br />

seu trabalho extra-doméstico. Uma resolução do 3º Congresso Operário Brasileiro,<br />

realizado entre 23 e 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1920, resume esse consenso: "O 3º Congresso<br />

Operário, confirmando as resoluções do 1º Congresso quanto à situação do elemento<br />

feminino no meio proletário, aconselha vivamente as associações obreiras a se<br />

esforçarem para interessar diretamente as operárias na vida sindical, preocupando-se<br />

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com a sua educação social e intelectual e para que se estabeleça no trabalho um<br />

ambiente <strong>de</strong> respeito, repelindo as brutalida<strong>de</strong>s dos patrões e encarregados <strong>de</strong> serviços<br />

intensificando-se a campanha no sentido <strong>de</strong> que para elas seja abolido o trabalho noturno<br />

e o seus salários sejam equiparados aos dos homens."<br />

A <strong>de</strong>manda por uma legislação especial, <strong>de</strong> caráter protetor, embora<br />

discutível para muitos em virtu<strong>de</strong> dos embaraços que terminou por causar para a<br />

contratação e a carreira das mulheres, acabou por prevalecer e, em 1932, foi reconhecida<br />

pelo Estado, pelo Decreto 21.417, que tanto proibia seu trabalho noturno, quanto criava<br />

condições mais favoráveis à gravi<strong>de</strong>z e estabelecia o princípio do salário igual para<br />

trabalho igual.<br />

AS AS MULHERES MULHERES MULHERES COMO COMO FORÇA DE TRABALHO<br />

O censo <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> 1920 mostrava que então 1.434.000 mulheres<br />

trabalhavam oficialmente, apresentando 15% da força <strong>de</strong> trabalho. Deste total <strong>de</strong><br />

mulheres trabalhadoras, 42% estavam na agricultura, 31 % na indústria (inclusive em<br />

serviços <strong>de</strong> reparação) e 26% em serviços.<br />

No entanto, tomando o total <strong>de</strong> pessoas trabalhando nos diversos setores da<br />

economia, constata-se que, na agricultura as mulheres eram 9% da força <strong>de</strong> trabalho; na<br />

indústria <strong>de</strong> transformação 36%; na prestação <strong>de</strong> serviços, 81 %. Comparando os dados<br />

<strong>de</strong> 1872 com os <strong>de</strong> 1920, a conclusão mais importante é que, à medida que a indústria<br />

se expandiu, diminuiu a participação das mulheres no seu interior. Outras informações<br />

<strong>de</strong>monstram que, não obstante esse <strong>de</strong>créscimo, elas permaneceriam, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, em<br />

torno da meta<strong>de</strong> do proletariado têxtil e seriam majoritárias no setor <strong>de</strong> confecções.<br />

Assim, vale a pena lembrar que durante toda a década dos vinte, e no início<br />

dos anos 30, principalmente ma condição <strong>de</strong> tecelãs e costureiras, elas militaram no<br />

movimento dos trabalhadores: a título <strong>de</strong> exemplo, eclodiram greves na Fábrica <strong>de</strong><br />

Tecidos Santa Maria, em Sorocaba, em I 922 no mesmo ano, no Rio, participaram da tentativa<br />

<strong>de</strong> uma greve geral da categoria: em 1925, borda<strong>de</strong>iras, costureiras e<br />

trabalhadoras <strong>de</strong> fábricas <strong>de</strong> fósforos em Niterói <strong>de</strong>ram testemunho em A Classe Operária<br />

sobre suas condições <strong>de</strong> trabalho e salários e tentaram ganhar a solidarieda<strong>de</strong> masculina<br />

para suas reivindicações; fizeram greves na Fábrica <strong>de</strong> Tecidos Irmãos Tognato, em São<br />

Bernardo, em 1931.<br />

PIONEIRAS PIONEIRAS DA DA LUTA LUTA SOCIAL<br />

SOCIAL<br />

Algumas mulheres <strong>de</strong>stacaram-se na vida pública e em sua participação<br />

junto às organizações operárias. Dentre várias, cabe <strong>de</strong>stacar Maria Lacerda <strong>de</strong> Moura,<br />

Isabel Ferreira Bertolucci e Bertha Lutz.<br />

Maria Lacerda <strong>de</strong> Moura; mineira <strong>de</strong> Manhuaçu nascida em 1877,<br />

professora e escritora, organizou a Vila Dom Viçosa, em Barbacena, na qual 22 casas<br />

foram construídas para favelados e, ainda, fundou a Liga Contra o Analfabetismo.<br />

Convidada para discursar na Fe<strong>de</strong>ração Operária Mineira, afirmou na ocasião: "A questão<br />

social, a questão do bem-estar para todos resume-se no seguinte: 1º) Formar um núcleo<br />

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<strong>de</strong> resistência feminina, cujo objetivo será protestar contra a escravidão da mulher,<br />

trabalhar para a reivindicação <strong>de</strong> seus direitos e para sua emancipação mental. 2.°)<br />

Pregar e exigir a educação popular, a instrução obrigatória, a educação racional feminina<br />

por todo o país. 3.°) Trabalhar para a criação <strong>de</strong> uma ou mais universida<strong>de</strong>s femininas,<br />

sob esses mol<strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong> preparar o pequenino exército das trabalhadoras que <strong>de</strong>verão<br />

sair para o interior em <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> outras mulheres <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, educando-as num<br />

sonho <strong>de</strong> Paz futura para toda a gente. 4.°) Abrir escolas do caráter e da boa vonta<strong>de</strong>,<br />

escolas que <strong>de</strong>spertem a iniciativa, escolas <strong>de</strong> força moral, porquanto é a força moral que<br />

conduz o mundo no dizer <strong>de</strong> Binet. 5.°) Promover o estudo da psicologia das forças<br />

ancestrais, da higiene, da fisiologia, da educação e da ética, das ciências enfim, da<br />

filosofia, das artes - para o conhecimento da humanida<strong>de</strong> e das leis evolutivas em favor<br />

da beleza e da perfeição dos costumes. 6.°) Trabalhar pela juventu<strong>de</strong> e pelo exemplo<br />

para dar à criança, fazendo crescer na juventu<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al mais amplo - <strong>de</strong><br />

justiça e eqüida<strong>de</strong> entre os homens. 7.°) Falar, pregar e protestar contra as mentiras<br />

convencionais, contra a hipocrisia protocolar, <strong>de</strong>testar a política. 8.°) Pregar a Paz,<br />

abominar a guerra, ampliar o amor à Pátria, fazê-Ia atravessar as fronteiras e olhar a<br />

Humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma só vez, abrangendo as nacionalida<strong>de</strong>s como membros da família<br />

humana".<br />

Isabel Bertolucci celebrizou-se pelo seu "Manifesto à Mulher Paulista",<br />

publicado em A Plebe, em 03/12/1932, por ocasião do movimento constitucionalista.<br />

Segundo ela própria, sua origem social estava na classe dos que tudo produzem e nada<br />

possuem. No seu manifesto procurou, ultrapassando sua condição social e dirigir-se a<br />

todas as classes <strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> forma a persuadí-Ias <strong>de</strong> sua crença pacifista e da<br />

imoralida<strong>de</strong> das guerras.<br />

Bertha Lutz, já em 1919, juntamente com Olga <strong>de</strong> Paiva Meira, representou<br />

o Brasil no Conselho Feminino Internacional, da Organização Internacional do Trabalho,<br />

em cuja Primeira Conferência foram aprovados os princípios "<strong>de</strong> salário igual, sem<br />

distinção <strong>de</strong> sexo, para o mesmo trabalho; e a obrigação <strong>de</strong> caia Estado organizar um<br />

serviço <strong>de</strong> inspeção, incluindo mulheres, a fim <strong>de</strong> assegurar a aplicação das leis e<br />

regulamentos para a frr0teção dos trabalhadores". Em 1922, fundou a Fe<strong>de</strong>ração<br />

Brasileira Para o Progresso Feminino, em cujo estatuto se esclareciam seus objetivos:<br />

profissão;<br />

Promover educação da mulher e elevar seu nível <strong>de</strong> instrução;<br />

Proteger as mães e a infância;<br />

Obter garantias legislativas e práticas para o trabalho feminino;<br />

Auxiliar as boas iniciativas das mulheres e orienta-Ias, na escolha <strong>de</strong> urna<br />

Estimular o espírito <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> cooperação entre as mulheres e<br />

interessá-Ias pelas questões sociais e <strong>de</strong> alcance público;<br />

Assegurar à mulher os direitos políticos que a nossa Constituição lhe oferece<br />

e prepará-Ia para o exercício inteligente <strong>de</strong>sses direitos;<br />

Estreitar os laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com os <strong>de</strong>mais paises americanos, a fim <strong>de</strong><br />

garantir a manutenção perpétua da Paz e da Justiça no Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal.<br />

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Em 1936, Bertha passou a integrar a Câmara Legislativa Fe<strong>de</strong>ral, como<br />

suplente da vaga <strong>de</strong>ixada por outro Deputado, elaborando, na ocasião, o Estatuto da<br />

Mulher, apresentado por ela e pela Deputada Carlota Pereira <strong>de</strong> Queiroz. O Estatuto<br />

ampliava a licença especial na época do parto para três meses; concedia à trabalhadora o<br />

direito <strong>de</strong> dois períodos diários para amamentação, <strong>de</strong> meia hora cada um, durante os<br />

seis meses iniciais <strong>de</strong> vida do bebê; reduzia <strong>de</strong> 30 para 20 o número <strong>de</strong> empregadas no<br />

local <strong>de</strong> trabalho cuja presença exigia creches. Com o golpe <strong>de</strong> 1937 e o Estado Novo,<br />

fechado o Congresso, as reivindicações <strong>de</strong> Bertha Lutz tiveram <strong>de</strong> esperar por melhores<br />

oportunida<strong>de</strong>s, e algumas <strong>de</strong>las somente foram concedidas em 1962.<br />

Mas outras mulheres, <strong>de</strong> extrações i<strong>de</strong>ológicas e partidárias diversas,<br />

procuraram igualmente organizar-se, participando da vida pública. Em 1934, como parte<br />

da Aliança Nacional libertadora, fundou-se a União Feminina que, no entanto, em 1935 foi<br />

consi<strong>de</strong>rada ilegal, assistindo-se à prisão <strong>de</strong> várias <strong>de</strong> suas integrantes. Por sua vez,<br />

durante a II Guerra Mundial, organizou-se o Departamento Feminino da Liga <strong>de</strong> Defesa<br />

Nacional, cujos objetivos, além <strong>de</strong> recolher dos nativos e roupas para os soldados, eram,<br />

no âmbito do estritamente econômico, lutar contra os aumentos no custo <strong>de</strong> vida e, no<br />

âmbito do político, combater o nazi-fascismo e sua influência no país.<br />

PARTICIPAÇÃO PARTICIPAÇÃO PARTICIPAÇÃO FEMININA FEMININA FEMININA NO NO PÓS PÓS-GUERRA<br />

PÓS GUERRA GUERRA<br />

Terminada a guerra, promoveu-se um encontro nacional <strong>de</strong> várias<br />

associações femininas, com representantes <strong>de</strong> vários estratos sociais, incluindo mulheres<br />

<strong>de</strong> classe média, operárias e faveladas. Nessa ocasião, duas <strong>de</strong>las, participando do<br />

Primeiro Congresso Internacional <strong>de</strong> Mulheres, em Paris, ressaltaram em dis<strong>curso</strong> os<br />

males do fascismo e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcionar-se instrução política às mulheres, "a<br />

fim <strong>de</strong> possibilitar-lhes participação efetiva nos movimentos <strong>de</strong> combate à guerra e aos<br />

regimes <strong>de</strong> força". (I<strong>de</strong>m.) Todo esse esforço acabou por re<strong>sul</strong>tar, em 1949, na<br />

constituição da Fe<strong>de</strong>ração das Mulheres do Brasil, que consistiu em forte impulso para<br />

outros núcleos locais, freqüentemente organizados em comitês <strong>de</strong> bairros.<br />

No final dos anos 40 e durante a década seguinte, a participação feminina<br />

foi intensa no movimento contra a carestia: no então Distrito Fe<strong>de</strong>ral, on<strong>de</strong> se fundou a<br />

Associação Feminina, mais <strong>de</strong> mil mulheres se congregaram para, nas palavras <strong>de</strong> uma<br />

estudiosa, "lutar pela solução dos problemas especificas dos bairros, pela paz, contra a<br />

elevação do custo <strong>de</strong> vida, pelos direitos das mulheres, pela <strong>de</strong>fesa e proteção da<br />

infância". (I<strong>de</strong>m). Também vale a pena ressaltar o papel que elas cumpriram na<br />

organização do movimento <strong>de</strong> anistia para aquelas pessoas perseguidas ou presas pelo<br />

Estado Novo.<br />

Embora as mulheres tenham participado <strong>de</strong> formas variadas, da dinâmica<br />

do movimento operário no período pós Estado Novo, <strong>de</strong>staca-se seu <strong>de</strong>sempenho na<br />

greve <strong>de</strong> 1953, em São Paulo, que paralisou aproximadamente 300 mil trabalhadores e,<br />

cuja comissão central a tecelã Mariana Galgaitez terminou por integrar. Na ocasião, várias<br />

outras grevistas foram indiciadas em processos por sua presença em piquetes. (Ver José<br />

Álvaro Moisés, Greve <strong>de</strong> Massas e Crise Política, Ed. Polis, São Paulo). De fato, a greve<br />

teve como origem a luta pelo aumento do salário mínimo, congelado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1951 e<br />

<strong>de</strong>svalorizado pelos constantes aumentos no custo <strong>de</strong> vida (que Celso Furtado estima<br />

como sendo <strong>de</strong> 50% entre 1949-52). A greve <strong>de</strong> São Paulo não foi isolada e dados<br />

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coletados por José Álvaro Moisés lhe permitiram falar em 264 paralisações no período<br />

1951-1952, eclodidas em todo país, cujas principais motivações eram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aumentos nos salários, pagamento <strong>de</strong> salários atrasados, solidarieda<strong>de</strong>, melhores<br />

condições <strong>de</strong> trabalho e, em número menor, bonificação <strong>de</strong> Natal e o protesto contra a<br />

carestia.<br />

Os Censos Demográficos <strong>de</strong> 1940 e 1950 continuavam, então, acusando<br />

queda da participação feminina na indústria e sua persistência na prestação <strong>de</strong> serviços<br />

pessoais. Em 1940, o trabalho industrial das mulheres caíra para 26.4% e em 1950 para<br />

23.9% do total <strong>de</strong> trabalhadores.<br />

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HISTÓRIA HISTÓRIA DO DO DO MOVIMENTO MOVIMENTO SINDICAL SINDICAL4<br />

De De 1964 1964 aos aos nossos nossos dias<br />

dias<br />

O golpe militar <strong>de</strong> 1964 colocou às escuras os movimentos sociais e<br />

grevistas que tiveram gran<strong>de</strong> atuação no período 1959/1963. As fortes repressões não<br />

permitiram que entre 1964 e 1977 houvesse praticamente nenhuma greve ou outras<br />

formas quaisquer <strong>de</strong> manifestação.<br />

Os trabalhadores e trabalhadoras enfrentaram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a instauração da<br />

ditadura militar no Brasil em 1964, uma forte repressão às organizações que lutavam<br />

contra as políticas salariais que arrochavam o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra e as condições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />

toda a classe. O governo ditador procurou atacar as cúpulas dos sindicatos realizando<br />

intervenções nas organizações, <strong>de</strong>smantelando as estruturas já construídas<br />

anteriormente e impedindo qualquer tipo <strong>de</strong> articulação dos operários que intuísse a<br />

formação <strong>de</strong> um grupo opositor organizado.<br />

Mas, mesmo sobre forte pressão os trabalhadores e trabalhadoras se<br />

organizam e realizam, em 1967, a II Conferência Nacional <strong>de</strong> Dirigentes Sindicais,<br />

marcando posição contrária à política <strong>de</strong> arrocho salarial e buscando construir junto aos<br />

operários as comissões sindicais <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras. No entanto, mesmo<br />

com a manifestação contrária <strong>de</strong> alguns grupos <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras que<br />

paralisavam isoladamente algumas fábricas afrontando e contestando a política<br />

econômica do governo militar ditador, a luta sindical perdurou durante um gran<strong>de</strong> período<br />

do pós-64 sem atingir plenamente os seus objetivos.<br />

O movimento dos trabalhadores e trabalhadoras organizados em sindicatos<br />

ainda conseguiu causar gran<strong>de</strong>s problemas para os ditadores em 1968, sobretudo, com a<br />

greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Belgo Mineira em <strong>Contag</strong>em-MG, e com os<br />

metalúrgicos <strong>de</strong> Osasco que, com um forte sindicato, <strong>de</strong>sempenharam um papel<br />

importante na organização das ações dos trabalhadores e trabalhadoras.<br />

As ações do governo também se tornavam duras em relação a qualquer<br />

manifestação ou postura <strong>de</strong> contestação, por mais “irrelevantes” que fossem. Em 1969, o<br />

Ministro Jarbas Passarinho através <strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto intervém em vários sindicatos,<br />

afastando os seus dirigentes que, em sua opinião, não conseguiram disciplinar as<br />

entida<strong>de</strong>s com a or<strong>de</strong>m social vigente 5 .<br />

Essa situação <strong>de</strong> perseguição <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças e <strong>de</strong> intervenção nas entida<strong>de</strong>s<br />

por parte do governo ditatorial continuou, mas sem eliminar totalmente o “germe” da<br />

subversão que se manteria vivo e crescente até o final dos anos 70, quando as<br />

manifestações ganham as ruas e o interior das fábricas.<br />

Por outro lado, é importante registrar o papel que a União Nacional dos<br />

Estudantes (UNE) <strong>de</strong>sempenhou nesse período. A UNE, fundada em 1937, tem<br />

logicamente <strong>de</strong>sempenhado um papel importante na história política nacional. Em vários<br />

4 Cartilha <strong>de</strong> Formação CNTE. Jones Dori Goettert<br />

5 Cf. SANTANA, 2001.<br />

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momentos <strong>de</strong>ssa história, principalmente num passado recente, firmou-se como uma<br />

entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> força política na coor<strong>de</strong>nação das mobilizações e ações dos estudantes.<br />

No período pós-60, em que o país viveu um momento político e econômico<br />

conturbado, com a manifestação constante do operariado e com a insatisfação dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras rurais exigindo reforma agrária, a UNE procurava <strong>de</strong>marcar<br />

as suas posições i<strong>de</strong>ológicas consi<strong>de</strong>rando, é claro, a diversida<strong>de</strong> interna dos grupos que<br />

a compunham, mas comungando com os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> transformação social (o que pouco<br />

tempo <strong>de</strong>pois colocaria a entida<strong>de</strong> na mira dos ditadores).<br />

Apesar das suas várias tendências internas, que claramente se<br />

posicionavam contrárias ao regime ditatorial militar imposto em 1964, e mesmo sendo<br />

formada em gran<strong>de</strong> parte por estudantes <strong>de</strong> classe média, um pouco distantes da dura<br />

realida<strong>de</strong> vivida pelos trabalhadores e trabalhadoras, a UNE se uniu aos <strong>de</strong>mais<br />

oposicionistas à ditadura (como o PCB, PSB, PTB, FPN, Confe<strong>de</strong>ração Geral dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras e as Ligas Camponesas), trilhando em conjunto o caminho<br />

da luta pela re<strong>de</strong>mocratização.<br />

A posição da UNE frente ao governo continuou sendo a <strong>de</strong> <strong>de</strong>saprovação,<br />

organizando manifestações e sofrendo uma violenta repressão como resposta, que<br />

procurava remo<strong>de</strong>lar e enquadrar o movimento estudantil na “nova or<strong>de</strong>m social” ditada<br />

pelos militares 6 .<br />

A perseguição e repressão sobre os estudantes, sindicalistas, trabalhadores<br />

e trabalhadoras e intelectuais, acentuou-se drasticamente com o Ato Institucional número<br />

5, o AI – 5, <strong>de</strong> 1968.<br />

O AI-5 anulou o Estado <strong>de</strong> Direito no Brasil firmando um governo <strong>de</strong> direita<br />

autoritário. Suas práticas, agora, estavam institucionalizadas; práticas <strong>de</strong> repressão<br />

política contra todos aqueles que pu<strong>de</strong>ssem ser enquadrados ou que se caracterizassem<br />

minimamente como subversivos, como inimigos da or<strong>de</strong>m estabelecida. Uma or<strong>de</strong>m que<br />

não trouxe para a maior parte da população, e claramente para a gran<strong>de</strong> parte da classe<br />

trabalhadora, nenhuma melhora em suas condições <strong>de</strong> vida 7 .<br />

Ao fechar o Congresso e instituir um bi-partidarismo que forjava uma falsa<br />

idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia com o MDB como “oposição” consentida à ARENA, partido do<br />

governo, a ditadura militar <strong>de</strong>monstrava ainda mais sua truculência e arbitrarieda<strong>de</strong>. Já<br />

para os militantes <strong>de</strong> esquerda envolvidos em ações políticas, manifestações e<br />

organizações contrárias à ditadura, o AI - 5 instaurou a prisão arbitrária, a violência sem<br />

limites, à tortura e, em diversos casos, o assassinato.<br />

Mas, mesmo durante esse período vários sindicatos tentaram, mesmo que<br />

timidamente, orientar as bases para continuar reivindicando e se contrapondo às políticas<br />

<strong>de</strong> arrocho salarial, através da organização no “chão das fabricas” fazer frente ao<br />

processo <strong>de</strong> controle sobre o aumento <strong>de</strong> salários baseado no AI-5.<br />

As greves começaram a ressurgir no ano <strong>de</strong> 1978, quando os trabalhadores<br />

e trabalhadoras, já no máximo <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> exploração e percebendo o momento<br />

6 Cf. SANFELICE, 1986.<br />

7 Cf. SEGAL, 2001.<br />

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político favorável, começam a se manifestar e a exigir melhorias no salário que<br />

possibilitassem a melhoria das suas condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho. Essas<br />

manifestações aconteciam e continuaram seguindo esta lógica durante algum tempo, nos<br />

momentos <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong> salários (a data base <strong>de</strong> cada categoria), que passou a ser o<br />

momento mais propício para o enfrentamento político, que também procurava abarcar<br />

outras questões, além das salariais.<br />

As greves passaram a ter um crescimento anual consi<strong>de</strong>rável, envolvendo<br />

cada vez mais categorias <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras e tendo à frente os operários<br />

das fábricas produtoras <strong>de</strong> automóveis, os metalúrgicos. Nascia o “novo sindicalismo”. A<br />

partir <strong>de</strong> 1978, constitui-se um amplo movimento social <strong>de</strong> massas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização<br />

interna, <strong>de</strong> inserção no processo <strong>de</strong> luta da <strong>de</strong>mocracia, <strong>de</strong> confronto com os limites<br />

impostos pelo autoritarismo no Brasil ao pleno exercício da cidadania dos trabalhadores e<br />

trabalhadoras. O “novo sindicalismo” extrapolava, portanto, “o terreno <strong>de</strong> suas funções<br />

sindicais, e re<strong>de</strong>finiu-se em face do conjunto <strong>de</strong> agentes que, no Brasil, lutam pela<br />

<strong>de</strong>mocracia: fala-se hoje, abertamente, que os trabalhadores e trabalhadoras são a<br />

espinha dorsal do movimento <strong>de</strong>mocrático brasileiro”, porque sem eles qualquer<br />

“abertura” ou “liberalização” apenas reconstruiria o círculo vicioso da crise do regime<br />

autoritário 8.<br />

As manifestações dos trabalhadores e trabalhadoras que se avolumam no<br />

final da década <strong>de</strong> 70, e que tem o ABC paulista como palco inicial, estão ligadas não só à<br />

resistência política contra a ditadura, mas também se contrapõem às investidas políticoeconômicas<br />

do capital que arrochavam os salários e aumentavam a exploração do<br />

trabalho.<br />

O acontecimento primeiro <strong>de</strong>sse período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> movimentação foi à<br />

greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Saab-Scania, com início em 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

1978. Os operários enfatizavam que a empresa não havia cumprido o acordo <strong>de</strong><br />

readmissão <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras dispensados em protestos anteriores, em<br />

1977. O movimento alastrou-se extrapolando o ABC e chegando a outros municípios como<br />

São Paulo e Osasco, acabando por atingir outros setores da economia, mesmo com a<br />

<strong>de</strong>cisão do Tribunal Regional do Trabalho <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a greve ilegal.<br />

Estas manifestações continuariam crescendo durante o ano <strong>de</strong> 1979, <strong>de</strong><br />

forma a aumentar a participação e a atuação dos trabalhadores e trabalhadoras na<br />

política nacional. Com a greve iniciada em 1978 o movimento expan<strong>de</strong>-se e ganha força<br />

em outros estados brasileiros, alcançando Minas Gerais, Rio <strong>de</strong> Janeiro e Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul. Contudo, é em seu “centro nervoso”, o ABC paulista, que o movimento dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras assume outros patamares, indo além das questões<br />

trabalhistas dos primeiros movimentos e estabelecendo a ban<strong>de</strong>ira da <strong>de</strong>mocratização<br />

política do país 9 .<br />

No início <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1979, os trabalhadores e trabalhadoras do ABC<br />

entram em greve: são por volta <strong>de</strong> cinqüenta mil trabalhadores e trabalhadoras parados. A<br />

greve esten<strong>de</strong>-se para o interior e o governo a <strong>de</strong>clara ilegal; mesmo assim os<br />

trabalhadores e trabalhadoras mantêm a posição e conseguem novas a<strong>de</strong>sões ao<br />

8 MOISÉS, 1982, p. 31.<br />

9 Cf. SANTANA, 2001.<br />

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movimento que se espalha para o interior, e em alguns dias são mais <strong>de</strong> 170 mil<br />

trabalhadores e trabalhadoras parados. Com o passar <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> greve o Ministério do<br />

Trabalho resolve intervir na negociação, elaborando propostas que não convencem os<br />

trabalhadores e trabalhadoras. O governo, então, <strong>de</strong>clara a intervenção nos sindicatos e<br />

<strong>de</strong>flagra uma série <strong>de</strong> confrontos em praça pública entre trabalhadores e trabalhadoras e<br />

policiais. O movimento continua até o dia 27 <strong>de</strong> março quando os trabalhadores e<br />

trabalhadoras resolvem aceitar a proposta feita pelo patronato, que estabelecia o prazo<br />

<strong>de</strong> 45 dias para negociação <strong>de</strong> um piso satisfatório.<br />

A insubordinação dos sindicatos e o crescimento do movimento grevista, que<br />

continua nos anos 80 do século XX, tiveram então como gran<strong>de</strong> elemento aglutinador da<br />

classe trabalhadora a questão salarial. A inflação crescente combinadas ao baixo<br />

rendimento dos salários <strong>de</strong>teriorava as condições <strong>de</strong> vida dos trabalhadores e<br />

trabalhadoras, que viam o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra diminuído a cada mês. É nesse momento<br />

<strong>de</strong> agitação e <strong>de</strong> organização dos trabalhadores e trabalhadoras que surgem a Central<br />

Única dos trabalhadores e trabalhadoras - CUT e o Partido dos Trabalhadores e<br />

trabalhadoras - PT, sinalizando para uma nova forma <strong>de</strong> sindicalismo.<br />

O PT surge como instrumento necessário <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> luta dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras na política nacional; contudo, sempre articulado a outras<br />

formas <strong>de</strong> luta organizada como os sindicatos e <strong>de</strong>mais associações populares, sendo a<br />

participação dos sindicalistas o elemento fundamental para a formação e a<br />

caracterização do partido. Segundo Ozai da Silva (2000), essa afirmação po<strong>de</strong> ser feita<br />

com base na análise da formação da primeira Comissão Nacional Provisória, <strong>de</strong> 1979,<br />

que era composta por 12 dirigentes sindicais, dos 16 membros que a compunham.<br />

O contexto <strong>de</strong> formação do Partido dos Trabalhadores, no começo dos anos<br />

80, tem como pano <strong>de</strong> fundo o crescimento dos movimentos sociais organizados no Brasil<br />

e as intensas lutas dos operários do ABC paulista, que colocavam em questão o regime <strong>de</strong><br />

governo autoritário dos militares. O PT levanta ban<strong>de</strong>iras que extrapolavam as questões<br />

salariais e que visavam transformações políticas e sociais bastante profundas,<br />

<strong>de</strong>marcando fortemente nesse período uma tendência i<strong>de</strong>ológica socialista, que se<br />

baseava <strong>de</strong> forma clara em um projeto político anticapitalista.<br />

Será, em especial, esta a tendência do PT: a busca da <strong>de</strong>mocracia plena<br />

exercida pela massa organizada e participativa, que tem gravado em seu manifesto <strong>de</strong><br />

fundação as idéias básicas <strong>de</strong> um projeto que visa à construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

igualitária, sem explorados nem exploradores 10 .<br />

Já a CUT - Central Única dos Trabalhadores, criada em 1983, ainda no<br />

regime militar, aglutinava as correntes sindicais mais ativas, fazendo frente às políticas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação das condições <strong>de</strong> vida da classe trabalhadora, estabelecendo-se nesse<br />

período como uma importante organização política e social e fazendo frente <strong>de</strong> forte<br />

oposição ao governo Figueiredo e <strong>de</strong>pois ao governo Sarney. A CUT tornou-se o inimigo<br />

número um das políticas governistas e se firmava como a Central que aglutina o maior<br />

número <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s filiadas.<br />

A ascensão da CUT, nos anos 80, assim como o crescimento do PT, na<br />

esfera da política institucional, é impulsionada pelo momento histórico-político <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

10 Cf. SILVA, 2000.<br />

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transformações, com o fim da ditadura e com a crise do Estado e da economia<br />

hiperinflacionada. Nesse período, <strong>de</strong> acordo com Alves (2000), o sindicalismo brasileiro<br />

caminha na contramão dos sindicatos no resto do mundo, inclusive em relação a alguns<br />

países na América Latina como a Argentina. Enquanto nesses países os sindicatos<br />

entravam em <strong>de</strong>pressão por falta <strong>de</strong> participação e por per<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>r político, no Brasil<br />

vivia-se o que se <strong>de</strong>nominou a década <strong>de</strong> explosão do sindicalismo.<br />

Com uma atuação política constante, a CUT procurou na década <strong>de</strong> 1980,<br />

firmar um projeto <strong>de</strong> organização e ação dos trabalhadores e trabalhadoras, classificado<br />

como “sindicalismo <strong>de</strong>fensivo”, mantendo uma postura reivindicatória e que tinha como<br />

principal instrumento <strong>de</strong> ação e pressão e a greve. Com as mudanças políticas e<br />

econômicas ocorridas até o começo dos anos 90, com a implantação do mo<strong>de</strong>lo<br />

econômico neoliberal, a CUT procurou estabelecer, após o seu IV Congresso realizado em<br />

São Paulo, em 1991, uma ação estratégica mais propositiva, elaborando propostas <strong>de</strong><br />

políticas que po<strong>de</strong>riam ser discutidas em fóruns que contassem com a presença <strong>de</strong><br />

representantes não só dos sindicalistas, mas também do governo e do empresariado.<br />

Antes <strong>de</strong> prosseguirmos, é importante <strong>de</strong>stacar a criação das duas outras<br />

maiores Centrais Sindicais brasileiras: a CGT – Confe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalhadores e<br />

trabalhadoras e a FS – Força Sindical.<br />

A Confe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalhadores - CGT 11 , segundo informações em<br />

seu site, é uma sigla histórica, datando <strong>de</strong> 1929, quando foi criada a Confe<strong>de</strong>ração Geral<br />

dos Trabalhadores e trabalhadoras Brasileiros passando por mudanças, em 1945, passou<br />

a Confe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras; em 1962, para Comando Geral<br />

dos Trabalhadores e trabalhadoras (esmagado pelo golpe <strong>de</strong> 1964); em 1986, para<br />

Central Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras (início da reestruturação) e 1988, para<br />

Confe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras.<br />

A CGT, hoje abrange todo território brasileiro, com filiais em 21 Estados e<br />

conta com 1.056 entida<strong>de</strong>s sindicais, filiadas que representam 8.669.000 trabalhadores<br />

e trabalhadoras (dos quais 30% são sindicalizados, o que correspon<strong>de</strong> a 2.600.000<br />

filiados), representados por: 1.017 sindicatos <strong>de</strong> base; 04 confe<strong>de</strong>rações nacionais e 35<br />

fe<strong>de</strong>rações nacionais /regionais e estaduais<br />

A Força Sindical 12 , segundo informações em seu site, foi criada em 1991 a<br />

partir <strong>de</strong> Congresso em São Paulo, surge a partir <strong>de</strong> críticas ao sindicalismo em <strong>curso</strong> no<br />

Brasil. De um lado, a crítica recaia sobre um sindicalismo <strong>de</strong> “radicalismo estéril” 13<br />

(crítica, em especial, à CUT) e, por outro, sobre um sindicalismo <strong>de</strong> “conformismo<br />

paralisante”. A superação <strong>de</strong>ssas formas <strong>de</strong> sindicalismo seria possível na medida em<br />

que se lançasse “o movimento dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros à<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, para construir uma central forte, capaz <strong>de</strong> endurecer quando preciso, mas<br />

também <strong>de</strong> saber negociar, autônoma, livre, pluralista, aberta ao <strong>de</strong>bate interno e com a<br />

socieda<strong>de</strong>”.<br />

A Força Sindical passou, então, a empreen<strong>de</strong>r esforços no sentido <strong>de</strong><br />

pragmatizar as lutas com “conquistas reais para os trabalhadores e trabalhadoras”. O<br />

11 Site: www.cgt.org.br<br />

12 Site: www.forçasindical.org.br<br />

13 A referência base das informações sobre a Força Sindical foi o site da Central.<br />

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Centro <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong> ao (a) trabalhador (a), a Qualificação Profissional, o “1º <strong>de</strong> Maio<br />

pelo Emprego” em 1998, e o “1 o <strong>de</strong> Maio pelo Brasil – por Emprego, Educação e<br />

Qualificação Profissional”, em 1999, assim como “a luta pela aposentadoria, pelas<br />

gran<strong>de</strong>s reformas – previ<strong>de</strong>nciária, agrária, do judiciário, política, fiscal e sindical e pela<br />

flexibilização das leis trabalhistas – dando-se status à negociação livre entre<br />

empregadores e empregados com o apoio dos sindicatos e das centrais”, foram<br />

re<strong>sul</strong>tados <strong>de</strong>ssa forma <strong>de</strong> se construir e <strong>de</strong> se fazer sindicalismo. A Força Sindical se<br />

assenta sobre um dis<strong>curso</strong> que acentua o mo<strong>de</strong>rno, a pluralida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>mocracia.<br />

Mesmo que o processo <strong>de</strong> surgimento e <strong>de</strong>senvolvimento do “novo<br />

sindicalismo” “não tenha sido suficiente para <strong>de</strong>smontar totalmente a estrutura sindical<br />

corporativa erigida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 30, tendo em vista que suas bases fundamentais –<br />

como o imposto sindical, o monopólio da representação pelo sindicato, o princípio da<br />

unicida<strong>de</strong> sindical e a estrutura confe<strong>de</strong>rativa – foram mantidas, ele permitiu um<br />

significativo aumento da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização e ação sindical. Na verda<strong>de</strong>, embora a<br />

proposta pela qual os setores <strong>de</strong> ponta do sindicalismo vinham lutando ao longo <strong>de</strong> todos<br />

esses anos – <strong>de</strong> superação da estrutura sindical corporativa e <strong>de</strong> sua substituição por<br />

uma institucionalida<strong>de</strong> sindical <strong>de</strong>mocrática, baseada no contrato coletivo <strong>de</strong> trabalho –<br />

tivesse sido <strong>de</strong>rrotada pelo empresariado e pelos setores mais conservadores do próprio<br />

movimento sindical, suas lutas <strong>de</strong>ixaram marcas” 14 profundas.<br />

Po<strong>de</strong>-se afirmar, nesse sentido, “que o movimento sindical brasileiro esteve<br />

na contramão da tendência histórica predominante durante a década <strong>de</strong> 1980, ao<br />

conquistar uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção política inédita na história do país, quando,<br />

em nível internacional, os sindicatos viviam um processo generalizado <strong>de</strong><br />

enfraquecimento” 15 .<br />

Essa resistência dos trabalhadores e trabalhadoras ia <strong>de</strong> encontro às<br />

políticas <strong>de</strong> exploração do trabalho estabelecidas pelo capital industrial brasileiro da<br />

época, que se utilizava dos baixos salários pagos ao operariado como principal elemento<br />

da competitivida<strong>de</strong> da indústria nacional. Com isso, conseguia colocar seus produtos no<br />

mercado a um preço menor que os internacionais. O aumento <strong>de</strong> salário requerido pelos<br />

trabalhadores e trabalhadoras, portanto, não era visto como um bom negócio para o<br />

capital.<br />

Apesar do crescimento e da força do movimento operário <strong>de</strong>ssa época, a<br />

classe trabalhadora, sobretudo o operariado fabril dos anos 80, começava a sofrer as<br />

transformações nas relações <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> produção que sinalizavam para<br />

transformações que iriam reestruturar o processo produtivo fabril. Essa reestruturação<br />

tinha como um <strong>de</strong> seus principais aspectos a inserção <strong>de</strong> novas tecnologias que visavam<br />

à diminuição quantitativa da exploração da força <strong>de</strong> trabalho e a verticalização da<br />

exploração qualitativa, tornando-se um dos elementos mais importantes da constituição<br />

da hegemonia do capital sobre o trabalho nos anos 80 e 90 do século XX.<br />

Essa reestruturação produtiva do capital que começava a se <strong>de</strong>senhar no<br />

Brasil nos anos 80 e que já estava a pleno vapor nos países <strong>de</strong> centro da economia<br />

capitalista, vinha a reor<strong>de</strong>nar a organização e a gestão da produção fabril que até então<br />

14 LEITE, 1997, p. 17.<br />

15 LEITE, 1997, p. 17.<br />

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estava montada totalmente nos mol<strong>de</strong>s do esquema <strong>de</strong> produção taylorista/fordista.<br />

Nesse mo<strong>de</strong>lo o <strong>de</strong>scontentamento e a organização dos operários era crescente,<br />

colocando em risco o processo <strong>de</strong> acumulação e reprodução do capital.<br />

Para os capitalistas, esse era o começo da implantação da acumulação<br />

flexível baseada no toyotismo, organização do processo produtivo criada no Japão e<br />

exportada como mo<strong>de</strong>lo para os <strong>de</strong>mais países capitalistas, e que ganharia força no Brasil<br />

a partir dos anos 90, com a abertura e a liberalização da economia realizada por<br />

Fernando Collor <strong>de</strong> Mello.<br />

Esse novo arranjo do capital encontra ainda uma força <strong>de</strong> trabalho<br />

organizada, que procurava fazer resistência à ação avassaladora do capital. Uma das<br />

formas <strong>de</strong> resistência foi à proposição da instalação das Comissões <strong>de</strong> Fábrica e a<br />

intervenção sindical no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da inserção <strong>de</strong> novas tecnologias no<br />

processo produtivo, procurando minimizar os danos e os prejuízos que o operariado<br />

sofreria com esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção. Mas, o ritmo <strong>de</strong> instalação das novas<br />

tecnologias foi bastante forte e agravado pela falta <strong>de</strong> condição e <strong>de</strong> tempo que os<br />

trabalhadores e trabalhadoras tinham para se contrapor a esse movimento. É que, se<br />

esse movimento seguiu um processo temporalmente mais lento nos países <strong>de</strong> primeiro<br />

mundo, possibilitando a luta dos trabalhadores e trabalhadoras concomitantemente às<br />

transformações, no Brasil as transformações aconteceram rapidamente, com a<br />

reformulação tecnológica <strong>de</strong> parques industriais em pouquíssimo tempo.<br />

Devemos lembrar que, o período <strong>de</strong> 1980 a 1990, é marcado pelo fim da<br />

ditadura militar (1985), e pela instalação <strong>de</strong> um governo civil proclamada como a<br />

retomada da <strong>de</strong>mocracia no Brasil. Por outro lado, a década foi também um período <strong>de</strong><br />

inflação muito alta e <strong>de</strong> recessão econômica com aumento do <strong>de</strong>semprego, fatores que<br />

colaboraram para uma diminuição das ações reivindicatórias dos trabalhadores e<br />

trabalhadoras que se viam pressionados pelo crescente <strong>de</strong>semprego estrutural.<br />

Um dos mais importantes fatos <strong>de</strong>sse momento foi, sem dúvida, o processo<br />

eleitoral que elegeria, pelo voto direto, o novo presi<strong>de</strong>nte do Brasil. Em 1989 tivemos o<br />

enfrentamento, no segundo turno, <strong>de</strong> duas frentes bastante diferentes. Uma que tinha<br />

como candidato Luís Inácio “Lula” da Silva, ex-lí<strong>de</strong>r operário e um dos fundadores do PT,<br />

que contava com o apoio <strong>de</strong> uma ampla gama <strong>de</strong> organização dos trabalhadores e<br />

trabalhadoras, sindicatos e <strong>de</strong>mais organizações; do outro lado, era candidato Fernando<br />

Collor <strong>de</strong> Melo, fantoche criado pela burguesia e pelo po<strong>de</strong>r político conservador e <strong>de</strong>mais<br />

larápios nacionais, com amplo e irrestrito apoio da imprensa nacional (leia-se Re<strong>de</strong><br />

Globo).<br />

O <strong>de</strong>sfecho não po<strong>de</strong>ria ser pior: Fernando Collor <strong>de</strong> Melo é eleito presi<strong>de</strong>nte<br />

com o dis<strong>curso</strong> da necessida<strong>de</strong> da abertura econômica. Implanta uma política <strong>de</strong><br />

importação <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong> produção, dando os primeiros retoques para<br />

liberalização da economia ao iniciar o processo <strong>de</strong> privatização das empresas estatais<br />

brasileiras. Dois anos <strong>de</strong>pois tem o mandato cassado por corrupção. Mas o estrago já<br />

estava feito.<br />

O processo <strong>de</strong> abertura da economia brasileira seguiu tornando-se mais<br />

agudo com os governos posteriores. É claro que os prejuízos <strong>de</strong>sse processo foram<br />

transferidos para a classe trabalhadora, que mais uma vez se viu arcando com o ônus<br />

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necessário a ser pago para o “bom <strong>de</strong>sempenho” dos indicadores da economia nacional,<br />

agora na era da mundialização dos capitais.<br />

Nesse sentido, a situação do movimento operário muda significativamente<br />

com a chegada dos anos 90. “A política econômica neoliberal inaugurada pelo governo<br />

Collor em 1990 jogou o país numa profunda crise recessiva, aumentando <strong>de</strong> maneira<br />

extremamente rápida os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego no país, ao mesmo tempo em que, ao abrir<br />

abruptamente a economia brasileira, forçou as empresas a acelerar seus processos <strong>de</strong><br />

reestruturação produtiva, gerando novos <strong>de</strong>safios para os quais o movimento sindical, <strong>de</strong><br />

maneira geral, não se encontrava preparado” 16.<br />

A partir <strong>de</strong> 1994, com a eleição do Presi<strong>de</strong>nte, Fernando Henrique Cardoso,<br />

a política adotada foi a <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da implementação das políticas neoliberais<br />

iniciadas por Fernando Collor <strong>de</strong> Melo, com o governo se empenhado em seguir<br />

amplamente a “cartilha” do Fundo Monetário Internacional, privatizando as empresas<br />

estatais, diminuindo gastos na esfera social e contribuindo na soma das transformações<br />

estruturais do processo <strong>de</strong> produção capitalista em nível mundial. Com as dificulda<strong>de</strong>s<br />

políticas e econômicas conjunturais locais, tem-se um aumento da miserabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> parcela da população brasileira.<br />

Neste novo contexto <strong>de</strong> reestruturação do capital mundial, houve um<br />

número crescente <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras brasileiros vivendo o drama do<br />

<strong>de</strong>semprego, um fenômeno que afetou e afeta, sobretudo as regiões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

indústrias, como a automobilística. Mas, que tem reflexos, também, noutras regiões e<br />

setores do país <strong>de</strong>vido à implantação <strong>de</strong> políticas econômicas que abrem o mercado<br />

brasileiro para produtos externos, diminuindo o consumo <strong>de</strong> produtos internos e<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando um processo gerador <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>semprego. Conseqüentemente, mais<br />

trabalhadores e trabalhadoras buscam na informalida<strong>de</strong> formas <strong>de</strong> ocupação.<br />

A implementação pelo governo fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo político econômico<br />

centrado no neoliberalismo, tornou a relação entre capital e trabalho mais injusta no<br />

Brasil, favorecendo sobremaneira o primeiro. Montado no dis<strong>curso</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> postos<br />

<strong>de</strong> trabalho, as ações do governo FHC procurou estimular o surgimento <strong>de</strong> relações <strong>de</strong><br />

produção, que se contrapunham às Leis Trabalhistas vigentes. Com a criação <strong>de</strong> contratos<br />

temporários que <strong>de</strong>ixaram o trabalhador e a trabalhadora <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> qualquer direito,<br />

impedindo que este tivesse qualquer benefício estipulado por Lei. Isso acabou barateando<br />

o custo do Trabalho para o Capital.<br />

As transformações do modo capitalista <strong>de</strong> produção têm se realizado no<br />

Brasil com mais força no âmbito da implantação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> cunho neoliberal e<br />

procuraram, <strong>de</strong>ntre outras ações, acabar com os “entraves” gerados pelas leis<br />

trabalhistas na relação Capital/Trabalho, garantindo às empresas maior flexibilida<strong>de</strong> no<br />

uso e <strong>de</strong>suso da força <strong>de</strong> trabalho, sem impedimento legal e reduzindo a contestação no<br />

campo institucional formal por parte dos sindicatos.<br />

As ações das instituições governamentais revelaram a face intervencionista<br />

das instâncias burocráticas do Estado, que <strong>de</strong> acordo com os princípios liberais não<br />

<strong>de</strong>veria intervir no movimento do mercado, mas o faz, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja para utilizar o po<strong>de</strong>r<br />

político institucional para a otimização das condições <strong>de</strong> reprodução do Capital.<br />

16 LEITE, 1997, pp. 17-18.<br />

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Nesse período, ficou evi<strong>de</strong>nte uma outra contradição na forma <strong>de</strong> atuação<br />

do Estado, no trato das questões relativas ao Trabalho e à economia informal. Enquanto o<br />

dis<strong>curso</strong> oficial pregava a regularização e a regulamentação dos trabalhadores e<br />

trabalhadoras e das transações econômicas informais, o dis<strong>curso</strong> i<strong>de</strong>ológico que<br />

sustentava as ações governamentais estava fundado no liberalismo econômico, que tem<br />

como diretriz a <strong>de</strong>sregulamentação, que precariza o emprego e, conseqüentemente, reduz<br />

o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> luta organizada da classe trabalhadora, se refletindo no esvaziamento dos<br />

sindicatos.<br />

Desta forma, tornou-se crescente o <strong>de</strong>semprego, o que colabora para a<br />

<strong>de</strong>gradação das condições <strong>de</strong> trabalho daqueles que continuam formalmente<br />

empregados. Os que continuam formalmente empregados passam, neste contexto <strong>de</strong><br />

precarização das relações <strong>de</strong> trabalho, a sofrer pressões sobre os seus salários e seus<br />

direitos trabalhistas, cuja existência passa a ser <strong>de</strong>nunciada como obstáculo à expansão<br />

do emprego formal 17.<br />

O fenômeno crescente do <strong>de</strong>semprego e da precarização do trabalho, longe<br />

<strong>de</strong> serem uma anormalida<strong>de</strong> pelas forças econômicas e políticas dominantes, são vistos,<br />

até pelos dis<strong>curso</strong>s oficiais, como conseqüências naturais da nova or<strong>de</strong>m política e<br />

econômica estabelecida para a organização e participação dos atores econômicos no<br />

mercado capitalista.<br />

Pautado em pressupostos liberais, o governo FHC sempre procurou justificar<br />

a aceitação do crescimento contínuo da precarização das relações <strong>de</strong> trabalho<br />

alimentando uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulamentação do mercado, como forma <strong>de</strong> evitar o<br />

aumento do <strong>de</strong>semprego, que <strong>de</strong> outra maneira só po<strong>de</strong>ria ser conseguido com o<br />

crescimento econômico. Neste sentido, os pronunciamentos e as atitu<strong>de</strong>s tomadas pelo<br />

governo, foram <strong>de</strong> estimular a informalida<strong>de</strong> e a precarização do trabalho. Esse fato po<strong>de</strong><br />

ser constatado se analisarmos os projetos que visavam modificações nas leis que regiam<br />

os contratos <strong>de</strong> trabalho, ou que permitiam que houvesse contratos <strong>de</strong> trabalho que não<br />

aten<strong>de</strong>ssem aos princípios da legislação, estimulando a ampliação das condições para o<br />

aproveitamento e exploração da força <strong>de</strong> trabalho, contando muitas vezes com a<br />

participação <strong>de</strong> algumas organizações sindicais.<br />

Desta forma, fica evi<strong>de</strong>nte o <strong>de</strong>smonte do já insuficiente aparato<br />

institucional <strong>de</strong> proteção ao trabalhador e a trabalhadora, frente à “intempéries” do<br />

mercado e das investidas extremas <strong>de</strong> espoliação dos empregadores.<br />

Esta situação <strong>de</strong>monstra o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> influência da classe dominante sobre os<br />

aparelhos do Estado, que se reconfiguram modificando a legislação ou mesmo<br />

<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cendo-a, para melhor colaborar com o atual contexto organizativo do Capital. O<br />

mesmo Estado que em outros momentos procurou mostrar-se como mediador ou<br />

imparcial frente ao confronto Capital X Trabalho, corrobora sem disfarce à sua vinculação<br />

com o Capital.<br />

Assim, é no crescimento do <strong>de</strong>semprego, do trabalho informal, da<br />

<strong>de</strong>sregulamentação e do <strong>de</strong>smantelamento do aparato institucional que garantia alguns<br />

direitos básicos à classe trabalhadora, que se mostra o <strong>de</strong>sgaste e a fragilida<strong>de</strong> das<br />

atuais formas <strong>de</strong> organização dos trabalhadores e trabalhadoras, que são em sua maior<br />

17 Cf. SINGER, 1998.<br />

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parte sindicatos que organizam, representam e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os direitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

categoria 18 .<br />

Combinada a terceirização ao <strong>de</strong>semprego, a precarização torna-se um<br />

elemento corrosivo da base sob a qual se assenta a legitimida<strong>de</strong> e representação dos<br />

sindicatos, que por serem reconhecidamente institucionais trabalham <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> normas<br />

que não permitem, ou não tornam interessante, organizar os trabalhadores e<br />

trabalhadoras que estão fora do mercado <strong>de</strong> trabalho formal, seja pelo <strong>de</strong>semprego ou<br />

pela informalida<strong>de</strong>.<br />

Como instituição, os sindicatos, estão fracionados para representar as<br />

diferentes categorias, organizando, em tese, estes trabalhadores e trabalhadoras,<br />

também legalmente contratados como uma força conjunta frente ao capital. Logicamente,<br />

temos que consi<strong>de</strong>rar a fragmentação existente entre os sindicatos instituídos <strong>de</strong> acordo<br />

com a categoria <strong>de</strong> trabalho, pois como sabemos os sindicatos acabam por representar<br />

um fragmento da classe trabalhadora, uma categoria específica e não a todos os<br />

trabalhadores e trabalhadoras. Esta fragmentação colabora para que os problemas<br />

enfrentados por <strong>de</strong>terminada categoria que cumpre sua função na divisão social do<br />

trabalho, pareça não dizer respeito a outras categorias <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras,<br />

o que tem impedido por vezes a participação conjunta <strong>de</strong> toda a classe trabalhadora em<br />

suas reivindicações.<br />

E por estar organizado política e estruturalmente <strong>de</strong>sta forma fragmentada e<br />

institucionalizada, que privilegia a dimensão <strong>de</strong> categoria e profissional, é que os<br />

sindicatos per<strong>de</strong>m atualmente o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> representação. Com o aumento do<br />

<strong>de</strong>semprego e da informalida<strong>de</strong> do trabalho tem uma diminuição consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> sua<br />

base <strong>de</strong> representação, já que os <strong>de</strong>sempregados e os trabalhadores e trabalhadoras<br />

precarizados, informais, estão fora da sua área <strong>de</strong> atuação legal. No aumento da<br />

informalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus efeitos sobre os sindicatos, a representativida<strong>de</strong> sindical é<br />

corroída à medida que sua pretensão <strong>de</strong> falar pelo mundo do trabalho ou ao menos <strong>de</strong><br />

sua parcela majoritária torna-se crescentemente insustentável.<br />

A diminuição da participação dos trabalhadores e trabalhadoras nos<br />

sindicatos, pelos motivos aqui apontados, somada à insegurança no emprego gerada pela<br />

reestruturação produtiva, que tem no avanço tecnológico uma maneira <strong>de</strong> poupar<br />

quantitativamente a força <strong>de</strong> trabalho, leva, com o enfraquecimento da entida<strong>de</strong><br />

representativa, a maior exposição <strong>de</strong> algumas categorias <strong>de</strong> trabalhadores e<br />

trabalhadoras às investidas dos capitalistas no sentido <strong>de</strong> diminuir o custo do trabalho,<br />

sobretudo no que diz respeito aos direitos trabalhistas conquistados através da luta<br />

organizada.<br />

Todo esse novo contexto, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, tem se refletido<br />

nas atuações dos sindicatos, ou no não-enfrentamento por parte <strong>de</strong>stes das atuais<br />

condições <strong>de</strong> exploração do trabalho. As greves, em gran<strong>de</strong> medida, têm <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ser<br />

um instrumento <strong>de</strong> luta dos trabalhadores e trabalhadoras frente ao Capital para passar a<br />

18 Atualmente os sindicatos têm lutado muito mais para a manutenção do emprego do que por melhorias nas<br />

condições <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> salário, como acontece atualmente com os metalúrgicos do ABC. Há uma preocupação<br />

maior em reintegrar o <strong>de</strong>sempregado ao mercado <strong>de</strong> trabalho, e não um projeto <strong>de</strong> organização dos trabalhadores<br />

e trabalhadoras para o enfrentamento da atual política econômica.<br />

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realizar ações, como temos visto nos últimos anos, <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> empregos e <strong>de</strong><br />

alguns dos direitos conquistados historicamente.<br />

Necessário se faz, ainda, apresentar com maior profundida<strong>de</strong> a atuação da<br />

CUT nas décadas <strong>de</strong> 1980 e 1990, principalmente em relação às greves.<br />

O sindicalismo do Brasil nos anos 80 inovava nas suas reivindicações pela<br />

criação das comissões <strong>de</strong> fábrica e <strong>de</strong>safiava o capital, que procurava a manutenção do<br />

controle sobre o trabalho no lugar da produção, colocando em questão o controle exercido<br />

durante todo período <strong>de</strong> implantação do capitalismo industrial no Brasil.<br />

A CUT, composta nesse período pelas correntes sindicais mais ativas, teve<br />

gran<strong>de</strong> expressivida<strong>de</strong> no movimento operário dos anos 80, organizando as greves gerais<br />

em oposição às políticas adotadas pelo governo brasileiro. Adotava uma postura<br />

oposicionista franca e direta <strong>de</strong> maneira a construir uma estratégia sindical combativa em<br />

relação à política pró-monopolistas, pró-imperialistas e pró-latifundiária do governo.<br />

As greves gerais arquitetadas pela CUT re<strong>sul</strong>taram em fortes movimentos <strong>de</strong><br />

contestação e foram <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância política, enquanto forma <strong>de</strong> organização<br />

unificada dos trabalhadores e trabalhadoras. Ao todo foram quatro greves gerais nesse<br />

período. A primeira acontece em 1983, em pleno regime militar e protestava contra um<br />

<strong>de</strong>creto que modificava a política salarial, tendo a participação <strong>de</strong> dois a três milhões <strong>de</strong><br />

trabalhadores e trabalhadoras. A segunda aconteceu em 1986, em protesto contra o<br />

Plano Cruzado II, particularmente contra o fim do congelamento <strong>de</strong> preços. A terceira<br />

greve geral comandada pela CUT realizou-se em 1987, contrapondo-se ao Plano Bresser e<br />

que tinha como motivação as modificações nas políticas salariais, mas o movimento dava<br />

também ênfase a palavras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m como: não ao pagamento da dívida externa, reforma<br />

agrária, semana <strong>de</strong> quarenta horas e estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego. A quarta greve aconteceu<br />

em 1989, protestando contra mais um plano <strong>de</strong> estabilização do governo, o Plano Verão,<br />

que modificava a política <strong>de</strong> in<strong>de</strong>xação dos salários; o número <strong>de</strong> grevistas nesta greve<br />

dobrou em relação à <strong>de</strong> 1987, chegando a vinte milhões <strong>de</strong> trabalhadores e<br />

trabalhadoras 19 .<br />

Essa última greve também contou com a participação ativa <strong>de</strong> vários<br />

setores: os metalúrgicos e trabalhadores e trabalhadoras da indústria automobilística e<br />

química, os petroleiros, os professores da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino fe<strong>de</strong>ral e estadual, entre<br />

outros. A principal característica da greve foi a <strong>de</strong> ser uma reação ofensiva da classe<br />

trabalhadora brasileira no sentido <strong>de</strong> se contrapor às investidas do capital e conquistar<br />

direitos para a classe trabalhadora, que nesse período também sofria as conseqüências<br />

das ações políticas e econômicas comandadas pelo governo, que visavam dar maior<br />

espaço e criar melhores condições para o <strong>de</strong>senvolvimento capitalista no Brasil 20 .<br />

É justamente no período dos anos 80, que o surto <strong>de</strong> reestruturação<br />

produtiva no Brasil sofre um novo avanço, <strong>de</strong> maneira a incorporar as novas tecnologias<br />

nos processos produtivos e implementar novas formas <strong>de</strong> gestão e controle da produção<br />

baseadas, sobretudo, nas técnicas utilizadas nas fábricas japonesas e que correspondiam<br />

melhor as vonta<strong>de</strong>s do capital internacional.<br />

19 Cf. BOITO, 1999.<br />

20 Cf. ALVES, 2000.<br />

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A partir dos anos 90, a luta sindical, e logicamente a CUT, participam <strong>de</strong> um<br />

novo contexto histórico e social no Brasil. Com a vitória <strong>de</strong> Fernando Collor <strong>de</strong> Mello nas<br />

urnas e pelo voto popular, é eleito também um projeto neoliberal para a política<br />

econômica brasileira. Um projeto que visava criar as condições para instauração do<br />

neoliberalismo e que, mesmo com a saída vergonhosa <strong>de</strong> Collor via Impeachment,<br />

continuou a ser orquestrada pelos seus sucessores Itamar Franco e Fernando Henrique<br />

Cardoso.<br />

A abertura da economia para o capital estrangeiro, o aumento das<br />

importações, o <strong>de</strong>smantelamento do parque industrial nacional e o crescimento da<br />

miséria e do <strong>de</strong>semprego, são produtos conhecidos e visíveis <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong><br />

liberalização da economia. Tais fatores, somados à reestruturação do processo produtivo<br />

com base na aplicação <strong>de</strong> novas tecnologias, tem colaborado para a precarização das<br />

relações <strong>de</strong> trabalho no Brasil e, conseqüentemente, para o enfraquecimento das formas<br />

organizativas e <strong>de</strong> luta da classe trabalhadora. As greves <strong>de</strong>ste período foram muito mais<br />

na busca <strong>de</strong> manter os direitos sociais conquistados historicamente, ou na intenção <strong>de</strong><br />

manter os empregos existentes, do que movimentos <strong>de</strong> reivindicação e <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong><br />

controle do processo produtivo ou <strong>de</strong> contestação i<strong>de</strong>ológica.<br />

Essa crise da organização sindical brasileira acabou por colaborar para a<br />

instauração do novo mo<strong>de</strong>lo político e <strong>de</strong> acumulação, pois, o sindicalismo classista e<br />

unificado que havia sido obstáculo durante os anos 80, nos anos 90 <strong>de</strong>sarticula-se e se<br />

torna <strong>de</strong>bilitado em sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentação e organização da classe<br />

trabalhadora, o que permitiu uma investida mais dura do capital sobre os trabalhadores e<br />

trabalhadoras, apoiado pelas políticas do governo nacional que estimulou e legalizou a<br />

precarização das relações <strong>de</strong> trabalho.<br />

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CONCEPÇÕES CONCEPÇÕES E E CORRENTES CORRENTES SINDICAIS SINDICAIS SINDICAIS NO NO BRASIL<br />

BRASIL<br />

Amarildo Carvalho <strong>de</strong> Souza e Domingos Corcione<br />

A trajetória das concepções e correntes políticas que constituíram e constituem o<br />

movimento sindical brasileiro, no campo e na cida<strong>de</strong>, é reveladora do grau <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento da luta <strong>de</strong> classes, aliás, mais que isso, revela o grau <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência<br />

e maturida<strong>de</strong> política da classe trabalhadora brasileira.<br />

A classe trabalhadora, no campo e na cida<strong>de</strong>, luta não apenas por melhores salários, mais<br />

também, pela superação das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, econômicas, politicas, raciais,<br />

étnicas, <strong>de</strong> gênero, e <strong>de</strong> geração. Nesse sentido, as organizações sindicais e os<br />

movimentos populares, constituem-se em espaços privilegiados <strong>de</strong> enfrentamento <strong>de</strong><br />

interesses, muitas vezes distintos.<br />

Os trabalhadores e trabalhadoras não são um todo homogêneo e monolítico, disposto a<br />

lutar <strong>de</strong> forma unânime pelas mesmas ban<strong>de</strong>iras. Existem diferentes níveis <strong>de</strong><br />

consciência <strong>de</strong> classe, <strong>de</strong> visões <strong>de</strong> mundo e <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>. Inclusive, existem<br />

segmentos que muitas vezes expressam programas <strong>de</strong> “conservação, melhoria e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo”.<br />

A ENFOC não se propõe a aprofundar todas as concepções e correntes politicas. Foi feita a<br />

opção <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>bruçar sobre 04 concepções e correntes, na perspectiva <strong>de</strong> uma maior<br />

compreensão da trajetória e contemporaneida<strong>de</strong> do sindicalismo no Brasil.<br />

A reflexão e aprofundamento <strong>de</strong>ssas concepções e correntes, parte da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> política<br />

do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, construída ao longo<br />

dos seus 43 anos <strong>de</strong> existência.<br />

Esperamos que estes <strong>textos</strong> estimulem aos participantes do 1º Curso da ENFOC, a<br />

pesquisar, refletir e compreen<strong>de</strong>r as ‘idéias’ que promoveu a constituição e consolidação<br />

do movimento sindical brasileiro, no campo e na cida<strong>de</strong>.<br />

AS AS PRINCIPAIS PRINCIPAIS IDÉIAS IDÉIAS IDÉIAS DO DO ANARQUISMO<br />

ANARQUISMO<br />

Anarquismo vem da palavra grega ANARQUIA, que significa “contra o governo, a<br />

autorida<strong>de</strong> e a dominação”.<br />

Quanto à Socieda<strong>de</strong> e ao Estado, os Anarquistas <strong>de</strong>fendiam as seguintes idéias:<br />

O capitalismo <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>rrubado e, como alternativa, <strong>de</strong>ve ser implantado<br />

o socialismo.<br />

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O socialismo <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>mocrático, <strong>de</strong>scentralizado, formado por<br />

comunida<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, coor<strong>de</strong>nadas a partir <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> produção<br />

dos trabalhadores e trabalhadoras organizados em sindicatos.<br />

É preciso lutar contra o Estado (governo, parlamento, forças armadas, po<strong>de</strong>r<br />

judiciário, polícia...), as eleições e a Igreja, pois são um mal e uma fonte <strong>de</strong><br />

opressão.<br />

Os anarquistas assumiam uma posição antiparlamentarista e antipartidária.<br />

Pregavam a revolução proletária, o socialismo sem classes e sem Estado, a auto-gestão e<br />

o internacionalismo proletário.<br />

Quanto à concepção e à prática sindical, os anarquistas tinham posições bem<br />

<strong>de</strong>finidas. Para eles os sindicatos:<br />

Devem ser a arma principal <strong>de</strong> luta para <strong>de</strong>rrubar o capitalismo e implantar<br />

o socialismo.<br />

Deve organizar os trabalhadores e as trabalhadoras, formar sua consciência<br />

política.<br />

Devem ser organizados a partir do local <strong>de</strong> trabalho e implementar as lutas<br />

reivindicatórias, levando-as sempre mais adiante.<br />

Deve organizar somente os trabalhadores e as trabalhadoras, como classe<br />

que se opõe à classe dos patrões.<br />

Devem ser autônomos e livres, sem nenhuma interferência do Estado,<br />

sustentados exclusivamente pelos trabalhadores e trabalhadoras.<br />

Devem ser formados somente por trabalhadores e trabalhadoras<br />

conscientes, dispostos a assumir a li<strong>de</strong>rança na luta pelo socialismo.<br />

Devem ser organizados em pequenos grupos <strong>de</strong> fábrica ou por ofício,<br />

possibilitando a mais completa <strong>de</strong>mocracia, on<strong>de</strong> todos tenham condições<br />

<strong>de</strong> participar.<br />

Devem se unir segundo os ramos <strong>de</strong> produção, em formas fe<strong>de</strong>rativas ou<br />

em confe<strong>de</strong>rações: em nível local, estadual e nacional, sempre preservando<br />

a autonomia <strong>de</strong> cada organização e evitando qualquer tipo <strong>de</strong> centralização<br />

que venham a prejudicar a participação direta dos trabalhadores e<br />

trabalhadoras em todas as <strong>de</strong>cisões.<br />

Devem priorizar a ação direta (mobilizações, boicotes, greves), visando<br />

organizar a greve geral, que <strong>de</strong>rrubará o sistema capitalista.<br />

Promover ativida<strong>de</strong>s culturais, que possam favorecer a conscientização dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras.<br />

Os anarquistas eram contrários à liberação <strong>de</strong> dirigentes sindicais. Não<br />

consi<strong>de</strong>ravam a aliança com a classe média.<br />

O O ANARQUISMO ANARQUISMO NO NO MUNDO<br />

MUNDO<br />

O anarquismo se iniciou na meta<strong>de</strong> do século XIX, na França. Por meio <strong>de</strong><br />

Proudhon 21, Bakunin 22 - que foram seus primeiros i<strong>de</strong>alizadores - e <strong>de</strong> outros seguidores,<br />

21 Pre<strong>curso</strong>r do anarquismo enfatizava o respeito à pequena proprieda<strong>de</strong>, propondo a criação <strong>de</strong> cooperativas sem<br />

fins lucrativos voltadas para o auto-abastecimento e <strong>de</strong> bancos que conce<strong>de</strong>ssem empréstimos sem juros aos<br />

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se expandiu para a Rússia e para toda a Europa, particularmente na Itália e na Espanha,<br />

até chegar aqui no Brasil no final do século XIX, por meio <strong>de</strong> imigrantes espanhóis,<br />

italianos, portugueses, franceses e belgas.<br />

A A DIFUSÃO DIFUSÃO DO DO ANARQUISMO ANARQUISMO NO NO BRASIL<br />

BRASIL<br />

As idéias anarquistas, apesar <strong>de</strong> já estarem presentes em alguns segmentos da<br />

socieda<strong>de</strong> brasileira, começaram a ganharam força no Brasil nas últimas décadas do<br />

século XIX, quando varias famílias <strong>de</strong> imigrantes italianos chegaram ao <strong>sul</strong> do país, mais<br />

precisamente no Paraná e posteriormente em Santa Catarina e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Essas<br />

famílias formaram comunida<strong>de</strong>s com i<strong>de</strong>ais libertários e constituíram as primeiras<br />

cooperativas, mesmo enfrentando problemas econômicos e repressão.<br />

As teorias e táticas do anarco-sindicalismo foram difundidas por meio <strong>de</strong> livros, da<br />

imprensa, dos panfletos, e das <strong>de</strong>cisões dos congressos operários, seus principais<br />

veículos. O anarco-sindicalismo influenciou também o campo, atribuindo um papel político<br />

e revolucionário ao cooperativismo rural. Foram muitas as cooperativas e outras<br />

organizações <strong>de</strong> caráter cooperativo criadas pelos anarquistas, tendo como objetivo a<br />

ajuda mútua, em estreita relação com a luta e o projeto político revolucionário.<br />

A expansão do anarquismo foi rápida nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras, nas<br />

primeiras décadas do século XX. Suas propostas <strong>de</strong> supressão do Estado e <strong>de</strong> todas as<br />

formas <strong>de</strong> repressão encontraram receptivida<strong>de</strong> entre os trabalhadores e trabalhadoras,<br />

num contexto em que o jogo político era exclusivida<strong>de</strong> das oligarquias e inexistia qualquer<br />

proteção ao trabalho.<br />

AÇÃO AÇÃO DOS DOS ANARQUISTAS ANARQUISTAS NOS NOS SINDICATO<br />

SINDICATO<br />

Em 1906 houve o 1º Congresso Operário Brasileiro, com 43 <strong>de</strong>legados, eleitos por<br />

28 organizações operárias <strong>de</strong> todo o País. O Congresso fundou a Confe<strong>de</strong>ração Operária<br />

Brasileira (COB). As propostas vencedoras do Congresso e a linha predominante da COB<br />

eram da corrente dos anarquistas:<br />

A organização dos operários <strong>de</strong>ve ser fe<strong>de</strong>rativa e não centralizada.<br />

O sindicalismo <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> resistência e não assistencialista.<br />

O importante é a ação direta da classe operária, sem passar pela<br />

intermediação parlamentar: priorizar boicotes, greves e outras formas<br />

diretas <strong>de</strong> luta.<br />

É preciso combater as visões reformistas dos agentes do Governo e da<br />

Igreja Católica.<br />

empreendimentos produtivos e crédito gratuito aos trabalhadores. Dizia que o Estado <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>struído,<br />

sendo substituído por uma "república <strong>de</strong> pequenos proprietários" organizada num sistema fe<strong>de</strong>rativo.<br />

22 Outro pre<strong>curso</strong>r do anarquismo, afirma que "A liberda<strong>de</strong> é o direito absoluto <strong>de</strong> todo homem ou mulher maiores<br />

<strong>de</strong> só procurar na própria consciência e na própria razão as sanções para seus atos, <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminá-los apenas<br />

por sua própria vonta<strong>de</strong> e <strong>de</strong>, em conseqüência, serem responsáveis primeiramente perante si mesmos, <strong>de</strong>pois,<br />

perante a socieda<strong>de</strong> da qual fazem parte, com a condição <strong>de</strong> que consintam livremente <strong>de</strong>la fazerem parte".<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Como se viu acima, os anarco-sindicalistas entendiam que “a ação direta <strong>de</strong>veria<br />

ser a gran<strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ira do sindicalismo revolucionário". Por isso, cada ação direta - greve,<br />

boicote, sabotagem, etc. - era consi<strong>de</strong>rada um meio dos trabalhadores e trabalhadoras<br />

apren<strong>de</strong>rem a agir <strong>de</strong> uma maneira solidária em sua luta por melhores condições <strong>de</strong><br />

trabalho, contra seu inimigo comum, os capitalistas. Essa conclusão partia da seguinte<br />

convicção: cada ação direta é uma batalha na qual o proletário conhece as necessida<strong>de</strong>s<br />

da revolução, por meio <strong>de</strong> sua própria experiência, e se prepara para a ação final, isto é, a<br />

greve geral que “<strong>de</strong>struirá o sistema capitalista”. O anarco-sindicalismo – assim como o<br />

anarquismo em geral – consi<strong>de</strong>rava que nas ações diretas seria legítimo o uso <strong>de</strong> um<br />

certo tipo e grau <strong>de</strong> violência.<br />

Essa concepção e as práticas <strong>de</strong>la <strong>de</strong>correntes se constituíam numa das<br />

características diferenciais do anarco-sindicalismo em relação a outras correntes e formas<br />

<strong>de</strong> ação do sindicalismo brasileiro. A sabotagem – por exemplo - era vista como<br />

especialmente eficaz para o proletariado, no caso em que ele não pu<strong>de</strong>sse entrar em<br />

greve. A <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> equipamentos tocaria no ponto fraco do sistema, pois as máquinas<br />

são <strong>de</strong> mais difícil substituição do que os trabalhadores e as trabalhadoras.<br />

Como principais divulgadores do i<strong>de</strong>ário anarquista <strong>de</strong>stacaram-se José Oiticica,<br />

Everardo Dias e Edgard Leuenroth. Os primeiros jornais anarquistas e anarco-sindicalistas<br />

tentaram se sustentar apenas com as contribuições dos militantes. Como era ainda um<br />

número reduzido e não possuíam muitos re<strong>curso</strong>s econômicos, acabaram sendo poucos<br />

os jornais anarquistas que chegaram a publicar mais <strong>de</strong> cinco números.<br />

A partir <strong>de</strong> 1908 a COB publicou seu jornal nacional “A VOZ DO TRABALHADOR”.<br />

Esse jornal continuou irregularmente até 1920, com o <strong>de</strong>smantelamento da própria COB.<br />

A greve <strong>de</strong> 1917 foi comandada pelos anarquistas. A maioria <strong>de</strong> jornais da época<br />

atestou a força e organização dos anarquistas do Brasil. Isso não quer dizer que não havia<br />

outros grupos políticos que dividiam com eles a li<strong>de</strong>rança do movimento operário.<br />

Depois da greve, apesar <strong>de</strong> alguns avanços em termos <strong>de</strong> legislação social, houve<br />

anos difíceis para o movimento operário, que foi obrigado a enfrentar gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios. O<br />

principal foi o recru<strong>de</strong>scimento da repressão por parte do governo.<br />

Em 1921 foi aprovada a Lei <strong>de</strong> Expulsão dos Estrangeiros, que legitimava a<br />

<strong>de</strong>portação sumária <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças envolvidas em “distúrbios da or<strong>de</strong>m” e o fechamento<br />

<strong>de</strong> organizações operárias. Os principais alvos passaram a ser os anarquistas. A<br />

justificativa utilizada para a aprovação <strong>de</strong>ssa lei repressiva era evi<strong>de</strong>nte: o movimento<br />

operário estava sendo controlado por li<strong>de</strong>ranças estrangeiras radicais, que iludiam<br />

trabalhadores e trabalhadoras nacionais!<br />

Des<strong>de</strong> o início dos anos ’30 as principais categorias <strong>de</strong> trabalhadores e<br />

trabalhadoras do Estado <strong>de</strong> São Paulo estavam organizadas em sindicatos. Havia duas<br />

fe<strong>de</strong>rações estaduais:<br />

A Fe<strong>de</strong>ração Operária <strong>de</strong> São Paulo (FOSP), com o maior número <strong>de</strong><br />

sindicatos e algumas categorias mais importantes da capital paulista, sob a<br />

influência anarco-sindicalista.<br />

A Fe<strong>de</strong>ração Sindical Regional <strong>de</strong> São Paulo (FSRSP), dirigida pelos<br />

comunistas, (sindicatos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s do interior, que não contavam com<br />

bases expressivas na capital).<br />

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Durante toda a década <strong>de</strong> 1930 os anarco-sindicalistas foram à única corrente<br />

sindical que se manteve irredutível na <strong>de</strong>fesa da organização autônoma dos trabalhadores<br />

e trabalhadoras, assim como na oposição ao sindicalismo corporativista.<br />

Contudo, essa posição os levou ao isolamento político e contribuiu – no contexto<br />

das crescentes dificulda<strong>de</strong>s relativas à sobrevivência dos sindicatos livres – para sua<br />

perda <strong>de</strong> influência no movimento sindical. Enquanto a força dos anarquistas foi<br />

diminuindo, foi crescendo a influência dos comunistas no movimento sindical.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, com a implantação da Estrutura Sindical – que tinha o Estado como<br />

seu principal regulador - a corrente anarquista foi per<strong>de</strong>ndo cada vez mais expressão e<br />

presença no movimento sindical, que se expandia e se consolidava no Brasil.<br />

ONDE ONDE ATUAM ATUAM HOJE HOJE OS OS ANARQUISTAS?<br />

ANARQUISTAS?<br />

Apesar da reduzida presença <strong>de</strong> anarquistas no sindicalismo, suas idéias<br />

continuam vivas em vários segmentos da socieda<strong>de</strong>, inclusive entre trabalhadores e<br />

trabalhadoras, organizações sociais e sindicais, no Brasil e no mundo.<br />

Existe uma carência <strong>de</strong> informações relacionadas com o anarquismo e sua atuação<br />

na atualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à ausência <strong>de</strong> registros mais precisos.<br />

Des<strong>de</strong> os anos ‘80 foi i<strong>de</strong>ntificado em muitas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> massa o movimento<br />

anarco-punk, que continua sendo ativo até hoje.<br />

Os anarquistas po<strong>de</strong>m ser vistos também:<br />

Em manifestações realizadas para expressar insatisfações e protestos<br />

contra reuniões e encaminhamentos promovidos pelo grupo <strong>de</strong> países mais<br />

ricos (G 08), pela OMC e pelo BID.<br />

Em organizações sociais – <strong>de</strong> ambientalistas, <strong>de</strong> mulheres, jovens...<br />

Nesses grupos ou reuniões po<strong>de</strong>m até aparecer divergências - entre os próprios<br />

anarquistas ou entre eles e as <strong>de</strong>mais correntes, quanto às estratégias <strong>de</strong> luta e à<br />

maneira <strong>de</strong> atuar - mas eles têm um ponto em comum: a luta contra qualquer sistema<br />

opressor.<br />

TRAJETORIA TRAJETORIA DO DO SIND SINDICALISMO SIND SIND ICALISMO “AMARELO” OU “PELEGO”. “PELEGO”.<br />

O sindicalismo “amarelo” ou “peleguismo” é um fenômeno antigo no sindicalismo<br />

brasileiro, refletindo a forte influencia <strong>de</strong> patrões e do Estado no movimento operário. É<br />

constituído por uma enorme massa <strong>de</strong> dirigentes burocratizados, para os quais o sindicato<br />

tem apenas um papel assistencialista e <strong>de</strong> intermediário legal nas relações entre o capital<br />

e o trabalho. Esse é o aspecto político e social mais profundo da questão: o “pelego” é o<br />

agente dos patrões e do Estado no movimento sindical.<br />

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Já em 1908 o jornal anarquista “A VOZ DO TRABALHADOR” órgão da Confe<strong>de</strong>ração<br />

Operaria Brasileira – COB <strong>de</strong>finiu-os como “operários que bajulam os potentados, em<br />

prejuízo da autonomia da classe”. Em que pese a forte presença dos anarquistas e,<br />

posteriormente dos comunistas e socialistas nas direções dos sindicatos, os amarelos ou<br />

pelegos representavam à maioria dos dirigentes na época. Os grupos revolucionários os<br />

chamavam pejorativamente <strong>de</strong> "amarelos".<br />

Particularmente no Rio <strong>de</strong> Janeiro era bastante influente essa corrente política<br />

mo<strong>de</strong>rada, não revolucionária, interessada em obter conquistas específicas como<br />

diminuição da jornada <strong>de</strong> trabalho e aumentos salariais. Esses grupos preocupavam-se<br />

ainda em garantir o reconhecimento dos sindicatos por parte do Estado.<br />

O presi<strong>de</strong>nte Hermes da Fonseca, em 1912, <strong>de</strong>senvolveu a primeira ação concreta<br />

para uma intervenção governamental nas <strong>de</strong>cisões das organizações <strong>de</strong> trabalhadores,<br />

pois organizou um congresso com representações sindicais, mais que teve gran<strong>de</strong>s<br />

conseqüências.<br />

Em 1921 o Estado fundou o Conselho Nacional do Trabalho, visando controlar os<br />

sindicatos e torná-los órgãos <strong>de</strong> conciliação entre as classes. Foi criada também a<br />

Confe<strong>de</strong>ração Sindicalista Corporativista Brasileira, <strong>de</strong> tendência reformista. Os Sindicatos<br />

“amarelos” passaram a ser ainda mais favorecidos pelas vantagens concedidas pelo<br />

Estado. Principalmente os setores cujas ativida<strong>de</strong>s eram indispensáveis para a exportação<br />

do café, como ferroviários e portuários, tinham prontamente atendidas suas<br />

reivindicações, uma vez que sua paralisação estrangularia a economia. Já as categorias<br />

vinculadas à indústria, dado seu caráter secundário na economia agro-exportadora, eram<br />

tratadas <strong>de</strong> forma exclusivamente repressiva. Lembre-se aqui a afirmativa do Presi<strong>de</strong>nte<br />

Washington Luís <strong>de</strong> que “a questão social era simples caso <strong>de</strong> policia”.<br />

Mas foi durante a década <strong>de</strong> 30 que os pelegos conseguiram as condições mais<br />

favoráveis para se eternizarem nas direções sindicais. “Pelego”, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> significar a<br />

manta colocada entre o cavalo e a sela para amortecer os solavancos e passou a ser<br />

sinônimo <strong>de</strong> sindicalista acomodado e comprometido com os patrões e o governo.<br />

À medida que o Ministério do Trabalho intervinha nos Sindicatos, Fe<strong>de</strong>rações e<br />

Confe<strong>de</strong>rações e <strong>de</strong>stituía suas direções, os pelegos eram indicados para dirigi-las a partir<br />

das orientações governamentais. A criação do Imposto Sindical era o que faltava para<br />

garantir a imensa estrutura – com médicos, <strong>de</strong>ntistas, escolas, <strong>de</strong>ntre outras – criada<br />

naqueles sindicatos em que o pelego era sua representação maior.<br />

O chamado Estado Novo, <strong>de</strong>ntre outras coisas, consolidou a seguinte concepção,<br />

“o sindicalismo brasileiro <strong>de</strong>ve ser corporativo, isto é, um sindicalismo que concilie patrões<br />

e operários e não um sindicalismo revolucionário, baseado na luta entre classes inimigas,<br />

como historicamente foi feito nas décadas anteriores”.<br />

Já nos primeiros anos da década <strong>de</strong> 1940 o Estado Novo mostrava seus primeiros<br />

sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>; consequentemente, o sindicalismo amarelo passou a ficar na<br />

<strong>de</strong>fensiva. Com a extinção do Departamento <strong>de</strong> Imprensa e Propaganda (DIP) e do<br />

Tribunal <strong>de</strong> Segurança Nacional – organismos <strong>de</strong> repressão i<strong>de</strong>ológica e política,<br />

existentes durante o Estado Novo –, esse segmento conservador encontrou ainda mais<br />

dificulda<strong>de</strong>s.<br />

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Uma O avanço das lutas operárias foi freado com o golpe e o governo do Marechal<br />

Dutra. Dentre outras medidas, Dutra proibiu a existência do Movimento Unificado dos<br />

Trabalhadores (MUT), colocou na ilegalida<strong>de</strong> o partido comunista, <strong>de</strong>cretou a intervenção<br />

e suspensão das eleições sindicais. Tudo isso facilitou que os pelegos retornassem às<br />

direções dos sindicatos mais importantes do país.<br />

A retomada das lutas politicas e sindicais no início dos anos 1960 recolocaram os<br />

pelegos na <strong>de</strong>fensiva. A fundação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), por<br />

exemplo, objetivava - <strong>de</strong>ntre outras coisas - combater o ‘peleguismo’ das Confe<strong>de</strong>rações<br />

Nacionais, especialmente da CNTI, dominada há décadas pelo pelego Ari Campista.<br />

Durante este período, os pelegos receberam apoio financeiro da Confe<strong>de</strong>ração<br />

Internacional das Organizações Sindicais Livres – CIOSL, da Organização Regional<br />

Interamericana do Trabalho – ORIT, <strong>de</strong>ntre outros organismos sindicais internacionais<br />

ligados ao governo norte-americano.<br />

Além <strong>de</strong> receberem todos esses apoios financeiros, muitos dirigentes pelegos<br />

tornaram-se interventores do Ministério do Trabalho durante o governo militar, a exemplo<br />

da CONTAG, que em 1964 teve sua presidência ocupada por um <strong>de</strong>les. O assistencialismo<br />

foi mantido e, fortalecido na gran<strong>de</strong> maioria das entida<strong>de</strong>s sindicais; os pelegos voltaram<br />

a ter hegemonia e domínio sobre os <strong>de</strong>stinos do sindicalismo brasileiro.<br />

Apesar <strong>de</strong>ssa hegemonia, durante o congresso promovido pela Confe<strong>de</strong>ração<br />

Nacional dos Trabalhadores na Indústria – CNTI, em julho <strong>de</strong> 1978, um grupo <strong>de</strong><br />

sindicalistas que se auto<strong>de</strong>nominavam ‘autênticos’, <strong>de</strong>nunciaram a direção pelega da<br />

CNTI e apresentaram uma “Carta <strong>de</strong> Princípios”, que se tornou a principal referencia para<br />

a retomada das entida<strong>de</strong>s sindicais operarias.<br />

As transformações mais recentes ocorridas nos anos 1980 - anistia aos exilados<br />

políticos; fim do bipartidarismo; eleições diretas; assembléia constituinte - estimulou o<br />

sindicalismo pelego a um processo <strong>de</strong> auto-reforma, uma mo<strong>de</strong>rnização conservadora.<br />

Esse sindicalismo foi modificando sua forma <strong>de</strong> ser, para permanecer como órgão <strong>de</strong><br />

controle sindical e político, procurando coibir as ações autônomas e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras.<br />

O O SINDICALISMO SINDICALISMO DE DE RESULTADOS RESULTADOS E E FORÇA FORÇA SINDICAL<br />

SINDICAL<br />

O sindicalismo <strong>de</strong> re<strong>sul</strong>tado nasceu, inicialmente, da confluência <strong>de</strong> duas atuações<br />

sindicais que vivenciaram trajetórias distintas e que, num dado momento, na segunda<br />

meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1980, abraçou o mesmo projeto.<br />

Referimo-nos à confluência da atuação <strong>de</strong> amarelos ou pelegos com a ação <strong>de</strong><br />

lí<strong>de</strong>res sindicais pragmáticos. Assim formou-se, no Brasil, uma nova direita no movimento<br />

sindical, distinta do velho ‘peleguismo’ e perfeitamente inserida na onda neoliberal, que<br />

penetrou também no movimento sindical em nosso país.<br />

Alguns dos pontos centrais do seu i<strong>de</strong>ário são:<br />

Reconhecimento da vitória do capitalismo e da inevitabilida<strong>de</strong> da lógica do<br />

mercado.<br />

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Restringir a luta sindical à busca <strong>de</strong> melhorias nas condições <strong>de</strong> trabalho,<br />

não cabendo aos sindicatos extrapolarem este âmbito da luta.<br />

Atribuir o papel da ação política exclusivamente aos partidos, que <strong>de</strong>vem<br />

estar totalmente <strong>de</strong>svinculados da ação sindical.<br />

Diminuir o papel do Estado, reduzindo apenas sua ação a uma linha política<br />

privatizante.<br />

Estes pontos básicos - aliados a uma estratégia que recusa o confronto e procura<br />

extrair re<strong>sul</strong>tados imediatos nas ações sindicais, calculadas para que não extrapolem o<br />

âmbito da negociação - conformaram uma feição neoliberal e burguesa no seio do<br />

movimento sindical brasileiro. Por isso, dizíamos, é algo muito distinto do peleguismo<br />

(sempre atrelado ao Estado e <strong>de</strong>le porta-voz) e conforma o que caracterizamos como<br />

sendo a nova direita no movimento sindical. Este é o âmbito e o campo i<strong>de</strong>ológico on<strong>de</strong> o<br />

sindicalismo <strong>de</strong> re<strong>sul</strong>tados opera e atua.<br />

Conforme disse Luís Antônio Me<strong>de</strong>iros, em entrevista à Folha <strong>de</strong> S. Paulo<br />

(20/08/87): “Eu acho que o capitalismo venceu no Brasil... Eu quero a divisão das<br />

riquezas e a minha briga não é pela mudança do regime”. E quanto ao papel dos<br />

sindicatos: “O sindicato é um fator <strong>de</strong> mercado e <strong>de</strong>ve, portanto, valorizar o preço <strong>de</strong> mão<strong>de</strong>-obra”.<br />

“Estamos procurando caminhos novos. Eu diria que todo sindicato que se preze<br />

faz parte da reprodução capitalista. Pois, qual é o objetivo do sindicato? É lutar para<br />

ven<strong>de</strong>r a mão-<strong>de</strong>-obra pelo preço mais alto possível. Se crio o mercado interno estou<br />

fortalecendo o nosso capitalismo”.<br />

A Força Sindical, contando com o apoio <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 300 sindicatos, duas<br />

confe<strong>de</strong>rações e vinte fe<strong>de</strong>rações – fundada no início <strong>de</strong> 1991 - caminha no sentido <strong>de</strong><br />

consolidar o sindicalismo <strong>de</strong> re<strong>sul</strong>tado: um sindicalismo que projete “que todos (os<br />

trabalhadores) necessitam, e exigem uma central sindical que não seja ‘revolucionarista’”.<br />

Foi a Força Sindical que introduziu a prática recorrente <strong>de</strong> um 1° <strong>de</strong> maio como um<br />

circo para os trabalhadores e trabalhadoras. É a política <strong>de</strong> pão e circo. Para atrair um<br />

gran<strong>de</strong> público, a Central organiza gran<strong>de</strong>s manifestações, chama artistas da indústria<br />

cultural. Que fazem sucesso freqüentemente pela música <strong>de</strong> baixíssima qualida<strong>de</strong> e doam<br />

apartamentos, carros, eletrodomésticos” 23.<br />

ALGUNS ALGUNS ALGUNS REFERENCIAIS REFERENCIAIS TEÓRICOS TEÓRICOS DO DO COMUNISMO<br />

COMUNISMO<br />

Com base no assim chamado “socialismo científico” no final do século XIX, tendo a<br />

frete Karl Marx e Friedrich Engels, os sindicatos passaram a ser vistos como instrumentos<br />

que <strong>de</strong>vem contribuir para a luta revolucionária do proletariado pela tomada do po<strong>de</strong>r<br />

político. Essa doutrina passou a se diferenciar tanto dos reformistas, que pregam<br />

23 Ricardo Antunes é professor livre docente em sociologia do trabalho na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas<br />

(Unicamp), in Jornal dos Trabalhadores Rurais SEM TERRA Ano XXIV – numero 252 – maio <strong>de</strong> 2006.<br />

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mudanças graduais no capitalismo, como das anarquistas, que negam a luta política pelo<br />

po<strong>de</strong>r.<br />

Para Marx, “os “os sindicatos sindicatos são são indispensáveis indispensáveis para para a a guerra guerra <strong>de</strong> <strong>de</strong> guerrilha guerrilha cotidiana<br />

cotidiana<br />

entre entre o o capital capital e e o o trabalho”. trabalho”. Seu objetivo imediato “concretiza “concretiza-se “concretiza<br />

se nas exigências do dia dia-a- dia<br />

dia, dia, nos nos meios meios <strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência resistência contra contra os os incessantes incessantes ataques ataques do capital”. Mas a concepção<br />

Marxista vai além. Aponta outros objetivos da ativida<strong>de</strong> sindical, não se limitando a uma<br />

visão economicista. Os teóricos do comunismo vêem os sindicatos, sobretudo, como<br />

centros organizadores do proletariado, que <strong>de</strong>vem ser “escolas do socialismo”. Marx diz:<br />

“O capital é o po<strong>de</strong>r social concentrado, enquanto o operário só dispõe da sua força <strong>de</strong><br />

trabalho. O contrato entre capital e trabalho não po<strong>de</strong>, portanto, repousar nunca em justas<br />

condições... Do lado do operário sua única força é o número. Mas a força do número se<br />

quebra pela <strong>de</strong>sunião. A divisão dos operários é produto e re<strong>sul</strong>tado, da inevitável<br />

concorrência entre eles próprios. Dos sindicatos nascem precisamente os impulsos<br />

espontâneos dos operários para eliminar, ou pelo menos reduzir essa concorrência, a fim<br />

<strong>de</strong> conseguir melhores condições que os coloquem ao menos em situação superior à <strong>de</strong><br />

simples escravos”.<br />

Partindo <strong>de</strong>sse princípio norteador, o marxismo con<strong>de</strong>na o economicismo, as<br />

correntes que encaram os sindicatos nos estreitos marcos corporativos. Para essa<br />

concepção, a luta puramente econômica não conduz a nada, já que o capitalismo tem<br />

capacida<strong>de</strong> para assimilar as pequenas melhorias salariais - garantindo sua taxa <strong>de</strong> maisvalia.<br />

Isso não significa que o marxismo negue a luta econômica. Muito pelo contrário.<br />

Mostra apenas suas limitações e prega a transformação da luta econômica em luta<br />

política pela tomada do po<strong>de</strong>r.<br />

Acompanhando a evolução do sindicalismo, principalmente o da Inglaterra, Marx<br />

vai perceber a miopia economicista e apontará qual <strong>de</strong>ve ser a tarefa maior dos sindicatos<br />

no capitalismo. “Os sindicatos trabalham bem como centros <strong>de</strong> resistência contra os<br />

ataques do capital. Mas <strong>de</strong>monstram ser partes ineficazes em virtu<strong>de</strong> do mal<br />

compreendido uso <strong>de</strong> sua força. Em geral, erram o caminho porque se limitam a uma<br />

guerra <strong>de</strong> guerrilhas contra os efeitos do sistema existente, em vez <strong>de</strong> trabalharem, ao<br />

mesmo tempo, para a sua transformação, usando a força organizada como alavanca para<br />

a libertação <strong>de</strong>finitiva da classe operária”.<br />

Entretanto, o marxismo não adota a mesma visão dos anarquistas nessa questão.<br />

Ele aponta que a greve não <strong>de</strong>ve ser vista como a única arma <strong>de</strong> luta dos trabalhadores e<br />

trabalhadoras. Para o marxismo, a greve <strong>de</strong>ve ter como principal objetivo organizar os<br />

trabalhadores, acumular forças, preparando para as novas batalhas. Relaciona sempre as<br />

lutas parciais com seu objetivo final, que á a tomada do po<strong>de</strong>r pelo proletariado. Por isso,<br />

uma greve por interesses imediatos, que coloquem em risco a organização dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras, <strong>de</strong>ve ser rejeitada.<br />

Outra característica da corrente marxista é a <strong>de</strong>fesa da unida<strong>de</strong> dos trabalhadores,<br />

o marxismo con<strong>de</strong>na as tentativas <strong>de</strong> dividir as organizações sindicais por motivos políticopartidários<br />

ou religiosos. Exatamente por isso, o marxismo vai fazer esforços no sentido da<br />

unida<strong>de</strong> dos trabalhadores. Para Lênin, “Não atuar no seio dos sindicatos reacionários<br />

significa abandonar as massas operárias insuficientemente <strong>de</strong>senvolvidas ou atrasadas à<br />

influência <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res reacionários, dos agentes da burguesia, dos operários aristocratas ou<br />

operários aburguesados”.<br />

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Exatamente por enfatizar que o primeiro objetivo do proletariado é a conquista do<br />

po<strong>de</strong>r político, a concepção marxista ressalta a supremacia do partido político sobre o<br />

sindicato. Para ela, o partido revolucionário é um estágio superior <strong>de</strong> organização. Quando<br />

fala em supremacia do partido, o marxismo não nega a importância da luta sindical, mas<br />

<strong>de</strong>staca que há diferenças entra assas duas formas <strong>de</strong> organização e que elas <strong>de</strong>vem ser<br />

preservadas. Contudo, essas premissas não eliminam o risco <strong>de</strong> uma submissão do<br />

sindicato ao partido. Talvez seja também por isso que os comunistas tenham sido muitas<br />

vezes acusados <strong>de</strong> fazerem do sindicato uma mera “correia <strong>de</strong> transmissão do partido”.<br />

PARTICIPAÇÃO PARTICIPAÇÃO DOS DOS COMUNISTAS COMUNISTAS BRASILEIROS BRASILEIROS NO NO MOVIMENTO MOVIMENTO SINDICAL<br />

SINDICAL<br />

No Brasil, o comunismo surgiu a partir da <strong>de</strong>sagregação do anarquismo – e não da<br />

crise da social <strong>de</strong>mocracia, como em outros países – e a história dos primeiros anos<br />

<strong>de</strong>sse movimento é a crônica <strong>de</strong> seu esforço para <strong>de</strong>rrotar a influencia anarquista e<br />

indicar novos rumos à luta operaria e sindical.<br />

A partir <strong>de</strong> 1922, embalados pela criação do primeiro Estado socialista na Rússia,<br />

militantes brasileiros fundaram o Partido Comunista do Brasil (PCB), que se <strong>de</strong> um lado<br />

não se apresentava como uma alternativa imediata <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r causou apreensão do Estado<br />

oligárquico. Entre os fundadores estavam ex-li<strong>de</strong>ranças anarquistas como Astrojildo<br />

Pereira e Otávio Brandão.<br />

Ao contrário dos anarquistas, que viam o Estado como um mal em si, os<br />

comunistas o viam como um espaço a ser ocupado e transformado. Essas concepções os<br />

levaram, seja na ilegalida<strong>de</strong>, seja nos breves momentos <strong>de</strong> vida legal, a buscarem aliados<br />

e a participar da vida parlamentar do país.<br />

Entre a fundação do Partido Comunista e seu II Congresso em 1925, a principal<br />

palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m dos comunistas foi “ir às massas”. Nesse sentido, muitos esforços<br />

foram feitos para fortalecer o movimento sindical, levando-os a se chocarem com os<br />

anarquistas e com a repressão policial. As décadas <strong>de</strong> 20 e 30 do século passado foi um<br />

período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios para o movimento sindical brasileiro, marcado pela forte<br />

repressão ao movimento sindical in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e pela regulamentação e controle das<br />

relações <strong>de</strong> trabalho e da organização sindical pelo Estado Getulista.<br />

Em 1929 é criada a Confe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalhadores Brasileiros – CGTB<br />

(funcionando até 1936) sob controle dos comunistas que passam a exercer a hegemonia<br />

sobre o movimento sindical brasileiro. Os comunistas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio a<br />

unida<strong>de</strong> sindical; em conseqüência, surgiram as duas características marcantes da<br />

atuação comunista: o trabalho em sindicatos reacionários e pelegos e a politização da luta<br />

operaria (contra o imperialismo e contra o latifúndio).<br />

Os primeiros aos da década <strong>de</strong> 1930, foram <strong>de</strong> luta entre os sindicatos livres e o<br />

governo. As entida<strong>de</strong>s operárias in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes não aceitavam os <strong>de</strong>cretos sobre<br />

sindicalização. Contudo, crescia progressivamente o numero <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s organizadas<br />

conforme a legislação e, dirigida por sindicalistas ligados ao Ministério do Trabalho ou que<br />

aceitavam sua tutela.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Com a promulgação da Constituição Fe<strong>de</strong>ral em 1934, a influencia sindical dos<br />

comunistas cresceu, “o PCB organizou o Congresso <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> Sindical, com<br />

representantes <strong>de</strong> 300 sindicatos <strong>de</strong> todo o país”. No ano seguinte, “o PCB organizou a<br />

Confe<strong>de</strong>ração Sindical Unitária do Brasil, num congresso com 400 <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> 11<br />

estados”, alem <strong>de</strong> junto com outros segmentos da socieda<strong>de</strong>, constituir a Aliança Nacional<br />

Libertadora, “frente única revolucionária anti-imperialista e anti-feudal, que lutava por um<br />

governo popular e que chegou a congregar em suas fileiras amplas massas populares do<br />

país inteiro, e os mais variados atores sociais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o proletariado até a burguesia<br />

nacional”, perseguida pelo Governo Vargas.<br />

Em 1937, Getulio Vargas rasgou – por meio <strong>de</strong> um golpe - a Constituição e dá<br />

origem ao Estado Novo. O Partido Comunista foi praticamente dispersado, os sindicalistas<br />

comunistas foram perseguidos e afastados das direções <strong>de</strong> inúmeras entida<strong>de</strong>s.<br />

Quando o Estado Novo entrou em crise, o Partido Comunista começou a se<br />

reorganizar em entida<strong>de</strong>s sindicais. Uma <strong>de</strong> suas primeiras iniciativas foi à rearticulação<br />

do movimento sindical in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, em 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1945, funda o Movimento<br />

Unificador dos Trabalhadores – MUT, apoiado por 300 dirigentes sindicais <strong>de</strong> 13 estados.<br />

Seu manifesto pedia “a mais ampla liberda<strong>de</strong> sindical; a soberania das assembléias<br />

sindicais, sem a presença obrigatória do Ministério do Trabalho; eleição e posse dos<br />

dirigentes sindicais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da aprovação pelo governo; autonomia administrativa<br />

para os sindicatos, etc.”.<br />

Naquela conjuntura os sindicalistas comunistas orientados pelo partido, <strong>de</strong>fendiam<br />

claramente a conciliação <strong>de</strong> classes: “por intermédio das organizações sindicais a classe<br />

operaria po<strong>de</strong> ajudar o governo e os patrões a encontrar soluções práticas, rápidas e<br />

eficazes para os graves problemas econômicos <strong>de</strong> hoje”, <strong>de</strong>fendia Luiz Carlos Prestes,<br />

secretário-geral do Partido Comunista. Essa orientação <strong>de</strong> fundo oportunista estava<br />

baseada na idéia <strong>de</strong> que, “com a <strong>de</strong>rrota do nazismo, surgia uma nova época, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento pacifico, que prescindiria da revolução.”.<br />

Com o governo do Marechal Dutra, foi <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado outra ofensiva conservadora<br />

contra a classe trabalhadora: intervenção em mais <strong>de</strong> 400 importantes sindicatos,<br />

fechamento do Partido Comunista e da CGTB; perseguição a todos os sindicalistas<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Com a eleição <strong>de</strong> Vargas em 1950, os direitos individuais e coletivos<br />

retornam a normalida<strong>de</strong>, principalmente com a extinção do ‘atestado i<strong>de</strong>ológico’.<br />

Durante o governo Vargas e, após o suicídio do presi<strong>de</strong>nte em agosto <strong>de</strong> 1954, o<br />

partido coor<strong>de</strong>nou uma ampla articulação <strong>de</strong> setores nacionalistas para a formação <strong>de</strong><br />

uma frente <strong>de</strong>mocrática, dando inicio à aliança do Partido Comunista com o Partido<br />

Trabalhista Brasileiro, que congregava sindicalistas getulistas. Um novo período <strong>de</strong><br />

colaboração <strong>de</strong> classes se esboçava, “ajudando a colocar o movimento sindical em função<br />

dos interesses <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados setores burgueses. Tal tendência refletiu-se logo no<br />

refluxo da luta pela autonomia sindical e pela <strong>de</strong>struição da estrutura sindical<br />

corporativista. O movimento sindical passou a acomodar-se”.<br />

A hegemonia <strong>de</strong>sses setores <strong>de</strong>ntro do partido e <strong>de</strong>ntre os sindicalistas comunistas<br />

crescia ano a ano. A reação <strong>de</strong> militantes comunistas vem a ocorrer com mais força em<br />

1962, numa Conferência Nacional Extraordinária, quando foi reorganizado o Partido<br />

Comunista do Brasil, adotando a legenda PC do B. No mesmo ano, foi criado o Comando<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Geral dos Trabalhadores – CGT, uma central que colocou em pânico as elites com a<br />

perspectiva daquilo que eles chamavam <strong>de</strong> “República Sindicalista”.<br />

A orientação cupulista para o sindicalismo continuava com forte influencia em<br />

importantes estruturas sindicais, a exemplo das Confe<strong>de</strong>rações: dos trabalhadores na<br />

indústria – CNTI; dos trabalhadores no comercio – CNTC; dos trabalhadores em transporte<br />

marítimos, fluviais e aéreos – CNTTMFA; dos trabalhadores em empresas <strong>de</strong> credito –<br />

CONTEC; e suas Fe<strong>de</strong>rações Estaduais. Contudo, esta aparente força não se materializa<br />

em reação dos trabalhadores e das suas organizações, ao golpe militar que <strong>de</strong>pôs João<br />

Goulart.<br />

A nova conjuntura forçou o movimento sindical combativo a recuar. As tentativas<br />

mais importantes <strong>de</strong> contrapor-se à perseguição policial e ao arrocho salarial revelaram as<br />

limitações existentes e os dilemas em que o movimento operário se <strong>de</strong>batia, a exemplo<br />

das greves <strong>de</strong> <strong>Contag</strong>em – MG e <strong>de</strong> Osasco – SP em finais da década <strong>de</strong> 1960.<br />

Essa época <strong>de</strong> recuo durou até 1977, quando o país voltou a mover-se, exigindo o<br />

fim da ditadura, anistia aos políticos perseguidos, o fim da alta do custo <strong>de</strong> vida, etc. Em<br />

1978, ocorre a primeira gran<strong>de</strong> greve operaria no ABC. A partir <strong>de</strong> 1988, os dirigentes<br />

sindicais comunistas ligados ao PC do B, passaram a se organizar na Corrente Sindical<br />

Classista.<br />

ALGUNS ALGUNS REFERENCIAIS REFERENCIAIS REFERENCIAIS DO DO DO SINDICALISMO SINDICALISMO CRISTÃO<br />

CRISTÃO<br />

A partir da encíclica Rerum Novarum (Das coisas novas), publicada pelo Papa Leão<br />

XIII, em 15 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1891, a Igreja Católica adota oficialmente uma doutrina para a sua<br />

atuação no movimento social, principalmente no sindicalismo. Até esta data, essa<br />

instituição ainda preservava suas tradições elitistas e aristocráticas, próprias <strong>de</strong> período<br />

feudal.<br />

Durante o feudalismo, a Igreja possuía gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Ela era a maior proprieda<strong>de</strong><br />

feudal da Europa, controlando cerca <strong>de</strong> 1/3 das terras agricultáveis. Exercia com<br />

exclusivida<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r religioso, sendo o po<strong>de</strong>r espiritual do sistema em vigor. E era<br />

também o po<strong>de</strong>r político. Os feudos, dispersos e constituindo-se como mini-Estados,<br />

<strong>de</strong>pendiam da instituição religiosa para manter o controle político. A Igreja exercia esse<br />

po<strong>de</strong>r, via seus tabus i<strong>de</strong>ológicos, para preservar a “pureza da alma humana” e através da<br />

repressão - tão marcante no período da Inquisição.<br />

A igreja resistiu violentamente ao fim do feudalismo. Segundo o sermão mais<br />

conhecido na Europa no século XVI, “Deus fez clérigos, mas os <strong>de</strong>mônios fizeram a<br />

burguesia”. O capitalismo, entretanto vigora, a Igreja per<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, tanto econômico, como<br />

político. Posteriormente, entretanto, a própria burguesia dá espaço para a refundação da<br />

Igreja. Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong>la também para controlar o jovem proletariado. A Igreja se adapta ao<br />

novo sistema social, apesar <strong>de</strong> num primeiro momento manter suas tradições<br />

aristocráticas.<br />

Esse conservadorismo não correspon<strong>de</strong> à mentalida<strong>de</strong> emanada do novo sistema.<br />

As relações capitalistas <strong>de</strong> produção enfraquecem os preconceitos religiosos. O<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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proletariado, diferente do servo camponês, é um homem “livre”. Surgem os primeiros<br />

conflitos <strong>de</strong> classe, o luddismo, as greves, e também as novas formas <strong>de</strong> organização dos<br />

explorados - os sindicatos e as cooperativas. Parcelas da jovem classe operária se<br />

aproximam das idéias anarquistas e marxistas. A Igreja per<strong>de</strong> base social. A religiosida<strong>de</strong><br />

popular não garante mais a sustentação da instituição católica. Daí o surgimento da<br />

Rerum Novarum, que é um marco na viagem da Igreja católica com vista aos movimentos<br />

sociais.<br />

De acordo com essa encíclica papal, existe no capitalismo “uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

natural, necessária e conveniente para o homem. Os exageros <strong>de</strong> injustiças <strong>de</strong>vem ser<br />

reformados, procurando encontrar-se função social” do capital, para torná-lo um sistema<br />

“justo e eqüitativo”. Entre capital e trabalho não <strong>de</strong>ve haver antagonismos, luta <strong>de</strong> classes<br />

obe<strong>de</strong>cendo-se os princípios da “carida<strong>de</strong> cristã”. A Confe<strong>de</strong>ração Internacional dos<br />

Sindicatos Cristãos, central sindical fundada no Congresso <strong>de</strong> Haia, em 1920, chega a<br />

afirmar que “a vida econômica e social implica a colaboração <strong>de</strong> todos os filhos <strong>de</strong> um<br />

mesmo povo.” Rejeita, portanto, a violência e a luta <strong>de</strong> classes.<br />

A Rerum Novarum vai criticar tanto o socialismo como o liberalismo. O para<br />

qualifica o pensamento socialista como falso, porque prega a supressão da priorida<strong>de</strong><br />

privada - “que é um direito natural dos homens”. Além disso, Leão XIII consi<strong>de</strong>ra as idéias<br />

socialistas subversivas, “porque gera ódios e extingue nos homens o estímulo ao<br />

trabalho”. Para a Rerun Novarum, “o capital e o trabalho <strong>de</strong>vem viver em colaboração um<br />

com outro, obe<strong>de</strong>cendo aos princípios da carida<strong>de</strong> cristã”. Ela confia a sorte dos<br />

trabalhadores à ação do Estado, que <strong>de</strong>ve estabelecer leis para proteção e promoção do<br />

ser humano. A encíclica propunha a criação dos sindicatos aos mol<strong>de</strong>s das antigas<br />

corporações <strong>de</strong> artesãos e também estimulava a formação <strong>de</strong> associações mutualistas.<br />

Com base nessa doutrina, os militantes católicos atuaram no sindicalismo com<br />

uma concepção reformista, <strong>de</strong> conciliação <strong>de</strong> classes. Eles rejeitaram energicamente as<br />

greves e outras formas <strong>de</strong> confronto. Defen<strong>de</strong>ram o papel assistencialista dos sindicatos.<br />

Para realizar as reformas graduais no capitalismo, afirmam que o terreno propício é a<br />

própria Igreja - já que ela reúne patrões e empregados, “filhos <strong>de</strong> um mesmo Deus”. O<br />

fundamental é a paz social, a harmonia entre as classes, tendo como mediadora a Igreja -<br />

que <strong>de</strong>ssa forma tenta readquirir o seu po<strong>de</strong>r político.<br />

Outra característica fundamental do sindicalismo cristão é o anticomunismo.<br />

Muitos historiadores, inclusive católicos, afirma que a Igreja só passou a se preocupar<br />

com o movimento sindical como forma <strong>de</strong> se contrapor ao aumento da influência das<br />

idéias revolucionárias. “Ela nasceu, sobretudo para enfrentar o avanço do socialismo,<br />

particularmente a revolução social do marxismo”, explica José Cândido Filho, autor do livro<br />

“O movimento operário: o sindicato e o partido”.<br />

Miguel Gonzáles Núniz acredita que uma das causas do fraco <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

corrente cristã é que ela não atuará nos sindicatos como organismos <strong>de</strong> luta por<br />

conquistas materiais, mas para “proteger os trabalhadores católicos contra os perigos<br />

socialistas”. Outra razão, segundo o autor, é que “o sindicalismo cristão aparece<br />

tardiamente (43 anos <strong>de</strong>pois do Manifesto Comunista <strong>de</strong> Marx e Engels), quando as<br />

massas proletárias, <strong>de</strong>siludidas também no plano espiritual (<strong>de</strong>sconfiança da irmanda<strong>de</strong><br />

capitalismo-po<strong>de</strong>r-igreja), haviam abandonado as Igrejas, católicas ou protestantes, ou<br />

melhor, tinham sido abandonadas por estas”. Os estatutos dos Círculos Operários<br />

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São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Católicos no Brasil são bem elucidativos. Um dos primeiros itens <strong>de</strong> seu objetivo era o<br />

“combate ao comunismo”.<br />

A Igreja advoga a separação dos católicos dos que professam confissões e idéias<br />

diferentes, seu temor era o contágio dos fiéis com as novas idéias. Essa tese, que leva à<br />

fragmentação da organização sindical, foi levada à prática em vários países,<br />

principalmente na Europa.<br />

SINDICALISMO SINDICALISMO CRISTÃO CRISTÃO NO NO BRASIL<br />

BRASIL<br />

Des<strong>de</strong> o início da atuação organizada dos católicos no sindicalismo brasileiro,<br />

tendo a frente o car<strong>de</strong>al Sebastião Leme, a Igreja organizou os círculos operários, que<br />

atuavam por fora dos sindicatos existentes. Na Constituinte <strong>de</strong> 1934, os <strong>de</strong>putados<br />

vinculados à Igreja <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram, juntamente com a reação, a implantação do pluralismo<br />

sindical - que inclusive é aprovado.<br />

Em pleno Estado Novo, a hierarquia católica apresenta ao ditador Getúlio Vargas a<br />

proposta <strong>de</strong> transformar os aproximadamente 400 círculos operários católicos existentes<br />

em sindicatos paralelos. E na Constituinte <strong>de</strong> 1945, mais uma vez, os <strong>de</strong>putados eleitos<br />

com o apoio do LEC (Liga Eleitoral Católica), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m, juntamente com os parlamentares<br />

da UDN, a implantação do pluralismo sindical.<br />

Os Círculos Operários, Escolas <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>res Operários e Movimento <strong>de</strong> Orientação<br />

Sindical, foram responsáveis pela formação <strong>de</strong> inúmeras li<strong>de</strong>ranças sindicais em todo o<br />

país. Estas li<strong>de</strong>ranças estiveram ao lado dos conspiradores do golpe militar <strong>de</strong> 64. Vários<br />

materiais foram publicados nesse sentido, <strong>de</strong>ntre eles, um livreto muito difundido “Como<br />

combater os comunistas nos sindicatos”, da Fe<strong>de</strong>ração dos Círculos Operários <strong>de</strong> São<br />

Paulo, escrito por Frei Celso em 1964.<br />

As mudanças que a Igreja vivia a nível internacional tiveram influencia <strong>de</strong>cisiva<br />

nesse quadro. O Concilio Vaticano II já havia apontado o caminho da realização do reino<br />

<strong>de</strong> Deus neste mundo neste mundo, uma direção que seria seguida por enorme parcela<br />

do clero brasileiro que, por sua vez, influiria <strong>de</strong> forma também <strong>de</strong>cisiva na mo<strong>de</strong>rnização<br />

do clero latino-americano e na formulação da Teologia da Libertação.<br />

A Igreja do Nor<strong>de</strong>ste foi pioneira nas criticas radicais contra o regime. Em 1966,<br />

com o apoio da Regional Nor<strong>de</strong>ste II da CNBB, o manifesto “Nor<strong>de</strong>ste, <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sem justiça”, uma forte <strong>de</strong>núncia do regime e da situação da classe trabalhadora. O<br />

documento foi confiscado pela policia e os bispos foram proibidos <strong>de</strong> publicá-lo D. Hel<strong>de</strong>r<br />

Câmara, bispo <strong>de</strong> Recife, foi acusado <strong>de</strong> comunista e ameaçado <strong>de</strong> prisão.<br />

As profundas mudanças promovidas pelo CELAM (Conselho Episcopal Latino<br />

Americano) em Me<strong>de</strong>llín, em 1968 (confirmadas em Puebla, em 1979), que<br />

recomendavam a opção preferencial pelos pobres, fundamentavam a atuação dos<br />

progressistas da Igreja brasileira. Um dos re<strong>sul</strong>tados mais visíveis das mudanças<br />

promovidas em Me<strong>de</strong>llín foram as comunida<strong>de</strong>s eclesiais <strong>de</strong> base – CEBs, que<br />

proliferaram nas gran<strong>de</strong>s e medias cida<strong>de</strong>s brasileiras a partir <strong>de</strong> finais da década <strong>de</strong><br />

1960, como importantes instrumentos <strong>de</strong> organização e mobilização. Calcula-se que no<br />

auge do movimento, no final da década <strong>de</strong> 1970, seu numero chegou a atingir entre 50 a<br />

100 mil CEBs, em todo o país, envolvendo mais <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong> filiados.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Quando o movimento operário brasileiro atingiu novo patamar, na onda <strong>de</strong> greves<br />

iniciada em 1978 os militantes católicos tiveram papel <strong>de</strong>stacado na reorganização do<br />

movimento sindical, no afastamento das diretorias pelegas dos sindicatos e,<br />

principalmente, na articulação do Partido dos Trabalhadores. O assassinato <strong>de</strong> Santo Dias<br />

da Silva, no ano seguinte, levou a uma maior intensificação das manifestações, ele que<br />

era dirigente da Pastoral Operaria e muito próximo <strong>de</strong> D. Paulo Evaristo Arns, tornou-se um<br />

dos mártires da luta operaria.<br />

A aproximação entre militantes da oposição sindical, <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> base, e<br />

li<strong>de</strong>ranças católicas, acelerou-se com as greves. Um importante encontro <strong>de</strong> li<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

pastorais operarias, <strong>de</strong> movimentos populares, <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s eclesiais <strong>de</strong> base,<br />

oposições sindicais, e ativistas ligados às novas diretorias sindicais “autenticas” ocorreu<br />

em João Monleva<strong>de</strong>, Minas Gerais, em fevereiro <strong>de</strong> 1980, on<strong>de</strong> foram estabelecidos<br />

“alguns princípios básicos ligados à luta pela <strong>de</strong>mocratização da estrutura sindical”.<br />

Em junho <strong>de</strong> 1982, essas forças politicas formaram a ANAMPOS (oficialmente, IV<br />

Encontro Nacional da Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais), em<br />

Goiânia. Em 1983, esse movimento culminou na fundação da Central Única dos<br />

Trabalhadores – CUT, com o apoio da imensa maioria dos militantes católicos e, militantes<br />

<strong>de</strong> outras concepções e correntes políticas.<br />

QUADRO QUADRO-SÍNTESE<br />

QUADRO QUADRO SÍNTESE SÍNTESE<br />

POSIÇÕES POSIÇÕES<br />

MEIOS MEIOS PROPOSTOS PROPOSTOS<br />

OBJETIVOS<br />

OBJETIVOS<br />

1. CRISTÃOS<br />

CRISTÃOS<br />

(católicos)<br />

(católicos)<br />

2. 2. AMARELOS AMARELOS<br />

AMARELOS<br />

3. 3. COMUNISTAS<br />

COMUNISTAS<br />

• Sem violência.<br />

• Colaboração entre as<br />

classes.<br />

• Luta contra as injustiças.<br />

• Colaboração <strong>de</strong> classes.<br />

• Sindicatos e organizações<br />

comuns (entre patrões e<br />

operários).<br />

• Sindicatos<br />

assistencialistas.<br />

• O Partido é o principal<br />

instrumento <strong>de</strong> luta.<br />

• Combinação <strong>de</strong> ação legal<br />

e clan<strong>de</strong>stina.<br />

• Participação parlamentar.<br />

• Greve.<br />

• Insurreição.<br />

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• Desenvolver a função social<br />

do capitalismo, em vista <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> fraterna e<br />

justa.<br />

• Evitar o agravamento dos<br />

conflitos sociais.<br />

• Continuida<strong>de</strong> do capitalismo.<br />

• Negação da existência da<br />

luta <strong>de</strong> classes.<br />

• Socieda<strong>de</strong> harmoniosa.<br />

• Destruição do capitalismo.<br />

• Revolução proletária.<br />

• Ditadura do Proletariado.<br />

• Socialismo e Comunismo.<br />

• Internacionalismo proletário.


4. 4. ANARQUISTAS<br />

ANARQUISTAS<br />

Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

• O Sindicato é o principal<br />

instrumento <strong>de</strong> luta.<br />

• Ação direta contra o Estado<br />

e os patrões.<br />

• Antiparlamentarismo.<br />

• Antipartidarismo.<br />

• Estrutura Sindical<br />

fe<strong>de</strong>rativa.<br />

• Greve geral insurrecional.<br />

• Contra a liberação <strong>de</strong><br />

dirigentes sindicais.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

- 75 -<br />

• Destruição do<br />

capitalismo,<br />

• Revolução proletária.<br />

• Socieda<strong>de</strong> sem classes,<br />

sem Estado.<br />

• Auto-gestão.<br />

• Internacionalismo<br />

proletário.<br />

• ANTUNES, Ricardo L.C. – Jornal dos Trabalhadores Sem Terra, Ano XXIV – numero<br />

252 – maio <strong>de</strong> 2006.<br />

• ANTUNES, Ricardo L.C. - Novo Sindicalismo, Editora Brasil Urgente - 1991.<br />

• ANTUNES, Ricardo L.C. - O que é Sindicalismo, Coleção Primeiros Passos - Abril<br />

Cultural. 1985.<br />

• CEPS, Apostila <strong>de</strong> Concepção, Estrutura e Política Sindical, Secretaria Nacional <strong>de</strong><br />

Formação da CUT, 1987.<br />

• GIANNOTTI Antônio e NETO Sebastião - CUT Ontem e Hoje, Editora Vozes - 1991.<br />

• RUI, José Carlos – A presença dos anarquistas nos sindicatos, Revista Debate<br />

Sindical, nº. 02 – junho/julho/agosto – 1986.<br />

• RUI, José Carlos – Comunistas I, Revista Debate Sindical, nº. 06 – out/nov/<strong>de</strong>z –<br />

1989.<br />

• RUI, José Carlos – Comunistas II, Revista Debate Sindical, nº. 07 – março – 1990.<br />

• RUI, José Carlos – Pelegos, Revista Debate Sindical, nº. 03 – junho/julho/agosto –<br />

1987.<br />

• RUI, José Carlos – Sindicalismo Cristão II, Revista Debate Sindical, nº 11 –<br />

fevereiro/março/abril – 1992.


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

A A HISTORIA HISTORIA DAS DAS NOSSAS NOSSAS RAÍZES: ITINERÁRIO ITINERÁRIO DAS LUTAS DOS<br />

TRABALHADORES TRABALHADORES (AS) (AS) RURAIS RURAIS NO NO BRASIL BRASIL E E O O SURGIMENTO SURGIMENTO DO DO SINDICALISMO SINDICALISMO RURAL<br />

RURAL<br />

Maria do Socorro Silva24 "Da <strong>de</strong>sparecença dos tempos aprendo as tranças e tramas das novas lições."<br />

Gonzaguinha<br />

PARA PARA INICIO INICIO INICIO DE DE CONVERSA<br />

CONVERSA<br />

Nos colocamos, nesse momento, diante do <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> trazer ao <strong>de</strong>bate<br />

questões que se inserem nas reflexões em torno do enraizamento histórico do<br />

sindicalismo rural no Brasil, ou seja, o processo no qual é gestado a dinâmica do<br />

movimento sindical dos trabalhadores(as) rurais (MSTTR), que se traduz, concretamente,<br />

num amplo imbricamento <strong>de</strong> ações. Porém, consi<strong>de</strong>rando os limites a que nos propomos<br />

discutir o assunto em pauta, nesse texto, restringeremos nossa análise a elencar alguns<br />

movimentos ou lutas que contribuíram para esse processo, como se constituiu a estrutura<br />

sindical oficial no Brasil.<br />

Os movimentos sociais do campo vem se constituindo ao longo da nossa<br />

história, como sujeitos coletivos, on<strong>de</strong> constroem uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e organizam práticas<br />

que visam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r direitos, interesses e projetos. Esse processo se dá através <strong>de</strong> lutas<br />

<strong>de</strong> resistências, <strong>de</strong> organização, mobilização que se constroem nos locais <strong>de</strong> trabalho, na<br />

roça e na comunida<strong>de</strong>. É na teia <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong>ssas lutas que se forjam as condições<br />

para a tomada <strong>de</strong> consciência do que significa ser trabalhador(a) rural.<br />

Des<strong>de</strong> a chegada dos colonizadores portugueses que tivemos, em nosso país<br />

conflitos e rebeliões populares formados por complexa composição étnica, social e<br />

i<strong>de</strong>ológica – índios, caboclos, camponeses, escravos, alfaiates, barqueiros, religiosos,<br />

seleiros, etc - com proporções e alcances distintos, ora manifestando-se como amplos<br />

movimentos <strong>de</strong> massa construindo novas formas <strong>de</strong> organização social, política e<br />

econômica, ora manifestando-se como ações específicas e localizadas ou movimentos<br />

messiânicos, <strong>de</strong> confronto com a opressão, a miséria, a <strong>de</strong>pendência, a ausência <strong>de</strong><br />

direitos, a luta pela posse da terra e por melhores condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho nas<br />

socieda<strong>de</strong>s Colonial, Monárquica 25 e Republicana 26<br />

A proclamação da República (1889), juntamente com a Abolição da<br />

escravidão (1888), marcam um dos momentos <strong>de</strong> maior transformação social já vivido<br />

pelo país. A chamada Primeira República, que se segue, é o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamento da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social e política do trabalhador brasileiro. Evi<strong>de</strong>ntemente, havia anteriormente<br />

trabalhadores, mas não uma classe trabalhadora. Até então, quem trabalhara no Brasil<br />

foram os escravos e a socieda<strong>de</strong> imperial escravista <strong>de</strong>smerecera inteiramente o ato <strong>de</strong><br />

24 Pedagoga e Psicóloga. Professora da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da UnB/UFCG. Doutoranda em Educação da<br />

UFPE.<br />

25 No período Imperial tivemos apenas o nascimento das primeiras organizações operárias. No começo do século<br />

XIX já existiam algumas associações <strong>de</strong> artesãos, mas organizadas sob a forma <strong>de</strong> irmanda<strong>de</strong>s religiosas. As<br />

primeiras organizações operárias, sem um caráter essencialmente religioso, foram associações voltadas para a<br />

ajuda mútua em situações <strong>de</strong> doença, aci<strong>de</strong>ntes no trabalho, invali<strong>de</strong>z, etc..<br />

26 A primeira constituição republicana foi a <strong>de</strong> 1891 - assegura o direito à associação e a reunião <strong>de</strong>ixando em<br />

aberto qual seria o tipo <strong>de</strong> organização, surgiram então às primeiras organizações <strong>de</strong> socorros mútuos, caixas<br />

beneficentes, socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resistência, bolsa <strong>de</strong> trabalho.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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trabalhar.<br />

Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

No século XIX, começamos a ter uma nova configuração, primeiro com a<br />

chegada dos primeiros colonos europeus não-portugueses, para o cultivo do café, a partir<br />

<strong>de</strong> 1819, suíços, alemães, italianos, todos agricultores pobres atraídos para o Brasil por<br />

promessas <strong>de</strong> terra, que passaram a ocupar áreas ainda não utilizadas, nas regiões Sul e<br />

Su<strong>de</strong>ste, principalmente sobre a forma <strong>de</strong> parceria ou colonato, com isso tivemos uma<br />

intensificação dos conflitos por terra e pela libertação dos escravos.<br />

Juntamente com o processo <strong>de</strong> luta contra a escravidão vamos ter a<br />

afirmação das leis <strong>de</strong> locação <strong>de</strong> serviços que visam regular o trabalho assalariado, (1830,<br />

1837), os trabalhadores não po<strong>de</strong>riam romper seus contratos a não ser que pagassem ao<br />

patrão quantia correspon<strong>de</strong>nte e se não o fizessem estariam sujeitos à prisão com<br />

trabalhos forçados até pagar suas dívidas.<br />

Em 1850, o império restringiu o direito <strong>de</strong> posse da terra por meio da Lei <strong>de</strong><br />

Terras. Essa Lei significou o casamento do capital com a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terra, pois a<br />

partir <strong>de</strong>sse momento a terra foi transformada em uma mercadoria a qual somente quem<br />

já dispunha <strong>de</strong>la e <strong>de</strong> capital pu<strong>de</strong>sse ser proprietários, isso impedia que os ex-escravos,<br />

brasileiros pobres, os posseiros e os imigrantes pu<strong>de</strong>ssem se tornar proprietários, mas sim<br />

constituísse a mão <strong>de</strong> obra assalariada necessária nos latifúndios, segundo José <strong>de</strong> Souza<br />

Martins, professor da USP: “Enquanto o trabalho era escravo, a terra era livre. Quando o<br />

trabalho ficou livre, a terra ficou escrava”.<br />

Nesse mesmo período, milhares <strong>de</strong> nor<strong>de</strong>stinos, fugindo da seca e da crise<br />

econômica dos engenhos <strong>de</strong> açúcar, foram para o norte, trabalhar na extração dos<br />

produtos da floresta, principalmente a borracha e a castanha, que tiveram um gran<strong>de</strong><br />

peso na formação da atual população <strong>de</strong> agricultores familiares amazônicos.<br />

O resgate do itinerário <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ssas lutas que são raízes da<br />

organização do campo brasileiro, e do surgimento, do sindicalismo rural brasileiro, po<strong>de</strong>m<br />

sinalizar para <strong>de</strong>scobertas importantes na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mais justa, e no<br />

fortalecimento das organizações no momento atual.<br />

SINDICALISMO SINDICALISMO SINDICALISMO RURAL<br />

RURAL<br />

PRIMEIRO PRIMEIRO MOMENTO: MOMENTO: DAS DAS LUTAS LUTAS PELA PELA LIBERDADE LIBERDADE AO AO SURGIMENTO SURGIMENTO DO<br />

DO<br />

“O movimento para a liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve surgir e partir dos<br />

próprios oprimidos, e a pedagogia <strong>de</strong>corrente será aquela que tem que ser<br />

forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta<br />

incessante <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> sua humanida<strong>de</strong>". vê-se que não é suficiente<br />

que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas, que se<br />

disponha a transformar essa realida<strong>de</strong>; trata-se <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong><br />

conscientização e politização.”<br />

Paulo Freire<br />

1.Lutas 1.Lutas e e mobilizações mobilizações pela pela liberda<strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong><br />

A luta dos trabalhadores (as) rurais brasileiros pela posse da terra, visando<br />

garantir melhores condições <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> vida fazem parte da história do povo<br />

brasileiro: lutas <strong>de</strong> tribos indígenas, movimentos <strong>de</strong> escravos, revoltas como da<br />

Cabanagem e Balaiada, litígios e reações <strong>de</strong> parcela das populações pobres foram uma<br />

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constante ao longo da nossa história.<br />

Durante todos esses períodos tivemos ações populares <strong>de</strong> intervenção na<br />

or<strong>de</strong>m social, práticas reprimidas <strong>de</strong> participação social e política do povo que colocaram<br />

em ebulição os direitos políticos e sociais, antes que a cidadania e a socieda<strong>de</strong> civil se<br />

estabelecessem entre nós, e que tiveram nos camponeses (as) sujeitos protagonistas <strong>de</strong><br />

várias <strong>de</strong>ssas lutas e mobilizações.<br />

a) a) Quilombos<br />

Quilombos<br />

Nos quilombos refugiavam não só escravos foragidos, como também índios e<br />

pobres livres. Um dos mais importantes quilombos <strong>de</strong> nossa história foi Palmares foi<br />

construído no fim do século XVI e resistiu até o fim do século XVIII, chegou a reunir mais <strong>de</strong><br />

20 mil habitantes, localizava-se na Serra da Barriga entre Pernambuco e Alagoas, e era<br />

governando por um rei (sendo o mais conhecido Zumbi) e um conselho formado por chefes<br />

dos quilombos. O sistema <strong>de</strong> vida e produção organizado em Palmares po<strong>de</strong> resistir a<br />

economia patriarcal e escravocrata, com uma cultura e economia baseada na policultura,<br />

na organização coletiva da produção e na resistência e combate a escravidão.<br />

Durante sua existência foram feitas varias tentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir Palmares.<br />

Por fim, o governo <strong>de</strong> Pernambuco solicitou a ajuda do ban<strong>de</strong>irante paulista Domingos<br />

Jorge Velho, que preparou uma expedição para <strong>de</strong>rrotar os fugitivos. Também ele falhou<br />

nas primeiras tentativas, mas não <strong>de</strong>sistiu. Organizou um exército realmente po<strong>de</strong>roso e<br />

voltou ao ataque. Mesmo assim, a resistência dos quilombolas foi tão gran<strong>de</strong>, tão valente,<br />

que a luta durou perto <strong>de</strong> três anos.<br />

Os negros tinham uma <strong>de</strong>svantagem: estavam cercados. Enquanto os<br />

atacantes podiam conseguir reforços e munições <strong>de</strong> fora, principalmente contando com o<br />

interesse do governo, os quilombolas encontravam-se sozinhos e apenas podiam contar<br />

com o que possuíam. É claro que, um dia, a munição dos sitiados tinha <strong>de</strong> se esgotar.<br />

Quando isto se <strong>de</strong>u, muitos negros fugiram para o sertão. Outros se suicidaram ou<br />

ren<strong>de</strong>ram-se aos atacantes.<br />

b) b) b) Missões<br />

Missões<br />

A luta dos indígenas ao longo da nossa história apresenta raízes <strong>de</strong> uma<br />

organização camponesa, principalmente por meio das missões, os exemplos mais<br />

conhecidos são: a Confe<strong>de</strong>rações dos Tamoios, Guerra dos Guaranis e a Guerra dos<br />

Bárbaros.<br />

A A Confe<strong>de</strong>ração Confe<strong>de</strong>ração dos dos Tamoios<br />

Tamoios<br />

Em 1562, aliaram-se aos franceses tomaram a Baía <strong>de</strong> Guanabara. Não fora<br />

difícil aos franceses conquistar os tamoios, homens altivos, que há tempos lutavam contra<br />

portugueses, que pretendiam escravizá-los. A paz foi conseguida pelos padres José <strong>de</strong><br />

Anchieta e Manuel da Nóbrega.<br />

Guerra Guerra dos dos Guaranis<br />

Guaranis<br />

Em 1750, o Tratado <strong>de</strong> Madrid <strong>de</strong>terminou novos limites entre os impérios<br />

coloniais <strong>de</strong> Portugal e Espanha. Na área do estuário do Prata, pelo novo acordo, a<br />

Espanha trocava os Sete Povos das Missões, na margem esquerda do rio Uruguai, pela<br />

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Colônia do Sacramento, dos portugueses. Os governos <strong>de</strong> Madrid e Lisboa tomaram<br />

<strong>de</strong>cisões sem levar em conta os interesses dos jesuítas e guaranis. Em 1752, enviaram<br />

comissões para tornar efetivas as mudanças previstas no Tratado.<br />

Os Guaranis se revoltaram e se organizaram para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r suas terras. Mas<br />

os portugueses e espanhóis se uniram contra os rebel<strong>de</strong>s. Em 1754, começou a Guerra<br />

Guaranítica, que durou dois anos. Melhor equipado, o exército europeu massacrou os<br />

guerreiros guaranis, li<strong>de</strong>rados por Nicolau Ñeenguiru e Sepé Tiaraju. Obrigados a sair,<br />

alguns sobreviventes foram para as reduções da margem direita do Uruguai.<br />

A guerra não resolveu as questões <strong>de</strong> limites, pois, além dos índios, os<br />

portugueses da Colônia do Sacramento também não estavam satisfeitos com a troca <strong>de</strong><br />

terras. Portugal e Espanha voltaram atrás, anulando o Tratado <strong>de</strong> Madrid em 1761. Com<br />

isso, os Guaranis continuaram a ocupar a área dos Sete Povos. Mas já não existia o<br />

entusiasmo <strong>de</strong> antes e as mesmas condições <strong>de</strong> resistência e luta.<br />

Guerra Guerra dos dos Bárbaros<br />

Bárbaros<br />

Essa guerra durou vinte anos, a partir <strong>de</strong> 1682, e foi empreendida pelos<br />

cariris. O cenário <strong>de</strong>ssa guerra foi uma extensa área do Nor<strong>de</strong>ste, particularmente nos<br />

vales do Rio Açu (atual Piranhas) e Jaguaribe. Todavia, estes bravios guerreiros, apesar<br />

das <strong>de</strong>golas, dos aprisionamentos, cativeiros e reduções em al<strong>de</strong>amentos jesuíticos que<br />

sofreram ao longo <strong>de</strong>ssa história que lhes fora imposta, resistiram por cerca <strong>de</strong> mais vinte<br />

anos sempre lutando como podiam pela posse <strong>de</strong> suas terras e na tentativa <strong>de</strong> vencer as<br />

injustas estratégias da dominação colonial.<br />

2. 2. Lutas Lutas mmessiânicas<br />

m essiânicas – 1888 e a a década <strong>de</strong> 1930<br />

As lutas messiânicas se caracterizam pela existência <strong>de</strong> uma<br />

li<strong>de</strong>rança messiânica. Isso significa que a fé era a ligação entre ele e seus seguidores. Ë<br />

por isso que alguns autores chamam as revoltas camponesas do período <strong>de</strong> lutas<br />

messiânicas. Dentre essas po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar:<br />

a) a) Canudos Canudos a a terra terra prometida prometida<br />

prometida<br />

Os/as trabalhadores rurais e escravos peregrinavam pelo sertão, atrás do<br />

beato Antônio Conselheiro, até se estabelecerem no Arraial do Canudos. Criou-se um<br />

povoado em que o trabalho cooperado foi essencial para a preservação da comunida<strong>de</strong>.<br />

Todos tinham direito a terra e <strong>de</strong>senvolviam a agricultura para auto-consumo, envolvendo<br />

todos os membros da família. Na comunida<strong>de</strong> havia um fundo comum <strong>de</strong>stinado a<br />

proteção dos velhos e aos doentes. Chegou a ter cerca <strong>de</strong> 10 mil habitantes. Entre outubro<br />

<strong>de</strong> 1896 e outubro <strong>de</strong> 1897, mais <strong>de</strong> 5 mil soldados do exercito e armamentos pesados<br />

<strong>de</strong> guerra foram envolvidos no ataque ao arraial.<br />

b) b) Guerra Guerra do do Contestado Contestado<br />

Contestado<br />

Em 1912, o governo conce<strong>de</strong>u uma enorme extensão <strong>de</strong> terras à empresa<br />

norte-americana Brasil Railway Company, no trecho previsto para a construção da ferrovia<br />

São Paulo-Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Ao final da construção da ferrovia, cerca <strong>de</strong> 8 mil<br />

trabalhadores ficaram <strong>de</strong>sempregados e passaram a perambular pela região a procura <strong>de</strong><br />

trabalho. Nesse momento surgiu na região <strong>de</strong> Campos Novos e Curitibanos, em Santa<br />

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Catarina, um movimento camponês <strong>de</strong> caráter político-religioso, li<strong>de</strong>rado pelo monge José<br />

Maria. Inicialmente ficaram numa área <strong>de</strong> disputa entre Paraná e Santa Catarina, por isso<br />

chamado <strong>de</strong> Contestado, que chegou a cerca <strong>de</strong> 20 mil pessoas. Em 1915, os li<strong>de</strong>res<br />

lançaram um manifesto monarquista e <strong>de</strong>clararam a “guerra santa” contra os coronéis, as<br />

companhias <strong>de</strong> terras e as autorida<strong>de</strong>s governamentais. O arraial foi dizimado quando o<br />

governo enviou cerca <strong>de</strong> 07 mil soldados do exercito, até mesmo aviões foram utilizados<br />

pra localizar os redutos rebel<strong>de</strong>s.<br />

c) c) Guerra Guerra do do Cal<strong>de</strong>irão<br />

Cal<strong>de</strong>irão<br />

Uma luta <strong>de</strong> resistência camponesa, contra os latifundiários, que aconteceu<br />

no Ceará, na Chapada do Araripe, no período <strong>de</strong> 1926-1937, quando foram assassinadas<br />

mais <strong>de</strong> 400 pessoas. O nome Cal<strong>de</strong>irão refere-se a uma <strong>de</strong>pressão no relevo, on<strong>de</strong> se<br />

encontrava água cristalina durante todo o ano. A área pertencia ao padre Cícero - famoso<br />

religioso e político da época - que a entregou ao beato Zé Lourenço e seus seguidores para<br />

trabalharem na terra. O Cal<strong>de</strong>irão ficou auto-suficiente. Sua fama crescia e já influenciava<br />

outras cida<strong>de</strong>s, porque tinham uma produção diversificada: agricultura, artesanato,<br />

confecção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s, roupas, calçados, etc. Todas as ferramentas necessárias para o<br />

trabalho eram feitas na própria comunida<strong>de</strong>. Os produtos exce<strong>de</strong>ntes eram vendidos em<br />

Juazeiro e no Crato. Ninguém se consi<strong>de</strong>rava dono <strong>de</strong> alguma coisa. Todavia, a gran<strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> camponeses naquelas terras chamou a atenção dos fazen<strong>de</strong>iros, que,<br />

temendo o aumento da organização dos trabalhadores e uma possível ocupação <strong>de</strong> suas<br />

terras, iniciaram uma guerra contra os camponeses para <strong>de</strong>struir Cal<strong>de</strong>irão. A força militar<br />

chega ao sítio e os moradores resistem à <strong>de</strong>struição, casas são incendiadas e pessoas<br />

mortas, mais não conseguem vencer a comunida<strong>de</strong>. Dias <strong>de</strong>pois, retornam usando <strong>de</strong>ssa<br />

vez aviões, acontece o segundo bombar<strong>de</strong>io aéreo sobre civis na história do Brasil. (o<br />

primeiro foi em 1912, Contestado), <strong>de</strong>struindo assim o povoado.<br />

3. As As lutas lutas lutas pré pré-sindicalistas<br />

pré sindicalistas<br />

sindicalistas<br />

a) a) As As colônias colônias anarquistas<br />

anarquistas<br />

A chegada dos imigrantes para trabalhar nas lavouras do café dos gran<strong>de</strong>s<br />

fazen<strong>de</strong>iros vai trazer mudanças no perfil do campesinato brasileiro. Além <strong>de</strong> ser<br />

explorado com baixa remuneração (a família toda precisava trabalhar para a subsistência),<br />

o colono ainda sofria a especulação do fazen<strong>de</strong>iro, pois era obrigado a comprar o que<br />

precisava pelo dobro do preço, nos seus armazéns, <strong>de</strong>sta forma estava sempre <strong>de</strong>vendo<br />

ao fazen<strong>de</strong>iro. Recebiam um preço <strong>de</strong> terra on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvia uma cultura <strong>de</strong> autoconsumo,<br />

no entanto, ao chegar à época da colheita, muitos eram expulsos, sofrendo as<br />

mais variadas injustiças e perseguições. A exploração imposta faz com que se organizem<br />

ainda que <strong>de</strong> forma clan<strong>de</strong>stina (já que o Ato Adicional <strong>de</strong> 1834 proibia toda e qualquer<br />

associação <strong>de</strong> ofício): surgem as primeiras associações <strong>de</strong> socorro mútuo, os mutirões, e a<br />

organização <strong>de</strong> núcleos e colônias que serão pre<strong>curso</strong>res do sindicalismo brasileiro.<br />

A formação <strong>de</strong> núcleos ou colônias, tais como a Colônia Cecília, Colônia<br />

Leopoldina, Colônia Nova Itália, organizadas sem proprieda<strong>de</strong> individual, sem lei e sem<br />

religião, e on<strong>de</strong> começaram a funcionar as “Escolas Internacionalistas”, que <strong>de</strong>pois se<br />

espalharam por outras áreas <strong>de</strong> imigração do <strong>sul</strong> do Brasil.<br />

Além disso, os anarquistas começaram a se organizar nos sindicatos, cuja<br />

ação <strong>de</strong>veria ser voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento da consciência da classe, com repudio a<br />

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idéia <strong>de</strong> organizar os trabalhadores em partido político, recusa intransigente ao<br />

assistencialismo e mobilização permanente dos trabalhadores para ação direta contra os<br />

patrões. Para os libertários a educação ocuparia um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, pois era<br />

consi<strong>de</strong>rado um veículo <strong>de</strong> conscientização e transformação das socieda<strong>de</strong>s, sendo<br />

responsável pela formação <strong>de</strong> novas mentalida<strong>de</strong>s e i<strong>de</strong>ais revolucionários. Articulavam a<br />

educação entre si, em três dimensões: a educação político-sindical 27 , a educação escolar<br />

e as práticas culturais <strong>de</strong> massa.<br />

Em 1907, é aprovada a Lei Adolfo Gordo para expulsar li<strong>de</strong>ranças sindicais<br />

estrangeiras (1907/1913- governo Hermes da Fonseca). Esse processo vai ser<br />

intensificado em 1917, quando a nível internacional, ocorria a Primeira Guerra Mundial, e<br />

os anarquistas e socialistas faziam intensa propaganda anti-militarista, além disso, a<br />

situação econômica para os trabalhadores (as) estava insuportável: carestia, <strong>de</strong>semprego,<br />

recessão, reinava fome e miséria, culminando com a Greve Geral, sendo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada<br />

um processo <strong>de</strong> repressão e o uso intensivo da Lei Adolfo Gordo.<br />

b) b) Posseiros Posseiros da da Rodovia Rodovia Rio Rio-Bahia Rio Bahia Bahia. Bahia<br />

A valorização das terras da Região <strong>de</strong> Governador Valadores - MG <strong>de</strong>vido à<br />

perspectiva da construção da rodovia Rio - Bahia em 1940, ali viviam muitos posseiros,<br />

sem perda <strong>de</strong> tempo, os supostos donos das terras começaram a aparecer <strong>de</strong> todos os<br />

lados e impuseram aos posseiros a condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar a mata para formação <strong>de</strong> pasto,<br />

eles só podiam plantar para subsistência. A partir <strong>de</strong> 1955 com a construção das rodovias,<br />

começou o processo <strong>de</strong> expulsão dos posseiros. Eles começaram então a juntar os<br />

posseiros para formar uma associação (visto que os sindicatos rurais ainda não eram<br />

reconhecidos), essa organização foi até a década <strong>de</strong> 1964, quando foram presos e<br />

torturados pela ditadura militar.<br />

c) c) Trombas Trombas e e e Formoso<br />

Formoso<br />

Em 1948, a construção da Transbrasiliana e o projeto <strong>de</strong> colonização dos<br />

governo fe<strong>de</strong>ral valorizaram as terras da região <strong>de</strong> Uruaçu, no norte <strong>de</strong> Goiás.<br />

Trabalhadores provenientes do Maranhão e Piauí chegaram ao local li<strong>de</strong>rado por Jose<br />

Porfírio e estabeleceram posses numa área <strong>de</strong> terra <strong>de</strong>voluta, que estavam sendo griladas,<br />

por um grupo <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros, um juiz e um dono <strong>de</strong> cartório da região. Eles queriam que os<br />

posseiros saíssem das terras, e eles pagariam as benfeitorias feitas, a recusa foi geral.<br />

Então os grileiros queimaram as roças e as casas dos camponeses, inclusive acarretando<br />

a morte da mulher <strong>de</strong> José Porfírio. No final da década <strong>de</strong> 1950, com a contribuição do<br />

PCB, toda a região estava organizada na Associação dos Lavradores <strong>de</strong> Trombas e<br />

Formoso, a organização foi se afirmando, até a região se tornar um município e Jose<br />

Porfírio foi eleito <strong>de</strong>putado estadual em 1962. Os posseiros ganharam muita força na<br />

região e formaram vários sindicatos, o que foi <strong>de</strong>smentalado em 1964, com o golpe<br />

militar. Depois <strong>de</strong> viver na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, José Porfírio, foi preso em 1972, foi solto no<br />

ano seguinte e <strong>de</strong>sapareceu.<br />

27 Des<strong>de</strong> esse período a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação sindical já se fazia presente entre as organizações, já<br />

colocavam a educação em suas diferentes dimensões sinalizando para o que chamamos hoje <strong>de</strong> formação<br />

programada (<strong>curso</strong>s, seminários, oficinas, etc), e a formação na ação que ocorre no cotidiano da organização, nas<br />

comunida<strong>de</strong>s, no trabalho, mobilizações, intercâmbios, pesquisas, sistematização coletiva <strong>de</strong> experiências.<br />

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(BOC)<br />

(BOC)<br />

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c) c) Influência Influência do do Partido Partido comunista comunista formação formação formação do do Bloco Bloco Operário Operário e e e Camponês<br />

Camponês<br />

A mudança <strong>de</strong> ênfase no PCB sobre a realida<strong>de</strong> brasileira, que i<strong>de</strong>ntifica a<br />

realida<strong>de</strong> brasileira como sendo <strong>de</strong> um capitalismo agrário semi-feudal, leva o partido a<br />

formar o Bloco Operário e Camponês (BOC) em 1927, incorporar a luta contra a política da<br />

oligarquia, buscar aliança com a Coluna Prestes e atuar na área rural brasileira.<br />

A análise da socieda<strong>de</strong> como sendo um país semi-feudal, on<strong>de</strong> a revolução<br />

seria feita por etapas: a primeira, <strong>de</strong> caráter nacional e <strong>de</strong>mocrático, seria anti-imperialista<br />

e anti-feudal, para isso teria que fazer alianças entre o operariado e o campesinato; a<br />

segunda, <strong>de</strong> caráter socialista. Essa tese se fundamenta na revolução leninista, pois para<br />

Lênin, a etapa primeira representada pela revolução <strong>de</strong>mocrático-burguesa é constituída<br />

pelo <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo. Embora esse processo revolucionário <strong>de</strong>va estar sob<br />

a direção política do proletariado, suas tarefas consistem em <strong>de</strong>senvolver as forças<br />

produtivas capitalistas (mo<strong>de</strong>rnas), a fim <strong>de</strong> que possam ser eliminadas as antigas formas<br />

<strong>de</strong> produção ainda existentes nessas socieda<strong>de</strong>s atrasadas. Por isso, a estratégia<br />

fundamental no operariado não po<strong>de</strong> basear-se na luta contra o capital, mas sim numa<br />

aliança com o campesinato para enfrentar o feudalismo. É esse caráter <strong>de</strong>mocráticoburguês<br />

que a proposta do BOC confere, a partir <strong>de</strong> 1928, à luta <strong>de</strong> classes.<br />

As divergências com relação a essa aliança, os re<strong>sul</strong>tados da revolução <strong>de</strong><br />

1930 e as <strong>de</strong>finições do comunismo internacional levaram a uma re-orientação para a<br />

“obreirizaçao”, que consistia em substituir os intelectuais por operários nos cargos e<br />

instâncias partidárias e o fim do BOC.<br />

Na verda<strong>de</strong> essa aliança acabou tendo uma dimensão mais eleitoral <strong>de</strong><br />

assegurar candidaturas que assegurassem a <strong>de</strong>fesa dos interesses proletários, daí a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar sua ação e se aproximar <strong>de</strong> outras organizações progressistas.<br />

Daí os acenos a setores da pequena burguesia como forma <strong>de</strong> romper o bloqueio à ação<br />

política que lhe era imposto não só pelas classes dominantes como também pela sua<br />

própria fraqueza interna. Com isso enten<strong>de</strong>mos porque o BOC vai centrar sua ação nas<br />

questões sociais, sem questionar o sistema social vigente, pleiteando, reformas<br />

mo<strong>de</strong>rnizadoras.<br />

Essa aliança retoma na ação do partido na década <strong>de</strong> 1960 com a<br />

participação na organização das Ligas Camponesas e dos sindicatos rurais.<br />

SEGUNDO SEGUNDO MOMENTO: MOMENTO: A A IMPLANTAÇÃO IMPLANTAÇÃO DA DA ESTRUTURA ESTRUTURA SINDICAL SINDICAL NO NO BRASIL BRASIL NO<br />

NO<br />

CONTEXTO CONTEXTO DO DO ESTADO ESTADO NOVO NOVO<br />

NOVO<br />

“Ninguém tem liberda<strong>de</strong> para ser livre, pelo contrário, luta por ela<br />

precisamente porque não a tem”<br />

(Freire, 1978).<br />

O fim da primeira guerra mundial (1914-1918), a revolução russa (1917), a<br />

quebra da bolsa <strong>de</strong> Nova York (1929), a crise do café, o movimento tenentista e a coluna<br />

Prestes marcou uma gran<strong>de</strong> seqüência <strong>de</strong> manifestações <strong>de</strong> operários, artistas, militares,<br />

camponeses que começaram a reinvidicar a suspensão do pagamento da dívida externa, a<br />

reforma agrária, a elaboração <strong>de</strong> uma legislação protegendo os trabalhadores rurais e<br />

colonização em terras <strong>de</strong>volutas com base em pequenas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

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A revolução <strong>de</strong> 1930, inaugura as condições que permitiriam no <strong>de</strong>correr dos<br />

anos seguintes, a mo<strong>de</strong>rnização conservadora e a construção do Estado Mo<strong>de</strong>rno, criador<br />

<strong>de</strong> classes sociais mo<strong>de</strong>rnas (burguesia industrial e proletariado), e o fortalecimento <strong>de</strong><br />

uma classe média urbana, que insatisfeita com o domínio imposto pelas oligarquias<br />

agrárias. Li<strong>de</strong>radas pelo seu segmento mais radical, os “tenentes”, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam um<br />

ciclo <strong>de</strong> movimentos armados, cujo início é a revolta do Forte <strong>de</strong> Copacabana (1922),<br />

suce<strong>de</strong>ndo-lhe a chamada Revolução <strong>de</strong> São Paulo, que culmina com a formação da<br />

Coluna Prestes (1924-1927).<br />

As oligarquias agrárias, ligadas á lavoura <strong>de</strong> exportação, entram enquanto<br />

classe, num persistente processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência econômica, embora o sistema político<br />

continue fortemente influenciado por ela, que mostrou uma capacida<strong>de</strong> insuspeita <strong>de</strong> se<br />

manter no controle do po<strong>de</strong>r político ate 1964. É importante notar que a oligarquia agrária<br />

foi capaz <strong>de</strong> diversificar seus negócios expandindo-se em ativida<strong>de</strong>s urbanas, e aproveitarse<br />

do capital industrial, através <strong>de</strong> associações, sem per<strong>de</strong>r sem abrir mão do<br />

autoritarismo e conservadorismo, e sua vinculação com o rural, o que lhes garantia e<br />

fortalecia seus currais eleitorais.<br />

Os industriais que querem controlar o po<strong>de</strong>r, o Estado, não tem força para<br />

fazê-lo sozinhos; apelam, então, para uma aliança com a classe operária e a chamada<br />

“classe média”, tendo Getúlio Vargas com seu representante, constituindo a aliança entre<br />

<strong>de</strong>siguais – populismo brasileiro- para permitir a consolidação do po<strong>de</strong>r dos industriais<br />

contra o po<strong>de</strong>r da oligarquia rural, essa aliança que se afirma na Região Su<strong>de</strong>ste, não<br />

consegue se estruturar no restante do Brasil.<br />

É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que o Governo Vargas assina em 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1931, o <strong>de</strong>creto conhecido como Lei <strong>de</strong> Sindicalização (<strong>de</strong>creto 19.770, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 1931). Até essa época todos os sindicatos eram formados por iniciativa <strong>de</strong><br />

trabalhadores <strong>de</strong> uma profissão ou categoria e se mantinham através das contribuições <strong>de</strong><br />

seus associados. Os sindicatos eram livres, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e funcionavam como<br />

organismos <strong>de</strong> luta por melhores condições <strong>de</strong> vida e salário.<br />

A lei <strong>de</strong> sindicalização <strong>de</strong>finindo o sindicato como órgão <strong>de</strong> colaboração com<br />

o po<strong>de</strong>r público, servindo <strong>de</strong> pára-choques entre tendências conflitivas nas relações do<br />

capital com o trabalho. Os diretores só podiam ser brasileiros natos ou com mais <strong>de</strong> 20<br />

anos <strong>de</strong> residência, sendo obrigação do ministério do trabalho fiscalizar as assembléias e<br />

contabilida<strong>de</strong> dos sindicatos.<br />

A nova lei <strong>de</strong> sindicalização visava oficializar, ou seja, atrelar os sindicatos ao<br />

recém criado Ministério do Trabalho. Pelo projeto governamental, os sindicatos <strong>de</strong>veriam<br />

funcionar como um órgão <strong>de</strong> conciliação entre os trabalhadores e os patrões e como um<br />

órgão <strong>de</strong> caráter assistencialista.<br />

De fato, os objetivos básicos da Lei <strong>de</strong> Sindicalização eram claros: 1)<br />

transformar o sindicato, <strong>de</strong> arma autônoma dos trabalhadores, em agência colaboradora<br />

do Estado; 2) disciplinar o trabalho, consi<strong>de</strong>rando-o como mero fator <strong>de</strong> produção; e 3)<br />

evitar a emergência da luta <strong>de</strong> classes, utilizando o sindicato como “para-choque, entre o<br />

capital e o trabalho.<br />

O projeto sindical populista <strong>de</strong> Vargas previa a adoção <strong>de</strong> leis que, na<br />

verda<strong>de</strong>, eram conquistas ou reinvidicações dos trabalhadores ao longo <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> luta,<br />

as chamadas leis sociais: pensões <strong>de</strong> aposentadoria, jornada <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> 08 horas,<br />

proteção ao trabalho das mulheres e das crianças. A constituição corporativista <strong>de</strong> 1937 e<br />

a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) consolidam a política varguista para o<br />

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movimento operário, com a instalação da justiça do trabalho e a criação do imposto<br />

sindical. A CLT exclui os trabalhadores rurais do direito a sindicalizar-se apesar <strong>de</strong> lhes<br />

assegurar o direito ao salário mínimo.<br />

A inexistência <strong>de</strong> uma organização no campo que aglutinasse essas<br />

ban<strong>de</strong>iras, à época, foi um dos fatores que impediram a elaboração e a implementação <strong>de</strong><br />

uma legislação especifica para o campo.<br />

A construção da estrutura sindical oficial (e a i<strong>de</strong>ologia corporativista que lhe<br />

dá suporte) não foi somente produto da repressão e do silêncio a que foram subjugados os<br />

setores mais combativos e <strong>de</strong> esquerda do movimento sindical brasileiro. Foi também<br />

re<strong>sul</strong>tado <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> medidas legais e político-i<strong>de</strong>ológicas que engenhosamente<br />

articuladas, <strong>de</strong>ntre as quais a educação constituiu um dos mecanismos <strong>de</strong> propaganda e<br />

<strong>de</strong> convencimento.<br />

O estimulo a sindicalização era acompanhada por uma propaganda<br />

doutrinaria que envolvia benefícios sociais advindos <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> leis trabalhistas, e<br />

a divulgação <strong>de</strong> um regime sindical especifico, o regime corporativista, principalmente por<br />

meio das práticas <strong>de</strong> formação sindical incentivadas pelo Ministério do Trabalho, nos<br />

sindicatos dirigidos por ministerialistas ou ‘amarelos’.<br />

Uma vez constituído o sindicato <strong>de</strong> acordo com a lei, exigia-se ainda, para o<br />

seu reconhecimento o envio <strong>de</strong> seus estatutos ao Ministério do Trabalho para aprovação,<br />

além da presença permanente nos sindicatos em assembléias e no controle das finanças.<br />

Portanto, significando progressivamente a implantação <strong>de</strong> um projeto totalitário <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

No entanto, as influências das correntes comunistas e anarquistas criaram<br />

organizações paralelas como foi o caso do Pacto da União Intersindical (PUI), organizado a<br />

partir da greve <strong>de</strong> 1953, em São Paulo que chegou a aglutinar não só sindicatos mas<br />

fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> mulheres, associações <strong>de</strong> bairro, entida<strong>de</strong>s estudantis. Também o Pacto <strong>de</strong><br />

Unida<strong>de</strong> e Ação (PUA), <strong>de</strong> 1957, ou o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), <strong>de</strong> 1962,<br />

<strong>de</strong>ram certa autonomia e permitiram articular melhor as li<strong>de</strong>ranças e <strong>de</strong>ram mais vigor as<br />

lutas dos trabalhadores (Abreu e Lima, 2005).<br />

No que se refere à <strong>de</strong>fesa dos direitos trabalhistas na área rural, foram<br />

organizados sindicatos <strong>de</strong> forma localizada e isolada, além <strong>de</strong> associações mais voltadas<br />

aos interesses dos pequenos produtores, como arrendatários, parceiros, posseiros e<br />

pequenos proprietários. Embora existisse uma legislação que permitia a criação <strong>de</strong><br />

sindicatos, somente em 1944 através do Decreto 7.038 se autoriza <strong>de</strong> forma explicita a<br />

sindicalização rural, porém esta lei não foi implementada. Assim até 1955, o Ministério do<br />

Trabalho só tinha reconhecido o sindicato rural <strong>de</strong> Campos, Rio <strong>de</strong> Janeiro (que tinha sido<br />

criado em 1938), o mais antigo do país, e em seguida: Barreiros, Rio Formoso e<br />

Serinhaém, em Pernambuco; Belmonte, Ilhéus e Itabuna, na Bahia; Tubarão em Santa<br />

Catarina.<br />

Muitas eram as dificulda<strong>de</strong>s para esse tipo <strong>de</strong> organização: a legislação<br />

trabalhista era feita para os trabalhadores urbanos, não consi<strong>de</strong>rando a especificida<strong>de</strong> do<br />

trabalho no campo, quase não existiam juntas <strong>de</strong> conciliação e julgamento nas cida<strong>de</strong>s do<br />

interior, o código civil não permitia a organização <strong>de</strong> sindicatos rurais, e os proprietários<br />

rurais agiam <strong>de</strong> forma repressiva, inclusive acionando a polícia para reprimir qualquer<br />

tentativa <strong>de</strong> organização e mobilização dos trabalhadores (as) rurais.<br />

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TERCEIRO TERCEIRO MOMENTO: MOMENTO: OS OS CAMPONESES CAMPONESES ORGANIZADOS ORGANIZADOS COMO COMO CLASSE<br />

CLASSE<br />

Somos gente nova vivendo a união<br />

Somos povo, semente <strong>de</strong> uma nova nação, ê, ê<br />

Somos gente nova vivendo o amor<br />

Somos comunida<strong>de</strong>, povo do Senhor, ê, ê<br />

Vou convidar os meus irmãos trabalhadores<br />

Operários, lavradores, biscateiros e outros mais<br />

E juntos vamos celebrar a confiança<br />

Nesta luta na esperança <strong>de</strong> ter terra, pão e paz.<br />

Zé Vicente<br />

Após a segunda guerra mundial, houve uma aceleração do processo <strong>de</strong><br />

penetração capitalista, no campo, com a construção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s obras e expansão <strong>de</strong><br />

crédito.<br />

Nesse processo, foram duramente atingidos os foreiros, parceiros, pequenos<br />

proprietários e moradores <strong>de</strong> engenho (que tinham direito a cultivar a lavoura branca e a<br />

obrigação <strong>de</strong> prestar três dias <strong>de</strong> serviço por semana ao proprietário).<br />

Através da expulsão do morador, da supressão do direito do cultivo do sitio,<br />

do aumento dos dias <strong>de</strong> cambão. Como reação a esse processo, as organizações<br />

camponesas passaram a se contrapor, <strong>de</strong> forma articulada, contra as ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo<br />

acionadas pelos usineiros e latifundiários.<br />

No período <strong>de</strong> 1954 a 1964, surgiram três gran<strong>de</strong>s organizações<br />

camponesas que <strong>de</strong>ram uma outra fisionomia ao <strong>de</strong>bate e as lutas dos camponeses (as)<br />

no País:<br />

a) a) Ligas Ligas camponesas<br />

camponesas<br />

camponesas<br />

Em 1955, os donos do Engenho Galileia, em Vitória <strong>de</strong> Santo Antão,<br />

impuseram o aumento do foro e tentaram expulsar os foreiros da terra, que resistiram ao<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo, e começaram a participar da formação da Socieda<strong>de</strong> Agrícola dos<br />

Plantadores e Pecuaristas <strong>de</strong> Pernambuco (SAPPP), fundada inicialmente com fins<br />

basicamente assistenciais, para fornecer assistência médica, jurídica, criar escolas e uma<br />

caixa funerária para seus associados, e posteriormente, se tornando um movimento <strong>de</strong><br />

luta pela Reforma Agrária que se espalhou por vários Estados do Nor<strong>de</strong>ste. “A repressão<br />

atribuiu o nome <strong>de</strong> Ligas à organização <strong>de</strong>sses trabalhadores para caracterizá-los como<br />

comunistas, em alusão ao nome por estes utilizados para certas organizações<br />

populares”(Abreu e Lima, 2005).<br />

A partir das Ligas os camponeses organizados faziam um trabalho <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>núncia, agitação, resistência na terra e mobilizações. As ligas utilizavam diferentes<br />

estratégias para organizar e formar os trabalhadores: conversas na feira, na missa, nos<br />

locais <strong>de</strong> trabalho, boletins, cordéis, etc.<br />

As Ligas se organizavam em “<strong>de</strong>legacias ou núcleos, por município, distritos<br />

ou fazendas. Em âmbito local, eram compostas só <strong>de</strong> camponeses; no nível estadual além<br />

das li<strong>de</strong>ranças camponesas, envolvia profissionais liberais, intelectuais, estudantes,<br />

parlamentares”. (Abreu e Lima, 2005).<br />

b) União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas – ULTAB<br />

Mesmo na ilegalida<strong>de</strong>, o PCB manteve algum trabalho no campo, e em 1954,<br />

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na II Conferencia Nacional <strong>de</strong> Lavradores, foi fundada a ULTAB, com a presença <strong>de</strong> 303<br />

representantes <strong>de</strong> 16 estados, tendo-se discutido o direito a organização dos<br />

trabalhadores rurais em associações e sindicatos, o direito <strong>de</strong> greve, a reforma agrária,<br />

previdência social, adoção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> apoio a produção etc.., sendo a primeira<br />

experiência na perspectiva sindical no campo brasileiro.<br />

c) c) Movimento Movimento dos dos dos Agricultores Agricultores Sem Sem Terra Terra – MASTER MASTER<br />

Surgiu no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul em 1950, a partir da resistência <strong>de</strong> 300<br />

famílias <strong>de</strong> posseiros, inovava com relação às formas <strong>de</strong> luta, pois executava a ocupação<br />

<strong>de</strong> terras, formando acampamentos e organizando estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, <strong>de</strong>ntro das<br />

terras dos latifundiários, em áreas previamente escolhidas.<br />

Essas três organizações durante sua existência assumiram algumas lutas <strong>de</strong><br />

forma unificada, como por exemplo, a greve no setor canavieiro em Pernambuco, em<br />

1963, que obteve conquistas significativas para a categoria ou a participação em<br />

Congressos como o I Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas,<br />

realizado em 1961, que embora explicitasse as divergências, marcou o reconhecimento<br />

social e político da categoria camponesa e o reconhecimento do seu potencial organizativo<br />

<strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />

A partir, o movimento camponês cresceu e as discussões sobre a questão<br />

fundiária ampliaram-se, atingindo outros setores da socieda<strong>de</strong>, inclusive a Igreja Católica,<br />

que passou a atuar na perspectiva <strong>de</strong> fortalecer a posição da Igreja entre os camponeses<br />

através da criação <strong>de</strong> sindicatos 28 .<br />

A década <strong>de</strong> 1960 chega com o país falando <strong>de</strong> reformas <strong>de</strong> bases. As<br />

principais eram a reforma agrária, reforma na educação e no sistema bancário. Nesse<br />

período foi criado o Estatuto do Trabalhador Rural (1963), que concedia aposentadoria por<br />

invali<strong>de</strong>z ou por velhice como re<strong>sul</strong>tado das lutas li<strong>de</strong>radas pelas Ligas Camponesas no<br />

Nor<strong>de</strong>ste, que aliavam as lutas por direitos trabalhistas e reforma agrária e do surgimento<br />

dos sindicatos <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras rurais, das fe<strong>de</strong>rações e da CONTAG, o<br />

que já era o bastante para <strong>de</strong>ixar os latifundiários muito aborrecidos com o governo.<br />

SURGE SURGE A A PRIMEIRA PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO SINDICAL SINDICAL NACIONAL NACIONAL NO NO CAMPO: CAMPO: CONTAG<br />

CONTAG<br />

Ainda que o gesto me doa, não encolho a mão: avanço<br />

levando um ramo <strong>de</strong> sol.<br />

Mesmo enrolada <strong>de</strong> pó, <strong>de</strong>ntro da noite mais fria,<br />

a vida que vai comigo é fogo: esta sempre acesa<br />

Thiago <strong>de</strong> Mello<br />

A existência das Ligas Camponesas, da ULTAB, do Master e a influência do<br />

28 No Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, o então Bispo Dom Eugenio Sales funda em 1960 o Serviço <strong>de</strong> Orientação Rural<br />

(SAR) uma organização beneficente da Igreja <strong>de</strong>stinada a fundar sindicatos. Até 1962 48 sindicatos foram<br />

fundados e 16 <strong>de</strong>les foram reconhecidos. Em Jaboatão (PE) o padre Crespo e o Padre Antonio Melo no Cabo (PE)<br />

passam a criar sindicatos com um objetivo <strong>de</strong>clarado <strong>de</strong> enfraquecer o avanço das Ligas Camponesas e do PCB.<br />

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PCB e da Ação Popular- AP 29 , fizeram com que a organização dos trabalhadores(as) rurais<br />

em sindicatos fosse acelerada, as ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> lutas atualizadas e ampliadas e<br />

estabelecidas linhas <strong>de</strong> ação comum.<br />

Esse processo culminou na realização do 1º Congresso Nacional dos<br />

Lavradores e trabalhadores agrícolas, em 1961, em Belo Horizonte coor<strong>de</strong>nado pela<br />

ULTAB, que reuniu 1.600 <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> várias organizações. Articular nacionalmente as<br />

lutas passou a ser uma das principais preocupações, apesar das diferentes correntes <strong>de</strong><br />

pensamento, <strong>de</strong> concepções e <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> organização.<br />

Em 1962, já existiam 42 fe<strong>de</strong>rações, em alguns estados mais <strong>de</strong> duas: <strong>de</strong><br />

assalariados, <strong>de</strong> lavradores, <strong>de</strong> pescadores, <strong>de</strong> agricultores, <strong>de</strong> trabalhadores rurais,<br />

sendo que 27 eram reconhecidas oficialmente pelo Ministério, que solicitou a realização<br />

<strong>de</strong> um Congresso Nacional para criação da Confe<strong>de</strong>ração, o que ocorreu em 22 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1963, com a participação <strong>de</strong> trabalhadores rurais <strong>de</strong> 18 estados,<br />

distribuídos em 29 fe<strong>de</strong>rações, sendo reconhecida em 31 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1964, pelo<br />

Decreto Presi<strong>de</strong>ncial 53.517.<br />

“A CONTAG torna-se a primeira entida<strong>de</strong> sindical camponesa <strong>de</strong> caráter<br />

nacional reconhecida legalmente. Ajustou em seu interior diversas concepções e correntes<br />

<strong>de</strong> pensamentos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os setores mais à direita, setores da Igreja, provenientes das<br />

Ligas e os comunistas”. (Revista dos 40 anos da CONTAG).<br />

A mobilização popular a favor das reformas amedrontou a classe dominante,<br />

temiam que fosse apenas o começo <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> transformações radicais no país. A<br />

resposta das elites veio <strong>de</strong> imediato no dia 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1964, as tropas militares<br />

ocuparam os pontos estratégicos do país, autoritarismo, <strong>de</strong>srespeito a constituição,<br />

perseguição militar, prisão e tortura para os opositores e censura prévia nos meios <strong>de</strong><br />

comunicação, esse foi o quadro político criado pelo regime militar para arrasar toda<br />

oposição a sua forma <strong>de</strong> governar o país.<br />

Recém criada a CONTAG, na busca pela melhoria das condições <strong>de</strong> vida dos<br />

trabalhadores do campo, pela reforma agrária, sofre <strong>de</strong> imediato a violência do golpe<br />

militar sobre as li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong> sua organização, que viu ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> lutas políticas dos<br />

trabalhadores, em especial, a da reforma agrária, serem colocadas em segundo plano.<br />

Já em 1964, foi <strong>de</strong>cretada a Primeira Lei <strong>de</strong> Reforma Agrária do Brasil<br />

elaborada ainda no Governo João Goulart, acabou sendo promulgada com modificações,<br />

pela ditadura militar, sendo <strong>de</strong>nominada Estatuto da Terra, que por um lado <strong>de</strong>finiu regras<br />

para os contratos <strong>de</strong> arrendamento e parceria, como resposta as reinvidicações do<br />

movimento sindical, e por outro incentivou o pacote da Revolução Ver<strong>de</strong>, que obrigou<br />

muitos agricultores familiares a saírem do campo, com um gran<strong>de</strong> aumento da miséria na<br />

área rural e nas cida<strong>de</strong>s.<br />

29 Foi formada em Belo Horizonte (MG), em 1962, a partir <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> operários e estudantes ligados à Igreja<br />

Católica: a Juventu<strong>de</strong> Operária Católica (JOC), Juventu<strong>de</strong> Universitária Católica (JUC) e a Juventu<strong>de</strong> Estudantil<br />

Católica (JEC). Nos primeiros anos da década <strong>de</strong> 1960, ainda fortemente influenciada pelo i<strong>de</strong>ário humanista<br />

cristão, vinculada às estruturas formadas pela Igreja junto aos movimentos populares, a AP possuía penetração<br />

entre operários, camponeses e estudantes, principalmente entre os últimos. A AP <strong>de</strong>slocou militantes para as<br />

fábricas e para o meio rural, sendo efetuadas experiências em meios populares como o ABC paulista, da Zona<br />

Canavieira em Pernambuco, da região Cacaueira da Bahia, da área <strong>de</strong> Pariconha e Água Branca em Alagoas, e<br />

do Vale do Pindaré, no Maranhão. Foi da Juventu<strong>de</strong> Estudantil Católica que partiram as primeiras discussões que<br />

operaram mudanças políticas e i<strong>de</strong>ológicas e sua transformação em uma organização marxista-leninista. Em<br />

março <strong>de</strong> 1971, a AP formalizou a influência do marxismo e se proclamou partido com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Ação<br />

Popular Marxista-Leninista (APML), que continuou sua ação política durante a ditadura (ACO, 1985).<br />

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Logo na sua criação tinha sido constituída uma equipe <strong>de</strong> “educação<br />

sindical” com o objetivo <strong>de</strong> capacitar li<strong>de</strong>ranças e dirigentes a fim <strong>de</strong> mantê-los<br />

informados, nas temáticas do movimento e da realida<strong>de</strong> social e política do país. A<br />

formação sindical centrava sua ação na alfabetização dos trabalhadores (as), na difusão<br />

<strong>de</strong> práticas agrícolas e <strong>curso</strong>s políticos para formar novas li<strong>de</strong>ranças, que durante a<br />

ditadura tiveram que atuar <strong>de</strong> forma quase clan<strong>de</strong>stina.<br />

“Após a intervenção, foi constituída uma Junta Governativa que durante um<br />

ano administrou a CONTAG. No ano seguinte, uma diretoria foi eleita para administrar a<br />

entida<strong>de</strong> durante o período <strong>de</strong> 1965 a 1968, tendo como interventor José Rotta.”(Revista<br />

40 anos da CONTAG).<br />

A partir <strong>de</strong> 1966, trabalhadores que resistiam à ditadura buscaram retomar<br />

o controle da entida<strong>de</strong>, e superar as dissidências alimentadas durante o período <strong>de</strong><br />

intervenção, buscando a organização dos sindicatos e fe<strong>de</strong>rações. A formação se traduzia<br />

em práticas educativas para garantir núcleos organizados nos locais <strong>de</strong> trabalho e para<br />

fortalecer o processo <strong>de</strong> retirada dos interventores e sindicalistas pelegos, impostos nos<br />

sindicatos e fe<strong>de</strong>rações pela ditadura.<br />

Os materiais <strong>de</strong> comunicação sindical foram fundamentais para garantir<br />

minimamente uma ação articulada nacional, regional e estadual. Eram boletins, revistas e<br />

jornais, que tinham como objetivo central a conscientização e a socialização das vitórias e<br />

lutas do MSTTR. A criativida<strong>de</strong> marcou esse período. O cerceamento das liberda<strong>de</strong>s<br />

individuais e coletivas inibia qualquer divulgação <strong>de</strong> trabalhos que pu<strong>de</strong>ssem, em seu<br />

conteúdo, ser interpretado como “ofensivo” ao governo e a “or<strong>de</strong>m pública”.(Revista 40<br />

anos da CONTAG)<br />

O cotidiano e o estímulo à organização dos trabalhadores (as) rurais eram<br />

reproduzidos por meio <strong>de</strong> personagens. Também reproduziam as poesias, prosas e<br />

cordéis, escritas pelos trabalhadores (as) rurais, dialogando com os <strong>de</strong>safios do dia-a-dia,<br />

sem serem perturbados pela Policia ou pelo Ministério do Trabalho. Os autores das<br />

histórias utilizavam pseudônimos, caso a repressão militar resolvesse censurar os <strong>textos</strong>,<br />

os autores estariam protegidos.<br />

Outro instrumento utilizado no final da década <strong>de</strong> 1960 e meados <strong>de</strong> 1970,<br />

foi o sócio-drama. Priorizava a oralida<strong>de</strong> e a expressão corporal, para estimular uma visão<br />

crítica daquele momento que o país vivia sem chamar a atenção do po<strong>de</strong>r público (Revista<br />

CONTAG 40 anos).<br />

O trabalho comunitário e <strong>de</strong> pequenos grupos foi á estratégia adotada<br />

durante muitos anos para resistir e formar novas li<strong>de</strong>ranças durante a fase da ditadura.<br />

Eram organizações quase clan<strong>de</strong>stinas em gran<strong>de</strong> parte fomentadas ou apoiadas pela<br />

Igreja. Portanto, esse período nos ensinou a importância da comunida<strong>de</strong>, da formação <strong>de</strong><br />

base, do trabalho em grupos, da importância do ambiente cultural na formação do ser<br />

humano, por exemplo, na Amazônia, as relações comunitárias <strong>de</strong> parentesco e <strong>de</strong><br />

vizinhança foram à base da organização dos “posseiros”, durante toda a década <strong>de</strong> 1970.<br />

Os núcleos formados por famílias extensas e vizinhos, li<strong>de</strong>rados pelos mais antigos,<br />

formavam uma re<strong>de</strong> importante <strong>de</strong> relações através das quais se recrutavam os membros<br />

das comunida<strong>de</strong>s para as ações coletivas. Foi na experiência <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s já<br />

existentes, na sua organização já construída e na solidarieda<strong>de</strong> que novos migrantes<br />

foram rompendo as fronteiras do latifúndio na região, e foram ficando na terra e<br />

produzindo.<br />

De meados da década <strong>de</strong> 60 até o final da década <strong>de</strong> 70, as lutas<br />

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camponesas eclodiam por todo o território nacional, os conflitos fundiários triplicaram e o<br />

governo, ainda na perspectiva <strong>de</strong> controlar a questão agrária <strong>de</strong>terminou a militarização<br />

do problema da terra. A militarização proporcionou diferentes e combinadas formas <strong>de</strong><br />

violência contra os trabalhadores. A violência do peão que é o jagunço da força privada,<br />

muitas vezes com o amparo da força pública. A violência da polícia, escorada na justiça<br />

<strong>de</strong>smoralizada, que <strong>de</strong>cretou ações contra os trabalhadores, utilizando re<strong>curso</strong>s dos<br />

grileiros e gran<strong>de</strong>s empresários, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo claramente e tão somente os interesses dos<br />

latifundiários. No ano <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro do governo militar, 1985, os jagunços dos latifundiários e<br />

a polícia assassinavam um trabalhador (a) rural a cada dois dias.<br />

Essas diferentes ações fomentam a resistência e a luta por uma socieda<strong>de</strong><br />

justa e solidária até os nossos dias. As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e a exclusão continuam<br />

acirrando as contradições <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong>, portanto, a luta pela terra, pelo meio<br />

ambiente, pela cidadania, a soberania alimentar, os valores humanistas, a participação<br />

popular, a educação, a saú<strong>de</strong>, as relações igualitárias <strong>de</strong> gênero e etnia, vinculadas à luta<br />

por uma socieda<strong>de</strong> economicamente justa, ecologicamente sustentável com equida<strong>de</strong> e<br />

justiça social continuam na agenda do dia para tecer o amanhã.<br />

Tecendo a a manhã<br />

João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto<br />

Um galo sozinho não tece uma manhã:<br />

ele precisará sempre <strong>de</strong> outros galos.<br />

De um que apanhe esse grito que ele lançou e o<br />

lance a outro; <strong>de</strong> um outro galo que apanhe o<br />

grito que um galo antes lançou e o lance a<br />

outro; e <strong>de</strong> outros galos que com muitos outros<br />

galos se cruzem os fios <strong>de</strong> sol <strong>de</strong> seus gritos <strong>de</strong><br />

galo, para que a manhã, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma teia tênue,<br />

se vá tecendo, entre todos os galos<br />

REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BIBLIOGRÁFICAS<br />

ACO. AÇÃO CATÓLICA OPERÁRIA. (1985) História da classe operária no Brasil: Gestação e<br />

nascimento -1500 a 1888. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ACO.<br />

ABREU E LIMA, Maria do Socorro <strong>de</strong>. Construindo o sindicalismo rural: lutas, partidos,<br />

projetos. Recife: Editora Universitária da UFPE: Editora Oito <strong>de</strong> Março, 2005.<br />

ARROYO, Miguel. (2003). Pedagogias em Movimento – o que temos a apren<strong>de</strong>r dos<br />

Movimentos Sociais? In: Currículo sem Fronteiras, v 3, n.1, pp. 28-49, Jan/Jun. Minas<br />

Gerais.<br />

CONTAG. Revista dos 40 anos. Brasília, 2004.<br />

GOHN, Maria da Glória. (1999) Educação não formal e cultura política: impactos sobre o<br />

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v.71).<br />

MANFREDI, Silvia Maria. Formação Sindical no Brasil: história <strong>de</strong> uma prática cultural. São<br />

Paulo: Escrituras Editorial, 1996.<br />

MEDEIROS, Leonil<strong>de</strong> Servolo. História dos movimentos sociais no campo. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

FASE, 1989.<br />

NEVES, L.A. O comando geral dos trabalhadores (CGT) no Brasil (1961-1964). Belo<br />

Horizonte: Vega, 1981.<br />

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Educação do Campo. NEAD/Brasília, 2006.<br />

TRONCA, Ítalo A. Revolução <strong>de</strong> 30: a dominação oculta-São Paulo:Brasiliense, 2004.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

TRAJETÓRIA TRAJETÓRIA POLÍTICA POLÍTICA DA DA CONTAG CONTAG - AS PRIMEIRAS LUTAS 30<br />

Na década década década <strong>de</strong> <strong>de</strong> 50 50, 50 , as organizações organizações camponesas passaram a se contrapor, <strong>de</strong> forma<br />

articulada, contra as ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo acionadas pelos usineiros (Porecatu/PR) e da luta<br />

dos posseiros e arrendatários <strong>de</strong> Trombas e Formoso, em Goiás, on<strong>de</strong> várias li<strong>de</strong>ranças se<br />

<strong>de</strong>stacaram.<br />

Em Pernambuco, fundaram a Socieda<strong>de</strong> Agrícola e Pecuária dos Plantadores, promovendo<br />

uma das mais importantes lutas da época, no Engenho Galiléia, município <strong>de</strong> Vitória <strong>de</strong><br />

Santo Antão, nos limites da região Agreste com a Zona da Mata <strong>de</strong> Pernambuco. Foi<br />

quando surgiu a primeira experiência <strong>de</strong> Ligas Camponesas<br />

Camponesas e, conseqüentemente, <strong>de</strong><br />

resistência camponesa articulada a objetivos políticos mais <strong>de</strong>finidos (...). A luta<br />

camponesa passa a ter uma postura politizada e politizadora. No processo <strong>de</strong> organização<br />

e luta, foram criadas outras organizações como o Movimento dos dos dos Agricultores Agricultores Sem Sem Terra Terra –<br />

MASTER MASTER na região <strong>sul</strong> do país. As várias formas <strong>de</strong> organizações camponesas passaram a<br />

sentir a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma articulação nacional que representasse os interesses e as<br />

<strong>de</strong>mandas específicas.<br />

Em 1954, surgiu a União União União dos dos Lavradores Lavradores Agrícolas Agrícolas do do Brasil Brasil – ULTAB ULTAB, ULTAB<br />

durante a II<br />

Conferência Conferência Nacional Nacional dos dos Lavradores Lavradores, Lavradores realizada em São Paulo. O primeiro presi<strong>de</strong>nte foi<br />

Lyndolpho Lyndolpho Silva Silva, Silva , que, uma década <strong>de</strong>pois, viria a ser o primeiro primeiro presi<strong>de</strong>nte presi<strong>de</strong>nte da da CONTAG CONTAG. CONTAG<br />

Nessa conferência, foram i<strong>de</strong>ntificadas as ban<strong>de</strong>iras prioritárias entre elas o ”estímulo à<br />

criação <strong>de</strong> sindicatos <strong>de</strong> trabalhadores rurais”.<br />

CONTAG CONTAG CONTAG – PRIMEIRA PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO SINDICAL NACIONAL NO NO CAMPO<br />

As Ligas Camponesas, O MASTER, A Ação Popular – AP (ligada aos católicos radicais) e a<br />

União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil – ULTAB, <strong>de</strong>ntre outros, fizeram<br />

com que a organização dos trabalhadores rurais em sindicatos fosse acelerada.<br />

As organizações <strong>de</strong> esquerda com atuação no campo buscaram atualizar e ampliar as<br />

ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta e estabelecer linhas <strong>de</strong> ação comuns. Neste sentido organizaram: o 1º<br />

Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (1961) – convocado e<br />

coor<strong>de</strong>nado pela ULTAB; em 1962 acontece o 1º Congresso <strong>de</strong> Trabalhadores na Lavoura<br />

do Nor<strong>de</strong>ste; em 1963 a ULTAB organizou a 1ª Convenção Brasileira <strong>de</strong> Sindicatos Rurais<br />

(Natal-RN).<br />

Em 1963 uma greve no setor canavieiro envolveu a Fe<strong>de</strong>ração dos Lavradores, as Ligas<br />

Camponesas e sindicatos autônomos.<br />

Em 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1963, trabalhadores rurais <strong>de</strong> 18 estados, distribuídos em 29<br />

fe<strong>de</strong>rações, <strong>de</strong>cidiram pela criação da Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na<br />

Agricultura – CONTAG, reconhecida em 31 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1964, pelo Decreto Presi<strong>de</strong>ncial<br />

53.517.<br />

A CONTAG torna-se a primeira entida<strong>de</strong> sindical camponesa <strong>de</strong> caráter nacional<br />

legalmente reconhecida. A CONTAG nasceu em um momento crítico da ativida<strong>de</strong> política<br />

do país, resistindo ao regime imposto pelos militares.<br />

30 Publicação – Revista <strong>Contag</strong> 40 anos<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

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O golpe militar <strong>de</strong> 64 foi uma contra-revolução que barrou mudanças estruturais <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocratização da socieda<strong>de</strong> brasileira. O golpe foi <strong>de</strong>flagrado contra o governo <strong>de</strong> João<br />

Goulart. Nos primeiros dias após o golpe, uma violenta repressão atingiu setores<br />

politicamente mais mobilizados à esquerda como, por exemplo, o Comando Geral dos<br />

Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e<br />

grupos católicos como a Juventu<strong>de</strong> Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP).<br />

Os dirigentes sindicais mais combativos foram cassados, presos, torturados e substituídos<br />

por interventores que conduziam os sindicatos como órgãos <strong>de</strong> colaboração do Estado.<br />

Com o golpe militar, a direção da CONTAG foi <strong>de</strong>posta e alguns dirigentes foram presos.<br />

Milhares <strong>de</strong> pessoas foram presas e casos <strong>de</strong> tortura transformaram-se em atos comuns.<br />

As pessoas também foram atingidas em seus direitos individuais e coletivos. O Ato<br />

Institucional (AI) foi criado pelo governo militar – cujo objetivo era justificar os atos <strong>de</strong><br />

execução. Os militares justificavam sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a<br />

disciplina e <strong>de</strong>ter a “ameaça comunista”. Com o golpe, <strong>de</strong>u-se início à implantação <strong>de</strong> um<br />

regime político marcado pelo “autoritarismo”.<br />

O Estatuto da Terra, elaborado durante o governo <strong>de</strong> João Goulart, foi promulgado <strong>de</strong>vido<br />

às pressões internacionais e internas, mas, com profundas modificações. Ainda assim,<br />

marcou uma nova etapa em relação à legislação existente, permitindo, <strong>de</strong>ntre outras<br />

coisas, a intervenção do Estado no setor fundiário, mediante a <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> terras<br />

por interesse social.<br />

O governo militar concentrou-se na mo<strong>de</strong>rnização das relações capitalistas no campo e<br />

nos projetos <strong>de</strong> colonização nas áreas <strong>de</strong> fronteira, preocupando-se com um projeto<br />

agrícola afinado com sua política econômica. Colocou à margem a pequena produção e<br />

favoreceu a ampliação ainda da concentração <strong>de</strong> terra e <strong>de</strong> renda no país. Houve um<br />

estímulo à especulação com a terra e <strong>de</strong> concessões a gran<strong>de</strong>s empresas para atuarem<br />

no campo. A idéia aguçou o conflito em torno da proprieda<strong>de</strong>, em especial nas áreas <strong>de</strong><br />

fronteira agrícola. A política salarial, controlada pelo governo, impedia os aumentos reais e<br />

garantia ao patronato à crescente exploração <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra barata. A repressão à<br />

atuação sindical não permitia que os assalariados rurais pleiteassem seus direitos<br />

trabalhistas.<br />

Os pequenos e médios produtores foram incentivados a se mo<strong>de</strong>rnizarem, adquirindo<br />

máquinas e equipamentos mediante financiamentos que, mais tar<strong>de</strong>, não conseguiram<br />

saldar. Essa situação, aliada à ausência <strong>de</strong> uma política diferenciada <strong>de</strong> créditos, re<strong>sul</strong>tou<br />

na perda <strong>de</strong> muitas proprieda<strong>de</strong>s, tornando irreversível o processo <strong>de</strong> concentração<br />

fundiária. As li<strong>de</strong>ranças políticas sindicais comprometidas com a luta por direitos e<br />

liberda<strong>de</strong>, resistiram como pu<strong>de</strong>ram ao regime militar e no 1º Congresso Nacional dos<br />

Trabalhadores na Agricultura – CNTR.<br />

No 1º Congresso Nacional <strong>de</strong> Trabalhadores Rurais da CONTAG, realizado em São Paulo,<br />

estava clara a existência <strong>de</strong> dois grupos políticos, um ligado ao interventor e, outro ligado a<br />

trabalhadores e li<strong>de</strong>ranças que se mostravam comprometidos com as lutas dos<br />

trabalhadores.<br />

Em 1967, o Rio <strong>de</strong> Janeiro é transformado em se<strong>de</strong> da Conferência Nacional Intersindical,<br />

congregando representantes dos trabalhadores rurais, bancários e industriários. Nessa<br />

conferência, a <strong>de</strong>fesa da reforma agrária foi unânime, contando com a presença <strong>de</strong><br />

sindicalistas rurais <strong>de</strong> quase todos os estados. Foi o início <strong>de</strong> uma articulação ampla,<br />

urbana e rural, <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong> uma chapa para concorrer às eleições da CONTAG.<br />

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Fruto da união operária e camponesa, por apenas um voto <strong>de</strong> diferença, a chapa<br />

encabeçada por José Francisco da Silva impõe a <strong>de</strong>rrota ao interventor e então presi<strong>de</strong>nte<br />

da CONTAG, José Rotta. Empossada, a nova diretoria (1968) convocou todas as<br />

fe<strong>de</strong>rações para um encontro, em Petrópolis (RJ), a fim <strong>de</strong> elaborar um Plano <strong>de</strong><br />

Integração Nacional - PIN. A preocupação maior era criar um instrumento capaz <strong>de</strong> garantir<br />

a unida<strong>de</strong> do MSTR diante da divisão política revelada no processo eleitoral.<br />

O PIN elegeu a reforma agrária como uma das ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta capaz <strong>de</strong> propiciar a<br />

unida<strong>de</strong> do movimento, pois seria <strong>de</strong> fundamental importância não apenas para os<br />

diretamente envolvidos nos conflitos pela terra, mas também para o pequeno produtor e o<br />

assalariado.<br />

O PIN previu ações específicas para cada setor. No caso dos assalariados, por exemplo,<br />

foram incentivadas as ações coletivas, em gran<strong>de</strong> número, para abarrotar as Juntas <strong>de</strong><br />

Conciliação e Julgamento, forçando uma tomada <strong>de</strong> posição favorável aos trabalhadores.<br />

Essa proposta, quando levada à prática, causaria uma reação violenta do patronato e do<br />

po<strong>de</strong>r público, que ameaçavam e puniam os lí<strong>de</strong>res sindicais, por promoverem reuniões<br />

dos grupos nos Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores Rurais.<br />

A formação <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res era essencial para o futuro do MSTR. Por meio <strong>de</strong> <strong>curso</strong>s sobre a<br />

realida<strong>de</strong> brasileira, legislação trabalhista, agrária, agrícola, cooperativismo e <strong>de</strong><br />

organização sindical, iniciou um contínuo trabalho <strong>de</strong> conscientização dos trabalhadores<br />

rurais sobre os seus direitos, qualificando-os para a luta cotidiana.<br />

O PIN marcou a singularida<strong>de</strong> do MSTTR <strong>de</strong>ntro do sindicalismo brasileiro. Enquanto as<br />

outras confe<strong>de</strong>rações urbanas existentes tinham dúvidas entre resistir ou aceitar a<br />

intervenção no movimento sindical, a CONTAG optou pelo enfrentamento ao po<strong>de</strong>r<br />

econômico e político em uma <strong>de</strong> suas principais bases: a <strong>de</strong>mocratização da terra e a<br />

organização política dos trabalhadores rurais, por meio da formação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças.<br />

Durante os ‘anos duros’ do regime ditatorial militar, 1968 e 1969, os dirigentes do MSTR<br />

aceleraram o processo <strong>de</strong> organização e politização da categoria. Lançaram o periódico “O<br />

Trabalhador Rural”, informativo que levava as idéias e propostas da direção da CONTAG<br />

acerca das ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> lutas e da organização sindical às Fe<strong>de</strong>rações.<br />

Nesse período, a direção da CONTAG qualificou ainda mais a sua forma <strong>de</strong> comunicação<br />

com a base, lançando a revista mensal “O Trabalhador Rural”, apresentando análises<br />

sobre a conjuntura nacional e sugerindo encaminhamentos para reflexão nos estados.<br />

Num dos primeiros números <strong>de</strong>ssa revista, foi transcrita a carta ao Papa Paulo VI,<br />

assinada por José Francisco, que reafirmava: “É, para vencer barreiras centenárias <strong>de</strong><br />

irracionalida<strong>de</strong>s geradas pelo latifúndio, sinônimo <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r político, econômico, social<br />

e cultural que contrariam a função social <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, é necessária uma <strong>de</strong>cisão<br />

drástica e enérgica pela reforma agrária”. Os <strong>textos</strong> reproduzidos no periódico<br />

<strong>de</strong>monstram explicitamente o enfrentamento da CONTAG diante das políticas do governo<br />

militar.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar os trabalhadores nos municípios e constituir sindicatos era<br />

uma das gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mandas do movimento sindical naquele momento. A revista “o<br />

Trabalhador Rural” era um dos meios utilizados para chamar os trabalhadores para<br />

organização sindical. Um espaço chamado “Conversa <strong>de</strong> Caboclo” que contavam estórias<br />

sobre o cotidiano dos trabalhadores rurais, criadas pela equipe técnica da <strong>Contag</strong> e<br />

assinadas com nomes fictícios, para chamar a atenção dos camponeses sobre a<br />

importância da organização sindical. Em uma <strong>de</strong>ssas estórias consta esse trecho: “E quem<br />

é esse sindicato, que vai dar nosso valor? É uma socieda<strong>de</strong> composta <strong>de</strong> agricultor. Nós<br />

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vai lá se reunir, pra acabar com a tal <strong>de</strong> meia. Que sempre nos tem trazido amarrado no nó<br />

da peia.”<br />

A luta essencialmente corporativa, nunca foi a marca do movimento sindical coor<strong>de</strong>nado<br />

pela CONTAG, já em 1968, preocupados com a importância da educação para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do campo, foi organizado um Encontro Nacional em Petrópolis. Reunindo<br />

diversos representantes das Fe<strong>de</strong>rações concluíram que: a) o diálogo <strong>de</strong>ve ser a base para<br />

a construção <strong>de</strong> uma proposta educativa para o campo; e b) o método a ser utilizado, <strong>de</strong>ve<br />

levar em conta o conhecimento da realida<strong>de</strong>, que será criticada, para daí se chegar à<br />

escolha da ação e a própria ação, conhecimento e crítica.<br />

Na revista “O Trabalhador Rural”, a direção da CONTAG politizou o <strong>de</strong>bate sobre o papel da<br />

organização sindical e utilizou repetidamente o lema “Sindicalismo autêntico, é<br />

Sindicalismo livre”. Denunciou a intenção <strong>de</strong> cooptação do governo através do<br />

assistencialismo. Demonstrou que o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do governo era<br />

diferente da idéia do MSTR: “milhões <strong>de</strong> camponeses continuam morrendo <strong>de</strong> fome (...),<br />

mas o Brasil está em franco crescimento. Sim, porque crescer é bem diferente <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver”.<br />

Levantamento elaborado pela CONTAG, em 1971, <strong>de</strong>monstraram que a estratégia adotada<br />

pelo MSTR foi acertada, conforme a tabela abaixo:<br />

Levantamento numérico do movimento sindical em 22 estados, inclusive Brasília e<br />

Guanabara, <strong>de</strong> 1960 a 1971.<br />

Municípios<br />

brasileiros<br />

Municípios com<br />

sindicatos<br />

Municípios sem<br />

sindicatos<br />

Inicio <strong>de</strong> 1969 3959 705 3254 800<br />

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Média <strong>de</strong> sócios por<br />

sindicato<br />

Final <strong>de</strong> 1971 3959 1045 2914 1132<br />

Fonte: Revista O Trabalhador Rural<br />

Em março <strong>de</strong> 1971 1971, 1971<br />

ocorreu a Reunião do Conselho Deliberativo que escolheu a diretoria<br />

da CONTAG para o triênio 1971/1974, tendo como presi<strong>de</strong>nte José Francisco/PE<br />

Francisco/PE, Francisco/PE<br />

esta foi<br />

a 4ª eleição da CONTAG.<br />

A CONTAG segue sua trajetória e realiza seu 2º Congresso Nacional Nacional dos dos Trabalhadores<br />

Trabalhadores<br />

Rurais Rurais - CNTR em 1973 1973, 1973<br />

, que representou um marco para a organização da classe<br />

trabalhadora rural, logo o governo militar buscou impedir a posse da diretoria eleita. Em<br />

maio <strong>de</strong> 1977 foi empossada a direção para o triênio 1977/1980.<br />

Em 1979 acontece o 3º 3º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais Rurais, Rurais dando visibilida<strong>de</strong><br />

nacional ao sindicalismo <strong>de</strong> trabalhadores coor<strong>de</strong>nados pela CONTAG. Em abril <strong>de</strong> 1980,<br />

foi empossada a direção para o triênio 1980/1983 e a festa <strong>de</strong> posse contou com a<br />

presença dos ex ex-dirigentes ex<br />

dirigentes Lyndolpho Silva e José Pureza da Silva Silva, Silva<br />

, , ambos fundadores da<br />

CONTAG, <strong>de</strong> volta ao país após vários anos <strong>de</strong> exílio.<br />

Durante o 3º Congresso Nacional <strong>de</strong> Trabalhadores Rurais Rurais, Rurais<br />

, em 1979, em seu dis<strong>curso</strong> <strong>de</strong><br />

abertura, o presi<strong>de</strong>nte José Francisco recordou: “apesar das condições <strong>de</strong>sfavoráveis para<br />

o trabalho sindical entre o último Congresso e os dias atuais, passamos <strong>de</strong> 19 para 21<br />

Fe<strong>de</strong>rações, <strong>de</strong> 1.500 sindicatos para 2.275, <strong>de</strong> dois milhões e meio <strong>de</strong> associados para<br />

mais <strong>de</strong> cinco milhões”.


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

A CONTAG estava consolidada, não como um espaço <strong>de</strong>sse ou daquele ‘modo <strong>de</strong> pensar o<br />

sindicalismo’, mas <strong>de</strong> todas as correntes políticas existentes. Rompeu com a visão<br />

imediatista da luta sindical e buscou aten<strong>de</strong>r às outras dimensões e necessida<strong>de</strong>s do ser<br />

humano, inclusive, apontando o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que se queria para o campo:<br />

“O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ve vir acompanhado <strong>de</strong> transformações sociais e políticas”.<br />

O mesmo aconteceu com o estímulo à participação, em registros internos, vê-se que<br />

reuniões <strong>de</strong> avaliação e planejamento sempre estiveram presentes na história <strong>de</strong>ssa<br />

entida<strong>de</strong>, inclusive, com a participação da assessoria nesses momentos, <strong>de</strong>monstrando<br />

como praticar <strong>de</strong>mocracia interna, mesmo em momentos difíceis e sob ameaça constante<br />

dos militares.<br />

No 4º CNTR em 1985 1985 o <strong>de</strong>bate sobre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> reforma agrária <strong>de</strong>fendido pelo MSTR<br />

foi o ponto alto. Os <strong>de</strong>legados <strong>de</strong>legados aprovaram a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong> elei eleições elei ções da CONTAG e<br />

e<br />

Fe<strong>de</strong>rações Fe<strong>de</strong>rações em em Congresso Congresso, Congresso , com mandato <strong>de</strong> três anos. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1985 aconteceu<br />

a 1ª Eleição Congressual da história da CONTAG.<br />

Apesar da <strong>de</strong>liberação do 4º CNTR, a eleição da Diretoria e do Conselho Fiscal da CONTAG,<br />

gestão gestão gestão 1989/1992<br />

1989/1992, 1989/1992 não aconteceu em congresso. As urnas foram colocadas nas se<strong>de</strong>s<br />

das fe<strong>de</strong>rações. A votação foi <strong>de</strong> um <strong>de</strong>legado por sindicato. A Diretoria Efetiva teve como<br />

presi<strong>de</strong>nte presi<strong>de</strong>nte Aloísio Aloísio Carneiro/BA<br />

Carneiro/BA. Carneiro/BA Nessa eleição foi eleita a a primeira primeira primeira mulher mulher, mulher , Gedalva <strong>de</strong><br />

Carvalho/SE<br />

Carvalho/SE,<br />

Carvalho/SE , enquan enquanto enquan<br />

to suplente da da direção da da entida<strong>de</strong>.<br />

No 5º 5º CNTR CNTR, CNTR<br />

em novembro <strong>de</strong> 1991 a participação da base foi ampliada qualitativa e<br />

quantitativamente. Elegeram o dirigente Francisco Urbano/RN como presi<strong>de</strong>nte da<br />

CONTAG.<br />

Em agosto <strong>de</strong> 1994 foi realizado o 1º Congresso Nacional Extraordinário dos<br />

Trabalhadores Rurais – CNETR. Neste congresso participaram a direção executiva da<br />

CONTAG, a direção efetiva das fe<strong>de</strong>rações e os <strong>de</strong>legados eleitos em número<br />

correspon<strong>de</strong>nte a 10% dos sindicatos filiados a cada fe<strong>de</strong>ração. Foi assegurad assegurada assegurad<br />

a a a<br />

participação participação das das diretoras diretoras da da CONTAG CONTAG, CONTAG , como <strong>de</strong>legadas <strong>de</strong>legadas, <strong>de</strong>legadas<br />

, e <strong>de</strong> duas duas trabalhadoras rurais rurais<br />

por por estados.<br />

estados.<br />

O 6º CNTR CNTR acontece em maio <strong>de</strong> 1995 explicitando a necessida<strong>de</strong> da classe trabalhadora<br />

rediscutir a sua prática <strong>de</strong> luta e <strong>de</strong> convivência <strong>de</strong>mocrática com as divergências. O 6º<br />

CNTR CNTR foi um marco, pois a partir daí o Movimento Sindical dos Trabalhadores e<br />

Trabalhadoras Rurais – MSTTR incorporou o conceito <strong>de</strong> agricultura agricultura familiar familiar às suas<br />

formulações, dando os passos iniciais para a construção <strong>de</strong> um projeto alternativo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento rural, a participação efetiva das mulheres na Diretoria da CONTAG e uma<br />

maior abertura para os jovens e as pessoas da 3ª ida<strong>de</strong>. No 6º CNTR também foi aprovada<br />

a a filiação filiação da da CONTAG CONTAG à à Central Central Única Única dos dos Trabalhadores Trabalhadores<br />

- CUT. CUT. Em 1995 foi oficializada<br />

estatutariamente a Comissão Comissão Nacional <strong>de</strong> Mulheres Mulheres Trabalhadoras Rurais Rurais, Rurais , cuja<br />

Coor<strong>de</strong>nadora passou a integrar a Diretoria da CONTAG. A Comissão Nacional <strong>de</strong> Mulheres<br />

Trabalhadoras Rurais – CNMTR elege a sua Coor<strong>de</strong>nadora Nacional, Margarida Margarida Mari Maria Mari<br />

a a<br />

Alves Alves da da da Silva Silva (Hilda) (Hilda) do STTR <strong>de</strong> Surubim/PE.<br />

Dois anos (1997) <strong>de</strong>pois foi realizada a 1ª Plenária Nacional <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Mulheres Mulheres Mulheres Trabalhadoras<br />

Trabalhadoras<br />

Rurais Rurais que discutiu as lutas específicas das mulheres e a sua relação com as lutas do<br />

conjunto da categoria.<br />

O 7º 7º Congre Congresso Congre<br />

sso representou um marco, em 1998 mais <strong>de</strong> 1.400 <strong>de</strong>legados e <strong>de</strong>legadas<br />

<strong>de</strong>bateram e aprovaram um Projeto Alternativo <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Sustentável –<br />

PADRS. Nascia o PADRS representando um passo significativo para a articulação e<br />

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unificação das lutas da categoria na esfera nacional e para o fortalecimento <strong>de</strong> um novo<br />

tipo <strong>de</strong> interseção campo e cida<strong>de</strong>.<br />

O projeto ampliou a visibilida<strong>de</strong> política das mulheres coor<strong>de</strong>nadas pela CNMTR CNMTR, CNMTR<br />

, que já<br />

haviam conquistado a inclusão da Coor<strong>de</strong>nação da Comissão Nacional no Estatuto da<br />

CONTAG. Incluíram mais um “T” no nome do congresso, que passou a ser 7º Congresso<br />

Nacional <strong>de</strong> Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR. CNTTR. Foi aprovada também a cota<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>, <strong>de</strong> , no mínimo mínimo, mínimo<br />

, 30% 30% <strong>de</strong> <strong>de</strong> mulheres mulheres em em todas todas as as instâncias instâncias do do sindicalismo sindicalismo rural. rural. Foi eleito<br />

como presi<strong>de</strong>nte Manoel José José dos dos Santos/PE.<br />

Neste Congresso os trabalhadores e trabalhadoras rurais aprovaram: o Projeto Alternativo Alternativo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Desenvolvimento Rural Rural Sustentável Sustentável - PADRS PADRS, PADRS<br />

, tendo por princípio a realização <strong>de</strong> uma<br />

ampla e massiva reforma agrária, expansão, valorização e fortalecimento da agricultura<br />

em regime <strong>de</strong> economia familiar, centrado na inclusão social, no <strong>de</strong>senvolvimento social,<br />

econômico, ecologicamente sustentável e no fim <strong>de</strong> todas as discriminações, em especial<br />

as <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> geração, raça e etnia. Para a implementação do Projeto Alternativo <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Rural Sustentável - PADRS <strong>de</strong>senvolveu-se um trabalho <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>ranças em <strong>de</strong>senvolvimento local, através do Programa <strong>de</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Desenvolvimento Local<br />

Local<br />

Sustentável Sustentável – PDLS PDLS, PDLS<br />

, voltado para a animação e estímulo a processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável ao nível local, possibilitando uma maior intervenção nas políticas públicas e<br />

nos Planos Municipais.<br />

Em outubro <strong>de</strong> 1999 foi realizado o 2º Congresso Extraordinário buscando atualizar e<br />

potencializar o MSTTR para o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> implementação do PADRS. o 2º CNETTR discutiu e<br />

<strong>de</strong>liberou especificamente sobre estrutura, organização, gestão e auto-sustentação do<br />

MSTTR. Este processo <strong>de</strong> avaliação e discussão interna tem possibilitado continuar na<br />

construção <strong>de</strong> um movimento sindical autônomo, combativo, ético e participativo.<br />

Em Março <strong>de</strong> 2001 acontece o 8º CNTTR , , on<strong>de</strong> o MSTTR reafirmou a estratégia <strong>de</strong><br />

continuida<strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e e o o avanço avanço no no processo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação implementação do do PADRS PADRS, PADRS , indicando a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação efetiva na organização da produção e comercialização. Foi criada<br />

a Comissão Nacional <strong>de</strong> Jovens Trabalhadoras e Trabalhadoras Rurais Rurais e a Coor<strong>de</strong>nadora<br />

da Comissão, Simone Battestin/ES foi eleita junto com a Direção Efetiva da CONTAG.<br />

Neste congresso foi <strong>de</strong>liberada a necessida<strong>de</strong> do MSTTR participar articuladamente das<br />

Eleições Eleitorais e <strong>de</strong> eleger representantes dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.<br />

Os Congressos da CONTAG garantiram o <strong>de</strong>bate, a socialização e a integração nacional<br />

das políticas do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – MSTTR.<br />

Ver anexo I sobre a trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG.<br />

Des<strong>de</strong> então, o Movimento Sindical <strong>de</strong> Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais vem<br />

aperfeiçoando suas proposições e ações em torno da construção e implementação do<br />

PADRS, se contrapondo aos padrões dos sucessivos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

implementados no Brasil. Mo<strong>de</strong>los estes, que embasados na preservação do latifúndio e<br />

na produção <strong>de</strong> monoculturas para exportação, fizeram aprofundar a exclusão social, o<br />

<strong>de</strong>semprego, a concentração da terra e renda, sendo responsáveis, também, pela<br />

violência no campo e pela alta <strong>de</strong>gradação ambiental. 31<br />

Como também, implementando e ajustando, permanentemente, o Projeto Alternativo <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Rural Sustentável - PADRS. Sua última atualização ocorreu no 9º<br />

Congresso Congresso Nacional Nacional da da CONTAG CONTAG, CONTAG , realizado em Brasília, no ano <strong>de</strong> 2005. Dentre os vários<br />

31 PORTO, Cleia Anice. “Reforma Agrária e Agricultura familiar como base para o <strong>de</strong>senvolvimento rural –<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, Reforma Agrária e Meio Ambiente, Instituto Socioambiental, 2003, p.107<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

ajustes, ressalta-se a reflexão sobre o princípio da SOLIDARIEDADE<br />

SOLIDARIEDADE. SOLIDARIEDADE<br />

Durante o 9º<br />

Congresso Congresso, Congresso as trabalhadoras e trabalhadores rurais enten<strong>de</strong>ram não ser possível se opor<br />

ao neoliberalismo sem implementar profundas mudanças nas relações sociais<br />

estabelecidas entre homens e mulheres, <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s, raças e etnias que vivem e<br />

trabalham no campo.<br />

Logo, a solidarieda<strong>de</strong> foi compreendida enquanto principal elemento para a construção <strong>de</strong><br />

relações fraternas entre a classe trabalhadora rural, na perspectiva <strong>de</strong> um mundo melhor.<br />

Nosso projeto passou a ser <strong>de</strong>nominado: Projeto Alternativo <strong>de</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Desenvolvimento RRural<br />

R ural<br />

Sustentável Sustentável e e Solidário Solidário – PADRSS.<br />

A construção do PADRSS foi a primeira iniciativa concreta <strong>de</strong> unificar as <strong>de</strong>mandas do<br />

campo, consi<strong>de</strong>rando as diferenças e especificida<strong>de</strong>s regionais, culturais, produtivas,<br />

ambientais, organizativas, <strong>de</strong> gênero, geração, raça e etnia. E ainda propõe alternativas<br />

específicas que consi<strong>de</strong>ram as <strong>de</strong>mandas das pessoas no âmbito das suas características<br />

produtivas, a exemplo das assalariadas e assalariados rurais, das agricultoras e<br />

agricultores familiares, assentados, acampados, meeiros, posseiros, extrativistas, <strong>de</strong>ntre<br />

outros.<br />

A incorporação das propostas do PADRSS no dia-a-dia do MSTTR estimulou profundas<br />

mudanças em nossas entida<strong>de</strong>s, garantindo um salto qualitativo e dinâmico às respostas<br />

necessárias ao atendimento das <strong>de</strong>mandas da base. A ampliação das frentes <strong>de</strong> lutas do<br />

MSTTR foi uma <strong>de</strong>las. Não bastava atuar nas questões trabalhistas, previ<strong>de</strong>nciárias, <strong>de</strong><br />

acesso à terra e crédito, sem articular essas lutas com outras políticas necessárias e<br />

estratégicas para garantir o <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável que se preten<strong>de</strong>.<br />

A ampliação das frentes <strong>de</strong> lutas acabou estimulando o MSTTR a expandir e qualificar<br />

suas direções. Foram criadas as secretarias específicas, primeiramente na CONTAG, em<br />

seguida nas Fe<strong>de</strong>rações, e em muitos Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores e Trabalhadoras<br />

Rurais.<br />

Essas mudanças apontaram para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investir investir na na formação política política, política<br />

, , sindical<br />

e e profissional profissional profissional <strong>de</strong> <strong>de</strong> novas novas li<strong>de</strong>ranças li<strong>de</strong>ranças sindicais sindicais e e técnicas técnicas do do MSTTR. MSTTR. Essas ações formativas<br />

<strong>de</strong>ram visibilida<strong>de</strong> a um público estratégico para as mudanças, a juventu<strong>de</strong> e as mulheres<br />

trabalhadoras rurais.<br />

Ainda hoje, esse processo formativo busca conjugar a a formação formação política política sindical sindical com as<br />

<strong>de</strong>mandas por melhoria das condições <strong>de</strong> trabalho, aumento da renda e dos salários,<br />

direitos trabalhistas e previ<strong>de</strong>nciários, elevação dos níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> formação e<br />

requalificação profissional, habitação rural, saneamento básico, saú<strong>de</strong> pública e <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>, educação do campo e lazer. 32 Conjugadas com as <strong>de</strong>mandas estruturantes do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável, como o acesso à terra, crédito, infra-estrutura social e<br />

produtiva, condições <strong>de</strong> comercialização, tecnologias <strong>de</strong> produção adaptada à agricultura<br />

familiar e aos ecossistemas.<br />

A estratégia do MSTTR se orientou pelo estímulo à participação política e à gestão<br />

<strong>de</strong>mocrática na comunida<strong>de</strong>, município, território ou região, levando os excluídos e<br />

marginalizados do campo a serem protagonistas <strong>de</strong> uma outra realida<strong>de</strong>, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

vista a articulação entre o local, o regional e o territorial com o global, o rural com o<br />

urbano, na perspectiva <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> justa, <strong>de</strong>mocrática, igualitária e solidária.<br />

Tal estratégia exige uma participação efetiva nos processos políticos e eleitorais, nos<br />

espaços <strong>de</strong> concepção e gestão <strong>de</strong> políticas públicas e, o permanente <strong>de</strong>bate com a<br />

32 Anais da 1ª Plenária Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – Novembro 2003<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

socieda<strong>de</strong> sobre a concepção <strong>de</strong> espaço rural e do <strong>de</strong>senvolvimento que propomos, tendo<br />

como um dos principais objetivos reverter o processo neoliberal e viabilizar políticas<br />

públicas necessárias à implementação do PADRSS.<br />

Não queremos dizer que o projeto vá resolver num passe <strong>de</strong> mágica os <strong>de</strong>safios históricos<br />

que estão postos para trabalhadores e trabalhadoras rurais brasileiras. Mas, sem dúvida,<br />

representa um salto qualitativo para nossa organização, mobilização, luta e ampliação das<br />

possibilida<strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> implementarmos e consolidarmos o PROJETO ALTERNATIVO<br />

ALTERNATIVO<br />

DE DE DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO RURAL RURAL SUSTENTAVEL SUSTENTAVEL E E SOLIDÁRIO SOLIDÁRIO – PADRSS.<br />

A Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura – CONTAG CONTAG, CONTAG<br />

, em<br />

seus 43 anos <strong>de</strong> existênci existência, existênci<br />

com o esforço e a participação <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> trabalhadores e<br />

trabalhadoras rurais, tem contribuído, <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>cisiva, para a construção <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> mais justa, <strong>de</strong>mocrática, igualitária e solidária em nosso País.<br />

Em sua história <strong>de</strong> luta, a CONTAG continua engajada na <strong>de</strong>fesa permanente dos<br />

interesses dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. É a maior entida<strong>de</strong> camponesa da<br />

América Latina organizada em 27 Fe<strong>de</strong>rações Estaduais <strong>de</strong> Trabalhadores na Agricultura e<br />

4.100 Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores Rurais. Essa organização se constitui no Movimento Movimento<br />

Sindical Sindical dos dos Trabalhadores Trabalhadores e e e Trabalhadoras Trabalhadoras Rurais Rurais - MSTTR MSTTR. MSTTR<br />

É essencial que tenhamos<br />

viva, unida e ativa essa gran<strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> representação construída ao longo <strong>de</strong>sses 43<br />

anos, em prol do bem - estar da representativida<strong>de</strong> dos trabalhadores e trabalhadoras<br />

rurais do nosso país.<br />

A A CONTAG CONTAG CONTAG foi foi fundada fundada no no no dia dia 22 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>de</strong> 1963 1963 em 01 Congresso Nacional. Des<strong>de</strong><br />

então, foram realizados mais 08 Congressos Nacionais <strong>de</strong> Trabalhadores e Trabalhadoras<br />

Rurais, 02 Congressos Nacionais Extraordinários <strong>de</strong> Trabalhadores e Trabalhadoras<br />

Rurais, 01 Plenária Nacional <strong>de</strong> Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, 03 Plenárias<br />

Nacionais <strong>de</strong> Mulheres Trabalhadoras Rurais, 01 Congresso Nacional da Terceira Ida<strong>de</strong>,<br />

03 Encontros Nacionais <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong>.<br />

A CONTAG nestes 43 anos se engajou nas principais lutas do povo brasileiro: contra a a<br />

ditadura ditadura militar militar, militar pela anistia política, pela convocação da Assembléia Nacional<br />

Constituinte, por eleições diretas para presi<strong>de</strong>nte e governadores, no Movimento “Diretas<br />

Já”, na Constituinte <strong>de</strong> 1988 e foi participante do Comitê em Defesa da Ética na Política<br />

que levou ao “Impeachment” o presi<strong>de</strong>nte Fernando Collor <strong>de</strong> Mello.<br />

Os Congressos da CONTAG adquiriram cada vez maior importância política e capacida<strong>de</strong><br />

no aprofundamento das questões <strong>de</strong> interesse da categoria.<br />

A história da CONTAG é marcada também por ações <strong>de</strong> massa em <strong>de</strong>fesa dos interesses<br />

da categoria. A partir <strong>de</strong> 1995, o MSTTR passou a se mobilizar anualmente no “Grito da<br />

Terra Terra Brasil” Brasil” - nacional, estaduais e municipais - que hoje é consi<strong>de</strong>rado como a “data- “data<br />

base” base” base” para para a a categoria categoria trabalhadora trabalhadora rural rural, rural , marcada pela mobilização, proposição,<br />

reivindicação e negociação das políticas essenciais para o meio rural.<br />

A Marcha Marcha das Margaridas é outra ação <strong>de</strong> massa importante no contexto do MSTTR, em<br />

sua primeira edição mobilizou milhares <strong>de</strong> trabalhadoras rurais dos municípios, estados e<br />

regiões, contando também com a a<strong>de</strong>são das trabalhadoras urbanas. Foi<br />

reconhecidamente, a maior mobilização nacional <strong>de</strong> mulheres já realizada na história do<br />

país. Os principais objetivos da Marcha, foram o fortalecimento das organizações e<br />

comissões <strong>de</strong> mulheres nos STTRs, Pólos/Regionais, FETAGs, CONTAG, e principalmente a<br />

inclusão e organização das mulheres trabalhadoras <strong>de</strong> base; dar visibilida<strong>de</strong> e<br />

reconhecimento ao papel político, econômico, social e cultural das mulheres trabalhadoras<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

rurais no Movimento Sindical <strong>de</strong> Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – MSTTR e na<br />

socieda<strong>de</strong>. A próxima Marcha das Margaridas acontecerá em agosto <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

A CONTAG procurou se estruturar como uma entida<strong>de</strong> legítima <strong>de</strong> <strong>de</strong> representação representação dos<br />

dos<br />

trabalhadores trabalhadores e e trabalhadoras trabalhadoras rurais rurais em <strong>de</strong>fesa dos interesses da classe camponesa,<br />

contribuindo para a ampliação e o fortalecimento da organização e representação sindical<br />

no meio rural: reivindicando, mobilizando, propondo e negociando políticas agrícolas<br />

diferenciadas, direitos trabalhistas e políticas sociais que resgatam a área rural enquanto<br />

espaço <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> luta, <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimentos capazes <strong>de</strong><br />

promover as transformações necessárias para um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável em nosso<br />

país.<br />

Nossa trajetória é fruto <strong>de</strong> organização, trabalho, articulação e mobilização dos Sindicatos<br />

e e Fe<strong>de</strong>rações Fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> <strong>de</strong> Trabalhadores Trabalhadores e e Trabalhadoras Trabalhadoras Rurais Rurais<br />

que, em cada município e estado,<br />

vêm, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação da CONTAG construindo o MSTTR.<br />

1ª Eleição da<br />

CONTAG<br />

2ª Eleição da<br />

CONTAG<br />

3ª Eleição da<br />

CONTAG<br />

4ª Eleição da<br />

CONTAG<br />

ANEXO NEXO I<br />

Trajetória Trajetória das das Eleições Eleições e e Congressos Congressos Nacionais Nacionais da da CONTAG<br />

CONTAG<br />

Em Congresso participativo, <strong>de</strong>mocrático e <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> estratégias comuns,<br />

as organizações que atuam no campo criam a Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos<br />

Trabalhadores na Agricultura – CONTAG. O congresso contou com a participação <strong>de</strong><br />

29 fe<strong>de</strong>rações, <strong>de</strong> 18 estados. Ao final, foi eleita a primeira Direção Executiva:<br />

Lyndolpho Silva/RJ, Sebastião Lourenço <strong>de</strong> Lima/MG, e Nestor Vera/SP.<br />

Com o golpe militar, a direção da CONTAG foi <strong>de</strong>posta e alguns dirigentes presos.<br />

Uma Junta Governativa foi indicada pelo Ministério do Trabalho e, no ano seguinte<br />

foi eleita para o período <strong>de</strong> 1965 a 1968 a diretoria composta por: José Rotta/SP;<br />

Eucli<strong>de</strong>s A. do Nascimento/PE; Joaquim B. Sobrinho/PA; João <strong>de</strong> A. Cavalcante/PA;<br />

José Lazaro/PR; Nobor Bito/; Agostinho J. Neto/RJ; Joaquim Damasceno/RN e<br />

Antonio J. <strong>de</strong> Faria/RJ. Para o Conselho Fiscal, foram escolhidos: Jose Felix<br />

Neto/SE; José Palhares/RN e João Jordão da Silva/PE.<br />

Em 1968, as eleições contaram com duas chapas. Uma encabeçada por José<br />

Rotta, que representava a influência do Ministério do Trabalho e, a outra chapa por<br />

José Francisco, contando com o apoio <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s sindicais urbanas e da base do<br />

movimento sindical <strong>de</strong> trabalhadores rurais.<br />

A eleição ocorreu na reunião do Conselho Deliberativo da CONTAG, on<strong>de</strong> apenas 11<br />

Fe<strong>de</strong>rações votavam. Por apenas 01 voto <strong>de</strong> diferença, a chapa encabeçada por<br />

José Francisco saiu vitoriosa. Foram eleitos para o mandato <strong>de</strong> 1968/1971: José<br />

Francisco/PE; José Felix Neto/SE; Joaquim A. Damasceno/RN; José Ari Griebler/RS;<br />

Geraldo F. Miqueletti/PR; João <strong>de</strong> A. Cavalcante/PB; Agostinho José Neto/RJ; José<br />

Benedito da Silva/AL e Otavio F. Gomes/CE. O Conselho Fiscal: Joaquim<br />

Coutinho/RN; Tarciso G. Men<strong>de</strong>s/CE e Manoel P. da S. Filho/PB.<br />

Em março <strong>de</strong> 1971, ocorreu a Reunião do Conselho Deliberativo que escolheu a<br />

Diretoria da CONTAG para o triênio 1971/1974, composta pelos diretores efetivos:<br />

José Francisco/PE; Otávio F. Gomes/CE; Francisco Urbano <strong>de</strong> A. Filho/RN; Zacarias<br />

Pedro/SC; Acácio F. dos Santos/RJ; Agenor P. Machado/SP e José Felix Neto/SE.<br />

2º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR, a classe trabalhadora faz valer sua vonta<strong>de</strong>.<br />

O congresso <strong>de</strong>liberou sobre: Legislação Rural, Educação, Previdência, Reforma Agrária e<br />

Desenvolvimento Agrícola. No encerramento, o presi<strong>de</strong>nte da CONTAG enfatizou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cumprimento do Estatuto da Terra para: “estabelecer um sistema <strong>de</strong> relações entre o homem, a<br />

proprieda<strong>de</strong> rural e o uso da terra, capaz <strong>de</strong> promover a Justiça Social, o progresso e o bem-estar do<br />

trabalhador rural e o <strong>de</strong>senvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e do<br />

latifúndio”.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

5ª Eleição da CONTAG<br />

Trajetória Trajetória das das Eleições Eleições e e Congressos Congressos Nacionais Nacionais da da CONTAG<br />

CONTAG<br />

Em março <strong>de</strong> 1974, o Conselho <strong>de</strong> Representantes da CONTAG elegeu a<br />

nova diretoria para o triênio 1974/1977. A Diretoria Efetiva foi composta<br />

por: José Francisco da Silva/PE; Octavio Adriano Klafke/RS; Paulo F.<br />

Trinda<strong>de</strong>/ES; Jonas P. <strong>de</strong> Souza/MT; Francisco Urbano A. Filho/RN; José<br />

Felix/SE; Leocadio N. <strong>de</strong> Oliveira; Acácio F. dos Santos/RJ e José B. da<br />

Silva/AL. O Conselho Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz; Eucli<strong>de</strong>s D.<br />

Canalle e João Tavares da Silva.<br />

6ª Eleição da CONTAG Em maio <strong>de</strong> 1977, foi empossada a Direção para o triênio 1977/1980. A<br />

Diretoria Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Roberto T.<br />

Horiguti/SP; Paulo F. Trinda<strong>de</strong>; Orgenio Rott/RS; Francisco Urbano A.<br />

Filho/RN; José Felix/SE; Henrique Gomes Vilanova/PI; Acácio F. dos<br />

Santos/RJ e José B. da Silva/AL. O Conselho Fiscal foi composto por: Álvaro<br />

Diniz; Eucli<strong>de</strong>s D. Canalle e Jonas P. <strong>de</strong> Souza.<br />

3º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – CNTR – “Um marco na História da classe<br />

trabalhadora rural”.<br />

7ª Eleição da CONTAG<br />

Em abril <strong>de</strong> 1980, foi empossada a direção para triênio 1980/1983. A<br />

Diretoria Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Roberto T.<br />

Horiguti/SP; André Montalvão/MG; José B. da Silva/AL; Gelindo Zulmiro<br />

Ferri/RS; Jonas P. <strong>de</strong> Souza/MT; Eraldo Lírio <strong>de</strong> Azevedo/RJ; Francisco<br />

Urbano A. Filho/RN e Henrique Gomes Vilanova/PI. O Conselho Fiscal foi<br />

composto por: Álvaro Diniz; João F. <strong>de</strong> Souza e Norberto Kortmann<br />

8ª Eleição da CONTAG Em abril <strong>de</strong> 1983, foi empossada a direção para o triênio 1983/1986. A<br />

Direção Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Roberto T.<br />

Horiguti/SP; André Montalvão/MG; Estevam N. <strong>de</strong> Almeida/BA; Gelindo<br />

Zulmiro Ferri/RS; Jonas P. <strong>de</strong> Souza/MT; Eraldo Lírio <strong>de</strong> Azevedo/RJ;<br />

Francisco Urbano A. Filho/RN e Osmar Araújo/PI. O Conselho Fiscal foi<br />

composto por: Álvaro Diniz; João F. <strong>de</strong> Souza e Norberto Kortmann.<br />

4º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR, “Reforma Agrária para acabar com a fome e o<br />

<strong>de</strong>semprego no campo e na cida<strong>de</strong>”. “a <strong>de</strong>mocratização da terra é a base para a <strong>de</strong>mocracia no Brasil”.<br />

9ª Eleição da CONTAG<br />

“1ª Eleição da história da<br />

CONTAG em Congresso”<br />

10ª Eleição da CONTAG<br />

“Eleição da CONTAG <strong>de</strong><br />

1989 não ocorreu em<br />

Congresso”.<br />

A Direção Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Ezidio V.<br />

Pinheiro/RS; Divino Goulart/GO; Francisco Sales/MA; André Montalvão/MG;<br />

Jonas P. <strong>de</strong> Souza/MT; Elio Neves/SP; Eraldo Lírio <strong>de</strong> Azevedo/RJ; Francisco<br />

Urbano A. Filho/RN; Aloísio Carneiro/BA; Pedro Ramalho/MS e José Ama<strong>de</strong>u<br />

Araújo/CE. O Conselho Fiscal foi composto por: Henrique Gomes Vilanova;<br />

João F. <strong>de</strong> Souza e Norberto Kortmann.<br />

A Diretoria Efetiva eleita era composta por: Aloísio Carneiro/BA; José<br />

Francisco da Silva/PE; José Ama<strong>de</strong>u Araújo/CE; Antenor Beni/PR; Erny<br />

Knortst/RS; André Montalvão/MG; Norberto Kortmann/SC; Vidor Jorge<br />

Faita/SP; Francisco Sales/MA; Francisco Urbano A. Filho/RN; Pedro<br />

Ramalho/MS e A<strong>de</strong>vair N. <strong>de</strong> Carvalho/ES. O Conselho Fiscal foi composto<br />

por: Jonas P. <strong>de</strong> Souza; Eraldo Lírio <strong>de</strong> Azevedo e Henrique Gomes<br />

Vilanova.Nessa eleição foi eleita a primeira mulher, a sergipana Gedalva <strong>de</strong><br />

Carvalho, enquanto suplente da direção da entida<strong>de</strong>. As mulheres<br />

conquistam a Comissão Nacional Provisória da Trabalhadora Rural, que<br />

apesar <strong>de</strong> subordinada à presidência da entida<strong>de</strong>, dava os primeiros passos<br />

para consolidar a organização das mulheres trabalhadoras rurais.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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11ª Eleição da CONTAG<br />

Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Trajetória Trajetória das das Eleições Eleições e e Congressos Congressos Nacionais Nacionais da da CONTAG<br />

CONTAG<br />

5º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – CNTR. “TERRA,<br />

PRODUÇÃO, SALÁRIO”.<br />

“apesar das tentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarticulação das organizações sociais<br />

promovidas pelo governo, o MSTR reuniu mais <strong>de</strong> dois mil <strong>de</strong>legados (as) <strong>de</strong><br />

todo o país, para rediscutir e re<strong>de</strong>finir suas lutas”.<br />

A Direção Efetiva eleita era composta por: Francisco Urbano A. Filho/RN;<br />

Aloísio Carneiro/BA; José Francisco da Silva/PE; Juarez L. Pereira/MG;<br />

Tereza Silva/MG; Hilário Gottselig/SC; José Fialho/MS; Itálico Cielo/RS; José<br />

Raimundo <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>/PB e Francisco Sales/MA. Conselho Fiscal: Antonio<br />

Zarantonello; Wilson Paixão e Osmar Araújo.<br />

1º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais – CNETR<br />

“... não po<strong>de</strong>mos sacrificar a nossa intervenção nos processos eleitorais gerais que o país viverá,<br />

convocando um congresso massivo em Brasília. As eleições <strong>de</strong> agora terão a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

construir o amanhã...”.<br />

Constatando que o próximo congresso aconteceria na segunda quinzena <strong>de</strong> novembro, no mesmo<br />

período em que ocorreriam as eleições gerais <strong>de</strong> 1994, o Conselho Deliberativo aprovou a realização <strong>de</strong><br />

um Congresso Extraordinário, em Brasília, em agosto <strong>de</strong> 1994. O Congresso Extraordinário foi<br />

coor<strong>de</strong>nado pelo Presi<strong>de</strong>nte em exercício, Aloísio Carneiro. Francisco Urbano estava licenciado para<br />

concorrer a uma vaga para o Senado Fe<strong>de</strong>ral, pelo Rio Gran<strong>de</strong> do Norte<br />

12ª Eleição da CONTAG<br />

13ª Eleição da CONTAG<br />

6º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – CNTR. “Nem fome, nem<br />

miséria. O campo é a solução”.<br />

A direção eleita teve a seguinte composição: Diretoria Efetiva: Francisco<br />

Urbano A. Filho/RN; Avelino Ganzer/PA; Gerônimo Brumatti/ES; Francisco<br />

Miguel <strong>de</strong> Lucena/CE; Maria Santiago <strong>de</strong> Lima/RO; Hilário Gottselig/SC;<br />

Norival Guadaghin/SP; Francisco Sales/MA; Alberto Ercílio Broch/RS;<br />

Guilherme Pedro Neto/GO; Airton Luiz Faleiro/PA e Sebastião Rocha/MG.<br />

Conselho Fiscal: Antonio Zarantonello; Divino Goulart e Almir José Feliciano.<br />

7º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR.<br />

“Rumo a um Projeto Alternativo <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Sustentável”.<br />

A partir do 7º – CNTTR, passou a ter três dirigentes na direção efetiva da<br />

CONTAG. As novas diretoras ocuparam a Coor<strong>de</strong>nação da CNMTR e as<br />

Secretarias <strong>de</strong> Políticas Sociais e a Secretaria <strong>de</strong> Organização e Formação<br />

Sindical.<br />

<strong>de</strong> Fátima R. da Silva/PI e Raimunda Celestina <strong>de</strong> Mascena/CE. Conselho<br />

Fiscal: José Roberto <strong>de</strong> Assis; Antonio Zarantonello e Maira Bottega.<br />

Trajetória Trajetória das das Eleições Eleições e e Congressos Congressos Nacionais Nacionais da da CONTAG<br />

CONTAG<br />

2º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNETTR<br />

“A priorida<strong>de</strong> será a discussão na base, os trabalhadores e trabalhadoras rurais <strong>de</strong>verão <strong>de</strong>terminar<br />

qual o tipo <strong>de</strong> sindicalismo que irá representá-los no próximo milênio”.<br />

14ª Eleição da CONTAG 8º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR.<br />

“Avançar na Construção do Projeto Alternativo <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural<br />

Sustentável”.<br />

“entre tantas <strong>de</strong>liberações, vale <strong>de</strong>stacar a criação da Comissão Nacional<br />

da Juventu<strong>de</strong> Trabalhadora Rural e da estrutura cooperativista ligada ao<br />

MSTTR, é o futuro sendo construído hoje”<br />

Duas chapas concorreram à eleição da direção da CONTAG. Uma chapa<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

encabeçada por Manoel <strong>de</strong> Serra e, outra, encabeçada pelo baiano Edson<br />

Pimenta.<br />

A direção eleita teve a seguinte composição: Diretoria Efetiva: Manoel José<br />

dos Santos/PE; Alberto Ercílio Broch/RS; Manoel Candido da Costa/RN;<br />

Hilário Gottselig/SC; Maria do Ó do Nascimento/AL; Juraci Moreira<br />

Souto/MG; José <strong>de</strong> Jesus Santana/BA; Airton Faleiro/PA; Guilherme Pedro<br />

Neto/GO; Maria da Graça Amorim/MA; Francisco Miguel <strong>de</strong> Lucena/CE;<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima R. da Silva/PI; Raimunda Celestina <strong>de</strong> Mascena/CE e<br />

Simone Battestin/ES. Conselho Fiscal: Francisco Sales, Gilson Francisco da<br />

Silva e Maria Helena Baungarten.<br />

15ª Eleição da CONTAG 33 9º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR.<br />

“Consolidando o Projeto Alternativo <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Sustentável”.<br />

A direção eleita teve a seguinte composição: Diretoria Efetiva: Manoel José<br />

dos Santos /PE; Alberto Ercílio Broch/RS; Manoel Cândido da Costa/RN;<br />

David Wilkerson Rodrigues/BA; Regina Rodrigues <strong>de</strong> Freitas/AC; Juraci<br />

Moreira Souto/MG; Pedro Mário Ribeiro/MG; Antoninho Rovaris/SC; Paulo<br />

<strong>de</strong> Tarso Caralo/ES; Alessandra da Costa Lunas/RO; Antonio Lucas<br />

Filho/GO; Raimunda Celestina <strong>de</strong> Mascena/CE; Carmem Helena Ferreira<br />

Foro/PA; Maria Elenice Anastácio/RN. Conselho Fiscal: Francisco Sales <strong>de</strong><br />

Oliveira/MA; A<strong>de</strong>mir Mueller/PR e Elizete Hintz/RS.<br />

Suplentes: Joel José Farias/SE; Simone Battestin/ES; Antonio Soares<br />

Guimarães/CE; Maria Lucinete Nicácia <strong>de</strong> Lima/AM; Maria José <strong>de</strong><br />

Carvalho/PE; Liberalino Ferreira <strong>de</strong> Lucena/PB; Wilson Hermuth<br />

Gottens/GO; Domingos Albuquerque Paz/MA; Cláudia Pereira Farinha/DF;<br />

Maria da Glória da Silva/MT; Maria do Ó do Nascimento Melo/AL; Josefa<br />

Rita da Silva/BA; Manoel Carlos Dantas/RO; Paulo César Ventura<br />

Mendonça/RJ;<br />

Suplentes do Conselho Fiscal: Maria das Graças Darós/SC; Geraldo Teixeira<br />

<strong>de</strong> Almeida/MS e Antonio Vitorino da Silva/AL.<br />

33 Fonte: Ata <strong>de</strong> Posse da Diretoria e do Conselho Fiscal da Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na<br />

Agricultura – CONTAG, para o quadriênio 2005/2009<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Bibliografia:<br />

Bibliografia:<br />

Bibliografia:<br />

Anais do 4º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - 1985<br />

Anais do 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – 1991<br />

Anais do 1º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais - 1994<br />

Anais do 6º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – 1995<br />

Anais do 7º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – 1998<br />

Anais do 2º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais - 1999<br />

Anais do 8º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – 2001<br />

Anais da 1ª Plenária Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais –<br />

Novembro 2003<br />

Anais do 9º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – 2005<br />

Publicação – Revista <strong>Contag</strong> - 40 anos<br />

Ata <strong>de</strong> Posse da Diretoria e Conselho Fiscal da Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos<br />

Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, para o quadriênio 2005/2009.<br />

Manfredi, Sílvia Maria – Formação sindical no Brasil : história <strong>de</strong> uma prática<br />

cultural / Silvia Maria Manfredi – São Paulo : Escrituras Editora, 1996.<br />

Sindicalismo – Brasil – História 2. Sindicatos – Brasil – História I. Título<br />

PORTO, Cleia Anice. “Reforma Agrária e Agricultura familiar como base para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento rural – Sustentabilida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, Reforma Agrária e<br />

Meio Ambiente, Instituto Socioambiental, 2003, p.107<br />

O Golpe Militar <strong>de</strong> 64 e a Instauração do Regime Militar – CPDOC – Fundação<br />

Getúlio Vargas – FGV.<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

HISTÓRICO HISTÓRICO DA DA CUT CUT NACIONAL<br />

NACIONAL<br />

2º Módulo Regional Sul<br />

São José (SC), <strong>de</strong> 07 a 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2007</strong>.<br />

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Fonte: www.cut.org.br<br />

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é uma organização sindical <strong>de</strong> massas em nível<br />

máximo, <strong>de</strong> caráter classista, autônomo e <strong>de</strong>mocrático, a<strong>de</strong>pta da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

organização e <strong>de</strong> expressão e guiada por preceitos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, tanto no âmbito<br />

nacional, como internacional. A CUT foi fundada em 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1983, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Bernardo do Campo, no estado <strong>de</strong> São Paulo, no 1º Congresso Nacional da Classe<br />

Trabalhadora.<br />

O O QUE QUEREMOS?<br />

A <strong>de</strong>fesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora, melhores condições<br />

<strong>de</strong> vida e trabalho e o engajamento no processo <strong>de</strong> transformação da socieda<strong>de</strong> brasileira<br />

em direção à <strong>de</strong>mocracia e ao socialismo.<br />

Organizar, representar sindicalmente e dirigir numa perspectiva classista a luta dos<br />

trabalhadores brasileiros da cida<strong>de</strong> e do campo, do setor público e privado, dos ativos e<br />

inativos.<br />

NOSSOS NOSSOS PRINCÍPIOS<br />

PRINCÍPIOS<br />

Defen<strong>de</strong>r que os trabalhadores se organizem com total in<strong>de</strong>pendência frente ao<br />

Estado e autonomia em relação aos partidos políticos, e que <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>cidir<br />

livremente suas formas <strong>de</strong> organização, filiação e sustentação material;<br />

Garantir a mais ampla <strong>de</strong>mocracia em todos os seus organismos e instâncias,<br />

assegurando completa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão aos seus filiados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não<br />

firam as <strong>de</strong>cisões majoritárias e soberanas tomadas pelas instâncias superiores e<br />

seja garantida a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação;<br />

Desenvolver sua atuação <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do estado, do governo e do<br />

patronato, e <strong>de</strong> forma autônoma em relação aos partidos e agrupamentos políticos,<br />

aos credos e às instituições religiosas e a quaisquer organismos <strong>de</strong> caráter<br />

programático ou institucional;<br />

Consi<strong>de</strong>ra que a classe trabalhadora tem na unida<strong>de</strong> um dos pilares básicos que<br />

sustentarão suas lutas e suas conquistas. Defen<strong>de</strong> que esta unida<strong>de</strong> seja fruto da<br />

vonta<strong>de</strong> e da consciência política dos trabalhadores da cida<strong>de</strong> e do campo;<br />

Solidarieda<strong>de</strong> com todos os movimentos da classe trabalhadora, em qualquer parte<br />

do mundo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os objetivos e princípios <strong>de</strong>sses movimentos não firam os<br />

princípios da CUT. Defen<strong>de</strong>rá a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação e manterá relações com o<br />

movimento sindical internacional, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja assegurada a liberda<strong>de</strong> e<br />

autonomia <strong>de</strong> cada organização.<br />

NOSSO NOSSO COMPROMISSO<br />

COMPROMISSO


Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG<br />

Desenvolver, organizar e apoiar todas as ações que visem a conquista <strong>de</strong> melhores<br />

condições <strong>de</strong> vida e trabalho para o conjunto da classe trabalhadora da cida<strong>de</strong> e do<br />

campo;<br />

Lutar para a superação da estrutura sindical coorporativa vigente, <strong>de</strong>senvolvendo<br />

todos os esforços para a implantação <strong>de</strong> sua organização sindical baseada na<br />

liberda<strong>de</strong> e autonomia sindical;<br />

Lutar pelo contrato coletivo <strong>de</strong> trabalho, nos níveis geral da classe trabalhadora e<br />

específico, por ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> profissional, por setores, etc.;<br />

Apoiar as lutas concretas do movimento popular da cida<strong>de</strong> e do campo,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo uma relação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> e autonomia <strong>de</strong> acordo com os princípios<br />

básicos da Central;<br />

Defen<strong>de</strong>r e lutar pela ampliação das liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas como garantia dos<br />

direitos e conquistas dos trabalhadores e <strong>de</strong> suas organizações;<br />

Construir a unida<strong>de</strong> da classe trabalhadora baseada na vonta<strong>de</strong>, na consciência e<br />

na ação concreta;<br />

Promover a solidarieda<strong>de</strong> entre os trabalhadores, <strong>de</strong>senvolvendo e fortalecendo a<br />

consciência da classe, em nível nacional e internacional;<br />

Defen<strong>de</strong>r o direito da organização nos locais <strong>de</strong> trabalho, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das<br />

organizações sindicais, através das comissões unitárias, com o objetivo <strong>de</strong><br />

representar o conjunto dos trabalhadores e dos seus interesses;<br />

Lutar pela emancipação dos trabalhadores como obra dos próprios trabalhadores,<br />

tendo como perspectiva a construção da socieda<strong>de</strong> socialista.<br />

QUEM QUEM QUEM REPRESENTAMOS?<br />

REPRESENTAMOS?<br />

A CUT é a maior central sindical da América Latina e a 5.ª maior do mundo, estando<br />

presente em todos os ramos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica. Segundo os dados <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

2004 somava:<br />

3326 - Entida<strong>de</strong>s Filiadas<br />

7.468.855 - Trabalhadoras e Trabalhadores Associados<br />

22.487.987 - Trabalhadoras e Trabalhadores na Base<br />

A CUT se organiza em dois níveis:<br />

NOSSA NOSSA ORGANIZAÇÃO<br />

ORGANIZAÇÃO<br />

Organização Organização Vertical Vertical: Vertical<br />

Parte dos locais <strong>de</strong> trabalho, buscando aglutinar as ativida<strong>de</strong>s afins<br />

em suas formas organizativas, <strong>de</strong>la fazem parte as organizações sindicais <strong>de</strong> base, as<br />

entida<strong>de</strong>s sindicais por ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica e as fe<strong>de</strong>rações e confe<strong>de</strong>rações,<br />

também por ramo ativida<strong>de</strong> econômica.<br />

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Organização Organização Horizontal Horizontal: Horizontal Tem por objetivo construir a unida<strong>de</strong> dos trabalhadores<br />

promovendo sua organização intercategoria profissional enquanto classe em âmbito<br />

regional, estadual e nacional. Além da estrutura nacional, a CUT está organizada em todos<br />

os 26 estados e no Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />

INSTÂNCIAS INSTÂNCIAS INSTÂNCIAS DE DE DELIBERAÇÃO DELIBERAÇÃO E E ÓRGÃOS ÓRGÃOS DE DE APOIO<br />

APOIO<br />

O Congresso e a Plenária Nacional são os órgãos máximos <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação da Central. O<br />

Congresso Nacional é realizado a cada três anos, quando é eleita a Executiva Nacional<br />

composta por 25 membros efetivos e 7 suplentes . A Direção Nacional é composta pela<br />

Executiva Nacional e mais 83 membros efetivos representando as estaduais da CUT e a<br />

Estrutura Vertical, escolhidos conforme o estatuto da Central.<br />

Para cumprir eficazmente os seus objetivos e as <strong>de</strong>liberações, a CUT tem uma estrutura<br />

interna complexa com funções vinculadas a Administração, Comunicação, Formação,<br />

Políticas Sociais, Política Sindical, Mulher Trabalhadora, Relações Internacionais e<br />

Organização. Conta ainda com comissões sobre a Amazônia, Meio Ambiente e Combate a<br />

Discriminação Racial.<br />

Os organismos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas específicas e assessoria são:<br />

• Agência <strong>de</strong> Desenvolvimento Solidário (ADS)<br />

• Observatório Social,<br />

• Instituto Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Trabalho (INST)<br />

• Departamento <strong>de</strong> Estudos Sócio-Econômicos e Políticos (DESEP).<br />

Tem ainda sete escolas sindicais:<br />

• Escola Sul (Florianópolis-SC)<br />

• Escola São Paulo<br />

• Escola 7 <strong>de</strong> Outubro (Belo Horizonte- MG)<br />

• Escola Amazônia (Belém-PA)<br />

• Escola Chico Men<strong>de</strong>s (Porto Velho-RO)<br />

• Escola Centro-Oeste (Goiânia-GO)<br />

• Escola Sindical da CUT no Nor<strong>de</strong>ste Marise Paiva <strong>de</strong> Moraes (Recife-PE).<br />

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POTENCIAL POTENCIAL E E LIMITE LIMITE DAS DAS DISPUTAS DISPUTAS POLÍTICAS: POLÍTICAS:<br />

POLÍTICAS:<br />

PONTOS PONTOS PARA PARA REFLEXÃO<br />

REFLEXÃO<br />

Sara Sara Pimenta Pimenta e e Domingos Domingos Corcione Corcione Corcione - Agosto <strong>de</strong> 2006<br />

Dirigentes e li<strong>de</strong>ranças sindicais constroem projetos políticos ou se i<strong>de</strong>ntificam com um<br />

entre aqueles já existentes, assumindo sua <strong>de</strong>fesa no cotidiano da vida sindical.<br />

É comum a existência <strong>de</strong> projetos diferenciados em suas origens e concepções políticoi<strong>de</strong>ológicas.<br />

Isso re<strong>sul</strong>ta em disputas pela predominância e hegemonia <strong>de</strong> um sobre o<br />

outro.<br />

As disputas políticas não se limitam aos antagonismos entre trabalhadores e classes<br />

dominantes, mas têm lugar no interior do próprio Movimento Sindical e entre este e outros<br />

movimentos e organizações populares. Em muitos casos as disputas internas se tornam<br />

<strong>de</strong> tal forma acirradas que geram rupturas e levam à criação <strong>de</strong> novas entida<strong>de</strong>s e<br />

movimentos. Mas há disputas “menores” - não menos importantes - que caracterizam o<br />

cotidiano do MSTTR: disputas <strong>de</strong> idéias, <strong>de</strong> espaços, <strong>de</strong> reconhecimento, <strong>de</strong> protagonismo<br />

e li<strong>de</strong>rança. Afinal, disputas permanentes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

A A dimensão dimensão positiva positiva das das disputas disputas políticas<br />

políticas<br />

As disputas po<strong>de</strong>m ser vistas como elementos que integram a dinâmica política do MSTTR,<br />

em sua dimensão positiva e construtiva, favorecendo a qualificação dos projetos políticos<br />

e a aquisição - pelos dirigentes e li<strong>de</strong>ranças - <strong>de</strong> maior habilida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> suas<br />

posições.<br />

A pluralida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica e <strong>de</strong> posicionamento político confere um novo dinamismo à luta<br />

sindical e aos processos <strong>de</strong> mudança, pois po<strong>de</strong> sinalizar o surgimento e a consolidação<br />

<strong>de</strong> novas práticas. As posições são <strong>de</strong>marcadas <strong>de</strong> modo a assegurar os interesses<br />

relacionados com o projeto <strong>de</strong>fendido, colocando em <strong>de</strong>staque pontos divergentes,<br />

conferindo maior clareza às idéias e facilitando a comunicação.<br />

Idéias, posições e projetos, quando em disputa, ganham maior relevância, são<br />

apresentados e <strong>de</strong>fendidos na perspectiva <strong>de</strong> fazerem a<strong>de</strong>ptos e construírem sua<br />

hegemonia.<br />

Todo esse processo promove fortes motivações para se avançar com maior garra,<br />

perseguindo as estratégias necessárias para vencer as posições antagônicas ou<br />

diferenciadas e conquistar novos espaços <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Práticas Práticas a a serem serem transformadas<br />

transformadas<br />

Apesar dos aspectos positivos acima ressaltados, é preciso reconhecer que no campo das<br />

disputas políticas ainda persistem posturas e atitu<strong>de</strong>s equivocadas, que ferem a ética e<br />

acabam por comprometer o avanço da organização sindical e a construção <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong><br />

mudança social, tais como:<br />

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Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer o outro como um legítimo interlocutor e <strong>de</strong> construir<br />

um diálogo aberto, que implica, sobretudo, na escuta atenta das posições ou<br />

correntes adversárias.<br />

Utilização <strong>de</strong> palavras e gestos ofensivos, que acabam por incorrer em<br />

<strong>de</strong>srespeito pessoal com quem esteja representando posições políticas<br />

diferenciadas ou adversárias.<br />

Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e reconhecer valores e aspectos positivos nas idéias,<br />

posicionamentos e pessoas que estejam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo posições ou projetos<br />

diferenciados. Forte tendência a distorcer o que se vê e se ouve e a evi<strong>de</strong>nciar<br />

somente aquilo que se consi<strong>de</strong>ra equivocado, contraditório e incorreto no lado<br />

adversário.<br />

Tendência a forjar oportunida<strong>de</strong>s para <strong>de</strong>negrir a imagem da posição adversária<br />

e – em certos casos – humilhar e <strong>de</strong>squalificar as pessoas que a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m.<br />

A A formação formação como como espaço espaço estratégico estratégico para para a a construção construção <strong>de</strong> <strong>de</strong> novas novas práticas<br />

práticas<br />

As disputas, tão comuns no cotidiano sindical, acontecem também nos “espaços <strong>de</strong><br />

formação programada”, como Seminários, Oficinas ou Encontros <strong>de</strong> caráter formativo,<br />

voltados para o estudo, para a reflexão mais aprofundada ou a capacitação. Nesses<br />

espaços, mesmo entre pessoas <strong>de</strong> uma mesma corrente político-i<strong>de</strong>ológica, ocorrem<br />

<strong>de</strong>bates, mais ou menos acirrados, que reproduzem posturas positivas ou equivocadas,<br />

como aquelas anteriormente citadas.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação têm uma importância primordial na vida sindical. Sem formação<br />

não há como qualificar a luta. Um <strong>curso</strong> <strong>de</strong> formação, um seminário ou uma oficina po<strong>de</strong>m<br />

contribuir muito para esclarecer idéias e projetos, avaliar a caminhada, fazer repensar e<br />

aprimorar estratégias e métodos <strong>de</strong> trabalho. A ação formativa, portanto, tem um gran<strong>de</strong><br />

rebatimento na ação mobilizadora e transformadora da luta sindical.<br />

Contudo, para que esse rebatimento tenha um impacto realmente positivo, é preciso fazer<br />

das ações e ativida<strong>de</strong>s formativas espaços estratégicos, reconhecendo-os em seu<br />

potencial catalisador <strong>de</strong> novas concepções e práticas, o que <strong>de</strong>manda alguns<br />

compromissos como os abaixo relacionados:<br />

Respeitar a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concepções e idéias e buscar compreendê-las <strong>de</strong> modo<br />

a compor uma visão crítica e construtiva, frente a todas elas.<br />

Resgatar, em primeiro lugar, a história, explicitar o significado e prever os possíveis<br />

<strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong> cada concepção e prática, pautando-se pelo estudo e<br />

pesquisa.<br />

Refletir e aprofundar o <strong>de</strong>bate, para i<strong>de</strong>ntificar insuficiências e valores <strong>de</strong> cada<br />

posição. Cada prática ou concepção revela fragilida<strong>de</strong>s, mas também tem<br />

contribuições a dar. Para isso se faz necessário uma postura aberta ao diferente e<br />

o exercício da escuta sempre atenta ao que a outra posição ou corrente tem a<br />

transmitir. Nessa perspectiva, é fundamental reconhecer as próprias limitações e<br />

se dispor a rever posições.<br />

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Fazer da formação um campo profícuo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates e oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizado<br />

e aprimoramento das idéias e concepções i<strong>de</strong>ológicas, primando por uma postura<br />

ética e respeitosa para com as pessoas e grupos.<br />

Tratar as disputas políticas como elementos constitutivos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>safiador<br />

processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> consensos.<br />

Na medida em que nos dispormos a construir e assumir novas posturas e práticas para as<br />

quais os espaços <strong>de</strong> formação nos convocar, certamente estaremos dando largos passos<br />

para transformar o cotidiano <strong>de</strong> nossas relações políticas no movimento sindical.<br />

Portanto, não se trata <strong>de</strong> acabar com a disputa, pois – reiteramos - ela po<strong>de</strong> ser positiva e<br />

dinamizadora da ação social transformadora. O <strong>de</strong>safio é conferir às nossas disputas uma<br />

dimensão mais humana e humanizadora, coerente com nossos sonhos e utopias, <strong>de</strong> modo<br />

que isso nos faça crescer em todas as dimensões: na política, nas relações interpessoais,<br />

nas relações <strong>de</strong> gênero... Uma disputa que nos aproxime cada vez mais da nova socieda<strong>de</strong><br />

que queremos construir: justa, igualitária, solidária e respeitosa das diferenças, on<strong>de</strong> se<br />

conviva – ao mesmo tempo – na unida<strong>de</strong> e na diversida<strong>de</strong>.<br />

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