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Abortamento de causa aloimune: diagnóstico e tratamento - Febrasgo

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Patrick Bellelis1 Mário Henrique Burlacchini <strong>de</strong> Carvalho2 Marcelo Zugaib1 Palavras-chave<br />

Aborto habitual<br />

Isoanticorpos<br />

Terapia<br />

Keywords<br />

Abortion, habitual<br />

Isoantibodies<br />

Therapy<br />

Revisão<br />

<strong>Abortamento</strong> <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong>:<br />

<strong>diagnóstico</strong> e <strong>tratamento</strong><br />

Alloimmune abortion: diagnosis and treatment<br />

Resumo <strong>Abortamento</strong> espontâneo recorrente (AER) é <strong>de</strong>finido, usualmente, como<br />

a perda <strong>de</strong> três ou mais gestações, até a 20ª semana <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z, e afeta aproximadamente 5% dos casais. Em<br />

boa parte dos casos, a <strong>causa</strong> é <strong>de</strong>sconhecida e muitas hipóteses foram levantadas, <strong>de</strong>ntre elas, a imunológica.<br />

Diversos trabalhos vêm tentando mostrar a fisiopatologia da <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong> e seu possível <strong>diagnóstico</strong> e<br />

<strong>tratamento</strong>. Apesar <strong>de</strong> não haver, até hoje, a liberação por parte <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como a Food and Drug<br />

Administration (FDA) e a Agência Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária (Anvisa), os <strong>tratamento</strong>s são oferecidos em<br />

diversas clínicas ao redor do mundo. Por meio do levantamento dos últimos artigos acerca do assunto, foi possível<br />

observar que um método <strong>diagnóstico</strong> específico que <strong>de</strong>tecte a perda gestacional precoce imune mediada e um<br />

método confiável que <strong>de</strong>termine quais mulheres se beneficiariam da manipulação do sistema imune materno<br />

são urgentes. Para estabelecer <strong>de</strong>finitivamente ou avaliar a eficácia <strong>de</strong> qualquer suposto <strong>tratamento</strong> para o AER,<br />

são necessários novos estudos randomizados, com a<strong>de</strong>quado número <strong>de</strong> amostra.<br />

Abstract Recurrent spontaneous abortion (RSA) is usually <strong>de</strong>fined as three or more<br />

consecutive pregnancy losses prior to the 20th week of gestation, and affects approximately 5% of the couples.<br />

The etiology of recurrent spontaneous abortion is often unclear and may be multifactorial. However, the majority<br />

of cases of RSA remain unexplained and some studies have been attempting to associate it with autoimmune<br />

and alloimmune antibodies. Although until today there is no release by health institutions such as Food and<br />

Drug Administration (FDA) and Agência Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária (Anvisa), these treatments are offered at<br />

various clinics around the world. Through the survey of recent articles on this subject, it was possible to see that<br />

a specific diagnostic method to <strong>de</strong>tect the early pregnancy loss immune mediated as well as a reliable method to<br />

<strong>de</strong>termine which women would benefit from the manipulation of the maternal immune system are more than<br />

necessary. To <strong>de</strong>finitively establish or evaluate the effectiveness of any treatment for RSA, further randomized<br />

studies with a<strong>de</strong>quate number of sample are nee<strong>de</strong>d.<br />

1 Ex-resi<strong>de</strong>nte do Departamento <strong>de</strong> Obstetrícia e Ginecologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP) – São Paulo (SP), Brasil<br />

2 Médico assistente responsável pelo Setor <strong>de</strong> Aborto Habitual e Diretor do Ambulatório da Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil<br />

3 Professor titular da Disciplina <strong>de</strong> Obstetrícia do Departamento <strong>de</strong> Obstetrícia e Ginecologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil


262<br />

Bellelis P, Carvalho MHB, Zugaib M<br />

Introdução<br />

O abortamento espontâneo recorrente (AER) é <strong>de</strong>finido,<br />

usualmente, como a perda <strong>de</strong> três ou mais gestações e comumente<br />

refere-se àqueles até a vigésima semana <strong>de</strong> gestação.<br />

Esse limite é arbitrário e não leva em consi<strong>de</strong>ração potenciais<br />

<strong>causa</strong>s <strong>de</strong> óbito fetal na primeira meta<strong>de</strong> da gestação. Com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento ultrassonográfico, foi possível um método mais<br />

relevante <strong>de</strong> classificação, consi<strong>de</strong>rando-se a presença ou não <strong>de</strong><br />

1, 2<br />

um embrião vivo.<br />

O AER afeta aproximadamente 5% dos casais férteis e po<strong>de</strong><br />

ser classificado em primário e secundário, sendo o primário o caso<br />

do casal que não tem filhos vivos e secundário aquele em que<br />

houve ao menos uma gestação com sucesso, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

do número <strong>de</strong> abortos. A literatura <strong>de</strong>monstra que a chance <strong>de</strong><br />

uma nova perda gestacional é <strong>de</strong> aproximadamente 24% após<br />

duas perdas, 30% após três perdas e 40% após quatro perdas<br />

consecutivas. 3 Em boa parte dos casos, a <strong>causa</strong> é <strong>de</strong>sconhecida4-6 e diversas hipóteses foram levantadas e publicadas. Dentre elas,<br />

po<strong>de</strong>mos citar: a cromossômica, a genética, a anatômica, a endocrinológica,<br />

as anomalias placentárias, as infecções, o tabagismo,<br />

o etilismo, a exposição a fatores ambientais como mercúrio, óxido<br />

<strong>de</strong> etileno e radiações ionizantes e os fatores psicológicos. Além<br />

disso, certamente, as <strong>causa</strong>s autoimunes e <strong>aloimune</strong>s exercem<br />

papel muito importante nas hipóteses imunológicas. 1<br />

A relação imunológica entre o feto e a mãe é uma comunicação<br />

bidirecional e <strong>de</strong>terminada, <strong>de</strong> um lado, pela apresentação<br />

antigênica fetal e, <strong>de</strong> outro, pelo reconhecimento e reação a esses<br />

antígenos pelo sistema imune materno, o que é fundamental<br />

para a continuida<strong>de</strong> da gestação. 1 Os mecanismos que impe<strong>de</strong>m<br />

que as mães <strong>de</strong>senvolvam as respostas imunológicas essenciais<br />

para a manutenção da gravi<strong>de</strong>z foram po<strong>de</strong>m ser, total ou parcialmente,<br />

<strong>de</strong>vido às <strong>causa</strong>s <strong>aloimune</strong>s, e sua fisiologia ainda é<br />

pouco clara. Diversos possíveis fatores alogênicos foram sugeridos<br />

e investigados. Os primeiros estudos realizados sugeriam<br />

que a compatibilida<strong>de</strong> dos antígenos humanos leucocitários<br />

(HLA) dos casais, a ausência <strong>de</strong> anticorpos leucocitotóxicos<br />

ou a ausência <strong>de</strong> anticorpos maternos bloqueadores estavam<br />

7, 8<br />

relacionados ao AER.<br />

Rai e Regan, em 2006, publicaram uma revisão que questionava<br />

a hipótese <strong>de</strong> que altos níveis séricos <strong>de</strong> células NK<br />

po<strong>de</strong>riam estar relacionados ao AER. Na realida<strong>de</strong>, os autores<br />

<strong>de</strong>monstraram que tais pacientes têm um aumento nos níveis<br />

<strong>de</strong> células NK na mucosa uterina, contribuindo para que elas<br />

tenham uma resposta imune do tipo Th-1 ao invés da Th-2,<br />

ocasionando uma rejeição maior do produto conceptual. 9<br />

FEMINA | Maio 2009 | vol 37 | nº 5<br />

Mais recentemente, mo<strong>de</strong>los experimentais <strong>de</strong> abortamento<br />

focaram o local <strong>de</strong> implantação placentária e mostraram que o<br />

sucesso da gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da inibição <strong>de</strong> mediadores inflamatórios<br />

locais. Proteínas inibitórias <strong>de</strong> complemento, linfócitos<br />

T maternos reguladores, enzimas catabolizadoras <strong>de</strong> triptofano<br />

e citocinas imunorreguladoras parecem estar relacionados à<br />

2, 10, 11<br />

imunotolerância na interface materno-fetal.<br />

Como o mecanismo <strong>de</strong> AER <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong> ainda não<br />

foi bem esclarecido, diversos <strong>tratamento</strong>s imunológicos têm<br />

sido <strong>de</strong>fendidos por diferentes investigadores, que se baseiam<br />

na evidência <strong>de</strong> que transfusões sanguíneas seriadas diminuem a<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rejeição <strong>de</strong> aloenxertos. 12 Com base em mo<strong>de</strong>los<br />

animais <strong>de</strong> transplante <strong>de</strong> órgãos, a imunização com linfócitos<br />

paternos foi proposta como um <strong>tratamento</strong> para o abortamento<br />

<strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong>. Contudo, essa extrapolação não <strong>de</strong>veria<br />

ser feita <strong>de</strong>vido às diferenças entre as espécies, seja na questão<br />

endócrina, imunológica ou reprodutiva. 10<br />

A imunização passiva com imunoglobulinas intravenosas<br />

(IVIg) durante a gestação também foi postulada. Esse <strong>tratamento</strong><br />

foi baseado na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o efeito terapêutico da IVIg<br />

seria a mediação <strong>de</strong> um downregulation sistêmico das células NK,<br />

diminuindo sua ativida<strong>de</strong> no sítio placentário e permitindo,<br />

assim, a continuida<strong>de</strong> da gravi<strong>de</strong>z. 1<br />

Como referidos <strong>tratamento</strong>s têm sido oferecidos por muitos<br />

centros médicos no Brasil e no mundo, embora sua eficácia ainda<br />

seja controversa, tivemos por objetivo, nesta revisão, levantar os<br />

resultados da literatura em relação ao <strong>diagnóstico</strong> e <strong>tratamento</strong><br />

da aloimunida<strong>de</strong> como <strong>causa</strong> <strong>de</strong> abortamento <strong>de</strong> repetição.<br />

Revisão da literatura<br />

Diagnóstico<br />

O termo aloimunida<strong>de</strong> refere-se às diferenças imunológicas<br />

entre indivíduos da mesma espécie. Em 1966, Clarke e Kirby<br />

formularam a hipótese <strong>de</strong> que a disparida<strong>de</strong> antigênica maternofetal<br />

fosse benéfica para o <strong>de</strong>senvolvimento do embrião e, até<br />

hoje, não se sabe ao certo qual o seu papel no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da interface materno-fetal. 13<br />

Em 1998, Barini et al. 14 publicaram um protocolo <strong>de</strong> investigação<br />

e <strong>tratamento</strong>, baseando-se na hipótese <strong>de</strong> que a aloimunida<strong>de</strong><br />

seria uma das principais <strong>causa</strong>s <strong>de</strong> AER. A pesquisa<br />

do fator <strong>aloimune</strong> se fez por meio da tipagem HLA do casal, da<br />

cultura mista <strong>de</strong> linfócitos com i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> fator inibidor no<br />

soro materno e na resposta celular materna contra linfócitos do<br />

parceiro, tratados com mitomicina (CML), e da reação <strong>de</strong> prova<br />

cruzada por microlinfocitotoxicida<strong>de</strong> (PC). Consi<strong>de</strong>rou-se <strong>causa</strong>


<strong>aloimune</strong> quando, em CML, a capacida<strong>de</strong> do soro da paciente em<br />

inibir a resposta autóloga aos linfócitos do parceiro foi menor<br />

que 50% e/ou quando a prova cruzada entre o soro da paciente<br />

e os linfócitos do parceiro foi negativa. 14<br />

A reação <strong>de</strong> prova cruzada por microlinfotoxicida<strong>de</strong> é um<br />

teste utilizado para rastrear reativida<strong>de</strong> humoral pré-gestacional<br />

contra células do parceiro na concepção. Células periféricas da<br />

mulher são incubadas com soro do parceiro e coradas para <strong>de</strong>tecção<br />

<strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> celular. Anticorpos contra moléculas do<br />

sistema <strong>de</strong> histocompatibilida<strong>de</strong> principal (MHC) das células do<br />

parceiro ocasionam citotoxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas últimas. O teste é feito<br />

por quatro variantes. Em paralelo, o soro da mulher é incubado<br />

com suas células, o que permite <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> autorreativida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong> reativida<strong>de</strong> não específicas. 15<br />

Em 2000, Ramhorst et al., em estudo sobre o uso da imunoterapia<br />

para o AER, usaram como método <strong>diagnóstico</strong> <strong>de</strong><br />

aloimunida<strong>de</strong> a tipagem <strong>de</strong> HLA tipo II e a cultura mista <strong>de</strong><br />

linfócitos. Contudo, o valor utilizado foi <strong>de</strong> 30% e não se usou<br />

a prova cruzada com linfócitos do parceiro. 16<br />

Apesar das disparida<strong>de</strong>s entre os diversos trabalhos encontrados<br />

na literatura, parece que a CML, <strong>de</strong>scrita primeiramente por<br />

Kwak em 1992, é o principal método <strong>diagnóstico</strong>. A pessoa é<br />

diagnosticada como portadora <strong>de</strong> AER <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong> quando<br />

o exame se mostra negativo (menor que 50%). 17,18<br />

Além disso, muitos dos trabalhos que advogam o uso da<br />

imunoterapia no <strong>tratamento</strong> <strong>de</strong> AER também usam a CML e a<br />

PC como parâmetros, durante o <strong>tratamento</strong>, para monitorar e<br />

mensurar a produção <strong>de</strong> linfócitos mistos bloqueadores (MLR-<br />

Bf), <strong>de</strong>terminando, <strong>de</strong>sse modo, o sucesso da aloimunoterapia<br />

e escolhendo o momento certo para que o casal tente uma nova<br />

gravi<strong>de</strong>z. 1,11,16<br />

O uso dos MLR-Bfs como parâmetro no monitoramento<br />

da resposta à terapia é justificado pela observação, em diversos<br />

trabalhos, <strong>de</strong> que a concentração sérica <strong>de</strong>sses linfócitos é maior<br />

em pacientes que evoluem com gestação normal do que naquelas<br />

que fazem parte do grupo <strong>de</strong> abortamento recorrente. 1,11,16<br />

Tratamento<br />

A i<strong>de</strong>ntificação das <strong>causa</strong>s ou dos fatores associados ao aborto<br />

recorrente, bem como sua terapêutica, tem sido tema controverso.<br />

Há quem sugira que não há terapêutica específica necessária<br />

além do seguimento minucioso e suporte emocional. Outros<br />

sugerem a existência <strong>de</strong> fatores imunológicos tão importantes<br />

quanto, ou até mais, do que aqueles tradicionalmente referidos<br />

como <strong>de</strong>terminantes do aborto recorrente. 2,10<br />

A controvérsia a respeito da eficácia da imunoterapia no<br />

<strong>tratamento</strong> dos abortos recorrentes <strong>de</strong> <strong>causa</strong> imunológica está<br />

<strong>Abortamento</strong> <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong>: <strong>diagnóstico</strong> e <strong>tratamento</strong><br />

longe <strong>de</strong> ser esclarecida. A hipótese, com seu advento, é que a<br />

imunoterapia transformaria a resposta imunológica Th1 (agressora)<br />

em Th2 (protetora), fazendo com que a gestação pu<strong>de</strong>sse<br />

evoluir até o final. Proposto inicialmente por Wegman et al., a<br />

gestação normal em humanos é consi<strong>de</strong>rada um fenômeno Th2dominante.<br />

A resposta Th1 po<strong>de</strong>ria ser responsável por evocar<br />

a rejeição contra a interface fetoplacentária. 1,9,14,16<br />

Pan<strong>de</strong>y et al., em 2005, realizaram uma revisão com as<br />

possíveis técnicas <strong>de</strong> <strong>tratamento</strong> <strong>de</strong> AER <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong>.<br />

Os dois principais tipos citados foram: a terapia intravenosa<br />

com imunoglobulina (IVIg) e a imunização com linfócitos<br />

paternos. 1<br />

O princípio básico do uso da IVIg é a neutralização do<br />

efeito citotóxico produzido pelo sistema imune materno<br />

contra o feto. Entretanto, alguns estudos <strong>de</strong>monstraram<br />

que a IVIg suprime passivamente a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> anticorpos<br />

antifosfolípe<strong>de</strong>s, diminui a função das células B, altera o funcionamento<br />

das células T, diminui a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monócitos<br />

<strong>de</strong> células NK e a produção <strong>de</strong> citocinas e, ainda, a ativação<br />

do complemento. 19-20<br />

Mowbray et al. publicaram os primeiros resultados <strong>de</strong> um<br />

gran<strong>de</strong> estudo, avaliando a imunização materna com linfócitos<br />

paternos para mulheres com AER. Tratou-se <strong>de</strong> um estudo<br />

duplo-cego pareado, com dois grupos, sendo que um <strong>de</strong>les<br />

recebeu o concentrado <strong>de</strong> linfócitos paternos purificados e o<br />

Grupo Controle, uma solução placebo. Observou-se melhora<br />

estatisticamente significativa dos resultados reprodutivos no<br />

grupo imunizado com células do parceiro, cuja taxa <strong>de</strong> sucesso<br />

<strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z foi <strong>de</strong> 77% (17/22), diante dos 37% (10/27) no<br />

Grupo Controle. 21 A literatura, porém, registra resultados divergentes<br />

a respeito da eficácia da imunoterapia. Em 1994, um<br />

estudo <strong>de</strong> metanálise sobre a imunoterapia com linfócitos do<br />

parceiro concluiu que essa abordagem terapêutica beneficiaria<br />

<strong>de</strong> 8 a 10% das mulheres tratadas. 22<br />

Em 2005, Barini 23 <strong>de</strong>finiu parâmetros i<strong>de</strong>ais para a imunoterapia<br />

com linfócitos paternos, como se po<strong>de</strong> observar na<br />

Tabela 1.<br />

Tabela 1 - Parâmetros para imunoterapia em abortamento <strong>de</strong><br />

repetição<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois antígenos semelhantes na tipagem HLA do casal.<br />

Ausência <strong>de</strong> anticorpos leucocitotóxicos <strong>de</strong>tectados por<br />

microlinfotoxocida<strong>de</strong> e/ou menos do que 30% <strong>de</strong> células B e T com<br />

anticorpos anti-HLA a<strong>de</strong>ridos em sua superfície, <strong>de</strong>tectados pela citometria<br />

<strong>de</strong> fluxo.<br />

Baixa resposta proliferativa materna em CML diante dos linfócitos paternos,<br />

mas não dos <strong>de</strong> doador.<br />

Ausência <strong>de</strong> “fatores bloqueadores” em CML.<br />

Fonte: modificada <strong>de</strong> Barini et al. 23<br />

FEMINA | Maio 2009 | vol 37 | nº 5 263


264<br />

Bellelis P, Carvalho MHB, Zugaib M<br />

Vários regimes têm sido propostos para a imunização com<br />

linfócitos paternos ou <strong>de</strong> doadores. Alguns autores aconselham o<br />

uso da via intravenosa, outros, a associação das vias intravenosa,<br />

subcutânea e intradérmica. Também o número <strong>de</strong> imunizações<br />

e o intervalo entre cada uma <strong>de</strong>las variam <strong>de</strong> autor para autor.<br />

O regime estabelecido na Reproductive Imunology Clinics da Chicago<br />

Medical School inclui duas imunizações com quatro a seis<br />

semanas <strong>de</strong> intervalo, e reavaliação da produção <strong>de</strong> anticorpos<br />

antileucocitários quatro semanas <strong>de</strong>pois. Se eles forem positivos,<br />

o casal está em condições <strong>de</strong> tentar nova gravi<strong>de</strong>z. 23<br />

Ramhorst et al., em estudo com 92 casais, <strong>de</strong>ntre os quais<br />

79 tinham antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> abortamento primário e 13 <strong>de</strong> abortamento<br />

secundário, com um número <strong>de</strong> 2 a 5 abortos prévios<br />

e com um Grupo Controle <strong>de</strong> 37 casais, todos sem qualquer<br />

<strong>tratamento</strong> prévio, obtiveram uma taxa <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z com nascidos<br />

vivos <strong>de</strong> 89% após a imunização com linfócitos paternos. Esse<br />

número não foi estatisticamente significativo se comparado às<br />

pacientes que não foram imunizadas. Em valores absolutos,<br />

houve diferença <strong>de</strong> 17% <strong>de</strong> nascidos vivos. Nesse trabalho, ainda<br />

se levantou a hipótese <strong>de</strong> o gran<strong>de</strong> sucesso do Grupo Controle<br />

(72%) ser <strong>de</strong>vido ao pequeno número <strong>de</strong> indivíduos incluídos<br />

no follow-up. Po<strong>de</strong>mos contestar, ainda, o fato <strong>de</strong> terem sido<br />

incluídos casos com apenas dois abortamentos prévios, o que<br />

não é classicamente <strong>de</strong>finido como abortamento <strong>de</strong> repetição.<br />

Desse modo, se subtrairmos tais pacientes, a diferença ficaria<br />

ainda menor, tanto em valores absolutos quanto na avaliação<br />

estatística. 16<br />

Com uma taxa <strong>de</strong> sucesso <strong>de</strong> 90,9%, um grupo japonês publicou,<br />

em 2003, estudo prospectivo com 53 casais com AER<br />

e relatou indícios <strong>de</strong> resposta favorável ao uso da imunoterapia<br />

no <strong>tratamento</strong>. Todos os casais selecionados possuíam três ou<br />

mais abortos prévios e foram divididos em três grupos: o Grupo<br />

1, com indivíduos que receberam concentrado <strong>de</strong> linfócitos<br />

paternos; o Grupo 2, composto por sujeitos que não receberam<br />

o concentrado porque possuíam PC positiva; e o Grupo 3, com<br />

indivíduos que não receberam o concentrado por escolha do<br />

casal (Grupo Controle).<br />

Levando-se em consi<strong>de</strong>ração a taxa <strong>de</strong> 18,2% do Grupo<br />

Controle, nosso grupo <strong>de</strong> pesquisa parece crer que o uso da<br />

imunização com linfócitos paternos em pacientes com ERA,<br />

sem outra <strong>causa</strong> diagnosticada, e com CML e/ou PC positivas<br />

para o fator <strong>aloimune</strong> é uma boa alternativa para o <strong>tratamento</strong>.<br />

Embora acreditem que a ativação da resposta imune humoral<br />

materna, facilitando o reconhecimento <strong>de</strong> antígenos fetais, seja<br />

<strong>de</strong> fundamental importância para o sucesso da gestação e que<br />

essa ativação po<strong>de</strong>ria ser alcançada pelo uso da imunoterapia e,<br />

ainda, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> o estudo não ter sido duplo-cego ran-<br />

FEMINA | Maio 2009 | vol 37 | nº 5<br />

domizado, os autores concluem que essa técnica ainda está sob<br />

avaliação e que estudos maiores <strong>de</strong>verão ser realizados. 11<br />

Com resultados ainda mais controversos, o estudo REMIS,<br />

o maior realizado até o momento, publicado por Ober et al. em<br />

1999, mostrou que o uso da imunização com linfócitos paternos<br />

não melhorou as taxas <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z em pacientes com <strong>diagnóstico</strong><br />

<strong>de</strong> fator <strong>aloimune</strong>, e as pacientes do Grupo Controle tiveram índices<br />

<strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z maiores. Em estudo multicêntrico com duração<br />

<strong>de</strong> cinco anos em centros dos Estados Unidos e Canadá, foram<br />

avaliadas 183 mulheres com ERA, randomizadas entre os dois<br />

grupos. As taxas <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z foram <strong>de</strong> 36% no grupo <strong>de</strong> estudo<br />

e <strong>de</strong> 48% no Grupo Controle, sendo que 65% <strong>de</strong>las tiveram<br />

gestações que evoluíram até o termo. Observou-se, ainda, maior<br />

taxa <strong>de</strong> abortamento e ida<strong>de</strong> gestacional <strong>de</strong> perda no grupo que<br />

foi imunizado com linfócitos paternos. Desse modo, pela falta <strong>de</strong><br />

benefícios, o grupo opta por não recomendar esse <strong>tratamento</strong> e<br />

enfatiza que não <strong>de</strong>veria ser oferecido às pacientes com AER. 10<br />

Em revisão realizada em 2007 pela Cochrane Library, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> avaliar os diversos estudos publicados a respeito do<br />

uso das diferentes AER <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong> e os tipos <strong>de</strong> <strong>tratamento</strong><br />

que po<strong>de</strong>riam levar a uma melhora nas taxas <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z<br />

com sucesso, pô<strong>de</strong>-se concluir que nenhum dos <strong>tratamento</strong>s<br />

oferecidos, atualmente, promove aumento significativo da taxa<br />

<strong>de</strong> nascidos vivos. Além dos altos preços <strong>de</strong>ssas terapias, o dano<br />

psicológico associado a falsas expectativas é algo irreparável.<br />

Tais procedimentos não <strong>de</strong>veriam ser oferecidos a pacientes<br />

com ERA. Da mesma forma, o uso dos testes imunológicos que<br />

vinham sendo advogados para o uso <strong>de</strong>ssas terapias também<br />

<strong>de</strong>veria ser abandonado. 2<br />

Em recente revisão, Gonçalves mostrou que o sistema imune<br />

certamente está relacionado ao processo reprodutivo. Entretanto,<br />

nosso <strong>de</strong>sconhecimento ainda é gran<strong>de</strong> e documentado todos os<br />

dias como fator <strong>de</strong> infertilida<strong>de</strong> “sem <strong>causa</strong> aparente”. Concluise<br />

que o exame <strong>de</strong> <strong>diagnóstico</strong> ainda precisa ser <strong>de</strong>senvolvido e<br />

que os <strong>tratamento</strong>s atualmente disponíveis são extremamente<br />

controversos. 6<br />

Riscos<br />

O uso <strong>de</strong>ssas técnicas <strong>de</strong> imunização possui os mesmos riscos<br />

<strong>de</strong> qualquer outro tipo <strong>de</strong> transfusão sanguínea, assim como a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> vírus como o da imuno<strong>de</strong>ficiência<br />

humana (HIV), Epstein-Barr, hepatites e citomegalovírus. Reações<br />

são incomuns, mas po<strong>de</strong>m incluir dormência e eritema no local<br />

da injeção, além da sensibilização <strong>de</strong> células sanguíneas e doenças<br />

autoimunes. 1,10,24 Bux et al. mostraram, ainda, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aloimunização materna contra granulócitos, aumentando o risco<br />

<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> neutropenia autoimune neonatal. 25


Efeitos adversos na gestação são raros, mas po<strong>de</strong>m incluir retardo<br />

<strong>de</strong> crescimento fetal, <strong>de</strong>scolamento prematuro <strong>de</strong> placenta, acretismo<br />

placentário, oligo-hidrâmnio, pré-eclâmpsia, parto prematuro,<br />

anomalias renais, trissomia do 21º e do 13º cromossomos, e um<br />

caso incomum <strong>de</strong> imuno<strong>de</strong>ficiência. O estudo REMIS <strong>de</strong> 1999<br />

<strong>de</strong>monstrou que mulheres submetidas ao <strong>tratamento</strong> com linfócitos<br />

têm mais chance <strong>de</strong> novos abortamentos subsequentes. 10,24<br />

Em uma revisão <strong>de</strong> 2006, foi levantada a hipótese <strong>de</strong> que a<br />

imunização com linfócitos paternos pu<strong>de</strong>sse aumentar o risco <strong>de</strong><br />

alguns tipos <strong>de</strong> cânceres. Os autores fazem tal relato com base<br />

em estudos sobre transplante <strong>de</strong> órgãos. Entretanto, o risco para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> patologias malignas após um transplante<br />

se <strong>de</strong>ve ao longo período <strong>de</strong> imunossupressão necessário para<br />

esses procedimentos ou, em casos excepcionais, do fato <strong>de</strong> o<br />

órgão transplantado já estar acometido por algum câncer; nunca<br />

foi provado que isso seja <strong>de</strong>vido à aloimunida<strong>de</strong> do transplante.<br />

Um dos critérios <strong>de</strong> exclusão para doação <strong>de</strong> órgãos ou sangue é a<br />

presença <strong>de</strong> algum câncer, pois, <strong>de</strong>sse modo, evita-se a transmissão<br />

<strong>de</strong> células malignas. Não há nenhum relato sobre a transmissão<br />

<strong>de</strong> células malignas <strong>de</strong> um indivíduo previamente sadio. 24<br />

Conclusões<br />

A partir dos estudos levantados, ainda não é possível<br />

afirmar se a aloimunida<strong>de</strong> é realmente uma <strong>causa</strong> <strong>de</strong> aborta-<br />

Leituras suplementares<br />

1. Pan<strong>de</strong>y MK, Rani R, Agrawal S. An update in recurrent spontaneous abortion.<br />

Arch Gynecol Obstet. 2005;272(2):95-108.<br />

2. Porter TF, LaCoursiere Y, Scott JR. Immunotherapy for recurrent miscarriage<br />

(Cochrane Review). The Cochrane Library, Issue 3, 2007. Oxford: Update<br />

Software.<br />

3. Regan L, Brau<strong>de</strong> PR, Trembath PL. Influence of past reproductive performance<br />

on risk of spontaneous abortion. BMJ. 1989;299(6698):541-5.<br />

4. Tho TP, Byrd JR, McDonough PG. Etiologies and subsequent reproductive<br />

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<strong>Abortamento</strong> <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>aloimune</strong>: <strong>diagnóstico</strong> e <strong>tratamento</strong><br />

mento <strong>de</strong> repetição. O entendimento <strong>de</strong> sua patofisiologia<br />

é muito escasso, havendo uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos mais<br />

completos e mais bem <strong>de</strong>senhados para que haja uma melhor<br />

compreensão.<br />

Um método <strong>diagnóstico</strong> específico para <strong>de</strong>tectar/diagnosticar<br />

a perda gestacional precoce imune-mediada e um método<br />

confiável que <strong>de</strong>termine quais mulheres se beneficiariam da<br />

manipulação do sistema imune materno são urgentes. Atualmente,<br />

não se sabe exatamente quantas <strong>de</strong>ssas perdas são<br />

anembrionárias ou conceptos cromossomicamente anormais,<br />

anomalias estruturais ou anatomias e quantas são realmente<br />

embrionárias. Muitas das perdas ainda ocorrem <strong>de</strong>vido às<br />

ainda in<strong>de</strong>finidas anomalias genéticas subcromossômicas que<br />

prejudicam o <strong>de</strong>senvolvimento inicial do concepto. Novas<br />

técnicas moleculares <strong>de</strong>veriam ser direcionadas para um melhor<br />

entendimento dos fatores responsáveis pelo sucesso da gravi<strong>de</strong>z,<br />

assim como para sua perda.<br />

Para estabelecer <strong>de</strong>finitivamente ou avaliar a eficácia <strong>de</strong><br />

qualquer suposto <strong>tratamento</strong> para o AER, são necessários novos<br />

estudos randomizados e com a<strong>de</strong>quado número <strong>de</strong> amostra, e<br />

que <strong>de</strong>veriam ser realizados em centros <strong>de</strong> pesquisa com expertise<br />

nesse problema. Novas terapêuticas <strong>de</strong>veriam ser testadas<br />

somente com protocolos rigorosos. Tais estudos ainda <strong>de</strong>veriam<br />

avaliar e <strong>de</strong>terminar, a longo prazo, as complicações com relação<br />

à mãe e ao recém-nascido.<br />

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