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Alterações posturais, de equilíbrio e dor lombar no ... - Febrasgo

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Luciana Sobral Moreira 1<br />

Sara Rosa <strong>de</strong> Sousa Andra<strong>de</strong> 2<br />

Viviane Soares 3<br />

Ivan Silveira <strong>de</strong> Avelar 4<br />

Wal<strong>de</strong>mar Naves Amaral 5<br />

Marcus Fraga Vieira 6<br />

Palavras-chave<br />

Gravi<strong>de</strong>z<br />

Postura<br />

Equilíbrio postural<br />

Dor <strong>lombar</strong><br />

Keywords<br />

Pregnancy<br />

Posture<br />

Postural balance<br />

Low back pain<br />

Revisão da liteRatuRa<br />

<strong>Alterações</strong> <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> e<br />

<strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> <strong>no</strong> período gestacional<br />

Changes of posture, equilibrium and low back pain during pregnancy<br />

Resumo Durante a gravi<strong>de</strong>z, a mulher passa por transformações morfológicas e<br />

fisiológicas que requerem cuidados especiais. As transformações fisiológicas envolvem adaptações hemodinâmicas,<br />

hormonais e biomecânicas que, sem acompanhamento a<strong>de</strong>quado, contribuem para o surgimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

musculoesqueléticas. Este estudo trata-se <strong>de</strong> uma revisão da literatura com busca das referências bibliográficas<br />

na base <strong>de</strong> dados Pubmed e Scielo e teve por objetivo discutir os principais fatores fisiológicos e biomecânicos<br />

que estão associados ao surgimento <strong>de</strong> alterações <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> postural e <strong>de</strong> <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z e revisar métodos <strong>de</strong> prevenção e alívio da <strong>dor</strong>. As alterações hemodinâmicas, hormonais e biomecânicas<br />

do corpo justificam a presença <strong>de</strong> e<strong>de</strong>mas, do aumento do peso corporal, da frouxidão ligamentar e das<br />

alterações <strong>posturais</strong> comuns nas grávidas e propiciam o aparecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas e o<br />

comprometimento do <strong>equilíbrio</strong> postural. O estudo <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns é importante, pois fornece um indicativo<br />

<strong>de</strong> persistência <strong>de</strong> sintomas álgicos durante a gravi<strong>de</strong>z e <strong>no</strong> pós-parto, e o conhecimento <strong>de</strong>stas, bem como<br />

dos métodos <strong>de</strong> analgesia para seus sintomas, permite ao profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a elaboração <strong>de</strong> intervenções<br />

preventivas ou o diagnóstico e o seu tratamento precoce.<br />

Abstract During pregnancy, the woman un<strong>de</strong>rgoes morphological and physiological<br />

changes, which require special care. Physiological changes involve hemodynamic, hormonal, and biomechanical<br />

adaptations in pregnant woman body that, without appropriate monitoring, may contribute to emerging musculoskeletal<br />

disor<strong>de</strong>rs. The aim of this work was to search in literature most important physiological and biomechanical factors<br />

that are associated with low-back pain along with the appearance of postural and balance changes in the pregnant<br />

woman. In addition, it was revised prevention and alleviation methods of pain. In this review, bibliographical references<br />

from the Pubmed and the Scielo databases were used, and those references that fit in the proposed theme were<br />

chosen to be discussed. Hemodynamic, hormonal and biomechanical changes are factors that justify e<strong>de</strong>mas, the<br />

increasing in body weight, the ligament looseness and postural changes that are very common in pregnant women.<br />

The appearance of musculoskeletal disor<strong>de</strong>rs and balance impairment are frequent due these changes. Hence, the<br />

study of these disor<strong>de</strong>rs is relevant since they provi<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nce of pain symptom persistence during pregnancy and<br />

postpartum. Besi<strong>de</strong>s, the un<strong>de</strong>rstanding of these disor<strong>de</strong>rs as well as analgesia methods enables the health care<br />

professional to elaborate preventive interventions or early diag<strong>no</strong>ses and treatments of symptoms.<br />

1 Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e<br />

Biomecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

2 Especialista em Saú<strong>de</strong> da Família pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e Biomecânica da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

3 Mestre em Ciências da Saú<strong>de</strong> pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e Biomecânica da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

4 Especialista em Educação Física Escolar e Ativida<strong>de</strong> Física e Saú<strong>de</strong> pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong><br />

Bioengenharia e Biomecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

5 Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Departamento <strong>de</strong> Ginecologia da UFG –<br />

Goiânia (GO), Brasil.<br />

6 Doutor em Engenharia Elétrica pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> e pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Elétrica<br />

e da Computação – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação Física – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e Biomecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia<br />

(GO), Brasil.<br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência: Luciana Sobral Moreira – Rua 59-A, 735 – ap. 201 – Setor Aeroporto – CEP: 74070-160 – Goiânia (GO), Brasil<br />

– E-mail: lusobral.fisio@gmail.com


242<br />

Moreira LS, Andra<strong>de</strong> SRS, Soares V, Avelar IS, Amaral WN, Vieira MF<br />

Introdução<br />

No período gestacional, a mulher passa por transformações<br />

morfológicas, fisiológicas, sociais e emocionais. Portanto, este se<br />

caracteriza como um período importante em sua vida e que requer<br />

cuidados especiais para preservar sua saú<strong>de</strong> e seu bem-estar.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento dos três trimestres da gestação é caracterizado<br />

por alterações hemodinâmicas, hormonais e biomecânicas<br />

do corpo 1 (B), que justificam, por exemplo, a presença <strong>de</strong><br />

e<strong>de</strong>mas, do aumento do peso corporal, da frouxidão ligamentar<br />

e das alterações <strong>posturais</strong> comuns nas grávidas. Em <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>de</strong>ssas alterações, é comum o aparecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas<br />

e o comprometimento do <strong>equilíbrio</strong> estático e<br />

dinâmico, capazes <strong>de</strong> refletir na postura 1,2 (A, B).<br />

Na gravi<strong>de</strong>z, a coluna é um dos segmentos do corpo que mais<br />

sofre adaptações biomecânicas <strong>de</strong>vido à perturbação das suas curvas<br />

fisiológicas, que são acentuadas pelo aumento dos seios, do útero<br />

gravídico, do ganho <strong>de</strong> peso, do acúmulo <strong>de</strong> líquido e aumento da<br />

circunferência abdominal, da maior inclinação anterior da pelve e<br />

ainda por apresentar maior instabilida<strong>de</strong> articular causada pela frouxidão<br />

ligamentar, <strong>de</strong>corrente do aumento da produção do hormônio<br />

relaxina, que ocorre na gravi<strong>de</strong>z 2,3 (A). Por meio da soma <strong>de</strong>sses<br />

fatores, uma das consequências mais comuns é a <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong>.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi buscar na literatura os principais<br />

fatores fisiológicos e biomecânicos que estão associados ao<br />

surgimento <strong>de</strong> alterações <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> postural e <strong>de</strong><br />

<strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> em grávidas – os quais po<strong>de</strong>m comprometer os aspectos<br />

relacionados à sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida – e revisar métodos<br />

<strong>de</strong> prevenção e <strong>de</strong> alívio da <strong>dor</strong>.<br />

Metodologia<br />

Este estudo trata-se <strong>de</strong> uma revisão da literatura, exploratória e<br />

retrospectiva, com busca das referências bibliográficas, dos últimos<br />

quinze a<strong>no</strong>s, na base <strong>de</strong> dados Pubmed e Scielo, com as seguintes<br />

palavras-chave: gravi<strong>de</strong>z, postura, <strong>equilíbrio</strong> postural, <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> e<br />

seus termos correspon<strong>de</strong>ntes na língua inglesa. A busca foi realizada<br />

durante os meses <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010 a fevereiro <strong>de</strong> 2011, e foram<br />

encontrados 53 artigos e outros obtidos por meio <strong>de</strong> “referência<br />

cruzada”, porém, foram utilizadas neste artigo apenas 23 referências,<br />

as quais contemplavam melhor o tema proposto.<br />

Discussão<br />

<strong>Alterações</strong> fisiológicas e <strong>posturais</strong> comuns na gravi<strong>de</strong>z<br />

Durante o período gestacional, a mulher apresenta alterações<br />

hormonais, hemodinâmicas e biomecânicas do corpo 1 (B).<br />

FEMINA | Maio 2011 | vol 39 | nº 5<br />

A retenção <strong>de</strong> líquido, que, segundo Ritchie 4 (A), é comum em<br />

80% das grávidas, e mais <strong>no</strong>tável nas últimas oito semanas da<br />

gravi<strong>de</strong>z, provém das alterações hemodinâmicas e hormonais,<br />

como o aumento do volume plasmático e dos hormônios prolactina,<br />

progesterona e, em especial, do estrogênio e da aldosterona,<br />

que provocam maior reabsorção <strong>de</strong> sódio, retenção hídrica e<br />

predispõem o aparecimento <strong>de</strong> e<strong>de</strong>mas nas extremida<strong>de</strong>s do<br />

corpo, principalmente em membros inferiores. Além dos e<strong>de</strong>mas,<br />

outro fenôme<strong>no</strong> fisiológico frequentemente observado é a<br />

frouxidão ligamentar, que é exacerbada pelo aumento dos níveis<br />

dos hormônios estrogênio e relaxina, os quais contribuem para a<br />

instabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas articulações, principalmente da pelve,<br />

as sacroilíacas e a sínfise púbica, e da região <strong>lombar</strong> 1-7 (A, B).<br />

As alterações biomecânicas da postura na gravi<strong>de</strong>z são respostas<br />

adaptativas à soma <strong>de</strong> vários fatores inerentes a esse período, como<br />

o aumento dos seios, do útero gravídico, do ganho <strong>de</strong> peso e da<br />

instabilida<strong>de</strong> articular 2,3 (A). Essas adaptações são caracterizadas<br />

pela perturbação das curvas fisiológicas da coluna, pela maior<br />

inclinação anterior da pelve e rotação externa dos membros<br />

inferiores, que permitem maior base <strong>de</strong> sustentação 8 (B), e como<br />

foi observado <strong>no</strong> estudo <strong>de</strong> Ribas e Guirro 1 (B), pela alteração da<br />

distribuição do peso na região plantar dos pés, <strong>de</strong>vido ao aumento<br />

da oscilação anteroposterior do corpo. Sendo assim, por meio<br />

<strong>de</strong> ajustes <strong>posturais</strong>, é comum a grávida provocar a elevação da<br />

cabeça, intensificar a hiperextensão da coluna cervical e <strong>lombar</strong><br />

e aumentar a extensão <strong>de</strong> joelhos e tor<strong>no</strong>zelos, para conseguir<br />

manter o <strong>equilíbrio</strong> postural.<br />

Equilíbrio postural<br />

A soma das alterações hormonais, biomecânicas e o ganho<br />

<strong>de</strong> peso corporal, juntamente com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição<br />

<strong>de</strong>sse peso, é um importante fator para a <strong>de</strong>terminação da estabilida<strong>de</strong><br />

postural da grávida 1 (B).<br />

A estabilometria é uma ferramenta <strong>de</strong> estudo do controle<br />

postural que permite, por meio <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas biomecânicas, como<br />

o centro <strong>de</strong> massa (CoM) e o centro <strong>de</strong> pressão (CoP), registrar<br />

as oscilações do corpo huma<strong>no</strong> 9 (A). O CoM representa um<br />

ponto sobre o qual toda a massa <strong>de</strong> um objeto está igualmente<br />

distribuída, e a partir <strong>de</strong>ste, o estudo da sua trajetória permite<br />

mensurar o balanço postural, que é a oscilação natural que o<br />

corpo apresenta quando está na postura ortostática. O CoP é a<br />

projeção do CoM na base <strong>de</strong> sustentação e resulta da interação<br />

das forças <strong>de</strong> reação do solo (FRS) com o apoio do corpo com o<br />

chão 1,9-11 (A, B).<br />

Estudos mostram a presença <strong>de</strong> perturbações do <strong>equilíbrio</strong><br />

postural da grávida, haja vista o <strong>de</strong>slocamento natural do CoM,<br />

pelo aumento do peso corporal, da circunferência abdominal 1 (B) e


pela distribuição assimétrica do peso. No entanto, elas <strong>de</strong>senvolvem<br />

estratégias para a manutenção da postura ortostática 11 (B).<br />

No estudo <strong>de</strong> Oliveira et al. 11 (B), não houve mudança significativa<br />

na base <strong>de</strong> suporte das grávidas entre o primeiro e o<br />

terceiro trimestre, mas <strong>de</strong>monstram alteração do <strong>de</strong>slocamento<br />

anteroposterior do CoP, na posição ortostática, durante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do período gestacional, assim como foi observado<br />

por Jang et al. 12 (B), o aumento da instabilida<strong>de</strong> postural na<br />

direção anteroposterior quando comparado ao grupo controle<br />

(não grávidas) com as grávidas do estudo. Já Dumas et al. 13 (B),<br />

em seu estudo com 65 grávidas, observaram o aumento da base<br />

<strong>de</strong> suporte <strong>no</strong> final da gravi<strong>de</strong>z. Butler et al. 14 (B) avaliaram<br />

as oscilações do CoP por meio <strong>de</strong> uma plataforma <strong>de</strong> força e<br />

verificaram uma diminuição do <strong>equilíbrio</strong> postural das grávidas<br />

<strong>no</strong> segundo e terceiro trimestres, quando comparado ao<br />

grupo controle (não grávidas). Além disso, observaram que<br />

os estímulos visuais são importantes para a manutenção do<br />

balanço postural durante a gravi<strong>de</strong>z, visto que, durante os<br />

testes com os olhos fechados, as gestantes apresentavam maiores<br />

oscilações, porém, não conseguiram correlacionar a alteração<br />

do balanço postural ao ganho <strong>de</strong> peso durante a gravi<strong>de</strong>z. As<br />

divergências entre os resultados <strong>de</strong> alguns estudos po<strong>de</strong>m ser<br />

justificadas pela individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong> cada grávida<br />

às mudanças ocorridas na gravi<strong>de</strong>z e por suas características<br />

<strong>posturais</strong> prévias 1 (B).<br />

Dor <strong>lombar</strong><br />

Dentre as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas comuns na gravi<strong>de</strong>z,<br />

a mais reportada na literatura é a <strong>dor</strong> nas costas, com ênfase nas<br />

<strong>dor</strong>es <strong>lombar</strong>es e pélvicas, pois, em média, 50% da população <strong>de</strong><br />

grávidas apresentam esses sintomas 15,16 (B). As <strong>dor</strong>es nas costas<br />

relatadas por essa população se caracterizam por <strong>dor</strong>es <strong>lombar</strong>es e<br />

na região das articulações sacroilíacas, que po<strong>de</strong>m ter irradiação<br />

do sintoma para face posterior das coxas e serem intensificadas<br />

durante a marcha 17 (B). Estudos evi<strong>de</strong>nciam que não são apenas<br />

as alterações <strong>posturais</strong> que causam esses sintomas, mas sim um<br />

conjunto <strong>de</strong> mudanças comuns <strong>no</strong> organismo da grávida, como:<br />

a instabilida<strong>de</strong> articular, o ganho <strong>de</strong> peso, principalmente na<br />

região abdominal e o aumento do estresse mecânico sobre os<br />

músculos da coluna e do quadril 3,5,17 (A, B), e outros fatores como<br />

ida<strong>de</strong> materna avançada, sucessivos partos, presença <strong>de</strong> <strong>dor</strong> na<br />

coluna previamente à gravi<strong>de</strong>z, obstrução <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s vasos e<br />

história <strong>de</strong> espondilolistese, também po<strong>de</strong>m contribuir para o<br />

aparecimento do quadro álgico 3 (A). O aumento da fatigabilida<strong>de</strong><br />

dos músculos da coluna é um dos fatores em <strong>de</strong>staque na<br />

literatura atual, pois po<strong>de</strong> estar associado ao aparecimento do<br />

quadro álgico 17,18 (B). Durante a gravi<strong>de</strong>z, é comum o aumento<br />

<strong>Alterações</strong> <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> e <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> <strong>no</strong> período gestacional<br />

gradual da sobrecarga sobre os músculos flexores e extensores da<br />

coluna e dos extensores do quadril 17 (B), e as adaptações <strong>de</strong>sses<br />

músculos po<strong>de</strong>m ser insuficientes para a estabilização das articulações<br />

sacroilíacas e da coluna <strong>lombar</strong> durante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ste período 18 (B).<br />

No estudo <strong>de</strong> Sihvonen et al. 15 (B), com 32 gestantes, foi<br />

observada uma correlação positiva significativa entre intensida<strong>de</strong><br />

da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> e nível <strong>de</strong> ativação dos músculos paraespinhais<br />

da coluna <strong>lombar</strong> <strong>no</strong> primeiro trimestre gestacional. Gutke et<br />

al. 17 (B) também observaram que os músculos flexores e extensores<br />

da coluna das grávidas com <strong>dor</strong> pélvica ou <strong>dor</strong> pélvica associada<br />

à <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> apresentavam me<strong>no</strong>r resistência à fadiga quando<br />

comparados às mulheres sem quadro <strong>de</strong> <strong>dor</strong>. Entretanto, Dumas<br />

et al. 18 (B) não comprovaram que o aumento da fatigabilida<strong>de</strong><br />

dos principais músculos extensores da coluna possa ser um<br />

fator preditivo para o surgimento <strong>de</strong> <strong>dor</strong>es nas costas durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z, muito embora tenham observado que a <strong>dor</strong> modifica<br />

a sinergia e os padrões <strong>de</strong> coativação <strong>de</strong>sses músculos.<br />

Métodos <strong>de</strong> prevenção e alívio da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong><br />

Existem métodos que contribuem para o alívio da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong><br />

sem o uso <strong>de</strong> fármacos durante a gravi<strong>de</strong>z, envolvendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

hábitos <strong>de</strong> vida saudável, como a prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física, até<br />

o tratamento fisioterapêutico, a fim <strong>de</strong> ajudar na manutenção da<br />

postura da coluna vertebral e promover adaptações biomecânicas<br />

mais eficientes ao longo da gravi<strong>de</strong>z 19 (B).<br />

Segundo alguns estudos, a ativida<strong>de</strong> física contribui para o<br />

alívio da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong>, pois exercícios mo<strong>de</strong>rados e executados<br />

regularmente po<strong>de</strong>m auxiliar <strong>no</strong> restabelecimento da consciência<br />

corporal, na adaptação à <strong>no</strong>va postura e melhorar a resistência<br />

e a flexibilida<strong>de</strong> muscular, reduzindo assim a sobrecarga sobre<br />

os músculos <strong>lombar</strong>es a qual é gerada pela hiperlordose <strong>lombar</strong><br />

comum na gravi<strong>de</strong>z 7,20,21 (A,B). A ativida<strong>de</strong> física durante a gravi<strong>de</strong>z<br />

diminui o risco <strong>de</strong> lesões e melhora a habilida<strong>de</strong> motora<br />

durante o próprio exercício e nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho<br />

diários. Garshasbi e Za<strong>de</strong>h 7 (B), em seu estudo, observaram<br />

que um programa <strong>de</strong> exercícios que envolve caminhada leve,<br />

alongamentos e exercícios específicos para a grávida contribuiu<br />

para uma diminuição significativa da intensida<strong>de</strong> da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong><br />

quando comparado com o grupo controle, composto por grávidas<br />

que não executaram os exercícios físicos. No estudo <strong>de</strong> Martins<br />

e Silva 21 (B), também foi observado que grávidas submetidas a<br />

exercícios utilizando um método <strong>de</strong> alongamento (Stretching<br />

Global Ativo) apresentaram diminuição ou até mesmo ausência<br />

dos <strong>de</strong>sconfortos <strong>lombar</strong>es.<br />

Os efeitos dos exercícios aeróbicos leves que ajudam <strong>no</strong><br />

controle do ganho <strong>de</strong> peso, assim como exercícios aquáticos que<br />

FEMINA | Maio 2011 | vol 39 | nº 5 243


244<br />

Moreira LS, Andra<strong>de</strong> SRS, Soares V, Avelar IS, Amaral WN, Vieira MF<br />

diminuem o impacto sobre as articulações, além <strong>de</strong> causar um<br />

efeito <strong>de</strong> relaxamento pelas proprieda<strong>de</strong>s da água, também têm<br />

sido estudados durante a gravi<strong>de</strong>z. Granath et al. 22 (B) observaram<br />

que as grávidas submetidas a um programa <strong>de</strong> exercícios<br />

aquáticos apresentaram melhora significativa da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong>.<br />

Outros estudos também têm observado a influência positiva <strong>de</strong><br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exercícios como Pilates e Yoga, que propiciam<br />

o re<strong>equilíbrio</strong> muscular, a melhora da consciência corporal, da<br />

respiração e da sensação <strong>de</strong> bem-estar 20, 23 (A).<br />

Além da ativida<strong>de</strong> física, a acupuntura e a fisioterapia clássica,<br />

que são modalida<strong>de</strong>s efetivas <strong>de</strong> tratamento, também atuam na<br />

prevenção e <strong>no</strong> alívio dos sintomas álgicos <strong>lombar</strong>es e pélvicos.<br />

A acupuntura usa da inserção <strong>de</strong> agulhas na pele para o estímulo<br />

da liberação <strong>de</strong> substâncias analgésicas e anti-inflamatórias,<br />

produzidas pelo próprio organismo, propiciando o alívio da<br />

<strong>dor</strong>. Na fisioterapia, as condutas terapêuticas abordam tanto o<br />

trabalho preventivo com a grávida, como a preparação para o<br />

Leituras suplementares<br />

1. Ribas SI, Guirro ECO. Análise da pressão plantar e do <strong>equilíbrio</strong> postural em<br />

diferentes fases da gestação. Rev Bras Fisioter. 2007;11(5):391-6.<br />

2. Borg-Stein J, Dugan SA, Gruber J. Musculoskeletal aspects of pregnancy. Am J<br />

Phys Med Rehabil. 2005;84(3):180-92.<br />

3. Borg-Stein J, Dugan SA. Musculoskeletal disor<strong>de</strong>rs of pregnancy, <strong>de</strong>livery and<br />

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6. Smith MW, Marcus PS, Wurtz LD. Orthopedic issues in pregnancy. Obstet Gynecol<br />

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FEMINA | Maio 2011 | vol 39 | nº 5<br />

parto e o pós-parto, quanto tratamentos com a cinesioterapia,<br />

hidroterapia, reeducação postural, terapias manuais e recursos<br />

analgésicos para o controle das <strong>dor</strong>es referidas <strong>no</strong>s segmentos<br />

<strong>lombar</strong>es e pélvicos 19 (B).<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

As mudanças morfológicas e fisiológicas do corpo da mulher<br />

são importantes e necessárias para o ple<strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

gravi<strong>de</strong>z. No entanto, po<strong>de</strong>m comprometer aspectos da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida.<br />

Portanto, as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas são um forte<br />

indicativo <strong>de</strong> persistência <strong>de</strong> sintomas álgicos durante a gravi<strong>de</strong>z<br />

e <strong>no</strong> pós-parto. O conhecimento <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns permite ao<br />

profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a elaboração <strong>de</strong> intervenções preventivas<br />

ou o diagnóstico e o tratamento precoce dos sintomas, o que<br />

contribui para diminuir os riscos à saú<strong>de</strong> da gestante.<br />

13. Dumas GA, Reid JG, Wolfe LA, Griffin MP, McGrath MJ. Exercise, posture, and<br />

back pain during pregnancy. Part 1: exercise and posture. Clin Biomech (Bristol,<br />

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16. Dumas GA, Reid JG, Wolfe LA, Griffin MP, McGrath MJ. Exercise, posture, and<br />

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Avon). 1995;10(2):104-9.<br />

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