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Análise de obrAs literáriAs<br />
ANTOLOGIA POÉTICA<br />
VinÍCius de MorAes<br />
Rua General Celso de Mello Rezende, 301 – Tel.: (16) 3603·9700<br />
CEP 14095-270 – Lagoinha – Ribeirão Preto-SP<br />
www.sistemacoc.com.br
Aol-11<br />
suMário<br />
1. Contexto soCiAl e históriCo .................................................... 7<br />
2. estilo literário dA époCA ........................................................... 9<br />
3. o Autor ................................................................................................. 10<br />
4. A obrA .................................................................................................... 14<br />
5. exerCÍCios .......................................................................................... 29
ANTOLOGIA POÉTICA<br />
VinÍCius de MorAes
o ModeRnisMo<br />
Aol-11 1. Contexto soCial e HistÓRiCo<br />
7<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
o início do século xx foi marcado por profundas mudanças de ordem tecnológica<br />
e científica. No entanto, os artistas não ficaram à margem das transformações.<br />
A europa se encontrava em intensa turbulência. problemas de natureza<br />
política e conflitos entre países vizinhos contribuíram para o surgimento, em<br />
1914, da Primeira Guerra Mundial. Tais crises geraram um clima propício para<br />
a efervescência artística, favorecendo o aparecimento das chamadas vanguardas<br />
europeias. essas manifestações artísticas eram formadas por intelectuais em geral<br />
que, não satisfeitos com o mundo turbulento à sua volta, buscaram novas soluções,<br />
novas formas de expressão artística, surgindo assim os famosos “ismos”:<br />
futurismo, expressionismo, cubismo, dadaísmo e surrealismo.<br />
Apesar de diferentes entre si, as vanguardas guardavam algumas semelhanças,<br />
principalmente em se tratando do questionamento à herança cultural<br />
proveniente do século xix. havia consenso contra a arte conservadora e cristalizada<br />
do passado, e fazia-se urgente a construção de novos modelos de beleza<br />
e de arte.<br />
a situação HistÓRiCa<br />
A enorme crise econômica, social e moral que acontecia na Europa, durante<br />
o período “entreguerras”, estendeu-se aos países capitalistas na década de 20.<br />
Os liberais sofreram vários ataques e, a partir da Primeira Guerra (1914) e da<br />
Revolução Russa (1917), viram-se enfraquecidos e mais tarde derrotados. Toda<br />
essa instabilidade foi gerada por uma verdadeira insatisfação e por um forte<br />
rompimento com os ideais do século XIX. Tanto as correntes cientificistas sur-
Vinícius de Moraes<br />
gidas no século anterior, como o positivismo, o determinismo e outras, quanto<br />
uma postura artística voltada para a forma pura não faziam mais sentido diante<br />
do caos estabelecido. O grande avanço tecnológico, que trazia o automóvel, o<br />
cinema, as fábricas e até as máquinas voadoras, enaltecia a velocidade, a energia,<br />
o movimento, o futuro e o progresso. Os conflitos mundiais geraram grandes<br />
transformações e acabaram por criar, em alguns países, um forte nacionalismo<br />
que se ramificou em novas correntes ideológicas, como o nazismo, o fascismo e<br />
o comunismo, que, sem dúvida, mudaram a face do mundo.<br />
o ModeRnisMo no BRasil<br />
No Brasil, a ideia de que era necessária uma mudança radical no meio<br />
artístico-cultural não era adotada por todos. A árdua tarefa ficou a encargo de<br />
um grupo de jovens artistas (escritores, pintores etc.) que promoviam e articulavam<br />
movimentos com o objetivo de agitar o ambiente cultural adormecido da<br />
época.<br />
Liderados por Oswald de Andrade e Mário de Andrade, o grupo não sabia<br />
ainda bem o que queria, mas sabia exatamente o que não queria. São Paulo<br />
responsabilizou-se por essa empreitada de renovação artística. O grupo pretendia<br />
dar um novo grito de independência (1922 – 100 anos da independência do Brasil)<br />
contra o atraso cultural do país. Após meses e meses de preparo, entre apoios<br />
e críticas, os jovens, com a importante adesão de nomes como Graça Aranha,<br />
Paulo Prado e outros que financiaram o evento, apresentaram a Semana de Arte<br />
Moderna no Teatro Municipal de São Paulo.<br />
A partir desse momento, o Modernismo iniciou seu longo caminho de<br />
“abre-alas” cultural, estendendo-se por muitos anos. Sendo assim, costuma-se<br />
caracterizar o movimento por fases, de acordo com seus principais objetivos:<br />
Fase objetivos Representantes<br />
1ª fase (fase heroica)<br />
1922 a 1930<br />
2ª fase<br />
(fase de consolidação)<br />
1930 a 1945<br />
Pós-Modernismo<br />
a partir de 1945<br />
rompimento com o<br />
passado. Caráter anárquico<br />
e destruidor.<br />
Amadurecimento das<br />
con quistas da fase<br />
anterior.<br />
engajamento político.<br />
Denúncia dos problemas<br />
sociais.<br />
inovações na prosa e<br />
na poesia.<br />
diversidade literária.<br />
8<br />
oswald de Andrade<br />
Mário de Andrade<br />
Manuel bandeira<br />
Alcântara Machado<br />
Graciliano Ramos<br />
Rachel de Queirós<br />
Jorge Amado<br />
Carlos drummond de Andrade<br />
Cecília Meireles<br />
Vinícius de Moraes<br />
Guimarães Rosa<br />
Clarice lispector<br />
João Cabral de Melo Neto
Aol-11 2. estilo liteRáRio da éPoCa<br />
9<br />
Antologia <strong>poética</strong>
Vinícius de Moraes<br />
3. o autoR<br />
Marcus Vinícius da Cruz de<br />
Mello Moraes nasceu, em meio a<br />
forte temporal, na madrugada de<br />
19 de outubro de 1913, no bairro<br />
da Gávea, Rio de Janeiro. Cursou<br />
o ensino Médio com os jesuítas do<br />
Colégio santo inácio e graduou-se<br />
em direito em 1933.<br />
no mesmo ano lançou O caminho<br />
para a distância, sua primeira<br />
obra. Nas décadas de 1930 e 40, trabalhou<br />
como censor e como crítico<br />
de cinema, além de estudar literatura<br />
inglesa em Oxford.<br />
Em 1943, ingressou na carreira<br />
diplomática e serviu nos estados<br />
Unidos, Espanha, Uruguai e França.<br />
Capitão-do-mato, poeta, diplomata,<br />
Aposentou-se como diplomata em<br />
o branco mais preto do Brasil. Saravá.<br />
1968. No entanto, durante todo esse<br />
tempo, não perdeu contato com o ambiente artístico e literário carioca.<br />
Em 1954, tornou-se conhecido no meio artístico por sua peça teatral Orfeu<br />
da Conceição. Em meados da década de 1950, sua carreira artística definitivamente<br />
tomou corpo. Foi nessa mesma época que ele conheceu Tom Jobim, um dos seus<br />
parceiros mais costumeiros, e que diversas de suas composições foram gravadas<br />
por inúmeros artistas.<br />
A partir daí, muitas outras parcerias foram-se firmando: Baden Powell,<br />
Toquinho, Carlos Lyra, Chico Buarque e Francis Hime, dentre outros.<br />
Poeta que ousou viver sob o signo da paixão, como dizia Carlos Drummond<br />
de Andrade, Vinícius casou-se nove vezes, sempre apaixonado e acreditando ter<br />
encontrado seu grande amor.<br />
Em 1979, voltando da Europa, sofreu um derrame cerebral no avião, do<br />
qual não se recuperou totalmente, sendo operado a 17 de abril de 1980 para a<br />
instalação de um dreno cerebral.<br />
Morreu, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na<br />
Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher, Gilda de Queirós<br />
Mattoso.<br />
10
Aol-11<br />
Vinícius de Moraes: o nosso poetinha<br />
11<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
Além de ser considerado um dos maiores e mais conhecidos compositores<br />
da música popular brasileira, Vinícius de Moraes também foi um importante<br />
poeta da chamada segunda fase do Modernismo brasileiro.<br />
Embora tenha iniciado sua carreira representando, com Cecília Meireles,<br />
o Neossimbolismo, sua poesia encaminhou-se para uma estética mais moderna,<br />
valorizando o momento presente, as situações cotidianas e apresentando um<br />
forte sensualismo erótico.<br />
No entanto, em seus poemas esse erotismo latente oscila entre as angústias<br />
do pecador, com forte educação católica, e os desejos de liberdade do bon-vivant<br />
amoral. Essa conjunção de contrastes deriva, certamente, numa <strong>poética</strong> que busca<br />
descobrir os caminhos e os descaminhos do amor carnal.<br />
Considerado pela crítica um dos maiores sonetistas do século XX, no<br />
Brasil, o poeta marcou gerações com sonetos como o de fidelidade e o de separação<br />
(presentes na obra).<br />
oBRas do autoR<br />
De acordo com o próprio poeta, sua obra pode ser assim classificada:<br />
• 1ª fase<br />
Fase transcendental, resultante de sua educação cristã, é uma fase de profundo<br />
misticismo e, portanto, marcada pela preocupação religiosa, pela angústia<br />
existencial diante da condição humana e pelo desejo de superar o pecado e a<br />
culpa, inerentes ao homem, pela via da transcendência mística.<br />
Em geral, os poemas deste período são longos e se utilizam de linguagem<br />
abstrata. esta fase se inicia com a obra O caminho para a distância (1933) e se finaliza<br />
com a obra Ariana, a mulher (1936).<br />
o incriado<br />
Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo – outro luar eu vi passar na altura<br />
Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera<br />
O vento ríspido agita sombras de araucárias em corpos nus unidos se amando<br />
E no meu ser todas as agitações se anulam como as vozes dos campos moribundos.<br />
Oh, de que serve ao amante o amor que não germinará na terra infecunda<br />
De que serve ao poeta desabrochar sobre o pântano e cantar prisioneiro?<br />
Nada há a fazer pois que estão brotando crianças trágicas como cactos<br />
Da semente má que a carne enlouquecida deixou nas matas silenciosas.
Vinícius de Moraes<br />
Nem plácidas visões restam aos olhos – só o passado surge se a dor surge<br />
E o passado é como o último morto que é preciso esquecer para ter vida<br />
Todas as meias-noites soam e o leito está deserto do corpo estendido<br />
Nas ruas noturnas a alma passeia, desolada e só em busca de Deus.<br />
[...]<br />
Eu sou o Incriado de Deus, o que não pode fugir à carne e à memoria<br />
Eu sou como velho barco longe do mar, cheio de lamentações no vazio do bojo<br />
No meu ser todas as agitações se anulam – nada permanece para a vida<br />
Só eu permaneço parado dentro do tempo passado, passando, passando...<br />
• 2ª fase<br />
Nesta fase, há grande aproximação da <strong>poética</strong> de Vinícius com o mundo<br />
real. É quando o poeta passa a se interessar por temas cotidianos, por uma abordagem<br />
mais simples da vida e mais sensual dos temas que versam sobre o amor<br />
e a mulher.<br />
Também a linguagem empregada pelo poeta se transforma, tendendo mais<br />
à simplicidade, com utilização do verso livre, para uma comunicação mais direta<br />
e mais dinâmica com o leitor. Apesar de sua poesia, desde cedo, ter tido como<br />
características certa dicção clássica e a predileção pelo soneto, pela primeira vez<br />
podemos perceber que a <strong>poética</strong> de Vinícius mostra uma aproximação maior às<br />
propostas dos modernistas de 1922.<br />
O soneto, forma clássica do poema, adquire roupagem mais moderna<br />
e mais real nas mãos de Vinícius. Em seus sonetos, o poeta faz largo uso de<br />
termos simples e cotidianos, expediente pouco comum neste tipo de composição.<br />
Abaixo, um exemplo de erotismo no soneto, uma ousadia de Vinícius:<br />
Poesia social<br />
soneto de despedida (Fragmento)<br />
Uma lua no céu apareceu<br />
Cheia e branca; foi quando, emocionada,<br />
A mulher a meu lado estremeceu<br />
E se entregou sem que eu dissesse nada.<br />
A poesia de cunho social também foi característica da obra de Vinícius.<br />
Neste tipo de poema, o poeta se utiliza de uma linguagem ainda mais simples e<br />
mais direta, chegando quase ao didatismo. O seu objetivo é despertar a consciência<br />
social no leitor por via de quem o lê ou o ouve.<br />
12
Aol-11<br />
13<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
O melhor exemplo dessa poesia social é o poema Operário em construção,<br />
que fecha sua <strong>antologia</strong> <strong>poética</strong>, do qual se reproduz o trecho abaixo:<br />
Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão.<br />
Como um pássaro sem asas<br />
Ele subia com as casas<br />
Que lhe brotavam da mão.<br />
Mas tudo desconhecia<br />
De sua grande missão:<br />
Não sabia, por exemplo<br />
Que a casa de um homem é um templo<br />
Um templo sem religião<br />
Como tampouco sabia<br />
Que a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão.<br />
[...]<br />
Notou que sua marmita<br />
Era o prato do patrão<br />
Que sua cerveja preta<br />
Era o uísque do patrão<br />
Que seu macacão de zuarte<br />
Era o terno do patrão<br />
Que o casebre onde morava<br />
Era a mansão do patrão<br />
Que seus dois pés andarilhos<br />
Eram as rodas do patrão<br />
Que a dureza do seu dia<br />
Era a noite do patrão<br />
Que sua imensa fadiga<br />
Era amiga do patrão.<br />
E o operário disse: Não!<br />
E o operário fez-se forte<br />
Na sua resolução.<br />
[...]
Vinícius de Moraes<br />
4. a oBRa<br />
14
Aol-11<br />
15<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
A obra Antologia <strong>poética</strong> já passou por algumas versões. A primeira publicação<br />
aconteceu em 1954, pela editora A Noite, do Rio de Janeiro. O volume<br />
abre-se com uma advertência (do autor, sem dúvida, embora sem assinatura,<br />
com indicação de local e data):<br />
Poderia este livro ser dividido em duas partes, correspondentes a dois períodos<br />
distintos na poesia do A.<br />
A primeira, transcendental, frequentemente mística, resultante de sua fase cristã,<br />
termina com o poema “Ariana, a mulher”, editado em 1936. Salvo, aqui e ali, umas pequenas<br />
emendas, a única alteração digna de nota nesta parte foi reduzir-se o poema “O<br />
cemitério da madrugada” às quatro estrofes iniciais, no que atendeu o A. a uma velha<br />
idéia de seu amigo Rodrigo M. F. de Andrade.<br />
À segunda parte, que abre com o poema “O falso mendigo”, o primeiro, ao que<br />
se lembra o A., escrito em oposição ao transcendentalismo anterior, pertencem algumas<br />
poesias do livro Novos poemas, também representado na outra fase, e os demais versos<br />
publicados posteriormente em livros, revistas e jornais. Nela estão nitidamente marcados<br />
os movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil mas consistente repulsa<br />
ao idealismo dos primeiros anos.<br />
De permeio foram colocadas as Cinco elegias (1943), como representativas do<br />
período de transição entre aquelas duas tendências contraditórias, – livro também onde<br />
elas melhor se encontram e fundiram em busca de uma sintaxe própria.<br />
Não obstante certas disparidades, facilmente verificáveis no índice, impôs-se o<br />
critério cronológico para uma impressão verídica do que foi a luta mantida pelo A. contra<br />
si mesmo no sentido de uma libertação, hoje alcançada, dos preconceitos e enjoamentos de<br />
sua classe e do seu meio, os quais tanto, e tão inutilmente, lhe angustiaram a formação.<br />
Los Angeles, junho de 1949.<br />
Esse volume apresentava, nas “orelhas“, o seguinte texto do escritor Rubem<br />
braga.<br />
Este livro reúne a maior e a melhor parte da obra de um dos grandes poetas do Brasil.<br />
Vinícius de Moraes nasceu no Rio, em 1913, aqui se formou em Direito e entrou,<br />
por concurso, para a carreira diplomática. Serviu durante quatro anos no consulado brasileiro<br />
em Los Angeles e está no momento como secretário de nossa embaixada em Paris.<br />
Seu primeiro livro foi O caminho para a distância, do qual pouco aproveitou nesta<br />
seleção, seguindo-se Ariana, a mulher e Forma e exegese, com o qual conquistou o<br />
Prêmio Felipe de Oliveira. Publicou a seguir Novos poemas, Cinco elegias, Poemas,<br />
sonetos e baladas e pátria minha que firmaram seu nome, no consenso da crítica, como<br />
o melhor poeta da turma que hoje entra pela casa dos quarenta. Alguns desses livros<br />
foram feitos em edições limitadas; todos estão há longo tempo esgotados, o que faz com<br />
que grandes admiradores de Vinícius de Moraes conheçam apenas uma pequena parte de<br />
sua obra. Esta seleção, feita pelo próprio poeta com a ajuda de amigos – principalmente<br />
Manuel Bandeira –, adquire, assim, uma grande importância, pois possibilita um estudo<br />
da evolução do poeta e a admiração do que ele tem feito de mais alto e melhor.
Vinícius de Moraes<br />
Vindo de um misticismo de fundo religioso para uma poesia nitidamente sensual<br />
que depois se muda em versos marcados por um fundo sentimento social, a obra de Vinícius<br />
tem como constante um lirismo de grande força e pureza. Ainda com o risco de<br />
incorrer na censura dos que levam suas preocupações puritanas ao domínio das artes,<br />
não quiseram os amigos do poeta, principalmente o que assina esta nota, e assim se faz<br />
responsável por esta resolução, suprimir algumas palavras ou expressões mais fortes<br />
que de raro em raro aparecem em seus versos. Isso fará com que não seja recomendável a<br />
presença deste livro em mãos juvenis – mas resguarda a pureza de sua poesia, que tudo,<br />
em poesia, transfigura. Estamos certos de que, com a edição deste livro, a obra de Vinícius<br />
de Moraes ganhará uma popularidade maior, e passará a ter, entre o público, o lugar de<br />
honra que há muito ocupa no espírito e no sentimento dos poetas e dos críticos.<br />
Uma segunda edição, acrescida de uma seleção dos Novos poemas II, (1959),<br />
aconteceu anos mais tarde, em 1960, pela Editora do Autor. Porém, anos mais<br />
tarde, já postumamente, uma nova versão da obra foi lançada, em 2003, da qual<br />
apresentamos o texto introdutório:<br />
nova <strong>antologia</strong> <strong>poética</strong><br />
A antiga Antologia <strong>poética</strong> de Vinícius de Moraes data de 1954. Foi organizada<br />
pelo próprio autor (com a ajuda de amigos, principalmente Manuel Bandeira), que a<br />
atualizou em 1967, mantendo sua estrutura.<br />
Esta nova <strong>antologia</strong> <strong>poética</strong> vem assinada pelos poetas Antônio Cícero e Eucanaã<br />
Ferraz, e foi lançada originalmente em 2003. Os organizadores reviram conceitos,<br />
refizeram a estrutura e montaram uma seleção criteriosa, lançando um olhar renovado<br />
sobre a obra viniciana.<br />
Tanto a crítica especializada quanto o público reconheceram de imediato que na<br />
nova <strong>antologia</strong> a poesia de Vinícius de Moraes mostra-se mais livre, mais moderna, mais<br />
densa e, simultaneamente, mais leve. O volume foi um sucesso imediato, e logo passou<br />
a ser editado também na Companhia de Bolso.<br />
Ele passa a fazer parte, agora, do novo projeto editorial das obras de Vinícius de<br />
Moraes e traz, entre outras novidades, um belo caderno de imagens com diversas fotos<br />
inéditas, reprodução de manuscritos e documentos raros. Fechando o volume, o leitor<br />
encontrará uma seleção de textos críticos, entre eles a orelha da “velha” Antologia <strong>poética</strong>,<br />
assinada por Rubem Braga, seguindo-se uma cronologia da vida e da obra deste que é um<br />
dos maiores poetas brasileiros do século XX.<br />
estRutuRa da oBRa<br />
Como já foi explicitado anteriormente, a obra apresenta poemas de fases<br />
distintas do poeta, assim representadas:<br />
– 27 poemas correspondentes à fase transcendental do poeta (1933-1936);<br />
– 05 elegias que ilustram a fase de transição do poeta (1943);<br />
– 112 poemas correspondentes à fase de maior aproximação do mundo material.<br />
16
Aol-11<br />
análise dos PoeMas<br />
• Primeira parte<br />
17<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
Iniciaremos nossa análise de forma cronológica, ou seja, primeiramente<br />
trabalharemos com os poemas da fase transcendental e mística do autor.<br />
Durante a produção <strong>poética</strong> das obras dessa primeira fase, Vinícius apresenta<br />
certa singularidade essencial em não ter pertencido, realmente, a uma geração,<br />
no sentido convencional da palavra, mas a um grupo ideológico: o dos escritores<br />
católicos, que juntamente com Jorge de Lima, Murilo Mendes, Octávio de Faria,<br />
Otto Lara Resende, Pedro Nava, Augusto Frederico Schmidt e outros procuravam<br />
restaurar em Cristo não só a poesia, mas também o pensamento brasileiro em<br />
geral, construindo uma restauração que se pretendia não arcaizante, mas sim,<br />
modernizante.<br />
Sob esse aspecto, a restauração católica tinha algo de desesperado, procurando<br />
reconquistar a intelectualidade, corrigindo-lhe a perigosa deriva esquerdista.<br />
Vinícius, a esse tempo, mostrava-se resistente ao Modernismo de 22,<br />
repelindo, principalmente, o que considerava um anarquismo formal.<br />
A seguir, um poema representativo dessa temática:<br />
o olhar para trás (Fragmento)<br />
Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor<br />
Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante...<br />
Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha fatalidade<br />
Sobre o cadáver ainda morno desse passado adolescente.<br />
Talvez no espaço perfeito aparecesse a visão nua<br />
Ou talvez a porta do oratório se fosse abrindo misteriosamente...<br />
Eu estaria esquecido, tateando suavemente a face do filho morto<br />
Partido de dor, chorando sobre o seu corpo insepultável.<br />
Talvez da carne do homem prostrado se visse sair uma sombra igual à minha<br />
Que amasse as andorinhas, os seios virgens, os perfumes e os lírios da terra<br />
Talvez… mas todas as visões estariam também em minhas lágrimas boiando<br />
E elas seriam como óleo santo e como pétalas se derramando sobre o nada.<br />
[...]<br />
Agora porém estou vivendo da tua chama como a cera<br />
O infinito nada poderá contra mim porque de mim quer tudo<br />
Ele ama no teu sereno cadáver o terrível cadáver que eu seria
Vinícius de Moraes<br />
O belo cadáver nu cheio de cicatriz e de úlceras.<br />
Quem chamou por mim, tu, mãe? Teu filho sonha...<br />
Lembras-te, mãe, a juventude, a grande praia enluarada...<br />
Pensaste em mim, mãe? Oh, tudo é tão triste<br />
A casa, o jardim, o teu olhar, o meu olhar, o olhar de Deus...<br />
E sob a minha mão tenho a impressão da boca fria murmurando<br />
Sinto-me cego e olho o céu e leio nos dedos a mágica lembrança<br />
Passastes, estrelas... Voltais de novo arrastando brancos véus<br />
Passastes, luas... Voltais de novo arrastando negros véus...<br />
Essa produção, que faz parte da primeira fase, revela-se impregnada de<br />
Romantismo, com influências nítidas de Rilke e Whitman, marcada por uma<br />
retórica discursiva em que a mulher aparece como tentação impura, o eu lírico<br />
se apresenta confuso, perdido, culpado, e a morte se impõe.<br />
A seguir, poemas representativos dessa temática:<br />
o poeta (Fragmento)<br />
Quantos somos, não sei... Somos um, talvez dois, três, talvez, quatro; cinco, talvez<br />
[nada<br />
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil e cujos restos encheriam doze Terras<br />
Quantos, não sei... Só sei que somos muitos – o desespero da dízima infinita<br />
E que somos belos deuses mas somos trágicos.<br />
Viemos de longe... Quem sabe no sono de Deus tenhamos aparecido como espectros<br />
Da boca ardente dos vulcões ou da órbita cega dos lagos desaparecidos<br />
Quem sabe tenhamos germinado misteriosamente do sono cauterizado das batalhas<br />
Ou do ventre das baleias quem sabe tenhamos surgido?<br />
Viemos de longe – trazemos em nós o orgulho do anjo rebelado<br />
Do que criou e fez nascer o fogo da ilimitada e altíssima misericórdia<br />
Trazemos em nós o orgulho de sermos úlceras no eterno corpo de Jó<br />
E não púrpura e ouro no corpo efêmero de Faraó.<br />
Nascemos da fonte e viemos puros porque herdeiros do sangue<br />
E também disformes porque – ai dos escravos! não há beleza nas origens<br />
Voávamos – Deus dera a asa do bem e a asa do mal às nossas formas impalpáveis<br />
Recolhendo a alma das coisas para o castigo e para a perfeição na vida eterna.<br />
18
Aol-11<br />
[...]<br />
19<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
Quantos somos, não sei... somos um, talvez dois, três, talvez quatro; cinco, talvez, nada<br />
Talvez a multiplicação de cinco mil e cujos restos encheriam doze Terras<br />
Quantos, não sei… Somos a constelação perdida que caminha largando estrelas<br />
Somos a estrela perdida que caminha desfeita em luz.<br />
Fase de transição: Cinco elegias<br />
No próprio dizer do poeta, as Cinco elegias são representativas do período<br />
de transição entre as duas tendências contraditórias de sua produção <strong>poética</strong>,<br />
uma mais mística e a outra, mais cotidiana.<br />
Nas Elegias, notamos o início dessa transformação não só nas temáticas,<br />
mas também na estruturação mais livre dos poemas, tanto em relação às rimas<br />
como às métricas, como veremos a seguir.<br />
elegia quase uma ode (Fragmento)<br />
Meu sonho, eu te perdi; tornei-me em homem.<br />
O verso que mergulha o fundo de minha alma<br />
É simples e fatal, mas não traz carícia...<br />
Lembra-me de ti, poesia criança, de ti<br />
Que te suspendias para o poema como que para um seio no espaço.<br />
Levavas em cada palavra a ânsia<br />
De todo o sofrimento vivido.<br />
Queria dizer coisas simples, bem simples<br />
Que não ferissem teus ouvidos, minha mãe.<br />
Queria falar em Deus, falar docemente em Deus<br />
Para acalentar tua esperança, minha avó.<br />
Queria tornar-me mendigo, ser miserável<br />
Para participar de tua beleza, meu irmão.<br />
Queria, meus amigos... queria, meus inimigos...<br />
Queria...<br />
queria tão exaltadamente, minha amiga!<br />
[...]<br />
Pobre de mim, tornei-me em homem.<br />
De repente, como a árvore pequena<br />
Que à estação das águas bebe a seiva do húmus farto<br />
Estira o caule e dorme para despertar adulta<br />
Assim, poeta, voltaste para sempre.
Vinícius de Moraes<br />
No entanto, era mais belo o tempo em que sonhavas...<br />
Que sonho é minha vida?<br />
A ti direi que és tu, Maria Aparecida!<br />
A vós, no pudor de falar ante a vossa grandeza<br />
Direi que é esquecer todos os sonhos, meus amigos.<br />
Ao mundo, que ama a lenda dos destinos<br />
Direi que é o meu caminho de poeta.<br />
A mim mesmo, hei de chamá-lo inocência, amor, alegria, sofrimento, morte,<br />
[serenidade<br />
Hei de chamá-lo assim que sou fraco e mutável<br />
E porque é preciso que eu não minta nunca para poder dormir.<br />
Ah<br />
Devesse eu jamais atender aos apelos do íntimo...<br />
Teus braços longos, coruscantes; teus cabelos de oleosa cor; tuas mãos musicalíssimas;<br />
teus pés que levam a dança prisioneira; teu corpo grave de graça instantânea; o modo com<br />
que olhas o âmago da vida; a tua paz, angústia paciente; o teu desejo irrevelado; o grande, o<br />
infinito inútil poético! tudo isso seria um sonho a sonhar no teu seio que é tão pequeno...<br />
Ó, quem me dera não sonhar mais nunca<br />
Nada ter de tristezas nem saudades<br />
Ser apenas Moraes sem ser Vinícius!<br />
[...]<br />
elegia lírica (Fragmento)<br />
Um dia, tendo ouvido bruscamente o apelo da amiga desconhecida<br />
Pus-me a descer contente pela estrada branca do sul<br />
E em vão eram tristes os rios e torvas as águas<br />
Nos vales havia mais poesia que em mil anos.<br />
[...]<br />
A minha namorada é tão bonita, tem olhos como besourinhos do céu<br />
Tem olhos como estrelinhas que estão sempre balbuciando aos passarinhos...<br />
É tão bonita! tem um cabelo fino, um corpo de menino e um andar pequenino<br />
E é a minha namorada... vai e vem como uma patativa, de repente morre de amor<br />
Tem fala de S e dá a impressão que está entrando por uma nuvem adentro...<br />
Meu Deus, eu queria brincar com ela, fazer comidinha, jogar nai-ou-nentes<br />
Rir e num átimo dar um beijo nela e sair correndo<br />
E ficar de longe espiando-lhe a zanga, meio vexado, meio sem saber o que faça...<br />
A minha namorada é muito culta, sabe aritmética, geografia, história, contraponto<br />
E se eu lhe perguntar qual a cor mais bonita ela não dirá que é a roxa porém brique.<br />
Ela faz coleção de cactos, acorda cedo vai para o trabalho<br />
E nunca se esquece que é a menininha do poeta.<br />
20
Aol-11<br />
[...]<br />
21<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
Na elegia a seguir, note a aproximação do poeta aos acontecimentos cotidianos:<br />
elegia desesperada (Fragmento)<br />
Alguém que me falasse do mistério do Amor<br />
Na sombra – alguém! alguém que me mentisse<br />
Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto morriam<br />
As aves do céu! [...]<br />
[...]<br />
o desespero da piedade<br />
Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde<br />
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...<br />
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel<br />
Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.<br />
Tende piedade das pequenas famílias suburbanas<br />
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos<br />
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam<br />
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina.<br />
Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta<br />
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina<br />
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte<br />
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.<br />
[...]<br />
Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros<br />
Que se efeminam por profissão mas que são humildes nas suas carícias<br />
Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo:<br />
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!<br />
Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria<br />
Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos<br />
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo<br />
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.<br />
Tende piedade dos homens úteis como os dentistas<br />
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer<br />
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia<br />
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.
Vinícius de Moraes<br />
[...]<br />
O eu lírico continua pedindo piedade para os políticos, as mulheres, a moça<br />
feia, a mulher na hora do parto, as desquitadas, as casadas, as vagabundas, as<br />
primeiras namoradas etc., e ao fim:<br />
Tende piedade, Senhor, das santas mulheres<br />
Dos meninos velhos, dos homens humilhados – sede enfim<br />
Piedoso com todos, que tudo merece piedade<br />
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!<br />
A respeito da última elegia, assim se pronunciou o poeta na introdução<br />
da obra: “Quanto à última, escrevi-a de jato, naquele maio de 1939, em Londres,<br />
vendo, do meu apartamento, a manhã nascer sobre os telhados novos do bairro<br />
de Chelsea. A qualidade da experiência vivida e o lugar onde a vivi criaram-lhe<br />
espontaneamente a linguagem em que se formou, mistura de português e inglês,<br />
com vocábulos muitas vezes inventados e sem chave morfológica possível. Mas<br />
não houve sombra de vontade de parecer original. É uma fala de amor como a<br />
falei, virtualmente transposta para a poesia, na qual procurei traduzir, dentro<br />
de sonoridades estanques de duas línguas que me são tão caras e com arranjos<br />
gráficos e ordem puramente mnemônica, isso que foi a maior aventura lírica da<br />
minha vida.”<br />
Fragmento<br />
Greenish, newish roofs of Chelsea<br />
Onde, merencórios, toutinegram rouxinóis<br />
Forlornando baladas para nunca mais!<br />
Ó imortal landscape<br />
no anticlímax da aurora!<br />
ô joy for ever!<br />
Na hora da nossa morte et nunc et semper<br />
Na minha vida em lágrimas!<br />
Ó fenesuites, calmo atlas do fog<br />
uer ar iú<br />
Impassévido devorador das esterlúridas?<br />
Darling, darkling I listen...<br />
Her gracious self...”<br />
É meu nome!...<br />
“... it is, my soul, it is<br />
murmura adormecida<br />
sou eu, sou eu, Nabucodonosor!<br />
22
Aol-11<br />
Motionless I climb<br />
the wa<br />
t<br />
e<br />
r<br />
Am I p a Spider?<br />
Am I p a Mirror?<br />
e<br />
Am I s an X Ray?<br />
No, I’m the Three Musketeers<br />
rolled in a Romeo.<br />
Vírus<br />
Da alta e irreal paixão subindo as veias<br />
Com que chegar ao coração da amiga.<br />
Alas, celua<br />
Me iluminou, celua me iludiu cantando<br />
The songs of Los; e agora<br />
meus passos<br />
são gatos<br />
Comendo o tempo em tuas cornijas<br />
Em lúridas, muito lúridas<br />
Aventuras do amor mediúnico e miaugente...<br />
So I came<br />
– from the dark bull-like tower<br />
fantomática<br />
[…]<br />
segunda parte<br />
23<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
Os poemas mais conhecidos do poeta estão reunidos nessa parte da obra.<br />
Adotando uma postura mais voltada para a realidade, seu interesse volta-se para<br />
os aspectos do cotidiano e para o relacionamento amoroso, muito influenciado<br />
pela lírica camoniana.<br />
Nessa fase, a linguagem torna-se mais dinâmica, mais concisa e mais<br />
criativa, embora o poeta não abandone a forma fixa dos sonetos, porém revigora<br />
o modelo, adicionando-lhe linguagem cotidiana e coloquial, sem perder<br />
a profundidade.<br />
Digna representante dessas mudanças programadas, o poeta inicia a se-
Vinícius de Moraes<br />
gunda parte da obra com o poema a seguir:<br />
o falso mendigo (Fragmento)<br />
Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda<br />
Quero fazer uma poesia.<br />
Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado<br />
E me trazer muito devagarinho.<br />
Não corram, não falem, fechem todas as portas a chave<br />
Quero fazer uma poesia.<br />
Se me telefonarem, só estou para Maria<br />
Se for o Ministro, só recebo amanhã<br />
Se for um trote, me chama depressa<br />
Tenho um tédio enorme da vida.<br />
O tema que parece ter sido desenvolvido, anos mais tarde, na música Garota<br />
de Ipanema, em parceria com Tom Jobim, já aparece no poema abaixo:<br />
a mulher que passa (Fragmento)<br />
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.<br />
Seu dorso frio é um campo de lírios<br />
Tem sete cores nos seus cabelos<br />
Sete esperanças na boca fresca!<br />
Oh! como és linda, mulher que passas<br />
Que me sacias e suplicias<br />
Dentro das noites, dentro dos dias!<br />
Poeta da paixão, os temas amor e mulher são recorrentes na obra de Vinícius:<br />
ternura (Fragmento)<br />
Eu te peço perdão por te amar de repente<br />
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos<br />
Das horas que passei à sombra dos teus gestos<br />
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos<br />
Poema para todas as mulheres (Fragmento)<br />
No teu branco seio eu choro.<br />
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre<br />
E se embebedam do perfume do teu sexo.<br />
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado<br />
Confuso, criança para te conter!<br />
24
Aol-11<br />
25<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
A sensualidade da entrega amorosa pode ser representada pelo poema<br />
abaixo:<br />
os acrobatas (Fragmento)<br />
Subamos!<br />
Como dois atletas<br />
O rosto petrificado<br />
No pálido sorriso do esforço<br />
Subamos acima<br />
Com a posse física dos braços<br />
E os músculos desmesurados<br />
Na calma convulsa da ascensão.<br />
O poeta também selecionou, para sua Antologia, poemas que dedicara a<br />
amigos (Manuel Bandeira 1 , Pedro Nava 2 , Graciliano Ramos, João Cabral de Melo<br />
Neto, Rubem Braga, Mário de Andrade), ou ainda para seus mestres na arte da<br />
poesia (Rilke, Verlaine 3 , Rimbaud, Baudelaire).<br />
Verlaine (Fragmento)<br />
Verlaine, pobre alma sem rumo<br />
Louco, sórdido, grande irmão<br />
Do sangue do meu coração<br />
Que te despreza e te compreende<br />
saudade de Manuel Bandeira (Fragmento)<br />
Não foste apenas um segredo<br />
De poesia e de emoção<br />
Foste uma estrela em meu degredo<br />
Poeta, pai! áspero irmão.<br />
1 Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 1886 – Rio de Janeiro, 1968). Poeta representante da chamada 1ª fase<br />
do Modernismo brasileiro. Autor de Libertinagem, Estrela da manhã e muitas outras. Além de poeta, exerceu as funções de<br />
crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor.<br />
2 Pedro da Silva Nava (Juiz de Fora, 1903 – Rio de Janeiro, 1984). Intelectual, amigo de inúmeros artistas e intelectuais de<br />
sua época. escritor e médico.<br />
3 Paul Marie Verlaine (1844 – 1896) é considerado um dos maiores e mais populares poetas franceses.
Vinícius de Moraes<br />
Meu amigo Pedro Nava<br />
Em que navio embarcou:<br />
A bordo do Westphalia<br />
Ou a bordo do Lidador?<br />
Em que antárticas espumas<br />
Navega o navegador<br />
Em que brahmas, em que brumas<br />
Pedro Nava se afogou?<br />
Juro que estava comigo<br />
Há coisa de não faz muito<br />
Enchendo bem a caveira<br />
Ao seu eterno defunto.<br />
Ou não era Pedro Nava<br />
Quem me falava aqui junto<br />
Não era o Nava de fato<br />
Nem era o Nava defunto?...<br />
Balada de Pedro nava<br />
(o anjo e o túmulo)<br />
i<br />
26<br />
Se o tivesse aqui comigo<br />
Tudo se solucionava<br />
Diria ao garçom: Escanção!<br />
Uma pedra a Pedro Nava!<br />
Uma pedra a Pedro Nava<br />
Nessa pedra uma inscrição:<br />
“– deste que muito te amava<br />
teu amigo, teu irmão...”<br />
Mas oh, não! que ele não morra<br />
Sem escutar meu segredo<br />
Estou nas garras da Cachorra<br />
Vou ficar louco de medo<br />
Preciso muito falar-lhe<br />
Antes que chegue amanhã:<br />
Pedro Nava, meu amigo<br />
DESCEU O LEVIATÃ!<br />
[...]<br />
Considerado o maior sonetista brasileiro, Vinícius reuniu, nessa parte<br />
de sua Antologia, 26 sonetos, tanto os mais famosos como de fidelidade, do maior<br />
amor, da separação, do amor total –, quanto alguns menos conhecidos do grande<br />
público – como de intimidade, de agosto, de contrição, de véspera e outros.<br />
soneto do amor total (Fragmento)<br />
Amo-te tanto, meu amor... não cante<br />
O humano coração com mais verdade...<br />
Amo-te como amigo e como amante<br />
Numa sempre diversa realidade<br />
soneto de aniversário (Fragmento)<br />
Passem-se dias, horas, meses, anos<br />
Amadureçam as ilusões da vida<br />
Prossiga ela sempre dividida<br />
Entre compensações e desenganos.<br />
A Antologia também apresenta diferentes poemas de cunho social. Acima<br />
já mencionamos o longo poema O operário em construção, cuja epígrafe estabelece<br />
comparação com o momento de conscientização política do operário, que, pela<br />
primeira vez, percebendo-se explorado, diz não ao patrão:
Aol-11<br />
o operário em construção (Fragmento)<br />
27<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os<br />
reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: – Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim<br />
me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus,<br />
respondendo, disse-lhe: – Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só<br />
a Ele servirás.<br />
Lucas, cap. V, vs. 5-8.<br />
[...]<br />
Sentindo que a violência<br />
Não dobraria o operário<br />
Um dia tentou o patrão<br />
Dobrá-lo de modo vário.<br />
De sorte que o foi levando<br />
Ao alto da construção<br />
E num momento de tempo<br />
Mostrou-lhe toda a região<br />
E apontando-a ao operário<br />
Fez-lhe esta declaração:<br />
– Dar-te-ei todo esse poder<br />
E a sua satisfação<br />
Porque a mim me foi entregue<br />
E dou-o a quem bem quiser.<br />
Dou-te tempo de lazer<br />
Dou-te tempo de mulher.<br />
Portanto, tudo o que vês<br />
Será teu se me adorares<br />
E, ainda mais, se abandonares<br />
O que te faz dizer não.<br />
Disse, e fitou o operário<br />
Que olhava e que refletia<br />
Mas o que via o operário<br />
O patrão nunca veria.<br />
O operário via as casas<br />
E dentro das estruturas<br />
Via coisas, objetos<br />
Produtos, manufaturas.<br />
Via tudo o que fazia<br />
O lucro do seu patrão<br />
E em cada coisa que via<br />
Misteriosamente havia<br />
A marca de sua mão.<br />
E o operário disse: Não!<br />
outro poema importante a ser destacado da obra é O dia da criação,<br />
em que o poeta, tomando como base a gênese humana, a partir de um ótica<br />
religiosa, elege o “sábado” como o dia em que tudo acontece. O poema<br />
apresenta três partes: introdução ao tema (“Hoje é o dia do presente”), desenvolvimento<br />
(“Porque hoje é sábado”) e conclusão (“de que Deus criou o<br />
homem no sábado”).<br />
[...]
Vinícius de Moraes<br />
Macho e fêmea os criou.<br />
Gênesis, 1, 27<br />
[...]<br />
Hoje é sábado, amanhã é domingo<br />
i<br />
o dia da criação (Fragmento)<br />
Amanhã não gosta de ver ninguém bem<br />
Hoje é que é o dia do presente<br />
O dia é sábado.<br />
Impossível fugir a essa dura realidade<br />
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios<br />
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas<br />
Todos os maridos estão funcionando regularmente<br />
Todas as mulheres estão atentas<br />
Porque hoje é sábado.<br />
Para finalizarmos esta análise da obra, indicaremos, a seguir, os poemas<br />
mais conhecidos da Antologia daquele que foi o maior “poetinha” da 2ª fase do<br />
Modernismo brasileiro: Vinícius de Moraes.<br />
– Soneto de fidelidade<br />
– A um passarinho<br />
– Soneto do maior amor<br />
– Soneto de separação<br />
– Poema de Natal<br />
28<br />
– Poema enjoadinho<br />
– A rosa de Hiroshima<br />
– Pátria minha<br />
– Poética (I)<br />
– Receita de mulher<br />
Além da leitura integral da obra, sugerimos a todos uma visita ao site<br />
oficial do autor http://www.viniciusdemoraes.com.br/ e o documentário (DVD)<br />
abaixo:<br />
Vinícius (2005)<br />
Direção: Miguel Faria Jr.<br />
O documentário mostra a vida, a obra, a família, os amigos e os amores de<br />
Vinícius de Moraes; apresenta também a essência criativa do artista e filósofo do<br />
cotidiano e as transformações do Rio de Janeiro, por meio de raras imagens de<br />
arquivo, entrevistas e interpretações de muitos de seus clássicos.
1. Cesgranrio-RJ<br />
Aol-11 5. exeRCíCios<br />
Pátria minha<br />
A minha pátria é como se não fosse, é íntima<br />
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo<br />
É minha pátria. Por isso, no exílio<br />
Assistindo dormir meu filho<br />
Choro de saudades de minha pátria.<br />
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:<br />
Não sei. De fato, não sei (...)<br />
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água<br />
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa<br />
Em longas lágrimas amargas.<br />
Vontade de beijar os olhos de minha pátria<br />
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...<br />
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias<br />
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos<br />
E sem meias, pátria minha<br />
Tão pobrinha!<br />
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho<br />
Pátria, eu semente que nasci do vento<br />
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço<br />
Em contacto com a dor do tempo (...)<br />
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa<br />
Que brinca em teus cabelos e te alisa<br />
Pátria minha, e perfuma o teu chão...<br />
Que vontade me vem de adormecer-me<br />
Entre teus doces montes, pátria minha<br />
Atento à fome em tuas entranhas<br />
E ao batuque em teu coração.<br />
29<br />
Antologia <strong>poética</strong>
Vinícius de Moraes<br />
Teu nome é pátria amada, é patriazinha<br />
Não rima com mãe gentil<br />
Vives em mim como uma filha, que és<br />
Uma ilha de ternura: a Ilha<br />
Brasil, talvez.<br />
Apesar de modernista, Vinícius apresenta, no texto, características da estética<br />
romântica.<br />
Assinale a única característica não presente nesse texto.<br />
a) Preocupação com o eu lírico, através da expressão de emoções pessoais.<br />
b) Valoração de elementos da natureza, como forma de exaltação da terra brasileira.<br />
c) Sentimentos de saudade e nostalgia, causados pela dor do exílio.<br />
d) Preocupação social, através da menção a problemas brasileiros.<br />
e) Abandono do ideal purista dos neoclássicos na prevalência do conteúdo sobre<br />
a forma.<br />
2. uel-PR<br />
Na década de 30 do século XX:<br />
a) o Modernismo viu esgotados seus ideais, com a retomada de uma prosa e de<br />
uma poesia de caráter conservador.<br />
b) a poesia se renovou significativamente, graças a poetas como Carlos Drummond<br />
de Andrade, Vinícius de Moraes e Murilo Mendes.<br />
c) não houve surgimento de grandes romancistas, o que só viria a ocorrer na<br />
década seguinte.<br />
d) predominou, ainda, o ideário modernista dos primeiros momentos, sendo<br />
central a figura de Graça Aranha.<br />
e) a poesia abandonou de vez o emprego do verso, substituindo-o pela composição<br />
de palavras soltas no espaço da página.<br />
3. Vunesp<br />
A partir da leitura dos seguintes poemas, assinale a alternativa incorreta com<br />
relação ao Modernismo.<br />
i. Vício da fala<br />
Para dizerem milho dizem mio<br />
Para melhor dizem mió<br />
Para pior pió<br />
Para telha dizem teia<br />
Para telhado dizem teiado<br />
E vão fazendo telhados.<br />
oswald de Andrade<br />
30<br />
ii. Poema do beco<br />
Que importa a paisagem, a Glória, a<br />
baía, a linha do horizonte?<br />
– O que eu vejo é o beco.<br />
Manuel bandeira
Aol-11<br />
iii. Festa familiar<br />
Em outubro de 1930<br />
Nós fizemos – que animação!<br />
Um pic-nic com carabinas.<br />
Murilo Mendes<br />
31<br />
iV. a um passarinho<br />
Para que vieste<br />
Na minha janela<br />
Meter o nariz?<br />
[...]<br />
Vinícius de Moraes<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
a) Os poemas, quando não se fixam em uma cena da vida cotidiana, podem<br />
refletir a nossa história com muito humor e ironia.<br />
b) Predomínio do verso livre e cultivo de poesia sintética.<br />
c) Introdução da fala popular e elementos característicos da prosa.<br />
d) Os poemas mostram claramente uma ruptura com os códigos literários anteriores<br />
quanto à forma; no conteúdo, buscam penetrar mais fundo na realidade<br />
brasileira.<br />
e) As experiências de linguagem desses poemas modernistas tentam resgatar o<br />
formalismo e a riqueza sonora da poesia parnasiana.<br />
4. uFsC<br />
Assinale as proposições em que o comentário está de acordo com o texto de<br />
Vinícius de Moraes.<br />
01) De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e branco como a bruma / E das bocas<br />
unidas fez-se a espuma / E das mãos espalmadas fez-se o espanto. Nesses versos, o<br />
poeta usa, a exemplo dos parnasianos e simbolistas, vocabulário coloquial<br />
e simples, próprio da linguagem cotidiana. Não há rimas.<br />
02) Notou que sua marmita / Era o prato do patrão / Que sua cerveja preta / Era o uísque<br />
do patrão / Que seu macacão de zuarte / Era o terno do patrão / Que o casebre onde<br />
morava / Era a mansão do patrão / Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do<br />
patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do patrão / (...) E o operário disse: Não!<br />
A exemplo de padre José de Anchieta, do Barroco, que em Sermões procurou<br />
mostrar as disparidades socioeconômicas entre os índios e os colonizadores<br />
portugueses no século XIX, Vinícius de Moraes, no poema Operário em construção,<br />
procurou registrar o contraste existente entre operário e patrão.<br />
04) O poeta reinterpreta o Natal, fazendo alusão ao comunismo, nos seguintes<br />
versos:<br />
Nasceu num estábulo / Pequeno e singelo / Com boi e charrua / Com foice e martelo.<br />
08) Em: E agora José? / A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu, / a noite esfriou,<br />
/ e agora, José?, Vinícius manifesta o desejo de morrer, uma das características<br />
da literatura parnasiana.<br />
16) Pensem nas crianças / Mudas telepáticas / Pensem nas meninas / Cegas inexatas...<br />
são versos do poema A rosa de Hiroshima.
Vinícius de Moraes<br />
5. Cesgranrio-RJ<br />
Toda época literária mantém um diálogo com fases anteriores, tanto em relação<br />
à escolha temática quanto em relação ao aproveitamento de recursos formais.<br />
Qual a observação incorreta na relação entre os estilos de época?<br />
a) A poesia da década de 1930 filia-se à experiência do Parnasianismo.<br />
b) O romance de 1930 aprofunda a perspectiva do Realismo.<br />
c) A poesia concreta valoriza os processos lúdicos do Barroco.<br />
d) O Modernismo de 1922 redimensiona a preocupação nacionalista do Romantismo.<br />
e) A poesia de 1945 rompe com a liberdade formal do Modernismo.<br />
6. uFRGs-Rs<br />
Considere as afirmativas seguintes.<br />
I. Mário Quintana usou desde o soneto até o poema em prosa para encarnar<br />
sua visão de mundo irônica e melancólica, em que as possibilidades formais<br />
aliam-se ao exame do dia a dia humilde e despretensioso do poeta e de seus<br />
personagens.<br />
II. Capaz de sonetos que honram a tradição camoniana, tais como o Soneto da<br />
separação e o Soneto de fidelidade, Vinícius de Morais aproximou-se da bossa<br />
nova e da música popular brasileira e veio a se tornar letrista de sambas e<br />
canções.<br />
III. Em vários momentos da obra de Cecília Meireles, a sensação de vago e incorpóreo<br />
é associada à temática urbana revelada em cenas repletas de humor<br />
e crítica ao provincianismo da elite paulista, tudo expresso em versos cuja<br />
sonoridade explora as dissonâncias e a fala popular.<br />
Qual(is) está(ão) correta(s)?<br />
a) Apenas I d) Apenas II e III<br />
b) Apenas III e) I, II e III<br />
c) Apenas I e III<br />
7. eneM<br />
Soneto de fidelidade<br />
De tudo ao meu amor serei atento<br />
Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
32
Aol-11<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa me dizer do amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
33<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
MORAES, Vinícius de. Antologia <strong>poética</strong>. São Paulo: Cia das Letras, 1992.<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes significados, de acordo com a sua<br />
função na frase. Assinale a alternativa em que o sentido de mesmo equivale ao<br />
que se verifica no 3º verso da 1ª estrofe do poema de Vinícius de Moraes.<br />
a) Pai, para onde fores, / irei também trilhando as mesmas ruas... (Augusto dos Anjos)<br />
b) Agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é modesta, com<br />
a exterior, que é ruidosa. (Machado de Assis)<br />
c) Havia o mal, profundo e persistente, para o qual o remédio não surtiu efeito, mesmo<br />
em doses variáveis. (Raimundo Faoro)<br />
d) Mas, olhe cá, Mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre? (Machado Assis)<br />
e) Vamos de qualquer maneira, mas vamos mesmo. (Aurélio)<br />
8. unirio-RJ<br />
a um passarinho<br />
Para que vieste<br />
Na minha janela<br />
Meter o nariz?<br />
Se foi por um verso<br />
Não sou mais poeta<br />
Ando tão feliz!<br />
Vinícius de Moraes<br />
1) Segundo o texto, qual é a condição fundamental para a criação <strong>poética</strong>?<br />
2) Qual o gênero literário a que pertence o texto?
Vinícius de Moraes<br />
9. PuCCamp-sP<br />
Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo<br />
Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz<br />
A flor dos lábios entreaberta para o beijo<br />
A pele a fulgurar todo o pólen da luz.<br />
A quadra anterior introduz um soneto de Vinícius de Moraes. Nesses versos, o<br />
leitor pode comprovar a seguinte característica da lírica amorosa do poeta:<br />
a) dilaceramento provocado pela paixão carnal e pela ânsia de salvação religiosa.<br />
b) reconhecimento da fugacidade do tempo, revelada num momento de excitação<br />
sensual.<br />
c) celebração da amada num quadro cotidiano, valorizando-se o estilo típico<br />
dos modernistas combativos.<br />
d) visão mística, na qual os desejos são sublimados e a natureza é divinizada.<br />
e) exaltação erótica, integrada no mundo natural e elevada ao plano do sublime.<br />
10. uFsM-Rs<br />
A respeito da poesia de Vinícius de Moraes, assinale verdadeiro (V) ou falso (F)<br />
em cada afirmação a seguir.<br />
( ) Sob a forma de soneto, privilegia temáticas líricas, sobretudo o amor e suas<br />
múltiplas manifestações.<br />
( ) Celebra a sensualidade com versos que apresentam imagens a respeito do<br />
sexo e do corpo.<br />
( ) O cunho erótico dos poemas exclui a experiência mística do amor.<br />
A sequência correta é:<br />
a) V – F – F d) V – F – V<br />
b) V – V – F e) F – F – V<br />
c) F – V – F<br />
11. uFsM-Rs<br />
soneto da separação<br />
1 De repente do riso fez-se o pranto<br />
2 Silencioso e branco como a bruma<br />
3 E das bocas unidas fez-se a espuma<br />
4 E das mãos espalmadas fez-se espanto.<br />
34
Aol-11<br />
5 De repente da calma fez-se o vento<br />
6 Que dos olhos desfez a última chama<br />
7 E da paixão fez-se o pressentimento<br />
8 E do momento imóvel fez-se o drama.<br />
35<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
Vinícius de Moraes, nos versos transcritos, mostra como, na separação amorosa, uma<br />
coisa se transforma em outra. Em que verso(s) não há registro de tal transformação?<br />
a) v. 2 e v. 6 d) v. 3 e v. 4<br />
b) v. 1 e) v. 7 e v. 8<br />
c) v. 5<br />
12. uePG-PR<br />
A segunda fase do nosso Modernismo (1930-1945) mostrou o amadurecimento de várias<br />
linhas temáticas e de processos artísticos. Firmou-se nesse período a poesia de:<br />
01) Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.<br />
02) José Lins do Rego e Vinícius de Moraes.<br />
04) Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa.<br />
08) Cecília Meireles e Vinícius de Moraes.<br />
16) Emiliano Perneta e Cassiano Ricardo.<br />
13. uFRGs-Rs<br />
Leia as estrofes abaixo, de Vinícius de Moraes, e a afirmação que as seguem.<br />
soneto de despedida<br />
1 Uma Lua no céu apareceu<br />
2 Cheia e branca; foi quando, emocionada<br />
3 A mulher a meu lado estremeceu<br />
4 E se entregou sem que eu dissesse nada.<br />
5 Larguei-as pela jovem madrugada<br />
6 Ambas cheias e brancas e sem véu<br />
7 Perdida uma, a outra abandonada<br />
8 Uma nua na terra, outra no céu.<br />
por meio de versos em que é perceptível um lirismo<br />
, típico de sua poesia, Vinícius de Moraes aproxima a mulher<br />
e a Lua, fundindo-as, em alguns momentos, como acontece no verso de número<br />
.<br />
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas acima.<br />
a) octossílabos – amoroso – 6 d) octossílabos – despojado – 7<br />
b) heptassílabos – social – 7 e) decassílabos – sensual – 6<br />
c) decassílabos – moralizante – 8
Vinícius de Moraes<br />
14. ueM-PR<br />
Leia o texto a seguir e assinale o que for correto.<br />
soneto da separação<br />
De repente do riso fez-se o pranto<br />
Silencioso e branco como a bruma<br />
E das bocas unidas fez-se a espuma<br />
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.<br />
De repente da calma fez-se o vento<br />
Que dos olhos desfez a última chama<br />
E da paixão fez-se o pressentimento<br />
E do momento imóvel fez-se o drama.<br />
De repente, não mais que de repente<br />
Fez-se de triste o que se fez amante<br />
E de sozinho o que se fez contente.<br />
Fez-se do amigo próximo o distante<br />
Fez-se da vida uma aventura errante<br />
De repente, não mais que de repente.<br />
Vinícius de Moraes<br />
01) A teoria literária moderna reconhece três gêneros literários fundamentais – o épico,<br />
o lírico e o dramático – e, apesar de não fazer diferença de prestígio entre eles,<br />
não aceita a mistura deles em uma mesma obra literária. Podem-se subdividir<br />
esses três gêneros em espécies ou formas: o soneto é uma das formas dramáticas;<br />
a tragédia é uma das formas épicas; a balada é uma das formas líricas.<br />
02) No texto acima, predomina o gênero dramático, que tem a sua manifestação<br />
mais viva nos aspectos trágicos, procurando representar os conflitos e<br />
os dramas vivenciados pelos homens e a precariedade do mundo em que<br />
estão inseridos. Nesse caso específico, trata-se de representar o drama da<br />
separação de dois amantes.<br />
04) No texto acima, predomina o gênero lírico, caracterizado, essencialmente,<br />
por manifestar a subjetividade do eu lírico, expressando-lhe os sentimentos,<br />
as emoções, o mundo interior. De modo geral, a musicalidade é um elemento<br />
fundamental no texto lírico. Nesse texto de Vinícius de Moraes, além das rimas,<br />
a ocorrência considerável de fonemas sibilantes /sê/ e a semelhança de som de<br />
palavras como fez, espuma, espalmadas, espanto etc. consistem nos principais<br />
recursos empregados pelo artista para alcançar a referida sonoridade.<br />
36
Aol-11<br />
37<br />
Antologia <strong>poética</strong><br />
08) No texto anterior, pertencente ao gênero lírico, predominam: a) a antítese como<br />
figura de linguagem; b) a referência a fatos presentes como deflagradores do<br />
conflito do eu lírico; c) a função conativa da linguagem; d) os versos decassílabos;<br />
e) as rimas consoantes, pobres e interpoladas; f) o emprego da linguagem figurada;<br />
g) a expressão do conflito do eu lírico decorrente da separação amorosa.<br />
16) Pode-se afirmar que: a) a antítese, figura de linguagem predominante no texto<br />
anterior, exprime ideias cuja força significativa reside na oposição dos contrários.<br />
É o que acontece no verso “E do momento imóvel fez-se o drama”, em<br />
que o conflito vivido pelo eu lírico atinge seu ponto culminante; b) no texto<br />
literário, dependendo do contexto, uma mesma palavra pode ter uma significação<br />
objetiva (denotação) ou sugerir outras significações, marcadas pela<br />
subjetividade do emissor (conotação). No verso “De repente da calma fez-se<br />
o vento”, as palavras estão empregadas em sentido figurado ou conotativo.<br />
32) Pode-se afirmar que: a) o soneto, composto de dois quartetos e de dois<br />
tercetos, é uma das formas poemáticas mais tradicionais e difundidas nas<br />
literaturas ocidentais e expressa, quase sempre, conteúdo lírico; b) o soneto<br />
costuma conter uma reflexão sobre um tema ligado à vida humana. No texto<br />
anterior, Vinícius de Moraes, ao retomar esse modo tradicional de compor<br />
versos, presta homenagem aos grandes clássicos da literatura, reconhecendo,<br />
no presente, a herança cultural do passado.<br />
15. uFRs<br />
Considere os fragmentos a seguir, respectivamente, da canção Amor maior, da<br />
banda Jota Quest, e do Soneto do maior amor, de Vinícius de Moraes.<br />
amor maior<br />
Eu quero ficar só<br />
Mas comigo só<br />
Eu não consigo<br />
[...]<br />
É preciso amar direito<br />
Um amor de qualquer jeito<br />
Ser amor a qualquer hora<br />
Ser amor de corpo inteiro<br />
Amor de dentro pra fora<br />
Amor que eu desconheço<br />
Quero um amor maior...<br />
Um amor maior que eu<br />
[...]<br />
soneto do maior amor<br />
Maior amor nem mais estranho existe<br />
Que o meu, que não sossega a coisa amada<br />
E quando a sente alegre, fica triste<br />
E se a vê descontente, dá risada.<br />
Sobre os fragmentos anteriores, são feitas as seguintes afirmações.
Vinícius de Moraes<br />
I. Os dois poetas exaltam um sentimento amoroso intenso, mas não correspondido<br />
pela amada.<br />
II. Tanto a canção do grupo Jota Quest quanto os versos do soneto de Vinícius<br />
apresentam uma rigidez formal típica da poesia contemporânea.<br />
III. Os versos de Vinícius manifestam sentimentos contraditórios em relação à<br />
amada, enquanto os de Flausino evidenciam um desejo de um amor completo,<br />
totalizante.<br />
Qual(is) está(ão) correta(s)?<br />
a) Apenas I d) Apenas II e III<br />
b) Apenas II e) I, II e III<br />
c) Apenas III<br />
16. uFsM-Rs<br />
no poema A hora íntima, Vinícius de Moraes pergunta Quem pagará o enterro<br />
e as flores / Se eu me morrer de amores?. Nessa passagem, os versos de Vinícius<br />
retomam, num tom ameno e voltado para a temática da relação amorosa, a ideia<br />
de “se eu morresse amanhã”, consagrada por:<br />
a) Álvares de Azevedo – condoreiro romântico.<br />
b) Castro Alves – lírico romântico.<br />
c) Fagundes Varela – condoreiro romântico.<br />
d) Álvares de Azevedo – lírico romântico.<br />
e) Castro Alves – condoreiro romântico.<br />
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