A Literacia do Imaginário na Literatura Juvenil Contemporânea ...
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infalível entre os sujeitos implica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> aprendizagem, e tor<strong>na</strong>r mútuas as intenções <strong>do</strong><br />
educa<strong>do</strong>r e <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, cumprin<strong>do</strong>-se o real senti<strong>do</strong> da educabilidade, <strong>na</strong> qual o educa<strong>do</strong>r,<br />
através da sua actuação, conduz o jovem educan<strong>do</strong> à noção da participação/interacção com<br />
o seu circundante 4 .<br />
2.2. As memórias da Águia e <strong>do</strong> Jaguar: o chamamento e o regresso vitorioso <strong>do</strong> Herói<br />
O desejo de ler a «infância imagi<strong>na</strong>l» orienta o nosso trabalho quer para as vivências<br />
<strong>do</strong> herói, quer para os diferentes mitos <strong>do</strong> regressus ad originem. Ao querermos fazer valer a<br />
imagem «da Criança arquetipal que a criança real transporta dentro de si» (Araújo e Araújo,<br />
2008), consideramos a trilogia As memórias da Águia e <strong>do</strong> Jaguar um construto semiótico<br />
cuja dimensão mítico-simbólica é de uma grande densidade. As imagens, valiosíssimas para a<br />
leitura adequada <strong>do</strong> <strong>Imaginário</strong>, permitem-nos aceder ao tema <strong>do</strong> herói 5 e, por conseguinte,<br />
à sua aventura, assegurada pelas temáticas ligadas ao chamamento <strong>do</strong> herói, à sua iniciação,<br />
ao objecto da sua demanda e ao seu regresso vitorioso.<br />
A breve nota recensea<strong>do</strong>ra da trilogia, à mistura com a própria análise das três obras,<br />
afigura-se necessária, já que, por um la<strong>do</strong>, os tomos abrangem um número de pági<strong>na</strong>s<br />
considerável e, por outro, não nos é possível tratar, numa comunicação, de to<strong>do</strong> o sistema<br />
mítico-símbólico existente no composto literário escolhi<strong>do</strong>.<br />
Abordamos, desde já, o primeiro livro, intitula<strong>do</strong> A cidade <strong>do</strong>s Deuses Selvagens,<br />
(Allende, 2002) onde as perso<strong>na</strong>gens Alexander Cold (descendente de uma família<br />
california<strong>na</strong>), a sua avó (a célebre jor<strong>na</strong>lista Kate Cold, residente em Nova Iorque) e Nadia<br />
Santos (oriunda da peque<strong>na</strong> aldeia Santa María de la Lluvia, semeada em «pleno território<br />
indíge<strong>na</strong>», limítrofe <strong>do</strong> Brasil com a Venezuela) (Allende, 2002: 46-53), se embrenham numa<br />
complicada expedição em ple<strong>na</strong> selva Amazónia.<br />
Nesta primeira <strong>na</strong>rrativa, a viagem <strong>do</strong> herói, reconhecida <strong>na</strong>s deambulações <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
a<strong>do</strong>lescentes (Alex e Nadia), toma forma, e é já no início <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> capítulo, que Alexander,<br />
com ape<strong>na</strong>s onze anos, se vê perdi<strong>do</strong> em Nova Iorque a braços com uma situação de perigo<br />
<strong>na</strong> qual se tem de desenrascar sozinho. Já no coração da selva tu<strong>do</strong> se vai complican<strong>do</strong> para<br />
o jovem rapaz, e este, sempre posto à prova pelo carácter rígi<strong>do</strong> e excêntrico de Kate, pelos<br />
perigos a vencer, bem como pelas crenças e relatos místicos de Nadia (em aprendizagem<br />
também), tem por única solução a assimilação rápida <strong>do</strong>s acontecimentos para que o seu<br />
desempenho, enquanto sujeito em iniciação, seja o mais correcto.<br />
Ao longo da sua permanência em Tapirawa-teri, onde vive o «povo da nebli<strong>na</strong>», Alex<br />
tem de ultrapassar várias etapas <strong>do</strong> seu percurso identitário. Tanto ele como Nadia foram<br />
considera<strong>do</strong>s os únicos seres com uma «alma branca» (Allende, 2002: 70) e, por isso, só a<br />
eles é da<strong>do</strong> o direito de lá entrar. De salientar que esta peque<strong>na</strong> aldeia, cujo território ainda<br />
é virgem para o resto da humanidade, é apelidada de «O Olho <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>»: «Diante deles<br />
4 Segun<strong>do</strong> os autores cita<strong>do</strong>s, «o educa<strong>do</strong>r, enquanto conselheiro, é um pæ<strong>do</strong>gogos que faz <strong>do</strong> educere (conduzir para<br />
fora, levar de dentro para fora), e não <strong>do</strong> educare (alimentar de fora), o seu lema principal de acção» (2008).<br />
5 O mito <strong>do</strong> herói ou o monomito (Campbell, 2004: 223-229) encontra-se perpetua<strong>do</strong> <strong>na</strong> literatura através da dinâmica<br />
da mitocrítica sempre que a perso<strong>na</strong>gem principal (individual ou colectiva) é afastada <strong>do</strong> seu ambiente habitual e<br />
empreende, leva<strong>do</strong> por um desafio maior, uma viagem no senti<strong>do</strong> de uma aventura de carácter físico, psicológico ou<br />
ambos, no cumprimento da sua missão (2004: 223-229).<br />
ABZ da Leitura | Orientações Teóricas<br />
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