Araraquara 2012 - Prefeitura de Araraquara

quando podem deixar seus pertences, no caso de acampamentos, ou são usados precariamente, fora
dos horários comerciais, para não incomodar proprietários e frequentadores. Nestes casos, é comum
que o sujeito carregue seus pertences em mochilas e bolsas de viagem, carrinhos de compras ou
carroças de coleta seletiva. Quando se usam colchões ou espumas para a improvisação de camas,
eles são guardados em locais de difícil acesso ou descartados quando se muda de local de pernoite.
Alguns usam sacolas pequenas com documentos, fotos, peças de roupa e bebida, enquanto os
pertences menos valiosos ou menos importantes ficam nos locais de pernoite.
Os horários de higiene a alimentação são ajustados conforme as programações das
instituições que oferecem este tipo de serviço. A Comunidade Servos do Cristo Redentor (Padre
Pedro), por exemplo, disponibiliza o banho e alimentação três vezes por semana. Nos casos de ajuda
espontânea da comunidade, sejam restaurantes que fornecem refeições após o horário comercial de
almoço ou vizinhos que oferecem alimentos e roupas, estes horários geralmente também são
predeterminados. Somente em alguns casos o uso de torneiras privadas, públicas ou de postos de
combustíveis pode ser feito a qualquer hora do dia. As pessoas que adotam o achaque tem mais
facilidade para pedir dinheiro nos semáforos ou alimentos em domicílios do seu percurso. A
corruptela “acharque” é mais usada para designar as historias ou artimanhas usadas para conseguir a
doação de dinheiro. Quando estes argumentos são criados exclusivamente para sensibilizar o doador
são também referidos como 171, conforme a indicação de estelionato no código penal.
Um entrevistado de 44 anos conta que pede comida nas casas nos bairros próximos ao
centro. Diz que algumas pessoas lhe dão comida e outras não. No centro, consegue “marmitex de
graça” num restaurante. Pega água na biblioteca, local no qual fez amizade com os funcionários, que
lhe “dão até café”. Às vezes cata latinhas para conseguir alguns trocados. Dorme em frente a um
supermercado ou em frente à biblioteca.
A higiene pessoal diária é comum entre as pessoas em situação de rua. Salvo as exceções de
portadores de transtornos mentais ou pessoas cronificadas na situação de rua, que durante crises de
alcoolismo ou drogadição passam vários dias ou semanas sem cuidar adequadamente de si, a maioria
procura meios para a higiene pessoal diária e possuem roupas extras para trocas eventuais. Nem
sempre possuem colchões ou podem mantê-los limpos e secos por muito tempo. Costumam forrar
alguns cantos protegidos por marquises e beirais contra as chuvas e friagens intensas com papelões,
lonas ou cobertores. O uso da bebida começa logo cedo na maioria dos casos, e quase sempre
coletivamente, o que costuma ser referido como “roda de fogo”. Este espaço de sociabilidade pode
ser no próprio local de dormida ou lugares públicos como algumas praças da cidade.
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