17.04.2013 Views

O rei e o cadáver

O rei e o cadáver

O rei e o cadáver

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>rei</strong> e<br />

o <strong>cadáver</strong>


Era uma vez, na Índia,<br />

na infância do tempo<br />

antes de todas as eras e momentos,<br />

nos antanhos de outrora,<br />

um <strong>rei</strong> chamado<br />

Trivikramasena.<br />

No dia-a-dia, porém,<br />

chamavam-no simplesmente<br />

Vikram.<br />

Era um <strong>rei</strong> justo, nobre e corajoso,<br />

um <strong>rei</strong> magnífico.<br />

Todo dia, a multidão corria à sua<br />

audiência pública.<br />

Ora, um dia chegou um monge mendigo,<br />

muito magro, pés descalços, o corpo coberto apenas<br />

por um trapo na cintura.<br />

Ele entrou na fila<br />

e se pôs a esperar tranqüilamente.<br />

Quando finalmente chegou sua vez,<br />

ele se curvou diante do trono,<br />

como era costume, depois se aproximou do <strong>rei</strong><br />

e ofereceu a ele uma fruta<br />

grande como um abacate.<br />

15


Quando o <strong>rei</strong> a tomou em sua mão,<br />

o monge simplesmente partiu,<br />

sem pedir absolutamente nada, sem dizer uma palavra.<br />

Por um instante o monarca ficou perplexo,<br />

segurando a fruta na mão.<br />

Depois, como não sabia o que fazer com aquilo,<br />

passou-a de uma mão para a outra<br />

e a entregou ao tesou<strong>rei</strong>ro,<br />

que se encontrava à sua di<strong>rei</strong>ta,<br />

dizendo-lhe que a guardasse.<br />

E, sem pensar mais naquilo, voltou-se para<br />

o próximo da fila.<br />

O tesou<strong>rei</strong>ro, que também não sabia<br />

o que fazer com a fruta, correu para a sala<br />

dos tesouros e, por fim,<br />

16<br />

JOGOU-A<br />

por uma abertura, sem nem ao menos abrir a porta.<br />

Mas no dia seguinte, na audiência pública,<br />

o monge mendigo voltou.<br />

E novamente ofereceu ao <strong>rei</strong> uma fruta<br />

grande como um abacate<br />

e foi embora mais uma vez, sem pedir nada,


sem dizer uma palavra!<br />

E novamente<br />

o <strong>rei</strong> pegou a fruta,<br />

passou-a de uma mão para a outra,<br />

e a entregou ao tesou<strong>rei</strong>ro, que a<br />

pela abertura.<br />

E isso foi se repetindo, repetindo,<br />

durante dez anos!<br />

Todos os dias o monge mendigo vinha,<br />

oferecia uma fruta,<br />

o <strong>rei</strong> a pegava, passava de uma à outra mão,<br />

entregava-a ao tesou<strong>rei</strong>ro,<br />

que a jogava pela abertura!<br />

E isso poderia durar a vida inteira,<br />

jogou<br />

se um dia um sagüi não tivesse saltado sobre os joelhos<br />

do <strong>rei</strong>, bem na hora em que ele passava a fruta<br />

E o sagüi, VAPT!, agarrou a fruta.<br />

E fez o que o <strong>rei</strong> deveria ter feito há<br />

muito tempo:<br />

de uma mão para a outra.<br />

ele a mordeu!<br />

17


E isso lhe arruinou os dentes!<br />

Porque o caroço gigante não era um caroço!<br />

Era um brilhante!<br />

Um brilhante de um valor inestimável!<br />

O <strong>rei</strong>, maravilhado, voltou-se para o tesou<strong>rei</strong>ro:<br />

— O que fizeste com as outras frutas,<br />

ó tesou<strong>rei</strong>ro?<br />

O tesou<strong>rei</strong>ro, nervosíssimo, pálido de susto, mais que depressa<br />

correu para a sala dos tesouros,<br />

abriu a porta e viu,<br />

18<br />

no chão,


perto da abertura, brilhando entre as cascas<br />

secas e os frutos podres,<br />

um monte de jóias!<br />

Mais tranqüilo, embrulhou as pedras na própria túnica<br />

e correu para entregá-las ao <strong>rei</strong>.<br />

E o <strong>rei</strong>, contente, disse:<br />

— Podes ficar com todas elas, ó tesou<strong>rei</strong>ro!<br />

Porque ele não era ávido por riquezas.<br />

19

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!