narrativa sobre o "et de varginha" - UninCor
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O estilo novo <strong>de</strong> discurso, na razão, se impõe. Define-se uma or<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>sejada como lógica. D<strong>et</strong>ermina-se nela uma política original. A<br />
novida<strong>de</strong> é evi<strong>de</strong>nte. Não é mais a força aparente dos hábitos ou o do<br />
po<strong>de</strong>r pseudo real dos mantenedores da or<strong>de</strong>m, que se impõe, mas a<br />
or<strong>de</strong>m da palavra controlada. Entr<strong>et</strong>anto, no domínio <strong>de</strong>ssa novida<strong>de</strong>,<br />
já que ela é tomada no momento histórico da constituição da cida<strong>de</strong>, o<br />
filósofo permanece um sábio, um equivalente do xamã, do feiticeiro.<br />
Está em convivência com dinamismos misteriosos (CHATELET,<br />
1973, p. 20).<br />
Na mesma seqüência <strong>de</strong> alterações, por volta do século VII a.C, com o início da<br />
Filosofia, a razão, o logos passa a ter uma importância maior. De novo essas mudanças<br />
estão ligadas às transformações pelas quais passam a pólis grega, principalmente à<br />
expansão do comércio, que fez surgir novos papéis sociais. Essa reformulação da pólis<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a difusão das doutrinas gnósticas, fez surgir a filosofia, a ciência, a história<br />
e a <strong>narrativa</strong> literária e política. A relação do gnosticismo e da cultura racional não é<br />
absolutamente casual. Para Sevcenko (1988, p. 132) “no fundo são duas dimensões da<br />
cultura umbilicalmente ligadas, mais interpen<strong>et</strong>radas do que a versão racional admite ou<br />
suporta consi<strong>de</strong>rar”.<br />
A própria evolução da Filosofia, que é tida por base da ciência empírica, não<br />
superou a <strong>narrativa</strong> mítica, na verda<strong>de</strong>, ela lançou mão do uso <strong>de</strong>stas <strong>narrativa</strong>s míticas<br />
na busca <strong>de</strong> explicações racionais. Este novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> explicação, com seu acervo <strong>de</strong><br />
m<strong>et</strong>áforas, é fruto mais da mudança pela qual passa a socieda<strong>de</strong> grega; causada pela<br />
expansão comercial. A mudança <strong>de</strong> fato se operou em um eixo <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>s e não<br />
<strong>de</strong> rupturas.<br />
“Do mito ao pensamento racional? Certamente. Mas aquele não é pura<br />
imaginação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e este ten<strong>de</strong> a se impor como um novo mito” (CHATELET,<br />
1973, p. 21).<br />
De qualquer maneira, as mudanças ocorridas alteraram o status do narrador,<br />
tornaram as <strong>narrativa</strong>s mais complexas, fizeram subdivisões on<strong>de</strong> antes havia o mo<strong>de</strong>lo<br />
único. Mas a <strong>narrativa</strong> não morreu, muito pelo contrário, continuou viva e forte, agora<br />
assumindo outras formas tais como: literária, política, histórica. A <strong>narrativa</strong> não<br />
<strong>de</strong>sapareceu porque ela está ligada à transmissão da experiência humana. Se agora<br />
temos uma <strong>narrativa</strong> literária enquadrada por novos atores, isto é, regulada para aten<strong>de</strong>r<br />
aos interesses <strong>de</strong> uma aristocracia, por outro lado continuamos a ter uma <strong>narrativa</strong> oral<br />
presente junto às camadas populares, ligada ás práticas vivenciais do grupo e, próxima<br />
da experiência <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho das pessoas que participam dos acontecimentos.