narrativa sobre o "et de varginha" - UninCor
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2.2 - A NARRATIVA LITERÁRIA: DA ORALIDADE AO ROMANCE<br />
No <strong>de</strong>senvolvimento das formas <strong>narrativa</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o surgimento da fala passando<br />
mais tar<strong>de</strong> pela escrita, variaram as formas que essas <strong>narrativa</strong>s tomavam e, não, o seu<br />
conteúdo, que se manteve o mesmo: a experiência humana e sua transmissão.<br />
Benjamin, em O Narrador, seu estudo dos contos <strong>de</strong> N. Leskow, afirma que a<br />
experiência é a fonte on<strong>de</strong> beberam todos os narradores. Isso porque a narração está<br />
intimamente ligada à idéia <strong>de</strong> viagem, nesse caso, o marinheiro comerciante, aquele que<br />
viajou e teve muitas experiências e que agora ao r<strong>et</strong>ornar po<strong>de</strong> transmiti-las aos seus<br />
companheiros. Não por coincidência foi com o <strong>de</strong>senvolvimento do comércio pelas<br />
cida<strong>de</strong>s gregas, que a <strong>narrativa</strong> assumiu, como vimos anteriormente, novas formas. A<br />
outra forma <strong>de</strong> narrar a experiência é a do camponês, o lavrador se<strong>de</strong>ntário, que vivendo<br />
honestamente do seu trabalho <strong>de</strong> lavrar a terra, conhece toda a história e tradição do seu<br />
grupo social.<br />
Novamente, no final da Ida<strong>de</strong> Média, há uma alteração no contexto <strong>de</strong> produção<br />
da experiência a ser narrada, agora não é mais o marinheiro mercante e nem o camponês<br />
se<strong>de</strong>ntário, mas o artesão, uma figura em ascensão social que passa a ser mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
narrador. A <strong>narrativa</strong> vai ocorrer nesse contexto <strong>de</strong> trabalho artesanal, em que o mestre<br />
trabalha com um grupo <strong>de</strong> aprendizes que vem <strong>de</strong> outros lugares, formando aquilo que<br />
Benjamin <strong>de</strong>screve como a união <strong>de</strong>ssas duas formas arcaicas, o marinheiro comerciante<br />
e o camponês se<strong>de</strong>ntário.<br />
“Nela (aca<strong>de</strong>mia) se unia o conhecimento do lugar distante, como o traz para casa<br />
o homem viajado, com o conhecimento do passado, da forma como este se oferece <strong>de</strong><br />
preferência ao se<strong>de</strong>ntário”. (BENJAMIN, 1983, p. 58).<br />
Para Benjamin o narrador é fiel à verda<strong>de</strong> e tem um interesse prático, isto é, sua<br />
<strong>narrativa</strong> carrega sempre uma utilida<strong>de</strong>, uma lição <strong>de</strong> moral, uma norma <strong>de</strong> vida. O<br />
narrador é alguém que aconselha o ouvinte, conselho esse proveniente <strong>de</strong> sua<br />
experiência e <strong>de</strong> uma sabedoria acumuladas que ele quer passar adiante.<br />
A <strong>narrativa</strong> é um trabalho artesanal. E é nessa forma <strong>de</strong> trabalho que ela encontra<br />
terreno fértil para florescer. Sua própria natureza rep<strong>et</strong>itiva provoca uma concepção <strong>de</strong><br />
tempo diferente. É o tempo do entalhe e do vinho, um tempo que passa <strong>de</strong>vagar. Nesse<br />
ambiente propício à memória (que é a capacida<strong>de</strong> épica por excelência, sua musa<br />
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