relações e rupturas entre o cristianismo medieval e o ... - ABHR
relações e rupturas entre o cristianismo medieval e o ... - ABHR
relações e rupturas entre o cristianismo medieval e o ... - ABHR
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Em seguida, Lutero (2006:39) nega a doutrina da Transubstanciação defendida pela Igreja<br />
Católica Romana, desde o IV Lateranense de 1215, mencionando que a eucaristia traz a presença real<br />
de Jesus; “Como ocorre em Cristo, não é preciso que a natureza humana se transubstancie para que a<br />
divindade habite corporalmente nela, mas a integridade das duas naturezas faz com que o homem é<br />
Deus e Deus é o homem”.<br />
Assim, Lutero defende a doutrina da Consubstanciação, que indica a crença na presença real<br />
de Jesus nas espécies do pão e do vinho. E significa que Jesus se encontra presente nas substâncias<br />
do pão e do vinho sem modificá-las / transformá-las. Ao contrário da Transubstanciação que se refere à<br />
transformação da substância do pão e do vinho no Corpo e sangue de Jesus. Na consubstanciação, o<br />
Corpo e o sangue, se juntam ao pão e ao vinho, porém a substância do pão permanece, juntamente<br />
com sua aparência.<br />
Segundo Klaas Woortmann (1997, p.85-7), o problema acerca da eucaristia era antigo, as<br />
dúvidas sobre esta vinham se acumulando há muito tempo, questionando-se a presença divina no seu<br />
ritual. Para o autor, Lutero optou por uma postura de meio-termo: aceitava ao mesmo tempo o mistério<br />
e o testemunho dos sentidos; a hóstia consagrada é ao mesmo tempo pão e corpo de Cristo. O ritual<br />
invocava e efetivamente reconstituía a presença real do corpo e sangue de Cristo na Eucaristia. Assim,<br />
a doutrina de Lutero propunha a presença subtancial real do corpo e do sangue junto com o pão e o<br />
vinho na Eucaristia. Dessa forma, o ponto de vista de Lutero distinguia-se do católico, mas retinha um<br />
componente central da conscepção tradicional da transubstanciação.<br />
Por vez, esse debate teológico acerca da Eucaristia, acabou proporcionando mudanças tanto<br />
na concepção luterana quanto na católica: tanto a doutrina reformulada da transubstanciação (no<br />
Concílio de Trento), quanto a da consubstanciação passaram a pressupor a separação <strong>entre</strong> a esfera<br />
espiritual-mística e a esfera material-corporea. Todas essas alternativas eliminavam a transcidência e<br />
imanência <strong>medieval</strong>, assim como o panteísmo (WOORTMANN, 1997, p.91).<br />
Ao analisar o sacramento da Eucaristia, Lutero (2006) o relaciona com a celebração da missa,<br />
que para ele, é o exercício da fé na promessa divina, nada mais do que isso. Entretanto, os sacerdotes,<br />
monges, bispos e seus superiores têm burlado a missa, usando-se de idolatrias, ao invés de fazê-la<br />
apenas em memória de Deus.<br />
Por isso, é erro manifesto e ímpio oferecer ou aplicar missa pelos pecados,<br />
pelas satisfações, pelos defuntos ou por quaisquer necessidades próprias ou<br />
alheias. (...), a missa é promessa divina que a ninguém pode ser proveito, a<br />
ninguém pode ser aplicada, a ninguém pode ajudar, a ninguém pode ser<br />
comunicada, a não ser somente ao próprio crente por meio da fé (LUTERO,<br />
2006, p. 50-51).<br />
4