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a pregação dos frades menores em portugal: um esforço de ... - ABHR

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A PREGAÇÃO DOS FRADES MENORES EM PORTUGAL: UM ESFORÇO DE TRANSFORMAÇÃO<br />

DA VIDA COTIDIANA DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE MEADOS DE DUZENTOS<br />

1<br />

Teresinha Duarte<br />

A partir das contribuições metodológicas da história do quotidiano, entendida como as práticas que se<br />

repet<strong>em</strong>, a presente comunicação indaga pela influência exercida pelos <strong>fra<strong>de</strong>s</strong> Menores, no dia a dia<br />

da socieda<strong>de</strong> portuguesa, <strong>de</strong> mea<strong>dos</strong> do século XIII. Naquele momento, os <strong>fra<strong>de</strong>s</strong> Menores já<br />

contavam <strong>de</strong>z conventos no reino <strong>de</strong> Portugal, a saber: Guimarães, Alenquer, Coimbra, Lisboa, Leiria,<br />

Porto, Guarda, Covilhã, Santarém e Estr<strong>em</strong>oz. Ad<strong>em</strong>ais, vivia-se <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> evolução, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

fraternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> penitentes e pregadores ambulantes para <strong>um</strong>a ord<strong>em</strong> religiosa <strong>de</strong> pregadores<br />

profissionais.<br />

*****<br />

A <strong>pregação</strong> <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Assis era <strong>um</strong>a <strong>pregação</strong> popular, como convite à conversão e<br />

à penitência. Na Regra Bulada, mandou aos seus irmãos que quisess<strong>em</strong> se <strong>de</strong>dicar à <strong>pregação</strong> que<br />

tivess<strong>em</strong> <strong>um</strong>a “linguag<strong>em</strong> pon<strong>de</strong>rada e pie<strong>dos</strong>a (Sl. 11,7 e 17,31), para utilida<strong>de</strong> e edificação do povo”,<br />

ao qual <strong>de</strong>viam anunciar “os vícios e as virtu<strong>de</strong>s, o castigo e a glória” (Regra Bulada 9, 3-4) Assim, foi<br />

a <strong>pregação</strong> <strong>dos</strong> primeiros <strong>fra<strong>de</strong>s</strong>: <strong>um</strong>a <strong>pregação</strong> penitencial, com exortação moral.<br />

Mas, com a transformação da fraternida<strong>de</strong> primitiva <strong>em</strong> <strong>um</strong>a ord<strong>em</strong> religiosa, a <strong>pregação</strong><br />

também passou por transformações e foi se tornando n<strong>um</strong> ofício <strong>dos</strong> <strong>fra<strong>de</strong>s</strong>. Juntamente com o<br />

processo da evolução da Fraternida<strong>de</strong> <strong>em</strong> ord<strong>em</strong> religiosa, a <strong>pregação</strong> franciscana evoluiu <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

simples exortação moral, como <strong>um</strong> convite à penitência e à conversão, para se tornar <strong>um</strong>a<br />

“predicazione ordinária”(Rusquoni, 1980:265) , como o afirma Roberto Rusquoni.<br />

Isso estava diretamente relacionado com o processo <strong>de</strong> clericalização que ia crescendo, no<br />

interior da fraternida<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como a resposta aos apelos do papa Gregório IX, que ia facultando e<br />

exigindo <strong>dos</strong> <strong>fra<strong>de</strong>s</strong> Menores, <strong>um</strong> ministério s<strong>em</strong>elhante àquele abraçado pela Ord<strong>em</strong> <strong>dos</strong> Pregadores<br />

ou Dominicanos.<br />

O esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>pregação</strong> que foi se <strong>de</strong>lineando, no seio da Ord<strong>em</strong>, não per<strong>de</strong>u, totalmente, o<br />

parentesco com o esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>pregação</strong> do Fundador e da primeira geração, como convite à<br />

conversão, no qual se anunciavam os vícios e as virtu<strong>de</strong>s. Mas, com a atuação <strong>dos</strong> teólogos,<br />

sobretudo a partir <strong>de</strong> Santo Antônio, aqueles que exerciam a <strong>pregação</strong> foram se especializando,<br />

naquele ofício, e foram ass<strong>um</strong>indo a compreensão <strong>de</strong> penitência, conforme o prescrito no IV<br />

Lateranense, ou seja, como a confissão sacramental.


De acordo com o 21ª Constituição do IV Concílio <strong>de</strong> Latrão, os fiéis <strong>de</strong>veriam ser orienta<strong>dos</strong> a<br />

se aproximar da confissão sacramental, ao menos <strong>um</strong>a vez por ano, pela Páscoa. Para isso, as<br />

pregações <strong>de</strong>veriam levar os ouvintes a aceitar <strong>um</strong>a nova prática na sua vivência religiosa: a confissão<br />

auricular. O momento da confissão era, s<strong>em</strong> dúvida, <strong>um</strong> momento <strong>em</strong> que o fiel se aproximava da<br />

Igreja, e esta, através do sacerdote, esquadrinhava a sua consciência, para purificá-lo do pecado e<br />

também da heterodoxia e das heresias.<br />

Nesses mol<strong>de</strong>s, a <strong>pregação</strong> franciscana, como o consi<strong>de</strong>ra Zelina Zafarana (1980:212-213),<br />

adquiriu <strong>um</strong> paralelismo com aquela da Igreja primitiva: enquanto aquela estava voltada para o anúncio<br />

da fé e do batismo, a minorítica, convidava à penitência, ou seja, à confissão sacramental, <strong>um</strong>a<br />

espécie <strong>de</strong> segundo batismo.<br />

Contudo, prevaleceu, na Ord<strong>em</strong>, também, sobretudo entre os seus pregadores populares, <strong>um</strong>a<br />

<strong>pregação</strong> homilética. Esta <strong>pregação</strong> homilética se caracterizou por ser <strong>um</strong> comentário às leituras<br />

litúrgicas do dia, prescindindo tanto da eleição <strong>de</strong> <strong>um</strong> t<strong>em</strong>a, quanto do aparato escolástico, para<br />

priorizar a explicação do texto bíblico. Essa prática era, <strong>de</strong> certa forma, <strong>um</strong> movimento <strong>de</strong> concessão<br />

<strong>de</strong> conhecimento do Evangelho a <strong>um</strong> público inculto e intolerante à metodologia <strong>de</strong> <strong>um</strong> pregador douto<br />

e letrado.<br />

Um pregador popular franciscano, normalmente, ia contrapondo o texto evangélico aos<br />

cost<strong>um</strong>es morais <strong>dos</strong> ouvintes, falando-lhes <strong>dos</strong> “vícios e das virtu<strong>de</strong>s, das penas e das glórias”<br />

(Zafarana, 1980 -232-233). Da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abandonar os primeiros e da urgência <strong>em</strong> cultivar as<br />

segundas; das penas <strong>de</strong>stinadas à prática <strong>dos</strong> vícios, assim como as glórias que aguardam aqueles<br />

que praticam as virtu<strong>de</strong>s. Para tornar a <strong>pregação</strong> mais viva, assim, como n<strong>um</strong>a cena teatral, o<br />

pregador fazia largo uso <strong>dos</strong> ex<strong>em</strong>pla.<br />

Mas, quando se pergunta pela vida quotidiana da socieda<strong>de</strong> portuguesa <strong>de</strong> mea<strong>dos</strong> <strong>de</strong><br />

duzentos, pelos vícios e peca<strong>dos</strong> combati<strong>dos</strong>, nas pregações <strong>dos</strong> minoritas, <strong>de</strong>para-se com <strong>um</strong>a<br />

dificulda<strong>de</strong>, porque não se t<strong>em</strong> notícia <strong>de</strong> nenh<strong>um</strong> sermão escrito por qualquer <strong>um</strong> <strong>dos</strong> <strong>fra<strong>de</strong>s</strong><br />

Menores, <strong>em</strong> Portugal, no período. Todavia, sabendo que a <strong>pregação</strong> <strong>de</strong>les estava voltada para <strong>um</strong>a<br />

correção das socieda<strong>de</strong>s nas quais estavam inseri<strong>dos</strong>, <strong>de</strong>diquei-me a <strong>de</strong>scobrir os vícios e os peca<strong>dos</strong><br />

da socieda<strong>de</strong> portuguesa naquelas décadas <strong>de</strong> 1230 e 1240.<br />

Tarefa <strong>um</strong> tanto espinhosa, entretanto, não a ponto <strong>de</strong> ser impossível obter qualquer pista que<br />

leve ao conhecimento <strong>dos</strong> tais vícios e peca<strong>dos</strong>, os quais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter ocupado a <strong>pregação</strong> <strong>dos</strong><br />

Franciscanos, <strong>em</strong> Portugal, fosse para con<strong>de</strong>ná-los ou para r<strong>em</strong>ediá-los com as virtu<strong>de</strong>s que com eles<br />

se antagonizavam.<br />

2


Em primeiro lugar, é preciso <strong>de</strong>ixar claro que as décadas <strong>de</strong> 1230 e 1240 coincidiram com o<br />

reinado do rei D. Sancho II, <strong>um</strong> período bastante conturbado da história portuguesa. Para isto procurei<br />

cotejar <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> leis estatuídas pelo sucessor <strong>de</strong> D. Sancho II, o seu irmão, D. Afonso – Con<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Bolonha e corregedor do reino <strong>de</strong> Portugal – no ano <strong>de</strong> 1248, <strong>em</strong> que o mesmo procurava corrigir<br />

<strong>um</strong>a série <strong>de</strong> maus cost<strong>um</strong>es que vigoraram no reinado <strong>de</strong> D. Sancho II, e que levaram o reino a <strong>um</strong>a<br />

situação <strong>de</strong> anarquia.<br />

Os abusos con<strong>de</strong>na<strong>dos</strong> por D. Afonso foram basicamente os seguintes: ir à casa <strong>dos</strong> fidalgos<br />

e lhes fazer mal; “cortar vinha”; “<strong>de</strong>rRibar casa”; “en assunada filhar boy ou uaca”, “filhar porco”, “filhar<br />

carneiro”,“filhar galinha ou capon ou cabrito ou ansser ou leyton”, “filhar capa çerame ou pele ou algûa<br />

uestidura ou cobertura”; matar lavrador que não fosse “lanceiro”; matar o inimigo e lhe roubar os<br />

pertences; e as violências contra os mosteiros (Livro das Leis e Posturas, 1971: 20-21).<br />

Por todas estas coisas, o reinado <strong>de</strong> D. Sancho II foi tido, por muitos, como <strong>um</strong> mal reinado, no<br />

qual prevaleceu a anarquia política e toda espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>sman<strong>dos</strong>, porque o rei não impunha a sua<br />

autorida<strong>de</strong> e não controlava a turbulência e a <strong>de</strong>sord<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ixando prevalecer a violência, faltando com<br />

o <strong>de</strong>ver real que era justamente zelar pela justiça.<br />

Por conta <strong>de</strong> todas estas situações, D. Sancho II foi <strong>de</strong>posto pelo papa Inocêncio IV, através<br />

da bula Inter alia <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rabilia, <strong>em</strong> 24 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1245, começando, então, a guerra civil que se<br />

esten<strong>de</strong>u até o final do ano <strong>de</strong> 1247, quando D. Sancho II se exilou no reino <strong>de</strong> Castela, ou melhor, até<br />

janeiro do ano seguinte, com a sua morte, <strong>em</strong> Toledo.<br />

Mas, qu<strong>em</strong> praticava aquelas violências? E qu<strong>em</strong> seriam as vítimas? Uma discussão com os<br />

estudiosos daquele período histórico po<strong>de</strong>ria clarear estas questões, b<strong>em</strong> como mostrar as<br />

circunstâncias que levaram a tal nível <strong>de</strong> abusos. Atualmente, na historiografia portuguesa, Leontina<br />

Ventura (1992:399-470) e José Mattoso (1992:57-75), são os historiadores que têm estudado o<br />

período mencionado. Por isso, no momento discutirei, brev<strong>em</strong>ente, os resulta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> seus estu<strong>dos</strong>.<br />

Para Ventura, a anarquia que é atribuída ao reinado <strong>de</strong> D. Sancho II, é o resultado <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

crise política que tomou conta do reino <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo do reinado <strong>de</strong> D. Afonso II, <strong>em</strong> 1211, na qual<br />

se entrecruzaram duas guerras, a primeira aquela “entre o Rei e os senhores” e a segunda foi a<br />

“guerra entre os senhores” (Ventura, 1992:424). O soberano português imbuído do <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> fazer<br />

justiça a seus súditos, acabou por encabeçar <strong>um</strong>a política <strong>de</strong> contenção <strong>dos</strong> abusos <strong>dos</strong> po<strong>de</strong>rosos,<br />

isto é, daqueles que estavam encarrega<strong>dos</strong> <strong>de</strong> administrar a justiça <strong>em</strong> seu nome, assim, acabou por<br />

privar a nobreza <strong>de</strong> seus po<strong>de</strong>res senhoriais, comprometendo as suas bases. D. Afonso II foi <strong>um</strong> rei<br />

que ac<strong>um</strong>ulou <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r que ultrapassava o po<strong>de</strong>r <strong>dos</strong> nobres.<br />

3


Com a sua morte precoce, e sendo o her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> menor ida<strong>de</strong>, a nobreza <strong>de</strong>tendo a tutoria do<br />

mesmo, tratou <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r seus privilégios e alargar a sua posição, sendo os anos <strong>de</strong> 1223 a 1227<br />

bastante turbulentos, com lutas inter-nobiliárquicas. De 1227 a 1235, D. Sancho II conseguiu ter alg<strong>um</strong><br />

controle do reino. Na reunião <strong>de</strong> Cúria <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1235, o partido senhorial começou a se recuperar<br />

e os anos <strong>de</strong> 1238-1239 marcaram o início da agudização <strong>dos</strong> conflitos internos.<br />

Os nobres aproveitaram da fraqueza do po<strong>de</strong>r real e se puseram a expandir as suas<br />

possessões, às custas das proprieda<strong>de</strong>s reais, das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros senhores, das<br />

proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vassalos <strong>de</strong> outros nobres, das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vilões e até das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

camponeses.<br />

Para José Mattoso, a crise que tomou conta da maior parte do reinado <strong>de</strong> D. Sancho II foi<br />

“<strong>um</strong>a crise social agravada pela crise política” (Mattoso, 1992: 61). Sendo que a crise política vinha se<br />

dando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o reinado <strong>de</strong> D. Afonso II, mas se intensificou com as lutas <strong>de</strong>ntro da nobreza, nos anos<br />

<strong>de</strong> 1223 a 1226; com os conflitos eclesiásticos no <strong>de</strong>correr da década <strong>de</strong> 1230; <strong>um</strong> crescimento <strong>de</strong><br />

conflitos esporádicos a partir <strong>de</strong> 1237. Depois, agudizou, <strong>em</strong> 1245, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da <strong>de</strong>claração, feita<br />

pelo papa Inocêncio IV, da nulida<strong>de</strong> do casamento <strong>de</strong> D. Sancho II com D. Mécia <strong>de</strong> Haro, a pedido do<br />

Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bolonha, com a <strong>de</strong>posição do Rei e o começo da guerra civil.<br />

Acerca do que o autor chama <strong>de</strong> “factos sociais”, ele próprio consi<strong>de</strong>ra <strong>um</strong> entrecruzamento<br />

das “lutas entre o rei e os bispos, entre os bispos e burgueses, entre nobres e igrejas ou mosteiros,<br />

<strong>dos</strong> nobres entre si, <strong>dos</strong> nobres contra vilãos <strong>dos</strong> concelhos e finalmente os actos <strong>de</strong> banditismo”<br />

(Mattoso, 1992: 65). Contudo, admite que os conflitos ocorri<strong>dos</strong> entre o rei e os bispos foram<br />

esporádicos e os conflitos <strong>de</strong> bispos com burgueses tinham caráter localizado. Os conflitos mais<br />

graves advieram da “marginalização <strong>dos</strong> filhos segun<strong>dos</strong> e os poucos recursos <strong>dos</strong> pequenos nobres”,<br />

o que agravou “a sua propensão para a violência” (Mattoso, 1992: 67), alimentando a crise política.<br />

Já, os conflitos oriun<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> “abusos e violências cometi<strong>dos</strong> por nobres contra vilãos <strong>em</strong><br />

senhorias e tenências” ocorreram <strong>em</strong> “regiões periféricas da zona senhorial por excelência (...) na<br />

Beira Alta, Traz-os-Montes e Alto Minho” (Mattoso, 1992: 68). Por último, menciona o banditismo que<br />

envolveu pessoas <strong>de</strong> todas as categorias sociais. Era “gente fora da lei. Eram os homens s<strong>em</strong> terra e<br />

s<strong>em</strong> senhor” (Mattoso, 1992: 71).<br />

Assim, entendo que as práticas violentas corrigidas por Dom Afonso, Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bolonha, eram<br />

todas aquelas violências perpetradas pelos nobres, uns contra os outros ou contra os mosteiros e até<br />

mesmo contra a população <strong>em</strong> geral. As vítimas eram outros m<strong>em</strong>bros da própria nobreza – os<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> senhores adversários, como os seus vassalos – os camponeses que trabalhavam as<br />

suas terras, os al<strong>de</strong>ões; <strong>de</strong>spovoando, por conta disso, casais, campos e vilas. Vítimas também foram<br />

4


os mosteiros e as mulheres – leigas e religiosas – vítimas <strong>de</strong> abuso sexual. Em s<strong>um</strong>a: as vítimas das<br />

violências eram os fracos.<br />

Embora, a violência fosse <strong>um</strong>a condição natural da Ida<strong>de</strong> Média, aquelas eram as violências<br />

próprias daquela circunstância ímpar vivida, no reino português, <strong>em</strong> que os praticantes da violência<br />

eram os m<strong>em</strong>bros da nobreza, mas que a culpa foi atribuída ao rei, porque este foi incapaz <strong>de</strong> conter a<br />

<strong>de</strong>sord<strong>em</strong>, sendo-lhe imputado, por isso, a negligência no regime da justiça.<br />

Para os pregadores, já imbuí<strong>dos</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> linguajar teológico, to<strong>dos</strong> aqueles comportamentos<br />

po<strong>de</strong>riam ser traduzi<strong>dos</strong> para o universo da moral como sendo os peca<strong>dos</strong> cometi<strong>dos</strong> contra a justiça,<br />

como a avareza, a inveja, a rapina e outros como o estupro, a provocação <strong>de</strong> intrigas, culminando com<br />

a vingança privada.<br />

Mas também, é preciso não se esquecer que, naqueles anos <strong>de</strong> 1230/1248, os Franciscanos,<br />

<strong>em</strong> Portugal, já estavam instala<strong>dos</strong> nos arrabal<strong>de</strong>s <strong>de</strong> muitas cida<strong>de</strong>s, como <strong>em</strong> Coimbra, Lisboa,<br />

Covilhã, Guarda, Santarém, Estr<strong>em</strong>oz ... Ali, podiam acompanhar o bulício das ativida<strong>de</strong>s que se<br />

<strong>de</strong>senvolviam no interior daquelas vilas e cida<strong>de</strong>s. Com certeza, estariam acompanhando os<br />

comportamentos <strong>de</strong> comerciantes e executores <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os outros ofícios.<br />

Não é difícil adivinhar os comportamentos cotidianos que imperavam, nas cida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> que<br />

habitavam, b<strong>em</strong> como os <strong>de</strong>svios morais que aquela gente cometia, ou seja, os seus peca<strong>dos</strong>, como: a<br />

ganância pelo lucro, a avareza, a usura e a frau<strong>de</strong>, entre outros. E entre a gente miúda, composta por<br />

<strong>um</strong>a população <strong>de</strong> migrantes, vota<strong>dos</strong> à marginalida<strong>de</strong>, com certeza, viss<strong>em</strong> também, outras práticas<br />

<strong>de</strong>sonestas como o furto, a prostituição e até a inveja.<br />

A to<strong>dos</strong> estes peca<strong>dos</strong> os pregadores estariam s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> sentinela, para os corrigir. Portanto,<br />

estariam <strong>de</strong> sentinela <strong>de</strong>nunciando todas aquelas violências e peca<strong>dos</strong>, quer foss<strong>em</strong> aqueles abusos<br />

cometi<strong>dos</strong> pela nobreza, como também, aqueles outros, cometi<strong>dos</strong> pelos habitantes das cida<strong>de</strong>s.<br />

Acredito que se possa consi<strong>de</strong>rar que também as mulheres estariam recebendo especial<br />

atenção, na <strong>pregação</strong> <strong>dos</strong> <strong>fra<strong>de</strong>s</strong> Menores. Uma vez que a <strong>pregação</strong> era feita <strong>em</strong> praça pública, elas<br />

faziam parte daquele público, e além da misoginia, outros fatores po<strong>de</strong>riam concorrer para a sua<br />

marginalização, naquela socieda<strong>de</strong>. Mas, quais seriam os vícios e os peca<strong>dos</strong> das mulheres?<br />

Sabendo-se que a virtu<strong>de</strong> das mulheres era a castida<strong>de</strong>, então, tudo o que ferisse àquela virtu<strong>de</strong><br />

incorreria ou, ao menos, predisporia ao pecado.<br />

Desta forma, é <strong>de</strong> acreditar que os <strong>fra<strong>de</strong>s</strong> encorajass<strong>em</strong> o público f<strong>em</strong>inino “na prática assídua<br />

da oração, na recusa <strong>de</strong> ornamentos do corpo, na compostura <strong>dos</strong> gestos, no uso parco da palavra, na<br />

sobrieda<strong>de</strong> da alimentação”(Casagran<strong>de</strong>, s/d.:113) Pois se entendia que as virtu<strong>de</strong>s que<br />

5


acompanhavam a castida<strong>de</strong> e a cautela eram: a oração, a sobrieda<strong>de</strong>, a modéstia, e a <strong>de</strong>dicação ao<br />

trabalho e à carida<strong>de</strong>.<br />

Às mulheres, <strong>em</strong> geral, eram propostos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s que valorizavam a excelência do<br />

interior <strong>em</strong> oposição ao exterior, afastando-as da vida pública para colocá-las no interior das casas e<br />

<strong>dos</strong> conventos. Daí acreditar que o conteúdo da <strong>pregação</strong> con<strong>de</strong>nasse a curiosida<strong>de</strong>, a tagarelice, a<br />

vaida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>sobediência a pais e mari<strong>dos</strong>, e os comportamentos sexuais proibi<strong>dos</strong>, como a sedução,<br />

a luxúria, a fornicação, o adultério, relações incestuosas, práticas anticoncepcionais, o aborto e o<br />

infanticídio.<br />

Um outro pecado que as mulheres eram consi<strong>de</strong>radas culpadas era o concubinato com<br />

padres, pois elas foram vistas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Reforma Gregoriana, como as responsáveis pelas<br />

transgressões sexuais do clero, especialmente o secular. A lista <strong>dos</strong> peca<strong>dos</strong> f<strong>em</strong>ininos po<strong>de</strong>ria se<br />

alongar muito, ainda...<br />

Então, a <strong>pregação</strong> versava sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que foss<strong>em</strong> cautelosas, pois mulheres que<br />

ficass<strong>em</strong> andando fora <strong>de</strong> casa e <strong>dos</strong> mosteiros po<strong>de</strong>ria atrair o perigo para si – pondo <strong>em</strong> risco a<br />

própria castida<strong>de</strong> – e para suas famílias e a socieda<strong>de</strong> – provocando nos homens <strong>um</strong> <strong>de</strong>sejo<br />

imo<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> luxúria, don<strong>de</strong> resultava muitas violências, discórdias e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns sociais. Ainda mais<br />

que o rapto <strong>de</strong> mulheres, <strong>em</strong>bora con<strong>de</strong>nado, ainda não tinha sido abandonado (Cf. Almeida, s/d:<br />

184).<br />

Havia <strong>um</strong>a outra categoria <strong>de</strong> mulheres que era merecedora <strong>de</strong> especial cuidado <strong>dos</strong> pastores<br />

e pregadores: eram as prostitutas. A prostituição foi consi<strong>de</strong>rada, <strong>em</strong> boa parte da Ida<strong>de</strong> Média, como<br />

<strong>um</strong> mal necessário, <strong>de</strong>vido a “a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> canalizar as energias sexuais masculinas para estas<br />

mulheres a fim <strong>de</strong> evitar que aquelas se dirigiss<strong>em</strong> antes para as mulheres honestas, virgens, viúvas<br />

ou casadas” (Pilosu, 1995:76). Assim, o meretrício <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong>, colocado <strong>em</strong> lugar à parte,<br />

contribuiria para proteger a ord<strong>em</strong> social, na medida <strong>em</strong> que contribuísse para evitar as violências<br />

oriundas das paixões carnais.<br />

Mas, com Roberto d’Arbrissel, no século XII, e <strong>de</strong>pois, no século seguinte, começava <strong>um</strong><br />

<strong>esforço</strong> <strong>de</strong> alguns segmentos da Igreja, para a conversão e recuperação daquelas mulheres, inclusive<br />

com o culto à santa Maria Madalena. A santa foi colocada como mo<strong>de</strong>lo para as mulheres pecadoras,<br />

ou seja, para as prostitutas, para que, se convertess<strong>em</strong> e seguiss<strong>em</strong> o seu ex<strong>em</strong>plo.<br />

Os pregadores <strong>dos</strong> séculos XIII e XIV, Franciscanos e Dominicanos, não estiveram alheios<br />

àquele <strong>esforço</strong> <strong>de</strong> conversão das prostitutas e n<strong>em</strong> ao culto <strong>de</strong> santa Maria Madalena. Inclusive, tal<br />

culto parece ter sido mais relevante naqueles locais aon<strong>de</strong> predominou as influências do “ambiente<br />

penitencial e sobretudo franciscano” (Pilosu, 1995:134).<br />

6


Entre os vícios e peca<strong>dos</strong> que faziam parte da vida quotidiana da socieda<strong>de</strong> portuguesa do<br />

período estavam sobretudo: a avareza, a ira, a luxúria e a inveja, contudo, como se sabe, <strong>um</strong>a forte<br />

característica da <strong>pregação</strong> <strong>dos</strong> Franciscanos é a sua positivida<strong>de</strong>.Então, com certeza, estariam<br />

convidando a população à prática <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, como: a justiça, a fraternida<strong>de</strong> e a carida<strong>de</strong> ou o amor<br />

ao próximo. E àqueles que sofriam os reveses da pobreza, estariam convidando-os à resignar<strong>em</strong>-se à<br />

sua sorte. Desta forma, mais do que con<strong>de</strong>nando as práticas pecaminosas, estariam procurando<br />

r<strong>em</strong>ediar to<strong>dos</strong> os males com as virtu<strong>de</strong>s. Acima <strong>de</strong> tudo, estariam incitando to<strong>dos</strong> a plasmar <strong>um</strong>a vida<br />

social norteada pela paz.<br />

É possível que, <strong>em</strong> Portugal, como alhures, homens e mulheres, sobretudo leigos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

ouvir a <strong>pregação</strong> <strong>dos</strong> <strong>fra<strong>de</strong>s</strong>, com o cost<strong>um</strong>eiro apelo à penitência, viess<strong>em</strong> a se congregar <strong>em</strong><br />

fraternida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> penitentes, através da Ord<strong>em</strong> Terceira. Fraternida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> penitentes, <strong>em</strong> muitos<br />

lugares da Europa, já haviam aparecido antes mesmo do aparecimento <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Assis,<br />

contudo, ganharam novo alento com o movimento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado por ele, e, muitas vieram a adotar<br />

<strong>um</strong> estilo franciscano e <strong>um</strong>a familiarida<strong>de</strong> com os <strong>fra<strong>de</strong>s</strong>. Em Portugal, com toda certeza, nos anos <strong>de</strong><br />

1230 e 1240, já existiam fraternida<strong>de</strong>s da Ord<strong>em</strong> Terceira.<br />

*********<br />

Assim, po<strong>de</strong> se afirmar que houve <strong>um</strong>a contribuição significativa <strong>dos</strong> Franciscanos,<br />

especialmente <strong>dos</strong> <strong>fra<strong>de</strong>s</strong> Menores, <strong>em</strong> relação ao processo civilizatório português. Essas<br />

contribuições, acredito, tendo penetrado lentamente no cotidiano, ajudaram a plasmar <strong>um</strong> nível <strong>de</strong><br />

convivência social, especialmente a partir do respeito à justiça e do cultivo da paz, vistos como virtu<strong>de</strong>s<br />

que foram animadas pelos pregadores franciscanos, ao mesmo t<strong>em</strong>po, que <strong>de</strong>nunciavam to<strong>dos</strong><br />

comportamentos que colocavam <strong>em</strong> risco essas mesmas virtu<strong>de</strong>s. Assim, acredito que os<br />

Franciscanos contribuíram para estar ajudando a formar <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> mais civilizada, mais fraterna,<br />

mais justa e mais pacífica.<br />

Ressalto, porém, que os Franciscanos não foram os únicos que contribuíram para esse<br />

processo. Há que l<strong>em</strong>brar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1211, D. Afonso II, por meio das cortes realizadas naquele ano,<br />

já manifestou <strong>um</strong>a preocupação <strong>em</strong> controlar os <strong>de</strong>sman<strong>dos</strong> da socieda<strong>de</strong>, através do processo<br />

legislativo. Além disso, contribuíram significativamente para a civilização do País, outras or<strong>de</strong>ns<br />

religiosas, especialmente as mendicantes, como a <strong>dos</strong> Trinitários e a <strong>dos</strong> Dominicanos. Trinitários,<br />

Franciscanos e Dominicanos: to<strong>dos</strong> a<strong>de</strong>ntraram o País, durante o reinado <strong>de</strong> D. Afonso II (1211-1223),<br />

e ali se instalaram, com os favores da monarquia.<br />

7


Acredito, inclusive, que a gran<strong>de</strong> ascendência, especialmente <strong>dos</strong> Franciscanos – os quais se<br />

constituíram, aqui, no meu objeto <strong>de</strong> estudo – sobre a família real portuguesa, <strong>de</strong>ve-se a esse<br />

interesse com<strong>um</strong>, que era a transformação <strong>dos</strong> hábitos da população. D. Afonso II e seus sucessores<br />

tiveram como estratégias para alcançar aquele objetivo, o uso do processo legislativo, enquanto os<br />

<strong>fra<strong>de</strong>s</strong> usaram os recursos religiosos que dispunham, como a sua vivência pessoal, <strong>em</strong>basada na<br />

pobreza; no seu comportamento simples e pacífico; na <strong>pregação</strong> ortodoxa; nas organizações <strong>de</strong><br />

confrarias <strong>de</strong> terciários, on<strong>de</strong> os franciscanos seculares agiam como “fermento na massa” (cf. Mt 13,<br />

33) da socieda<strong>de</strong>, contribuindo para a criação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cultura <strong>de</strong> paz, <strong>de</strong> respeito aos direitos<br />

recíprocos e <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> com os mais pobres e marginaliza<strong>dos</strong>.<br />

Em <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong>, que, mesmo violenta, era religiosa, os recursos usa<strong>dos</strong> pelos<br />

Franciscanos foram eficazes. Prova disso é a sua aceitação pelas populações, que não apenas lhes<br />

acudiam com as esmolas, mas também lhes doavam terrenos, ajudavam-lhes na construção <strong>de</strong><br />

conventos e igrejas. Grangearam respeito, também, por parte <strong>dos</strong> reis portugueses e <strong>dos</strong> papas, <strong>em</strong><br />

<strong>um</strong> processo crescente, ao longo da Baixa Ida<strong>de</strong> Média.<br />

Bibliografia<br />

Fontes<br />

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