a pregação dos frades menores em portugal: um esforço de ... - ABHR
a pregação dos frades menores em portugal: um esforço de ... - ABHR
a pregação dos frades menores em portugal: um esforço de ... - ABHR
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
acompanhavam a castida<strong>de</strong> e a cautela eram: a oração, a sobrieda<strong>de</strong>, a modéstia, e a <strong>de</strong>dicação ao<br />
trabalho e à carida<strong>de</strong>.<br />
Às mulheres, <strong>em</strong> geral, eram propostos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s que valorizavam a excelência do<br />
interior <strong>em</strong> oposição ao exterior, afastando-as da vida pública para colocá-las no interior das casas e<br />
<strong>dos</strong> conventos. Daí acreditar que o conteúdo da <strong>pregação</strong> con<strong>de</strong>nasse a curiosida<strong>de</strong>, a tagarelice, a<br />
vaida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>sobediência a pais e mari<strong>dos</strong>, e os comportamentos sexuais proibi<strong>dos</strong>, como a sedução,<br />
a luxúria, a fornicação, o adultério, relações incestuosas, práticas anticoncepcionais, o aborto e o<br />
infanticídio.<br />
Um outro pecado que as mulheres eram consi<strong>de</strong>radas culpadas era o concubinato com<br />
padres, pois elas foram vistas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Reforma Gregoriana, como as responsáveis pelas<br />
transgressões sexuais do clero, especialmente o secular. A lista <strong>dos</strong> peca<strong>dos</strong> f<strong>em</strong>ininos po<strong>de</strong>ria se<br />
alongar muito, ainda...<br />
Então, a <strong>pregação</strong> versava sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que foss<strong>em</strong> cautelosas, pois mulheres que<br />
ficass<strong>em</strong> andando fora <strong>de</strong> casa e <strong>dos</strong> mosteiros po<strong>de</strong>ria atrair o perigo para si – pondo <strong>em</strong> risco a<br />
própria castida<strong>de</strong> – e para suas famílias e a socieda<strong>de</strong> – provocando nos homens <strong>um</strong> <strong>de</strong>sejo<br />
imo<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> luxúria, don<strong>de</strong> resultava muitas violências, discórdias e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns sociais. Ainda mais<br />
que o rapto <strong>de</strong> mulheres, <strong>em</strong>bora con<strong>de</strong>nado, ainda não tinha sido abandonado (Cf. Almeida, s/d:<br />
184).<br />
Havia <strong>um</strong>a outra categoria <strong>de</strong> mulheres que era merecedora <strong>de</strong> especial cuidado <strong>dos</strong> pastores<br />
e pregadores: eram as prostitutas. A prostituição foi consi<strong>de</strong>rada, <strong>em</strong> boa parte da Ida<strong>de</strong> Média, como<br />
<strong>um</strong> mal necessário, <strong>de</strong>vido a “a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> canalizar as energias sexuais masculinas para estas<br />
mulheres a fim <strong>de</strong> evitar que aquelas se dirigiss<strong>em</strong> antes para as mulheres honestas, virgens, viúvas<br />
ou casadas” (Pilosu, 1995:76). Assim, o meretrício <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong>, colocado <strong>em</strong> lugar à parte,<br />
contribuiria para proteger a ord<strong>em</strong> social, na medida <strong>em</strong> que contribuísse para evitar as violências<br />
oriundas das paixões carnais.<br />
Mas, com Roberto d’Arbrissel, no século XII, e <strong>de</strong>pois, no século seguinte, começava <strong>um</strong><br />
<strong>esforço</strong> <strong>de</strong> alguns segmentos da Igreja, para a conversão e recuperação daquelas mulheres, inclusive<br />
com o culto à santa Maria Madalena. A santa foi colocada como mo<strong>de</strong>lo para as mulheres pecadoras,<br />
ou seja, para as prostitutas, para que, se convertess<strong>em</strong> e seguiss<strong>em</strong> o seu ex<strong>em</strong>plo.<br />
Os pregadores <strong>dos</strong> séculos XIII e XIV, Franciscanos e Dominicanos, não estiveram alheios<br />
àquele <strong>esforço</strong> <strong>de</strong> conversão das prostitutas e n<strong>em</strong> ao culto <strong>de</strong> santa Maria Madalena. Inclusive, tal<br />
culto parece ter sido mais relevante naqueles locais aon<strong>de</strong> predominou as influências do “ambiente<br />
penitencial e sobretudo franciscano” (Pilosu, 1995:134).<br />
6