Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.
Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.
Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
AS GRADES<br />
Pátria<br />
Por um país <strong>de</strong> pedra e vento duro<br />
Por um país <strong>de</strong> luz perfeita e clara<br />
Pelo negro da terra e pelo branco do muro Pelos rostos <strong>de</strong> silêncio e <strong>de</strong> paciência<br />
Que a miséria longamente <strong>de</strong>senhou<br />
Rente aos ossos com toda a exactidão<br />
Do longo relatório irrecusável<br />
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento<br />
E pela limpi<strong>de</strong>z das tão amadas<br />
Palavras sempre ditas com paixão<br />
Pela cor e pelo peso das palavras<br />
Pelo concreto silêncio limpo das palavras<br />
Don<strong>de</strong> se erguem as coisas nomeadas<br />
Pela nu<strong>de</strong>z das palavras <strong>de</strong>slumbradas<br />
- Pedra rio vento casa<br />
Pranto dia canto alento<br />
Espaço raiz e água<br />
Ó minha pátria e meu centro<br />
Me dói a lua me soluça o mar<br />
E o exílio se inscreve em pleno tempo.<br />
Pranto pelo infante D. Pedro das sete partidas<br />
(poema escrito na noite <strong>de</strong> 17-12-1961, e interrompido pela notícia da entrada dos<br />
soldados indianos em Goa)<br />
Nunca choraremos bastante nem com pranto<br />
Assaz amargo e forte<br />
Aquele que fundou glória e gran<strong>de</strong>za<br />
E recebeu em paga insulto e morte<br />
PRANTO PELO DIA DE HOJE<br />
Nunca choraremos bastante quando vemos<br />
O gesto criador ser impedido<br />
Nunca choraremos bastante quando vemos<br />
Que quem ousa lutar é <strong>de</strong>struído<br />
Por troças por insídias por venenos<br />
E por outras maneiras que sabemos<br />
Tão sábias tão subtis e tão peritas<br />
Que nem po<strong>de</strong>m sequer ser bem <strong>de</strong>scritas