Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.
Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.
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O instante real <strong>de</strong> aparição e <strong>de</strong> surpresa<br />
Guardar num mundo claro<br />
O gesto claro da mão tocando a mesa<br />
Eis-Me<br />
Eis-me<br />
Tendo-me <strong>de</strong>spido <strong>de</strong> todos os meus mantos<br />
Tendo-me separado <strong>de</strong> adivinhos mágicos e <strong>de</strong>uses<br />
Para ficar sozinha ante o silêncio<br />
Ante o silêncio e o esplendor da tua face<br />
Mas tu és <strong>de</strong> todos os ausentes o ausente<br />
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca<br />
O meu coração <strong>de</strong>sce as escadas do tempo em que não moras<br />
E o teu encontro<br />
São planícies e planícies <strong>de</strong> silêncio<br />
Escura é a noite<br />
Escura e transparente<br />
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco<br />
E eu não habito os jardins do teu silêncio<br />
Porque tu és <strong>de</strong> todos os ausentes o ausente<br />
Despedida<br />
Na estação na tar<strong>de</strong> o fumo<br />
O rumor o vaivém as faces<br />
Anónimas<br />
Criam no interior do amor um outro cais<br />
As lágrimas<br />
O fogo da minha alma as queima antes que brotem<br />
Meio da Vida<br />
Porque as manhãs são rápidas e o seu sol quebrado<br />
Porque o meio-dia<br />
Em seu <strong>de</strong>spido fulgor ro<strong>de</strong>ia a terra<br />
A casa compõe uma por uma as suas sombras<br />
A casa prepara a tar<strong>de</strong><br />
Frutos e canções se multiplicam<br />
Nua e aguda<br />
A doçura da vida<br />
O Poema