17.04.2013 Views

Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.

Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.

Sophia de Mello Breyner Andersen O Livro Sexto.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

solenida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> nu<strong>de</strong>z. Ali eu quereria chorar <strong>de</strong> gratidão com a cara encostada contra as<br />

pedras.<br />

Ressurgiremos<br />

Ressurgiremos ainda sob os muros <strong>de</strong> Cnossos<br />

E em Delphos centro do mundo<br />

Ressurgiremos ainda na dura luz <strong>de</strong> Creta<br />

Ressurgiremos ali on<strong>de</strong> as palavras<br />

São o nome das coisas<br />

E on<strong>de</strong> são claros e vivos os contornos<br />

Na aguda luz <strong>de</strong> Creta<br />

Ressurgiremos ali on<strong>de</strong> pedra estrela e tempo<br />

São o reino do homem<br />

Ressurgiremos para olhar para a terra <strong>de</strong> frente<br />

Na luz limpa <strong>de</strong> Creta<br />

Pois convém tornar claro o coração do homem<br />

E erguer a negra exactidão da cruz<br />

Na luz branca <strong>de</strong> Creta.<br />

II<br />

A Estrela<br />

Eu caminhei na noite<br />

Entre silêncio e frio<br />

Só uma estrela secreta me guiava Gran<strong>de</strong>s perigos na noite me apareceram<br />

Da minha estrela julguei que eu a julgara<br />

Verda<strong>de</strong>ira sendo ela só reflexo<br />

De uma cida<strong>de</strong> a néon enfeitada<br />

A minha solidão me pareceu coroa<br />

Sinal <strong>de</strong> perfeição em minha fronte<br />

Mas vi quando no vento me humilhava<br />

Que a coroa que eu levava era <strong>de</strong> um ferro<br />

Tão pesado que toda me dobrava<br />

Do frio das montanhas eu pensei<br />

«Minha pureza me cerca e me ro<strong>de</strong>ia»<br />

Porém meu pensamento apodreceu<br />

E a pureza das coisas cintilava<br />

E eu vi que a limpi<strong>de</strong>z não era eu<br />

E a fraqueza da carne e a miragem do espírito<br />

Em monstruosa voz se transformaram<br />

Disse às pedras do monte que falassem<br />

Mas elas como pedras se calaram<br />

Sozinha me vi <strong>de</strong>lirante e perdida

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!