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Climacus), diz que Aquele que cria a obra dá à luz seu próprio<br />

pai; ou O eu é uma síntese do finito que delimita o infinito que<br />

ilimita. Pessoa, depois, como que reproduziria esse caminho;<br />

sentindo-se com autoridade até para ditar regras sobre o uso de<br />

heterônimos:<br />

É essencial que sejam nomes portugueses. 212 No caso de se<br />

empregarem pseudônimos, fazê-lo segundo um sistema, dando a<br />

cada pseudopersonalidade um certo número de atribuições constantes;<br />

isto, simplesmente, para não destruir a estética da pseudonímia,<br />

e, se os pseudônimos forem nomes portugueses, com<br />

aparência de nomes reais, para manter o caráter dramático que<br />

essa obra impõe, o entredestaque das diversas “pessoas”.<br />

Carta a Francisco Fernandes Lopes (26/4/1919), Fernando Pessoa<br />

Trata-se de ideia recorrente entre escritores. (John) Keats<br />

(1795-1821) distingue identidade poética de identidade civil. Para<br />

ele, um poeta é a coisa menos poética da existência, porque ele<br />

não tem identidade. Edgar Allan Poe (1809-1849) afirma que todo<br />

pensamento, para ser breve, é sentido por cada um como<br />

uma afronta pessoal à própria pessoa. Para Walt Whitman<br />

(1819-1892), dentro do homem há multidões. Em (Friedrich) Nietzsche<br />

(1844-1902) um homem só, só com as suas ideias, passa<br />

por louco; e meu coração... força-me a falar como se eu fosse<br />

dois. (Jean Nicolas Arthur) Rimbaud (1854-1891) dizia eu é um<br />

outro. E (Jean) Cocteau (1889-1963), que Victor Hugo era um<br />

louco que acreditava ser Victor Hugo — o mesmo Hugo que, para<br />

Pessoa, era “um grande poeta... Mas menor do que pensava”.<br />

(Gustave) Flaubert (1821-1880) disse: Madame Bovary sou eu.<br />

Segundo (Charles) Baudelaire (1821-1867), o artista só é artista<br />

com a condição de ser duplo; e quem não sabe povoar a sua<br />

solidão também não sabe estar só em meio a uma multidão<br />

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