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A <strong>mente</strong><br />

é a resposta<br />

2<br />

Por Carlos Anastácio


Acerca do autor:<br />

Tem 52 anos de idade. É formado em engenharia mecânica, com formação em gestão<br />

de empresas, tendo exercido vários cargos de direcção. em dedicado os últimos anos<br />

à investigação e prática de técnicas de Transformação Pessoal Interior e Auto-Ajuda<br />

tendo obtido formação nos E.U.A. e Espanha.<br />

É o criador e orador em seminários e workshops.<br />

3


Agradecimentos<br />

À Maria Luisa, minha mulher, por me ter incentivado a escrever este livro e por todo o<br />

trabalho que teve na sua correcção e aconselhamento.<br />

Ao meus amigos Júlia e Marciano pelas longas conversas que me permitiram uma<br />

melhor compreensão.<br />

Ao Quim Zé por me ter permitido expandir os meus pensamentos.<br />

4


Índice<br />

Acerca do autor………………………………………………………………………………………2<br />

Agradecimentos……………………………………………………………………………………...3<br />

Introdução a uma nova mentalidade……………………………………………………………….5<br />

Nota do autor………………………………………………………………………………………… 7<br />

Entrevista ……………………………………………………………………………………………. 9<br />

Considerações ………………………………………………………………………………………14<br />

Prefácio……………………………………………………………………………………………….16<br />

A ligação entre o corpo e a <strong>mente</strong>…………………………………………………………………21<br />

A cura e as crenças………………………………………………………………………………….25<br />

Como considerar a doença……………………………………………….…………………………27<br />

Os sintomas…………………………………………………………………………………………..29<br />

A inadequação do adulto……………………………………………………………………………33<br />

A auto-estima…………………………………………………………………………………………38<br />

A auto-aceitação……………………………………………………………………………………...40<br />

O merecimento……………………………………………………………………………………….42<br />

As crenças…………………………………………………………………………………………….44<br />

A culpa…………………………………………………………………………………………………47<br />

A mentalidade errada………………………………………………………………………………..49<br />

Passado, presente e futuro………………………………………………………………………….51<br />

A <strong>mente</strong>………………………………………………………………………………………………..55<br />

A vida…………………………………………………………………………………………………..58<br />

O poder do pensamento……………………………………………………………………………..60<br />

Sonho ou realidade…………………………………………………………………………………...62<br />

O pensamento cria a nossa realidade………………………………………………………………64<br />

A importância do pensamento correcto…………………………………………………………….66<br />

A realidade auto-criada……………………………………………………………………………….68<br />

O mundo……………………………………………………………………………………………….70<br />

Questionar a realidade do mundo……………………………………………………………………73<br />

O dualismo do mundo…………………………………………………………………………………75<br />

A atracção do mundo………………………………………………………………………………….78<br />

Para além do corpo……………………………………………………………………………………80<br />

O medo………………………………………………………………………………………………….83<br />

Evitar o medo…………………………………………………………………………………………..85<br />

Ser livre é libertar-se do medo……………………………………………………………………….87<br />

As várias faces do medo……………………………………………………………………………..89<br />

Novos sistemas de pensamento…………………………………………………………………….92<br />

O nosso auto-conceito………………………………………………………………………………..96<br />

A experiência corporal………………………………………………………………………………..99<br />

O que é a salvação…………………………………………………………………………………..102<br />

A natureza da verdadeira realidade………………………………………………………………..105<br />

A natureza de Deus………………………………………………………………………………….107<br />

Mudar a nossa realidade…………………………………………………………………………….109<br />

O perdão………………………………………………………………………………………………111<br />

Uma alternativa real………………………………………………………………………………….114<br />

O mundo exterior……………………………………………………………………………………..116<br />

A mudança de mentalidade………………………………………………………………………….118<br />

A cura…………………………………………………………………………………………………..120<br />

Epílogo………………………………………………………………………………………………….122<br />

5


Introdução a uma nova mentalidade<br />

6


Introdução a uma nova mentalidade<br />

A medicina avançou consideravel<strong>mente</strong> neste século. No entanto, penso que deveria<br />

ser dada mais relevância ao estudo da relação corpo-<strong>mente</strong>. A prática da homeopatia<br />

durante vários anos deu-me a convicção de que esta interacção é fundamental para a<br />

compreensão do desenvolvimento das doenças e do seu processo de cura.<br />

Observei casos de pessoas que sendo vegetarianas sofriam dos mesmos sintomas<br />

que outras que se alimentavam sem qualquer cuidado especial. Também observei<br />

pessoas que nunca tinham fumado sofrerem de cancro nos pulmões. Compreendi<br />

então que factores não físicos eram comuns nas pessoas com o mesmo tipo de<br />

doenças. Esses factores eram fundamental<strong>mente</strong> estados depressivos, traumas,<br />

desilusão pela vida, frustração e exclusão social, muitas vezes tendo como raiz uma<br />

infância reprimida.<br />

Este livro pretende dar uma ajudar a compreender essa realidade, numa viagem que<br />

passa pela interrogação mais profunda da nossa existência. Quem somos? O que é a<br />

vida? Porque adoecemos? Porque morremos?<br />

7


Nota do autor<br />

8


Nota do autor<br />

Em 27 de Maio de 1988, um jornal diário da capital, no seu suplemento de saúde,<br />

publicou uma entrevista que a seguir se transcreve para que o leitor possa mais<br />

facil<strong>mente</strong> compreender a sua responsabilidade na criação e na cura da sua própria<br />

doença, seja ela psíquica ou física.<br />

O conteúdo da mesma reforça a minha convicção de que a ligação corpo-<strong>mente</strong> é um<br />

fenómeno de vital importância para a compreensão da auto-cura e da superação de<br />

uma vida de carência<br />

Saúdo a jornalista que escreveu o artigo pela compreensão que demonstrou por este<br />

assunto e pela forma como o explicou aos seus leitores.<br />

9<br />

Carlos Anastácio


Entrevista<br />

10


Entrevista de 27 de Maio de 1998:<br />

«A nossa <strong>mente</strong> é a resposta<br />

para vencer uma doença»<br />

Conflito, culpa, doença. Esta relação pode não fazer sentido para quem acredita que<br />

uma enxaqueca, uma dor de estômago e até um cancro são apenas problemas físicos.<br />

Mas, quando percebermos que a verdadeira causa de tudo isso está na nossa <strong>mente</strong>,<br />

é possível acreditar que está aí a resposta para a cura.<br />

«A <strong>mente</strong> é a resposta.» Este é o princípio, a questão primordial, para se entender<br />

todo um pensamento e uma linha de actuação que não trata doenças, mas que tenta<br />

descobrir as suas causas. «O sintoma é apenas um sinal exterior, o efeito de uma<br />

causa e a doença está na causa, está na <strong>mente</strong>», explica Carlos Anastácio, naturopata<br />

e homeopata, que nos últimos anos tem vindo a aprofundar os seus conhecimentos<br />

destas questões.<br />

Carlos Anastácio correu mundo, frequentou diferentes cursos de medicina natural,<br />

criou um Instituto de Saúde Integral em Lisboa (<strong>Homeos</strong>) e prepara-se para lançar<br />

breve<strong>mente</strong> um livro sobre o poder da <strong>mente</strong>. «A <strong>mente</strong> é tudo, nada existe fora dela»,<br />

afirma, acrescentando que é importante convencer as pessoas de que a «causa de<br />

tudo está em nós».<br />

Esta perspectiva de abordar a doença, radical<strong>mente</strong> diferente do que acontece na<br />

medicina convencional, não se limita a tratar sintomas. Vai mais longe, busca as<br />

causas, tenta resolver um conflito. «A doença é um sintoma físico da culpabilidade de<br />

uma pessoa, da existência de um conflito. Por detrás de uma doença, há sempre algo<br />

escondido», explica o médico naturopata.<br />

Tomemos como exemplo o cancro. «Pode dizer-se que um doente com cancro da<br />

mama, provavel<strong>mente</strong>, formou esse tumor por um sentimento inconsciente de<br />

culpabilidade», explica, adiantando que nestes casos é possível descortinar uma<br />

relação nítida entre o desenvolvimento da doença e acontecimentos traumáticos<br />

vividos sete e oito anos antes.<br />

«Tudo se trata de um erro mental – prossegue --, a pessoa sente, por qualquer<br />

razão, que errou e castiga-se a si própria.» É esta espécie de auto-punição que<br />

alimenta esse tal conflito e que se revela através de sintomas físicos. «Quando os<br />

nossos actos do quotidiano entram em conflito com o nosso objectivo espiritual,<br />

sabemos de um modo inconsciente que estão lançadas as se<strong>mente</strong>s da doença»,<br />

acrescenta. Aprender a encarar a vida de uma outra forma é a estratégia a seguir, pois<br />

cada um «é responsável pelo mundo em que vive».<br />

11


Tratar a <strong>mente</strong><br />

«A terapia mental é a medicina do futuro», defende Carlos Anastácio, convencido de<br />

que essa é a única «cura» possível. Partindo do princípio de que «é o ser humano que<br />

causa doença a ele próprio», pelos seus pensamentos e crenças, o diagnóstico não se<br />

compadece com métodos convencionais e muito menos com um tratamento aparente.<br />

«O tratamento dos sintomas é apenas uma questão de tempo. Alivia durante uns<br />

meses, mas, como o conflito não se resolveu, os mesmos sintomas vão voltar e ainda<br />

com mais intensidade», explica.<br />

O diagnóstico de determinada disfunção, que pode ser um problema de estômago,<br />

dores de cabeça, doenças do fígado ou cansaço crónico, faz-se ao nível físico e<br />

mental. Também os métodos desta medicina «não agressiva» são outros. Em primeiro<br />

lugar procede-se a uma análise da íris (a Iridologia), depois, através da<br />

electroacupunctura, tenta-se avaliar a falência dos vários sistemas e órgãos,<br />

identificando ao mesmo tempo as situações de excesso. Para além desta observação<br />

física, o médico deverá tentar descobrir o que está «escondido», passando às<br />

questões da <strong>mente</strong>.<br />

Uma conversa é o ponto de partida para dissecar hábitos de vida (alimentação,<br />

exercício físico), conhecer o passado e tentar descobrir situações eventual<strong>mente</strong><br />

traumáticas que possam estar na origem desse conflito.<br />

Apesar da importância de uma conversa, o primeiro grande passo é proceder à<br />

desintoxicação do indivíduo (sempre com ajuda de processos naturais), pois, apesar<br />

de o nosso organismo ter capacidade para se auto-regular e, através dos seus próprios<br />

mecanismos, recuperar o equilíbrio (homeostasis), a verdade é que «erros atrás de<br />

erros» não dão tempo, nem oportunidade para que esse processo se desenrole.<br />

As gorduras, os cafés, a forma como cada um se alimenta são factores de risco que<br />

afectam a sua funcionalidade. Desde que se pare de «agredir» o corpo, evitando todas<br />

as toxinas, 99% dos sintomas associados à hipertensão, cansaço crónico e<br />

enxaquecas, por exemplo, «vão-se embora».<br />

«O corpo físico é como uma máquina em funcionamento, as peças são susce<strong>pt</strong>íveis<br />

de sofrer acidentes que impedem o seu bom funcionamento», acrescenta o<br />

especialista.<br />

O sintoma é apenas um sinal exterior, muitas vezes «confundido» pela medicina<br />

convencional com a própria doença. «Nem os bacilos mais violentos, nem as radiações<br />

provocam doença, mas sim o ser humano, que a causa a ele próprio», insiste. E, como<br />

todo o problema «tem uma causa», é importante descobrir o que é que está errado.<br />

Nesta espécie de regresso ao passado, começa-se por questionar se os pais estão<br />

vivos, se sofrem de alguma doença específica, mas principal<strong>mente</strong> tenta-se perceber<br />

que tipo de relação existia entre pais e filhos.<br />

Como é entre os zero e os onze anos que o nosso auto-conceito se forma, por<br />

circunstâncias várias (dificuldade de educação, ausência do pai, um pai castigador), a<br />

12


criança pode desenvolver um falso «eu» e pela vida fora vai transmiti-lo sempre, vai ter<br />

medos, vai ser uma pessoa insegura e, por consequência, agressiva. Tudo porque na<br />

sua <strong>mente</strong> ficaram marcados determinados factos que o fazem questionar. «Algo em<br />

mim está errado, mas o quê?»<br />

A doença surge então como «um caminho» que nos leva a procurar a resposta. O<br />

momento em que o sintoma surgiu, a forma como a pessoa verbaliza esse sintoma, o<br />

que é que essa situação a impede ou não de fazer constituem alguns dos indicadores<br />

que permitem ao terapeuta usando técnicas de hipnoterapia regressiva, fazer com que<br />

o paciente tenha consciência do conflito que é responsável pelo seu mal estar seja ele<br />

físico ou emocional.<br />

Ensinar a pensar positivo<br />

«A <strong>mente</strong> é a resposta» é o tema central dos seminários realizados regular<strong>mente</strong>.<br />

Uma espécie de curso de um dia, onde se ensinam diferentes técnicas e exercícios. O<br />

objectivo é ajudar cada indivíduo a proceder às mudanças necessárias na sua vida, de<br />

forma a torná-la «mais perfeita» e, por consequência, mais feliz.<br />

Esta experiência de mudança tem por base um conceito essencial: o poder do<br />

pensamento. «O que pensamos acerca de nós próprios e do mundo torna-se<br />

verdadeiro para nós, todos os pensamentos que temos vão criando o nosso futuro»<br />

explica o entrevistado. Como tem um poder «incalculável», é preciso «ter cuidado»<br />

com o que se pensa e como se faz. Este seminário ensina a «usar» esse poder através<br />

de técnicas de visualização criativa e técnicas de dinâmica de grupo e de<br />

conhecimento perce<strong>pt</strong>ual exterior. A visualização criativa ensina-nos a contactar com o<br />

mais profundo de nós próprios, com o «sistema automático» que nos guia -- o nosso<br />

subconsciente.<br />

Ao permitir o acesso ao «centro de decisão inconsciente», torna possível a mudança<br />

na vida quotidiana. «Visualizar é utilizar a imaginação para conseguir o resultado<br />

desejado.» Por outro lado, as técnicas de dinâmica de grupo proporcionam as<br />

ferramentas necessárias para nos conhecermos melhor a nós próprios, permitindo uma<br />

melhor comunicação.<br />

Nesse sentido, entende-se a importância do pensamento positivo, gerador de<br />

experiências felizes. É o pensamento que domina as emoções, estas controlam as<br />

energias vitais, que por sua vez interferem na nossa química corporal. Enquanto um<br />

pensamento negativo provoca uma reacção, que vai desde uma simples alteração<br />

emocional até causar doença, o positivo é capaz de curar uma doença orgânica<br />

irreversível.<br />

Por outro lado, «sempre que temos um pensamento negativo estaremos a reforçá-lo<br />

na nossa memória psicológica e também a reviver as emoções negativas que lhe estão<br />

associadas, reforçando a união pensamento-emoção e esquecendo frequente<strong>mente</strong>,<br />

senão sempre, que um pensamento é apenas isso e que a capacidade de o alterar só<br />

depende de nós mesmos», defende o naturopata.<br />

13


Aliás, um dos objectivos deste seminário é ensinar a estar alerta contra os<br />

pensamentos negativos, numa «atitude relaxada» de mudança dos nossos padrões de<br />

pensamento-conduta. A partir do pensamento criador, «tudo é possível, até um<br />

milagre».<br />

Outro dos objectivos deste seminário é o ensinamento do relacionamento <strong>mente</strong>cérebro.<br />

A aprendizagem do seu controlo permite que as nossas decisões «partam de<br />

dentro para fora». A <strong>mente</strong> surge então como um meio, um caminho para aliviar dores,<br />

adormecer tranquila<strong>mente</strong> e até para resolver problemas. Tem interferência no<br />

«processo de adoecer», já reconhecido pela medicina, e nesse sentido poderá ser<br />

«treinada» para inverter a situação, em busca do bem-estar.<br />

«As programações negativas geram infelicidade, fracasso e doença, as positivas<br />

proporcionam felicidade, êxito e boa saúde», explica Carlos Anastácio, acrescentando<br />

que, sem uma mudança, a «vida seguirá igual».«Os hospitais estão cheios de pessoas<br />

que desejam ser felizes, necessitam é de conhecer o poder que têm nelas», sustenta.<br />

Ao longo destes seminários são ensinadas técnicas de relaxamento, estado alfa,<br />

técnicas de acesso à <strong>mente</strong> inconsciente, detecção de conflitos e culpabilidade. Estas<br />

técnicas podem ajudar-nos a mudar a nossa vida porque nos ajudam a compreender<br />

os conflitos que se encontram escondidos no nosso inconsciente. "<br />

Fim da entrevista<br />

14


Considerações<br />

15


Considerações<br />

Após o nascimento vivenciamos experiências que parecem ser fruto do acaso e da<br />

coincidência. À soma dessas experiências chamamos vida.<br />

As experiências da infância estão na base do nosso comportamento como adultos. O<br />

padrão de pensamento que formará o nosso quadro de referências determinará o<br />

modo como nos relacionaremos com a nossa realidade diária.<br />

No entanto, o acaso não existe e toda a experiência que vivenciamos é gerida por uma<br />

inteligência, cuja dimensão e poder está além da nossa actual compreensão.<br />

Este livro procurará ajudá-lo a tomar consciência dessa realidade.<br />

16


Prefácio<br />

17


Prefácio<br />

Estamos nos anos vinte. Manuel acaba de ser pai. Tem dezoito anos. A mulher tem<br />

quinze. O filho chamar-se-á António. Seguir-se-ão mais duas filhas e outro filho. Vivem<br />

numa casa com cozinha separada onde uma parte do chão é de terra batida. A banha<br />

e o toucinho, as couves e as batatas que o quintal fornece são a alimentação base da<br />

família. A água vem do poço.<br />

Algum tempo mais tarde o Manuel embarca como ajudante de motorista nos lugres que<br />

iam pescar bacalhau para a Terra Nova. Era o tempo dos dórias. Quando vinha a casa,<br />

muitas vezes ao fim de sete meses, já os filhos tinham deixado mais um pouco da sua<br />

infância para trás. Há noite, em silêncio e à luz do petróleo, reuniam-se à mesa para<br />

comer e cada um com o seu garfo tirava da travessa comum. Uma sopa de nabiças e<br />

feijão, feita numa panela enegrecida pelo fumo do lume de lenha era sempre o primeiro<br />

prato a ser servido. À mesa reinava o silêncio. Manuel comia sem dizer uma palavra e<br />

ninguém se atrevia a iniciar conversa. Murmurava apenas as palavras necessárias<br />

para lhe chegarem isto ou aquilo. A sua cara era como uma máscara. Nunca mudava<br />

de expressão. Carrancudo.<br />

António temia o pai e procurava não estar na sua frente. Só o seu olhar metia-lhe<br />

medo. Os pedidos mais pre<strong>mente</strong>s fazia-os à mãe. A irmã que se seguia a ele em<br />

idade era a sua confidente e que o encobria mais de uma vez salvando-o assim de<br />

uma coça garantida com cinto. Foi fazendo a escola oficial. Chegou a ir descalço.<br />

Bebeu água dos canaviais e fumou as primeiros cigarros de barbas de milho. Na<br />

escola obrigou alguns rapazes que comiam pão branco com manteiga, a trocar com ele<br />

o pão de trigo com toucinho. Era agressivo e andava à bulha com os outros que o<br />

contrariavam. Quando o informavam que o pai ia chegar de mais uma viagem, sentia<br />

um misto de alegria e de medo. Alegria porque, apesar de tudo, o pai era para si um<br />

herói e ele sentia-se orgulhoso. Ia para o outro lado do mundo e enfrentava mares<br />

gelados nos quais muitos se perdiam nos dorias e morriam gelados. De medo porque<br />

voltaria a ver aquele rosto sem sorriso que nunca lhe dava um carinho ou afecto.<br />

Até à chegada da próxima campanha Manuel dividia o seu tempo fazendo concertos<br />

em casa ou, como todos os homens do mar, ia ao café da vila saber notícias dos<br />

companheiros em campanha. Muitas vezes assistia à chegada das embarcações que<br />

voltavam ao fim de seis meses de árdua temporada nos bancos da Terra Nova.<br />

Passados um ou dois meses voltava às lides do mar e assim foi durante mais de<br />

cinquenta anos.<br />

António temia as temporadas que o pai passava em casa porque o seu relacionamento<br />

era frio e distante. Muitas vezes era espancado pelo seu comportamento rebelde. O<br />

18


cinto e uma moca foram muitas vezes usados. A mãe e as irmãs procuravam que o pai<br />

não se confrontasse com ele.<br />

Acabou o curso da escola náutica e embarcou. Após algumas viagens pagou ao pai as<br />

custas do curso. Era uma tradição desse tempo e os pais assim lho exigiram.<br />

Um inebriante mundo novo até agora desconhecido para si, permitia-lhe final<strong>mente</strong> dar<br />

satisfação à sua ânsia de liberdade. Frequentava os bares das cidades onde o barco<br />

aportava. Quando vinha a casa contava na vila as suas façanhas com as mulheres que<br />

tinha conhecido.<br />

Na cidade onde nasceu conheceu Maria. Era filha de um modesto empresário da<br />

cidade. Entusiasmou-se pela farda do oficial da marinha e engravidou. O pai dela não<br />

gostou da situação e ameaçou o António para que este casasse com a filha. E<br />

casaram. Os sogros de Maria não simpatizavam muito com ela, pensavam que tinha<br />

prejudicado a carreira do filho que, no entender deles, um oficial merecia melhor<br />

partido. Por isso se tinham sacrificado tanto. Fosse como fosse não deixavam de lhe<br />

demonstrar o seu antagonismo, através de um relacionamento critico e autoritário e<br />

com constante depreciação.<br />

Meses mais tarde nasceu Carlos. Foi um parto difícil. Quando lhe trouxeram o filho<br />

para que o conhecesse mandou que o levassem de volta . Aquele não podia ser o filho<br />

dela. Ela queria uma filha. Carlos foi entregue aos cuidados dos avós paternos e<br />

maternos durante os cinco anos que se seguiram. Maria tinha de encontrar-se com o<br />

marido nos vários portos onde o navio fazia escala. Carlos brincava entre caixotes de<br />

madeira cheios de palha das louças de casa de banho que o avô materno vendia e<br />

entre as canas do milho dos campos que ficavam em frente à casa do avô paterno.<br />

Durante um tempo ficava com uns e depois trocava ficando com os outros. Na casa<br />

dos avós maternos levantava-se às três horas da manhã para ir com a avó para o<br />

mercado municipal, que ali explorava um local de venda, uma vez que não havia mais<br />

ninguém que pudesse tomar conta dele. Recorda-se de ver os carros de bois dos<br />

agricultores que se dirigiam a essa hora para o mercado, onde iam vender os seus<br />

produtos hortícolas. Os carros eram iluminados com uma lamparina de azeite por cima<br />

da canga. À tarde dormia a sesta numa cesta de vime numa loja do mercado que uma<br />

tia explorava. Quando lhe anunciavam a vinda do pai sentia-se contente e ao mesmo<br />

tempo com medo. Um dia o pai levou-o ao café da vila e disse-lhe que lhe batia se ele,<br />

em frente dos amigos do pai, não lhe chamasse tio em vez de pai. Nos primeiros cinco<br />

anos os encontros com o pai foram poucos e deles apenas guarda memórias de<br />

rejeição e de falta de afecto.<br />

Maria fica de novo grávida e resolvem alugar uma casa na cidade. Nessa altura o<br />

Carlos passou a viver com a mãe. Nasce o irmão que centra a total atenção dos pais<br />

como se esse fosse o único filho. Passados uns meses Carlos sofre uma queda do alto<br />

de um muro de vários metros de altura. Foi uma queda que quase lhe desfigurava a<br />

face. Terá sido uma forma de chamar a atenção dos pais.<br />

É que antes de viver com a mãe, o seu grande amigo era o avô materno que, com<br />

grande afecto e carinho, o levava a passear ao escorrega do jardim, ao café e até a dar<br />

passeios de carro que, nessa altura, eram mais raros. Depois que começou a viver só<br />

com a mãe tudo isso acabou. Tentaram metê-lo num colégio de freiras mas estas<br />

queixaram-se logo da sua rebeldia e não ficou.<br />

19


No ano seguinte mudaram para uma cidade mais perto do porto de embarque habitual<br />

do pai. Entrou para a escola oficial e desde cedo mostrou uma capacidade de<br />

comunicação fora do comum. Nessa escola as turmas da primeira classe estavam<br />

juntas com as turmas da quarta classe. De modo a espicaçar os alunos da quarta<br />

classe a professora mandava o Carlos, que era da primeira classe, ler um texto do<br />

livro deles pois, ela esperava que a sua fluência na leitura motivasse os mais velhos.<br />

Carlos pensou que essa habilidade que as pessoas admiravam e comunicavam aos<br />

seus pais, lhe daria o direito de ser mais acarinhado por eles, mas tal não acontecia e<br />

estes, em vez do afecto e atenção que ele ansiava receber, repreendiam-no e batiamlhe<br />

muitas vezes duma forma violenta e inaceitável. Ele tinha apenas seis anos. O<br />

relacionamento com o pai apenas lhe recorda o medo, a falta de afecto e as criticas<br />

ameaçadoras.<br />

A mãe descarregava nele a sua frustração de mulher dum homem do mar, solitária<br />

com dois filhos a seu cargo e com continuas queixas de doenças imaginárias.<br />

Embarcam para África. O filho mais novo tem agora 2 anos. Carlos tem sete. A viagem<br />

dura trinta e três dias. É uma aventura. Quando o navio balança para a ré ou proa o<br />

Carlos entretém-se com os amigos que fez a bordo. Faziam deslizar pelo convés de<br />

madeira , as cadeiras de descanso em lona, conforme o navio se inclinava para a proa<br />

ou para a popa. Uma vez encontraram-no, muito satisfeito, vestido dentro da piscina do<br />

navio, sentado numa bóia de salvamento. Os porões do navio estavam cheios de<br />

tropas que se dirigiam para as colónias. Estávamos em 1961. Alguns desses homens<br />

vinham apanhar ar fresco ao convés ou vomitar. O calor era muito e a ventilação nos<br />

porões era quase nula.<br />

O relacionamento de Carlos com os pais era sempre feito na base da rejeição. Nunca<br />

o beijam. Nunca o abraçam. Nunca lhe dizem que fez alguma coisa bem. Nunca lhe<br />

dizem como gostam dele. Só o criticam. Nesse Natal nada encontrou na chaminé ao<br />

contrário do irmão. Zangado conta aos amigos do prédio que o Pai Natal não existia.<br />

Pouco tempo depois tem um acidente, com gravidade, que o leva ao hospital. Onde é<br />

operado de emergência. Fica várias semanas total<strong>mente</strong> vendado na cama do hospital.<br />

Os pais visitam-no quando podem mas, ainda assim, não havia carinho nem<br />

demonstrações de afecto. Tinha sete anos.<br />

Já adolescente, muitas vezes escondia os pontos do liceu, em que tinha tido más<br />

notas, para que o pai não lhe batesse. Andava aterrorizado durante semanas com<br />

medo de ser descoberto. Quando isso acontecia ia para a escola com marcas da fivela<br />

do cinto e dos pontapés que o pai lhe dava. Isso fazia-o sentir-se muito envergonhado<br />

perante os colegas.<br />

Quando se encontrava a estudar engenharia, conheceu uma jovem que acabou por<br />

ficar grávida. Carlos viu aí uma oportunidade de criar a sua própria família. De não ter<br />

de enfrentar mais o seu pai. De criar o seu próprio amplexo de afecto. Casou-se e sete<br />

anos mais tarde separou-se. Desse casamento ficou uma filha. Hoje ela tem vinte e<br />

três anos. Voltou a casar e já passaram dezassete desde o segundo casamento do<br />

qual tem um filho de 4 anos.<br />

20


Esta viagem apenas vai a meio. Há muito ainda a fazer emocional<strong>mente</strong>. Esta é a<br />

história do autor deste livro. Ela é o testemunho do seu perdão.<br />

Ela é a prova de que os nossos pais apenas podiam dar-nos o que sabiam e portanto<br />

não são culpados. Também é a prova de que se nós não enfrentarmos os nossos<br />

fantasmas do passado não poderemos encarar a vida sem medo e portanto vivê-la<br />

livre<strong>mente</strong>.<br />

21


A ligação entre o corpo e a <strong>mente</strong><br />

22


A ligação entre o corpo e a <strong>mente</strong><br />

Já há muito tempo que a ligação corpo-<strong>mente</strong> é considerada uma realidade. Os velhos<br />

mestres da Índia e da China diziam que qualquer coisa que se armazenasse na <strong>mente</strong><br />

ver-se-ia reproduzida no corpo físico. Qualquer sentimento de amargura, intensa<br />

paixão, inveja, grande ansiedade ou inclusive o mau humor, destruiam as células do<br />

corpo e provocavam doenças de coração, fígado, rins, baço, estômago, etc.<br />

Hoje em dia, já sabemos que as preocupações e o stress originam novas doenças<br />

mortais, como a hipertensão, os problemas cardíacos, as depressões e o cancro.<br />

Começa-se a acreditar que todas as doenças têm a sua origem na <strong>mente</strong>.<br />

As nossas necessidades não satisfeitas, os conflitos, as carências, o stress e as<br />

emoções reprimidas, provocam um desequilíbrio na auto-regulação do nosso corpo<br />

físico. O corpo apenas mostra o que não somos capazes de dizer por palavras. E isso<br />

é assim porque a nossa <strong>mente</strong> inconsciente controla o nosso sistema nervoso<br />

autónomo. Esta ligação psicossomática mostra-nos que o corpo é um espelho da<br />

<strong>mente</strong>. É um reflexo dos nossos pensamentos.<br />

Ignoramos a inteligência do corpo quando o levamos ao médico, como se de uma<br />

máquina se tratasse, para que este o repare. Este comportamento mostra a nossa<br />

compreensão distorcida do poder da <strong>mente</strong> e da sua natureza. O corpo apenas mostra<br />

a doença da <strong>mente</strong>. Quando dizemos que nos dói a cabeça, queremos dizer que um<br />

conflito interno se está a manifestar na nossa cabeça.<br />

Todos já experimentámos uma dor de estômago quando passamos por um momento<br />

de grande ansiedade. Sabe-se que muitas pessoas submetidas a stress e a grande<br />

tensão têm acidentes cardiovasculares. Quando estamos deprimidos o nosso corpo<br />

fica pesado. As forças abandonam-nos. Quando estamos nervosos perdemos o apetite<br />

ou comemos demais. Quando estamos calmos parece que nada nos acontece ou pode<br />

ferir. É sabido que quando nos envergonhamos ficamos involuntaria<strong>mente</strong> corados. É<br />

um bom exemplo da interacção <strong>mente</strong>-corpo. O estudo deste psicossomatismo é<br />

determinante na prevenção de qualquer doença pois todas têm a mesma origem. A<br />

<strong>mente</strong>.<br />

Nos Estados Unidos da América várias clinicas têm obtido altas percentagens de<br />

sucesso na regressão do cancro, aplicando fundamental<strong>mente</strong> terapêuticas de<br />

transformação pessoal que envolvem, por parte do paciente, a compreensão do<br />

processo psicossomático que levou ao desequilibro do seu sistema fisiológico.<br />

Sendo o corpo uma criação da <strong>mente</strong>, só a <strong>mente</strong> pode adoecer, ou seja, aceitar estar<br />

doente e só a <strong>mente</strong> pode ser curada. O corpo apenas reflecte a doença e a cura da<br />

<strong>mente</strong>. No entanto, o facto de ficarmos doentes, mostra-nos como temos encarado a<br />

23


vida e dá-nos uma oportunidade de a repensarmos. Poderá ser um período de<br />

reflexão e de ada<strong>pt</strong>ação. Quando não o compreendemos assim é muito provável que<br />

mais tarde a doença se manifeste de novo, mas com maior gravidade.<br />

A culpabilidade, a ira, o conflito e a preocupação podem criar mais danos ao corpo que<br />

qualquer situação externa. Não são as situações que nos prejudicam, mas sim a nossa<br />

interpretação delas. As emoções que elas nos geram. Não devemos pensar por um só<br />

momento que o corpo é uma unidade autónoma e independente e que são os factores<br />

exteriores que o debilitam. A medicina tradicional baseia a sua prática no sintoma<br />

físico. A sociedade de consumo e por objectivos não permite ao médico convencional<br />

ter preparação ou dispor de tempo para escutar as razões profundas da doença do<br />

paciente.<br />

O desespero, o fracasso e a rejeição, entre outros, são estados emocionais cada vez<br />

mais frequentes no cidadão. Desde que nasce que enfrenta a falta de disponibilidade<br />

dos pais, o numerus clausus, a competição, os objectivos empresariais e uma<br />

sociedade que o valoriza pelo sucesso económico.<br />

Neste ambiente as mensagens que o corpo recebe são de permanente alerta, com<br />

sobrecarga das supra-renais e debilitando o sistema imunitário, conduzindo a um<br />

processo gradual de degeneração cujo final pode até ser a morte. A ingestão de<br />

medicamentos adia a percepção do conflito emocional, ou seja da verdadeira causa da<br />

doença.<br />

Quando reconhecemos que o problema está no nosso interior, damos um sinal positivo<br />

ao organismo, dando origem a que este reaja com a convalescença ou até a cura.<br />

Será portanto fundamental reconhecermos os nossos medos, preocupações e<br />

inseguranças, armazenados no nosso subconsciente, pois é dele que partem as<br />

nossas interpretações negativas e comportamentos consequentes. Deles emana a<br />

doença. A tristeza e a insatisfação são também formas de doença.<br />

A medicina tradicional não tem tempo para perguntar a um doente se pessoal ou<br />

profissional<strong>mente</strong> a vida lhe corre bem. Se gosta das condições de vida que tem.<br />

Existe uma tendência comodista de atribuir muitas das doenças a problemas<br />

psicossomáticos. “São nervos” diz o médico. Sabemos da quantidade de pessoas que<br />

tomam ansiolíticos e sonoríferos. Esta prática da medicina revela a ignorância do papel<br />

que a <strong>mente</strong> tem na realidade de cada indivíduo.<br />

Cada pessoa tem o seu “médico interno”. Poderá alguém saber melhor que nós<br />

próprios quais as angustias, frustrações e desilusões que experimentamos no nosso<br />

interior? E se essa for a causa da doença alguém a poderá detectar e curar por nós?<br />

Quando ficamos doentes, a primeira atitude a tomar é fazer um trabalho de detective e<br />

analisar os últimos meses ou inclusive os anos da sua vida antes do aparecimento da<br />

doença. Como era o nosso estado emocional? Houve alguma mudança importante no<br />

nosso quotidiano? Terá havido alguma experiência psicologica<strong>mente</strong> traumatizante?<br />

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É fundamental uma análise cuidadosa ao período da nossa infância. Muitas respostas<br />

jazem no nosso subconsciente, estando na origem de tantas condutas erradas e<br />

reacções auto-destrutivas.<br />

A falta de afecto, a rejeição, a vergonha pública, a morte prematura do pai ou da mãe,<br />

um divórcio, etc., são causa mais que frequente de profundas depressões, apatia e<br />

stress, sendo por consequência também causa mais frequente da maior parte das<br />

doenças dos nossos dias. Na altura em que escrevo este livro tive conhecimento de<br />

que um paciente meu se suicidou por não poder suportar mais a pressão que as<br />

dificuldades financeiras exerciam sobre ele.<br />

Identificar os nossos conflitos emocionais, não esgota o trabalho que há a fazer para<br />

um saneamento emocional. Temos de mudar as nossas convicções mais arreigadas.<br />

São hábitos de pensamento. É necessária uma significativa mudança de mentalidade.<br />

E é isso que este livro pretende ajudar a fazer.<br />

25


A cura e as crenças<br />

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A cura e as crenças<br />

Num artigo duma revista espanhola ligada a um grupo de investigação bastante<br />

avançado encontrei alguns conceitos sobre a doença que partilho integral<strong>mente</strong> e dos<br />

quais destaco as ideias principais.<br />

A cura do corpo esteve sempre ligada a crenças. Assim, se recordarmos uma tribo da<br />

antiguidade, lembraremos que a pessoa que ostentava o poder era o feiticeiro. Era ele<br />

que se encarregava de proporcionar o remédio adequado, aquele que teria a força<br />

necessária para enfrentar-se aos maus espíritos que provocaram a doença e quem,<br />

por meio dos feitiços, danças, cânticos e rituais lutava tenaz<strong>mente</strong> até que a doença se<br />

fosse.<br />

O enfermo ado<strong>pt</strong>ava aqui uma posição passiva, ele dependia da força do feiticeiro, do<br />

seu conhecimento e das propriedades das plantas, da sua capacidade para invocar os<br />

espíritos protectores da tribo. O feiticeiro era o depositário da sabedoria dos<br />

antepassados, acumulada durante séculos, sobre as forças da natureza. O destino do<br />

enfermo estava nas suas mãos.<br />

Entre esta imagem e a da prática clinica dos nossos dias há muito pouca diferença.<br />

Diaria<strong>mente</strong> os hospitais registam a entrada de centenas de pessoas queixando-se de<br />

todo o tipo de doenças e que se entregam às mãos dos feiticeiros de bata branca, a<br />

quem de forma semelhante, consideram os mais preparados para curar a sua doença.<br />

O doente da era moderna tem o mesmo espírito que o membro da antiga tribo:<br />

entregará ao especialista a responsabilidade da sua cura, aceitará sem duvidar o<br />

tratamento que lhe apliquem, seguirá todas as recomendações, inclusive aquelas que<br />

lhe pareçam pouco acertadas e confiará plena<strong>mente</strong> o seu destino à pessoa que tem<br />

pela frente, avalizada ela própria por anos de estudos e títulos e que, além do mais,<br />

goza do reconhecimento da sociedade.<br />

No entanto, sabemos que há mais de dois mil anos que Hipocrates, o pai da medicina<br />

e inspirador do juramento profissional dos médicos actuais, observou que «alguns<br />

pacientes recuperavam a saúde pelo simples facto de confiarem na capacidade do<br />

médico».<br />

27


Como considerar a doença?<br />

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Como considerar a doença?<br />

Hoje em dia e à luz de novos conhecimentos já se começa a considerar a doença<br />

como uma perda de harmonia. Uma perda de equilíbrio, no plano mais subtil (<strong>mente</strong>)<br />

influenciando ou reflectindo-se no mais denso (corpo).<br />

Certo é que, actuando sobre o plano mental corrigem-se deficiências no físico. No<br />

entanto, para podermos actuar sobre o plano mental há que desmontar ou desactivar<br />

previa<strong>mente</strong> os desarranjos e obstruções que se produzem na <strong>mente</strong>. Ou seja a culpa<br />

e o medo.<br />

Mas, como é que o corpo físico sofre as irregularidades produzidas na <strong>mente</strong>?<br />

Sabemos que o corpo físico tem uma série de glândulas que são encarregadas de<br />

processos bioquímicos que permitem descodificar a informação que vem encapsulada<br />

por diferentes vias, umas externas, como a alimentação, e outras internas que provêm<br />

dos processos mentais. É obvio que a alimentação será sempre condicionada por um<br />

estímulo resultante dum processo mental. Ou seja, que a escolha dos alimentos pode<br />

ser desequilibrada, de acordo com a intenção oculta da <strong>mente</strong>.<br />

Quando a <strong>mente</strong> se altera, o primeiro que se afecta a nível físico é o cérebro e mais<br />

precisa<strong>mente</strong> as glândulas fundamentais, o que se traduz em desarranjos hormonais<br />

que, por sua vez, alteram o equilíbrio de elementos no sangue e posterior<strong>mente</strong> no<br />

sistema nervoso.<br />

Comprovou-se que a excessiva produção de algumas hormonas pode alterar, por<br />

exemplo, a subsequente produção de estrogéneos, o qual faz com que se sintetize em<br />

excesso o cálcio e se produza um estreitamento dos capilares com menor aporte de<br />

oxigénio e nutrientes ao cérebro, o que final<strong>mente</strong> se traduz em irritabilidade,<br />

agressividade, cefaleias, perda de memória e também estreitamento do nervo ó<strong>pt</strong>ico.<br />

29


Os sintomas<br />

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Os sintomas<br />

A medicina, como ciência que é, ado<strong>pt</strong>ou uma concepção do corpo como se de uma<br />

máquina se tratasse. Assim, passou a ser normal considerar o corpo físico como uma<br />

máquina em funcionamento. Todas as peças e componentes dessa máquina eram<br />

susce<strong>pt</strong>íveis de sofrer deterioração e acidentes que impedissem o seu bom<br />

funcionamento. Quando alguma coisa se avariava ou falhava no mecanismo, produziase<br />

um sinal externo, um sintoma.<br />

Por isso, a nossa medicina oficial baseia-se no tratamento dos sintomas que aparecem<br />

no corpo físico, confundindo talvez ocasional<strong>mente</strong> sintoma com doença. Infeliz<strong>mente</strong>,<br />

considera-se o sintoma como algo casual que aparece como consequência de um mau<br />

funcionamento orgânico e ao qual há que eliminar, posto que, nos impede de realizar<br />

as nossas actividades quotidianas. Não se procura a causa que produziu esse sintoma,<br />

não se aceita, em muitos meios profissionais médicos, a possibilidade de que esse<br />

sintoma seja uma manifestação, no plano físico, de conflitos psíquicos latentes, do<br />

mesmo modo que um icebergue deixa ver sobre a superfície da água, uma pequena<br />

parte, mantendo oculta, a maior parte da sua estrutura.<br />

O conhecimento do mundo físico e da ciência médica em todas as suas especialidades<br />

subdividiu-se tanto, em partes tão pequenas, que se perdeu de vista a visão global do<br />

indivíduo. A concentração em análises super-especializadas, fez esquecer o ser<br />

humano na sua totalidade. Aplicam-se assim tratamentos que geral<strong>mente</strong> provocam<br />

efeitos secundários e produzem mutações nos agentes patogénicos os quais obrigam<br />

a mudanças constantes dos remédios, lutando contra a doença que sempre parece<br />

vencer.<br />

Partindo desta ó<strong>pt</strong>ica, o doente deveria aprender a interpretar os seus sintomas, a<br />

dialogar com eles, a tratar de averiguar o que lhe está a querer dizer o seu corpo, o<br />

que lhe está a reclamar e assim estar na disposição de procurar essa alteração. Uma<br />

vez descoberta a origem do desequilibro (alimentação, tipo de vida, atitudes, processos<br />

mentais, estados psicológicos e anímicos, etc.) seria necessário dar mais um passo e<br />

encontrar os porquês.<br />

“Nem os bacilos, nem as radiações provocam a doença, mas sim o ser humano que<br />

os utiliza como meios para criar a sua doença. Tal como nem as cores nem a tela<br />

fazem o quadro, mas sim o artista que os utiliza para criar a sua pintura”.<br />

Poderíamos utilizar um método sugerido há alguns anos por um grupo de médicos,<br />

método esse que foi chamado “O método de interrogação” e que é baseado em quatro<br />

regras fáceis de aplicar:<br />

31


A primeira regra será a interpretação do sintoma desde a sua manifestação qualitativa<br />

e subjectiva, isto é, encontrar resposta às perguntas: Que é? Como é o sintoma? Sem<br />

nos aventurarmos por enquanto nos porquês.<br />

O segundo passo seria analisar em que momento apareceu o sintoma, recordar os<br />

acontecimentos e noticias produzidos na altura do aparecimento do sintoma e<br />

perguntarmos: Como nos sentíamos psicologica<strong>mente</strong>? Quais eram os nossos medos<br />

e frustrações ?<br />

A terceira regra força-nos a fazer a abstracção do sintoma convertendo-o num<br />

principio, num enunciado. Isso permite-nos prestar atenção às nossas frases<br />

idiomáticas, à forma de nos expressarmos, as palavras que utilizamos para verbalizar<br />

os nossos sintomas. Os mais recentes estudos em neurolinguística levam-nos à<br />

conclusão de que a linguagem pessoal é psicossomática. Por exemplo “ este desgosto<br />

mata-me”.<br />

E a quarta regra do processo de análise leva-nos a uma análise pessoal por meio de<br />

duas perguntas: O que é que este sintoma me impede de fazer? O que é que este<br />

sintoma me impõe? Deveríamos interrogarmo-nos, além disso, se obtemos algo como<br />

contrapartida, qual é o preço que temos que pagar por ele e se não poderíamos<br />

consegui-lo de outro modo.<br />

Não nos podemos esquecer que quando aparece um sintoma há um “sinal de aviso”<br />

para que introduzamos mudanças no nosso comportamento. Identificar correcta<strong>mente</strong><br />

esta mensagem que nos dirigem as nossas células irá permitir pôr os elementos<br />

correctivos adequados para mudar a trajectória. A paragem obrigatória que supõe a<br />

aparição de um sintoma, impedindo-nos de realizar as nossas tarefas habituais,<br />

segundo esta teoria, seria um meio para corrigir desequilíbrios.<br />

No entanto, a atitude mais comum do doente é a de recusar o que está a viver e<br />

começa , então, a sua luta particular debatendo-se até conseguir acalmar o incomodo<br />

sintoma que tinha aparecido. Por exemplo irá ao médico e tomará medicamentos que<br />

iludirão a <strong>mente</strong> temporaria<strong>mente</strong>. É muito provável que daí a poucos meses volte a<br />

manifestar-se a doença e possivel<strong>mente</strong> com maior gravidade. À uma maior resistência<br />

à mudança corresponderá uma maior intensidade do sintoma.<br />

Uma atitude corajosa ao encarar a situação, ao analisar o processo em profundidade,<br />

de tirar as conclusões adequadas e de concretizar tudo isso em acções encaminhadas<br />

para um maior equilíbrio do nosso ser integral, será a prova de que assimilamos e<br />

incorporamos a lição. Já não será necessário recorrer mais a essa doença para<br />

aprender uma vez que decidimos escolher o método da compreensão em vez do<br />

método da dor como o nosso método de aprendizagem.<br />

Em suma, a doença, os sintomas, seriam a forma de se mostrar algo que nos falta<br />

aceitar, de algo que temos de mudar. O mecanismo cósmico de evolução dar-nos-ia a<br />

oportunidade de repensarmos os nossos esquemas mentais, impedindo que se fossem<br />

anquilosando com consequência da comodidade, da falta de preocupações ou<br />

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desinteresse. Seriam apelos à compreensão e definitiva<strong>mente</strong> a ampliação do<br />

conhecimento e da consciência.<br />

Há relativa<strong>mente</strong> pouco tempo, no nosso país, foram notícia pública casos de várias<br />

figuras conhecidas da rádio e televisão que após passarem por momentos de grande<br />

angústia lutando contra doenças cancerosas que ameaçavam a sua vida declararam,<br />

após a sua superação, que agora viam a vida com outro sentido e valor.<br />

33


A inadequação do adulto<br />

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A inadequação do adulto<br />

Quando uma criança nasce, a alegria irrompe no lar. Ela traz consigo uma tendência<br />

natural para só transmitir amor. Quando sorri toda a gente sorri e quando chora já<br />

ninguém sabe o que fazer. Todos estão prontos a ocorrer para satisfazer a mínima<br />

necessidade que ela pareça ter. É como um milagre. Tudo lhe é provido sem que tenha<br />

que articular uma só palavra.<br />

Que se passou, entretanto? Porque é que quando crescemos, olhamos ao nosso redor<br />

e vemos que esse poder desapareceu?<br />

Aprendemos a olhar para o mundo com antagonismo e individualismo. Aprendemos o<br />

significado de maldade, culpa, limitação e morte. O amor é aquilo com que nascemos.<br />

O medo é o que aprendemos aqui. Renunciar ao medo é o objectivo principal desta<br />

viagem a que chamamos vida. Viver uma vida sem conhecer o amor é condenar-se ao<br />

sofrimento e à depressão.<br />

Muitas crianças em todo o mundo cresceram e tornaram-se adultas fisica<strong>mente</strong> mas<br />

não emocional<strong>mente</strong>. São o resultado do abandono e de todo o tipo de abusos<br />

durante a infância. A negligência no atendimento das suas necessidades de afecto,<br />

carinho e apoio impediram o desenvolvimento de uma infância saudável. São o<br />

resultado de um ambiente familiar desequilibrado.<br />

Quando uma infância não é saudavel<strong>mente</strong> desenvolvida, isto é quando não são<br />

satisfeitas as suas necessidades psicológicas essenciais existirá um desenvolvimento<br />

físico normal mas, inevitavel<strong>mente</strong>, esse ser agora adulto sentirá no seu interior uma<br />

criança que, psicologica<strong>mente</strong>, continuará ferida e abandonada. Emocional<strong>mente</strong><br />

sentir-se-á uma criança num corpo de adulto. Será uma pessoa caracteristica<strong>mente</strong><br />

agressiva e extrema<strong>mente</strong> insegura embora com um coração peno de amor que nunca<br />

foi despejado por não ter com quem o trocar. Está bloqueado. Por isso não sente<br />

alegria nem sabe brincar. Leva tudo a sério.<br />

Quando pergunto a um desses adultos como foi a sua relação com os pais, a sua<br />

expressão até ali dura, transforma-se numa expressão de surpresa e os seus olhos<br />

humedecem-se. Cai a máscara. Sentem-se envergonhados. Muitas pessoas choram.<br />

Algumas não o faziam desde crianças. Depois sentem-se melhor.<br />

Aquilo que compõe o conhecimento que temos de cada um de nós, ou seja aquilo que<br />

queremos significar quando dizemos “eu sou…” é o nosso conceito interno. Ele formase<br />

com os nossos primeiros sentimentos, crenças e memórias.<br />

É o filtro através do qual passarão as novas experiências. Por isso imagine-se como é<br />

importante uma infância saudável. Isso explica porque existem pessoas que escolhem<br />

continua<strong>mente</strong> o mesmo tipo de relação amorosa destrutiva; é também a razão pela<br />

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qual para alguns a vida é uma repetição de uma série de traumas; a razão porque é<br />

que não conseguem aprender com os próprios erros. Freud chamou a esta insistência<br />

“o impulso da repetição”. Alice Miller, chamou-a de “ lógica do absurdo”.<br />

Por isso é fundamental compreender que se sentirmos que a nossa vida está<br />

carregada de problemas que parecem repetir-se, isso deve-se ao nosso conceito<br />

interno e que se a queremos mudar teremos que analisar o nosso "eu" , a nossa<br />

criança-interior que o compõe e trabalhar nela. Ajudá-la a desfazer os medos, e<br />

garantir-lhe que já ninguém lhe poderá fazer mal. Já é adulta e poderá defender-se.<br />

Um exemplo do aparecimento da nossa criança-interior feliz é quando nos rimos às<br />

gargalhadas e quando somos criativos e expontâneos. A criança-interior ferida aparece<br />

quando fazemos más-caras, mentimos ou fazemos birras. O melhor exemplo da<br />

criança-interior irritada é-nos dado por John Bradshaw: “ quando nos recusamos a<br />

atravessar um semáforo vermelho mesmo sabendo que ele está avariado, que não há<br />

mais ninguém à nossa volta e que nada pode acontecer de errado”.<br />

As crianças que têm uma infância reprimida tornam-se adultos pensando que o mundo<br />

lhes é hostil e que têm de defender-se dele. Para eles este é um mundo perigoso e<br />

ameaçador. Assim foi o seu ambiente familiar<br />

Quando nascemos, os primeiras rostos que vemos e que aprendemos a reconhecer<br />

com alegria, são os dos nossos pais. Como é bom sentir o peito cálido da nossa mãe<br />

quando nos dá de mamar ou nos aconchega no seu colo. Sentir a batida familiar do<br />

coração que nos acompanhou durante tantos meses. Como é bom ouvir a sua voz<br />

doce que nos embala para adormecer. Como é seguro sentir os braços fortes do<br />

nosso pai que nos abraça e nos defende, que nos levanta e nos anima quando caímos.<br />

Em quem poderíamos confiar mais? Lavam-nos, mudam-nos as fraldas, dão-nos de<br />

comer e ensinam-nos a andar e a falar. Tínhamos alternativa?<br />

Que pensará uma criança quando vê aqueles em quem ela mais confiava,<br />

espancarem-na, envergonharem-na, humilharem-na, abandonarem-na, e às vezes, em<br />

situações mais deploráveis, roubarem-lhes a própria vida.<br />

Muitos pais são vitimas de vitimas. Não podem dar o que não receberam. Era a<br />

informação que tinham. São adultos apenas fisica<strong>mente</strong>. Não cresceram<br />

psicologica<strong>mente</strong> e vivem apavorados nesse papel.<br />

Imaginem por um momento o vosso pai com três anos de idade. Vejam-no com as<br />

lágrimas correndo pelo pequeno rosto, percorrendo os cantos da casa à procura de<br />

alguém que o ouça porque se magoou ou porque simples<strong>mente</strong> procura a mãe que<br />

não encontra porque ela o deixou sozinho para ir trabalhar. Intuitiva<strong>mente</strong> não<br />

compreende como pode ser tão diferente a realidade que experimentou no interior do<br />

ventre da sua mãe e esta realidade que lhe proporcionam agora. Ele não pediu para<br />

nascer. Ninguém o ouve. Muitas vezes, quando quer chamar a atenção batem-lhe para<br />

que se cale. Vai para a cama sem uma história de embalar. Não bebe o leite morno<br />

para aconchegar. Ninguém lhe ajeita as roupas da cama. Ninguém brinca com ele em<br />

casa. Não se dirige às pessoas em quem mais confia porque parece que cada vez que<br />

o tenta fazer, elas ficam zangadas com ele e até lhe batem para que não as incomode.<br />

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Aprende a reprimir para sobreviver. Parecem culpá-lo de tudo o que se passa na casa.<br />

Da falta de dinheiro, de não poderem ir ao cinema ou à festa que desejavam ir. É um<br />

empecilho. Os filhos dos vizinhos são sempre mais inteligentes e bem comportados do<br />

que ele. É o que lhe dizem repetida<strong>mente</strong>. Se este fosse o seu pai como poderia<br />

considerá-lo culpado?<br />

Uma criança neste ambiente acaba por considerar-se alguém horrível. Cria por isso um<br />

conceito interno que a faz envergonhar-se e preferir o isolamento. Não quer que os<br />

outros descubram o quão horrível é. Cria um falso "eu". E é esse “eu” que lhe permitirá<br />

sobreviver no tal mundo hostil que a rodeia. Cria uma fachada. Aprende que fazer má<br />

cara afasta os indesejáveis. Era assim que o seu pai fazia. Quando algo não corre<br />

como ela quer, grita ou bate. São regressões expontâneas. Foi isso que viu fazer na<br />

infância. À mínima contrariedade desiste. Não tem confiança nela própria porque não<br />

lhe foi possível incorporar essa característica no seu auto-conceito .<br />

Abandona facil<strong>mente</strong>. Provavel<strong>mente</strong> porque também alguma vez terá sido<br />

abandonado.<br />

Perante contrariedades ou confrontos engole a raiva e toma a única atitude que lhe<br />

permitiram ter quando era criança : castigar os adultos com a retirada. Nada mais<br />

podia fazer. E amua. Nunca teve a oportunidade de sentir o apoio forte e amigável do<br />

pai. Não foi apoiada no inicio da sua caminhada. Por isso todos são seus inimigos. Na<br />

idade adulta a esposa substitui a mãe que emocional<strong>mente</strong> não teve. Não tem um<br />

circulo de amigos porque tem medo de se expor. Tem medo que descubram tudo de<br />

mau que ele é. A verdade é que se ele fosse bom os pais não lhe teriam batido, nem<br />

lhe teriam dito aquelas coisas horríveis, pensa.<br />

Eles disseram-lhe, vezes sem conta, que não havia nada que ele fizesse bem. Que<br />

não estudava o suficiente. Que não era capaz e que por isso nada merecia. Ele pensa<br />

então que, se as outras pessoas souberem como ele é real<strong>mente</strong>, irão também<br />

abandoná-lo ou agredi-lo. Foi assim que aconteceu com os seus pais. E querem evitar<br />

essa dor de novo. Querem evitar mais uma desilusão. É doloroso. Preferem por isso o<br />

seu mundo privado. Assim ninguém os decepcionará. Tornam-se obsessiva<strong>mente</strong><br />

controladores. Controlam tudo porque: “se eu controlar tudo ninguém me poderá<br />

apanhar desprevenido e magoar-me”.<br />

Penso ser importante frisar esta matéria porque cada vez mais existe uma tendência<br />

na sociedade moderna a menosprezar a importância que este fenómeno tem na<br />

explicação da depressão e no aparecimento da doença física. Vivemos numa época e<br />

ado<strong>pt</strong>amos um modo de vida que é propício a negligenciar a infância dos nossos filhos<br />

que, se não tiverem a oportunidade de ter uma infância apoiada, experimentarão um<br />

sem número de conflitos em todas as áreas da sua vida adulta. Geram-se assim<br />

comportamentos compulsivos que geram alcoólicos, pesados fumadores, obsessão<br />

sexual, sucessivos divórcios, etc….<br />

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Hitler foi espancado continua<strong>mente</strong> na sua infância, foi humilhado e envergonhado de<br />

forma perniciosa por um pai sádico que era um filho bastardo de um cabo judeu. Vejase<br />

como ele usou a crueldade que usaram consigo contra milhões de inocentes.<br />

Como já foi dito, uma outra característica comum nestas pessoas é uma adição ou<br />

compulsão. A criança-interior ferida é a causa principal de todas as adições. Se o pai<br />

era alcoólico e o abandonou física e emocional<strong>mente</strong> quando criança, ele não sabe<br />

como comportar-se como pensa que um homem se deve comportar. Bebe e fuma para<br />

demonstrar que é um homem. Mas fá-lo por imitação, sem confiança. Poderá ter outras<br />

adições como o sexo, o jogo e os rituais religiosos.<br />

A nossa criança-interior ferida pede que a cuidemos. Quer atenção. Que brinquemos<br />

com ela. Que lhe demos segurança porque ela sente-se assustada. E, enquanto não<br />

for feito um trabalho de recuperação da nossa criança-interior, levando-a a um<br />

crescimento saudável, as nossas vidas serão muito dolorosas e carregadas de solidão<br />

e amargura. Uma criança-interior revoltada pode ser bastante caprichosa e tornar-nos<br />

a vida num inferno.<br />

Os nossos pais não são culpados. Eles comportaram-se de acordo com a informação<br />

que possuíam. Eles também eram vítimas. Não lhes ensinaram mais. Compreender<br />

este processo é perdoar. É desvalorizar. A nossa vida muda drastica<strong>mente</strong> quando<br />

abraçamos aqueles que tememos. Então percebemos que dentro dessa mascara que<br />

durante tantos anos nos assustou, afinal estava apenas uma criança tão assustada<br />

como nós. Tinham esse aspecto apenas para se protegerem. Eles não sabiam fazer<br />

melhor pois ninguém lhes ensinou. A sua fúria era proporcional ao medo que sentiam.<br />

Então em vez de castigá-los podemos ampará-los e libertá-los da culpa que afinal<br />

nunca tiveram.<br />

Uma vez recuperada e cuidada a nossa criança- interior, a energia criativa que lhe é<br />

natural começa a surgir nas nossas vidas. Uma vez bem integrada, ela é uma fonte de<br />

regeneração e de nova vitalidade. Carl Jung chamou à criança natural “criança<br />

maravilhosa”, o nosso potencial nato de exploração, admiração e criatividade. Essa<br />

criança-interior aparece natural<strong>mente</strong> quando nos encontramos com um velho amigo,<br />

quando nos rimos às gargalhadas, quando somos criativos e expontâneos, quando nos<br />

extasiamos perante uma paisagem maravilhosa.<br />

Trabalhar com a nossa criança-interior é a forma mais rápida de efectuar mudanças<br />

nas pessoas. É um processo que permite uma transformação verdadeira e duradoura.<br />

Devemos pois analisar-nos e dedicar-nos todos os dias uma parte do nosso tempo.<br />

Muitas vezes pergunto à minha criança-interior onde é que lhe apetece ir e levo-a lá.<br />

Muitas vezes apetece-lhe ir ao cinema e levo-a. Apetece-lhe ver as outras crianças a<br />

brincar num parque e vou até lá. Outras vezes quer que eu lhe compre um gelado e eu<br />

compro-lho. Pergunto-lhe também muitas vezes, porque está triste. E ela responde-me<br />

que gostaria de se divertir, então eu levo-a a ver uma boa comédia no cinema.<br />

Muitas das mudanças que gostaríamos de ver nas nossas vidas e na maneira como a<br />

percepcionamos estão ao nosso alcance desde que atendamos à criança que todos<br />

levamos dentro de nós.<br />

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A auto-estima<br />

39


A auto-estima<br />

É muito difícil, para a maioria das pessoas, absterem-se de ignorar a opinião dos<br />

outros. Nascem e morrem sem decidirem por si mesmas. A opinião alheia também nos<br />

diz que é errado amarmo-nos a nós próprios. Que devemos pensar mais nos outros.<br />

No entanto, alguém é esquecido neste tipo de pensamento. Nós próprios. Aprendemos<br />

a anular-nos. Prescindimos de ter e de fazer o que gostamos.<br />

Crescemos orientados pelas regras dos pais, da escola, da igreja e perdemos aquela<br />

inocência tão maravilhosa que tínhamos enquanto crianças. As crianças movem-se<br />

sem qualquer vergonha, alheias à opinião de quem as observa. Procuram apenas o<br />

que as faz sentirem-se felizes. Demonstram o seu desagrado em qualquer sítio ou<br />

ocasião sem se preocuparem com o que os outros possam pensar. Só elas existem.<br />

Amam-se verdadeira<strong>mente</strong>.<br />

Quando adultos, somos obrigados a fazer e a comportar-nos como a sociedade espera<br />

que o façamos. Não importa se somos felizes com isso. Aprendemos a anular-nos. A<br />

anular a nossa auto-estima. Deixamos de nos amar.<br />

A nossa criança-interior não tolera que a ignorem e pode infernizar-nos a vida quando<br />

a sua vontade natural não é satisfeita. Criam-se em nós conflitos que podem ser<br />

bastante graves ao ponto de poderem provocar a depressão e até o suicídio. Não<br />

devemos ignorar a nossa vontade interior. Devemos sempre interrogar-nos sobre o que<br />

intima<strong>mente</strong> desejamos. Se estivermos atentos à nossa intuição, a nossa vida<br />

quotidiana encher-se-á de alegria e satisfação. De paz. De saúde.<br />

Se nos amarmos a nós próprios então seremos capazes de amar os outros. Como<br />

poderemos satisfazer alguém se não o conseguirmos fazer a nós próprios?<br />

Recuperar a nossa auto-estima é portanto um passo imprescindível para uma<br />

mudança positiva na nossa vida e para um estado saudável.<br />

40


A auto-aceitação<br />

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auto-aceitação<br />

Gosta de si? Acha que sim?<br />

Olhe-se a um espelho e fixando os seus olhos, diga: “gosto muito de ti!”. Soa-lhe bem?<br />

Que sente? Parece-lhe ridículo dizer isto?<br />

Quando gostamos verdadeira<strong>mente</strong> de nós, não nos cansamos de o dizer a nós<br />

próprios. Aceitamo-nos. Admiramos o que somos. É algo incondicional.<br />

Analise agora o seu corpo. Gosta de tudo o que vê? Gostava de ser mais alto? Ter<br />

olhos azuis? Ter os peitos mais pequenos? É demasiado magro?<br />

Já pensou que vai viver com esse corpo o resto da sua vida?<br />

O demasiado isto ou aquilo é uma invenção da sociedade e da moda. Teremos de<br />

mudar o nosso aspecto cada vez que muda a moda? Claro que não! A solução é<br />

aceitar-nos exacta<strong>mente</strong> como somos. Se temos o aspecto que temos não se deve ao<br />

acaso mas sim a um objectivo pré-determinado cuja compreensão não conseguimos<br />

abranger, por enquanto. Faz parte do papel que quisemos desempenhar. A lição que<br />

quisemos aprender.<br />

42


O merecimento<br />

43


O merecimento<br />

O merecimento é incorporado no nosso auto-conceito durante a infância. Todas as<br />

mensagens que recebemos que puniram o nosso pseudo mau comportamento<br />

contribuíram decisiva<strong>mente</strong> para um grau mínimo de merecimento.<br />

Um padrão de pensamento tipo “eu não mereço…”, mantém muitas pessoas presas a<br />

um estilo de vida onde reina a escassez. Geral<strong>mente</strong> isso indica uma falta de autoestima.<br />

Essas pessoas convencem-se a si mesmas de que não merecem viver uma<br />

vida de abundância que o Universo lhes pode dar. O tipo de pensamento “pobre de<br />

mim ou porquê eu?” ada<strong>pt</strong>a-se ideal<strong>mente</strong> como pensamento adequado para se<br />

concentrarem no que pensam que lhes falta. Estão convencidos de que não merecem<br />

mais.<br />

Uma atitude muito frequente e típica é o facto destas pessoas preferirem obter a<br />

compaixão dos outros pelo seu estado. Muitas entram em detalhes sobre como a vida<br />

lhes corre mal, como se sentem doentes, como foram enganadas ou rejeitadas.<br />

Acontece no entanto que existem muitas outras pessoas dispostas a contar igual<strong>mente</strong><br />

as mesmas histórias de dor e infelicidade e se atendermos ao que antes se disse sobre<br />

o partilhar dos pensamentos, facil<strong>mente</strong> se compreenderá que estas pessoas<br />

dificil<strong>mente</strong> não poderão suplantar este tipo de mentalidade relacionada com a<br />

escassez enquanto continuarem a procurar apenas a simpatia dos outros que também<br />

se sentem nas mesmas condições.<br />

Partilhar pensamentos de doença, desgraça, escassez e tristeza é torná-los reais na<br />

nossa vida.<br />

Também é verdade que muitas pessoas sentem-se muito confortáveis com<br />

sentimentos de escassez e medo, de tal maneira que não saberiam ada<strong>pt</strong>ar-se às<br />

condições opostas. Desde que tenham as necessidades mínimas satisfeitas nada mais<br />

as preocupa. A abundância para elas significa também complicações que querem<br />

evitar. E a regra parece ser de que quanto mais tempo o indivíduo mantiver uma<br />

mentalidade de escassez mais razões lógicas o seu ego lhe apresentará para evitar a<br />

mudança sua vida.<br />

44


As crenças<br />

45


As crenças<br />

O nosso subconsciente aceita tudo o que acreditamos. A realidade à qual<br />

verdadeira<strong>mente</strong> pertencemos não nos julga nem nos critica. Aceita-nos como somos.<br />

Se no entanto, temos crenças que nos limitam, essas crenças virão a ser nossa<br />

realidade. Se cremos que somos demasiado baixos, demasiado gordos, demasiado<br />

altos, demasiado espertos (ou não o suficiente), demasiado ricos ou demasiado pobres<br />

ou que somos incapazes de relacionar-nos com as pessoas, então essas crenças<br />

tornar-se-ão a nossa realidade.<br />

Mas são apenas pensamentos que, se quisermos, podemos mudar.<br />

A nossa infância serviu para aprendermos a realidade deste mundo. Por isso muitos de<br />

nós temos um conceito de nós próprios que não nos pertence, como se fosse criado<br />

para esta realidade e esta realidade fosse feita para este conceito. Também não nos<br />

pertencem muitas das regras que nos dizem como temos de viver. Se a nossa família<br />

era composta por pessoas que eram depressivas ou coléricas, que se sentiam<br />

assustadas ou culpadas, então é provável que tenhamos adquirido hábitos de<br />

pensamento negativos sobre nós mesmos e sobre o mundo.<br />

Quando crescemos, temos a tendência a recrear o ambiente emocional da nossa<br />

infância. Também teremos a tendência a reproduzir, nas nossas relações pessoais, as<br />

relações que tivemos com os nossos pais. Se em crianças nos criticavam muito, na<br />

nossa vida adulta procuraremos pessoas que nos critiquem de igual modo. Se em<br />

crianças nos elogiaram, amaram e estimularam, tentaremos reproduzir esse mesmo<br />

comportamento.<br />

Todos somos vítimas de vítimas e os nossos pais não podiam dar-nos o que não<br />

aprenderam. Se eles não sabiam amar-se como podiam amar-nos a nós?<br />

Fizeram o melhor que podiam com a informação que tinham.<br />

É provável que quando encarnamos obedecemos a um plano global. Escolhemos<br />

todas as condições ideais para uma aprendizagem o mais eficaz possível. Se não<br />

fosse a minha experiência de vida eu nunca teria escrito este livro nem compreendido<br />

esta realidade.<br />

O passado não tem poder sobre nós. Só aquele que nós permitimos que tenha. Em<br />

qualquer momento podemos decidir livrar-nos dele. É um pensamento. É como um<br />

armazém onde depositámos as nossas memórias boas e as más. Porque será que<br />

sempre procuramos recordar as memórias más?<br />

Provavel<strong>mente</strong> para reforçar a nossa culpabilidade.<br />

Somos sempre nós quem escolhe os nossos pensamentos. Ninguém pensa por nós.<br />

Podemos negar-nos a pensar em certas coisas. Quantas vezes nos negamos a<br />

46


pensar algo de positivo sobre nós próprios? Também podemos negar-nos a pensar<br />

algo negativo sobre nós próprios.<br />

A crença mais íntima da maioria das pessoas é sempre: « eu não sirvo para…!» A<br />

maioria das pessoas padecem, em maior ou menor grau , de sentimentos de culpa ou<br />

de ódio a si próprias.«Eu não sirvo para isto, ou não faço o suficiente para conseguir<br />

…, ou não mereço» são lamentos muito comuns. Mas, aos olhos de quem , ou<br />

segundo que normas não servimos, ou não merecemos?<br />

O ressentimento, a critica e o medo causam a maioria das situações de sofrimento que<br />

experimentamos. Quando culpamos os outros negamos a origem dos nossos<br />

problemas. Ou seja, os nossos pensamentos.<br />

Não que desculpemos os outros pelo seu mau comportamento; o que digo é que o<br />

nosso sistema de crenças atrai tal comportamento para connosco. Se as pessoas<br />

abusam continua<strong>mente</strong> de nós ou nos maltratam, devemos estar atentos porque o<br />

padrão mental é nosso. Esta forma de comportamento desaparecerá da nossa vida<br />

quando mudarmos o padrão de pensamento que o atrai.<br />

É pois, fundamental, compreender que se libertarmos o passado libertamos o futuro. O<br />

passado já passou, e não se pode mudar. É ilógico que nos castiguemos agora porque<br />

algo que já passou e que já não tem expressão a não ser na nossa memória.<br />

Se o<strong>pt</strong>amos por crer que somos vítimas desprotegidas e que não existe esperança<br />

para nós, o mundo é isso que nos demonstrará. As piores opiniões de nós próprios verse-ão<br />

confirmadas.<br />

Se o<strong>pt</strong>amos por crer que somos responsáveis pelas nossas experiências, tanto das<br />

boas como das suposta<strong>mente</strong> más, então teremos a oportunidade de superar e deixar<br />

para trás os efeitos do passado. Podemos mudar; podemos ser livres.<br />

O perdão liberta-nos. Talvez não tenhamos aprendido a perdoar ou talvez não<br />

desejemos fazê-lo; mas se tivermos um pouco de boa vontade, estaremos a iniciar a<br />

mudança de mentalidade, e para que este processo chegue ao seu final, é<br />

indispensável que deixemos de agarrar-nos ao passado e que libertemos o mundo da<br />

culpa que nunca teve.<br />

Perdoar significa desvalorizar. A pessoas que nos feriram também sofreram. Elas<br />

reflectiram apenas o que nós pensávamos de nós próprios. Quando as pessoas<br />

sentem os seus problemas, sejam quais forem; falta de saúde, falta de dinheiro,<br />

relações insatisfatórias ou criatividade bloqueada, não existe outra coisa a fazer senão<br />

trabalhar a sua auto-estima.<br />

Está comprovado que quando real<strong>mente</strong> nos amamos, aceitamos e aprovamos<br />

exacta<strong>mente</strong> como somos, tudo na vida flui sem obstáculos.<br />

A aprovação e a aceitação de nós próprios, no presente são a chave das mudanças<br />

positivas que podemos conseguir em todos sentidos da nossa vida.<br />

Amar-se a si próprio também significa não criticar-se nunca, por nada. Significa<br />

também não julgar os outros pois eles apenas cumpriram o seu papel no filme que<br />

fizemos para nós próprios.<br />

47


A culpa<br />

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A culpa<br />

A culpabilidade é responsável por toda a nossa carência e limitação. Através dela o<br />

ego exerce o seu poder por meio do medo. Quem é culpado merece castigo e<br />

tememos que o castigo nos atinja em qualquer momento.<br />

Sentimo-nos culpados por alguma coisa que acreditamos que fizemos ou que<br />

devíamos ter feito e não fizemos. É o significado do pecado. A nossa culpa é<br />

projectada no futuro, onde acreditamos que merecemos castigo. Depois somos nós<br />

que esquecemos que fomos nós que projectámos a nossa culpa e então agora<br />

acreditamos que as pessoas nos atacam ou fazem sofrer injusta<strong>mente</strong>.<br />

Tentamos resolver os nossos problemas através das suas manifestações exteriores,<br />

em vez da sua fonte (culpa) nas suas <strong>mente</strong>s.<br />

Nós acreditamos na realidade do mundo físico porque reprimimos o facto de que o<br />

fizemos.<br />

Quando na universidade aprovamos um exame já não precisamos de voltar a<br />

frequentar essa cadeira mas, se não aprovamos teremos de voltar fazer exame. O<br />

mesmo se passa na escola da vida onde tudo é concebido por analogia com o<br />

mecanismo da <strong>mente</strong>. As provações são lições que serão repetidas, embora em<br />

contextos diferentes mas cujo substrato é bem similar e em que cada vez que somos<br />

submetidos a elas é como se nos dissessem “escolhe outra vez”. Ou seja, escolhe<br />

entre o ego e o Amor.<br />

49


A mentalidade errada<br />

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A mentalidade errada<br />

Não necessitamos de uma preparação especial, nem de ser formados em disciplinas<br />

especiais para compreender os princípios de uma vida eficiente. Isso não pode ser<br />

aprendido numa sala de aulas ou num livro. Tem de ser experimentado. Temos de<br />

estar dispostos a consegui-la. O objectivo de cada ser humano deverá ser<br />

compreender porque se encontra estancado numa vida de insatisfação. Deverá<br />

analisar a parte da sua personalidade que se revela auto-destrutiva e analisar o seu<br />

comportamento quotidiano que está a ser alta<strong>mente</strong> prejudicial à sua felicidade. Depois<br />

de analisarmos esses comportamentos devemos pensar as razões que nos levam<br />

repetida<strong>mente</strong> a comportamentos que boicotam a nossa felicidade.<br />

Aqui não existe outra forma que não seja a de investigarmos o sistema psicológico que<br />

suporta esses comportamentos. Verificamos que na grande maioria dos casos a chave<br />

da interpretação desses comportamentos está na análise da infância e dos fantasmas<br />

que ela permitiu criar.<br />

Normal<strong>mente</strong>, nessa análise, deparamos com motivos mais que lógicos para essa<br />

atitude. Está recheada de medos, culpas, traumas e de uma espécie de autojustificação.<br />

É mais cómodo ter um comportamento que já conhecemos do que mudar.<br />

Mudar, ao principio, é sempre desconfortável pois são os nossos hábitos que estão em<br />

causa.<br />

Quer experimentar?<br />

Cruze os braços da maneira que costuma fazer. Tudo normal. Agora experi<strong>mente</strong><br />

cruzar os braços ao contrário. Estranho não é? Assim nos parecerá a mudança dos<br />

nossos hábitos.<br />

Mudar a nossa vida é mudar os nossos hábitos de pensamento. Haverá no inicio uma<br />

tendência a voltar aos velhos padrões de pensamento que nos fazem sentir frustrados<br />

e infelizes. Com perseverança os novos pensamentos instalam-se e o desconforto<br />

desaparece. Criamos hábitos de pensamento mais felizes.<br />

51


Passado, presente e futuro<br />

52


Passado, presente e futuro<br />

Conheço poucas pessoas que vivam plena<strong>mente</strong> o presente. Para melhor ilustrar este<br />

pensamento conto-vos a seguinte história:<br />

Uma pessoa amiga, de fora de Lisboa, demonstrou em várias oportunidades, vontade<br />

de visitar Sintra. Queria ver aquelas maravilhosas plantas e árvores de que tanto ouvira<br />

falar nesse habitat tão único como é o de Sintra. Um dia fiz-lhe a vontade e fomos até<br />

lá. Enquanto circulávamos pelas tortuosas ruas da montanha e pelos maravilhosos<br />

recantos de Sintra, a minha amiga não parava de manifestar as suas preocupações,<br />

em voz alta, com a mãe, já idosa, que tinha ficado em casa, se ela estaria bem, se<br />

saberia onde encontrar as bolachas e o dinheiro para o padeiro, como é que se daria<br />

sem ela, etc…<br />

Estávamos quase no final da visita e ela continuava a manifestar-me em voz alta as<br />

suas preocupações, como estava preocupada com os afazeres do dia seguinte e com<br />

os pagamentos que não poderia esquecer-se de fazer daí a uns dias, etc…<br />

Já abandonávamos a vila quando ela me perguntou:<br />

- Então quando é que chegamos a essa famosa Sintra?<br />

Esta pessoa, como a maioria, preocupou-se em viver o passado e a preocupar-se com<br />

o futuro em lugar de viver o presente. A maioria das pessoas não sabe viver o<br />

presente. E o mais grave é que construir o futuro com os pensamentos do passado é<br />

hipoteca-lo. Mas se o futuro for projectado com os pensamentos do presente ele será<br />

muito satisfatório.<br />

Pense em alguém com quem vive há muitos anos e cujo relacionamento passou a ser<br />

previsível, rotineiro e sem interesse. Se pensar hoje nessa pessoa sem as recordações<br />

do seu passado, como se a visse hoje pela primeira vez, seria capaz de a tratar sem<br />

lhe dar aquelas atenções especiais que caracterizam um conhecimento recente?<br />

Inclusive resistiria a dar-lhe flores e presentes dizendo que a amava?<br />

Quando vivemos ou trabalhamos com alguém durante muito tempo, existe uma<br />

tendência a facilitar a degeneração do relacionamento através da nossa atitude,<br />

influenciada pelo facto de sabermos coisas especiais acerca dessa pessoa. Essa<br />

atitude inclui, muitas vezes, a falta de respeito e a tolerância. Se, pelo contrário,<br />

olharmos para alguém como se fosse a primeira vez, o nosso interesse e curiosidade<br />

por essa pessoa é renovado e torna-se até excitante. É como se a tivéssemos<br />

conhecido hoje. Não existe passado. Então reparamos como ela é agradável, como é<br />

bonita e interessante. Seria assim que veríamos todas as pessoas com quem nos<br />

relacionamos mais intima<strong>mente</strong>, se as julgássemos sem passado.<br />

O relacionamento das pessoas pode torna-se impossível quando se acusam<br />

mutua<strong>mente</strong> de actos negativos do passado sendo o seu relacionamento de hoje feito<br />

não pelo que a outra pessoa é hoje mas por todos os momentos vividos em conjunto<br />

53


nessa altura. É assim normal que muitas vezes se faça do nosso parceiro de<br />

relacionamento mais intimo, o alvo de todas as nossas culpas e frustrações. Já não<br />

são necessárias flores porque não o precisamos de conquistar e uma vez que já nos<br />

conhecemos há tanto tempo já não precisamos de lhe dizer que o admiramos, como é<br />

interessante, como gostamos de estar com ele. Mas, curiosa<strong>mente</strong>, devido a esse<br />

conhecimento de longa data, também nos damos a liberdade de ter alguns direitos,<br />

como por exemplo: descarregar nele as nossas frustrações e culpabilidade e de nunca<br />

nos cansarmos de dizer à outra pessoa, que se ela fosse diferente tudo seria melhor.<br />

Algumas vezes até fazemos dela o saco físico onde despejamos a nossa ira.<br />

Similar<strong>mente</strong>, julgamos todas as situações através dos olhos do passado, do velho<br />

quadro de referências que, ainda nos faz ficar com uma impressão no estômago<br />

quando ouvimos o trovejar duma tempestade e os relâmpagos que cortam o céu.<br />

O arrependimento e as recordações são um modo de não vivermos o presente.<br />

A espera de um futuro brilhante pode resultar em experiências decepcionantes. Por<br />

exemplo, um estudante que pensa que quando acabar o seu curso será a pessoa mais<br />

feliz do mundo e que final<strong>mente</strong> começará a viver a sério, poderá ter uma grande<br />

desilusão pois, apenas inicia uma outra etapa difícil da sua vida. Terá de procurar<br />

emprego e de manter-se sem o auxilio dos pais. E quando encontra o emprego tão<br />

desejado, a sua alegria depressa se torna ansiedade quando compreende as<br />

dificuldades que o esperam para fazer uma carreira profissional.<br />

Se não vivermos o momento presente, devido a atitudes auto-punitivas, já não o<br />

voltaremos a encontrar. Nada se repete. Já é do passado. É assim que a maioria das<br />

pessoas vive a sua vida.<br />

Vejo pessoas que, nos restaurantes, vão metendo à boca, com um ar absorto,<br />

alimentos incompatíveis com um bom estado de saúde. Ao mesmo tempo recordam,<br />

uma e outra vez, o conflito que tiveram meia hora atrás com o chefe ou o trabalho que<br />

terão de entregar no dia seguinte. Não desfrutam sequer no presente o que estão a<br />

comer. Comem as suas preocupações de ontem e de amanhã.<br />

Haverá ainda os casos de pessoas que estão tão ocupadas em acumular riqueza<br />

material ou a fazer carreira, que quando se dão conta, verificam que os seus filhos são<br />

dependentes de drogas. Eles não tiveram os seus pais no presente. Os pais estavam<br />

tão preocupados com o futuro, lembrando-se constante<strong>mente</strong> das dificuldades do<br />

passado, que se esqueceram de olhar para os seus filhos no presente. Assim o futuro<br />

torna-se semelhante ao passado. Frustração e sofrimento.<br />

O único momento que existe é o agora. Quando acabo de escrever estas palavras elas<br />

já serão um acto do passado. Por isso será ridículo alguém punir-se hoje por algo que<br />

podia ter feito e não fez ou por algo que fez e errou há muitos anos atrás. O que existe<br />

está aqui e agora. O futuro está apenas no pensamento assim como o passado. Se eu<br />

não viver o presente, ou seja o agora, quando é que eu terei oportunidade de o voltar a<br />

fazer?<br />

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Nunca, porque esse momento já passou. Passamos muito tempo a pensar no futuro<br />

esquecendo o presente. E se o amanhã que tanto nos preocupamos em planear nem<br />

sequer vier a existir? Pessoal<strong>mente</strong> acho que devemos dizer hoje aquilo que<br />

pensávamos dizer amanhã. Porque pode não haver esse amanhã. Pre-ocupamo-nos<br />

(ocupamo-nos antes de tempo) com um futuro que ainda não existe. O presente não se<br />

repete nunca. É a impermanência.<br />

55


A <strong>mente</strong><br />

56


A <strong>mente</strong><br />

Quantas maçãs caberão num saco de compras? É uma experiência fácil de entender.<br />

E se em vez de maçãs fossem pensamentos?<br />

Não é possível imaginar tal situação pois são realidades diferentes. Quantos<br />

pensamentos teremos por dia? E quantos já tivemos ao longo do tempo que já<br />

vivemos? Não têm conta. Sendo assim tantos, ao ponto de podermos dizer que são em<br />

número infinito, poderemos perguntarmo-nos onde se produzem e onde se guardam.<br />

No corpo não se produzem. O corpo não pensa. Se o corpo não pensa então quem<br />

pensa?<br />

Se a lei mais fundamental do universo é a causa-efeito, então teremos de encontrar<br />

uma causa para o pensamento. A causa do pensamento é a <strong>mente</strong>. E se uma <strong>mente</strong><br />

tem como efeito infinitos pensamentos então, é legitimo concluir que ela própria terá de<br />

ter uma dimensão infinita e portanto impossível de estar contida, como já foi dito, numa<br />

forma limitada como é o corpo.<br />

A <strong>mente</strong> é não física e inatingível, não pode ser dissecada em laboratório, fotografada<br />

ou avaliada por um método impirico . O cérebro, por outro lado, é um órgão físico,<br />

tangível e pode ser dissecado e estudado num laboratório. É o “computador” que<br />

parece governar o corpo, organizando as informações dos sentidos que entram nele<br />

em aparentes padrões de significado e dirigindo todos os sistemas e funções do corpo,<br />

para ada<strong>pt</strong>á-lo ao universo físico. Na verdade, é a <strong>mente</strong> que é a programadora e<br />

dirige o cérebro para funcionar de acordo com essa programação, tal como um<br />

computador faz o que o operador lhe manda fazer.<br />

A <strong>mente</strong> é o centro de comando do qual todas as directivas emanam, pois instruem o<br />

cérebro para estabelecer um realidade experimental do mundo do tempo e do espaço.<br />

Por si mesmo o cérebro não pode fazer nada porque é apenas o órgão rece<strong>pt</strong>or da<br />

<strong>mente</strong>. Clara<strong>mente</strong> então é apenas a <strong>mente</strong> que faz a interpretação, não o cérebro. É a<br />

<strong>mente</strong> que interpreta as mensagens dos olhos e lhes dá significado. Sozinha ela<br />

decide se o que vê é real ou ilusório, desejável ou indesejável, agradável ou doloroso.<br />

E no entanto, se é a nossa <strong>mente</strong> que parece criar a realidade aparente, uma vez que<br />

estamos no mundo das aparências, porque razão o corpo é o herói desta realidade,<br />

onde tudo foi pensado e criado para ele? Casas e roupas para o abrigar, veículos para<br />

o transportar, comida para o alimentar e até médicos para o curar. E se a <strong>mente</strong><br />

comanda o corpo como é possível que ela o deixe adoecer e até morrer? Por<br />

equívoco? E isso significará a morte do nosso ser? Como pode uma <strong>mente</strong> não física e<br />

não tangível morrer? Sabe de alguém que tenha dado um tiro no pensamento de<br />

alguém?<br />

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Então, se temos uma <strong>mente</strong> e um corpo afinal qual é o nosso verdadeiro eu ? Quem é<br />

esse “eu” que neste momento faz esta pergunta ? Esse é o verdadeiro “eu”. O nosso<br />

verdadeiro "eu" é a nossa capacidade de pensar e sentir as emoções. Então esse “eu”<br />

não poderá ser o corpo, uma vez que o próprio corpo não faria esta pergunta a si<br />

próprio. Por isso devemos intuir de que o “eu” que não é físico não pode estar sujeito<br />

às leis da física e portanto não é mortal. Não só não é mortal como não se degrada. O<br />

nosso verdadeiro “eu” é eterno. Então porquê esta necessidade de nos identificarmos<br />

com um corpo limitado, sujeito a doenças, decepcionante, imperfeito e mortal? Poderá<br />

ser para sustentar a falsa realidade do mundo do ego?<br />

Se o Filho de Deus fosse um corpo e portanto mortal então quereria dizer que se o<br />

efeito de Deus morre então a Causa, Deus, também teria sido morto e portanto o ego<br />

teria feito o impossível. Matar Deus. E é isso que ele tentará provar, sem qualquer<br />

êxito, durante todas as vidas que iremos vivenciar.<br />

Na realidade o que se passa é que cada um de nós cria um ego ou um ser que está<br />

sujeito a uma enorme variação por causa da sua instabilidade. Fazemos também um<br />

ego para cada pessoa que percepcionamos e que é igual<strong>mente</strong> variável. A sua<br />

interacção é um processo que altera ambos, porque não foram feitos pelo Inalterável<br />

ou com Ele. É importante reconhecer que essa alteração pode ocorrer e de facto<br />

ocorre tão pronta<strong>mente</strong> quanto a interacção tem lugar na <strong>mente</strong> como quando envolve<br />

proximidade física.<br />

Pensar sobre um outro ego é tão eficaz para mudar uma percepção relativa quanto a<br />

interacção física. Muitas vezes observamos alguém, numa sala, desconhecida, e que<br />

nos causa um profundo antagonismo, mesmo sem que tenhamos trocado uma só<br />

palavra com essa pessoa. É uma prova da interacção das nossas <strong>mente</strong>s, com<br />

distância física e com personalidade individual. Poderia haver melhor exemplo de que<br />

o ego é só uma ideia e não um facto? Como poderia então a nossa realidade ser<br />

apenas essa?<br />

58


A vida<br />

59


A vida<br />

A vida é o resultado dos nossos pensamentos. Recebemos o que pensamos.<br />

Recebemos a materialização dos nossos pensamentos. Somos por isso responsáveis<br />

por todas as experiências da nossa vida, pelas melhores e pelas piores. Todos os<br />

pensamentos que tivemos criaram as imagens das nossas vidas. Cada um de nós cria<br />

a sua própria experiência com as coisas que pensa e as palavras que diz.<br />

As crenças são ideias e pensamentos que aceitamos como verdade. O que pensamos<br />

acerca de nós próprios e do mundo torna-se verdadeiro para nós. Então aquilo que<br />

decidimos crer pode expandir e melhorar o nosso mundo. Cada dia pode ser uma<br />

experiência emocionante, cheia de esperança, mas também pode dar-nos um sabor de<br />

tristeza, de limitação e de dor. Assim podemos saber o que pensámos. Porque o<br />

pensamento torna-se sempre forma em algum nível da nossa consciência.<br />

Duas pessoas que vivem no mesmo ambiente e nas mesmas circunstâncias podem<br />

percepcionar a vida de uma maneira muito diferente. O que é nos pode levar de uma<br />

percepção a outra diferente? São as nossas crenças. Projectamos os pensamentos<br />

que são originados em padrões estabelecidos normal<strong>mente</strong> na nossa infância e onde a<br />

culpa se esconde.<br />

Quando estamos dispostos a mudar a estrutura primária das nossas crenças, então<br />

podemos experimentar uma verdadeira mudança na nossa vida.<br />

Sejam quais forem as crenças que tenhamos sobre nós mesmos e sobre o mundo,<br />

recordemos que são apenas pensamentos, ideias e que as ideias podem mudar-se.<br />

60


O poder do pensamento<br />

61


O poder do pensamento<br />

O pensamento cria. O pensamento tem um poder fora da nossa compreensão. Quer<br />

acreditemos ou não tudo que nos rodeia foi criado por ele. Através do pensamento<br />

criamos a nossa realidade quotidiana mas ignoramos que essa realidade venha do<br />

nosso pensamento e portanto que pode ser mudada, alterando a nossa forma de<br />

pensar.<br />

Se o pensamento tem tanta importância na nossa realidade diária então temos de estar<br />

atentos ao que pensamos.<br />

Se demos a alguém um objecto, uma caneta, por exemplo, ficamos sem ela. Porém se<br />

compartilharmos uma ideia, não se passa assim. A ideia continua a ser nossa apesar<br />

de ter sido dada total<strong>mente</strong>. Além disso, se a pessoa a quem a demos a aceita como<br />

sua, para si própria, essa pessoa reforça-a na nossa <strong>mente</strong> e assim ela aumenta.<br />

Então os pensamentos aumentam por serem dados. E quanto maior é o número<br />

daqueles que neles acreditam mais fortes eles se tornam.<br />

Tudo é uma ideia. Ao contrário do sistema de pensamento do ego, onde dar é perder,<br />

na mentalidade correcta dar e receber são o mesmo. Damos pensamentos e<br />

recebemos pensamentos. Não será difícil agora compreender porque razão é que<br />

enquanto houver tanta gente a acreditar que o cancro é incurável ele será mesmo<br />

incurável porque é o compartilhar dos pensamentos de dor, doença, tristeza, ataque e<br />

morte que os tornam reais.<br />

Preferimos aceitar que os nossos pensamentos não podem exercer influência real na<br />

nossa vida, porque de facto temos medo deles. Há algum tempo atrás, no meu<br />

consultório, quando eu disse a uma paciente minha que o pensamento toma forma<br />

sempre em algum nível, ela respondeu-me que dificil<strong>mente</strong> acreditava nessa hipótese.<br />

No entanto logo de seguida disse-me que diaria<strong>mente</strong> era assaltada pelo medo que o<br />

marido sofresse um acidente cardíaco, pois, o modo como se alimentava era na sua<br />

opinião perigoso e contrário aos preceitos defendidos pelos cardiologistas. Então eu<br />

respondi-lhe que se deveria libertar desse pensamento quanto antes, pensando em<br />

vez disso que o seu marido se alimentaria de uma forma mais saudável e que a sua<br />

condição física era perfeita<strong>mente</strong> normal. Quando lhe expliquei melhor que a realidade<br />

que vemos é feita pelo que pensamos, respondeu-me horrorizada que “virasse a boca<br />

para o lado” ficando assustada. Então eu disse-lhe que se achava que o pensamento<br />

não influencia a nossa realidade quotidiana então porque teria medo do que eu disse?<br />

Isso prova-nos que intuitiva<strong>mente</strong> não queremos aceitar, muito conveniente<strong>mente</strong> para<br />

o ego, que o pensamento tem o poder que tem. Preferimos aceitar que são as forças<br />

exteriores a nós que fazem a nossa vida. É muito conveniente quando queremos livrarnos<br />

da responsabilidade das nossas vidas.<br />

62


Sonho ou realidade<br />

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Sonho ou realidade<br />

Quando alguém dorme e tem um pesadelo, a sua realidade enquanto sonho é<br />

indiscutível para aquele que sonha. Podemos observar o seu rosto angustiado, o suor<br />

que aparece na testa, as sacudidelas que o seu corpo dá como se quisesse libertar-se<br />

de algo ou alguém que naquele momento é bem real e que o ameaça.<br />

Essas cenas do sonho com todos os personagens intervenientes , ali colocados pelo<br />

sonhador, nesse momento são a sua realidade e não duvida minima<strong>mente</strong> dela. Mas<br />

quem estiver a observar, fora desse sonho, sabe que ele apenas está a ter um<br />

pesadelo e gentil<strong>mente</strong> abana-o para que desperte. As reacções emocionais são reais<br />

mas os personagens são ilusões. A nossa pressão sanguínea altera-se, temos<br />

erecções, rimos e choramos e temos outras manifestações de caracter físico. Fomos<br />

nós que criámos todos esses personagens e acontecimentos dentro do sonho, e<br />

estamos a agir apenas em pensamento, mas ainda assim temos reacções físicas.<br />

Poderemos dizer que os personagens são ilusões mas as reacções são reais. Será<br />

que estamos a viver um sonho colectivo? Será que sonhamos acreditando estar<br />

acordados?<br />

Só sabemos que estamos a sonhar quando acordamos. Quando revemos os nossos<br />

sonhos depois de acordar, vemos como é inútil ficar aborrecidos com o que sonhámos,<br />

tratava-se apenas de um sonho. Também poderá ser um equívoco ficarmos<br />

aborrecidos com os incidentes diários desta realidade a que chamamos vida.<br />

Então que razão poderá ser essa que nos leva a criar uma aparente vida de dramas e<br />

falsas alegrias e em que o evoluir dos acontecimentos parece estar condicionado por<br />

forças exteriores? No sonho já vimos que é o sonhador que lá põe as personagens que<br />

necessita para encenar o drama. E aqui quem é? Porque é que onde uns vêm um<br />

drama outros vêm uma felicidade ?<br />

Porque é que o que tem significado para uns não tem o mesmo para outros? Aquilo<br />

que é verdade não o deveria ser para todos? O que é verdade não pode ser falso<br />

senão contrairia o sentido da palavra. Então que realidade é esta na qual o que é<br />

verdadeiro pode ser falso?<br />

64


O pensamento cria a nossa realidade<br />

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O pensamento cria a nossa realidade<br />

O pensamento cria a realidade. Esta realidade é um sonho. Mas, como sonhadores,<br />

esquecemo-nos de que somos nós que o estamos a produzir. Se admitisse-mos por<br />

um momento essa hipótese, então a quem culparíamos dos problemas da nossa vida<br />

se tivéssemos em conta que esses problemas são produzidos pela nossa <strong>mente</strong>?<br />

Qualquer pessoa que agisse de maneira destrutiva ou com agressividade em relação a<br />

outra ou a si própria, então seria porque os seus pensamentos teriam produzido um<br />

sonho de agressão e destruição e o seu comportamento reflectiria exacta<strong>mente</strong> isso.<br />

Ou seja, se os nossos pensamentos são de carência será esse tipo de sonho que<br />

iremos materializar.<br />

Deveríamos então examinar o nosso comportamento em relação a outras pessoas não<br />

como um conflito com elas mas como resultado do que lhes estamos a transmitir.<br />

Poderíamos deixar de culpar os outros pelas amarguras da nossa vida, uma vez que<br />

teríamos sido nós a influenciar tudo isso, e deveríamos sim examinar o porquê de se<br />

terem criado tais situações, em vez do habitual “porquê a mim?”.<br />

Poderíamos criar o que queremos ter e que precisamos e seriamos capazes de fazer<br />

milagres, utilizando a dimensão do pensamento para criar o que desejamos para nós<br />

próprios. As situações da vida não fazem o que somos mas não deixam de revelar o<br />

que decidimos ser, ou seja o que pensámos.<br />

66


A importância do pensamento correcto<br />

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A importância do pensamento correcto<br />

O pensamento é criador. Se pensarmos negativa<strong>mente</strong> experimentaremos emoções<br />

negativas que estão associadas a uma experiência. Cada vez que temos um<br />

pensamento negativo estaremos a reforça-lo na nossa memória psicológica e também<br />

a reviver as emoções negativas que lhe estão ligadas reforçando assim a união<br />

pensamento-emoção, esquecendo frequente<strong>mente</strong>, se não sempre, que um<br />

pensamento é apenas isso e que a capacidade de pensá-lo ou de mudá-lo só depende<br />

de nós mesmos.<br />

Portanto, seleccionar os nossos pensamentos e o conteúdo dos mesmos, não só está<br />

ao nosso alcance, mas também devemos fazê-lo de uma forma consciente para irmos<br />

mudando pouco a pouco os nossos padrões de pensamento e conduta negativos, por<br />

outros de grande positividade que façam das nossas vidas uma experiência mais feliz.<br />

Se você soubesse duma maneira de aliviar as suas dores utilizando a sua <strong>mente</strong>,<br />

utilizá-la-ia? E se conseguisse adormecer utilizando a sua <strong>mente</strong>, tomaria comprimidos<br />

para dormir? Se dispusesse de uma forma de ajudar-se a si mesmo e aos seus amigos<br />

para solucionar os seus problemas mais preocupantes, não a utilizaria?<br />

A <strong>mente</strong> é esse meio e inclusive a medicina já começou a tomar em consideração a<br />

participação da <strong>mente</strong> no processo de adoecer e de como pode ser treinada para<br />

inverter o processo e fazer-nos sentir bem.<br />

Aprendemos a adoecer numa idade muito jovem. Somos programados com<br />

mensagens do tipo “ não andes descalço, senão constipas-te !”. O nosso cérebro<br />

aceita essa programação como uma ordem que tem de cumprir. Assim, estas<br />

mensagens convertem-se em realidades que se cumprem por si mesmas ao longo de<br />

uma vida inteira.<br />

As programações negativas geram infelicidade, fracasso e doença. As programações<br />

positivas geram felicidade, êxito e boa saúde.<br />

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A realidade auto-criada<br />

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A realidade auto-criada<br />

“Acreditamos numa realidade que nos é dada pelo nossa visão,<br />

paladar, tacto, olfacto e audição. Será então que estamos a<br />

vivenciar uma realidade auto-criada?"<br />

PSI-Factor (série de ficção-TV)<br />

Quando nos questionamos se este mundo é tudo o que existe, estamos a<br />

distanciarmo-nos duma espécie de écran onde projectamos a vida que<br />

experimentamos. Através do questionamento poderemos então compreender que<br />

afinal é como se nos tivéssemos identificado com um personagem dum filme e,<br />

final<strong>mente</strong>, que não somos esse personagem que está a ser atacado nessas imagens<br />

que percepcionamos e que tão reais nos parecem. Ou seja, reconheceremos que a<br />

nossa realidade não se esgota na nossa forma física. Que não somos exclusiva<strong>mente</strong><br />

um corpo mas que nos foi permitido experimentar essa realidade.<br />

Por analogia com o nosso carro, sabemos que temos um carro mas que não somos o<br />

carro. Ele serve para transportar o nosso corpo. O nosso corpo é o nosso veículo de<br />

comunicação neste mundo físico das formas. A sua existência deve-se à necessidade<br />

de ter um instrumento que nos permita percepcionar esta realidade através dos cinco<br />

sentidos. Um instrumento que transmita à nossa <strong>mente</strong> os símbolos ca<strong>pt</strong>ados por<br />

esses sentidos rece<strong>pt</strong>ores para serem posterior<strong>mente</strong> interpretados. Assim obtemos a<br />

consciência da realidade física. Do mundo em que parecemos viver.<br />

Ajudá-lo a questionar esta realidade, da qual somos tão convictos e da qual tanto nos<br />

custa separar, é um dos principais objectivos deste livro.<br />

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O mundo<br />

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O mundo<br />

“Podes pintar uns lábios cor-de-rosa a um esqueleto, vesti-lo com o que é belo,<br />

agradá-lo e mimá-lo e fazê-lo viver?<br />

E podes ficar contente com uma ilusão de que estejas vivendo?”<br />

72<br />

A Course in Miracles<br />

Tudo o que percepcionamos com os nossos sentidos compõe a nossa realidade. Esta<br />

realidade não é questionada porque aparente<strong>mente</strong> não temos razão para o fazer. No<br />

entanto, a razão porque não o fazemos é por medo inconsciente do que pensamos ser<br />

desconhecido para nós. O nosso ego justifica esse medo através dos acontecimentos<br />

da vida, nomeada<strong>mente</strong> através da dor e do sofrimento. Que objectivo haverá então<br />

para a existência desta realidade percepcionada pelo ser humano? Não há ninguém<br />

que intuitiva<strong>mente</strong>, embora por momentos muitos fugazes, não se interrogue. Quem<br />

sou eu? Deus existe? Que existirá para além da morte?<br />

Esta é a realidade do mundo da forma física. Tudo tem uma forma. É o mundo da<br />

consciência e da percepção. O mundo dos sentidos físicos. Sem eles não haveria a<br />

percepção desta realidade. Seria o nada. Mas o nada é o todo.<br />

Porquê então esta realidade tão instável e inconstante onde tudo tem opostos e onde<br />

por isso a tristeza se disfarça na alegria?<br />

Existe apenas uma emoção no mundo. O medo. Todas as outras emoções são<br />

disfarces da primeira fabricados pela nossa imaginação que é infinita. A alegria é um<br />

desses disfarces mais apetecido. É a emoção que, consciente<strong>mente</strong>, mais<br />

ambicionamos sentir. Quem não experimentou a alegria de atingir os seus objectivos e<br />

logo de seguida se sentiu o ser mais solitário e insatisfeito deste mundo. E que outra<br />

opção teve que não fosse a de começar a procurar de novo outra alegria, outra<br />

satisfação? E porque é que esta realidade parece obrigar-nos à procura de falsas<br />

alegrias e da sua inseparável tristeza, mais parecendo uma punição.<br />

A resposta poderá ser obtida se, corajosa<strong>mente</strong>, questionarmos o sistema de<br />

pensamento em que nos baseamos. Neste mundo não há nada que nos satisfaça pois<br />

aquilo que satisfaz não precisa de ser repetido. Aquilo que precisa de ser repetido é<br />

porque não satisfez. E não existe nada neste mundo que tenha essa propriedade. Só o<br />

Amor pode satisfazer mas não pode ser vivenciado através da posse de um objecto ou<br />

pessoa. Ele é de todos mas está dentro de nós. Não no mundo exterior. No entanto, se<br />

o sentirmos dentro de nós poderemos sentir os seus efeitos nas experiências que<br />

vivenciamos.<br />

Aprendemos cedo que nascemos para morrer. Inicia-se uma contagem decrescente.<br />

No momento em que qualquer ser vivo nasce começou a sua caminhada para a morte.


Todos estamos a morrer. As plantas, os animais e os homens. Então porque<br />

chamamos a isto vida, se todos os dias morremos um pouco mais? Não deveria a<br />

palavra vida significar aquilo que não morre?<br />

A realidade deste mundo ensina-nos que somos seres inteligentes, e que essa<br />

inteligência nos coloca no topo da escala dos seres vivos. Mostra-nos também que<br />

cada um de nós tem vivências diferentes, embora com o objectivo duma vida de<br />

sucesso individual e da acumulação de riquezas que, no final da vida, serão deixadas<br />

aos nossos descendentes.<br />

A realidade deste mundo parece ser a de que podemos ter a sorte de nascer no seio<br />

de pais que nos possam proporcionar as bases educacionais e emocionais, para a<br />

obtenção de uma vida de sucesso, que a sociedade irá medir e dará o seu testemunho,<br />

ou então o caso oposto, o daquela pessoa que nasce numa base familiar já por si<br />

falhada e que assim terá mais probabilidades de não conseguir o tal sucesso medido<br />

pelo reconhecimento da sociedade.<br />

Desde sempre que isto parece acontecer, porquê? Porque é que tem de ser assim? É<br />

a lei da vida, dirão alguns. Mas não será porque precisamos de um testemunho<br />

convincente da nossa existência como corpos?<br />

E se tudo fizesse parte de um plano perfeito onde são criadas as condições ideais para<br />

a aprendizagem de algo tão fantástico acerca de nós próprios que nos obrigaria a<br />

repetir vezes sem conta as nossas experiências corporais até que estivéssemos tão<br />

convictos da nossa realidade imortal como estamos agora da inevitabilidade da morte.<br />

Não podemos beber a palavra “água”. Não poderemos saber o que é um choque<br />

eléctrico se não o experimentarmos. As palavras são símbolos de símbolos e por isso<br />

dupla<strong>mente</strong> afastadas da realidade do objecto. A experimentação através dos nossos<br />

sentidos é a forma de percepcionarmos a realidade do mundo físico que vemos. É a<br />

base da existência deste mundo.<br />

Temos necessidade dos cinco sentidos para sentirmos a realidade daquilo a que<br />

chamamos vida. Sem os sentidos físicos quererá dizer que não haverá vida? Se por<br />

um momento imaginarmos que não temos visão, tacto, olfacto, audição e paladar,<br />

verificaremos que não haverá percepção desta realidade a que chamamos mundo.<br />

Mas resta alguém que formula esse raciocínio. Esse alguém, que não tem forma física,<br />

é o nosso verdadeiro ser .<br />

73


Questionar a realidade do mundo<br />

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Questionar a realidade do mundo<br />

Porquê a necessidade intuitiva que todos temos de, mais cedo ou mais tarde,<br />

questionar esta realidade? Penso que é um acto natural provocado pelo conflito gerado<br />

entre a parte da nossa <strong>mente</strong> consciente e a parte desta que guarda memória de quem<br />

real<strong>mente</strong> somos.<br />

A nossa insatisfação é experimentada em todos os acontecimentos que vivenciamos e<br />

leva-nos, em determinado momento, a procurar respostas que, enganosa<strong>mente</strong>, o<br />

nosso ego nos faz acreditar que encontraremos no mundo exterior. O seu lema é:<br />

“procura mas não encontres”.<br />

Procuramos no corpo, no sucesso, na carreira, nos relacionamentos, na propriedade,<br />

no cabeleireiro, etc… E quanto tempo dura essa satisfação?<br />

Procuramos no planeta Terra , no universo e em cada átomo, mas as respostas<br />

continuam a remeter-nos para o infinito, sem satisfazer a pergunta de sempre: Quem<br />

somos? Porque estamos aqui? Haverá vida depois da morte? Irei para o inferno? O<br />

mundo acabará no ano 2000? Haverá vida noutros planetas? Haverá destino?<br />

A estas perguntas parecem corresponder respostas que dependem de forças<br />

exteriores ou de um deus a quem agradamos ou não, de acordo com os pecados que<br />

praticamos. Este é o mundo do medo. É o mundo do ego. Temos medo de que o<br />

telefone toque para nos dar uma má notícia, temos medo de estar felizes porque<br />

quando estamos felizes parece que alguma coisa desagradável está para acontecer.<br />

Temos medo que algo venha estragar esse momento.<br />

Porque será que temos medo de cada alegria que temos? Será porque sabemos que<br />

ela não é duradoura? Nada neste mundo dura eterna<strong>mente</strong>. Porque nada é real. Não<br />

estou a dizer que o ar que respiramos não seja real ou que a nossa casa não seja real.<br />

Trata-se de um nível de consciência em que percepcionamos as formas criadas pelo<br />

pensamento colectivo. É um sonho em estado acordado.<br />

Alguns homens sacrificaram-se um vida inteira para ter uma grande fortuna e quando<br />

a obtiveram, receberam a noticia de que sofriam de um cancro mortal e que o tempo<br />

de vida que lhes restava era de meses. Porquê esta realidade que mais parece um<br />

jogo de falsos objectivos e de decepções constantes?<br />

No entanto, tudo parece acontecer ao acaso e duma forma incontrolavel. “A vida é<br />

assim!” , costumamos dizer. Que tipo de vida é esta tão caótica que parece fugir do<br />

nosso controle e em que a morte de alguns é a alegria de outros e em que para<br />

alguém ganhar alguma coisa o outro tem de perder?<br />

75


dualismo do mundo<br />

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O dualismo do mundo<br />

O propósito final da nossa estadia neste mundo é o de re-conhecer a nossa verdadeira<br />

realidade. As experiências de vida repetir-se-ão até que, o que hoje é uma convicção,<br />

se torne reconhecido como o que verdadeira<strong>mente</strong> é. Uma ilusão. A morte é uma<br />

ilusão. Esta vida também.<br />

A nossa consciência actual em relação à morte provoca-nos um medo profundo<br />

aumentado pela ignorância do momento e das condições em que ela ocorrerá. O efeito<br />

surpresa ajuda o seu objectivo que não é outro senão o de nos manter numa angústia<br />

inconsciente e num sofrimento atroz provocado pelo desconhecimento do que se irá<br />

passar depois. É o nosso maior medo. E é natural que tenhamos medo da escuridão.<br />

Mas também é verdade que quando se acende a luz e tomamos consciência de que<br />

estamos afinal num lugar que sempre conhecemos como a nossa casa, então de que<br />

teríamos medo ?<br />

É natural que o ego não queira que a morte seja compreendida como uma simples<br />

despedida do corpo ao qual devemos estar agradecidos por ter sido o nosso veículo de<br />

comunicação nesta vida e neste mundo, cujas experiências quisemos recordar. Deste<br />

modo ele perderia a sua arma mais ameaçadora e redutora. Dia após dia, ano após<br />

ano, esperamos assustados e com enorme ansiedade a hora da sua chegada pois o<br />

ego diz-nos que quando terminar o tempo de vida do corpo, nós deixamos de ser. Mas<br />

será essa a realidade? O pensamento pode morrer?<br />

É impossível escapar do mundo das ilusões sem uma ajuda que não é desta<br />

dimensão. Mas onde encontrar essa ajuda? Não onde sempre procuramos, ou seja no<br />

exterior, mas sim dentro de nós. Não no corpo, mas além dele. Lá encontraremos a<br />

voz que alegre<strong>mente</strong> nos guiará no mundo das ilusões, aproveitando cuidadosa<strong>mente</strong><br />

cada uma delas para as transformar em amorosas lições de amor e compreensão.<br />

Esta grande viagem, composta por todas as vidas que estamos a re-viver, pode ser<br />

mais longa ou mais curta dependendo da nossa abertura a essa ajuda que, silenciosa<br />

e paciente<strong>mente</strong> aguarda a nossa inevitável decisão. Esta escolha só é livre no que<br />

refere ao momento em que decidimos faze-la. É o livre arbítrio, característica inerente<br />

a um Ser perfeito que é o Efeito duma Causa perfeita. No inicio deste livro foi dito que<br />

só o medo nos impede de questionar esta realidade. O medo é a arma que mantém a<br />

nossa crença neste mundo do qual temos consciência. O mundo rege-se por ele.<br />

Respiramo-lo diaria<strong>mente</strong>. O poder baseia-se nele. Disfarça-se das maneiras mais<br />

insuspeitas.<br />

Aquilo a que chamamos amor neste mundo também é uma das faces do medo.<br />

Relacionamo-nos com outras pessoas que consideramos especiais, sendo esse<br />

relacionamento o resultado duma procura inconsciente de quem nos poderá completar.<br />

O nosso parceiro ou parceira. O nosso melhor amigo. Quando a satisfação aparente<br />

desse relacionamento se esgota, revela-se final<strong>mente</strong> a sua verdadeira natureza<br />

77


aseada na contrapartida. Logo de seguida somos levados intuitiva<strong>mente</strong> a procurar<br />

um novo relacionamento que nos dê nova satisfação ou nos complete outra vez. É<br />

normal constatar-se que num relacionamento as pessoas tenham personalidades<br />

opostas. E tudo se passa como se fossemos vasos comunicantes de emoções<br />

inconscientes. Quando se nivelam acaba-se o relacionamento. É essa a intenção do<br />

ego, ou seja fazer-nos crer que somos seres separados com interesses diferentes e só<br />

às vezes conciliáveis.<br />

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A atracção do mundo<br />

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A atracção do mundo<br />

Tal como dizem Gloria e Kenneth Wapnick no seu livro “ The Most Frequently<br />

Questions About The Course in Miracles”, os chamados aspectos positivos do mundo<br />

que vemos são igual<strong>mente</strong> tão ilusórios como os negativos. São ambos aspectos dum<br />

universo dualista fruto da nossa percepção e que apenas reflecte a divisão dualista da<br />

nossa <strong>mente</strong>.<br />

A famosa frase “A beleza está no olho de quem vê” também se poderá aplicar aqui,<br />

dado que o que um considera belo , outro poderá considerar feio e vice-versa.<br />

Por outras palavras embora tudo que é bonito seja ilusório, permanece neutro, como<br />

tudo o mais que existe no mundo.<br />

Uma pistola poderá servir para uma bela colecção ou para um horrível assassínio.<br />

Interpretado pelo ego servirá para reforçar a separação, o especialismo e a culpa. Uma<br />

mentalidade correcta servirá para nos conduzir a uma experiência da verdade que<br />

existe por trás de cada percepção.<br />

Por exemplo um pôr do sol pode reforçar a crença de que eu só poderei sentir paz e<br />

bem estar apenas e enquanto o presencio, ou pode ajudar-me a lembrar-me de que a<br />

verdadeira beleza do Amor é a minha Identidade, e que esta beleza é interior, na<br />

minha <strong>mente</strong> e independente de qualquer coisa fora dela.<br />

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Para além do corpo<br />

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Para além do corpo<br />

O quotidiano frenético da vida do homem moderno é uma das engenhosas maneiras<br />

construídas pelo nosso ego para que a realidade do mundo que vemos nunca possa<br />

ser questionada.<br />

Mas, intuitiva<strong>mente</strong>, quando a dor e o sofrimento nos atinge, dirigimos os nossos olhos<br />

para o céu e procuramos numa outra realidade o perdão de um deus vingador,<br />

pedindo-lhe misericórdia e clemência pelos nossos pecados. Pedimos que não nos<br />

castigue. Depois aguardamos com medo a vinda do castigo que achamos merecer. E<br />

interrogamo-nos sobre este deus que parece estar atento aos pecados dos seus filhos<br />

e os pune com injustiças tão grandes como deixar uma criança órfã ou permitir que<br />

pessoas morram à fome num mundo que nunca teve tanta riqueza e tecnologia.<br />

É evidente, que só poderíamos imaginar um deus assim baseando-nos num sistema<br />

de pensamento onde apenas impera o medo e morte. E onde existe medo não há<br />

Amor e onde há Amor não existe medo. Ao questionarmos a base deste pensamento<br />

poderemos ser conduzidos a uma gradual compreensão da nossa verdadeira<br />

realidade. Ou seja que, se escolhermos vermo-nos sem medo nem limitação a nossa<br />

vida será de satisfação e paz. Mas, se pelo contrário nos virmos como seres limitados<br />

a um corpo e portanto indefesos neste mundo ilusório então a nossa vida será<br />

invadida por experiências de insatisfação e sofrimento.<br />

A palavra “forma” é um termo que poderá servir para designar o nosso “eu” físico. Inclui<br />

todas as propriedades psicológicas que aprendemos a associar ao ser humano que<br />

somos. A forma inclui o nosso esqueleto, as veias, o coração e tudo mais que compõe<br />

o nosso corpo. Tudo o que nós temos na nossa forma física também os outros animais<br />

têm. No entanto nós somos muito mais do que um simples monte de ossos. Algo<br />

dirige esta estrutura física.<br />

O nosso verdadeiro eu é algo que está para além da percepção física. Tem recebido<br />

muitos nomes como, <strong>mente</strong>, consciência superior, pensamento, enfim mas seja o que<br />

for não é uma forma física uma vez que tudo que existe no universo físico é perecível.<br />

As palavras “transformação pessoal” têm sido usadas com frequência para descrever o<br />

acto de ir além da forma. A mudança de mentalidade origina a transformação pessoal.<br />

As ideias transmitidas neste livro, se forem aceites por si, poderão ajudá-lo a fazer a<br />

sua transformação pessoal. A mudar a sua mentalidade. O nosso corpo é limitado. A<br />

nossa capacidade de pensar não. Através do pensamento podemos ir aos lugares<br />

mais desejados e fazer coisas que não têm que ver com as leis físicas que regem este<br />

mundo. O pensamento não come e não se cansa. Pensamos ininterru<strong>pt</strong>a<strong>mente</strong>. O<br />

corpo morre mas o pensamento não.<br />

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Se acreditarmos que somos apenas um corpo estaremos a condenarmo-nos a uma<br />

vida inteira de sofrimento. As rugas, a perda do cabelo, a celulite, a vista cansada, as<br />

doenças e tudo o que faz parte da deterioração do nosso corpo físico, provoca-nos um<br />

sofrimento que vai aumentando na proporção da nossa ansiedade para o manter vivo e<br />

atractivo.<br />

A utilização do nosso corpo como meio de nos sentirmos realizados nesta vida, faz<br />

com que nos preocupemos exaustiva<strong>mente</strong> com a sua aparência. Este é o mundo da<br />

aparência. É costume dizer-se que “os olhos também comem”. Identificamo-nos com o<br />

invólucro que nos parece conter e não reconhecemos que é apenas uma forma<br />

temporária que estamos a usar.<br />

Esse é o nosso corpo, limitado pelas regras do físico, sujeito a dores e deteriorando-se<br />

lenta<strong>mente</strong>. No dia em que nascemos já estávamos a morrer. Na contagem<br />

decrescente. Mas recordemos que para além da forma, ou seja na dimensão do<br />

pensamento, não existe nem tempo nem espaço, e portanto essa realidade não está<br />

sujeita aos conceitos dum mundo físico limitado e portanto da morte.<br />

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O medo<br />

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O medo<br />

“Ninguém neste mundo pode escapar ao medo, mas toda a gente pode<br />

reconsiderar as suas causas e aprender a avaliá-lo correcta<strong>mente</strong> .”<br />

Supplements to “A Course in Miracles”<br />

O medo é uma constante da nossa vida. Senão, vejam-se alguns exemplos: medo de<br />

perder o emprego, de não ter dinheiro suficiente, de sermos atingidos por um vírus<br />

incurável, da sida, do cancro, de não sermos aceites ou considerados pela sociedade,<br />

da destruição da camada de ozono e até da água e da comida porque estão poluídas.<br />

Este é o mundo que percepcionamos na nossa consciência.<br />

Não admira que os casos de depressão au<strong>mente</strong>m cada vez mais e que os hospitais<br />

estejam cheios de pessoas que gostariam de ser felizes. Mas o medo não as deixa. É<br />

esta a triste realidade deste mundo do qual tanto medo temos de nos separar e ao qual<br />

tanto nos aferramos. O nosso ego diz-nos que se não o defendermos fica o vazio. O<br />

nada. O medo é o seu poder. Mas quando o medo é enfrentado a realidade muda e o<br />

vazio torna-se a plenitude e o ataque torna-se paz. Os conflitos desvanecem-se e o<br />

inimigo torna-se um amigo. Então porque esperamos?<br />

Produzimos o medo para termos medo e assim provarmos a nossa limitação cuja<br />

prova final é a morte. A morte é o nosso maior medo porque não é questionada. É a<br />

escuridão. Mas não há escuridão que prevaleça quando se acende uma luz. E o<br />

conhecimento é a luz que elimina a escuridão da morte, nas nossas <strong>mente</strong>s. Ao reconhecermos<br />

acendemos a luz e deixamos de ter medo.<br />

Quando alguém morre dizemos que é a vontade de Deus. Poderia Deus matar o seu<br />

próprio Filho? Poderia Deus matar alguém que sendo feito à sua semelhança é<br />

imortal?<br />

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Evitar o medo<br />

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Evitar o medo<br />

Podemos evitar o medo?<br />

Sim, se compreendermos a sua natureza. O medo não passa de um pensamento<br />

fabricado por nós. Pensamos na nossa <strong>mente</strong>, inconsciente<strong>mente</strong>, que queremos ter<br />

medo e projectamos as imagens que o irão provocar. Por isso diferentes pessoas terão<br />

medos diferentes. Cada ego conhece bem a culpabilidade de cada um, uma vez que<br />

foi ele que a criou e continuará a repetir os mesmos medos até que a pessoa os<br />

enfrente e reconheça que é ela que os está a fabricar.<br />

Podemos assim compreender que uma <strong>mente</strong> com um poder de criação infinito não<br />

tem limites na imaginação das cenas que provocam sofrimento e angustia cujo<br />

objectivo é perpetuar o poder deste mundo exterior sobre nós. A isto chama-se o<br />

inferno. Não há diabos com garfos e fogueiras medonhas esperando pelos pecadores,<br />

mas há sim uma <strong>mente</strong> de poder inimaginável para a qual a nossa consciência actual<br />

não tem compreensão e cujo potencial é dominado por um ego que, através do terror<br />

e de cenas de morte, procura provar que a morte faz parte da nossa realidade.<br />

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Ser livre é libertar-se do medo<br />

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Ser livre é libertar-se do medo<br />

O medo é a emoção que nos mantém ligados a condutas que nos aborrecem, a<br />

atitudes que nos magoam e a um estado compulsivo que nos priva da paz e do<br />

desfrutar do momento presente; que afinal é o único que existe. O aqui e agora. O<br />

passado já passou e o futuro ainda não é.<br />

Um dos objectivos favoritos do medo é impedir-nos de viver o presente. Projectamonos<br />

em direcção ao passado e ao futuro numa procura desesperada de escapar da<br />

única coisa que é real, este momento; este mesmo instante, o agora. Olhe à sua volta<br />

e procure o passado. Consegue vê-lo? E o futuro? Eles estão apenas no seu<br />

imaginário. Mas o presente está aqui materializado no momento que você lê este livro,<br />

por exemplo.<br />

A pre-ocupação (ocupar-se antes de) com o que ainda não aconteceu é uma forma de<br />

deixar escapar a realidade, de permitir que por essa brecha se filtre o medo, a<br />

ansiedade e a insegurança. Quando evocamos o passado costumamos reforçar a já<br />

por si pesada bagagem da culpa. Pelo que se fez ou pelo que se deixou de fazer.<br />

Li algures que, numa sondagem realizada nos E.U.A. sobre as frases que melhor<br />

expressam a tristeza e a dor, a mais escolhida foi " eu podia ter sido…".<br />

A conclusão é a de que, de uma forma generalizada, existe uma ligação mental ao<br />

passado, que nos imobiliza e nos prende ao que foi e já não é. O passado, assim como<br />

o futuro, são um jogo de espelhos que projectam imagens irreais.<br />

Libertar-se da culpa e confiar no futuro sem cobri-lo previa<strong>mente</strong> com as sombras do<br />

medo é a primeira das atitudes que nos ajudará a libertar-nos dele. A sermos um<br />

pouco mais nós próprios.<br />

89


As várias faces do medo<br />

90


As várias faces do medo<br />

Estudar a sensação de medo e observá-la representa um passo importante no<br />

caminho que nos leva ao nosso auto-conhecimento. Uma boa medida de higiene<br />

mental é observarmos sem emoção aquilo que mais tememos:<br />

De que é que temos medo?<br />

De perder o nosso parceiro?<br />

De ficarmos sem trabalho?<br />

De sermos ridicularizados?<br />

De envelhecer? O medo da solidão? O medo da rejeição…<br />

Uma gama infinita de inquietações que se ocultam por detrás das múltiplas faces do<br />

medo. Que existirá por detrás de uma relação afectiva que produz a dor e à qual<br />

permanecemos ligados?<br />

Porque não aceitamos a mudança nas nossas vidas e não reconhecemos que as<br />

crises são oportunidades de crescimento interior?<br />

Toda a mudança é uma ameaça ao imobilismo que sempre necessita do medo para<br />

subsistir. Crescer é doloroso, já o disse. Mas, como qualquer parto, está nas nossas<br />

mãos, ou seja, está na nossa <strong>mente</strong>, fazer com que essa experiência seja menos<br />

traumática e vivê-la como real<strong>mente</strong> é: uma renovação da vida. Porque não nos pomos<br />

a favor dessa corrente de transformação e movimento, em vez de nos agarrarmos<br />

desesperada<strong>mente</strong> ao que acreditamos que nos dá segurança? Está satisfeito com a<br />

vida que leva? Se não está o que é que tem a perder?<br />

A segurança não está no ter mas no ser. Quanto mais se pratica o desapego, mais<br />

alegria de viver temos. Ou seja que, quantas mais dependências são eliminadas da<br />

nossa vida, mais vontade de viver temos.<br />

Há quem dependa do dinheiro, do poder, que lhe permite sentir-se importante e há<br />

quem dependa da capacidade de manipular ou ser manipulado, na tentativa de ser<br />

amado…<br />

Outros dependem da agressividade e da violência, porque se sentem interna<strong>mente</strong><br />

ameaçados…<br />

Há dependências para todos os gostos. Mas, facil<strong>mente</strong> as identificaremos como uma<br />

das várias caras do medo. O medo de ser rejeitado talvez seja o mais frequente,<br />

porque temos na nossa memória genética, uma recordação gravada das remotas<br />

épocas pré-históricas onde a rejeição do grupo significava o pior dos castigos. A morte.<br />

O indivíduo sozinho não podia sobreviver pelos seus próprios meios num ambiente<br />

hostil e agressivo, sem contar com o apoio do grupo (tribo).<br />

O medo é um velho conhecido que acompanha a humanidade desde os tempos<br />

imemoriais. Desde que existe ego. Comparte connosco a nossa experiência<br />

quotidiana; é intemporal e está presente em todas as culturas do planeta; assim como<br />

91


a liberdade e o amor. Eles estão em partes iguais, não o esqueçamos. Somos nós que<br />

provocamos o desequilíbrio transformando a luz em sombra. Quando existe liberdade<br />

desaparece o medo. São extremos opostos. A liberdade só se alcança desmascarando<br />

o medo.<br />

92


Novos sistemas de pensamento<br />

93


Novos sistemas de pensamento<br />

Nada do que desejamos é substancial<strong>mente</strong> diferente do que sempre foi. A riqueza<br />

material, o status e o poder só mudaram de forma mas o conteúdo é o de sempre,<br />

desde os princípios do mundo. E é assim porque o sistema de pensamento não<br />

mudou. É o mesmo. Apenas se reforçou mais, dando origem a um mundo mais caótico<br />

e egótico onde a morte nos é trazida como banalidade pela televisão à hora da<br />

refeição e onde a imprensa procura obter em exclusivo e ao vivo os maiores dramas<br />

humanos como forma de aumentar as audiências. Nada melhor para reforçar a<br />

realidade do mundo do ego.<br />

“A Course in Miracles” publicado pela Foundation for Inner Peace ensina que existem<br />

apenas dois sistemas básicos de pensamento, o da percepção e o do conhecimento. O<br />

sistema de pensamento da percepção (do ego) é inerente<strong>mente</strong> ilusório porque é<br />

baseado na interpretação, não em factos. É baseado na crença de que houve uma<br />

separação de Deus ou Causa e de uns dos outros. Daqui resulta a crença no diabo,<br />

pecado, culpa, medo e na carência. É um mundo de aparências, do nascimento e da<br />

morte, do tempo e da constante mudança. Este sistema de pensamento, da percepção,<br />

é o que o “Curso” denomina de ego, que é resumida<strong>mente</strong> um conjunto de crenças que<br />

se centram à volta do corpo como sendo a nossa realidade e o limite do nosso ser.<br />

O mundo do conhecimento, pelo contrário, é a verdade. Ensina também, que o mundo<br />

real, o que reflecte a verdade, pode ser visto apenas através da visão espiritual, e não<br />

através dos olhos do corpo. O mundo do conhecimento é de unidade, amor, sem<br />

pecado e abundante. Vê a realidade composta apenas pelos pensamentos de Deus,<br />

que são amorosos, constantes, intemporais e eternos. O mal, o pecado e a culpa são<br />

considerados percepções erradas. O pecado é considerado falta de amor, ou um erro<br />

pedindo correcção e amor, em vez de culpa e consequente<strong>mente</strong>, castigo.<br />

O sermos apanhados no mundo da percepção, ou no mundo do sistema de<br />

pensamento do ego, é um pensamento de que fomos apanhados num sonho. Para<br />

despertar para a realidade, é necessário inverter o nosso pensamento e corrigir os<br />

nossos erros. Precisamos de ajuda para despertar desse sonho porque os nossos<br />

sentidos físicos aceitam apenas a informação que reforça a nossa crença na realidade<br />

do sonho. O “Curso em Milagres” oferece-nos um caminho para o despertar<br />

mostrando-nos que a nossa percepção usual e sentido de identidade está distorcido.<br />

Que existe um outro caminho para corrigir essas distorções de modo a que possamos<br />

ver-nos a nós próprios e ao mundo mais clara<strong>mente</strong>. A esta mudança de percepção é<br />

o que o Curso chama “Milagre”.<br />

Ao contrário de outros sistemas de pensamento conhecidos, não sugere o afastamento<br />

do mundo. Ensina que os nossos relacionamentos oferecem-nos únicas e valiosas<br />

94


oportunidades para aprender, despertar e curar. Oferece uma variedade de conceitos<br />

pelos quais os relacionamentos baseados em medo e na carência podem ser<br />

corrigidos. O perdão de nós próprios e dos outros (uma vez que somos os fazedores<br />

do sonho e portanto não há que culpar ninguém) dá-nos os meios pelos quais<br />

podemos usar os relacionamentos para libertar-nos do passado com o seu peso da<br />

culpa e ofensas. No contexto deste sistema de pensamento, “perdoar” significa<br />

reconhecer que o que pensamos que alguém nos fez, não ocorreu (somos nós os<br />

fazedores dos sonhos e dos seus intervenientes e situações). O perdão, neste sistema<br />

de pensamento, não perdoa pecados para os tornar verdadeiros, pois se há alguma<br />

coisa a perdoar é porque fui atingido real<strong>mente</strong>. Mas como se trata de um sonho nada<br />

há para perdoar mas sim reconhecer que apenas se tratou de uma ilusão.<br />

O perdão compreende que não houve pecado mas sim um erro de percepção. O<br />

perdão mostra-nos apenas as extensões do amor ou os pedidos de amor, não o<br />

ataque ou o ódio. Mudando desta maneira a percepção, podemos remover as barreiras<br />

para a consciência da presença do amor, a que é a nossa herança natural. O objectivo<br />

é ensinar a escutar o nosso mestre interior em vez de procurarmos ajuda fora de nós<br />

próprios.<br />

Procurar ajuda fora de nós próprios é a forma ideal para não a termos. É esse o truque<br />

do ego. Procura mas não encontres. A ajuda tem de ser procurada na causa, não no<br />

efeito. Se um filme estiver a ser observado por nós e se a meio da projecção as<br />

imagens aparecem subita<strong>mente</strong> desfocadas, nós não iremos tentar corrigi-las no écran<br />

mas sim no próprio projector que é onde se originou o problema.<br />

O nosso sistema de pensamento predominante (do ego) procura feroz<strong>mente</strong> ignorar<br />

essa perspectiva pois ela representa uma séria ameaça aos seus alicerces.<br />

A experiência traz a convicção. Somos convictos da doença e da morte porque as<br />

vemos e sentimos diaria<strong>mente</strong>. São convicções que não questionamos porque<br />

pensamos serem factos. Mas somos nós quem fabrica os nossos sonhos. O nosso Ser<br />

está para além da forma e é eterno. Está vivo num mundo não físico. Quando<br />

dormimos e é um terço da nossa vida, deixamos o mundo da forma, deixamos tranquilo<br />

o nosso corpo e entramos no mundo da não forma, ou seja sonhamos.<br />

Quando adormecemos e começamos a sonhar, acreditamos que estamos num corpo<br />

criado para o sonho. No sonho convencemo-nos que o nosso corpo do sonho é<br />

verdadeiro. Nos sonhos o tempo não existe. Podemos avançar ou recuar de acordo<br />

com a nossa vontade. Podemos rever uma pessoa que já morreu à vários anos, e ela<br />

parece estar ali à nossa frente, viva e real. Podemos voltar a ser crianças. E tudo é real<br />

no mundo do sonho. Não temos consciência de que estamos a sonhar.<br />

No entanto, nos acontecimentos dum sonho criamos todos os personagens que nos<br />

irão agredir ou dar prazer, ou seja que necessitamos de criar alguém com quem nos<br />

relacionarmos e os respectivos episódios desse relacionamento. Qualquer<br />

complemento para esses acontecimentos, como prédios, carros, barcos, etc.. é criado<br />

por nós (sonhadores). Senão por quem seria?<br />

95


O nosso relacionamento no sonho provoca reacções que se manifestam no nosso<br />

corpo físico. Por exemplo se alguém nesse sonho ameaça matar-nos, o nosso coração<br />

aumenta o ritmo cardíaco e isso é real, mas a pessoa que nos ameaça é uma ilusão.<br />

No sonho convencemo-nos de que o corpo é real. No entanto não há realidade física .<br />

É uma mera ilusão. Temos essa certeza quando acordamos.<br />

É importante compreender esta realidade do sonho pois as mesmas regras aplicam-se<br />

ao nosso corpo chamado real quando nos encontramos acordados. Reagimos apenas<br />

a imagens que nos provocam reacções emocionais.<br />

Quando somos crianças acreditamos na existência do Pai Natal. E é assim porque<br />

quem nos ensinou a acreditar na sua existência foram aqueles em quem mais<br />

confiávamos, por isso acima de qualquer suspeita, os primeiros seres com quem nos<br />

relacionámos desde que tivemos a nossa primeira consciência deste mundo, ou seja,<br />

os nossos pais. No entanto, eles sabiam e nós sabemos que por detrás dessa inocente<br />

mentira, sempre existiu uma verdade, ou seja, não existe um Pai Natal físico, pelo<br />

menos tal como é fantasiado todos os natais. Com o crescimento compreendemos que<br />

existe afinal essa tal outra verdade, que nunca deixou de o ser, mesmo quando nós<br />

acreditávamos noutra.<br />

Também esta realidade, de que temos consciência, presente<strong>mente</strong>, encobre uma outra<br />

realidade tão fantástica que só poderá ser vivenciada depois duma profunda mudança<br />

de mentalidade.<br />

96


O nosso auto-conceito<br />

97


O nosso auto-conceito<br />

O nosso auto-conceito identifica-nos com um corpo. Esse corpo tem a capacidade de<br />

pensar, de dar origem a outros corpos e de morrer para nunca mais voltar. Viverá uma<br />

vida dura com muito sofrimento e alegrias pouco duradouras. Este é o nosso autoconceito<br />

tradicional.<br />

Nesta visão da existência, os corpos matam-se entre eles para terem o poder de mandar<br />

nos outros e de terem mais coisas. Trabalham uma vida inteira, que tem a duração desse<br />

corpo, para, em grande parte, adquirirem aquilo que não necessitam. Vestem roupas para<br />

se taparem pois têm vergonha de se mostrarem despidos. Consideram isso uma<br />

imoralidade. No entanto, pensam as coisas mais horríveis uns dos outros e matam<br />

inocentes sem disso sentirem vergonha. Divertem-se a comer e beber em excesso,<br />

acabando às vezes por adoecer em consequência. Também se divertem vendo filmes<br />

onde choram ou riem com as cenas de morte e violação feitas por outros corpos.<br />

O nosso auto-conceito cria esta realidade. Ela nasce dele. Ou seja, o mundo que vemos<br />

é criado por nós para servir este auto-conceito e depois projectamos imagens no mundo<br />

que não nos deixem duvidar de que o que vemos é verdadeiro.<br />

Quando morremos fisica<strong>mente</strong> este nosso “eu” deixa de existir. E é um paradoxo. Por um<br />

lado ele ameaça-nos diaria<strong>mente</strong> com o medo da morte e por outro é um suicida que<br />

sabe que, quando o corpo deixa de servir, a consciência desse "eu" desaparece.<br />

Cada vez que, temos nova<strong>mente</strong> consciência de ter um corpo, é como se nunca o<br />

tivéssemos tido antes. Bloqueamos a memória de anteriores experiências e voltamos a<br />

re-criar o nosso auto-conceito baseado numa forma física, limitada e mortal.<br />

Quantas vezes se irão repetir estas experiências no mundo da forma? Tantas quantas as<br />

necessárias à compreensão segura e irreversível da nossa verdadeira identidade que,<br />

nunca tendo deixado de o ser, aguarda serena<strong>mente</strong> e alheia ao caos que nos rodeia,<br />

que a reconheçamos. É o regresso a casa, donde nunca saímos. Os corpos gastam-se e<br />

trocam-se por outros. O nosso verdadeiro Ser é imutável e eterno. A sua realidade não é<br />

deste nível de consciência em que nos encontramos. Não tem pressa. Não pertence à<br />

realidade do espaço-tempo.<br />

No entanto, urge que nos lembremos de quem somos. Basta de experiências de<br />

sofrimento e infelicidade. Porquê esta punição? Porquê a morte?<br />

Porque razão repetimos esta odisseia quase interminavel<strong>mente</strong>? Que levará um Ser<br />

imortal e infinito a pensar que é mortal e limitado? Tratar-se-á de um equívoco de<br />

dimensão tão fantástica e proporcional a essa realidade?<br />

Será que esse equívoco terá levado o Ser a uma auto-amnésia que o faz pensar que não<br />

foi criado por outro Ser da mesma realidade. E que portanto é auto-criado, sendo um<br />

corpo. E será que, ao acreditar, equivocada<strong>mente</strong>, ter feito algo tão horrível a Quem o<br />

criou, temerá a destruição, como punição, e terá criado um universo físico onde se<br />

98


efugiou e onde se distribuiu por um número quase infinito de corpos, de modo a nunca<br />

ser descoberto e destruído? E se depois se esqueceu, por amnésia, de que foi ele que<br />

criou essa falsa realidade? E como irá recuperar a consciência de sua verdadeira<br />

identidade?<br />

Normal<strong>mente</strong>, quando alguém sofre de amnésia, procuramos que re-veja cenas e lugares<br />

da sua verdadeira identidade, na tentativa de que se vá recordando de quem real<strong>mente</strong> é.<br />

Será então que as nossas vidas em vez de serem vividas estarão a ser re-vividas para<br />

que nos recordemos um dia quem somos? Eu creio que é esse o caso.<br />

99


A experiência corporal<br />

100


A experiência corporal<br />

Alguns leitores, poderão interrogar-se sobre a pertinência deste capítulo uma vez que não<br />

concebem qualquer outra forma de experiência que não seja aquela que o corpo lhes<br />

proporciona. No entanto garanto-lhes que é pertinente questionar o inquestionável como<br />

única forma de permitir que surjam nas vossas consciências novas realidades nunca<br />

antes experimentadas e que vos aproximarão do conhecimento duma realidade tão<br />

fantástica que apenas poderá ser aflorada. A nossa verdadeira realidade.<br />

Re-conhecer (conhecer de novo) é a razão pela qual vivenciamos as nossas experiências<br />

corporais. Duma maneira perfeita, a Inteligência Universal utiliza um equívoco feito por<br />

nós, a realidade corporal, para através dela e das experiências que iremos re-viver neste<br />

mundo, lembrarmo-nos final<strong>mente</strong>, quem somos. De qual é a nossa verdadeira realidade.<br />

Nada poderia ser mais perfeito. Utilizar o próprio erro como meio para o desfazer.<br />

Será um período de muitos triliões de anos de aprendizagem parte dos quais já<br />

passaram. As mudanças e a compreensão virão à nossa consciência duma forma subtil e<br />

irreversível para que, este equívoco cometido pelo nosso Ser, ou seja a consciência<br />

limitada de que somos um corpo que nasce, vive um tempo e morre, não volte a ser<br />

possível. Para que não volte a existir o mundo da ilusão. Para que a consciência de um<br />

mundo imperfeito se transforme gradual<strong>mente</strong> num mundo feliz antes da consciência final<br />

da nossa identidade.<br />

Estamos convictos da nossa realidade corporal porque dela temos consciência desde os<br />

primeiros anos da nossa vida. Curiosa<strong>mente</strong> ninguém se lembra do dia em que nasceu.<br />

Diaria<strong>mente</strong> somos bombardeados com conselhos de como tratar o nosso corpo, proteger<br />

a sua saúde, como o embelezar, as ocorrências mortais com que as televisões costumam<br />

abrir os seus noticiários, alguém conhecido que morreu, uma criança que nasce, uma<br />

casa mais confortável, novos modelos de roupa, enfim uma variedade infinita de<br />

mensagens que não nos deixam esquecer a nossa identificação com o corpo físico. Se<br />

quiséssemos levar alguém a acreditar que era um corpo, não o sendo, não haveria<br />

maneira mais convincente de o fazer.<br />

Vemos o que queremos acreditar e acreditamos no que vemos.<br />

A maioria acredita que no seu “eu” físico e psicológico, que vive num universo físico que<br />

preexistia à sua chegada, e que sobrevirá depois da sua partida. A dificuldade em<br />

compreender que não é esse o caso está relacionado com o facto de estarmos tão<br />

identificados com o nosso “eu” corporal, que se torna quase impossível conceber outra<br />

existência ao nível da <strong>mente</strong> e que está fora do conceito do tempo e do espaço.<br />

O livro “Curso em Milagres”, explica metafórica<strong>mente</strong> que, quando um pensamento de<br />

separação pareceu ocorrer ao Filho de Deus, este pareceu ter caído num sono e ter<br />

sonhado um sonho, cujo conteúdo é o de que a unicidade se converteu em multiplicidade,<br />

101


e de que a Mente não dualista de Cristo se fragmentou, se separou da sua Fonte e se<br />

dividiu em segmentos de<strong>mente</strong>s e em guerra com eles próprios.<br />

Estes fragmentos projectaram fora da <strong>mente</strong> uma série de sonhos, como scri<strong>pt</strong>s de um<br />

filme, que colectiva<strong>mente</strong> constituem a história do universo físico. Ao nível individual, a<br />

série de dramas que as nossas personalidades egotistas identificam como as nossas<br />

próprias vidas pessoais seriam também projecções das nossas <strong>mente</strong>s fragmentadas e<br />

divididas.<br />

Por isso Shakespeare escreveu que "somos todos actores e actrizes no palco da vida",<br />

vivendo um sonho que vivenciamos como a nossa realidade individual, separada e aparte<br />

de quem somos real<strong>mente</strong>. Ou seja do nosso Ser. Mais ainda, as nossas <strong>mente</strong>s<br />

projectaram muitas personalidades diferentes no sonho colectivo do Filho fragmentado,<br />

complicando assim todo o processo. Portanto a pergunta de “como chegámos até aqui?”<br />

deve ser compreendida nesta perspectiva do sonho colectivo e individual. Por outras<br />

palavras, nós não estaríamos real<strong>mente</strong> aqui, mas sonhando que estamos. Daí que nada<br />

que tenha forma, se mova, se deteriore e final<strong>mente</strong> morre, venha de Deus. Assim, a<br />

aparente majestade do cosmos e a glória da natureza são tudo expressões do sistema<br />

de pensamento separado do ego. Qualquer tentativa de fazer uma excepção a este facto<br />

é tentar negociar com a verdade, exacta<strong>mente</strong> o que o ego deseja para estabelecer a sua<br />

própria existência. Como Jesus disse: “o que é falso é falso e o que é verdade nunca<br />

mudou”. Em conclusão, portanto, nenhum aspecto da ilusão pode ser considerado<br />

verdadeiro, o que significa que nada deste universo material vem de Deus, ou<br />

inclusiva<strong>mente</strong> é conhecido por Ele. A Sua realidade é total<strong>mente</strong> de fora deste mundo<br />

de sonhos.<br />

Como nos diz “Um Curso Em Milagres”: …a lição central é sempre essa: seja para o que<br />

for que o corpo sirva para ti, é isso que ele virá a ser para ti. Usa-o para o pecado ou para<br />

o ataque, que é o mesmo que o pecado e o verás como pecaminoso. Porque é<br />

pecaminoso é fraco e, sendo fraco, sofre e morre. Usa-o para trazer o Verbo de Deus<br />

àqueles que não o têm e o corpo vem a ser santo. Por ser santo, não pode adoecer nem<br />

pode morrer. Quando a sua utilidade finda, ele é deixado de lado e isso é tudo. A <strong>mente</strong><br />

toma essa decisão como toma todas as decisões que são responsáveis pela condição do<br />

corpo.”<br />

A afirmação acima feita é uma clara declaração de que o corpo é neutro, que a sua única<br />

função é a de servir de veículo de comunicação neste mundo físico, não tem qualquer<br />

poder porque não decide nada e que a doença e a cura dele é decidida exclusiva<strong>mente</strong><br />

pela <strong>mente</strong>.<br />

102


O que é a salvação<br />

103


O que é a salvação<br />

Kenneth Wapnick no seu livro “ Love Does Not Condemn”, diz-nos que, de acordo com “ A<br />

Course In Miracles” a salvação é: a correcção do equívoco da separação.<br />

É comparada ao processo de correcção que desfaz o erro através da mudança do<br />

pensamento, não pela penitência, nem pelo sacrifício do corpo, como normal<strong>mente</strong> é<br />

ensinado. O instrumento da salvação (do nosso pensamento egótico) é o perdão (ver o<br />

capítulo respectivo), ou seja, a correcção da nossa percepção errada dos outros.<br />

Onde julgámos alguém como sendo nosso inimigo, o agente ou causador de uma<br />

angústia, agora esse mesmo indivíduo é visto como nosso amigo. Este sistema de<br />

pensamento ensina que perdoamos os outros pelo que eles não nos fizeram, mas pelo<br />

que pensámos que eles nos fizeram. Significando que a razão pela qual julgávamos estar<br />

angustiados não é pelas acções dos outros, mas sempre como percepcionámos as suas<br />

acções. Aparentes ataques são corrigidos na nossa percepção de modo a que agora<br />

possam ser vistos como um pedido de ajuda ou amor.<br />

Assim o sistema de pensamento descrito em “A Couse In Miracles” pretende ensinar uma<br />

outra maneira de ver o mundo. Esta visão não nega as acções externas ou<br />

comportamentos que os nossos órgãos dos sentidos nos informam, mas simples<strong>mente</strong> reinterpreta<br />

o que vimos ou, mais propria<strong>mente</strong>, o que nós acreditámos que vimos.<br />

Recordamos também que, o ego, começa por nos convencer da realidade desta trindade,<br />

pecado, culpa e medo, culminando na crença de que quem pecou contra Deus procura a<br />

punição para si mesmo, e que não deverá de confiar na sua Voz Interior e que deverá<br />

libertar-se Dela. O ego efectiva<strong>mente</strong> convenceu o Filho de Deus a negar o seu papel na<br />

“raiva de Deus”: nomeada<strong>mente</strong> de que ele atacou Deus primeiro: e este é o seu pecado.<br />

Projectando o seu pecado em Deus, o Filho acredita agora que Deus o está a atacar e<br />

injusta<strong>mente</strong>.<br />

Então, o pecado e a culpa primeiro foram negados e depois projectados. O próximo passo<br />

projectará o pensamento da separação da <strong>mente</strong>, fazendo (criando errada<strong>mente</strong>) um<br />

mundo físico, Big-Bang, e um corpo para o vivenciar como separado dele, e<br />

independente da <strong>mente</strong> que o criou. O ego reconhece de que, se o Filho de Deus se<br />

lembra que fez o mundo, também compreenderá que é ilusório e feito para esconder dele<br />

o pecado e a culpa, para não mencionar a presença do amor na sua <strong>mente</strong> que, desfaria<br />

o pecado através do perdão daquilo que nunca existiu. Por outras palavras o Filho<br />

simples<strong>mente</strong> despertaria de um sonho mau de separação do seu Criador.<br />

Devido à eficácia da negação de que somos nós que criamos o mundo e das projecções<br />

que fazemos nele, o mundo do tempo e do espaço, ao nível da nossa experiência<br />

individual, torna-se para nós bastante real que ele pareça ser externo às nossas <strong>mente</strong>s.<br />

Por isso inevitavel<strong>mente</strong> consideramos que somos vítimas de forças fora do nosso<br />

controlo.<br />

Como já foi explicado, a correcção desse erro que nos fez acreditar na realidade deste<br />

mundo, em primeiro lugar tem de ocorrer na <strong>mente</strong>, porque é onde o erro ocorre. A<br />

104


<strong>mente</strong>, e não o corpo, é o elemento activo no sonho do mundo separado, e portanto não<br />

faria qualquer sentido corrigir o erro onde ele não está; no entanto é claro que o ego<br />

tentará, de forma contínua, convencer-nos do contrário.<br />

105


A natureza da verdadeira realidade<br />

106


A natureza da verdadeira realidade<br />

Não é fácil compreendê-la. Diria até que é quase impossível fazê-lo atendendo à<br />

distorção da compreensão a que a nossa forma de pensamento nos levou. Também<br />

porque é muito difícil concebermos algo fora da dimensão espaço-tempo.<br />

A nossa verdadeira realidade não é uma dimensão física ou experiência, dado que é<br />

criada por Deus e como Deus, não tem forma, é imutável, eterna , amor infinito, sem<br />

limites e unicidade perfeita. Uma unicidade não dualista. A verdadeira realidade é<br />

sinónimo de Céu e obvia<strong>mente</strong> não pode estar relacionada de nenhuma maneira com o<br />

universo da forma física, a que o mundo chama realidade. Sendo imutável, a verdadeira<br />

realidade é permanente e fixa, e por isso qualquer pensamento de separação ( vermo-nos<br />

separados e com vidas individuais) é impossível e por isso nunca aconteceu. Como é um<br />

estado não dualista, a realidade está para além da percepção, pois a percepção<br />

pressupõe uma dicotomia assunto-objecto que é inerente<strong>mente</strong> dualista e por isso não<br />

pode ser real. Realidade é também sinónimo de conhecimento, o estado de ser chamado<br />

Céu.<br />

Quando pensamos em Deus, Ele surge-nos como uma ideia. Se somos feitos à sua<br />

imagem então a nossa verdadeira realidade não é uma forma que dura um determinado<br />

tempo e que parece vagabundear num mundo sem salvação e onde o medo rege as suas<br />

experiências.<br />

107


A natureza de Deus<br />

108


A natureza de Deus<br />

A nossa identificação com o sistema de pensamento do ego, leva-nos a ter uma ideia de<br />

Deus que não pode deixar de ser à nossa imagem ou seja, com uma forma<br />

antropomórfica, um velho de barbas que satisfaz os seus caprichos destinando ao<br />

sofrimento e à morte aqueles que ousam ofendê-lo. É essa a razão principal porque,<br />

inconsciente<strong>mente</strong>, não queremos questionar a realidade deste mundo. O medo da<br />

vingança de Deus.<br />

O ego induziu na nossa <strong>mente</strong> a ideia de que Deus procura vingança contra o Filho que<br />

se atreveu a separar Dele. Por isso o Filho procurou esconder-se do seu Pai no mundo<br />

físico, em corpos, na esperança de não ser encontrado pois, se for, será destruído<br />

impiedosa<strong>mente</strong> pela tentativa de usurpação da Causa, o lugar de Deus (este foi o<br />

pensamento de separação). Por isso teremos de vivenciar um número de vidas<br />

necessário ao total desfazer mental desse terrível equívoco que se criou na <strong>mente</strong> do<br />

Filho de Deus, de que Deus é o seu inimigo e que só o mundo físico o poderá salvar. Por<br />

isso renascemos uma e outra vez até que o que nos ensinámos a nós próprios seja<br />

completa<strong>mente</strong> corrigido e aceitemos plena<strong>mente</strong> a nossa condição natural. A de Filhos<br />

de Deus.<br />

Primeiro que tudo é necessário reconhecer que Deus é um Ser não dualista, no Qual não<br />

existem opostos. É o criador da vida, um Ser de Amor puro e a Fonte e Primeira Causa de<br />

uma realidade e de totalidades não físicas, Aquele que tudo contém, fora do qual nada<br />

existe e o Qual é tudo. A natureza da nossa Fonte não pode ser descrita ou real<strong>mente</strong><br />

compreendida. A natureza de Deus não pode ser escrita porque é uma realidade não<br />

dualista e porque as palavras faladas e escritas que expressam o pensamento duma<br />

<strong>mente</strong> dividida são dualistas. Por isso qualquer tentativa de descrever o não dualismo<br />

falhará e inevitavel<strong>mente</strong> será redutora ao expressar a realidade da unicidade que está<br />

para além da expressão. Simples<strong>mente</strong> é.<br />

109


Mudar a nossa realidade<br />

110


Mudar a nossa realidade<br />

Qualquer caminho por maior que seja a distância, inicia-se com o primeiro passo. Quando<br />

se tomam as decisões e se acompanham com um pensamento claro e persistente, a<br />

realidade muda. Pensar, falar, sentir e actuar de forma a aproximarmo-nos da meta, sem<br />

fissuras nem contradições, é o único segredo. Essa é a fé capaz de mover montanhas.<br />

Esse é o poder que reside dentro de cada um e que habitual<strong>mente</strong> nos foge, porque nos<br />

dá muito trabalho em manter essa forma de pensar.<br />

O macaco da nossa <strong>mente</strong> salta de uma coisa para a outra e o seu passatempo favorito é<br />

disfarçar-se no tempo. No antes e no depois. Também o ruído interno que nos<br />

acompanha diaria<strong>mente</strong>, é outro dos aliados do medo. É outra das suas camuflagens,<br />

outra das manhas do ego para que nos esqueçamos de quem somos.<br />

Não espere por amanhã para dizer " este é o primeiro dia do resto da minha vida". Não<br />

espere, porque cada instante é único e pode ser o começo doutra forma de se aventurar<br />

nessa viagem interior que é a vida. Decida que a liberdade é sua. Agora mesmo tome<br />

consciência de que este é o primeiro momento de todo o tempo que lhe resta para viver.<br />

Aqui começa, se você quiser, a sua nova vida. É seu o privilégio de vivê-la na plenitude.<br />

Tem todo o direito a ser feliz. Convença-se disso. Pare por um momento e recorde quem<br />

é.<br />

As nossas experiências podem registar-se como o negativo de uma fotografia: cinzentas,<br />

pretas, brancos sujos ou então a cores, com muita luz e cor. A escolha, como sempre, é<br />

sua. Uma das chaves principais é a atenção. A observação pessoal. A tomada de<br />

consciência.<br />

Aumentar o nível de consciência, expandi-la, é aumentar as perspectivas de visão da<br />

realidade. Existe todo um universo que se estende mais além dos limites da nossa<br />

percepção.<br />

111


O perdão<br />

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O perdão<br />

O perdão é a chave para a mudança de mentalidade. Através duma correcção da <strong>mente</strong>,<br />

desfazem-se os princípios de negação e projecção, invertendo a direcção que a <strong>mente</strong><br />

tomou quando seguiu o conselho do ego e portanto escolheu ver cenas de drama e<br />

sofrimento da nossa vida. Essas cenas, como já foi dito, são a materialização de<br />

pensamentos equivocados dirigidos pelo nosso ego que como sabemos apenas visa obter<br />

sofrimento e dor.<br />

O Perdão como instrumento da libertação do sistema de pensamento do ego, pode ser<br />

sintetizado como um processo de três etapas:<br />

- A primeira etapa consiste em compreender que a causa do nosso mundo pessoal de<br />

sofrimento e dor, de vitimas e vitimização, não está no que parece ser externo, mas<br />

nas nossas próprias <strong>mente</strong>s. Dado que o mundo exterior não é mais do que um<br />

espelho do que está na <strong>mente</strong>, é um sonho não diferente da dinâmica do sonho<br />

quando estamos a dormir e onde nada “real” se passa, onde tudo o que ocorre nas<br />

nossas vidas foi literal<strong>mente</strong> sonhado por nós. Não existe real<strong>mente</strong> ninguém fora de<br />

nós, exce<strong>pt</strong>o aquelas figuras que introduzimos no nosso sonho. E uma vez<br />

reconhecida esta condição, podemos avançar para a segunda etapa.<br />

- Agora podemos escolher de novo qual será o sistema de pensamento cujo conselho<br />

iremos seguir. Em cada dificuldade, angústia, e dor, a Voz Interior parece dizer-nos “<br />

escolhe outra vez”. Recapitulando os passos do perdão, as primeiras questões da<br />

validade do ego de vitima e vitimização: que estamos sujeitos a forças externas e para<br />

além do nosso controlo. Trazer o problema do pecado e da culpa à nossa <strong>mente</strong> que é<br />

onde ele verdadeira<strong>mente</strong> pertence, não em alguém ou em alguma coisa.<br />

A segunda etapa fica agora completa permitindo que possamos reconsiderar a primeira<br />

decisão de acreditar no ego. A base do problema foi acreditar que éramos pecadores e<br />

culpados. Agora essa crença pode ser analisada de novo, desta vez com a Voz Interior, e<br />

o nosso investimento nela é retirado. Uma vez que esta escolha é feita e a nossa decisão<br />

alterada, a culpa desaparece, uma vez que ali estava suportada apenas pela nossa<br />

crença nela. O que resta então é o Amor de Deus que sempre ali esteve. A terceira etapa,<br />

portanto, não é uma etapa real<strong>mente</strong>. É o resultado natural e inevitável da aceitação (as<br />

primeiras duas etapas) da correcção feita pela Voz Interior. Por isso o "Course in<br />

Miracles" diz-nos que as primeiras duas etapas são da nossa responsabilidade e a<br />

terceira não. Como um farol, a Voz Interior dirige o seu raio para as águas da <strong>mente</strong><br />

escurecidas pela culpa, como uma bóia de segurança e direcção para todos os que estão<br />

perdidos no mar do ego.<br />

Tal como num scri<strong>pt</strong> dum filme, escolhemos os cenários, ou seja o lugar onde vamos<br />

nascer, os nossos pais, o nosso país, a raça e todas as outras condições com que onde<br />

iremos vivenciar esta experiência a que chamamos vida e onde também escolhemos o<br />

papel de actor principal deste filme. Tudo parece obedecer a um plano perfeito para o<br />

qual ainda não temos compreensão. As condições ideais para uma aprendizagem. A<br />

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aprendizagem do significado do perdão. Perdoar é não valorizar. É não dar realidade<br />

aquilo que, por mais real que nos pareça, nunca aconteceu. É um sonho do qual ainda<br />

não despertámos. Então, se é um sonho, quem poderemos então culpar dos nossos<br />

problemas?<br />

Imagine, por exemplo, que inadvertida<strong>mente</strong> entra numa sala para si desconhecida, e que<br />

depara com um homem que, com uma serra na mão, está a serrar uma mulher numa<br />

aparente tentativa de homicídio brutal. Imagine agora que a sua reacção perante tal cena<br />

foi a de atirar-se violenta<strong>mente</strong> ao presumível homicida tentando assim evitar o seu acto<br />

demoníaco. Imagine também que, depois de agarrar o pescoço do seu opositor e de o<br />

começar a apertar furiosa<strong>mente</strong>, se dá conta das gargalhadas de um grupo de pessoas<br />

que assistiam a um número de ilusionismo nessa mesma sala onde você terá entrado<br />

sem se dar conta. Então agora o tal homem que empunhava a serra ainda lhe parece<br />

culpado de tentativa de homicídio? Não nos esqueçamos que este é um mundo de<br />

aparências. De ilusões.<br />

Neste mundo de ilusões também culpamos os outros por aquilo que nos parece<br />

acontecer.<br />

Através do perdão, ou seja do reconhecimento da ilusão, chegaremos ao conhecimento<br />

do Amor. Só eliminando a culpa em nós e libertando os outros dela poderemos atingir um<br />

estado mental que nos fará conhecer uma realidade diferente ainda neste mundo. A<br />

realidade de um mundo mais feliz.<br />

O perdão é a chave para percepcionar essa nova realidade.<br />

A nossa proximidade ao écran onde é projectado o nosso filme, não nos permite abranger<br />

essa outra realidade onde poderíamos reconhecer facil<strong>mente</strong> as ilusões. Não<br />

conseguimos ter consciência da globalidade. A nossa identificação com o actor principal é<br />

tão grande que não nos permite questionar a realidade do mundo que percepcionamos<br />

com os nossos sentidos. Não questionamos esta realidade porque estamos demasiado<br />

ocupados em defendermo-nos dela. Corremos para os empregos, tratamos dos filhos,<br />

tratamos dos pais doentes, fazemos contas ao dinheiro que às vezes não chega e<br />

fazemos férias desgastantes. Haverá melhor maneira de evitarmos a reflexão e o<br />

questionamento desta realidade?<br />

A nossa atenção é desviada intencional<strong>mente</strong> pelo nosso inconsciente para tarefas de<br />

sobrevivência com o objectivo de que o nosso auto-conceito não seja posto em causa.<br />

Inconsciente<strong>mente</strong> tememos a nossa espiritualidade. Pensamos ser auto-criados.<br />

Preferimos acreditar que somos meros esqueletos andantes num mundo desolador de<br />

sofrimento e morte. Um mundo sem esperança. Um mundo limitado ao que os nossos<br />

sentidos percepcionam.<br />

Procuramos a imortalidade desde os tempos mais remotos. Somos capazes de matar por<br />

ela. As experiências laboratoriais secretas em seres humanos atingem já limites que<br />

desafiam a ética. E no entanto, a nossa amnésia colectiva faz-nos esquecer que já somos<br />

aquilo que tanto procuramos, mas do qual ainda não temos consciência. Que já somos e<br />

sempre fomos imortais ao sermos criados pela própria Imortalidade.<br />

114


Uma alternativa real<br />

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Uma alternativa real<br />

Todos nós pensamos encontrar no mundo exterior as soluções para os problemas que a<br />

vida nos proporciona. Por exemplo, quando alguém tem dificuldades económicas procura<br />

apoios junto dos bancos, dos familiares ou vende algo que possui.<br />

No entanto, se essa necessidade não foi pontual, e se se trata da repetição duma situação<br />

que já antes se tinha verificado, é possível que após o período de conforto proporcionado<br />

pelo auxilio que se recebeu, o mesmo fenómeno venha a repetir-se. Pode não ser no<br />

mesmo contexto mas, uma atenta observação mostrará que o conteúdo da situação é a<br />

mesmo. Voltará a ser uma dificuldade financeira.<br />

Podemos mudar de terra, de projecto e até de método mas o problema repetir-se-á<br />

indefinida<strong>mente</strong> até que compreendamos que as soluções procuradas no exterior são<br />

apenas uma forma de nunca mais resolver o problema, ou seja que servem apenas para<br />

perpetuá-lo. E cada vez que nos surge o mesmo tipo de problema é como se alguém no<br />

nosso interior nos dissesse: “escolhe de novo”.<br />

O exemplo acima descrito serve como referência a qualquer situação a qual, embora<br />

tenhamos feito tudo para a resolver, teima em surgir periodica<strong>mente</strong> na nossa vida.<br />

Se persistirmos numa escolha feita no mundo exterior para resolver um problema aí<br />

percepcionado, seremos certa<strong>mente</strong> confrontados de novo com a rejeição, abandono,<br />

carência e sofrimento. Só uma mudança na nossa forma de pensar poderá mudar o que<br />

iremos percepcionar com os nossos sentidos. A solução do nosso problema crónico. Não<br />

há excepções a esta regra.<br />

A pergunta que deveremos fazer quando confrontados com qualquer aflição crónica, é:<br />

“porque é que eu estou a fazer a isto a mim mesmo?” De seguida devemos procurar dentro<br />

de nós a culpabilidade que, insuspeita<strong>mente</strong>, nos está a fazer da vida um inferno.<br />

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O mundo exterior<br />

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O mundo exterior<br />

O mundo exterior é neutro. Tem o significado que queremos que ele tenha para nós.<br />

Somos nós que o valorizamos. Um índio da Amazónia despreza o dinheiro, porque não<br />

lhe vê utilidade a não ser para acender uma fogueira. O mesmo não se passa com o<br />

comum dos cidadãos que faz da acumulação do dinheiro, o primeiro objectivo da sua<br />

vida.<br />

A interpretação do mundo que o sistema de pensamento do ego quer que utilizemos é<br />

baseado na trindade: pecado, culpa e castigo. E é isso que projectamos no nosso sonho<br />

colectivo. Acreditamos que o pecado é real e que ao sermos culpados merecemos<br />

castigo. Depois projectamos os nossos castigos. Eles podem ser desde a doença física,<br />

nossa ou de próximos, poderá ser a carência financeira, poderá ser o fracasso<br />

profissional, a solidão, o assassinato, a violação, etc…<br />

Como poderemos despertar (salvação) deste sonho tão dramático e redutor do Filho de<br />

Deus? Não o podemos fazer sem ajuda. Todas as soluções que procuremos para<br />

melhorar a nossa visão deste sonho, serão viciadas, dado que as soluções serão sempre<br />

concebidas dentro do mesmo quadro de referências do ego.<br />

É por isso que podemos assistir à proliferação de novas correntes de pensamento<br />

habil<strong>mente</strong> disfarçadas pelo ego com falsas bases de santidade e que visam a<br />

reprogramação da <strong>mente</strong>. No entanto, como é típico do ego, elas servem apenas para<br />

reforçar a convicção na realidade deste mundo. Assim, essas reprogramações visam a<br />

rápida obtenção de mais bens materiais ao invés de procurarem a razão porque que é<br />

que eles não abundam na vida ilusória de cada um.<br />

O investimento no sistema de pensamento do ego, no materialismo, diminui o<br />

investimento na nossa visão espiritual, mas, também o contrário é verdadeiro. As religiões<br />

ou sistemas de pensamento que advogam a punição do corpo ou a sua purificação<br />

defendem ambas a sua existência e atribuem-lhe o poder da responsabilidade da<br />

salvação. Não faz sentido considerar um instrumento de aprendizagem como sendo a<br />

própria lição.<br />

118


A mudança de mentalidade<br />

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A mudança de mentalidade<br />

Para uma verdadeira mudança na nossa vida é obrigatória uma mudança de mentalidade.<br />

Para tal é imprescindível não esquecer e compreender o segredo da salvação: “o de que<br />

estamos a fazer isto a nós próprios. Não importa a forma de sofrimento ou dor, continua a<br />

ser verdadeiro.<br />

Seja quem for que tome o papel de inimigo continua a ser verdadeiro. Seja qual for aquilo<br />

que parece ser a causa de qualquer dor e sofrimento que sintamos, continua a ser<br />

verdadeiro. De certeza que não reagiríamos a estas figuras num sonho que soubéssemos<br />

que estávamos a sonhar. Deixemo-las serem tão odiosas e viciosas quanto queiram, não<br />

podem ter nenhum efeito sobre nós a não ser que nós não nos lembremos que se trata<br />

apenas dum sonho”. E quando nos sentimos zangados, depressivos ou culpados ajuda<br />

muito entender que é mera<strong>mente</strong> uma ESCOLHA. O que temos de fazer, simples<strong>mente</strong>, é<br />

fazer OUTRA.<br />

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A cura<br />

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A cura<br />

Nunca será demais repetir a questão essencial: uma vez que só a <strong>mente</strong> pode estar<br />

doente, só a <strong>mente</strong> pode ser curada. Apenas a <strong>mente</strong> pode ter necessidade de cura. Esta<br />

não parece ser a realidade da nossa experiência, dado que as manifestações deste<br />

mundo parecem ser inquestionavel<strong>mente</strong> reais. Todo aquele que quer mudar deve<br />

primeiro questionar a sua realidade. Ele poderá começar a abrir a sua <strong>mente</strong> sem uma<br />

ajuda formal, mas mesmo nesse caso é porque uma mudança nas suas relações<br />

interpessoais lhe permitiu fazê-lo.<br />

Seja como for, a pessoa deverá ser conduzida a questionar a realidade das ilusões. No<br />

fundo trata-se de remover os obstáculos para a verdade. Assemelha-se a um viagem num<br />

dia de nevoeiro cerrado no qual começamos a apercebermo-nos de silhuetas conforme<br />

ele se torna menos denso ou nos aproximamos do nosso objectivo. Ninguém no mundo<br />

escapa ao medo mas qualquer um pode reconsiderar as suas causas e aprender a<br />

valorizá-las correcta<strong>mente</strong>.<br />

Quem precisar de ajuda, independente<strong>mente</strong> da sua preocupação, é porque está a<br />

atacar-se inconsciente<strong>mente</strong> a si mesmo, através da culpa e consequente<strong>mente</strong> perdeu a<br />

sua tranquilidade.<br />

Estas tendências são muitas vezes consideradas auto-destrutivas e muitas vezes a<br />

pessoa considera-as dessa forma. O que ele não compreende e precisa aprender é que<br />

este “eu” , que pode atacar e ser atacado, é o seu auto-conceito. Ela alimenta-o e<br />

defende-o e, muitas vezes até, está disposto a sacrificar a sua vida por ele (suicidio)).<br />

Porque ele considera-o como sendo ele mesmo. É impossível manter este auto-conceito<br />

tal como ele é sem sofrimento. Para a crença de<strong>mente</strong> isso é possível. Mas, para a<br />

<strong>mente</strong> correcta isso é clara<strong>mente</strong> impossível, então procura-se a magia (o que não é da<br />

verdade).<br />

Por exemplo: cortamos o cabelo, mudamos o visual, mudamos de país, mudamos de<br />

parceiro, etc. Em ilusões o impossível é facil<strong>mente</strong> conseguido mas só a custa de novas<br />

ilusões. Ou seja não houve nenhuma mudança interior. Então a pessoa parece apresentar<br />

uma nova energia, uma nova alegria, um dinamismo diferente. No entanto, mais cedo ou<br />

mais tarde, noutro cenário, os mesmos problemas voltarão a repetir-se.<br />

Sem um entendimento correcto da nossa realidade como seres perfeitos e da razão da<br />

passagem por estas consciências corpóreas torna-se difícil a evolução em direcção a<br />

casa.<br />

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Epílogo<br />

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Epílogo<br />

Uma mudança de mentalidade acarreta inevitavel<strong>mente</strong> algum sofrimento e desconforto.<br />

É uma ilusão própria do ego pensarmos que a nossa vida muda pelo simples facto de<br />

mudarmos de cidade ou de parceiro e deixando intacto o nosso auto-conceito. É<br />

necessário que ele mude. E por isso, quando começa uma verdadeira mudança no nosso<br />

interior, geram-se conflitos e uma aparente solidão ao sentirmos que aquilo que tanto<br />

valorizámos e que aparente<strong>mente</strong> nos dava satisfação, deixou de o fazer. Surge uma<br />

espécie de raiva por já não apreciarmos o que antes tanto apreciávamos. Parece que<br />

perdemos as nossas referências no mundo. O nosso auto-conceito leva-nos a fazer a<br />

pergunta: Então, para quê viver?<br />

Simultanea<strong>mente</strong>, uma paz brotando do mais profundo do nosso ser vem, gradual<strong>mente</strong>,<br />

substituir essa ansiedade, permitindo-nos olhar para os valores que o mundo nos oferece<br />

com mais distanciamento e desapego. Final<strong>mente</strong> podemos entender qual o verdadeiro<br />

propósito do mundo. Um lugar onde viemos para aprender que o nosso irmão é o nosso<br />

salvador independente<strong>mente</strong> da forma que ele tenha. Que será escutando o seu pedido<br />

de ajuda e respondendo-lhe que nós nos ajudaremos a nós próprios. Compreenderemos<br />

final<strong>mente</strong> que aquele que atacávamos afinal éramos nós próprios. Porque todos somos<br />

um.<br />

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Fim<br />

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