Lamego no séc. XIX - Câmara Municipal de Lamego
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embrulhadas, peles <strong>de</strong> porco, feixes <strong>de</strong> tojo e animais. Durante o tempo em que Silveira 2<br />
permaneceu na ocupação <strong>de</strong> <strong>Lamego</strong>, estas ligações habituais foram interrompidas e os<br />
barcos foram afundados, e em consequência, a miséria reinante na Régua aumentou, cujos<br />
habitantes são principalmente constituídos por galegos comerciantes <strong>de</strong> vinho que vivem <strong>de</strong><br />
pão pesado amarelo feito a partir do milho 3 , uma mistura que para aqueles que o po<strong>de</strong>m<br />
comer é particularmente saudável, um pouco <strong>de</strong> vinho, castanhas cozidas, bacalhau ou arroz<br />
temperado com óleo <strong>de</strong> sardinhas. De facto o lugar é muito peque<strong>no</strong> e não <strong>de</strong>ve ter mais <strong>de</strong><br />
dois mil habitantes. Durante a permanência da feira, <strong>no</strong> mês <strong>de</strong> fevereiro ou março, as<br />
quintas vizinhas e casas particulares estão lotadas com os comerciantes já que não existem<br />
pousadas para os receberem. Os membros da Companhia do Alto Douro têm um edifício<br />
situado <strong>no</strong> centro da cida<strong>de</strong> que é unicamente <strong>de</strong>stinado ao seu próprio alojamento […]<br />
Na travessia do Douro da Régua para <strong>Lamego</strong>, <strong>de</strong>ixamos a Capela <strong>de</strong> São Domingos para a<br />
esquerda, e uma rua estreita para a uma certa distância se alongar uma estrada <strong>no</strong>va e<br />
excelente que sobe gradualmente ao lado <strong>de</strong> uma montanha íngreme. Naquelas al<strong>de</strong>ias,<br />
ambas com o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> Portela 4 e que só são separadas pela distância <strong>de</strong> uma milha, os<br />
habitantes tinham sido recentemente abençoados por uma visita das tropas <strong>de</strong> Silveira.<br />
Como um camponês <strong>no</strong>s disse, o próprio herói arrancou para o lugar como um louco, e<br />
bebeu nas ruas abertas vinho da casa como um tropeiro. As suas tropas irregulares<br />
cometeram gran<strong>de</strong>s excessos em <strong>Lamego</strong>, e foram impostas aos comerciantes severas taxas.<br />
Ele entrou naquela cida<strong>de</strong> a cavalo, gritando Vivas para Silveira, e obrigou os moradores a<br />
<strong>de</strong>corar as suas casas, em honra <strong>de</strong> sua chegada, mesmo com os lençóis das suas camas.<br />
Outra história que po<strong>de</strong> estar relacionada com este ilustre e po<strong>de</strong> ajudar a clarificar o seu<br />
verda<strong>de</strong>iro carácter. Num bairro <strong>de</strong> <strong>Lamego</strong> entrou numa casa ao meio-dia, e exigiu jantar<br />
para ser servido imediatamente. Alguns atrasos inevitáveis ocorreram e tão exasperado ficou<br />
o <strong>no</strong>bre chefe, que subiu para a cozinha, açoitando a totalida<strong>de</strong> dos servos com o seu<br />
chicote, e impondo uma porção <strong>de</strong>smedida <strong>de</strong> disciplina para o cozinheiro infeliz, que não<br />
foi igualmente rápido a servir.<br />
A Marquesa <strong>de</strong> Chaves, que acompanhou o marido na ocasião, roubou numa casa em<br />
<strong>Lamego</strong>, em que ela se intrometeu, uma jarra <strong>de</strong> prata e bacia, e uma colcha valiosa <strong>de</strong><br />
tecido <strong>de</strong> ouro, que <strong>no</strong> conjunto tinham um valor consi<strong>de</strong>rável. Ela montou numa mula, com<br />
uma faixa militar presa à volta da sua cintura, e o seu chapéu amarrado por um lenço<br />
vermelho, juntamente com os soldados comuns, à maneira <strong>de</strong> Comandante dos Caçadores.<br />
Aparentando-se a uma Amazona, ela é publicamente acusada <strong>de</strong> ter encorajado seus homens<br />
2 Este Silveira, presumimos tratar-se <strong>de</strong> Manuel da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira, 1º Marquês <strong>de</strong> Chaves,<br />
um dos principais apoiantes do miguelismo, opositor ao regime saído da Revolução Liberal <strong>de</strong> 1820. Era filho<br />
<strong>de</strong> Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira, 1º Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amarante.<br />
3 Broa <strong>de</strong> milho amarelo (?)<br />
4 Presumimos tratar-se do lugar <strong>de</strong> Portelo <strong>de</strong> Cambres<br />
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