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João Cruz Costa - Curso Independente de Filosofia

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posição em favor da abolição da escravatura. Em 1880, Teixeira Men<strong>de</strong>s, Anibal Falcão<br />

o Teixeira <strong>de</strong> Sousa publicavam na Gazeta da Tar<strong>de</strong>, um projeto <strong>de</strong> abolição subordinado<br />

ao título: Apontamentos para a solução do problema social no Brasil, cujas bases<br />

seriam: a supressão imediata do regime escravagista; a adstrição do trabalhador escravo<br />

ao solo, sob a direção <strong>de</strong> seus respectivos chefes; supressão dos castigos corporais e do<br />

regime <strong>de</strong> aquartelamento, pela generalização da vida <strong>de</strong> família; <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho, com <strong>de</strong>scanso aos domingos; criação <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> instrução<br />

primária nos centros agrícolas, mantidas pelos gran<strong>de</strong>s proprietários e fixação <strong>de</strong> um<br />

salário ao trabalhador. Esse projeto não obteria a aprovação <strong>de</strong> Miguel Lemos, pois,<br />

como ele observava em O Positivismo e a Escravidão Mo<strong>de</strong>rna, tal projeto apenas<br />

transformaria o escravo em servo da gleba, apenas mudaria o nome à verda<strong>de</strong>ira condição<br />

do escravo, que "continuaria no mesmo estado, ou antes, mais exposto à cobiça e à<br />

brutalida<strong>de</strong> dos senhores".<br />

De volta da França, consagrado aspirante ao sacerdócio da Humanida<strong>de</strong>, em<br />

1880, Miguel Lemos passara a dirigir a Igreja Positivista do Brasil, em que se transformara<br />

a antiga socieda<strong>de</strong> positivista, o que <strong>de</strong>terminaria, logo <strong>de</strong>pois, o <strong>de</strong>sligamento <strong>de</strong><br />

alguns dos seus antigos membros, entre eles Benjamin Constant. A partir <strong>de</strong> então Benjamin<br />

Constant afasta-se dos apóstolos positivistas.<br />

Desenvolver o culto, organizar o ensino e intervir oportunamente nos negócios<br />

públicos, tal foi a tarefa a que se propôs Miguel Lemos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que assumiu a direção da<br />

Igreja Positivista do Brasil, em julho <strong>de</strong> 1881. Também ao jovem apóstolo, como a Pereira<br />

Barreto, se afiguravam favoráveis, naquele momento, as condições da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira para uma gran<strong>de</strong> transformação. As elites estavam ansiosas para uma renovação,<br />

mas espiritual e socialmente os comportamentos tradicionais da nossa socieda<strong>de</strong><br />

mantinham-se. Em 1870 apareceu o Manifesto Republicano, que pouco alcance tivera;<br />

recru<strong>de</strong>scera a luta pela emancipação do escravo; a guerra do Paraguai <strong>de</strong>terminara organização<br />

do exército nacional e, em torno <strong>de</strong>ste iria cristalizar-se o rudimento <strong>de</strong> burguesia<br />

que ensaiava então a sua ascensão política, mas ainda sem forças para <strong>de</strong>terminar<br />

uma mudança na estrutura da socieda<strong>de</strong> imperial, dominada pela burguesia territorial.<br />

17 - Positivismo e República.<br />

Ao movimento republicano a<strong>de</strong>riam os positivistas. Submissos porem aos preceitos<br />

<strong>de</strong> Augusto Comte, ao que estipulava o Manifesto Inicial da Socieda<strong>de</strong> Positivista<br />

<strong>de</strong> Paris, eram republicanos mas a seu modo, “à sua originalíssima maneira”. Embora<br />

concordando com os outros republicanos na superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa forma <strong>de</strong> governo, “diferiam<br />

<strong>de</strong>les profundamente em muitos pontos essenciais; em certos pontos estavam em<br />

completo antagonismo com os signatários do Manifesto <strong>de</strong> 1870. Em boa verda<strong>de</strong>, estes<br />

eram antes <strong>de</strong> tudo <strong>de</strong>mocratas, e os positivistas, no i<strong>de</strong>alizarem a sua organização republicana,<br />

não eram propriamente isto, não pareciam cortejar o elemento <strong>de</strong>mocrático;<br />

pelo menos no tipo <strong>de</strong> governo que concebiam, a <strong>de</strong>mocracia não ocupava um gran<strong>de</strong><br />

lugar; po<strong>de</strong>-se mesmo dizer que tinha pouco que fazer”. Em breve, pois, os positivistas<br />

ortodoxos <strong>de</strong>sligar-se-iam do movimento da propaganda republicana e o novo regime se<br />

faria sem eles e apesar <strong>de</strong>les. Assim, “é <strong>de</strong>scabida, por exagerada, a força que se tem<br />

atribuído ao positivismo-religião no advento político da República”. Pouco antes <strong>de</strong> 15<br />

<strong>de</strong> novembro, em 1887, estavam eles mais atentos à marcha dos acontecimentos que se<br />

<strong>de</strong>senrolavam na França — no “povo central”, como diziam — on<strong>de</strong> então o General<br />

Boulanger ameaçava as instituições republicanas; com o culto religioso e com as seqüelas<br />

<strong>de</strong>ixadas pela ruptura entre eles e o grupo <strong>de</strong> Pierre Laffitte, com o qual, afinal, também<br />

Miguel Lemos se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>ria. Surpresos, tiveram notícias do advento da República.<br />

“Nós estávamos alheios a tudo quanto se tramava”, escrevia Teixeira Men<strong>de</strong>s.<br />

“Não aconselhamos e nem aconselharíamos a revolta, porque seria infringir os preceitos<br />

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