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João Cruz Costa - Curso Independente de Filosofia

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como os indivíduos organizados, e que <strong>de</strong>ve, como estes indivíduos, crescer em volume,<br />

colhendo na região do espaço por intermédio da atmosfera, a matéria necessária à sua<br />

nutrição e crescimento". Estranhas e tenebrosas são as idéias geotróficas do Viscon<strong>de</strong>,<br />

pois, <strong>de</strong> real e positivo — como ele diz — só restará o nosso cadáver, “essa porção <strong>de</strong> ar<br />

con<strong>de</strong>nsado que a terra reclama, e que a mesma natureza nos constrange a entregar-lhe<br />

sem maior tardança”.<br />

Estes materialistas, autodidatas pouco afeitos ao trato das ciências, fundamentavam<br />

suas idéias num cientismo bastante vulgar, <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> senso crítico. Tinham<br />

pela ciência um verda<strong>de</strong>iro culto e nesta julgavam encontrar uma espécie <strong>de</strong> nova Summa<br />

<strong>de</strong>finitiva do saber. Discípulos filosofantes <strong>de</strong> Moleschott, <strong>de</strong> Büchner, <strong>de</strong> Vogt, <strong>de</strong><br />

Haeckel, houve-os às dúzias nas chamadas profissões liberais, espécie <strong>de</strong> nova fidalguia<br />

burguesa constituída <strong>de</strong> bacharéis em Direito, doutores em Medicina ou em ciências<br />

físicas e naturais... Desprovidos, em geral, <strong>de</strong> uma formação filosófica a<strong>de</strong>quada, os<br />

doutores autodidatas, sôfregos <strong>de</strong> respostas <strong>de</strong>finidas e <strong>de</strong>finitivas sobre os problemas<br />

do universo e do homem, voltaram-se logo para as novas idéias que a Alemanha — tida<br />

então como a própria se<strong>de</strong> da Sabedoria — nos enviava.<br />

20 - As idéias alemãs.<br />

A a<strong>de</strong>são a estas novas idéias alemãs, <strong>de</strong>terminaria em alguns uma verda<strong>de</strong>ira<br />

mania germânica.<br />

As correntes do evolucionismo, e do materialismo alemão teriam, assim, o seu<br />

momento <strong>de</strong> influência no pensamento brasileiro do Império: o spencerismo, sob forma<br />

sobretudo difusa, coincidia com as “reformas” do liberalismo da época, substituindo o<br />

espiritualismo eclético; o materialismo e, logo a seguir, o monismo originariam o primeiro<br />

e curioso surto <strong>de</strong> germanismo no Brasil.<br />

Já nos referimos nesta obra a Silvestre Pinheiro Ferreira. Graças a este eclético<br />

português, as idéias filosóficas alemãs já eram conhecidas no Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1813. Discutiu-se<br />

também (talvez inutilmente, a meu ver) se Diogo Antônio Feijó (1784-1843) foi<br />

um kantiano. Ninguém ignora que o kantismo foi introduzido na França pelos ecléticos<br />

e que através <strong>de</strong>sses passou ao Brasil. De fato, na obra <strong>de</strong> Feijó, Noções Preliminares <strong>de</strong><br />

<strong>Filosofia</strong>, escritas para os seus alunos <strong>de</strong> Itu (publicadas em 1912, por Eugênio Egas),<br />

há referência a Kant. Mas isso e mais as curiosas e confusas idéias que se encontram nas<br />

Noções, não bastam para fazer <strong>de</strong>le um kantiano. Martim Francisco Ribeiro <strong>de</strong> Andrada<br />

(1775-1844) irmão <strong>de</strong> José Bonifácio, parece também haver ensinado na época, a “filosofia<br />

eclética com ressaibos <strong>de</strong> kantismo”. Spix e Martius referem-se nas Viagens pelo<br />

Brasil, <strong>de</strong> 1817 a 1820, a Antônio Il<strong>de</strong>fonso Ferreira, professor <strong>de</strong> <strong>Filosofia</strong> em S. Paulo<br />

que, na opinião <strong>de</strong>les, estava “bem informado sobre os sistemas dos filósofos do Norte”.<br />

Estamos convencidos <strong>de</strong> que estas idéias alemãs chegaram até nós através ainda<br />

uma vez, dos i<strong>de</strong>ólogos e dos ecléticos franceses, sobretudo através dos livros <strong>de</strong> Victor<br />

Cousin.<br />

21 - O Germanismo.<br />

O germanismo, curiosa <strong>de</strong>nominação sob a qual ficou conhecida a influencia das<br />

idéias filosóficas alemãs no pensamento brasileiro da segunda meta<strong>de</strong> do século passado,<br />

teve seu centro na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito do Recife e Tobias Barreto <strong>de</strong> Meneses<br />

(1839-1889) foi o seu principal representante.<br />

Observa justamente Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, que no Brasil “cada indivíduo<br />

se afirma entre os seus semelhantes indiferente à lei da comunida<strong>de</strong> e atento apenas ao<br />

que o distingue dos <strong>de</strong>mais”. Entre os representantes <strong>de</strong> nossa inteligência da última<br />

fase do século passado, Tobias Barreto parece haver sido um caso típico <strong>de</strong>ssa indife-<br />

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